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Copyright © 2021 Evilane Oliveira

Mentira Distorcida
1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e


acontecimentos que aqui serão descritos são produto da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e

acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as


regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É proibido o
armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra,

através de quaisquer meios, sem o consentimento escrito da autora.


A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº.

9.610. /98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Todos os direitos reservados.

Edição Digital | Criado no Brasil.


SINOPSE

PRÓLOGO

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10
11

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PRÓXIMO LIVRO
AGRADECIMENTOS

CONTATO

OUTRAS OBRAS
Contos de fadas não existem. Eu levei alguns anos para
aceitar essa realidade. Anos banhados em lágrimas e solidão.

Ele apareceu como um príncipe encantado, seu sorriso me


fez derreter e meu coração titubear. Mas não estávamos em um

livro, era nossa realidade, e descobri isso logo que pude conviver
com ele.

Romeo Trevisan era cruel e silencioso. Distante e possessivo.

Eu lutei por ele contra ele próprio e perdi todas as batalhas.

E me perdi no processo.

Quando fui arrancada da nossa casa fria por um homem que

dizia me amar, eu questionei todas as minhas decisões. Amor era


tudo o que eu queria, certo?
Mas Nikolai não era Romeo. Ele não era o homem que tomou

meu coração para si quando ainda éramos jovens. O homem que


me fazia tremer de desejo e medo na mesma proporção.

O mesmo homem que me fazia questionar se eu era


realmente importante a ponto de começar uma guerra entre as

máfias mais poderosas do mundo.

Romeo seria capaz de queimar a Bratva por mim?

Eu apostava que não.


LUNNA BIANCHI
15 ANOS
Meu cabelo estava muito longo mais uma vez, eu o afastei da
minha testa e suspirei ao jogar a mecha para trás do ombro. Mamãe

me repreendeu enquanto o enrolava com babyliss, então dei a ela


um sorriso com um pedido de desculpas e ela continuou a preparar

meus cabelos.

— Podemos cortar um pouco? — perguntei quando ela

terminou e eu me ergui em frente ao espelho. Os fios estavam

ondulados e alcançavam logo acima do cós do short que eu usava.

— Não, seu cabelo é perfeito. Você precisa cuidar, não

querer se desfazer. — Mamãe soou incomodada.


Engoli em seco e acenei. Ela estava certa.

— Ele é bonito? — questionei, ansiosa, quando minha mãe

pegou o meu vestido do closet e caminhou até mim.

— Isso não importa, Lunna. — Ela balançou a cabeça, riu e


me entregou o vestido rosa seco. — Ele será seu marido dentro de

três anos e, sim, ele será um homem bonito. — Mamãe suspirou e

tocou minha bochecha. — Romeo será o chefe da Outfit. Seu capo,


sua lealdade. Ele será um homem importante e você será uma

rainha, com seu próprio castelo.

Sorri e enchi meu peito de ar. Sempre sonhei em me casar,

gostava muito de brincar de casinha e bonecas. Não era de se

espantar que eu estava tão animada com o casamento. Com tudo.

— Serei uma boa garota — murmurei antes que ela pedisse.

Mamãe não gostava de irritar papai e sempre me dizia o que

não fazer em sua presença. Entre nós poderia haver erros, mas

jamais na presença dele.

Assim que vesti o vestido, eu suspirei. O tecido era macio e a

saia caía rodada abaixo da minha cintura até meus joelhos. Ele

tinha tule, mas isso não o deixava armado, apenas mais sofisticado.

Como o de uma princesa.


— Você está pronta? — mamãe questionou quando retornou
toda arrumada ao meu quarto. Ela tinha cabelos escuros iguais aos

meus e do papai. Éramos bonitos, eu podia dizer.

Acenei rapidamente e me aproximei dela, então mamãe

colocou as mãos em minhas bochechas.

— Tudo que precisa fazer para ficar bem e feliz em um


casamento...

— Ser educada, simpática, calma e ter bebês — completei

sua frase costumeira.

Ao ver o sorriso orgulho da mamãe, senti meu peito relaxar.

Amava quando ela sorria assim.

— Seus bebês serão tudo que a manterá feliz. Não se

esqueça disso, Lunna.

Eu acenei, porque jamais esqueceria. Crescer dentro da

máfia ensinava coisas a mulheres, e uma delas é que filhos são sua

única segurança. Minha mãe me protegeu até onde pôde, mas


quando chegou a minha hora, ela espalhou as cartas sobre a mesa

e me deu um choque de realidade.

Tínhamos deveres. O casamento era um deles.


Mamãe caminhava à minha frente, e quando começamos a

descer a escada, eu vi vários sapatos. Quando meu salto tocou o


último degrau, eu suspirei ao ver papai ao lado de um homem mais

velho e um jovem como eu, porém mais alto. Seu cabelo era um
pouco mais comprido que o habitual, mas tão bonito quanto. Seus
olhos se fixaram nos meus e eu prendi um ofego ao ver o olhar azul,

porém nublado. Quase cinza. Ele piscou e me encarou de volta


enquanto eu apertava minha mão em meu vestido. Seus lábios se

esticaram tão sutilmente, que eu nem perceberia se não o estivesse


encarando com tanta atenção.

— Lunna Bianchi — o homem mais velho murmurou sob a


névoa em minha cabeça. Engoli em seco e desviei os olhos do

rapaz. — Este é meu filho, Romeo Trevisan.

Meu coração apertou quando retornei meus olhos para ele e


senti o frio disparar pelo meu estômago. Foi forte e eu quase senti a

bile subir em minha garganta tamanha emoção.

Meu Romeo.

Mamãe me tocou gentilmente e eu respondi qualquer

formalidade sem perceber realmente. Romeo se aproximou e eu


estendi a mão quando vi sua palma para cima. Ele beijou meus

dedos e o toque dos seus lábios me fez estremecer.

— É um prazer, Lótus.
18 ANOS

Afastei a cortina devagar enquanto mordia meu lábio. Os


raios de sol entravam e eu respirei fundo ao ver todos envolvidos

nos preparativos da festa. Virei-me e encarei o vestido branco, que

era tão perfeito que me deixava emocionada ao olhá-lo. Com um


sorriso em meu rosto, caminhei até ele.

Hoje seria meu casamento. Meu coração deu um pulo com a


animação e eu toquei no tecido rendado, imaginando que em

algumas horas eu estaria nos braços dele.

Romeo veio poucas vezes a Nova York e eu nunca tive sua


atenção exclusivamente para mim, meu pai ou o dele sempre
estavam ao redor, mantendo-o ocupado e distante. Estava cansada

dessa distância, porém acalentada ao saber que hoje tudo isso


mudaria. Nós iríamos nos casar, viveríamos juntos. A mudança para

Chicago não era algo com que eu estava animada, mas saber que

enfim ficaria sozinha com Romeo e o teria só para mim me fazia


esquecer esse detalhe.

Chicago seria minha casa. Meu lar. Tudo ficaria bem.

— Bom dia. A equipe está chegando. Que tal tomar um

banho antes? — Mamãe sorriu enquanto entrava no quarto com

uma bandeja com o café da manhã.

— Já tomei — eu disse e sorri, então me sentei na cama e

segurei a bandeja. Peguei uma taça com frutas e comi devagar,


sentindo os olhos da mamãe presos em mim.

— Lunna — ela se sentou na cama e respirou fundo —, eu

sei que gosta bastante do Romeo. Você se apaixonou por ele e eu

estou aliviada por isso, mas...

— O que, mamãe? — questionei, franzindo o cenho quando

ela cessou seu discurso. Minha mãe não media palavras e sua

titubeação me preocupou.
— Cuidado. Os homens que vivem em nossa vida... a maioria
não se permite nutrir sentimentos. Não se permite amar sua esposa.

Para eles o amor é fraqueza. — Mamãe tocou minha bochecha e

sorriu tristemente. — Guarde seu amor, querida. Cuide dele, mas

não deixe que Romeo quebre isso de você.

— Ele não fará...

— Só me prometa — ela me interrompeu, colocando o cabelo

longo atrás da orelha.

— Eu prometo, mamãe — acenei e engoli em seco.

Ela deu um sorriso orgulhoso enquanto eu voltava a comer,

porém ainda ponderando seu pedido. Romeo sabia que eu o amava.


Era nítido em meus gestos na sua presença, e até mesmo nas raras

ligações que eu fazia para ele. Pensando bem, ele sempre pareceu

desconfortável, talvez mamãe tivesse razão. Meu coração apertou,

mas respirei profundamente e toquei o meu vestido de noiva.

Romeo me amaria. Eu faria isso acontecer.

— Você realmente vai se casar. — A voz timbrada me deixou

nervosa.

— Você sabe que sim.


Me virei lentamente e encarei os olhos de Marianno. Ele deu

um passo em minha direção e tocou meu rosto, suave como uma


pena, e eu me questionei como ele poderia matar pessoas com as

mesmas mãos que me tocavam dessa maneira.

— Como o escolheu a mim?

— Não faça isso, Mari...

— Nos conhecemos por toda a vida. — Ele deixou sua mão

cair e engoliu em seco.

— Você sabe o porquê, não me faça falar — implorei,


sentindo lágrimas encherem meus olhos.

Mari e eu crescemos juntos, fazíamos tudo na companhia um


do outro. Quando ele soube que eu fui pedida em casamento, me

contou que faria o pedido ao meu pai. Pediria que ele


reconsiderasse, e eu sabia que papai o faria. Os nossos pais eram
muito amigos. Mas implorei para que não o fizesse. Implorei, porque

eu já amava Romeo. Implorei, porque o pensamento de não me


casar com Romeo me deixava desesperada.

Marianno ficou magoado, era previsto, mas nunca imaginei o

quanto ele se afastaria. Nos anos em que estava noiva eu o vi


apenas em eventos ocasionais, e trocávamos apenas duas palavras

antes de ele se afastar.

— Você parece bem — murmurei, tocando minha barriga


coberta pelo meu vestido.

— Você está linda.

Suas palavras me fizeram engolir em seco.

— Obrigada.

— Espero que ele a faça feliz, Lunna. Você merece. — Mari


beijou minha testa e se afastou, levando consigo minha calma para
o dia de hoje.

Meu pai acenou para mim assim que segurei seu braço,

dentro da igreja decorada com flores azuis e brancas. Mamãe e a


decoradora acataram todos os meus pedidos, as rosas azuis foram
um deles. Era a minha segunda cor favorita. Mamãe teria enfartado

se eu tivesse solicitado a minha preferida, rosas pretas não


combinam com o casamento. Na igreja, então, seria uma

profanação.

— Papai — cumprimentei enquanto sentia minhas mãos


suarem. Segurei o buquê de flores com mais força e apertei o
bíceps do meu pai.

Eu não via Romeo há meses. Liguei para ele em algumas

ocasiões, mas, infelizmente, ele sempre parecia ocupado. Então


parei de importunar e esperei por hoje. Pelo nosso dia.

Caminhei ao lado do meu pai assim que a marcha nupcial

começou a ecoar. Ergui meus olhos e senti meu corpo estremecer


em antecipação quando vi Romeo no altar, mal pude conter meu
sorriso. Ele estava quieto, me olhando sem piscar enquanto eu

andava em sua direção.

Andava para ele, para a sua vida.

Ele estava perfeito em seu terno preto, seu cabelo escuro e


seus olhos que poderiam desnudar minha alma.

Quando cheguei diante dele, papai estendeu a mão para


Romeo esperando por um aperto de mão. Mas isso não aconteceu.

Meu pai semicerrou os olhos e eu sabia que ele iria explodir, porém
Romeo se moveu rapidamente. Ele segurou meus dedos e eu
pisquei, tentando não tremer, como fazia todas as vezes que o

encarava. Meu pai se afastou sem dizer uma palavra. Romeo


desviou os olhos dos meus e ficou ao meu lado enquanto nós
encarávamos o padre. Ele parecia calmo, pouco afetado, enquanto
eu estava me forçando a não parecer tão apaixonada quanto eu era.

— Você está linda — ele murmurou devagar e baixo, me


assustando por alguns segundos.

Surpresa, olhei para ele, que sorriu devagar, tão casto quanto

o brilho em seus olhos.

— Obrigada.

Contive meu sorriso bobo e nós dois mantivemos o silêncio

no decorrer da cerimônia. Quando o padre nos abençoou e deu a

permissão para que Romeo me beijasse, eu engoli em seco de


ansiedade. Ele nunca havia me beijado e era algo que eu ansiava

dia e noite.

Sua mão segurou minha cintura com um aperto firme e ele

juntou nossos lábios. Devagar, calmo e gentil. Meu corpo virou pó e

meu coração saltou, sedento pelo seu beijo. O toque sutil se foi e eu

levei os dedos aos meus lábios, tentando ter certeza de que não
imaginei. Porém, o olhar dele me dizia que não.

— Vamos lá, esposa — Romeo murmurou e me puxou para o


seu peito devagar.
Engoli em seco e deixei um sorriso escapar. Romeo me guiou

para fora enquanto as pessoas jogavam arrozes na gente. Era uma


tradição chata, na minha opinião. Eu teria que tirar todos os arrozes

do meu cabelo mais tarde.

— Meus irmãos, Matteo e Prince — Romeo me apresentou

assim que entramos no carro que nos esperava para irmos à festa.

Os dois garotos eram tão parecidos com Romeo, que me assustou

por um segundo.

Matteo parecia ter minha idade, mas eu não poderia dizer

com certeza. Prince era mais novo, talvez tivesse quinze anos. Os
três eram tão parecidos, que fiquei olhando entre eles. Em nenhuma

das vezes que Romeo veio a Nova York ele trouxera os irmãos.

— É um prazer conhecê-los — murmurei, segurando meu


vestido que estava quase tocando neles. Nenhum deles me

respondeu, então me remexi desconfortavelmente.

— Vocês perderam a porra da língua e a educação também?

— Romeo falou em um tom cortante, só então seus irmãos me

olharam.

— É um prazer também — Prince ecoou e Matteo acenou em

concordância.
O carro se afastou da igreja e eu suspirei, ansiosa para

dançar. Não sabia se Romeo gostava, mas eu amava e desejava

que ele gostasse pelo menos um pouco. Afinal, era nosso


casamento.

— Romeo — olhei pela janela e vi que estávamos indo para

outra direção que não era a da minha casa, onde seria a festa,
então me virei para encará-lo e ele apenas me deu um olhar vazio

—, a festa...

— Não iremos à festa — Romeo disse com firmeza. Senti o

chão abaixo de mim se abrir ao compreender suas palavras. —

Estamos indo embora.

— Como assim? Eu organizei uma festa... meus pais... minha

mãe... — Minha respiração acelerou e eu pisquei as lágrimas que

queriam me assolar. Eu não me despedi de mamãe. Eu...

— Algo está para acontecer, Lunna. Isso é maior que uma

despedida ou a porcaria de uma festa.

O modo como ele falou me fez encolher. Como se estivesse

falando com um dos seus soldados, como se eu fosse apenas uma

mosca persistente e não a sua esposa. Engoli meu protesto e


encarei a janela. Esperei ansiosa pelo dia de hoje e não aconteceria
como eu esperava. Isso me entristecia, claro, só não mais que o

tratamento que ele estava me dando.

— Rocco já chegou à mansão — Matteo avisou enquanto

olhava para o celular.

Romeo acenou e começou a teclar em seu telefone. Eu não

sabia quem era Rocco e nem do que falavam. Prince foi o único que

olhou para mim em alguns momentos durante a viagem até o


aeroporto, onde um jato estava à nossa espera. Romeo me ajudou a

subir com meu vestido e eu segui na direção do banheiro,

segurando uma das minhas malas de mão. Não sei como, mas
todas as minhas coisas já estavam no jato quando chegamos.

Segurei as lágrimas enquanto tentava sair do vestido e não

conseguia.

— Você está bem? — Prince questionou do lado de fora

depois de um longo tempo.

Mordi meu lábio, não conseguindo mais segurar o choro.

Comecei a soluçar baixinho e deixei minha mão cair ao lado do meu

corpo quando me lembrei que escolhi um vestido que fechava nas

costas, pois queria que Romeo o tirasse. Isso parecia tão idiota
agora.
— Vou chamar Romeo...

— Não — pedi e abri a porta. Prince me olhou por alguns

segundos e eu limpei meu rosto com gestos bruscos. — Só abra o


zíper, por favor — implorei. Prince parecia desconfortável enquanto

olhava ao redor. — Será rápido.

— Tudo bem — ele murmurou e suspirou.

Virei-me e Prince abriu o vestido rapidamente, então me

voltei a ficar de frente para ele. Meus olhos capturaram Romeo de


pé bem atrás do irmão. Seus olhos vazios observavam a cena, mas

ele apenas se afastou sem dizer uma palavra sequer.

— Obrigada. — Tentei sorrir, mas falhei.

Prince saiu e eu tirei o vestido, jogando-o no chão em

seguida. Peguei uma calça de tecido grosso e vesti sobre a minha


calcinha branca de renda, deslizei uma camisa de mangas longas e

peguei o casaco grosso branco de dentro da mala. Eu me sentia

muito humilhada por estar tirando meu vestido de noiva em um


banheiro no dia do meu casamento. Deveria ser Romeo a tirar o

meu vestido, a me tocar e beijar.

Meus olhos se prenderam em minha imagem no espelho e eu


suspirei. Minha maquiagem estava perfeita, mesmo com as
lágrimas. Meu cabelo estava meio preso atrás da minha cabeça e

eu comecei a desmanchar o penteado. Tirei os grampos e as


presilhas que o prendiam e abri as mechas com os dedos, então o

joguei para o lado e lavei as mãos antes de calçar minhas botas

pretas.

Tentei guardar o vestido na mala, mas foi em vão. Não cabia.

Segurei o tecido em meus dedos e mordi meu lábio para parar de

chorar. Romeo disse que algo aconteceria. Talvez eu estivesse


sendo muito egoísta. Se algo mais importante estava para

acontecer, eu precisava ser compreensiva. Só que eu não estava

conseguindo. Não com a maneira que ele falou.

Saí do banheiro segurando meu vestido e arrastando a mala.

Me sentei perto da janela e não olhei para nenhum dos irmãos

Trevisan. As duas horas de voo foram gastas tentando imaginar a


reação dos meus pais ao saberem que Romeo me levou

diretamente para Chicago, sem festa e sem despedidas. Papai não

ligaria, mas mamãe sim.

Deveríamos saber. Os Trevisan não seguiam regras.

— Espere por nós — Romeo falou enquanto segurava o


celular contra o ouvido.
Virei meu rosto e o vi se levantar. A comissária de bordo
sorriu para mim enquanto eu me levantava, ainda com meu vestido

nos braços. Desci a escada atrás de Prince, e quando ele abriu a

porta do carro para mim, sorri em gratidão. Matteo e Romeo


entraram em seguida, ambos tensos e com o rosto franzido.

— O que está acontecendo? — questionei baixinho Prince.

Ele olhou para os irmãos e depois para mim.

— Vamos tomar o poder. — Suas palavras deveriam ser uma


explicação, porém só me deixaram mais confusa. Eles já não

estavam no poder?

Prince não falou mais nada e eu fiquei com medo de que

Matteo ou Romeo ouvissem a conversa, então deixei de lado.

Assim que os portões de uma propriedade se abriram, eu


olhei para os lados buscando ver tudo ao redor, porém não havia

nada. Sem seguranças, sem pessoal. Nada. Uma mansão branca


apareceu primeiro e eu suspirei ao ver a fonte em formato de leão
na entrada. Era linda e cruel de uma maneira inquietante.

Assim que o carro parou, comecei a seguir Prince, mas

Romeo me segurou.
— Nossa casa é outra. Você ficará aqui apenas hoje, então
não desfaça as malas — ele avisou ao me encarar.

Só acenei e me afastei do seu toque. Assim que entrei na


casa, eu sabia que ninguém morava ali. Não havia nada nos

cômodos, nenhuma mobília. Era tudo muito branco, claro demais e


impessoal.

— Até que enfim, porra. — A voz cortante e rouca que vinha

da escada me fez pular.

Um homem loiro e coberto de tatuagens apareceu vestido


apenas com uma calça de moletom baixa, deixando à mostra o cós

da cueca. Imediatamente dei um passo para trás, intimidada.

— Vista-se — Romeo falou e tocou minha cintura para me


empurrar em direção ao homem. Fiquei mais tensa, mas ele parecia

não se importar, simplesmente apertou o meu quadril. — Esse é


Rocco, o meu irmão — Romeo nos apresentou.

Pisquei quando o loiro sorriu, o gesto arrepiou minha alma.

— Que linda. Você teve sorte, Romeo — Rocco falou, ainda

sorrindo, e se moveu para longe da escada.

Subi os degraus em silêncio enquanto Romeo apenas


ignorava o comentário do irmão. Quando chegamos ao primeiro
andar, Romeo abriu uma porta e colocou minha mala ao lado. Olhei
para a cama com dossel no meio do quarto e quase sorri ao ver o
quanto os lençóis brancos eram bonitos.

— Eu não deveria ter trazido você. Foi um erro. — A voz de


Romeo me fez virar para encará-lo. O desgosto em sua expressão
me acertou no estômago.

— O quê? — questionei, insultada, mas ele simplesmente me


olhou sério sem se abalar.

— Posso morrer hoje e você ficaria sozinha em uma cidade

que não conhece.

Respirei fundo e dei um passo em sua direção, tremendo.


Romeo não se afastou com minha aproximação, como eu imaginei
que faria. Ele apenas ficou parado.

— Do que está falando? — questionei, forçando a minha voz


a sair.

— Você me ouviu. — Ele respirou fundo e tirou um papel do

bolso. — Minha mãe irá procurá-la caso eu morra. Você pode ir para
a sua cidade novamente, ou para onde desejar.

— Romeo, o que está acontecendo? — perguntei, franzindo

as sobrancelhas.
— Você não precisa saber — seus olhos cinza me encararam
— e está bom assim. Quanto menos souber, melhor. Não saia da

casa. Não saia do quarto. Tem comida e água no frigobar. Voltarei


pela manhã, se isso não acontecer, você deve esperar por minha
mãe. Você me ouviu?

Engoli em seco enquanto tentava compreender o que ele


estava falando. Ele sairia, isso era óbvio, mas para onde? Fazer o
quê?

— Por que vai se pode morrer? — Minha pergunta o fez me


encarar ainda mais sério.

— Porque Rocco precisa de mim.

— Seu irmão não deseja sua morte...

— Não, ele não deseja, mas se acontecer... que seja —


Romeo disse calmamente.

Eu me aproximei mais, desta vez deixando-o tenso, pude

perceber.

— Você sabe, não sabe? — questionei baixinho.

Romeo ficou confuso por alguns segundos, mas logo acenou.

— Sei do seu amor há três anos — ele respondeu

firmemente, sem se abalar, e me olhou com os olhos vazios. — É


uma perda de tempo.

Afastei-me como se suas palavras fossem tapas e senti meus


olhos se arregalarem em choque. Romeo semicerrou os olhos e me
encarou dos pés à cabeça, me avaliando.

— Não espere isso de mim. Você só se frustrará.

Ele se virou e saiu pela porta, me deixando parada e


completamente sem reação. O silêncio no quarto era excruciante,
deixando o barulho das batidas do meu coração ainda mais altas.

As batidas quebradas.

E essa foi apenas a primeira vez de muitas que Romeo


Trevisan quebrou meu coração.
23 ANOS
Senti meus batimentos cardíacos acelerados e apertei minha
mão ao redor da arma. Coberto de sangue, Rocco deu um passo

enquanto eu assimilava o que via ao redor — dois soldados fiéis do


meu pai no chão. Cresci com um sádico de merda como pai, não
tinha nada que me abalava, mas isso era demais.

— Rata nojenta. — Ettore cuspiu sangue enquanto colocava

a mão sobre o nariz quebrado. Meu trabalho. Eu quebrei uma


cadeira na cara dele, mas ainda queria fazer mais.

— Não se refira a ela assim! — Prince gritou e apertou as

mãos.
Matteo se aproximou, quebrando o copo que segurava contra

a orelha do nosso pai. Ele gritou e caiu de lado enquanto Matteo se


abaixava, ficando na altura dos seus olhos.

— Você é um rato. Um doente de merda que é capaz de


tocar na porra de uma criança — ele anunciou, rugindo, e Rocco

andou até eles.

— Ele quer tirar nossa calma. Você quer que a gente te mate,
Ettore. Eu não vou, porque tenho muito tempo e pretendo gastá-lo

torturando você. — Rocco virou o copo com uísque enquanto eu

andava para o lado, esfregando a mandíbula.

Mesmo com os olhos abertos, eu ainda a via. Sangue. Tanto

sangue.

Estávamos dormentes. Eu deveria saber que alguma merda

aconteceria. Pensei que chegaríamos antes dele, por causa do jato,

mas eu me enganei. Ele não estava na igreja. Ele tinha voltado

antes do meu casamento.

Medo cruzou os olhos do nosso pai, mas isso logo sumiu.

Rocco não morava conosco, ele vivia sozinho em um apartamento

desde os dez anos. No entanto, meu irmão aprendeu cada coisa

sádica antes de sair dessa casa. Nosso pai sabia que tinha criado
um monstro. Na verdade, ele criou quatro monstros que o matariam
sem remorso algum.

— Eu a matei. Você a odiava também. Deve estar aliviado —

Ettore murmurou, sua mão na orelha que estava sangrando.

Matteo se afastou, seu corpo tenso.

— Violetta era a única coisa boa na minha vida — Rocco

falou próximo enquanto eu observava meus punhos cheios de

sangue. — O que você fez só adicionará mais sofrimento. Pare de

tentar colocar meus irmãos contra mim...

