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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 2a VARA CÍVEL DA COMARCA DE BELFORD ROXO DO


ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
Processo n.º
, brasileira, viú va, portadora da carteira de identidade n.º , inscrita no CPF sob o n.º ,
residente à CEP: , vem, por seus patronos regularmente constituídos (Doc. 01), apresentar a
V. Exa. sua DEFESA AO REQUERIMENTO DE REMOÇÃ O DE INVENTARIANTE apresentado
por , e , nos termos do artigo 623 do Có digo de Processo Civil.

I - BREVE SÍNTESE DA LIDE


1. Cuida-se de incidente de Remoçã o da Inventariante nomeada nos autos do Inventá rio de
n.º 0013859-98.2016.8.19.0009, , aqui Requerida, por suposto cometimento dos incisos I,
III, IV e VI do artigo 622 do CPC. Alegam os Requerentes que houve movimentaçã o indevida
na conta do de cujus apó s seu falecimento, o que indicaria dilapidaçã o do patrimô nio a ser
inventariado. Tentam sustentar, ainda, que a Requerida apresenta supostos indícios de
demência, o que ensejou o pedido de sua interdiçã o (processo n.º 0017128-
48.2016.8.19.0008) e incapacitaria sua qualidade de inventariante do espó lio.
2. Contudo, verificar-se-á que este nã o é o entendimento que deve prosperar. A Requerida
agiu e age em conformidade com sua funçã o de inventariante e dispõ e de plena e integral
capacidade para os atos da vida civil. O que ocorre, na verdade, é mais uma tentativa
irregular de destituiçã o da inventariante, viú va do de cujus e preferida na ordem de
nomeaçã o estipulada pelo
Có digo de Processo Civil, em seu artigo 617, inciso I. Há um arranjo, perpetrado por dois
filhos da inventariante com o falecido ( e Lucas Calixto), em conjunto com a herdeira filha
apenas do Sr. Grinovaldes (Lucélia), para destituir a viú va de sua inventariança. Estes
pretendem se ver na posse do patrimô nio do de cujus , excluindo completamente a
Requerida Maria Jú lia, em evidente guerra familiar.