— Você é um bastardo. Eles não são seus irmãos.

— Eles são. Porque seu sangue corre em minhas veias tanto

quanto na deles. E você vai pagar por cada coisa que fez para nós e

para a minha mãe. — Rocco estava tenso, tremendo.

Aproximei-me dele e toquei seu ombro. O seu corpo relaxou

e o sorriso torcido se estendeu.

— Vamos. Ela precisa da gente — lembrei-o de maneira

firme. Meu irmão acenou e ficou ereto. — Vá buscá-la, Prince.

Os soldados que haviam aceitado ficar ao nosso lado no

golpe contra nosso pai se aproximaram e o pegaram. Nos movemos

para a porta e esperamos por Prince. Quando Lake apareceu, eu


desviei os olhos, minha garganta estava fechada. Rocco colocou um

saco preto na cabeça dela enquanto Prince a segurava perto.

Saí com Rocco e nossos irmãos e entramos em nossa van.

Os corpos dos soldados que eram leais ao meu pai se amontoavam


na entrada, tudo estava sujo de sangue. Ao pensar em seu corpo lá

em cima, frio e sem vida, apertei meu joelho.

— Ele... — Lake soou ao ver nosso pai sendo levado para


outro carro, onde Rocco o esperava. O saco já tinha sido descartado

aos seus pés. — Vocês não o mataram? — ela ecoou, o nojo se


espelhando em seu rosto. — Ele matou a mamãe! Ele a matou na
minha frente...

— Nós vamos rasgar a garganta dele, Lake, mas antes nós o

faremos sofrer — Matteo falou enquanto a encarava.

Eu simplesmente acenei, não conseguia falar porcaria


nenhuma. Lake meneou a cabeça e abraçou a si mesma, olhando
para o colo. Ela estava com uma camisola de algum desenho de

princesas, meu corpo novamente corpo encheu de fúria.

Ela era uma criança. A porra de uma criança.

— Se quiser, poderá ser você a rasgar a garganta dele —


falei com raiva.
— Não — Lake balançou a cabeça —, não quero vê-lo nunca

mais. — Lágrimas encheram seus olhos e ela soluçou, se


encostando na porta do quarto.

Lake nunca foi autorizada a sair. Ela era escondida desde

seu nascimento, ninguém na Outfit sabia dela. Ettore não queria que
soubessem da filha que não era sua. Depois de conversarmos,
decidimos que era melhor manter assim. Não queríamos que ela se

tornasse um alvo na guerra que começamos hoje.

Paramos na propriedade que Rocco comprou há alguns dias


e Prince guiou Lake para dentro da casa. Ergui meus olhos, ainda

no carro, e encarei a janela onde Lunna estava. Minha esposa.


Respirei fundo ao me lembrar de Lunna caminhando até mim na
igreja.

Nosso casamento foi arranjado há anos. Nossos pais

arquitetaram tudo, e durante o planejamento dessa noite eu


ponderei não comparecer ao casamento. Porém, meu pai

desconfiaria. Eu precisava manter a farsa até o fim, deixar a minha


esposa com a sua família e vir embora. Mas eu não consegui. Assim
que a vi vestida de noiva, senti algo me atraindo para ela.

Eu a queria comigo. Em Chicago.


Era um erro e eu sabia.

E eu pagaria por ele.

Rocco deixou nosso pai no Village, uma boate que era da


Outfit, e se reuniu com os soldados e capos. No dia seguinte a

bomba explodiria e nós precisávamos ter cuidado. A maioria dos


capos era a favor de Rocco no poder, porém o perigo estava nos
que não eram.

— Trazê-la não foi um problema — Rocco resmungou assim


que chegamos à mansão, quando o sol já estava no alto.

Matteo e Prince foram para o andar deles há alguns minutos.

— Eu estou ponderando.

— Sim, foda-se, ela já está aqui. O que vai fazer? Mandá-la


de volta? — Rocco revirou os olhos e se jogou no sofá, pegando um

dos seus cigarros.

O sangue que antes estava em seu corpo tinha sumido

depois de um longo banho. Eu fiz o mesmo. O cheiro de sangue


estava impregnado, no entanto.

— Eu sei. — Respirei, me movendo, e parei diante da parede

de vidro. A mansão era espaçosa, e quando Rocco a mostrou para


mim, fiquei aliviado. Eles ficariam juntos e protegidos. Era um lugar
assim que precisávamos.

Minha casa, no entanto, ficava a alguns metros daqui. Eu não


queria Lunna perto de Lake ou dos meus irmãos. Eu não a queria

perto de ninguém. Não envolveria os dois mundos. Lunna Bianchi


era uma inimiga tanto quanto seu pai era. Precisei de muito esforço

para não o matar quando ele a entregou a mim. Eu teria tempo. Eu


ainda o mataria.

— Você realmente quer morar lá? — meu irmão questionou

enquanto me observava.

— Não vou manter Lunna aqui, ela não terá permissão para
pisar nesta casa.

Rocco ficou me olhando por um tempo e semicerrou os olhos.

— Sei que não a machucaria, pouco me importa se o fizer, só

lembre-se que ela não tem culpa das merdas do pai. Ela é como

nós. Sobreviventes desses merdas.

Eu sabia disso, mas ainda assim, Lunna Bianchi não era

bem-vinda.

Quando deu oito horas, eu fui até Lunna. Não queria acordá-

la tão cedo, por isso fiquei na sala de jogos esperando. Rocco já


tinha ido dormir há tempos. Bati na madeira e abri a porta.

A onda preta sobre o travesseiro foi a primeira coisa que vi ao

entrar. Seu cabelo ia até a cintura e estava espalhado pela cama

coberta pelo lençol branco. Era uma visão contrastante que me


fascinou. Desci os olhos e vi a camisola de seda preta e sua coluna

nua. Sua pele era tão branca quanto o lençol. Me encostei na porta

e apreciei a vista da sua bunda mal coberta. Ela era minha. Só

minha. O sentimento de possessividade me assustou. Lunna não


era minha.

Seu pai arruinou a minha família. Ela era meu inimigo.

Seu corpo se esticou e meu pau deu um salto ao ver sua

calcinha pequena entre suas nádegas. Perfeição do caralho. Lunna

era pequena, seu quadril largo não era tão pronunciado, mas a
deixava com curvas que me deram água na boca.

Ela se virou lentamente e seus olhos azuis se arregalaram e


ela se sentou quando me viu parado. Seus seios pesados estavam

apertados contra o tecido da camisola e os mamilos duros me

deixaram mais excitado do que eu estava.

— Bom dia. Podemos ir — murmurei para ela, minha voz

rouca assustou a ambos.


Lunna abaixou a cabeça e saiu da cama enquanto eu

observava seus movimentos. Ela pegou a mala que eu tinha trazido

e colocou sobre a cama.

— É longe? Posso tomar banho? — ela perguntou baixinho

enquanto meus olhos estavam presos em suas pernas.

— Não precisa. Vista apenas uma roupa.

Ela acenou e tirou um vestido preto da mala. Parecia que ela

realmente amava a cor.

Peguei sua mala e descemos a escada. Lunna parou na sala

e olhou ao redor como se procurasse alguém.

— Onde estão seus irmãos? Gostaria de me despedir...

— Não é necessário — cortei-a e vi que engoliu em seco.


Seu cabelo agora estava amarrado no alto da cabeça e ela apenas

acenou, mordendo o lábio.

Saímos da mansão e fomos para nossa casa. Lunna respirou

fundo e olhou para cada canto da casa que era menor que a dos

meus irmãos, porém também grande.

— Você pode mudar tudo ou nada. Sua decisão — falei e

comecei a subir as escadas.


Ela se virou e me seguiu. Quando parei em frente à porta do

seu quarto, Lunna entrou e um sorriso apareceu em seu rosto ao


olhar para o cômodo.

— É bonito. Podemos mudar apenas a cor...

— Você quem sabe — eu disse, deixando sua mala no chão.

— O restante das suas coisas já está no closet. Eu vou dormir —

avisei e me virei, mas não sem perceber que seus olhos buscavam
os meus.

— Você não dorme aqui? — Sua voz soou baixa,


estremecida.

Virei-me e encarei o seu olhar desanimado.

— Não. Eu durmo no quarto em frente. Não gosto de dormir

acompanhado — menti.

Lunna me encarou por alguns segundos antes de molhar os

lábios com a ponta da língua.

— O que está havendo? Eu imaginei muitas coisas para o


nosso casamento, mas nunca que seria assim...

— Assim como, Lunna? — questionei, cansado.

— Que você me deixaria de fora. Que seria tão frio comigo

quanto um cubo de gelo e me deixaria a um braço de distância —


Lunna respondeu com firmeza.

Então foi a minha vez de encará-la por alguns segundos.

— É um casamento de aparências. Não vou machucá-la,

porém, não espere coisas de mim. Eu não vou lhe dar e você

apenas se frustrará — avisei em tom baixo. Lunna balançou a


cabeça devagar e se virou, me dando as costas. — Onde está seu

celular?

— Por quê? — ela questionou, irritada.

— Vou dar outro a você. Me entregue.

Lunna me olhou, suas mãos em punhos, e andou até a mala.

Ela pegou o aparelho, digitou por alguns segundos e me passou.

— Já falei com os meus pais. Eles não podiam acreditar no


que fez, mas, palavras suas, “aconteceu algo maior que o nosso

casamento”. Foi isso que eu disse a eles.

Sua rispidez não me impressionou. Eu sabia que as mulheres

poderiam ser loucas, às vezes.

— Não dou a mínima para os seus pais, Lunna. Você deveria


saber disso.

— Nem para mim, pelo que parece. — Seu murmúrio foi


baixo, porém consegui escutar.
— Vou protegê-la com a minha vida. Ninguém nunca vai

machucá-la.

— Só você.

— O quê? — questionei, confuso.

Lunna projetou seu queixo para cima e pareceu olhar no

fundo dos meus olhos.

— Só você vai me machucar.

— Eu jamais machucaria uma mulher. Eu lhe dou minha


palavra que jamais colocarei as mãos em você.

— Você é inacreditável...

— Eu não estou entendendo — rugi, sem paciência.

Lunna deu um passo em minha direção, e só nesse momento


eu vi suas lágrimas. Seus olhos brilhavam e eu franzi a testa, mais

confuso ainda.

— Eu amei você, Romeo, desde o dia em que o vi. Eu

esperei meu casamento como uma louca ansiosa e feliz, e você

arruinou meu dia. Você destruiu minha imaginação sobre nossa

casa, nossa dinâmica e até nossa noite juntos. Você me machucou


e eu sei que é só o começo. Você vai me destruir. — Lunna deixou
as lágrimas caírem pelas bochechas, enquanto eu ficava a
encarando. — Saia do meu quarto.

Demorei para me mexer, mas o fiz. Não disse nada, porque


eu sabia que ela estava certa.

Eu ainda a machucaria.
18 ANOS
A maçaneta da porta estava a alguns centímetros da minha
mão. Eu busquei coragem, pelo menos um pouco, para sair do

quarto quatro semanas depois do meu casamento. Eu tinha visto


Romeo esporadicamente e estava me sentindo tão sozinha, que a
solidão me engolia.

Peguei a maçaneta e empurrei para baixo, abrindo a porta. A

casa estava em silêncio, e fora o meu quarto, o único lugar que eu


tinha visitado era a cozinha. Eram os únicos lugares que eu me

sentia bem. Desci a escada enquanto mordia o meu lábio, e assim


que cheguei à cozinha, abri a geladeira e peguei ovos e bacon. Eu
vi algumas receitas de comida e estava tentada a aprender a

cozinhar.

Deixei meu celular de lado e coloquei no vídeo onde uma

moça ruiva ensinava a fazer ovos e bacon. Eu nunca tinha entrado


na cozinha da casa dos meus pais, pois não era permitido. Agora

que eu tinha minha própria casa, eu queria ser capaz de fazer minha

própria comida. Não havia funcionários regulares. Apenas uma


equipe de limpeza vinha e todas as vezes que eu descia encontrava

comida sobre o fogão. Eu não sabia de onde vinha, mas era

deliciosa.

Fiz o meu café da manhã sem problemas e peguei o suco de

caixa. Montei a mesa para mim e me sentei na sala de jantar. Os


lugares vazios na mesa para oito pessoas enviaram um lampejo de

melancolia em meu coração. Tentando afastá-lo, levei uma garfada

de ovos à minha boca.

Para a minha primeira refeição até que estava boa, pensei e

ri. Meu celular vibrou ao meu lado e eu vi uma mensagem de


mamãe. Nós não nos falávamos com frequência, pois a Cosa Nostra

voltou a ser inimiga da Outfit. Eles não aceitavam Rocco no poder.


"Enrico Bellucci é novo don da famiglia. Não sei como
será com a Outfit, mas espero que tudo se resolva. Fique bem,

querida."

Eu não conhecia Enrico, mas mamãe e papai sempre falaram

bem dele. Talvez a paz chegaria entre a Cosa Nostra e a Outfit. A

saudade que eu sentia da minha mãe estava me esmagando.

Respondi dizendo que eu estava bem e que esperava o mesmo.

Ouvi passos antes que Romeo aparecesse na porta da

cozinha. Ele estava segurando o celular contra o ouvido e suas

sobrancelhas estavam unidas. Quando ele me viu, seu corpo parou

de se mover.

— Chego em dez minutos. — Ele desligou o celular e o


enfiou no bolso da calça jeans apertada. A grossa camisa de manga

longa o protegia do frio de Chicago. — Bom dia.

— Bom dia — murmurei baixo e bloqueei a tela do meu

celular, antes de voltar a comer enquanto ele passava por mim e ia

até a geladeira.

O silêncio se estendeu e meu celular vibrou com notificações

do Instagram. Eu amava a coisa e sempre mantinha minhas fotos lá.

Eu tinha alguns milhares de seguidores.


— O que é isso? — Sua voz chegou a mim. Apertei o celular

e ergui o queixo. Romeo parou ao meu lado e estendeu a mão. — O


que é isso, Lunna?

— Notificações — eu disse devagar e encarei seus olhos com


firmeza. — Eu não lhe darei meu celular, se é isso que espera.

— Lunna...

Eu me ergui e coloquei o celular no bolso do short jeans curto

e preto. O movimento repentino fez meu top subir, mostrando minha


barriga. Os olhos de Romeo foram parar rapidamente na pele
exposta. Bem, ele olhava bastante.

— Não vou. Eu tenho minha privacidade. Eu já sou sua

prisioneira e vivo nesta casa sozinha. Não farei suas vontades se


você não faz as minhas — eu o desafiei.

Romeo semicerrou os olhos e deu um passo em minha


direção até seu peito quase tocar o meu rosto.

— Eu tenho maneiras de encontrar o que eu quero, Lunna.

Isso quer dizer seu celular. Agora, me dê ele. — Sua voz soava
irritada.

Levantei ainda mais o meu rosto em atrevimento.

— Pegue.
Ele o fez. Romeo me puxou pela cintura e enfiou a mão no

meu bolso, tirando o celular. Mesmo com o aparelho nas mãos, ele
continuou me mantendo presa. Seus olhos desviaram dos meus e

foram para a minha boca enquanto eu tentava não estremecer.


Tentei muito não deixar visível o quanto eu o queria. Queria seu

toque e seus beijos.

Porém Romeo não sentia o mesmo, ele se afastou

rapidamente. Apertei minha mandíbula enquanto o via desbloquear


a tela e clicar nas notificações.

— Que porra é essa? — ele questionou, sua voz tensa. Eu

me aproximei e vi uma selfie que eu tinha tirado e postado antes de


descer para fazer meu café. Eu estava de costas e minha bunda
estava virada para a câmera. Eu estava bonita. — Quem te deu

permissão? Você tem essa merda desde quando?

Desde sempre. Mas antes de me casar nunca mostrei o


rosto, e agora eu o fazia, porém com o cabelo encobrindo a maior

parte.

— Devolva meu celular — pedi, estendendo minha mão.

Romeo não me ouviu, parecia estar lendo os comentários da

foto. Eu não ligava, não me importava com eles, mas sabia que a
maioria era feito por homens.

— Você vai excluir essa merda, Lunna. Agora. — Seu punho

estava fechado e eu me senti bem ao ver alguma reação dele.


Qualquer uma. — Esses filhos da puta estão falando de você. Da

minha esposa. Apague! — Romeo ergueu o rosto para mim, mas eu


apenas o encarei.

— Não vou apagar. Muita gente me acha linda e gostosa.


Uma pena meu marido não achar o mesmo — falei com raiva.

Romeo se aproximou rapidamente e me empurrou em

direção à parede.

— Não vou mandar novamente. Apague essa merda antes


que eu quebre seu celular.

— Não vou. Se passou um mês e você não me tocou uma


vez sequer, Romeo. Estou achando que você é ou apenas quer

que eu encontre alívio com outra pessoa.

Sua expressão ficou escura segundos antes de Romeo

segurar meu cabelo na base do pescoço para me fazer encará-lo.

— No dia em que você deixar outro homem tocar em você,


eu o matarei.
— É suposto que eu morra virgem, então. — Pisquei meus
cílios enquanto o encarava.

Romeo se inclinou e deixou sua boca a centímetros da


minha.

— Um dia, Lunna.

Romeo se afastou e sumiu da cozinha, me deixando parada,

sem fôlego e sem o meu celular.

O timer soou e eu corri, pegando as minhas luvas de cozinha.


Abri o forno e tirei a travessa de macarrão com queijo que vi a

receita hoje de manhã. Desci achando que talvez não tivesse nada

na geladeira, porém estava cheia. Romeo deve ter mandado alguém


fazer as compras.

Já fazia sete meses que eu estava em Chicago e nossa

dinâmica não tinha mudado. Eu mal o via, e quando isso acontecia


trocávamos poucas palavras. Depois da briga sobre o celular, ele

tinha deixado o meu aparelho no balcão da cozinha. Minhas redes

sociais tinham sumido. Todas deletadas.

Coloquei a travessa sobre o descanso de panelas e sorri,

contente por estar parecido com o que a moça do vídeo fez. Deixei-
o sobre o balcão e me afastei. Hoje era meu aniversário, eu ainda

prepararia meu bolo. Seria simples, mas eu queria um.

Montei a mesa e, depois de lavar as mãos, me sentei para

comer. O macarrão estava delicioso, sorri ao pensar que eu poderia


ser cozinheira. O macarrão era simples de fazer e a moça que

ensinava disse que fazia para os filhos dela. Eu tentei me imaginar

fazendo essa receita para os meus filhos, porém a imagem não

conseguia se formar.

Eu nunca os teria. Depois de tanto tempo aqui, eu sabia que

Romeo não me tocaria tempo suficiente para me engravidar. Era


uma constatação que estava se assentando dentro de mim. Nossa

dinâmica não havia mudado. Eu o via esporadicamente, ele passava

mais tempo fora de casa do que era normal, e eu estava magoada

demais para tentar algo.

Depois que terminei de almoçar, guardei o restante na

geladeira em potes, para o caso de Romeo querer mais tarde, o que


eu achava que não aconteceria. Ele não comia em casa. Nunca na

minha presença, pelo menos.

Arrumei os ingredientes do bolo e coloquei o vídeo da receita


para seguir o passo a passo. Em meia hora minha massa já estava
no forno e eu estava preparando o chantili. Quando vi que ficou do

mesmo jeito que o do vídeo, dei um sorriso orgulhoso.

Tirei o bolo do forno e o esperei esfriar enquanto cortava


morangos. O chocolate já estava derretido, então montei o bolo

rapidamente. Assim que terminei, mal podia conter meu sorriso. Ele

estava lindo.

Subi para tomar banho e fiquei na banheira por algum tempo,

encarando o teto. Dezenove anos. Eu me imaginei feliz no dia de


hoje, com Romeo ao meu lado, mas eu tinha quase certeza que ele

nem mesmo sabia que hoje era meu aniversário. Eu não esperava

mais nada de Romeo, e estava bem assim.

Sequei meu cabelo e o cacheei com o babyliss, deslizei um

vestido rosa-claro de seda e passei a mão pelas tiras finas da alça.

Meus brincos tinham diamantes negros, eu os ganhara da minha


mãe no meu aniversário de dezesseis anos. Eram lindos.

Já era noite quando desci, depois de calçar sapatos pretos.

Me aproximei do meu bolo e suspirei, sentindo meu coração apertar.


Sozinha. Meu celular tocou como se fosse para me dizer que era

mentira.

— Oi. — Minha voz soou baixa e trêmula.


— Feliz aniversário. — A voz do outro lado da linha era

pronunciada, o sotaque era diferente de tudo que eu já tinha ouvido.

— Hum, obrigada? Quem é? — questionei, confusa. Peguei

um pouco de chantili que estava no cantinho do bolo.

Eu só ouvia a respiração calma do outro lado, ele não me

respondeu de imediato.

— Em breve, Lunna.

Sua promessa me fez apertar o celular entre meus dedos.

— Quem é?

A linha ficou muda e eu encarei a tela do celular, vendo que o


número era restrito. Eu nem mesmo tinha olhado antes, imaginei

que fosse mamãe mais uma vez. Ela tinha telefonado mais cedo.

— Bolo? — Uma voz soou atrás de mim.

Eu gritei e me virei, encontrando Rocco. Eu não tinha visto

nenhum dos meus cunhados desde o casamento. Rocco estar aqui


era uma novidade.

— Hum, sim — murmurei, engolindo em seco. Coloquei meu


celular no balcão e me virei totalmente para Rocco. — Romeo não

está.
— Eu sei. Só passei para buscar umas coisas. — Ele

apontou para uma mochila, então lhe dei um sorriso pequeno com

lábios tensos. — E o bolo?

— É meu aniversário — falei, engolindo em seco.

Rocco encarou meu bolo mais uma vez.

— Parabéns — ele murmurou e eu agradeci baixinho. — Vou

indo.

Rocco sumiu e eu respirei fundo, ainda sentindo meu coração

acelerado. Quando meu celular voltou a tocar, vi que era mamãe em

uma chamada de vídeo. Aliviada, atendi de imediato.

— Você está linda. — Ela sorriu na tela.

Sorri também e toquei o meu cabelo.

— Fiz um bolo — murmurei animadamente e virei a câmera

para que ela pudesse ver.

— Está lindo. — Mamãe sorriu e eu fiquei aliviada por ela

gostar. — Você está virando uma cozinheira. — Ela riu mais uma

vez.

Acenei e virei a câmera novamente para mim. Apoiei o celular

no vaso de flores e puxei meu bolo para a minha frente, assim


mamãe conseguia ver tanto ele quanto eu.
— Podemos cantar parabéns juntas? — pedi, minha voz soou

como uma súplica.

Mamãe suspirou e piscou os olhos demoradamente antes de

acenar. Ela bateu palmas, cantou e me felicitou, o brilho de amor

presente em seus olhos.

— Você ainda será muito feliz, Lunna. Romeo vai perceber

que a felicidade está diante dele, e nesse dia você o fará sofrer um
pouco. — Suas palavras ecoaram pela cozinha.

Senti lágrimas encherem meus olhos, porém as afastei

quando percebi que só conseguiria borrar a minha maquiagem,


nada mais.

— Estou ansiosa por esse dia.

Minha mãe não sabia o quanto.

Cortei o bolo e comi duas fatias enquanto conversava com


mamãe. Depois que desliguei a chamada, guardei o restante e

caminhei até a sala. As paredes impessoais me fizeram suspirar e

prometer que começaria a decorar a casa.

Minha atenção foi atraída quando a porta se abriu e Romeo

entrou devagar. Ele não me viu, e quando percebeu já estava perto

demais.
— Lunna. — Sua voz soou bêbada. Engoli em seco quando
senti o cheiro adocicado em sua camisa. — Não sabia que era seu

aniversário. Vou comprar seu presente e darei amanhã...

— Não precisa — murmurei, dando um passo para trás,

sentindo meu coração virar pó. — Onde estava? — questionei,

colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

— Eu...

— Não — consegui o interromper, era melhor assim. Levei a


mão ao meu peito, em cima do meu coração, como que o

protegendo de Romeo. — Eu já sei.

Romeo virou o rosto e encarou a parede, então saí dali,

deixando-o sozinho.
21 ANOS
Preocupada, rolei na cama enquanto mordia o lábio para
tentar me acalmar. Ela está bem. Sienna estava com sua família,

eles nunca a machucariam. A esposa de Rocco foi levada de volta à


sua casa. Eles casaram há alguns meses, chocando a maioria das

pessoas. Porém, foi pelo casamento que houve paz.

Infelizmente, ela já não mais existia.

Ouvi os passos de Matteo na escada e suspirei quando ouvi


uma porta fechar. Romeo não confiava mais em soldados, por isso

seu irmão estava aqui, cuidando de mim. Já era quase dez da noite

e eu só queria dormir para tentar esquecer que Sienna estava em


algum lugar bem longe.
A esposa de Rocco era tão legal comigo, que viramos amigas

assim que nos vimos. Fiquei tocada pela sua bravura em vir até a
minha casa tempos atrás. Ela queria saber se eu estava bem,

mesmo sozinha. Ninguém jamais fez isso por mim desde que me

casei.

Me sentei na cama assim que escutei uma batida. Suspirei de

alívio quando Matteo avisou que Sienna estava vindo para casa.

— Terei que ir até a casa receber os fodidos e ela. Você pode

ficar sozinha por algumas horas? — Sua pergunta me fez acenar

rapidamente.

Eu vivia sozinha, não era novidade nenhuma.

Assim que Matteo acenou e voltou para a sala eu adormeci,


muito mais aliviada.

Ouvi passos fora da minha porta antes que a abrissem. Eu

sabia que não era Matteo. Fiquei de pé ao lado da cama e vesti meu

robe, achando que poderia ser Romeo. Deveria ser ele chegando.
Romeo foi com Rocco a algum lugar ontem para pegar Sienna. Eu

só não sabia onde e como fariam isso.

A porta se abriu e um homem de cabelos pretos e olhos azuis

me encarou. Eu não o conhecia, e sua presença me fez engolir em


seco.

— Quem é você e o que está fazendo na minha casa? —

questionei, tremendo levemente. O homem deu um passo, então

ergui a mão, fazendo-o parar. — Não se aproxime. Quem é você?

— Lunna, sou eu.

Tentei me lembrar dessa voz, porém não conseguia. O timbre

e o sotaque, no entanto, me levavam há alguns anos, ao meu

primeiro aniversário aqui em Chicago.

— O que quer? Meu marido não está. Você deve sair — eu

continuava falando e tentando pensar em algo. Matteo não estava

aqui e não viria por algum tempo. Eu estava sozinha.

— Não o chame assim — ele rosnou, ficando completamente

rígido.

— O quê? — Franzi as sobrancelhas.

— Não chame aquele desgraçado assim — o homem rosnou


mais uma vez e se aproximou lentamente, me fazendo recuar até

minha coluna colar na parede.

— Saia...

— Está tudo bem, Lunna.


Eu corri pelos lados e alcancei a porta. Meus pés doeram

quando corri para a escada. Assim que alcancei a sala, meu braço
colidiu com um dos vasos que pedi pela internet e ele se espatifou

no chão. Gritei quando senti braços rodearem a minha cintura.


Tentei lutar contra, chutei, dei socos, mas o homem era mais forte.

— Está tudo bem, Lunna.

Suas palavras se repetiam em minha mente quando ele


pressionou um pano contra a minha boca e nariz. A escuridão me

engoliu devagar e eu gritei inconsciente por Romeo. Ele precisava


me salvar.

O gosto amargo em minha boca me fez franzir o rosto. Mexi


minhas pernas e senti o lençol de seda contra a minha pele. Era

bom, mas meu corpo tenso não me deixou apreciar. Forcei minhas
pálpebras a se abrirem e encarei um teto branco. Me sentei devagar
e olhei ao redor, vendo um quarto grande. As paredes eram cor de

creme e os móveis brancos deixavam o espaço bonito.

Minhas lembranças voltaram e eu pisquei, sentindo as


lágrimas começarem a chegar. Apertei meu robe entre os dedos e

fiquei grata por estar vestida. Me ergui e franzi as sobrancelhas ao


ver um acesso venoso em meu braço. Ele estava me drogando?

Meu coração apertou e eu tirei a agulha rapidamente antes de


caminhar até a porta. Sacudi a maçaneta, mas ela não abriu.

Ouvi passos ao longe e me afastei, fechando meu robe com

mais força. Quando o mesmo homem que me tirou de casa


apareceu, dei passos para trás, tremendo.

— Onde estou? — Minha voz soava tão baixa quanto


medrosa.

— Rússia, amor.

Minhas pernas amoleceram e meu coração sacodiu


fortemente.

— Não me chame assim. — Arquejei, chocada por saber que

estava no território da Bratva. — Se vai me matar, faça isso rápido.

— Matar? — Ele sorriu e balançou a cabeça ao se aproximar.


— Eu esperei por você durante anos, Lunna. Quero que seja feliz, e
não morta. — O homem passou o polegar pela barba por fazer

enquanto continuava com a atenção fixa em mim.

— Quem é você? — Forcei a pergunta para fora enquanto


tremia. — Por que quer me ver feliz? Eu nem o conheço.
— Nikolai Isayev. — Seu sotaque inglês era forte e carregado
com um timbre rouco.

— O que você quer...

— Sou o chefe da Bratva. O novo, no caso. Meu pai faleceu


há alguns meses e eu estou no poder — Nikolai explicou e cruzou

os braços.

— O que quer dizer com me esperou? — perguntei,

apertando meus dedos trêmulos.

— Você foi prometida a mim, Lunna. Seu pai desfez tudo e


fez um novo arranjo com o Trevisan. Você é destinada a mim, não a

ele. — Nikolai falou calmamente e andou até a janela que eu não


tinha visto.

— Me deixe ir.

Porque Romeo nunca virá me buscar. Quase falei, mas


segurei as palavras. Nenhum homem feito entraria no território do
inimigo. Nenhum deles quer a morte em massa dos seus soldados.

Romeo nunca viria para a Rússia, mas eu precisava voltar. Voltar


para a minha casa, para ele.

— Nunca. Você vai se apaixonar por mim com o tempo.

Jamais a machucarei. Eu só a tocarei com o seu consentimento,


Lunna.

— Nunca. Eu nunca deixarei que me toque.

— Talvez sim. — Nikolai deu de ombros e voltou a cruzar os

braços sob o terno caro. — Mas eu vou arriscar. Tem roupas no


closet. Vista-se e desça para almoçar.

— Quanto tempo eu dormi? — questionei, sentindo um nó em

minha garganta.

— Um dia. O tempo da viagem. Eu não queria que

acordasse. — Nikolai sorriu.

Desviei os olhos e encarei a cama enquanto sentia meu

estômago tremer. Eu estava com medo. Medo dele, medo de nunca

mais voltar para a minha casa.

— Você cometeu um erro — murmurei baixinho.

Nikolai balançou a cabeça.

— Eu amo você, Lunna. Nada que eu faça pensando em

você será um erro.

Suas palavras me chocaram e me deixaram sem fala. Abri e

fechei a boca diversas vezes, mas nada saiu.


Me ama? Esse homem era louco. Como ele poderia me

amar?

Nikolai sorriu e me olhou por alguns segundos.

— Quero ficar sozinha — eu disse, incomodada com seu

olhar.

Nikolai acenou e se virou, me deixando trancada no enorme


quarto. Meu peito apertou e eu desci pela parede, tremendo. Pensei

em Sienna, Lake e Romeo. Lágrimas quentes começaram a deslizar

pelas minhas bochechas.

Ele viria me buscar? A pergunta continuava me cegando. Eu

sabia a resposta, porém não queria acreditar nela.

Romeo não me amava. Ele nem mesmo sentia algo perto

disso por mim. Estávamos casados há quase três anos e Romeo

nunca me tocou. Eu continuava virgem enquanto ele me traía.

Minha última conversa com Sienna acabou no tema traições

e ela me deixou à beira de chorar, mas fui forte. Ela não sabia da

minha vida privada, não sabia de nada. O fato de Romeo nunca ter
me reclamado como sua me envergonhava. Eu me sentia tão

humilhada quanto anos atrás, no dia do nosso casamento.


Fiquei presa dentro da minha casa por dois anos, e no último

ano Romeo me deixava sair com soldados. Eu estava bem, na

medida do possível, mas agora, cá estava eu, no fundo do poço


novamente. Presa.

O sol tinha se posto quando me levantei do chão e fui para o

closet. Peguei uma calça e uma blusa de mangas. Elas eram do


meu tamanho e todas estavam limpas e cheirosas. Não tinha cheiro

de roupa nova, e sim, de limpa.

Entrei no banheiro grande e girei a chave, temendo que

Nikolai entrasse. Me virei para o espelho e senti meu coração

acelerar com minha pele manchada de lágrimas. Me afastei e tomei

um banho rápido. Saí do banheiro com o cabelo molhado e


penteado e já vestida. Me aproximei da janela e respirei fundo ao

ver um jardim na parte de baixo. A casa não era grande como a dos

Trevisan ou a minha, mas era tão luxuosa quanto.

Me sentei na cama e abracei minhas pernas, tentando pensar

no que fazer. Nada me vinha à mente, e mais uma vez Romeo

apareceu. Ele me salvaria?

Fiquei triste ao saber que não. Ao ter certeza de que ele me

deixaria aqui, na Rússia, para sempre. Talvez ele já estivesse com


as prostitutas do Village, comemorando que tinha se livrado de mim.

Meus soluços ecoaram e eu levei a mão aos lábios para

tentar parar. Não consegui. Romeo era a única coisa que me tirava

do eixo.

A maçaneta girou e eu limpei meu rosto ao ver Nikolai entrar

segurando uma bandeja com comida. Ergui meu rosto enquanto ele

a colocava sobre a cama. Eu não desviei os olhos dele, e quando


percebi que estava na cama, lugar onde ele poderia me prender

facilmente, eu me levantei.

— Não machucarei você, Lunna. Coma.

— Não.

— Coma e você poderá fazer uma ligação — ele murmurou.

Ergui meu queixo e engoli em seco.

— Para quem?

— Sua mãe. Ela deve estar preocupada — Nikolai esclareceu


rapidamente.

Acenei e voltei para a cama. Mamãe deveria estar


enlouquecendo, ele estava certo. Eu a acalmaria. Comi tudo que

tinha na bandeja, me surpreendi ao terminar. Eu não comia tanto.


Nikolai estava sentado em uma poltrona, com um celular entre os

dedos.

— Terminei — falei, engolindo os resquícios de suco.

— É madrugada nos Estados Unidos. Você pode ligar mais

tarde — ele murmurou novamente.

Franzi as sobrancelhas, recordando do fuso horário de oito

horas.

— Quando poderei falar com meu... com Romeo. — Me

corrigi rápido quando Nikolai me deu um olhar irritado.

— Não vai. Romeo está preocupado com Sienna, a esposa

de Rocco. Foi por isso que ele te deixou sozinha, certo? — Nikolai

disse calmamente.

Ergui meu queixo e apertei meus punhos.

— Ela estava em perigo...

— Ela estava com a família dela. Eles não a machucariam.

Romeo correu para ajudar o irmão e deixou você desprotegida. Por

que o ama, Lunna? Ele não gosta de você.

— Por que você me ama? — Devolvi quando encontrei minha

voz. Ninguém nunca esfregou a falta de sentimentos de Romeo na


minha cara. Nikolai foi o único, e eu o odiei por isso.
— Porque você é a mulher mais linda que já conheci. Você é

boa e leal.

— Homens feitos não saem dizendo que amam...

— Homens fracos não falam. Se eu sei o que sinto, por que


diabos vou esconder? — Nikolai me cortou, falando com firmeza.

— Você é o único. — Desviei os olhos dos dele ao constatar


isso.

— Eu sei — ele murmurou e sorriu.

Por um momento eu fiquei relaxada, mas me lembrei que ele

me sequestrou e voltei a ficar alerta.

— Nunca? — questionei baixo.

Nikolai piscou, compreendendo o que eu falava.

— Nunca. Estarei morto quando você sair da Rússia.

Engoli em seco e desviei os olhos dos dele. Me assustei ao


perceber que ele estava falando sério.

Nikolai não me deixaria ir.

Quando o dia amanheceu em Nova York, na Rússia era meia-


noite. Nikolai voltou ao meu quarto e ligou para a minha mãe, como
havia prometido. Segurei o celular entre os dedos e suspirei,
tremendo.

— Mamãe? — chamei, sufocando um soluço assim que ela


atendeu.

— Oh meu Deus, Lunna! Como você está? — Mamãe chorou


ao telefone enquanto Nikolai se afastava e ficava de frente para a

janela.

— Estou bem. Mamãe, eu estou bem. Eu juro.

— Onde está? Ele a levou para a Rússia...

— Sim — falei baixo e escutei uma conversa ao fundo da


ligação. — Ficarei bem. Não se preocupe...

— Como não vou me preocupar, Lunna? Nikolai é um


monstro. Você não está segura. — Suas palavras quebraram, me

fazendo engolir em seco e sentir as lágrimas molharem minhas


bochechas.

— Ele disse que não vai me machucar...

— Não confie! Lunna, você não conhece esse homem...

— Eu não confio — falei de maneira firme. Nikolai continuou


olhando para a janela. Baixei meu tom para que ele não pudesse

me ouvir e suspirei. — Só quero que não se preocupe.


— Romeo vai salvá-la.

— Ele não vai e a senhora sabe disso. — Eu disparei, certa


do que estava falando. Minha mãe ficou calada, parecia nem
mesmo respirar. — Eu não sou tão importante a esse ponto. Ele não

mandará a Outfit para a morte.

— Você está enganada.

— Eu passei três anos da minha vida ao lado dele. Eu sei do

que ele é capaz. — Engoli em seco, tremendo. — Eu amo você,


mamãe. — Suspirei e desliguei a chamada antes que ela falasse
algo mais.

Nikolai continuava parado quando o avisei que tinha


acabado. Ele se virou e me encarou de onde estava.

— Ele não merece suas lágrimas. Ninguém merece — Nikolai


falou com firmeza.

Desviei meus olhos dos dele, sem ter certeza do que dizer.

Nikolai saiu do quarto e eu me enrolei na cama, soluçando.


25 ANOS
Apertei meu punho contra minha boca enquanto me sentava
na cama. Tudo cheirava a ela. Os lençóis, os travesseiros e a porra

do banheiro. Em cada canto da casa tinha algo de Lunna. E eu


estava enlouquecendo.

Me ergui e vesti uma camisa. Meu celular tocou em meu


bolso ao mesmo tempo que alguém abriu a porta. Levei o celular ao

meu ouvido e encarei meu irmão.

— É Poliana. — A voz da mãe de Lunna ecoou, me fazendo

semicerrar os olhos. Ela havia me ligado ontem e eu falei o que

sabia, o que não era muito. — Ela me ligou.


— O quê? — questionei rapidamente e coloquei o celular no

viva-voz.

Rocco se aproximou e a minha sogra respirou fundo.

— Eu gravei a ligação. Escute com atenção, Romeo. Talvez


você consiga ver o quanto magoou a minha filha — Poliana

murmurou, suas palavras me deixando tenso.

Assim que a voz de Lunna preencheu o quarto, eu apertei

meu punho.

— Mamãe?

— Oh meu Deus, Lunna! Como você está? — A voz da mãe

dela estava chorosa na ligação.

— Estou bem. Mamãe, eu estou bem. Eu juro.

— Onde está? Ele a levou para a Rússia...

— Sim — Lunna respondeu com a voz baixa. — Ficarei bem.


Não se preocupe...

— Como não vou me preocupar, Lunna? Nikolai é um

monstro. Você não está segura.

— Ele disse que não vai me machucar...

— Não confie! Lunna, você não conhece esse homem...


— Eu não confio — Lunna falou e eu me sentei na cama,
atento a cada palavra que saía da boca dela. — Só quero que não

se preocupe.

— Romeo vai salvá-la.

— Ele não vai e a senhora sabe disso. — Me senti sufocado

ao ouvir sua afirmação. — Eu não sou tão importante a esse ponto.


Ele não mandará a Outfit para a morte.

— Você está enganada.

— Eu passei três anos da minha vida ao lado dele. Eu sei do

que ele é capaz — Lunna falou mais uma vez com firmeza. Rocco

me encarou enquanto eu me perdia. — Eu amo você, mamãe — ela


falou com a voz embargada e a ligação caiu.

Apertei o celular entre os dedos, ouvindo a respiração de

Poliana. Ela realmente achava que eu a deixaria lá, com ele. Que

ela não era nada para mim.

Me odiei mais e mais por isso.

— Eu espero que Lunna esteja enganada.

E ela desligou.

— Ela realmente acha que você a deixará lá. — Meu irmão

esfregou o rosto.
Encarei meus sapatos. Ela os tinha me dado de presente no

meu último aniversário. Lunna tentou muito, com esforço, mas eu


apenas a afastei.

— Eu a tratei como merda. Eu a deixei sozinha nesta casa de


merda. Eu a deixei. Isso foi o que aconteceu. E se ela resolver ficar

com Nikolai não me surpreenderá.

— Lunna ama você. Vamos buscá-la e você poderá se


redimir...

— Você não ouviu? Ela não acredita que eu irei até a Rússia
pegá-la. Ela não tem por que acreditar, aliás...

— Pare com essa merda. Nós vamos buscar sua mulher e

você vai resolver qualquer merda que você fez. Vocês vão passar
por cima disso, Romeo.

Só acenei, porque estava cansado da conversa. Porém, por


dentro eu sabia mais. O medo dentro de mim significava que eu

podia perder Lunna. Eu já a tinha perdido.

Me levantei e saí do quarto, deixando Rocco para trás. Fui


para a cozinha e novamente a onda de Lunna me atacou. Esse

cômodo era mais dela que qualquer coisa nessa casa. Ela aprendeu
a cozinhar, agora tudo que fazia era isso. Nunca faltava comida na

geladeira. Vários e vários potes.

Respirei fundo e abri a porta, vendo alguns com data de


produção, Lunna deixava tudo organizado. A inquietação voltou com

força quando peguei um deles, com macarrão com queijo, algo que
ela amava fazer. Respirei fundo e me senti sufocado. Estava preso
aqui. Sem poder ir buscá-la, sem ter o que fazer ao não ser esperar.

Rocco estava tentando muito mover as coisas rápido, mas ninguém


correria para a morte. Dentro de um dia nós partiríamos, e mesmo

que morresse no processo, eu arrancaria a porra da garganta de


Nikolai.

Ele poderia até achar que ficaria com Lunna, mas eu


mostraria que isso nunca aconteceria.

Ela era minha.

Minha Lótus.

Toda perfeita e cheia de pureza. Minha redenção estava


naqueles olhos azuis. Eu soube desde o dia em que a vi.

Lake estava trancada em seu quarto desde a manhã de

ontem. Prince veio falar com ela, mas ela apenas disse para ele ir
embora. Sienna tentou, mas também sem sucesso. Rocco e Matteo
tinham vindo pela manhã e agora cá estava eu, de pé em frente a
madeira, tentando compreender o que fiz.

Lake me odiava, e Lunna fará o mesmo quando souber que

seu pai é também pai de Lake. Elas são irmãs. E eu nunca disse a
ela. Nunca contei os motivos de mantê-la distante, de odiar sua
família. De ver seu pai a cada vez que eu olhava para ela. De

relembrar o que seu pai fez com minha mãe.

E odiei cada segundo.

Bati na madeira e esperei. Quando a porta abriu, eu fiquei


tenso e surpreso. Jamais imaginei que ela abriria.

— Eu soube que era você pela batida — minha irmã


murmurou.

Vi seu olhar triste. Ela não se parecia com Lunna. Não. Lake

era a cara da nossa mãe.

— Você está bem?

— Não. — Ela balançou a cabeça. — Você me machucou,

Romeo.

— Não foi minha intenção, Lake.

— Desde quando? — Ela piscou, ainda segurando a porta.


Respirei fundo e me encostei na parede.

— Dias antes de tudo. Do casamento, da morte dela. Mamãe

falou para mim e Rocco que você não era do pai. Ela foi comigo até
o antigo apartamento dele e contou tudo, disse que precisava que a

gente salvasse você.

— Ela sabia o que ele faria comigo? — Lake perguntou, e


duas lágrimas deslizaram pelas suas bochechas.

— Não sei, Lake. Mas ela queria que a gente protegesse

você. Talvez, ela soubesse o ódio que ele nutria por você...

— Foi tão rápido, sabe. — Lake apertou os dedos nas


pálpebras e mordeu o lábio, chorando. — Ela entrou no quarto e o

empurrou para longe de mim. Ela chorava muito quando ele

avançou nela. Ele a machucou muito, Romeo. Quando ele a matou,


eu morri um pouco ali. Ele rasgou minha vida. Ele a tirou de mim, e

eu me sinto caindo dentro de mim mesma.

— Vai ficar tudo bem, Lake. Eu prometo que isso vai passar.

— Eu só quero poder dormir uma noite completa. Só isso, e

eu serei feliz.

Puxei minha irmã para os meus braços e ela relaxou,

soluçando e me apertando. Lake estava além de machucada. Ettore


a marcou profundamente, e eu e nossos irmãos, mesmo que

tentássemos muito, não conseguimos alcançá-la.

— Trarei Lunna, Lake. Você terá sua irmã.

— E você sua esposa.

— Sim.

Encontrei Sienna na cozinha, olhando para uma travessa. Já


estava na hora do almoço, e à noite nós sairíamos. Rocco

conseguiu encontrar uma rota alternativa. Chegaríamos à Rússia

em dois dias, um a mais que o previsto. Valeria a pena.

— Sei que é bobo e egoísta pedir isso, mas cuide dele? Por

favor. — Minha cunhada me encarou, mordendo o lábio enquanto

Tebow estava parado ao seu lado. O cão era nosso antes da esposa
de Rocco chegar, mas agora ele só tinha olhos para ela.

Voltei a encarar Sienna e vi seus olhos se enchendo de

lágrimas. A mulher loira era uma incógnita. Quando Rocco aceitou o


casamento, eu esperei tudo, mas nunca que ele se apaixonasse por

ela. Sienna era linda, era óbvio, mas Rocco estava além da

redenção. Eu não sabia que Sienna poderia ser isso para meu
irmão. Ela era muito, no entanto.
— Eu me sinto culpada por Lunna. E mais ainda por estar

pedindo para que cuide dele. Mas, Romeo, Rocco está por um fio.

Ver você se perdendo está matando-o por dentro.

— Ninguém precisa pedir para que eu cuide de Rocco. Eu

faço isso desde que o vi pela primeira vez — falei com firmeza. Ela

acenou. — Vou trazer seu marido de volta, da mesma maneira que


eu trouxe você.

— Me perdoe...

— Se Rocco a vir pedindo perdão a mim, você não vai gostar

da reação dele — eu a interrompi e abri a geladeira para pegar

água. — Não se culpe, Sienna. Eu não a protegi. A culpa é minha.

Sienna abriu a boca para falar algo, mas eu a deixei sozinha.

Matteo apareceu descendo a escada com uma mochila,


então ergui a sobrancelha.

— Para onde você vai?

— Vou com vocês...

— Você vai ficar e proteger Sienna e Lake, com Prince.

— Não vou deixar você e Romeo sozinhos. Nós dois

sabemos que você está envolvido demais e Rocco é a porra de um


louco. Eu vou — Matteo decidiu e se afastou.
Mesmo que eu quisesse colocar o idiota em seu lugar, não o

fiz. Ele estava certo.

Encontrei Rocco no escritório, falando ao celular, então

esperei a ligação acabar.

— O idiota do Nikolai a levou para a casa dele — Rocco falou

assim que colocou o aparelho em cima da mesa. — Ivo falou que

vamos chegar a São Petersburgo de barco e ir de helicóptero a uma


propriedade próxima a casa. De lá vamos de moto até a margem da

casa.

Eu acenei, andando até a estante de livros.

— Matteo irá conosco...

— Nem fodendo. Ele precisa ficar com Sienna e Lake.

— Eu falei isso, mas ele não aceitou dizendo que nós dois
estamos fodidos para estarmos sozinhos. Ele está certo, Rocco —

falei, me virando. Meu irmão suspirou e olhou para a mesa de

mogno. — Vamos levar poucos homens. Nós dois damos conta

deles se forem poucos ao redor da casa.

— Nikolai sabe que estamos indo. Ele espera por nós. Você

acha que terão poucos homens?

— Ele espera a nossa chegada, mas não tão rápido.


Rocco respirou fundo e acenou. Meu irmão se ergueu e me

encarou.

— Não vamos brincar, Romeo. Você chega, pega Lunna e


sai.

— Eu vou matá-lo.

— Não. Não vai. — Rocco ficou tenso e se aproximou. — Eu

poderia pedir a cabeça de Enrico quando eles levaram Sienna, mas

não o fiz, porque isso é guerra. Não quero a Cosa Nostra e muito
menos a Bratva tentando entrar aqui.

— Você chamou Enrico de fraco quando ele recuou,


oferecendo uma esposa. Você está fazendo o mesmo — murmurei.

Rocco se aproximou de mim, sério.

— Nikolai é apaixonado por Lunna. Ele é um idiota e está

agindo com imprudência e burrice. Ele vai perder. Você não deve

matá-lo.

Respirei fundo e encarei meu irmão, sufocando a fúria que eu

estava guardando desde que ele me ligou e falou que tinham levado

Lunna.

— Não vou prometer, mas farei o possível.


Meu irmão ficou satisfeito com a minha resposta e andou até

o bar.

— Conseguiu falar com Lake?

— Sim. Acho que devemos levá-la para a terapia. Isso está


mais fundo nela, Rocco. Modificou-a. Por mais que a gente insista

que ela vai ficar bem, isso não vai acontecer se ela estiver sozinha.

— Sienna falou sobre isso hoje. Quando voltarmos da

Rússia, farei isso.

— Já encontraram Juliano?

O consigliere de Enrico fugiu na confusão dos infernos que

recaiu quando roubaram Lunna.

— Não. — Rocco cuspiu com ódio e apertou os punhos. —

Ele já deve estar com Enrico. Meu único arrependimento é não ter

ordenado que enfiassem uma bala na cara dele e de Salvatore.

— Mais um na pilha de arrependimentos. Como Sienna está

lidando com o fato de que, possivelmente, Salvatore esteja morto?


— questionei, me sentando.

— Chorando. — Ele me encarou. — A mãe dela ligou hoje e

foi um inferno do caralho. — Rocco esfregou o rosto.


— Ainda não entendi por que o levaram. Giulio eu posso
entender, ele ficou conosco por um tempo, poderia saber de algo,

mas Salvatore? — questionei, franzindo as sobrancelhas, confuso.

— Não sei, e se não fosse por Sienna, eu pouco me

importava. O irmão dela é um rato. Eu o quero longe da Outfit.