II - DA REGULAR ATUAÇÃO DA INVENTARIANTE E DA NECESSIDADE DE


INTIMAÇÃO E INVESTIGAÇÃO DE TERCEIRO
3. Os Requerentes pleiteiam a remoçã o da inventariante com base na juntada da resposta
dos ofícios expedidos à Caixa Econô mica Federal e Banco Itaú . Na tentativa de ludibriar o d.
Juízo, tentam induzir que a inventariante foi a responsá vel por movimentaçõ es na conta
bancá ria junto à CEF, quando, na verdade, a pró pria nã o detinha e nã o detém titularidade
ou autorizaçã o para qualquer retirada ou movimentaçã o. Leia-se, desde já : a inventariante
nã o possui acesso à s contas bancá rias do falecido Sr. Grinovaldes.
4. Observa-se que as contas de titularidade do falecido junto ao Banco Itaú nã o tiveram
qualquer movimentaçã o apó s sua morte (fls 119/222 - autos do inventá rio). Inclusive é
possível observar o incremento do patrimô nio do espó lio por essas contas, em funçã o da
incidência de juros de poupança em favor do de cujus . O falecido Sr. Grinovaldes dispunha
de duas contas bancá rias junto à instituiçã o
bancá ria em discussã o. No mês de seu falecimento, esses eram seus saldos: e (fls. 179 e
216). No mês da resposta do ofício, em virtude dos rendimentos de suas aplicaçõ es, os
saldos tornaram-se e , respectivamente (fls. 200 e 222). De forma simpló ria, portanto, já se
demonstra o bom serviço prestado pela inventariante em sua funçã o, que ao contrá rio do
que alegam os Requerentes, nã o dilapida o patrimô nio do falecido, mas zela por sua
manutençã o de forma estreita e correta, inclusive possibilitando seu aumento .
5. Quanto à s contas bancá rias vinculadas à Caixa Econô mica, novos esclarecimentos se
fazem necessá rios para que o d. Juízo nã o absorva, data má xima venia , as falaciosas
afirmaçõ es dos Requerentes. De fato houve movimentaçã o bancá ria posterior ao
falecimento do Sr. Grinovaldes, o que se demonstra pela resposta da CEF em fls. 224 do
processo de inventá rio que corre em apenso. A inventariante nã o sabia de tais
movimentaçõ es, informando-se justamente pelas respostas dos referidos ofícios .
Explica-se: as contas de titularidade do de cujus
6. eram contas conjuntas solidá rias - em que as partes dispõ em dos mesmos poderes -
com o Sr. . Este era procurador do Sr. Grinovaldes em vida, e hoje, dentre outras inú meras
suspeitas - corroboradas pelas ilegais movimentaçõ es bancá rias -, acredita-se que está em
conluio com os Requerentes com o fito de destituir a Requerida Maria Jú lia de seu posto . A
inventariante também foi surpreendida pelo nível dessas movimentaçõ es e pelo
encerramento das contas, o que, repisa-se: teve ciência apenas pela juntada dos extratos da
Caixa Econô mica em resposta ao ofício expedido pelo d. Juízo.
7. No ponto, fundamental arguir que o Sr. Elias foi procurador do Sr. Grinovaldes em vida, e
este mandado - mesmo que vitalício - nã o se perpetua para o período apó s o falecimento do
outorgante. Assim, qualquer manipulaçã o de patrimô nio do de cujus efetuada pelo Sr. Elias
apó s sua morte configura-se como indevida e ilegal.
Resta evidente, portanto, que a inventariante
8. nã o é responsá vel por nenhuma das retiradas evidenciadas pelos extratos juntados aos
autos pela CEF . A inventariante nã o tinha autorizaçã o para movimentar as contas
bancá rias hoje encerradas, mas apenas o Sr. Elias, motivo pelo qual sua intimaçã o para
esclarecimentos se impõ e em cará ter de urgência, inclusive com extraçã o das principais
peças que comprovam as movimentaçõ es bancá rias realizadas extraídas ao Ministério
Pú blico, para investigaçã o e eventual responsabilizaçã o penal. É necessá rio que o Sr. Elias
preste contas de todos os saques e movimentaçõ es realizados das contas bancá rias do Sr.
Grinovaldes durante sua vida e principalmente apó s seu falecimento, para que seja
obrigado a restituir eventual - e prová vel - quantia retirada que nã o lhe pertencia.
De toda a sorte, verifica-se que a inventariante,
9. como medida protetiva e de evidente zelo ao patrimô nio sob inventá rio,
requereu em suas primeiras declaraçõ es o bloqueio on-line , via BACENJUD, de eventuais
ativos financeiros em nome e CPF do Sr. Grinovaldes, com a transferência de eventual saldo
à uma conta judicial vinculada ao d. Juízo (fls. 91/96), justamente para evitar qualquer
retirada indevida . Tal pedido, além de evidenciar o cuidado da inventariante, demonstra
também o receio de de que o Sr. Elias, procurador do falecido que se mostrou pessoa - para
dizer o mínimo - de pouca confiança, pudesse retirar quantias da conta que nã o lhe
pertenciam. Infelizmente, tal requerimento nã o impediu o verdadeiro desmanche
perpetrado pelo Sr. Elias.
10. Diante destes esclarecimentos, torna-se ó bvio que a inventariante em nada é
responsá vel pelas movimentaçõ es bancá rias realizadas apó s o falecimento do de cujus,
sendo todas estas obra do arranjo fraudulento do Sr. Elias
Avila de Andrade. Nota-se, ainda, que a inventariante Maria Jú lia agiu e age de forma
escorreita com a funçã o que assume, dando regular andamento ao processo de inventá rio e
protegendo o patrimô nio do de cujus . Mostra-se cristalina também a real intençã o dos
Requerentes, que buscam apenas a exclusã o de de sua posiçã o de inventariante, em
possível conluio com Elias, mesmo que para tanto faltem com a verdade na tentativa de
iludir o d. Juízo, como será visto a seguir. O que é evidente é que nã o há razã o para a
remoçã o da inventariante de seu posto, visto que além de prezar pela proteçã o do
patrimô nio sob inventá rio, nã o ocorreu em nenhuma das hipó teses levantadas pelos
Requerentes.