O cunhado do meu irmão roubou Sienna sob seu nariz. Ele

não tinha superado.

— Não importa, ele deve estar morto.

— Bom, me lembre de agradecer Nikolai por isso. Eu não

precisei matá-lo.

Rocco me deu um sorriso distorcido e eu ri, balançando a

cabeça.
— Você quer descer? — Nikolai questionou assim que
apareceu no quarto, no dia seguinte. Eu estava perto da janela,
encarando o jardim. — Estamos sozinhos na casa. Não se preocupe

com outras pessoas.

— Não. Eu preciso ligar para minha mãe — falei, abraçando


a mim mesma. Virei-me e o encontrei com os braços cruzados.

Nikolai estava vestindo um terno e eu não gostei de constatar


que ele era bonito. Seu cabelo preto, seus olhos azuis e sua altura

faziam parte de um pacote que era algo digno de filme. Ele me

lembrava Romeo, porém seus olhos eram mais calorosos que os do


meu marido. O azul cinzento era sempre vazio, e por mais que eu
tentasse, e eu tentei alucinadamente, nunca consegui adivinhar o

que se passava em seus pensamentos. Eu nunca consegui fazer


Romeo me olhar como esse homem diante de mim me olhava em

escassas horas na minha presença.

Como se eu fosse alguém importante.

— Almoce comigo lá embaixo. Eu darei o celular e você fala

com ela — Nikolai respondeu, me tirando de Romeo.

— Você vai tirar algo e me dar outra coisa até quando?

— Até você se sentir em casa — respondeu abruptamente.

Eu nunca me sentiria. Minha casa ficava em Chicago. Minha

casa era Romeo, por mais que ele não sentisse o mesmo.

— Tudo bem — aceitei, acenando.

Ele sorriu como se tivesse acabado de conquistar um prêmio.

Tinha encontrado meu café da manhã em uma mesa no


quarto assim que acordei. Enquanto comia, fiquei pensando em

como faria para fugir daqui. Nada me veio à mente e eu queria falar

com minha mãe. Ela poderia me ajudar.

Nikolai se afastou da porta e eu o segui para a escada.

Apertei o vestido longo preto e o casaco grosso. Estava fazendo


muito frio e nem o aquecedor conseguia me manter quente. Nikolai
não parecia sentir e eu sabia que era por ele já estar acostumado.

Assim que chegamos à sala de jantar, Nikolai afastou uma

cadeira para mim e eu me sentei, encarando os pratos de comida.

Tinham vários. Nikolai se sentou à ponta da mesa e começou a me

servir.

— Espero que goste — ele balbuciou assim que comecei a

comer. Estava delicioso, mas eu não disse isso a ele. — Você se

esconde atrás do cabelo — Nikolai murmurou e eu pulei, me

afastando quando seus dedos tocaram minha bochecha, afastando

meu cabelo. — Calma.

— Não me toque — falei de maneira firme.

Nikolai acenou, relaxado demais para o meu gosto. Nós

terminamos de comer e Nikolai se ergueu. Eu fiz o mesmo e ele

andou para a porta. Fiquei em dúvida se o seguia, porém o fiz

impulsionada pela ligação. O vento frio atingiu meu rosto assim que

a porta se abriu. Nikolai nos levou para o jardim e eu abracei meu


próprio corpo, mordendo meu lábio gelado.

— Tome, fale com a sua mãe.


Nikolai estendeu o celular já em ligação e eu o peguei,

vendo-o se afastar até um segurança que estava a alguns metros.


Me sentei em um banco e olhei para o limite da propriedade, vendo

um muro alto. Eu não conseguiria sair daqui sem ajuda.

— É você? — minha mãe falou. Eu suspirei, dizendo que sim.

— Falei com Romeo. Ele não disse nada sobre buscá-la. Acho que
você está certa. — Sua voz era tão baixa e cansada que eu deixei

meus ombros caírem.

— Ele não virá — falei com a voz embargada, e minha mãe


fungou na linha. — Talvez, eu só precise aceitar isso...

— Lunna, o que está falando?

— Nikolai não é ruim para mim. Eu só... — minhas palavras


cessaram assim que Romeo apareceu em meus pensamentos —

não consigo nem imaginar.

— Você ama Romeo.

— Sim, eu o amo com tudo de mim, mas ele não sente o

mesmo, mãe. — Limpei minhas bochechas e escutei a respiração


da minha mãe. — Como vou sobreviver a isso? Nikolai não vai me

deixar ir, mãe.


— Não sei. Seu pai não quer envolver Enrico. Ele disse que

você é um assunto da Outfit agora. — O lampejo de raiva em sua


voz não me surpreendeu, tampouco o que papai falou para ela.

— Vou sobreviver, mãe, e voltarei para casa. Qualquer uma

que eu tiver.

— Estão dizendo por aí que ele levou dois homens de

Romeo. Você os viu? Seu pai disse que Salvatore é um deles. —


Mamãe mudou de assunto.

— Não. Vou perguntar a Nikolai. Talvez ele me diga.

— Sim, querida, talvez. Fique bem, Lunna.

Eu ficaria.

Nikolai me levou para o quarto assim que devolvi o celular.


Andei até a janela e me virei, vendo-o parado na porta.

— Quem você trouxe comigo? — questionei, semicerrando


os olhos.

— Giulio e Salvatore. Meninos da Cosa Nostra — Nikolai

respondeu, me surpreendendo, antes de olhar para o celular entre


os dedos.
— Você os matou? — perguntei, engolindo em seco.

Ele me encarou de repente.

— Ainda não.

— Eu posso vê-los? — pedi ao me aproximar.

— Por quê? — Franziu as sobrancelhas

— Eles são conhecidos — menti, segurando seu olhar.

— Apenas se aceitar sair para jantar comigo.

— Você vai continuar com esse cá e lá? — perguntei, irritada.

Ele acenou e deu de ombros.

— Se eu só terei você assim, então, sim. Vou continuar.

— Ok. Mas eles precisam vir aqui agora.

— Agora? — Ele sorriu, me encarando, e eu acenei. — Tudo

bem. Em uma hora eles chegam. É o tempo de viagem de onde


estão até aqui.

Eu acenei, tentando esconder minha excitação. Nikolai se

virou para sair.

— E Lunna? — Sua voz chegou aos meus ouvidos. — Eles

não estão bonitos.


Nikolai saiu do quarto e eu segurei meu vestido apertado,
respirando fundo. Giulio e Salvatore eram minha única chance. Nós
três sairíamos daqui.

Uma hora depois os dois homens chegaram à casa. Eu vi


pela janela alguns seguranças os trazendo encapuzados para

dentro da casa. Me virei para a porta, e quando a maçaneta girou,

encarei os olhos azuis de Nikolai.

— Vou deixar você sozinha com eles por cinco minutos — ele

avisou, me guiando para fora do quarto.

Assim que entrei numa sala que parecia uma biblioteca, vi

que estávamos sozinhos. Isso durou pouco tempo, no entanto. A

porta foi aberta e alguém empurrou Salvatore e Giulio para dentro


do cômodo. Nikolai sorriu enquanto tirava o pano preto da cabeça

dos dois.

Salvatore foi o primeiro que olhei e suspirei, ofegando com o


estado do seu rosto. Eu nunca o tinha visto, mas o reconheci por

Sienna. Eles eram muito parecidos. As feridas estavam com sangue

e eu sabia que, desde que eu estava nessa casa, comendo e


dormindo, eles estavam sendo torturados. Para quê?
— Cinco minutos — Nikolai avisou novamente antes de sair.

Salvatore semicerrou os olhos e olhou Giulio. O outro homem

era tão alto quanto o irmão de Sienna. Esse, no entanto, era moreno

com olhos verdes. Seu cabelo era escuro e alcançava suas orelhas
e caiam em sua testa.

— O que você quer e quem diabos é? — Salvatore

questionou, irritado.

— Sou esposa de Romeo. — Engoli em seco.

— Por que o fodido pegou você? — Giulio questionou,

olhando ao redor e se movendo. — Pegue algo que possa

machucar e guarde — ele murmurou para Salvatore, que repetiu

seus passos.

— Ele, de uma maneira louca, gosta de mim — respondi,

com as bochechas pegando fogo. Ainda era irreal Nikolai ter


cruzado o oceano apenas para me capturar.

— Sorte do caralho. Esse homem é doido pra porra — Giulio

ofereceu, balançando a cabeça. — E quem deixa dois prisioneiros,


três, no caso, sozinhos? Ele é um idiota.

Eu concordei, porque Nikolai era muito louco ou não fazia


questão de nos manter longe.
— Eu sei. Podemos pensar em algo. Fugir os três.

Salvatore me encarou e olhou para Giulio. Os dois pareciam

ponderar.

— Estou em contato com ele. Podemos pensar em algo...

— Nós vamos morrer hoje. Não tem escapatória, e se

tentarmos levar você, ele nos caçará até a morte.

— Então vão me deixar? — perguntei baixinho. Salvatore


suspirou. — Vão tentar fugir, que eu sei.

— Vamos, mas não vou arriscar tentando tirar você daqui.

Os dois concordaram nisso, e eu engoli em seco, tremendo,

sentindo minha única forma de escapar se esvair dos meus dedos.

Acenei, segurando as lágrimas, e os dois pararam de procurar o que


diabos o ajudassem a sair daqui.

— Ok. Vamos tentar isso. Eles não vão nos levar de volta.
Ficaremos aqui. Ele nos levará para a morte na frente de todos. No

caminho, vamos tentar matar quem quer que esteja nos levando.

Você precisa estar no jardim. Dê seu jeito — Salvatore falou de


maneira firme.

Eu só acenei e respirei fundo.

Os dois se aproximaram e Giulio parecia indeciso.


— Se nos trair...

— Não vou. Eu quero voltar para o meu marido. Conheço

Sienna, confio nela, por isso pedi para falar com vocês. — Afastei

meu cabelo para trás da orelha e os dois acenaram.

Nikolai voltou rápido e os dois homens já estavam longe de

mim antes que eu me desse conta. Ele me levou para o meu quarto

e a porta se fechou. Pela primeira vez, ele não falou comigo ao ficar
na minha presença, e eu fiquei aliviada.

À noite, eu me preparei para o jantar que Nikolai me levaria.

Meu vestido preto era muito justo, mas por mais que eu me sentisse

estranha com ele, era o único formal que estava no closet. Meu
cabelo estava alisado e os sapatos eram Louboutin.

— Você está linda.

A voz de Nikolai me fez virar, tensa, enquanto ele se

aproximava vestindo um terno preto.

— Obrigada.

Nikolai ergueu a mão para me tocar, mas dei um passo para


trás. Seu sorriso deslizou e eu mordi meu lábio, assistindo-o

recuperar a máscara de um cara alegre.


— Vamos lá. — Ele acenou para fora antes de eu caminhar

ao seu lado.

Assim que saímos, Nikolai me guiou até o carro. Eu entrei,


tremendo e apertando minhas unhas na palma da minha mão. O

caminho foi feito em silêncio, porém o olhar de Nikolai estava me

deixando inquieta.

— Você ainda quer fugir. — Nikolai me surpreendeu ao falar.

Eu o encarei, tentando me acalmar. — Escuto tudo que acontece na

minha casa, Lunna. — Ele se apoiou nos joelhos, segurando um


celular. — Ele não a quer. Ele não sente sua falta. Na verdade,

Romeo estava com outra mulher hoje mesmo — Nikolai murmurou,

deixando-me tensa.

Desviei meus olhos dos seus quando ele virou a tela do

celular para mim. Meu estômago rodou e eu segurei o vômito ao ver

Romeo com uma mulher loira. Beijando-a. Eu não sabia dizer se a


foto era recente, mas era meu marido ali.

— Ele te trai regularmente. Ele não te ama, mas você ainda


está tentando voltar para ele. Voltar para a casa vazia, para o

silêncio e solidão.
Fiquei calada e encarei a janela do carro, sentindo as

lágrimas encherem meus olhos. Nikolai estava com os dedos sobre


a minha ferida mais profunda, e o celular era sua maneira de

aumentar o ferimento. Ele segurou meu queixo e forçou meu olhar

no seu.

— Você será feliz comigo, Lunna. Eu prometo — Nikolai

jurou, completamente sério.

E eu quis acreditar nele. Desejei ardentemente que pudesse

esquecer Romeo e ser feliz.

Mas eu não podia.

Nikolai se afastou e eu limpei meu rosto, focada na paisagem

do lado de fora.

— Você os matou — murmurei, certa de que ele sabia da

minha tentativa inútil de fugir com Salvatore e Giulio.

— Ainda não, mas farei isso em breve.

Eu sabia que sim.

Nikolai me ajudou a sair do carro e nós andamos até o

restaurante chique. Não havia mais ninguém, fiquei aliviada por isso.

O jantar foi feito em silêncio, mas não pude deixar de perceber que
Nikolai sorria para mim cada vez que eu bebia o vinho.
— Você gostou da comida? — ele questionou quando
chegamos à mansão.

Acenei enquanto seguia para a escada. Nikolai subiu comigo,


e senti sua mão enrolar na minha quando chegamos no topo da

escada. Tentei me afastar, mas meu movimento estava lento.

Estávamos encarando a noite pela janela quando Nikolai

tocou minha bochecha. Eu pisquei, sonolenta, e ele sorriu ao beijar

a minha bochecha. Eu me afastei assim que o vi se inclinando, mas

meu movimento era vagaroso.

— O que está fazendo? — perguntei, engolindo em seco.

Ele segurou minhas bochechas ao se aproximar até juntar

nossas bocas. Seus lábios eram gelados, diferentes dos de Romeo.

— Nada — Nikolai respondeu quando se afastou, porém senti


suas mãos nas alças do meu vestido, descendo-as.

Tentei pedir que se afastasse, mas as palavras ficaram

presas. Minha cabeça estava enevoada e meu corpo não respondia


aos meus comandos.
— Talvez estivéssemos certos. Nikolai é um filho da puta
prepotente que não pensa muito. — Rocco riu, enfiando o celular
dentro da calça enquanto vestíamos os coletes a prova de bala.

Eu me ergui, segurando no teto do barco, e me movi para a

frente.

— Мы приехали. Велосипеды спрятаны за деревьями.[i] —


o russo resmungou, desligando o motor do barco.

Rocco fez uma careta.

— Хорошо.[ii] — respondi com um aceno e peguei minha

mochila.
— Que porra ele falou? — Matteo questionou enquanto ria e

eu descia do barco.

— Onde as motos estão. Vamos. — Acenei para o restante

dos soldados e eles me seguiram em silêncio. Tínhamos no total


dez homens, incluindo a nós.

Entramos na mata e logo encontramos as motos. O céu

estava escuro. O que pensávamos que levaria dois dias durou um e


meio, e eu estava aliviado por isso. Não queria ficar nessa merda

mais que o necessário.

Matteo subiu na garupa da moto e eu acelerei, adentrando

mais ainda na floresta. Meus irmãos estavam se arriscando por

mim, por Lunna, e isso também era algo que estava me tirando a
paz. Fazia quase cinco dias sem dormir mais que algumas horas, e

eu estava cansado pra caralho.

Assim que chegamos aos portões, um dos soldados se

posicionou e hackeou a configuração do portão, com um aparelho


que parecia um tablet, talvez fosse, eu não sabia. Nós precisávamos

ser silenciosos. Eu não queria que Nikolai me visse chegando até

ser tarde demais.


Os homens da Outfit se espalharam e eu, mais uma vez,
duvidei da sanidade de Nikolai. Não tinham seguranças ao redor, e

quando encontramos o primeiro, ele estava na porta da casa.

O sangue dele molhou a camisa de Rocco, mas ele não o

percebeu. Apenas continuamos andando. Algo estava errado. Ainda

duvidava que Nikolai deixaria a mansão desprotegida. Isso não era

a Bratva.

— Vou subir — avisei a Rocco e andei para a escadas

segurando a FAL[iii].

Mirei a minha frente e subi os degraus. Tudo estava

silencioso demais. Parei quando cheguei à primeira porta, sentindo

Matteo por perto. Segurei a maçaneta e abri a porta devagar. Mirei


minha arma na cama e ouvi um praguejo de Matteo, enquanto meu

sangue esquentava e eu via vermelho.

Lunna estava nua na cama, no peito de Nikolai. Seus olhos

estavam fechados e ela parecia calma em seu sono. Em paz,

enquanto eu queimava. De ódio.

— Romeo — Matteo chiou para me chamar. Vi o exato

momento em que ambos acordaram. Nikolai puxou a arma da mesa

de cabeceira e mirou em mim, se erguendo, nu. — Porra.


Lunna abriu os olhos e pareceu aliviada por um segundo

quando me viu, mas, em seguida, franziu as sobrancelhas ao


perceber que os peguei juntos. Ela baixou os olhos para o lençol e o

puxou para se cobrir.

— Eu vou atirar em você. Baixe a porra da arma. — Matteo

mirou o fuzil que segurava para a cabeça de Nikolai.

Eu continuava encarando Lunna, nua. Ela estava transando


com esse desgraçado enquanto eu atravessava o oceano e

colocava meus irmãos em perigo para buscá-la.

— Cara, só saia. Eu vou deixar vocês irem, sem problema —

Nikolai falou, ainda segurando a arma. Mas eu mirei a minha na


testa dela. — Baixe a arma. Lunna não tem...

— Cala a boca — ordenei, apertando mais a arma. Lunna me

encarou e as lágrimas em seus olhos eram como água no deserto.


Eu a faria sofrer muito mais. — Se levante e vista uma roupa — falei
diretamente para ela.

Tremendo, minha esposa se moveu. Nikolai respirou fundo e

sorriu mesmo quando Matteo estava tão perto dele que o cano do
fuzil tocou sua cabeça.

— Eu disse que ela pediria meu toque. — Ele deu de ombros.


Eu me aproximei e tirei a minha faca, cortando seu pulso e

fazendo com que ele derrubasse a arma. Baixei a minha e segurei


seu cabelo, forçando seu corpo para baixo e o colocando de joelhos

de frente para o closet onde Lunna tinha entrado.

Quando ela saiu, seus olhos procuraram os meus e depois


viram Nikolai no chão. Lunna abraçou a si mesma e piscou,
desviando a atenção para o lado.

— Olhe para ele! — eu gritei na direção dela e a vi

estremecer.

— Romeo...

— Eu mandei você olhar para ele! — voltei a gritar.

Lunna o fez enquanto chorava diante de mim. Chorava por

ele. Três dias e ela já estava fodendo outro homem depois de dizer
que me amava.

Eu traí Lunna por vezes e ela sabia disso. Nunca menti,


enganei ou disse que não saía com outras mulheres. Fui verdadeiro

pra caralho. Lunna era muito mais traidora que eu. Porque ela
mentia.

— Espero que você tenha memorizado isso, Lunna — falei

com firmeza e me inclinei, ficando ao lado de Nikolai. Puxei minha


faca e deslizei na garganta dele, sentindo o sangue descer.
Satisfação vibrou em minhas veias enquanto sentia sua pele abrir e
o líquido quente inundar o chão. Afundei a faca olhando para ela.

Para o olhar chocado e temeroso.

— Romeo... — Lunna chorou, de olhos arregalados.

Empurrei o corpo de Nikolai para o chão. Seus olhos ainda


abertos encaravam a parede. Pisei no sangue dele quando
caminhava até ela.

— Cala a porra da boca. Coloquei meus irmãos em perigo

por uma vagabunda. — Lunna se encolheu, chorando, e eu segurei


seu queixo com força. — Você não sofreu durante esses três anos,
Lunna. Você vai conhecer o inferno agora, vou apresentá-lo a você.

Eu a puxei, segurando a base do seu pescoço, e saí com

Matteo nos seguindo. Desci a escada rapidamente enquanto Lunna


tentava me acompanhar, mas suas pernas eram pequenas demais.

Ela tropeçava e quase caía, se não fosse meu aperto.

— O que porra... — Rocco semicerrou os olhos ao nos ver.

Mesmo sem que eu tivesse falado uma palavra, meu irmão

soube o que tinha acontecido. Seu olhar de nojo fez Lunna se


encolher mais uma vez.
— Romeo, me deixe explicar — ela pediu sob os olhares dos
meus irmãos.

— Eu não preciso de explicações — afirmei rispidamente e


me afastei.

Rocco balançou a cabeça em silêncio e se afastou para a

porta. Nós ouvimos os carros antes que saíssemos. Coloquei Lunna


para o lado e mirei. Assim que os homens começaram a entrar, nós

matamos um a um.

— Giulio e Salvatore estão vivos. Estão no porão ou algo

assim — Lunna murmurou quando o último homem caiu.

Rocco fingiu que não a escutou e eu fiz o mesmo. Um dos

nossos soldados se moveu para ir procurar enquanto eu encarava

Matteo.

— Fique com ela até chegarmos a nossa casa.

Meu irmão me encarou e o lampejo de pena em seus olhos


foi ignorado por mim. Eu não precisava dessa merda. Saí com

Rocco e andei para longe.

— Não consigo acreditar...

— Não fale ou toque nesse assunto — eu o interrompi,

apertando meus punhos.


Ele acenou, respirando fundo.

— Você o matou. — Não foi uma pergunta, por isso não

respondi.

Nós fomos para as motos, e dessa vez fui com Rocco

enquanto Matteo ficou com Lunna. Eu mal podia olhar para a cara

dela. Estava com nojo e me sentindo um imbecil.

Um homem fraco.

Um tolo estúpido.

Eu não deveria ter vindo.

A viagem de barco foi rápida e eu tentei manter distância de

Lunna tanto quanto podia. Matteo a manteve com ele e eu não a


encarei nem uma vez sequer. Eu precisava pensar no que fazer com

ela. E cada possibilidade me deixava ainda mais irritado.

Entrei no nosso jato e me sentei próximo a Rocco. Minha


roupa estava suja com sangue e o cheiro estava me deixando

inquieto. Infelizmente, eu não tomaria um banho agora. Matteo se

moveu com Lunna até a parte de trás e nossos soldados entraram


depois.
— O que vai fazer? — Rocco questionou, sentado diante de

mim. Ele tinha acabado de falar com Sienna e sua esposa estava

aliviada por estarmos todos bem. Isso incluía seu irmão e Giulio. Os
dois estavam nas poltronas da frente, com soldados os vigiando.

— Não sei — falei a verdade.

— É seu direito matá-la. Tem minha permissão, Romeo —

Rocco murmurou, irritado.

Suspirei. Ele estava falando essa merda porque me viu


perturbado por causa de Lunna, enquanto ela fodia com Nikolai. Eu

era uma piada do caralho.

— Não vou matá-la, Rocco — respondi e encarei a janela. —

Vou mandá-la de volta para os pais dela.

— É sua decisão.

Eu sabia que sim, e ela estava tomada.

Assim que chegamos a Chicago, eu dirigi sozinho para a

casa, Matteo ficou responsável por levar Lunna, e quando cheguei

fui direto ao meu quarto. Tomei um banho longo e me apoiei na


bancada da pia, me encarando no espelho. Idiota. Pensei,

balançando a cabeça.
A visão de Lunna deitada no peito dele voltou a minha mente

e eu apertei os pulsos. Tentei imaginar os dois fodendo. Ele tirando


a virgindade que eu insisti em deixar intacta. Meu punho voou para

o espelho e ele quebrou em várias partes. Me afastei, respirando

fundo, e lavei o sangue que encharcava a minha pele e a pia.

A sensação de que ela havia me feito de idiota estava me

fazendo odiar meus atos. Eu deveria ser a pessoa que ela me

descreveu na ligação com sua mãe. Deixá-la na Rússia e pensar na


Outfit antes dela.

Eu odiava meu pai, mas agora eu gostaria de não ter


sentimentos, assim como ele.

Peguei a caixa de primeiros socorros e fui para o quarto. Me

sentei na cama, ainda de toalha, e limpei meus ferimentos. Quando


terminei, ouvi passos do lado de fora. Esperei quieto, calmo e

parado no mesmo lugar.

Quando a porta se abriu, eu não me surpreendi ao vê-la.

— Nós, por favor, podemos conversar? — Lunna pediu, me

encarando. Suas lágrimas tinham sumido. Seu cabelo estava


molhado e ela estava vestindo uma de suas roupas habituais.
— Não tenho o que falar com você — eu disse de maneira

firme.

Lunna mordeu o lábio enquanto me olhava com seus olhos


azuis que eu, agora, odiava.

— Romeo. Eu só não quero que...

— Arrume suas coisas — eu a interrompi, me erguendo e

andando para o meu closet. Pegava uma calça enquanto a ouvia me

seguindo.

— Para quê? — Lunna gaguejou, parando na porta.

Deixei a tolha cair e vesti minha cueca e depois a calça.

Quando me virei, ela estava encarando meu corpo.

— Você vai voltar para Nova York.

Seus olhos se arregalaram e seus lábios ficaram abertos. Ela

estava surpresa?

— Eu deveria matar você, mas não vou. Arrume suas coisas,

você irá no primeiro voo de amanhã — avisei, querendo sair do

closet, porém Lunna estava na passagem e eu não a tocaria. —


Saia.

— Você me trai regulamente. Você passou três anos


chegando com cheiro de outras mulheres em sua roupa e eu a
lavava chorando no dia seguinte. Você está falando sério?

— Nunca lhe disse que seria fiel a você. Nunca, Lunna. Na

sua primeira noite nessa cidade, eu lhe disse que não me

apaixonaria. Eu nunca menti para você. Eu fui verdadeiro.

— E...

— Já você, na primeira oportunidade que teve, fodeu com


meu inimigo. O homem que tinha tirado você da sua casa. Eu não

quero você. Seus pais saberão da minha decisão assim que sair da

minha frente — rugi.

— Não faça isso.

— Saia.

— Eu não me lembro de nada, Romeo. Eu estava bêbada...

— Lunna começou a falar e eu continuei encarando seu rosto,

esperando a explicação. Mas ela não veio. Ela estava bêbada?


Essa era a porra da desculpa?

— Quero você fora da minha casa. Longe de mim e da minha


família — falei e novamente a mandei sair. — Saia do meu quarto.

Lunna balançou a cabeça e se aproximou até ficar diante de

mim.

— Eu não queria que ele me tocasse, Romeo. Por favor...


— Eu cruzei o oceano para encontrar você na cama de outro
homem, Lunna. A cada vez que você implora, é só isso que eu vejo,

então, não perca tempo e saliva. Saia da minha frente.

Eu a queria longe. Tão longe que eu nunca mais teria que

olhar na cara dela.

Lunna Bianchi era menos que nada para mim.

Ela saberia disso.


Os olhos de Romeo não estavam mais vazios, eles estavam
tomados por fúria. Eu segurei mais lágrimas e dei um passo em sua
direção. Seu rosto se contorceu e o nojo ali me deixou à beira do

desespero.

Eu não me lembrava de muito depois que Nikolai desceu meu

vestido. Tudo estava embaçado e as cenas cortadas. Porém, eu


sabia, com toda certeza, de que eu não queria seu toque. Ele

roubou algo que não era dele. Algo que pertencia a Romeo.

O sangue seco que vi em minhas coxas depois que fui para o

closet me vestir me fez vomitar lá dentro. Nikolai tinha me

estuprado. Ele realmente tinha me tocado enquanto eu estava


bêbada e drogada.
— Eu não queria, Romeo. Por favor, acredite em mim —

implorei tão perto dele que nossos corpos se tocaram. Sua pele
morna era um alívio para o gelo dentro de mim.

— Não preciso acreditar, Lunna — ele murmurou firme e


distante, me fazendo respirar fundo e esfregar o meu rosto. — Eu vi.

— Ele me deu uma bebida ontem. Nós saímos para jantar e

ele me deu vinho...

— Fico feliz que você tenha saído do seu cativeiro para

jantar. — Sua voz fria me atingiu e eu balancei a cabeça, piscando


novas lágrimas.

— Me escuta. Ele me tocou sem minha permissão. Nikolai

me estuprou, Romeo. Eu nunca trairia você. Eu te amo, por favor...

— Não minta para mim! — ele rugiu, pegando meus ombros.

Eu só balancei a cabeça, sem ter mais o que falar. Romeo

realmente não acreditava em mim. — Nunca mais diga isso. Nunca

mais fale que me ama, porque você e eu não sabemos o que é isso.

— Você não sabe, mas eu sim! — gritei, me afastando e

abraçando meu próprio corpo enquanto soluçava. — Eu amei você

acima do seu descaso, das suas traições e acima de mim mesma!

Eu te amei enquanto era engolida pela solidão. Eu te amei enquanto


chorava todas as noites ao dormir sozinha. E eu te amei mesmo
quando sentia o cheiro de mulheres em você.

— Você está melhor agora? — Romeo questionou, frio e

distante, me encarando. — Continue pontuando as coisas que fiz,

Lunna. Se isso a deixa melhor, faça. Mas saia do meu quarto. Estou

cansado pra porra. Enquanto você dormia com Nikolai, eu estava

acordado há dias.

Suas palavras eram como socos em meu estômago. Balancei

a cabeça, sabendo que ele não acreditaria em mim. Nunca. Era

perda de tempo.

— Vou arrumar minhas coisas. — falei de maneira decidida e

limpei meu rosto, em seguida, coloquei meu cabelo atrás da orelha.


Eu o encarei, tremendo de medo. Medo de perdê-lo. De perder o

que eu nunca possuí.

Me virei, reunindo minha força e dignidade, e saí do seu

quarto, deixando-o para trás.

Assim que entrei no meu, eu tranquei a porta e me sentei


contra ela, descansando minha testa em meus braços. Meus

soluços ecoaram pelo quarto e eu me olhei com nojo. Horror me


enchendo ao saber que Nikolai me tocou, me arrancou algo que eu

guardei para Romeo. Algo que me pertencia.

Me ergui e fui para o banheiro. Me sentei na banheira com

roupa e liguei a torneira. Peguei a esponja e deslizei pelos meus


braços, tentando me limpar. Fechei meus olhos com força e flashs

de Nikolai sobre mim apareceram em minha mente. Porém, tão


rápido quanto vieram, eles se foram.

Meus lábios estavam tremendo e meus dedos, enrugados.

Toda a minha pele estava com pontos roxos, e quando comecei a


tremer, me ergui da banheira, sabendo que já tinha se passado
muito tempo.

Tirei minha roupa toda e depois que me sequei, vesti uma

das minhas camisolas. Andei até a cama e me deitei, abraçando


meu travesseiro. Tentei adormecer. Não foi difícil, eu estava

cansada da viagem.

O olhar de nojo que os irmãos de Romeo me deram quando

me viram e depois, durante o voo, entraram em meus pensamentos


e eu chorei baixinho até dormir.
No dia seguinte acabei acordando mais tarde que o habitual.

Meu rosto estava inchado e minha boca com gosto amargo. Escovei
meus dentes e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Lavei meu

rosto e saí do quarto depois de trocar minha camisola por um


vestido preto de algodão que era justo. Eu estava com saudade das

minhas roupas.

Desci a escada e a voz de Romeo me fez parar.

— Não dou a mínima, Rocco. Sienna está proibida de vir, e o

mesmo se estende a Lake — ele falou, tenso, enquanto eu via suas


costas nuas e suadas.

Romeo tinha uma rotina que consistia em ir à academia


assim que acordava. Eu perdi a conta das vezes que fiquei

escondida observando-o.

— Vou enviá-la de volta para Nova York — ele murmurou,


segurando uma arma entre os dedos, olhando para ela como se ela

fosse resolver todos os seus problemas. — Não consigo olhar para


ela. Quando a olho, eu a vejo nua na cama dele. Não queira estar
no meu lugar, essa visão dos infernos está me deixando louco.

Meu peito latejou com suas palavras. Ele pensava que eu o

tinha traído. Que eu tinha ido de boa vontade para a cama de


Nikolai. Que eu entreguei minha virgindade a um desconhecido.

— Vou para a mansão por enquanto. É melhor assim. — Ele

se virou depois que falou e me viu ali parada. Romeo desviou os


olhos e andou para a cozinha. — Tchau.

Eu o segui, tentando pensar no que fazer. Era óbvio que eu

precisava pensar em algo. Não queria ir para Nova York. Eu queria


minha casa, minhas coisas, meu marido.

— Por que não acredita em mim? Eu já menti para você


alguma vez? — perguntei baixinho ao entrar na cozinha e o ver de

pé em frente à geladeira.

Ele tirou uma das garrafas que comprei no último Natal e a


virou na boca.

— Você arrumou suas coisas? — Ele mudou de assunto.


Engoli em seco, negando. — Então, faça isso. Eu vou para a

mansão...

— Não vá — falei abruptamente. Ele arqueou as

sobrancelhas. — Eu não estou mentindo. Eu estou doente, com nojo


de mim mesma, com nojo do que Nikolai fez.

— Você chorou por ele quando o matei. — Romeo riu como

se me achasse boba.
— Não por ele. Eu juro que não foi por ele. Foi por mim, eu
tinha visto meu sangue em meu corpo, estava machucada, e você
estava me olhando como se eu o tivesse esfaqueado. Eu não fiz

nada. Eu não tenho culpa.

Pela primeira vez, Romeo não respondeu imediatamente. Ele


andou até mim e eu suspirei.

— Só quero que tudo suma. Que os flashes parem de vir. Eu

quero esquecer...

— Eu vou para a mansão.

— Não faça isso. Olhe para mim, Romeo — pedi, segurando


seu braço. Mas ele se moveu rápido e me prendeu contra o balcão.

— Me bata. Se sua raiva vai passar, faça isso, mas não me devolva.

Esta é a minha casa. Meu lar.

— Eu nunca a machuquei e hoje não vai ser a primeira vez.

Você pode estar falando a verdade. Nikolai pode ter drogado você e

a tocado sem sua permissão, mas esse casamento acabou antes


mesmo de começar. Nós não somos um casal. Nunca fomos.

Eu sentia como se ele estivesse me dando facadas. Suas


palavras acabaram com qualquer coisa que eu pudesse fazer por
nós. Eu estava tão cansada. Cansada de lutar por ele, por

sentimentos que sequer existiam.

— Vou ligar para a minha mãe. Eu vou embora hoje ainda.

Não se preocupe — murmurei, empurrando seu peito e me


movendo até a pia. Agarrei a bancada enquanto ouvia os seus

passos.

— Me diga se precisar de algo.

Então ele saiu.

Eu não derramei lágrimas dessa vez. Eu não podia. Romeo já

tinha levado todas.

Depois que terminei de tomar café, eu ouvi a porta se

abrindo. Me ergui e andei até lá, vendo Sienna e Lake. Meus olhos
queimaram e eu me aproximei, jogando os braços ao redor de

ambas.

— Me desculpa. Por favor, me desculpa — Sienna pediu,


chorando.

— Você não tem culpa de nada disso. — Balancei a cabeça.


— De nada — eu disse com firmeza e me afastei para ver a Lake.

— Estava com saudade de vocês.


Lake me abraçou novamente e eu a apertei dentro dos meus

braços, sentindo seu cheiro bom. Eu achei que nunca mais as veria.

— Você está bem mesmo? — Lake questionou, seu rosto


molhado.

Balancei a cabeça e pisquei demoradamente.

— Estou tão longe de estar bem. — Sorri tristemente e puxei

ambas até o sofá. Minha casa estava do mesmo jeito que deixei.

Impecável.

— O que aconteceu lá? — Sienna perguntou, preocupada.

Eu contei tudo, cada coisa, Lake parecia estar a um passo de

desmaiar quando terminei.

— Romeo não acredita em mim. Eu já falei uma e outra vez,


mas ele só fala em me mandar embora. — Limpei minhas

bochechas e apertei as mãos de Lake. — Não quero ir. Porém, não

vou mais implorar por nada. Eu não posso.

— Nikolai era um desgraçado — ela murmurou.

Eu acenei, porque ele era. Ele fingiu estar sendo paciente


para que eu baixasse a guarda e ele pudesse me drogar.

— Ele era.
— Romeo não pode mandar você embora. Não pode —

Sienna afirmou.

— Não quero mais explicar isso. Eu me sinto doente a cada

vez que preciso falar que fui estuprada e não queria Nikolai. Romeo
deveria acreditar em mim. Ele deveria olhar para os meus olhos e

ver a verdade.

A porta se abriu e eu limpei meu rosto, vendo os irmãos


Trevisan entrarem. Me ergui junto com Sienna e Lake.

— Porra, Sienna, de novo? — Rocco gritou, mas ela só olhou


calmamente para ele.

— Eu pedi a você. Implorei...

— Não importa. Eu disse não. — Rocco apertou as mãos

enquanto Romeo, Prince e Matteo ficaram em silêncio.

— Lunna passou pelo inferno. Ela é minha amiga, eu não a

deixarei sozinha.

— Ela passou pelo inferno? — Rocco riu, olhando para


Matteo, que fez o mesmo. — Fodendo Nikolai? Era assim o inferno

dela?

— Ele a estuprou! — Sienna gritou enquanto eu me encolhia,

envergonhada.
— Ela não lembra de nada. Ele a drogou e a machucou. Por

favor, não duvidem dela. Não façam isso — Lake pediu, enquanto

lágrimas caíam por suas bochechas.

— Está tudo bem, Lake...

— Não. Não está. Eu sei o que está sentindo. — Lake se


virou e me olhou, seu queixo tremendo. Prince se moveu

rapidamente para o seu lado e a tocou. — Eu só queria ter sido

drogada. Porque assim eu não me lembraria de nada. Assim as

imagens não ficariam se repetindo em minha mente.

Meus joelhos fraquejaram enquanto ela soluçava e me

encarava. Meu peito deu um nó e eu senti meu estômago revirar.


Meus olhos queimaram e eu deixei as lágrimas banharem meu

rosto. Segurei seu rosto e a puxei para o meu peito, abraçando-a

tão forte quanto eu podia.

— Oh meu Deus. Eu sinto muito. Eu sinto muito, Lake —

balbuciei, tremendo.

— Romeo — Prince interveio, fazendo Lake se afastar de

mim —, você deveria saber quando sua esposa fala a verdade.

— Eu amo você com todo meu coração. Mas não posso ficar
calada enquanto o vejo duvidar assim de uma mulher. — Lake se
afastou e encarou Romeo enquanto erguia o queixo. — Eu não

deixarei que a devolva. Ela não é uma mercadoria. Ela é uma


mulher que foi machucada por um monstro, e agora está sendo

machucada por você. — Suas palavras fizeram seus irmãos

praguejarem e respirarem fundo.

Romeo me olhou com os olhos azuis vazios e eu engoli em

seco.

— Está tudo bem. Eu quero ir, preciso — eu disse a Lake e

passei a mão por seus cabelos.

— Você não precisa...

— Eu preciso. Eu preciso muito, Lake. Eu não aguento mais.

Tudo vai ficar bem.

Ela soluçou enquanto me encarava e nos separávamos.

Rocco respirou fundo e olhou para seus irmãos.

— Essa é uma decisão de Romeo, Lake. Nem eu e nem você

o faremos mudar de ideia — Rocco anunciou. — Vamos.

Sienna me olhou e eu acenei, dizendo a ela para ir. Ela

seguiu seu marido e Lake ficou parada, vendo Matteo e Prince

seguirem o casal.

— Você contou para ela?


— Não. E não vou. Vá para casa.

— Ela merece saber — Lake murmurou.

Meu rosto estava franzido em confusão.

— Saia. Não quero magoar você. Só vá e iremos conversar

mais tarde — Romeo falou com firmeza e eu vi Lake acenar.

— Não a magoe. Por mim.

Lake saiu depois de falar e eu fiquei sozinha com Romeo.

Seus olhos me mediram e eu engoli em seco, dividida entre

questionar sobre o que Lake falava e esperar para que ele dissesse

qualquer coisa.

Tudo e nada. Que ele me mandasse embora ou que me

pedisse para ficar.

— Você precisa fazer exames.

— O quê? — questionei, confusa.

— Quero saber se ele a drogou e com o quê. — Suas


palavras se assentaram e eu deixei meus ombros caírem.

— Você não acredita em mim — falei, engolindo em seco.


Romeo me encarou, sem negar. — Você quer provas.

— Eu quero saber o que ele fez a você.


— Não. Você quer ter certeza de que não estou mentindo.

Seu silêncio me disse o bastante.

— Não preciso de você, Romeo. Eu vou voltar para Nova


York amanhã. Já falei com minha mãe e já comprei minha

passagem. Não se preocupe.

Andei para a escada e comecei a subir, mas parei e me virei,


encontrando-o parado me encarando.

— Só quero que você saiba que depois que eu for, nunca

mais voltarei.
Lunna subiu a escada e eu peguei um copo meio cheio de
uísque e joguei contra a parede. Se ela ouviu o barulho, não ligou,
pois não retornou. Os cacos voaram para todos os lugares. Respirei

fundo e fui até o jardim. Caminhei até a piscina e me sentei em uma


das cadeiras, encarando a água límpida.

Eu acreditava em Lunna. Acreditei assim que ela me


encurralou horas atrás na cozinha, mas eu ainda a queria longe.

Ainda queria que ela voltasse para a casa dos pais. E isso tudo

porque eu estava me perdendo. Ela estava me fazendo perder a


cabeça, isso vinha acontecendo desde que nos casamos. No nosso

primeiro ano juntos, eu toquei em outras mulheres com cabelos

longos e escuros que tinham olhos azuis iguais aos dela. Eu fingia
que era Lunna a cada vez que fodia uma delas. Quando acabava,

eu me sentia fracassado.

Então parei com essa merda. Eu passava longe de morenas

com olhos azuis.

Quando descobri que seu pai tinha machucado minha mãe,

eu fiquei louco e só quis cancelar o casamento. Eu pedi ao meu pai

para isso, mas ele não deixou. Disse que não existia motivo e nós
cumpriríamos o acordo. Depois disso, eu só queria Lunna longe de

mim e a mantive. Lutando contra meu desejo, meu anseio, eu a

deixei longe de mim.

Foi em vão.

Lunna Trevisan era meu desejo mais insano.

Andei para dentro de casa e subi a escada, parando em

frente à sua porta. Ouvi seus movimentos e suspirei, abrindo a

porta. Ela se virou para me encarar e as lágrimas em seu rosto me

acertaram mais uma vez. Eu odiava vê-la chorar. Por um momento,


depois de vê-la na cama de Nikolai, eu fiquei feliz por ela ter

chorado, mas foi fugaz. Agora eu estava me sentindo sufocado e

odiava isso.

— Fique na casa.
Lunna me encarou em silêncio e eu olhei para o seu quarto.

— Vou me mudar para a casa dos meus irmãos — eu disse e

voltei a olhar para os seus olhos.

— Não quero que faça isso.

— Eu sei. — Suspirando, passei a mão pelo cabelo. —


Duvidei de você e sei que foi errado. Nós só não somos o melhor

um para o outro. Mas aqui é seu lar. Esta casa é sua. Não quero

que se mude.

— Por que continua me afastando? — Lunna questionou, se

aproximando. Senti suas mãos em meu peito. — Eu sei que deve

sentir algo, Romeo. Você não iria até a Rússia se eu não fosse
importante para você.

Afastei seu cabelo e segurei seu rosto, acariciando suas

bochechas. Sua boca me chamou, me rondou, querendo que eu

caísse na tentação, e quando Lunna percebeu o que estava

acontecendo, ela se esticou e me beijou. Suas mãos subiram por

minha blusa e ela segurou meu pescoço enquanto chupava meu


lábio.

Não sei como me movi tão rápido, mas o fiz. Segurei sua

cintura e a ergui, procurando sua língua e provando sua boca.


Lunna abraçou meu corpo com as pernas e gemeu quando segurei

sua bunda nua. Seu vestido tinha subido e agora a única coisa que
tinha entre nós era minha calça e sua calcinha.

Mordi seu lábio e ela choramingou, me beijando de volta.


Enfiei meus dedos em seu cabelo e o puxei, enfiando minha língua

em sua boca. Seu corpo relaxou em meus braços e eu andei até a


cama. Coloquei Lunna deitada e deslizei minha boca para o seu

pescoço. Seus gemidos eram como música para os meus ouvidos e


eu continuei até sua calcinha.

Toquei sua boceta coberta e Lunna tremeu contra meu toque.

— Lunna — chamei, com a voz rouca, e ela olhou para mim.


— Se não quiser ou estiver em dúvida, fale.

— Não pare. Por favor, só tire a sensação dele de mim.

Suas palavras me fizeram ficar irritado, mas camuflei ao focar


em seu prazer. Puxei a calcinha pequena para a lateral e suas

dobras molhadas apareceram. Pequena, pensei rapidamente. Lambi


sua boceta e Lunna gemeu alto, trêmula.

Comi seu prazer e me deliciei com seu gosto e com seus

gemidos. Quando ela gozou, eu mordi sua barriga, subindo seu


vestido. Lunna me ajudou, e quando seu corpo pequeno estava nu
embaixo do meu, eu senti meu pau crescer mais ainda. Ela era

perfeita.

Me ajoelhei entre as suas pernas e empurrei meus quadris,


entrando nela. Suas paredes internas se alargaram, me recebendo,

mas Lunna ficou tensa. Me afastei e encarei seus olhos, então ela
relaxou quando me viu.

— Sou eu, Lótus — murmurei contra seus lábios e ela sorriu.

Beijei sua boca e Lunna se soltou, gemendo enquanto eu


entrava em seu corpo, me deliciando com suas curvas. Desci para

lamber seus mamilos e Lunna gritou assim que chupei um deles.


Senti meu pau encharcado e ela gemeu quando lambi novamente e
chupei. Sorri devagar, feliz por ter encontrado o ponto em que Lunna

enlouquecia.

— Ah meu Deus. — Ela gemeu quando deslizei novamente


em sua boceta e toquei seu clitóris. Lunna gozou e eu segurei sua

cintura, entrando nela e saindo, gozando tão forte que pontos


escuros apareceram em minha mente.

Caí ao lado de Lunna e nós dois respiramos fundo. O teto do


seu quarto era claro e eu percebi que nunca o tinha olhado.
— Obrigada — Lunna murmurou ao se virar e me encarar
enquanto descansava a cabeça no travesseiro.

— Por que está agradecendo? — perguntei, franzindo a


testa. Era eu que deveria agradecer. Lunna era perfeita. Eu não a

merecia. Nunca o faria.

— Porque tudo que sinto em mim é você. Isso é tudo que


preciso.

Eu me virei e puxei Lunna para mim. Seu rosto tocou meu


peito e ela segurou meu pescoço.

— Pensei que nunca te veria novamente — Lótus murmurou

contra minha pele.

— Você achou que eu não a buscaria. Sua mãe me disse —

falei sobre sua voz.

Lunna acenou, me encarando. Seus olhos azuis me


engoliram e eu tentei entender o motivo de eles me enfeitiçarem
tanto.

— Eu estava com medo, juro que não pensei que iria. Não

sabia se você sentiria minha falta...

— Você é tudo nessa casa, Lunna. Sentir sua falta foi tudo
que fiz desde que entrei aqui e não a encontrei na cozinha ou no
quarto.

Lunna suspirou e piscou novas lágrimas. Limpei uma delas

quando começou a descer por seu rosto com meus dedos, ela sorriu
e mordeu o lábio inchado dos meus beijos.

— Eu amo você.

— Eu sei.

Eu sabia que sim. Desde que fomos prometidos um ao outro.

Lunna dormiu contra mim e eu lutei contra o sono, mas foi em

vão. Eu não dormia há dias, e mesmo em casa, sabendo que Lunna


estava a salvo, eu ainda não conseguia.

Dormir ao lado dela foi uma surpresa.

Escutei meu celular tocar ao longe. Quando me sentei, o


lençol estava bagunçado e vazios. Lunna não estava no quarto.

Peguei o celular e atendi Rocco.

— O jato está pronto. — Sua voz soou baixa.

Demorei para entender o que ele quis dizer com isso.

— Ela não vai. — Respirei fundo e me inclinei, colocando

meu cotovelo no joelho enquanto passava a mão pelo cabelo.


— Ela falou a verdade — Rocco constatou antes que eu

pudesse explicar.

— Eu me sinto um cretino. Não deveria ter duvidado de

Lunna.

— Você a pegou na cama com ele. Não tem o que pensar.

— Sim, naquele momento. Mas depois? Rocco, eu deveria


tê-la escutado.

— Talvez. — Rocco suspirou e eu encarei o chão claro. —


Encontrem uma maneira de fazer funcionar.

— Não sei como. Eu deveria ter trazido Nikolai. Não o

matado de cara. — Minha voz baixou e eu grunhi com ódio puro em


minhas veias. — Ele a tocou. Ele a estuprou. Ele merecia sofrer.

— Você o matou. Ele deve estar tomando uísque com o diabo


agora, então, pare de remoer isso.

Meu irmão estava certo, mas eu ainda desejava matá-lo de

novo, porém lentamente dessa vez.

— Vai ter uísque para todos nós quando chegarmos lá.

Rocco riu antes de desligar.


Ouvi passos suaves e me virei, vendo Lunna de pé vestindo

uma camisola preta de seda. Seus seios pesados contra o tecido

faziam meu pau saltar. Eu a desejava há muito tempo, não achava


que sairíamos desse quarto pelas próximas horas.

— Eu fiz macarrão com queijo. — Seu sorriso e as

bochechas coradas me fizeram bem.

— Macarrão com queijo, hum? — questionei, me erguendo.

Seus olhos foram para o meu pau. A vermelhidão em suas


bochechas ficou maior, e Lunna lambeu os lábios. Imaginei sua

boca ao meu redor e parei diante dela, já duro.

— Si-sim — Lunna gaguejou.

Segurei sua cintura e a puxei para mim. Beijei seu pescoço e

senti seu corpo tremer.

— Vamos comer, então — falei e me afastei, quase sorri ao

ver o olhar de decepção em seu rosto. — Primeiro você, depois o


macarrão — eu disse lentamente e ela me olhou, arregalando os

olhos.

Assim que descemos depois de tomar banho, Lunna tirou o

macarrão do forno e colocou sobre a mesa. Eu servi nós dois e


começamos a comer. Lunna sabia cozinhar muito bem, eu amava

tudo que ela fazia. Obviamente eu comia longe dos seus olhos.

— Você gostou? — ela questionou, ansiosa, enquanto eu

comia.

— Você aprendeu rápido — disse, me referindo à comida.

— Eu gosto. Eu sabia que você comia quando chegava tarde.


— Lunna desviou os olhos e eu segurei sua mão. — Não foi nada. É

só que lembrar de tudo que já passamos...

— Eu sei — falei e puxei sua mão, fazendo-a se erguer.

Peguei seus quadris e a movi para o meu colo. Beijei sua orelha e

Lunna derreteu em cima de mim. — Vamos esquecer aquilo, ok?

— Tudo bem. — Ela acenou rapidamente, mas eu a prendi

quando tentou se erguer.

— Coma aqui.

Lunna sorriu e fez o que pedi, sem reclamar.

— Salvatore e Giulio estão bem? — Fiquei tenso com sua

pergunta, nem eu saberia dizer o motivo.