III - DA PLENA CAPACIDADE DA INVENTARIANTE E DA FALACIOSA


IMPUTAÇÃO DE DEMÊNCIA
11. Os Requerentes, na intençã o de deslegitimar a Requerida de sua inventariança, alegam
que a inventariante apresenta fortes indícios de demência, o que ensejaria açã o de
interdiçã o em sua face, atuada sob o n.º de processo 0017128-48.2016.8.19.0008, em
trâ mite na 3a Vara de Família da Comarca de Belford Roxo. Tentam alegar, entã o, que a
Requerida nã o dispõ e de plena capacidade para os atos da vida civil, o que abarcaria sua
posiçã o de inventariante.
12. Nada mais ultrajante.
13. Em primeiro lugar, é pessoa saudá vel, lú cida e plenamente capaz para os atos da vida
civil, como faz prova pelos laudos médicos da Policlínica Sã o Francisco de Paula anexos
(Doc. 02). Goza de excelente e inquestioná vel estado de saú de, motivo pelo qual apenas se
entende o aludido requerimento de interdiçã o por ter sido postulado por quem foi.
14. Como aludido anteriormente, existe verdadeira guerra familiar pelo patrimô nio do
falecido Sr. Grinovaldes. Os Requerentes, juntamente com o Sr. Elias - autor dos saques
indevidos alertados pela resposta da CEF -, buscam o controle do remanescente patrimô nio
do falecido. Tal briga ensejou o requerimento de remoçã o da inventariante , que aqui se
defende. Os filhos da inventariante com o de cujus , e Lucas, juntaram-se à Lucélia, filha
apenas do Sr. Grinovaldes, para destituir de sua funçã o.
15. Isso por si só já acarreta grande tristeza à inventariante, que vê seus pró prios filhos
tentando a ludibriar. Pontua-se que , filha de , nã o a vê há mais de 30 anos. , também filho
da inventariante, nã o visita sua mã e desde o falecimento de seu pai. Lucélia, filha apenas do
Sr. Grinovaldes, nunca teve qualquer apreço pela Requerida. Imagine, entã o, o sentimento
da inventariante quando percebeu que este trio, no auge da cegueira que o dinheiro pode
proporcionar em certas pessoas, propô s açã o de interdiçã o em seu desfavor.
Isso mesmo. Os mesmos autores da remoçã o da
16. inventariante sã o os autores da açã o de interdiçã o. A imoralidade é gritante.
Percebendo que nã o colocariam as mã os nos bens de seu falecido pai enquanto Maria Jú lia
os administrar, formaram verdadeiro conluio, com participaçã o de Elias, para (i) tentar
imputar doença que incapacitaria a Requerida para a inventariança e (ii) destituir, com
base na inventada demência, Maria Jú lia de sua posiçã o de inventariante.
17. Além da evidente contradiçã o acima exposta, em exercício e prestígio ao princípio da
eventualidade, ainda há de se questionar: como poderiam os Requerentes saberem do
estado de saú de atual da inventariante ? Como dito, Maria Jú lia nã o recebe visitas de seu
filho Lucas desde 2016, nã o vê há mais de 30 anos e nunca teve qualquer tipo de relaçã o
com Lucélia.
18. Diante deste relatado cená rio, a risível e indecente propositura da interdiçã o teve seu
caminho natural, como atesta a assentada da Audiência de Impressã o Pessoal (Doc. 03)
ocorrida na referida açã o de interdiçã o (processo n.º 0017128-48.2016.8.19.0008). Apó s a
elucidativa entrevista da aqui Requerida, a curatela provisó ria pleiteada pelos aqui
Requerentes foi, por motivos ó bvios, indeferida pelo d. Juízo da 3a Vara de Família da
Comarca de Belford Roxo, nos seguintes termos:
"(...) 1) Indefiro o pedido de curatela provisória, pois não há nos autos nenhum documento médico que embase o
pedido da autora . Note- se que durante a oitiva da interditanda, esta demonstrou raciocínio lógico, e não
apresentou nenhum indício de ser portadora de qualquer anomalia que lhe incapacite para prática dos atos da
vida civil .(...)"