— Por quê? — questionei.

Lunna se virou e me olhou.


— Nada de mais. Só quero saber. — Ela deu de ombros.

— Eles vão ficar com a Outfit. Salvatore é nosso desde a

troca por Sienna. Giulio, no entanto, é algo que Rocco não se


decidiu. Matar ou trazê-lo para cá como o irmão de Sienna.

— Eles iam me ajudar a fugir. Conversamos sobre isso


quando Nikolai me deixou vê-los. — Lunna parou de falar quando

fiquei mais tenso e seus ombros cederam. — Me desculpe...

— Não. Eu preciso lidar com essa merda — falei


abruptamente e ela acenou.

— Era uma troca, entende? Nikolai me dava algo que eu


queria, como ligar para mamãe, e eu almoçava com ele. Por último,

jantar com ele. — Lunna olhou para a mesa e respirou fundo. — Ele

era calmo, simpático. Eu baixei a guarda com sua conversa de

nunca me machucar. Por baixo da calmaria havia uma tempestade


se formando. Eu deveria saber.

Lunna piscou lentamente e eu me segurei para não quebrar


tudo que estava na minha frente.

— Eu fui uma idiota. É culpa minha ele ter tirado minha

virgindade. Eu deveria...
Lunna gritou quando eu me ergui e a peguei em meus

braços, coloquei-a sobre o balcão e a fiz me encarar.

— Você não tem culpa dessa merda, Lunna. Você está me

ouvindo? — questionei, gritando, e tão tenso que uma faca não me

machucaria tanto se lançada contra mim. — Você sobreviveu.

— Mas não sou mais virgem. Era sua, não dele. — Lunna

mordeu o lábio, chorando.

Segurei seu queixo e a fiz me olhar.

— Eu estaria mentindo se dissesse que não me importo,


porque o homem das cavernas em mim queria muito ver seu sangue

em meu pau, mas não vamos voltar ao passado. Não podemos.

Você é minha e sua boceta também. E ela é perfeita, você é


perfeita, e eu sou um fodido sortudo por tê-la pelo resto da minha

vida.

— Romeo...

— Você entendeu? — questionei, ainda tenso. Ela acenou,

tocando meu peito. Tirei minha mão do seu queixo e beijei sua boca
rapidamente. — Não quero que você se culpe por isso. Pare com

essa merda.
— Tudo bem. — Lunna agarrou meu corpo e eu a deixei me
abraçar.

— Agora, vamos terminar a comida.

Quando terminamos de comer, eu tirei a mesa e lavei os

pratos enquanto ela ficava ao redor, me observando.

— Nós podemos ir até a mansão dos seus irmãos? — Sua

pergunta me deixou tenso e Lunna percebeu, pois logo seus ombros

caíram. — Não tem problema.

— Quero ficar sozinho com você — expliquei rápido e ela

arregalou os olhos. — Eu fiquei muito preocupado durante os dias


que passou longe. Eu sei que tratei você de maneira errada, mas eu

realmente pensei que iria perdê-la. É uma merda, porque antes

disso eu não sabia que você era tão importante.

Lunna piscou os olhos úmidos e se aproximou, tocando meu

rosto.

— Não sei por que me manteve longe de você, Romeo, mas


eu peço que não volte a fazer isso. — Sua voz baixa me fez suspirar
e acenar enquanto segurava sua cintura. — Vamos encontrar uma

maneira de dar certo?

— Pode apostar que sim.


Lunna suspirou aliviada antes de subirmos para o seu quarto.
Ela colocou filmes e quando anoiteceu, eu odiei saber que precisava
sair. Lunna se sentou na cama assim que entrei em seu quarto

enquanto eu ajustava minhas armas e arrumava meu blazer. Lunna


suspirou e eu me virei, encontrando-a olhando para as mãos. Me
aproximei devagar e ela ergueu o queixo para me encarar.

— O que foi? — perguntei, confuso.

— Não quero ficar sozinha. — Lunna desviou os olhos dos


meus.

— Lunna, eu preciso trabalhar. — Suspirei.

— Eu sei. Só não gosto de ficar só. — Ela mordeu o lábio e


piscou, passando a mão pela perna branca dobrada.

Puxei sua mão, fazendo-a ficar de joelhos na cama, quase na


minha altura.

— Por que você só não pede de uma vez? — indiquei,


segurando sua bunda e ela engoliu em seco, as bochechas coradas.
— Eu não vou adivinhar todas as vezes que quiser algo e ficar com

charme.

— Não estou fazendo charme! — ela rebateu, irritada. Eu


sorri, erguendo as sobrancelhas. — Só um pouco.
— Se troque. Nós desceremos em cinco minutos.

— Mas eu preciso de mais tempo.

— Você vai para a casa da nossa família, não a um

restaurante chique — murmurei, vendo-a se afastar e correr para o


closet. Quando os cinco minutos passaram, eu peguei meu celular.
— Lunna, vamos.

Ela não respondeu.

— Lunna, eu não posso me atrasar — falei e abri a porta do


closet.

Suas pernas apareceram e eu fiquei tenso quando percebi

que ela estava caída, desacordada. Me movi rápido e a peguei nos


braços. As batidas do meu coração eram ouvidas por mim cada vez
mais altas enquanto eu me movia com ela no colo.
Algo estava errado. Meus olhos não se abriam e eu tentei
com muito afinco fazer isso. Escutei a voz das pessoas ao meu
redor, ouvia Romeo e passos apressados. Porém, não conseguia

acordar.

— Deve ser a droga que ele deu a ela. — A voz de Rocco

soou.

Tentei novamente abrir os olhos. Droga? Forcei meu cérebro

a lembrar, e quando o rosto de Nikolai apareceu, eu chorei em


silêncio, querendo acordar. Querendo parar de vê-lo.

— Cadê a merda desse médico? — Romeo questionou,

frustrado.
— Vou tentar acordá-la com álcool — Rocco murmurou com

a voz abafada.

Em seguida, senti um pano encostar em meu nariz. Devagar,

meus sentidos começaram a funcionar e eu pisquei, abrindo os


olhos.

— Acordou Bela Adormecida — Rocco disse ironicamente.

Romeo empurrou o irmão para o lado e se aproximou.

— Você está bem? — ele questionou, tocando meu rosto. Eu

só consegui acenar. — Está sentindo algo?

— Não. Apenas confusa.

— O que aconteceu?

Eu tentei me lembrar e suspirei.

— Eu vesti o vestido e de repente senti uma vertigem. Tentei

me segurar nos armários do closet, mas eu caí. Não lembro de mais


nada.

Romeo acenou. A porta foi aberta e Matteo entrou com um

homem de terno que estava com uma maleta. Eu achava que era o

médico.
— Ela desmaiou — Romeo tratou de explicar o que tinha
acontecido. O médico me examinou com cuidado. Quando ele se

afastou, com o cenho franzido, eu mordi meu lábio, temerosa. —

Seus sintomas são comuns em quem tomou drogas, no caso dela,

pesadas. Indico fazerem alguns exames, ela também pode estar

com anemia. Temos que estudar o caso e ter os resultados para

confirmar.

Romeo acenou, andando pelo quarto. O médico coletou meu

sangue com bastante cuidado. Quando ele saiu, Rocco e Matteo o

seguiram, me deixando sozinha com Romeo.

— Eu estou bem — murmurei para o meu marido, que

continuava andando pelo quarto.

— Ele pode ter dado a você algo mais forte. Algo que esteja

fazendo mal por dentro. — Romeo continuou se movendo e pontuou

suas preocupações.

— Vamos descobrir com os exames — falei, tentando

acalmá-lo.

Romeo acenou e se aproximou.

— Se ele não estivesse morto, eu o rasgaria em pedaços.


Eu sabia que ele o faria. Romeo era tão cruel quanto seu

irmão. Sempre soube disso, mas o ver rasgando a garganta de


Nikolai sem pudor ou remorso me levou a acreditar mais ainda

nisso.

Os homens do meu mundo são monstros e eu amava um

deles.

— Você deve ir ao trabalho. Eu vou para a mansão — falei


suavemente.

Vi em seu rosto que ele não queria isso, mas seu trabalho na
Outfit era importante. Ele precisava fazê-lo. Romeo foi comigo para

a mansão, e relaxei quando vi Sienna andando em minha direção.


Romeo saiu com Matteo momentos depois de Sienna e eu estarmos

na cozinha.

— Rocco disse que desmaiou. Está tudo bem? — ela


perguntou, franzindo as sobrancelhas.

— Acho que foi a pressão — desconversei, não querendo


mais uma pessoa preocupada comigo. — Onde está Lake? —

questionei, pegando um copo e enchendo-o de água.

— Sessão com a psicóloga. Rocco e Romeo decidiram isso,


hoje é a primeira sessão dela. — Si explicou, suspirou e passou a
mão no cabelo loiro. — Não sei o que fazer com Lake. No dia que

você foi levada, ela me contou coisas sobre a família deles. Eu fico
ainda mais doente ao saber de tudo que passaram.

— Lake vai ficar bem — murmurei.

Sienna encarou os dedos, acenando.

— Você não sabia mesmo da existência dela?

— Não. Eu só vim à mansão no dia em que cheguei a


Chicago. Romeo não deixava. — expliquei, com um gosto ruim na

boca. Lembrar disso ainda me machucava. Queria ficar bem com


Romeo. Ele estava certo, precisávamos esquecer o passado.

— Você já jantou? — Sienna mudou de assunto e eu neguei.


— Podemos pedir algo. Lake também não comeu. Faremos uma

noite de meninas novamente.

Encarei Sienna e, pela primeira vez, vi seus olhos ligeiros.


Ela estava preocupada com algo.

— Você está bem? — questionei, tocando seu braço.

— Quero ver Salvatore. Eu me sinto em um rolo compressor.


Querendo ver meu irmão e não querendo decepcionar Rocco. — Ela

mordeu o lábio e seus olhos brilharam.

— Você já pediu?
— Não. Eu não quero chateá-lo. Rocco vem passando por
muito. Com meu quase sequestro e com o seu. — Ela sorriu,
tentando aliviar o clima.

— Se isso melhora, ele está bem. Sabe, eu o vi quando

estávamos na Rússia e no avião vindo para casa — falei


suavemente.

Sienna respirou fundo, sorrindo ao final.

— Isso melhora tudo. Obrigada.

Nós subimos para o andar de Lake, e ao abrir a porta a vimos


na janela, olhando para baixo. Assim que nos escutou, ela se virou e

nos encarou parecendo culpada. De quê? Eu não sabia.

— Sua sessão terminou? — questionei enquanto me

aproximava. Ela acenou e colocou o cabelo castanho atrás da


orelha. — Vamos pedir algo para o jantar. O que você indica?

— Massa. — Lake sorriu rápido e eu acenei. Sienna pegou o


celular e começou a fazer o pedido.

Me sentei na cama de Lake e liguei a . Meus olhos se

arregalaram quando vi a tela ser preenchida. Casos de estupro


estavam espalhados pela tela grande.
— O que... — comecei a falar, porém Lake tomou o controle
da minha mão e tirou tudo.

Minha cunhada me olhou com o rosto apavorado e eu me


virei, vendo que Sienna ainda estava entretida com o celular. Ela

não tinha visto.

— Conversamos depois.

— Tudo bem.

Sienna olhou para nós e ergueu o celular, dizendo que já

tinha pedido.

Durante o filme, eu tentei prestar atenção, mas estava

preocupada com Lake. Ela parecia aérea também, e eu desejei que

Sienna não estivesse no quarto para que eu pudesse falar com ela.

— Você vai dormir aqui? — Sienna questionou e bocejou.

Bocejei também e neguei.

— Romeo vem me buscar quando voltar do trabalho. Vá

dormir. Ficarei aqui com Lake — eu disse, sorrindo.

Sienna concordou, beijou Lake e saiu do quarto. Assim que a

porta bateu, Lake se sentou e me encarou.

— Por que está vendo isso, Lake?


— Eu... — ela parou de responder e olhou para as mãos —

acho que serei uma advogada. — Sua veemência ao afirmar me fez


encarar seu olhar. — Quero poder ajudar a todas. Nós.

Segurei sua mão e me aproximei mais.

— Você pode falar com seus irmãos. Daqui a dois anos já irá

para a faculdade e pode fazer.

— Prince disse que não irei para a faculdade, não a

presencial, pelo menos. Mas acha pouco provável que Rocco e

Romeo me deixem ser advogada. — Lake franziu as sobrancelhas e


olhou para mim. — Por que somos inferiores a eles? Por que eles

podem fazer tudo, e nós não podemos?

— Não sei quem inventou esse patriarcado, mas é assim que


as coisas são na máfia.

— Eu odeio a máfia.

— Eu também, mas os homens que amamos fazem parte

dela — afirmei rápido e Lake acenou, entendendo. — Você poderá

ser uma advogada. Vou ajudá-la.

— Obrigada, Lunna. Você é como uma irmã e Sienna uma

mãe. — Seus olhos encheram de lágrimas e eu a abracei.

— Eu amaria ter você como irmã.


Não sabia o motivo, mas isso a fez chorar mais.

Quando Romeo chegou, eu estava na sala de jogos com

Prince. O garoto estava jogando e amaldiçoando os concorrentes


pelo fone de ouvido. Eu me ergui e andei na direção de Romeo, feliz

por ele ter chegado.

— Ei — murmurei ao me aproximar.

Ele colocou sua mão na minha coluna.

— Pensei que estaria dormindo.

— Não. Quero fazer isso em casa — eu disse e bocejei


devagar.

Romeo acenou e eu dei boa-noite a Prince, que não escutou.

— Onde está o seu carro? — questionei ao chegar do lado de

fora e não ter nenhum carro à vista.

— Peguei carona. Vamos no carrinho de golfe. — Ele

apontou para um carrinho pequeno e eu o segui, querendo muito a

minha cama.

Assim que chegamos a nossa casa, Romeo foi para o seu

quarto. Confusa, eu me sentei em minha cama e mordi o lábio. Ele

continuaria lá? Ficaríamos em camas separadas? Pior, ele


continuaria me traindo? Meus olhos se encheram de lágrimas e eu

tentei afastar a dor. Ele estava com alguém hoje?

Engolindo meu choro, eu me ergui e andei até seu quarto.

Ouvi o chuveiro ligado e entrei devagar. Meus olhos captaram a sua


roupa descartada e eu me inclinei, envolvendo meus dedos no

tecido. Levei a camisa ao meu nariz e o cheiro doce me acertou. O

mesmo. Quase sempre era o mesmo cheiro.

Existia uma mulher fixa e isso era o que me machucava mais.

Ele a amava? Era por isso que não a largava? Se passaram anos e

ele continuava se encontrando com ela.

Escutei o chuveiro desligar e apertei sua camisa entre meus

dedos, me sentindo sufocada. Presa em um redemoinho de

emoções. Queria gritar com ele, mas também queria fazer amor e
tentar mostrar a ele que eu era melhor que ela. Que se me

escolhesse, eu seria boa.

Eu odiei isso.

— O que... — Romeo parou de falar ao me ver de pé.

— Quem é ela? — Minha voz soou mais firme do que achei

que conseguiria, deixando-me aliviada. — Por que você sempre

corre para os braços dela? — perguntei, tremendo.


Romeo se aproximou, me fazendo recuar.

— Não é ninguém. — Sua voz firme chegou a mim e eu

apertei a blusa com mais força. — Lunna, pare com isso.

— Qual é o nome? Só me diga isso. O nome dela.

— Não existe ninguém. — Sua voz ficou tensa e eu sabia que

era mentira. Era mentira dele.

— Eu a sinto em você há muito tempo. Você me trai com a


mesma mulher. Eu pensei que depois de hoje, da gente, você

tentaria, mas eu estava enganada.

Romeo respirou fundo e se aproximou, tocando a minha

cintura. Me esquivei rápido, fazendo-o ficar rígido.

— Não me toque! — gritei, saindo do banheiro e jogando sua


camisa no chão. — Você nunca mais vai me tocar, Romeo.

— Olha o que está falando — ele rugiu e me seguiu enquanto


eu entrava no meu quarto. — Lunna, o que diabos deu em você?

— Fale a verdade. Você a vê repetidamente, certo? —

questionei, me virando. Ele apertou as mãos na cintura coberta pela


toalha. — Nesses anos. Você teve uma mulher fixa. Diga apenas

isso. Você me deve isso.


— Eu tive — Romeo respondeu, me encarando com seus

olhos azuis vazios. Tão vazios que doeu na minha alma. — Saí com
a mesma mulher, Lunna. É isso que você queria?

— Sim, era. — Engoli em seco, cruzei meus braços e mordi

meu lábio. — Você pode sair? Eu estou cansada e quero dormir.

Romeo ponderou um pouco, se mantendo firme e de pé me

encarando, porém em algum momento ele acenou e saiu.

Me arrastei em minha cama e abracei meu travesseiro. Meus

pensamentos voando para a mulher que ele via. Quem era ela? Por

que ela fazia isso comigo? Parei ao ver que estava colocando todo o
peso disso nela. Romeo era o homem comprometido comigo, não

ela. Além do mais, Romeo era um homem feito. Mulher nenhuma

diria não a ele.

Meu choro cessou e eu engoli a raiva e frustração.

Romeo ainda continuava o mesmo, só que agora ele tinha


meu corpo para tomar.

E ele tomou a cada oportunidade, a cada desejo e conexão.


— Você está me ouvindo? — Rocco chamou minha atenção
com um grunhido sem paciência.

Tirei meus olhos de Lunna na casa da piscina e os levei até


os do meu irmão.

— Sim. Você não quer dar a festa idiota — murmurei, de pé

diante da janela. Voltei a olhar para a casa da piscina e Lunna


estava sentada em uma das poltronas, assoprando as mãos,

tentando aquecê-las. Sienna estava com ela, mas não era ela que
estava fodendo minha cabeça.

Seu casaco preto estava engolindo-a. O inverno estava com

tudo em Chicago. A piscina tinha virado gelo. Olhei para Lunna mais
uma vez e a vi mordendo o lábio vermelho. Eu queria lamber seu

lábio e chupá-lo na minha boca.

— Que merda Ettore tinha na cabeça para inventar essa

porra? — A voz de Rocco chamou a minha atenção novamente e eu


odiei meu irmão um pouco por isso.

Fazia três semanas que Lunna tinha surtado com o cheiro da

minha camisa. Vinte e um dias sem tocar nela ou dormir ao lado.


Quinhentas e quatro horas do caralho que eu não tocava em seu

corpo. Eu tentei, porra, eu tentei pra caralho, mas cada vez que

cheguei em casa, ela se trancou no quarto e não saiu de lá.

— Não faço ideia. Peça a Sienna e a Lunna para

organizarem. Elas vão gostar de se entreter — murmurei e me movi


para pegar a garrafa de uísque para encher o copo. Quando me

virei, Rocco estava me olhado em silêncio.

— Vou fazer isso — ele balbuciou em seguida. Eu acenei,

levando o copo à boca. — O que foi? Você está com a merda da


cabeça longe há dias.

— Não é nada. Podemos descer? Eu estou com fome —

desconversei, esvaziando o copo e batendo-o contra a mesa. Me

movi para a porta assim que meu irmão acenou.


Nós descemos a escada e fomos para fora. Sienna saiu da
casa rapidamente e andou até Rocco. Eu os perdi de vista quando

me aproximei de Lunna. Ela olhou sobre o ombro e se sentou mais

ereta assim que me viu de pé, encarando seu corpo.

— Vamos almoçar — falei e suspirei.

Ela acenou e apertou o casaco entre os dedos. Me afastei,


observando-a, e ela se ergueu, passando por mim. Lunna andou

para a casa e eu a segui em silêncio. Quando chegamos à cozinha,

todos já estavam em seus lugares. Me sentei ao lado dela, sentindo

seu olhar sobre mim por curtos segundos.

— Todo ano tem uma festa idiota de Natal na Outfit, e ano

passado foi uma porcaria. Romeo me deu a ideia de colocar vocês


para organizarem — Rocco disse preguiçosamente enquanto comia

a comida que Lunna preparou com a ajuda de Sienna.

— Sério? Eu nunca organizei nada, mas posso tentar. —

Sienna parecia muito animada enquanto sorria e olhava para Rocco

como se ele fosse Jesus Cristo. Uma piada do caralho.

— Eu ajudava a organizar as festas da famiglia com minha

mãe. Será bom fazer algo. — Lunna respondeu ao meu lado.


Coloquei minha mão em sua coxa, instantaneamente ela

ficou rígida e tentou se afastar, mas meu aperto ficou mais forte e
ela desistiu.

— Eu posso ajudar também? — Lake questionou,


arregalando os olhos.

— Claro. Será incrível. — Minha esposa sorriu mais ainda.

Eu queria pegar Lunna e a levar para a casa. Queria seu

sorriso e a porra do seu corpo.

Eu queria Lunna e isso estava me enlouquecendo.

— Quando será? É no Natal mesmo ou antes? — Sienna

perguntou, mexendo na comida em seu prato.

— No Natal — respondi, apertando a coxa de Lunna


enquanto levava uma garfada de carne à boca.

— Temos três semanas até lá — ela murmurou para Lunna,


que acenou e se remexeu na cadeira.

Prince e Matteo pediram licença e saíram antes mesmo que

terminássemos de comer.

— Você quer começar logo? Podemos subir para começar —


Sienna se ergueu, encarando Lunna.
— Não — Lunna falou com uma careta e suspirou. — Estou

um pouco cansada. Podemos começar amanhã? Eu mando


algumas coisas que precisam ser agilizadas por mensagem.

— Claro. — Sienna sorriu e se despediu de Lunna,

abraçando-a.

— Você está bem? — questionei, seguindo minha esposa até

o carro.

Faltavam alguns dias para o aniversário de Lunna e eu já


tinha escolhido seu presente. Queria algo que ela gostasse, por isso

demorei mais do que o costume. Nos últimos aniversários dela eu


lhe dei presentes assim que o relógio batia a meia-noite. Depois do
seu primeiro ano aqui, quando eu esqueci disso, eu só queria

recompensar.

— Sim. Você pode me deixar em casa? — ela perguntou.

Eu acenei e abri a porta do carro. Lunna entrou rápido e nós


fomos para casa. Eram apenas três minutos de carro, então logo
estacionei. Lunna se apressou para sair, mas tranquei as portas.

— Você vai continuar com essa merda? — questionei,

cansado.
— Você irá vê-la depois que eu entrar em casa. Então, por
favor, não finja se preocupar comigo.

— Lunna...

— Só me deixe quieta. É melhor para nós dois.

Soquei a porra da ignição e Lunna estremeceu, porém não se


encolheu. Ela ficou firme, me encarando.

— Eu quero você. — Minha voz ficou tensa e Lunna piscou


os olhos azuis, me encarando.

— Por quê?

— Por que o quê? — questionei, frustrado.

— Você poderia me ter. Poderíamos ser felizes como Sienna


e Rocco. Então, por que continua me traindo? — Lunna parecia com

dor, eu me odiei um pouco.

— Tenho segredos, Lunna, e nem todos posso falar a você.

— Então não diga que me quer.

Ela se inclinou sobre mim e destravou as portas. Observei

Lunna me deixar sozinho e suspirei no silêncio do carro.


— Ela descobriu? — Sua voz me fez querer tampar seus
lábios. Eu odiava o quão bem ela me conhecia.

Vesti minha blusa enquanto andava para a porta e o corpo


dela ficou entre mim e a saída. Seu cabelo vermelho tingido era

curto e ela o amava mais que tudo nessa merda.

— Sim. Eu sabia que o faria. Era questão de tempo.

— Cuide da sua vida — murmurei, me movendo ao seu redor.

— Converse com ela. Lunna entenderá...

Sua voz cessou assim que empurrei seu corpo contra a


parede e segurei seu pescoço entre meus dedos. Desde cedo

aprendi como torcer pescoços e o dela não exigiria força alguma.

Nem uma gota de suor.

— Nunca mais pronuncie o nome dela. Nunca mais. Você me

ouviu, porra? — gritei, tão furioso como ela nunca viu. Seu corpo

trêmulo e seu olhar temeroso indicavam isso. — Cuide da merda da


sua vida.

Eu a soltei e me afastei enquanto ela segurava o pescoço


entre as mãos. Me movi para a porta e saí. Entrei em meu carro

minutos depois e dirigi para o Village. Assim que me viu, Rocco

revirou os olhos.
— Onde estava, caralho? Eu te esperei por quase vinte

minutos.

— Resolvendo uma merda — avisei e caminhei para o

corredor que levava até o fundo da boate.

Rocco abriu uma das portas e Salvatore se ergueu primeiro,

pronto para se defender. O bostinha. Durante essas semanas

mantivemos os dois a pão e água, mostrando a esses idiotas que


eles não mandavam em merda nenhuma aqui.

— Já pensaram? — meu irmão perguntou. Giulio se ergueu.


— Eu mataria vocês, mas Giulio será um bom soldado e você... —

Rocco se aproximou do cunhado e ficou cara a cara com ele. —

Sienna ficaria bem chateada se eu matasse o irmão merda dela.

— E por que me quer aqui? Me deixe voltar para a Cosa

Nostra. A minha famiglia. — Salvatore era corajoso, isso era algo

que eu e Rocco concordávamos.

— Porque eu não sou idiota. Você entra na minha casa,

rouba minha mulher e fode a cabeça dela com mentiras e ainda

quer voltar para a casa? Não sou seu pai, moleque. Você pode
decidir se quer morrer ou ser um soldado. Agora.

— Vamos ficar em Chicago — Giulio falou com firmeza.


Encarei-o, procurando seus olhos. Ele me olhou e eu acenei.

Salvatore continuou tenso encarando Rocco, mas por fim aceitou.

— Bem-vindo a Outfit. A iniciação de vocês começa em três


minutos — Rocco falou com um sorriso de merda no rosto que fodia

até a cabeça mais forte. — Temos uma corrida no Navy Pier. Dois

caras que estão em meu território estavam vendendo porra da


Bratva. Vocês vão matá-los. Juntos.

Salvatore acenou e Giulio fez o mesmo em seguida. Rocco


se virou rindo e abriu os braços.

— A família está crescendo.

Quem não o conhecia achava que ele estava feliz, contente

por ter Giulio e Salvatore conosco.

Rocco não estava.

Meu irmão estava a um passo de enfiar uma bala na cabeça

dos dois, mas não o fez e eu sabia o motivo. Sua esposa.

E eu fiquei surpreso com a influência que Sienna tinha sobre

ele.

Assim que chegamos a Navy Pier, todos se viraram e se


afastaram lentamente. Pareciam baratas tontas tentando buscar um
refúgio para o veneno. Nesse caso, nós éramos o veneno.

Giulio e Salvatore nos seguiram, e quando paramos perto de

Matteo, eles olharam sob os ombros.

— O que esses merdas estão fazendo de pé? — Matteo

rosnou para mim e Rocco.

Eu ri e me afastei, porque se tinha uma merda que tirava


Rocco do sério, era Matteo sendo um espertinho.

— O que eu quero que eles façam. Comece a próxima


corrida — Rocco falou, acendendo um cigarro e me fazendo virar o

rosto para longe da fumaça.

Matteo se afastou bufando e deu a ordem para que


começassem a próxima corrida. Rocco tinha preparado essa

iniciação na sua cabeça fodida há dias. Chegou a hora.

Assim que os dois caras perceberam que nós estávamos

aqui, ficaram tensos e tentaram sair de cima das motos. Eu sorri

com Rocco e nós andamos até eles.

— Para que a pressa? — Rocco questionou quando um deles

conseguiu descer e eu o peguei. O outro correu pela pista e eu

suspirei, achando que eu teria que ir buscá-lo, mas me


surpreendendo, Giulio correu e o pegou pela camisa.
O soldado novo se aproximou com ele e eu forcei o que eu

segurava para o chão. Rocco pegou o outro e fez o mesmo, só que

um pouco longe do outro. Olhei para Salvatore e sorri.

— Seu lugar é esse. — Acenei para a minha posição e ele se

aproximou, colocando o joelho na coluna do cara e segurando a

cabeça para o chão.

Rocco mandou Giulio fazer o mesmo, o silêncio ao redor

enquanto nós dois nos erguíamos foi bonito.

Rocco subiu na moto enquanto eu observava as rodas

ficarem em frente ao rosto dos caras. Eles gritaram, um em cada

extremidade, quando Rocco começou a acelerar. A roda estava tão


perto, mas não era isso que Rocco queria. Não mesmo.

Dois dos nossos soldados se aproximaram e fizeram a moto

ficar suspensa, fora do chão, isso sim os levou ao colapso. Seus


gritos e choros eram dignos de pena, se alguém na Outfit pudesse

sentir essa merda.

— Curtam o show e lembrem-se, vocês me fodem e eu fodo

vocês de volta — Rocco falou para a multidão antes de acelerar

enquanto eu acenava para Salvatore e Giulio, me afastando mais.


Eles empurraram o rosto dos caras contra os pneus e o sangue

jorrou.

Quando Rocco parou, Giulio e Salvatore estavam com

sangue dos pés à cabeça. A roupa encharcada. Os gritos de choque

das pessoas e algumas até vomitando chegaram até nós quando


eles soltaram os corpos ensanguentados.

Rocco tirou sua arma da calça e se aproximou dos homens


machucados. Os rostos irreconhecíveis.

— Eu poderia enfiar uma bala na cabeça de vocês, mas não

vou. Vocês dois irão morrer agonizando e eu vou me deliciar com


essa merda. — Ele se levantou e mandou Giulio e Salvatore

pegarem os dois.

Assim que se afastaram com mais dois dos nossos soldados,

Matteo se aproximou.

— Que merda fodida é essa, Rocco? — nosso irmão


perguntou, franzindo as sobrancelhas. — Eles só vendiam drogas,

porra.

— Eles vendiam drogas da Bratva, e como se isso não fosse

o suficiente, os dois abusavam da sobrinha de um deles desde que

ela tem cinco anos. Ela tem quinze agora. — Rocco se aproximou
de Matteo e encarou nosso irmão. — Você ainda está com pena
deles, porra?

Matteo recuou com os ombros tensos e negou.

— Bom. — Rocco se afastou e segurou o ombro de Matteo.

— Vamos embora dessa merda.


Eu vi pela janela quando Romeo chegou. Ele estava com a
camisa amassada e a calça jeans justa suja. Me afastei lentamente
e me sentei na cama, pegando minha agenda e as canetas

coloridas que estavam espalhadas. Eu já tinha adiantado muita


coisa da festa de Natal. Sienna e eu trocamos ideias pelo celular,

mas amanhã seria um dia importante. Eu queria escolher as flores e

decoração da festa com ela e Lake.

Coloquei meus materiais na mesinha e me movi até meu

closet. Me sentei em frente ao espelho segurando minha escova de


cabelo e deslizei pelos fios negros que alcançavam minha cintura.

Olhei para a tesoura, tentada a cortar, mas me detive ao pensar em

Romeo. Ele gostava dos meus cabelos.


Ele tem outra, Lunna. Não importa se ele gosta do seu

cabelo.

Engoli com dificuldade e soltei a escova na penteadeira. Eu

não conseguia entender isso. Ele me queria, gostava de mim, eu


sentia isso, por que ficava com outra? O fato de ser apenas uma fixa

por anos me deixava tão mal.

Será que ela tinha filhos dele? A questão me fez me encolher.


Lágrimas encheram meus olhos e eu segurei meu rosto entre os

dedos. Não. Por favor, não. Era a única explicação, além de ele

amá-la. Ambas me deixaram doente.

— O que está fazendo? — Sua voz chegou até mim e eu

olhei para o seu rosto. Seus olhos, no entanto, estavam presos na


minha mão. Olhei para ela e engoli em seco ao ver que a tesoura

estava presa por meus dedos. — Solte a tesoura.

— Nada. Eu não estava fazendo nada — me justifiquei

rapidamente, soltando o objeto afiado.

Romeo se aproximou e a pegou, afastando-a de mim.

Em que momento eu a peguei? Eu não conseguia me

lembrar.
— Vamos dormir em meu quarto. — Romeo estava muito
sério e eu tentei me recompor. Ele parecia até preocupado, mas por

quê?

— Eu estou bem. Só estava pensando em cortar os cabelos

— falei, tocando meus fios enquanto Romeo acompanhava meu

toque.

— Eu gosto do seu cabelo.

— Eu sei — respondi.

Ele se aproximou, substituindo meus dedos pelos seus. Ele

enfiou a mão por baixo e acariciou meu couro cabeludo. Eu suspirei,

apreciando o contato.

— Quero você, Lunna. — Romeo se inclinou e beijou meu

pescoço. Gemi baixinho, sentindo o desejo fluir através do meu

corpo. — Eu preciso de você. — Ele gemeu, chupando meu

pescoço.

Apertei minhas mãos, empurrando seu peito.

— Você precisa deixá-la antes. — Minha voz ecoou firme e

eu acordei do desejo ao me ouvir. Ele não me tocaria enquanto

estivesse com outra mulher. — Você a viu hoje? — perguntei,

tremendo levemente enquanto Romeo ainda estava sobre mim,


completamente parado. — Você está me magoando tanto, Romeo.

Antes eu nunca tinha tido você, agora eu tive e amei, mas odeio que
você dê a ela o que é meu. O que eu amo.

Romeo respirou fundo e se afastou em silêncio. Ele segurou


minha bochecha e me beijou devagar, castamente. Romeo

descansou sua boca em minha testa e suspirou.

— Odeio magoar você. Me desculpa, Lótus.

Lótus. Romeo me chamou assim no primeiro ano depois que


fomos prometidos um ao outro, porém parou em um determinado
momento e eu ansiei por isso. Pelo apelido que eu amava tanto,

então ele me chamou dias atrás e eu estava nas nuvens.

— Então por que continua? — questionei, saindo das suas


mãos.

— Não é isso. Não estou te traindo. — Sua explicação lenta


se assentou dentro de mim e eu me peguei a ela, querendo mais

que tudo que ele estivesse certo.

— Ela toca em você?

— Lunna.

— É traição.

— Não é assim. Não dessa maneira.


Romeo passou a mão no cabelo e eu me aproximei, tocando

seu peito. Ele ficou tenso sob minhas mãos e eu segurei seu rosto,
fazendo-o me encarar.

— Você não a beija? Não toca no corpo dela? — questionei,

nas pontas dos pés, tentando ficar na altura dele.

— Não. Não mais, eu prometo.

— Mas já o fez. — Engoli com dificuldade e me afastei. — Me

deixe sozinha. Por favor.

— Lunna, isso é complicado.

— Só saia. Saia e me deixe em meu canto. Sozinha. Aprendi

com os anos morando aqui a viver bem sem ninguém por perto. Não
vou cair, Romeo, e se eu o fizer, eu me levanto porque sou forte.

Sou forte pra caralho.

Romeo desviou os olhos dos meus e acenou, dando passos


para trás. Quando ouvi a porta do quarto fechar, eu suspirei e limpei
a umidade em meus olhos.

Eu ficaria bem. Eu sempre ficava.

Na manhã seguinte Romeo estava longe de ser visto. Eu


bufei, irritada por ter que ir a pé até a mansão. Não era longe, mas
droga, ainda era cedo. Saí pela porta e arregalei os olhos ao ver um
carro com um laço. Os dois eram pretos. A escuridão dos dois se
perdendo um no outro.

Me aproximei e tirei a nota que estava no para-brisa. Segurei

o papel com os dedos trêmulos e comecei a ler.

Feliz aniversário, Lotus. Você é incrível e eu sou sortudo por


ter você.

Curta seu dia amanhã. Tive que viajar, mas voltarei antes que
seu aniversário acabe.

Romeo Trevisan.

Engoli toda a emoção com dificuldade e me movi para o


carro. Abri a porta e suspirei ao entrar no veículo escuro até por

dentro. Era lindo. Segurei a ignição e mordi o lábio com a euforia


explodindo em meu peito.

Dirigi até a mansão e Prince saiu com Lake e Sienna. Eu


buzinei, rindo, e elas arregalaram os olhos.

— Você ganhou um carro? — Sienna gritou, correndo.

Acenei enquanto saía do veículo.

— Romeo me deu de presente antecipado — falei,

suspirando, e toquei a lataria do carro. Me virei para Prince, que


estava olhando o carro. — Você pode tirar o laço, mas não descarte,
porque quero guardar.

— Claro, Lunna. — Ele acenou com um sorriso e eu me virei


para as meninas.

— Ele é perfeito.

— Eu sei. Estou tão feliz. Queria agradecer a Romeo, mas

ele teve que viajar — falei e suspirei.

Depois que Prince tirou o laço, eu e as meninas entramos na

mansão. Sienna me seguiu até o quarto de Lake e nós passamos o

dia falando sobre a festa de Natal. Faltavam menos de três


semanas, então tínhamos um pouco de tempo.

Relutei em ir para a casa quando anoiteceu, porém não

queria dormir na mansão sem Romeo saber. Sienna pediu que eu

ligasse para ele, mas eu nunca fiz isso depois de nos casarmos.

— Ele não vai se opor. Quer que eu fale com Rocco? —

Sienna balançou o celular.

Engoli em seco, negando. Peguei o meu telefone e coloquei

no contato dele. Depois de chamar algumas vezes, quando pensei

que fosse cair, uma voz feminina atendeu.


— Alô?

Meu coração deu um salto e eu tremi, sentindo meu

estômago revirar. Era ela? Ele estava com ela?

— Romeo.

— Hã... — A voz dela sumiu antes de desligar a ligação.

Sienna franziu as sobrancelhas ao me ver derrubar o celular

e fechar meus olhos com força.

Não chore. Não faça isso, Lunna.

— O que foi?

— Na-nada. Acho que liguei errado — desconversei,

suspirando. — Eu vou para casa. É melhor — murmurei e me

levantei.

— Mas...

— Está tudo bem — interrompi sua fala.

Ela respirou fundo e acenou. Assim que saí da mansão,

andei até meu carro. O laço preto estava no banco traseiro. Senti
alguém me olhar e olhei por cima do meu ombro, vendo Salvatore e

Giulio. Ambos estavam próximos a fonte do leão assustador.

— Ei!
A voz de Salvatore me fez parar de andar. Salvatore sorriu e

o observei andar até mim. Giulio estava encarando a densa floresta

perto dos muros que rodeavam a propriedade, mas também se


aproximou.

— Oi! Vocês estão bem? — perguntei, diante de ambos.

— Sim. Você parece ótima — Salvatore falou, olhando para

meu corpo coberto por uma calça jeans, moletom preto e casaco

grosso. Ainda estava muito frio.

Giulio empurrou Salvatore enquanto eu ainda tentava

entender realmente o que ele falou.

— Você estava me paquerando? — questionei, franzindo a

testa.

— Ele não estava. — A voz de Giulio soou firme e tensa.

— Realmente não ligo. Sou imune ao charme de vocês,

então nem tentem — eu disse e comecei a rir. Ambos me olharam


por alguns segundos antes sorrirem. — Fico feliz que estejam bem.

— Também estamos felizes por sairmos os três com vida da


Rússia — Giulio falou novamente enquanto Salvatore acenava.

— Obrigada. Eu realmente aprecio. — Sorri e dei um passo

para trás. — Vejo vocês por aí.


— Boa noite, Lunna — Salvatore falou, me encarando.

Pela primeira vez, eu vi o desejo cintilar no olhar de um

homem que não fosse Romeo. Meu peito bateu rápido e eu acenei,

me afastando mais. Ouvi um praguejo assim que me virei e comecei


a andar para o meu carro. Quando entrei, voltei a olhar para

Salvatore e seu olhar preso em mim me deixou tão inquieta quanto

era possível.

Assim que cheguei a minha casa, encontrei alguns soldados

ao redor. Romeo agora não a deixava sem segurança, o que me

confortava um pouco.

Peguei uma garrafa de vinho da adega e subi a escada,

segurando uma taça. Eu não bebia frequentemente, mas gostaria de

tomar um pouco de vinho. Tirei minha roupa depois que coloquei a


banheira para encher. Encarando o espelho, eu prendi meu cabelo

no alto da cabeça.

Assim que entrei na água, eu me servi de vinho e tomei em

goles pequenos, apreciando o gosto adocicado. Mordi meu lábio ao

lembrar da ligação e suspirei, cansada. Não queria mais revirar isso,

queria esquecer, mas escutar a voz dela, sabendo que agora ele
deveria estar lá me deixava tão triste.
— Ele não merece você — murmurei para mim mesma e

peguei meu celular. Assim que mamãe atendeu, eu pisquei com

lágrimas em meus olhos.

— Parabéns, querida. — Sua voz soou baixa.

— Faltam trinta minutos — murmurei, sorrindo.

— Sou sua mãe, posso desejar parabéns antes — ela

retrucou rapidamente.

— Sim, a senhora pode. — Suspirei audivelmente e relaxei

na banheira. — Estou com saudades.

— Não mais que eu. Gostaria tanto de ir visitá-la, mas seu

pai...

— Eu sei. Está tudo bem, mamãe.

— Sim, sim. — Ela suspirou e eu a escutei se mover. —

Como você está, Lunna? E por favor, eu já sei de tudo. Só lhe dei
tempo. Eu não queria empurrar esse assunto.

— Eu não lembro de nada, mãe. Me alivia não lembrar.

— Eu imagino que sim.

— Mas me sinto tão oca por dentro. Como se ele tivesse


tirado algo de mim — murmurei tristemente e mamãe respirou
fundo.

— Ele tirou. Mas você é maior que isso. Você será feliz e eu

sei que Romeo vai recuperar o tempo perdido. Vocês têm tanto

tempo, Lunna. Filhos, felicidade.

Mamãe sabia que Romeo não me tocava durante nosso

casamento. Eu precisava falar para alguém e minha mãe sempre foi

a minha confidente.

— Eu quero tanto, mãe. Mas Romeo tem uma amante. É a

mesma mulher. E eu fico me perguntando se ele a ama. Por que se

ele o faz, o que eu estou fazendo aqui?

— Seu casamento é para sempre, Lunna. Não existe divórcio

dentro da máfia. De nenhuma. — A voz dela se tornou rígida e eu


entendi. Se eu me separasse e voltasse para a Cosa Nostra, eu

seria uma pária. Uma fracassada. — Sobre a mulher, procure-a.

Romeo não é o único que cresceu na máfia. Você também. Mostre a

ela o que acontece quando ela mexe com algo que pertence a você.

— Mamãe...

— Lunna, traições acontecem frequentemente, e pedir ao seu

marido, um homem feito, que seja fiel a você é desperdício de saliva


e tempo. Vá na fonte. Ela se arrependerá do dia em que o deixou
usá-la. Eu juro.

As palavras da minha mãe rondaram meus pensamentos


pelo resto da noite, e quando amanheceu eu estava certa de que o

faria.
No dia seguinte, Sienna veio para a minha casa e nós
trabalhamos até o almoço. Eu pedi comida chinesa para nós, porque
não deu tempo de cozinhar nada. Quando nos sentamos na

cozinha, Sienna colocou uma caixa pequena diante de mim.


Confusa, olhei para ela.

— O que é isso? — questionei, curiosa.

Ela moveu o queixo para a caixa sem dizer nada, então eu a

peguei e toquei devagar. Abri a tampa e suspirei, meus olhos


ardiam.

— Eu vi que você gosta de joias. Eu também adoro e compro

algumas on-line. A sua chegou no dia certo — Sienna falou


enquanto eu deslizava os dedos pelo colar. O pingente tinha meu
nome e era tão delicado. As pedrinhas escuras eram diamantes,

suspirei, tocada.

— É incrível. Obrigada! — berrei e me joguei em seus braços.

Sienna riu, me abraçando. — Amo você. Muito obrigada.

— Também amo você. Deixe-me te ajudar a colocar.

Acenei e segurei meu cabelo antes de me virar e respirar


fundo ao tocar o meu nome acima do meu peito.

— A gente merece ser feliz, Lunna. — Siena sorriu. — Se um

colar a faz feliz, iremos comprar muitos.

Eu a abracei, porque se falasse algo poderia chorar.

Passamos o resto da tarde ligando para alguns buffets,

quando anoiteceu a campainha tocou. Deveria ser Lake ou um dos

meninos nos apressando. Assim que abri a porta, o irmão de Sienna

estava de braços cruzados, olhando diretamente para mim.

— Ei! Vou chamar Sienna — murmurei, dando um passo para

trás. — Entre.

Salvatore entrou enquanto eu me virava para chamar Sienna.

Ela estava na biblioteca, falando com uma florista.

— Só vim buscá-la — ele explicou quando Sienna respondeu


que já estava descendo.
— Tudo bem.

— É seu aniversário — Salvatore murmurou enquanto me

olhava. Eu me remexi e engoli em seco. — Parabéns, Lunna. — Ele

deu um passo para mais perto.

— Não faça isso — pedi com a voz baixa. — Você parece

desejar a morte. Primeiro levando Sienna de Rocco...

— Não tocarei em você — ele jurou, me olhando.

— Sou casada com Romeo — mordi o meu lábio antes de

continuar, estava ficando nervosa — e o jeito que me encara não é

certo. Percebi seu olhar ontem e... só pare. Ele matará você —

afirmei, preocupada.

Salvatore respirou fundo e tirou os olhos claros dos meus.

Seu cabelo loiro estava bagunçado, como se tivesse passado a mão

por ele diversas vezes.

— Desculpe — ele pediu calmamente e eu acenei, aliviada.

— Ei! — Sienna apareceu na escada.

Salvatore tinha a minha idade e era atraente. Eu não era

cega, via isso, mas não era certo o jeito que ele me olhava. Eu não

queria isso. Principalmente, porque se Romeo descobrisse, eu tinha


medo do que ele faria. Salvatore era irmão de Sienna. Não queria

causar problemas.

— Ei, Sal! — Sienna se jogou nos braços do irmão e eu voltei

a sorrir.

— Vocês estão prontas? — ele questionou e nós duas


acenamos. Estávamos indo jantar na mansão.

— Eu poderia ir dirigindo — falei para ambos. Salvatore não

precisava vir até aqui.

— Estou como segurança particular de Sienna. Não se


preocupe — ele falou e sorriu enquanto abraçava a irmã.

Acenei e peguei minha bolsa. Eu já tinha me arrumado para


ir, então o vestido preto e os sapatos estavam perfeitos. Sienna

pediu que eu caprichasse porque iríamos comemorar. Não entendi


realmente, mas estava aqui.

Nós saímos de casa e Salvatore entrou conosco quando


chegamos à mansão. Meus olhos se arregalaram ao ver Prince e

Matteo arrumados também. Sorri assim que Lake apareceu,


empurrando um carrinho com um bolo de três andares em cima.

— Ah meu Deus! — gritei, animada, antes de eles


começarem a cantar parabéns. — Muito obrigada, gente. Estou bem
emocionada, porque sou uma manteiga derretida. — Enxuguei

meus olhos e eles sorriram.

Todos me parabenizaram e eu ganhei presentes de Lake e


Prince. Matteo arrancou uma flor de um vaso e me entregou como

se fosse uma flor criada no deserto.

— Obrigada, Matteo. — Assim que o abracei, senti que ele

ficou rígido, mas eu nem liguei, apenas sorri.

Cortei o bolo e dei o primeiro pedaço a Lake. Ela quase não


parou de sorrir. Nós nos embolamos na sala de jogos para comer.

Mordi meu lábio, desejando que Romeo estivesse aqui. Rocco


estava com ele e eu me perguntei como uma mulher atendeu o
celular de Romeo, se ele estava com o irmão? Rocco sabia quem

ela era? Ele sabia das traições?

— O que foi? O bolo não está bom? — Prince perguntou,


colocando os pés em cima da mesa de centro enquanto comia.

Olhei ao redor e vi os irmãos do meu marido e Sienna.


Salvatore tinha saído assim que nos deixou aqui.

— Está ótimo — falei e sorri. — Para onde Romeo viajou?

— Oak Park. O novo capo está com problemas — Matteo

explicou.
Nós ouvimos a porta abrir e eu foquei minha atenção em meu
prato. Comi mais um pedaço de bolo e suspirei ao sentir o sabor do
chocolate. Quando abri meus olhos, Romeo estava diante de mim,

encostado na entrada da sala de jogos, me observando.

— Parabéns, Lunna. — Rocco sorriu ao passar por mim.


Agradeci devolvendo o gesto enquanto Sienna se erguia. Ela o
seguiu para fora e eu fiquei com os irmãos Trevisan.

— Vou a uma boate com Prince — Matteo disse ao se

levantar.

Logo os dois deixarem a sala. Lake seguiu ambos com os


olhos, mas antes que falasse algo, Romeo se pronunciou.

— Não, você não vai.

— Ok. — Ela bufou e jogou a almofada para o lado. Escondi


meu sorriso atrás da mão quando Lake se virou e me deu um olhar

irritado. — Você deveria me apoiar.

— Eu te apoio totalmente, mas não quando o assunto é uma

boate e uma garota de quinze anos — falei de maneira firme,


fazendo Lake sair revirando os olhos.

Romeo se aproximou com a saída da irmã e se sentou ao

meu lado. Seu braço desceu em meus ombros e eu suspirei quando


seu cheiro me rodeou. Era dele agora, não dela.

— Parabéns, Lótus.

— Obrigada pelo presente — murmurei, descansando minha

cabeça em seu peito. — Ele é perfeito.

— Fico feliz que tenha gostado. — Pude escutar o sorriso em


sua voz.

— Liguei para você ontem — eu disse lentamente.

Romeo continuou relaxado ao meu lado. Sua mão deslizou

pelo meu cabelo e ele cheirou minha cabeça.

— Não vi nenhuma ligação sua.

— Uma mulher atendeu.

— Não estive com mulher nenhuma, Lunna, e não tem

chamadas suas em meu celular — Romeo falou de maneira firme,


então ergui meu rosto e meu celular. Mostrei a ligação e os

segundos em chamada. — Esse número é antigo. Não o uso mais

— ele explicou e eu franzi as sobrancelhas. — Deixe-me colocar o


novo.

Eu me afastei devagar enquanto ele adicionava o seu novo

número. Romeo ligou para o meu celular e me mostrou seu celular


chamando.
— Não vou ver mais ninguém, Lunna. Quero apenas você —

ele murmurou em meu pescoço. Suspirei, querendo muito acreditar


nele. — Só você, Lótus.

E eu perdi a batalha. Acreditei nele, e por mais que eu


estivesse com medo, amei cada segundo.

— Eu amo você — falei suavemente.

Seu rosto se modificou em um sorriso. Eu amava seu sorriso.

— Eu sei.

Romeo juntou nossas bocas e eu lambi seus lábios, provando

seu sabor que eu amava. Sua boca era exigente, e quando percebi

estava deitada no sofá com Romeo sobre mim. Respirei fundo,


sentindo sua boca em meu corpo. Quando ouvi passos,

imediatamente fiquei rígida.

— Que porra você está fazendo aqui? — A voz raivosa do

meu marido me fez estremecer.