19. Ressalta-se que o Ministério Pú blico e até mesmo a Curadoria Especial opinaram pelo
indeferimento do pedido de nomeaçã o de curador provisó rio, tendo em vista a lucidez
demonstrada pela interditanda (inventariante e aqui Requerida) e a ausência de laudos
médicos a embasar o pedido dos autores (Requerentes deste incidente) (Doc. 03).
20. Com efeito, apesar do ô nus da prova dos fatos constitutivos do direito alegado cumprir
aos Requerentes deste incidente, fato é que nã o há nestes autos qualquer prova capaz de
atestar, minimamente, o estado de demência da Requerida afirmado na petiçã o inicial. A
Requerida, por sua vez, junta a esta contestaçã o comprovantes do seu regular estado
mental e de saú de extraídos dos pró prios autos de interdiçã o e de suas consultas médicas
de rotina. Verifica-se, dessa forma, a vil tentativa e intençã o dos Requerentes deste
incidente de tentar afastar a inventariante - mã e de dois Requerentes - sem qualquer
fundamento, apenas pensando no remanescente dinheiro do de cujus.
21. Conclui-se, portanto, que nã o há qualquer fundamento para a pleiteada remoçã o da
inventariante de seu encargo. Mostrou-se que a Requerida nã o foi responsá vel pelas
retiradas indevidas, sendo a mesma surpreendida pelos extratos disponibilizados pela CEF.
Pontua-se, inclusive, que o presente caso é de necessá ria investigaçã o policial acerca da
conduta do Sr. Elias. Além deste ponto, evidenciou-se (i) a plena capacidade da
inventariante para os atos da vida civil, e, até de maior importâ ncia para o presente
incidente, (ii) a imoralidade e má -fé dos Requerentes desta demanda. O indeferimento do
pedido é medida que se impõ e.

IV - DOS PEDIDOS
22. Por todo o exposto, vem a Requerida e inventariante nomeada nos autos principais de
inventá rio (processo n.º 0013859- 98.2016.8.19.0008) requerer a V. Exa:
(i) o indeferimento do presente incidente de remoção da inventariante, por todas as razões expostas e
esclarecimentos realizados nesta peça;
(ii) em caso de deferimento - hipótese levantada apenas por amor ao debate -, a nomeação de Manoel Marcelo
Calixto, filho do falecido Grinovaldes e da inventariante, uma vez que este auxilia a Requerida na administração do
espólio e, por isso, detém preferência em eventual e desnecessária nova nomeação, em apreço ao artigo 617 7 do
Código Civil l.
(iii) a intimação do Sr. Elias Avila de Andrade para que preste contas de todas as movimentações bancárias
realizadas nas contas de titularidade em conjunto com o falecido Sr. Grinovaldes, em destaque para aquelas
efetuadas após o falecimento do de cujus.
(iv) sejam extraídas as peças do referido processo e do processo principal referente ao inventário do Sr.
Grinovaldes e remetidas ao Ministério Público para apuração de eventual prática de ilícito penal por parte do Sr.
Elias Avila de Andrade.
(v) a condenação em honorários advocatícios e custas processuais, conforme artigo 85 5, § 2ºº do Código de
Processo Civil l.
Pede deferimento. Rio de Janeiro, 23 de outubro de 2018.

LEONARDO NOVAES C. DE CASTRO

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