Tentei olhar para a porta, mas a cabeça de Romeo me


impediu.

— Só vim me despedir de Sienna.

A voz de Salvatore enviou tensão pelo meu corpo e eu fiquei

tão rígida, que Romeo percebeu. Ele se afastou um pouco e me


encarou, suas sobrancelhas juntas e seu olhar furioso.

— Saia daqui. Você não tem permissão para entrar na

mansão. — Romeo olhou para Salvatore e eu evitei fazer isso.


Quando o irmão de Sienna saiu, meu marido se afastou enquanto

me encarava. — Você vai me explicar essa merda ou eu vou ter que

torturar o idiota?

Meus olhos se arregalaram e eu engoli em seco, tremendo.

Oh meu Deus.

— Você está falando de quê? — Tentei desconversar,

semicerrando os olhos.

— Eu conheço você. Seus sorrisos, seus olhares, suas

verdades e as suas mentiras. Não minta para mim. — Romeo

estava rígido enquanto eu tocava o seu peito e puxava sua camisa.


Ele cobriu meu corpo novamente e eu deslizei meus lábios pelo seu

pescoço.

— Não há nada. Por que você não me toca? Preciso de você


— implorei, abraçando seu corpo com as minhas pernas.

Romeo ficou quieto por um segundo, porém, logo desceu


para atacar a minha boca com desejo.
— Vamos — ele chamou e se levantou, mas eu balancei a

cabeça.

— Não quero esperar até chegar a nossa casa —

resmunguei e Romeo sorriu.

— Então venha.

Ele me guiou até o lado de fora e eu suspirei ao ver o cais.


Romeo me levou até o lugar e tirou meu vestido, me deixando nua

no ar gelado. Minha calcinha preta era de renda e pequena. Romeo

não a tirou ou perdeu tempo rasgando-a. Ele apenas me fez inclinar


sobre uma das madeiras de proteção e me preencheu. O cais

estava completamente escuro, a água congelada, e eu fiquei

aliviada por ninguém conseguir nos ver. O ar gelado bateu em mim

e eu ofeguei, sentindo o prazer se alastrar.

Gemi com seu membro deslizando em minhas dobras

molhadas. Gritei contra minha mão quando Romeo torceu meu


mamilo duro e clitóris ao mesmo tempo. Convulsionei, gozando, e

ele saiu de mim. Fiquei confusa por um momento, mas quando o vi

se ajoelhar e abrir minhas pernas, eu tremi. Sua língua atacou

minha boceta sensível e eu choraminguei com o contato.


Romeo bebeu mais um dos meus orgasmos e me fez sentar

em seu colo. Seus olhos estavam escuros e desejo brilhava em sua

íris. Gemi ao rebolar em seu colo enquanto sua boca tomava um

dos meus mamilos. Era muito, logo gozei com ele.

— Porra, você é a coisa mais linda que já pus as mãos, Lótus

— Romeo falou sob as nossas respirações. Sorri e lambi meus


lábios. Ele me vestiu rápido quando comecei a tremer. Romeo tocou

meu rosto e eu beijei seus dedos. — Você é perfeita, e é minha.

Sua última frase foi feita mais firme. Acenei, querendo que
ele soubesse que sim, eu era.

Romeo e eu chegamos a nossa casa e fomos direto para o

seu quarto. Ele era igual ao meu, só o closet era maior. Eu já tinha

entrado aqui um milhão de vezes, mas essa era a primeira vez que
era para dormir ao seu lado. Isso me fez flutuar.

Eu me movi pelo quarto enquanto penteava o cabelo e deixei


minha escova ao lado da cama. Minha camisola de seda deslizou

pelo meu corpo e eu vesti minha calcinha. Romeo ainda estava no

banho, então peguei meu celular enquanto o esperava.


Ele tremeu com uma mensagem e eu franzi o cenho ao ver o

número desconhecido.

"Parabéns."

"Quem é?"

Não obtive resposta, isso me deixou inquieta.

Romeo saiu do banheiro de cueca e se deitou ao meu lado,

me puxando contra seu peito.

— O que aconteceu? Por que está com essa cara? — ele


questionou quando coloquei o celular na mesa de cabeceira.

— Mandaram parabéns, mas não tenho o número e nem


responderam quando perguntei quem era — expliquei e me

aconcheguei nele.

Romeo me apertou contra si.

— Alguém de Nova York, talvez?

— Sim, pode ser — murmurei, relaxando, e ergui meus olhos,

descansando meu queixo em cima do seu peito. — Deu tudo certo

na viagem?

— Sim. Talvez precisemos nos mudar para lá por um tempo.

O quanto você odiaria isso? — ele questionou, colocando o braço


atrás da cabeça.

Subi em seu colo e Romeo gemeu quando me sentiu contra

seu membro já duro.

— Vou com você para qualquer lugar no mundo — respondi

suavemente e me esfreguei contra o seu corpo. Sorri quando


Romeo gemeu mais alto.

— Eu sou um filho da puta de sorte, certo? — ele questionou,

rouco.

— Sim, você é. — Acenei e gemi.

Romeo cansou do meu joguinho de sedução e girou,


afastando minha calcinha e entrando em mim. Mordi seu peito e tive

uma surpresa ao ver seu rosto se transformar em prazer absoluto.

Finquei minhas unhas em suas costas e Romeo perdeu o controle.

Entre mordidas e arranhões, nós dois encontramos uma nova


noção de prazer.

Com a dor.
Rocco me seguiu até uma das mesas no Village e eu me
sentei ao ver Prince se aproximar com Matteo. Olhei por cima do
ombro de Rocco e encarei Giulio. Ele estava fazendo a segurança

do lugar enquanto o merdinha Rizzi estava na mansão, cuidando de


Sienna e Lake.

— Você confia naquele merda do Salvatore? — Matteo


questionou ao se sentar.

Encarei Rocco, querendo saber o mesmo.

Tínhamos acabado de chegar da mansão. Rocco tinha uma

reunião com o capo de Oak Park. Depois da morte de Costa, seu

filho tinha assumido. Rocco e eu relutamos em colocar filhos dos


traidores no poder, mas Cesar odiava seu pai tanto quanto a gente.
Rocco abriu uma exceção. Agora, o idiota estava fodendo com a

Outfit. Repassando números errados e roubando a gente.

— Salvatore não machucaria Sienna — Rocco disse, tirando

um cigarro e acendendo a ponta.

— E Lake?

— Sienna o esganaria antes. Vocês acham que estou


confortável com aquele rato por perto? Não estou, caralho. Eu o

queria morto. — Rocco respirou fundo e nos encarou. — Não posso

matá-lo. Não vou deixá-lo perto dos nossos negócios, então a única
saída foi a mansão. Temos outros soldados lá. Salvatore é um

idiota, mas não tanto.

Fiquei calado, porque eu não queria discutir com Rocco. Meu


irmão era meu melhor amigo, poderia falar com ele sobre tudo, mas

eu odiava discutir com ele. Porque Rocco não era um homem

pensante.

Ele agia. Só isso.

— Lunna está na mansão? — Prince questionou, girando um

copo com gelo e Coca-Cola. Ele era o único que não bebia.

— Sim. Ela e Sienna estão nos últimos preparativos pra festa

— expliquei, olhando ao redor, porém me virei ao ouvir um tsc ecoar


vindo dele. Encarei Prince e vi seu olhar franzido. — O que foi?

— Cuidado, Romeo. O merda come sua mulher com os olhos

e você nem percebe. — Prince soou estranhamente tenso.

Fiquei ereto, sentindo a tensão se espalhar pela minha

coluna.

— Que porra você está falando? — rosnei, me inclinando.

Meu irmão mais novo acenou enquanto relaxava na cadeira.

Rocco e Matteo só nos observavam.

— Já vi isso em duas ocasiões. No aniversário dela e dias

atrás, quando ela foi para casa.

Olhei para Rocco e ele apertou a mandíbula.

— Se ele a tocou, eu não me importo com o que Sienna acha

dessa merda, vou matá-lo.

Eu me ergui, não esperando por sua resposta. Rocco me

conhecia bem o suficiente, e se ele me proibisse de fazer isso, eu


não hesitaria em desobedecê-lo.

Lunna era uma linha que ele não ultrapassava.

Sienna era uma linha que eu não ultrapassava.


Entrei em meu carro e acelerei, apertando o volante. O

aniversário de Lunna entrou em minha mente. Sua reação a voz de


Salvatore enquanto estávamos no sofá. Meus braços vibraram

enquanto eu apertava mais forte. Vou matar aquele desgraçado.

Estacionei meu carro minutos depois, deslizando os pneus.

Procurei entre os soldados o filho da puta, mas ele não estava.


Entrei na mansão contando os segundos.

— Essa combina mais. Não é, Salvatore?

A voz de Sienna chegou a mim e eu parei, entrando na


cozinha.

Já era quase noite e as luzes da mansão estavam todas

acesas. Assim que procurei por Lunna, eu a vi olhando para dois


pedaços de pano.

— Acho que sim.

— Romeo. — Sienna me notou primeiro e seus olhos se


expandiram com o que viu.

Lunna ergueu o rosto começando a sorrir, mas parou ao me

observar. Andei diretamente para o irmão de Sienna e empurrei o


idiota loiro contra a parede.
— Você gosta dos seus olhos? — questionei e empurrei meu

antebraço na garganta dele. Seu rosto estava completamente


vermelho, eu adorei essa porra. — Responda!

— Sim, cara. — Ele acenou o quanto pôde e eu o enforquei

mais.

— Romeo. O que houve? — Sienna questionou ao redor e eu

ouvi o pânico em sua voz.

Peguei Salvatore pela blusa e soquei seu rosto. Ele não se


defendeu. Esperto.

Me virei para Lunna, ignorando Sienna, e a vi me olhando em


choque. Sua garganta subiu e desceu enquanto dava dois passos

em sua direção.

— Você sabe por quê. Certo? — questionei cruelmente,


empurrando-a até a parede também. — Responda a porra da

pergunta, Lunna! — gritei contra seu corpo trêmulo e ela negou. —


Minta mais uma vez. Me dê isso — desafiei e ela engoliu em seco.

— Eu sei. Eu sei. — Lunna acenou devagar e eu me inclinei,


ficando com o rosto rente ao dela. — Romeo...

— Quando um homem olha para o que é meu, eu o mato.

Você me entendeu? — perguntei, gritando, e ela acenou, piscando


os olhos azuis.

— Não aconteceu nada. Ele não fez nada. Eu juro.

Me virei para Sienna e Salvatore, que ainda estava onde o

deixei.

— Não vou matar você hoje, mas sinto que o farei em breve
— falei abertamente e vi Sienna piscar com medo. — E você não vai
me impedir. Suas lágrimas causam fraqueza em meu irmão, mas em

mim é apenas água.

Sienna desviou os olhos e eu me aproximei do irmão dela.

— Vou arrancar seus olhos na próxima vez. É uma promessa.

Me afastei e encarei Lunna. Ela recolheu suas coisas assim

que entendeu e saiu antes de mim. Fugindo.

— Eu juro que...

— Pare com essa merda. Você acha que eu não sei disso?
— interrompi Lunna rudemente enquanto entrávamos em meu carro.
— Você é minha, Lunna, e antes que eu precise dizer isso, você

sabe, seu corpo e a porra do seu coração.

— Então por que...


— Porque você não me disse. É por isso. Faz dias desde seu
aniversário. Desde que ficou tensa e mentiu na minha cara quando
questionei sua reação a ele. Você mente para mim muitas vezes,

certo? — perguntei enquanto acelerava para a nossa casa.

Lunna respirou fundo e mordeu o lábio.

— Só não queria causar problemas. Ele é irmão de Sienna...

— Você acha que eu dou a mínima? — Eu ri, apertando o


volante. — Não o matei porque ele olhou. Se ele tivesse tocado em

você, ele estaria morto agora.

— Mas...

— Eu deixaria os pedaços dele por Chicago — falei de

maneira firme, fazendo-a ofegar e arregalar os olhos. — Você acha


que o monstro fica na superfície, Lunna? Não, ele fica escondido

nas profundezas.

Estacionei o carro e saí caminhando até a casa. Lunna me


acompanhou em silêncio e eu a deixei. Me servi de uísque enquanto

ela ficava de pé no meio do escritório, segurando sua bolsa.

— Me desculpe por mentir. Eu deveria ter dito que ele olhou

de maneira errada. Eu só não queria que ficasse chateado — Lunna


sussurrou quando me sentei na cadeira de frente para a minha

mesa.

Ergui meus olhos e a vi morder o lábio e abraçar seu corpo

coberto por um vestido e um casaco.

— Estou muito puto, Lunna. E sim, é pela sua mentira, mas,

ainda mais, por causa desse merda. Ele realmente deseja a morte e

eu a darei a ele.

— Não por mim. Por favor, não faça isso por minha causa. —

Ela franziu as sobrancelhas, implorando.

— Você gostou? — Eu a encarei com firmeza enquanto fazia

a minha pergunta.

Lunna ficou rígida. Era uma resposta.

— Você realmente está me perguntando isso? — Lunna


piscou e lágrimas encheram seus olhos azuis. — Eu amo você. Sou

sua esposa. Eu daria minha vida pela sua, e você me pergunta se

eu gostei de outro homem me olhando? — Sua voz chorosa me fez

ficar tenso, porém não demonstrei. — Até quando vai duvidar de


mim? — Lunna questionou, seus ombros caídos.

Respirei fundo e olhei para o meu copo de uísque.


Lunna andou para a porta enquanto limpava o rosto e eu

apertava o vidro.

— Vem aqui — pedi, erguendo meus olhos para ela. Lunna


parou de se mover e olhou para mim. — Aqui, Lunna.

Apontei para o meu colo e ela veio até mim. Assim que ela
chegou, segurei sua cintura e a sentei na mesa de mogno. Lunna

suspirou quando eu a fiz deitar sobre a mesa. Suas pernas se

abriram e eu beijei sua coxa. Seu vestido subiu e eu vi sua boceta


coberta pela calcinha de renda.

— Minha. — Minha voz ecoou enquanto Lunna estremecia.

Sua calcinha começou a ficar molhada e eu afastei o tecido.

Sua boceta estava tão molhada que minha boca salivou. Me

inclinei e deslizei a minha língua, capturando o seu clitóris em


seguida. Deixei meus dentes e Lunna gritou, gemendo.

— Romeo! — Seu gozo atingiu minha língua e eu gemi.

Me ergui da cadeira ao mesmo tempo em que abria meu

zíper. Sua boceta engoliu meu cumprimento enquanto eu segurava

seu pescoço. Lunna agarrou meu corpo com as pernas e eu gemi


assim que ela esfregou seus seios em mim.
Puxei as alças finas e elas arrebentaram. Me inclinei,

capturando seu mamilo esquerdo, e apertei meu domínio sobre seu


pescoço. Sua boceta me sugava a cada impulso, e no último Lunna

gritou e gozou comigo.

Puxei seu corpo para fora da mesa e Lunna se sentou em

meu colo. Apertei sua coxa e me inclinei enquanto tirava seu cabelo

de cima do seu ombro. Beijei a veia do seu pescoço e ela suspirou,

relaxando.

— Não vou perder você, Lunna. Se tiver que matar alguém,

eu o farei.

— Eu sou sua. Sempre fui e sempre serei. — Sua voz estava

rouca do sexo

— E não vou deixar ninguém a tirar de mim pela segunda

vez. Ninguém tocará em você a não ser eu.

Lunna ergueu o olhar para mim e beijou meus lábios, tocando

em meu rosto.

— Só preciso de você. Sempre será só você.

Eu gostaria de dizer que suas palavras acalmaram o monstro

ciumento em meu peito, mas não o fez.


Eu só pensava em rasgar a garganta, cortar as mãos e

arrancar os olhos de Salvatore.

Lunna dormiu assim que saí do seu corpo quente. Eu estava

sedento por seu corpo. Fizemos sexo tantas vezes desde que
saímos do escritório, que ela estava cansada. Lunna se aconchegou

contra mim e eu deslizei os dedos por seu cabelo enquanto

encarava a janela, onde se via a lua. Ela estava brilhando forte e eu


empurrei a vontade de me erguer e ir até ela.

Minha mãe amava a lua e fazia todos nós olharmos para ela

nos dias em que estava cheia e brilhante. Fazia três anos desde a
sua morte. Três anos sem ver, ouvir ou falar com ela. Mesmo com

Ettore como marido, ela nunca se deixou levar pela maldade

enraizada nele. Amou Rocco como seu filho e continuou amando-o


até o dia da sua morte.

Violetta tentou nos proteger da violência que o nome Trevisan

carregava, mas a máfia era algo maior que todos nós.

— Você está bem? — A voz de Lunna soou rouca.

Olhei para baixo e vi sua bochecha descansando em meu


peito.
— Sim, volte a dormir.

Lunna bocejou, porém manteve seus olhos azuis abertos.

Tão linda.

— Suas tatuagens... o que significam?

Senti seus dedos deslizando pela minha pele e olhei para o

dragão em meu peito. Eu não tinha muitas, Rocco era detentor do


pódio. Porém, eu tinha coisas que significavam para mim.

— Coragem — apontei para o dragão —, mãe — toquei a lua

atrás do animal feroz e, por último, a flor imperceptível no meio de


várias formas geométricas — e você.

Lunna abriu os olhos, agora bem acordada, antes de encarar


a tatuagem. Sua boca se abriu e fechou algumas vezes, e quando

as lágrimas apareceram, eu não me surpreendi.

— Você precisa parar de chorar por tudo, Lótus.

— Quando a fez? — Sua voz denunciou urgência, e eu toquei

sua boca.

— No aniversário do nosso casamento, um ano atrás —

murmurei, enquanto Lunna subia no meu colo e ficava sobre mim.

— Por quê?
— No dia, eu me convenci de que era por gostar dela. Hoje,
eu sei que foi por você ser importante. Sempre será e estará tatuada

em mim para sempre — falei de uma vez.

Ela me beijou forte, tremendo e soluçando.

— Você é tudo que eu tenho. Você e mamãe. Minha família.


— Lunna tocou meu rosto e beijou meu queixo.

— Um dia. Eu prometo que a trarei para você.

— Mas... — Seu rosto espantado ficou tenso.

— Um dia, Lunna. Agora volte a dormir.

Minha Lótus demorou, mas dormiu depois de algum tempo.

— Podemos matá-lo — Matteo falou abertamente no meio da


sala que tínhamos no Village.

Apreciei a oferta, mas Rocco só ignorou nosso irmão.

— Uma festa do caralho — Rocco disse, se erguendo e


olhando para baixo, para as ruas em frente ao Village. A festa

aconteceria no hotel do outro lado.

— Estou bonito? — Prince perguntou em seu smoking e


Matteo começou a desfilar no meio da sala.
— Vamos descer. Preciso pegar Lunna — falei rápido, me
erguendo da poltrona.

Abotoei meu paletó e saí da sala. Apertei o botão para


chamar o elevador, e quando as portas se abriram, semicerrei meus

olhos quase que imperceptivelmente. O cabelo vermelho balançou e


ela me viu. Seu olhar foi para o chão enquanto meus irmãos

entravam no elevador e eu me acomodava.

— Você é nova aqui? — Matteo questionou, o interesse em


sua voz era nítido.

— Hum, não. Só estou de passagem. — Sua voz chegou a

mim enquanto eu olhava para as paredes metálicas.

— Bem-vinda, baby.

As portas se abriram e eu saí primeiro, querendo que ela


sumisse da minha frente. Eu a mataria quando tivesse oportunidade.

Entrei em meu carro e pisei no acelerador em direção à


minha casa, com meus músculos tensos e o aperto no volante
quase cessando a circulação do meu sangue no órgão.
— Já acabou?

A voz impaciente da Lake me fez bufar. Continuei esfumando


sua sombra e ela suspirou.

— Você precisa ter mais calma — Sienna gritou dentro do


closet.

Me afastei com meu pincel de maquiagem e contemplei o

esfumado bonito nos olhos de Lake.

— Graças a Deus. — Ela se ergueu rapidamente e andou

para longe de mim.

— Como estou? — Sienna entrou no cômodo, e eu sorri.

— Perfeita.
Seu vestido vermelho era longo e quase justo ao corpo até

suas coxas. A saia abria ali e o tecido se amontoava naquele lugar.


Seu colo estava exposto e as alças do vestido eram finas, ligando a

parte de trás, que era bem baixa, ao seu busto.

— Esse vestido é incrível — eu disse, apreciando.

Sienna era linda, disso ninguém tinha dúvidas.

— Vá pôr o seu. Os meninos devem estar chegando — ela

pediu.

Olhei para Lake uma última vez. Seu vestido era mais curto,
porém com tule em camadas, dando sofisticação para a peça.

Caminhei para o closet e peguei meu vestido. O vermelho


dele não era igual ao das meninas, pelo contrário, era quase um

bordô. Um vermelho tão escuro que poderia ser preto. Eu o amei

assim que o vi.

Passei a mão pelo meu corpo coberto em frente ao espelho


que ia do chão ao teto e suspirei. As alças do vestido ficavam

abaixo dos meus ombros, na lateral, e o tecido colado ao meu corpo

era tão macio que eu queria me agarrar a ele. Movi minha perna e a

fenda alta se abriu e minha coxa apareceu. Encarei o espelho e

toquei minhas orelhas com os diamantes negros. Brilhavam tanto


que me enfeitiçavam. Meus lábios estavam com batom vermelho e
meus olhos esfumados com preto.

Passei a mão pelos meus cabelos longos e ondulados. Saí

do closet e peguei minha bolsa. A carteira tinha uma corrente preta

e ela tinha alguns brilhos. Era linda. Desci a escada depois de

colocar meu celular, dinheiro e chaves dentro da bolsa. Decidi me

arrumar com as meninas na mansão depois de Lake e Sienna


pedirem.

— Romeo é um sortudo filho da puta.

A voz ao longe me fez parar no penúltimo degrau. O rosto de

Prince era divertido e eu relaxei, terminando de descer.

— Sua esposa será linda — eu disse de maneira firme.

— Espero que sim. — Ele olhou para o céu.

— Onde está seu irmão? — perguntei enquanto caminhava.

Sienna apareceu com Lake e Salvatore. Todos estavam


vestidos para a festa de logo mais.

— Vindo. Você quer esperá-lo ou ir comigo, Sienna e Lake?

— Prince perguntou enquanto seguia para a porta.

— Vou esperá-lo. — Meu estômago revirou em nervosismo.


Os três saíram da casa e eu fiquei sozinha na mansão. Senti

meu celular vibrar e mordi meu lábio ao abrir a mensagem.

“Feliz Natal!”

Li a felicitação e senti meu estômago revirar mais uma vez.


Era o mesmo número do meu aniversário. Ignorei e guardei o
celular. Ouvi um carro parar na entrada e respirei fundo, tocando

minha cintura.

Quando a porta se abriu, meu ar foi tomado e devolvido tão


rápido quanto um carro em corridas. Meu coração apertou com seu
sorriso e meu estômago esfriou.

— Você está perfeita, Lótus. — Romeo andou até mim e

segurou minha mão. Quando ele beijou o dorso dela, eu sorri,


encantada e apaixonada.

— Você está lindo.

E ele estava. Seu terno era preto e seu rosto quadrado era
tão forte que eu desejei ser como ele. Forte.

Romeo beijou meus lábios e nós saímos de casa.

Quando chegamos ao hotel onde aconteceria a festa, Romeo

me guiou pela cintura e eu sorri ao ver nossa família reunida em


uma mesa.
— Sente-se — Romeo pediu quando chegamos e ele puxou

uma cadeira.

— Olá, cunhada. — Matteo ergueu a taça de champanhe.

— Olá, Matteo.

— Você está linda. — Ele piscou.

Romeo relaxou na cadeira, olhando para os lados.

— Cale a boca antes que eu arranque seus olhos — meu

marido falou com firmeza.

Matteo só riu e ergueu as mãos.

— A festa ficou linda — Lake murmurou enquanto olhava ao

redor e eu fiz o mesmo.

O salão estava decorado com flores vermelhas e brancas,


com adornos de cristal espalhados. As cadeiras e mesas
transparentes. Tão sofisticado que me encheu de orgulho.

— Fizeram um bom trabalho. — Romeo apertou minha coxa

por baixo da mesa e eu sorri, feliz.

Alguns garçons se aproximaram para nos servir e o meu


sorriso caiu quando o cheiro doce e pungente atacou meu nariz.
Ergui meu rosto ao ver uma mulher colocando champanhe na minha
taça. Meu corpo virou pedra. Quando olhei para Romeo, ele estava
encarando o seu irmão, porém a mesma tensão espalhada por mim,
estava por ele. Meu coração já abatido virou pó. O vômito parou em

minha garganta e eu me ergui.

— Com licença — pedi aos outros e andei rápido para o


banheiro.

O chão limpo do banheiro não estragou meu vestido quando


me abaixei, vomitando nada além do bolo que eu tinha feito hoje

pela tarde. Meus olhos arderam e eu lutei contra as lágrimas. Era


ela.

Era ela a mulher que ele encontrava.

Baixei a tampa do vaso e me sentei em cima, enxugando os


cantos da minha boca com papel. Ouvi a porta abrir e os passos

decididos no banheiro me disseram o suficiente.

— Você está bem? — Romeo questionou do outro lado da


porta, fazendo com que eu fechasse olhos.

Mostre a ela o que acontece quando ela mexe com algo que
pertence a você.

— Sim. — Forcei minha voz a sair e me ergui, abrindo a porta

do reservado.
— Você tem certeza? Podemos ir ao médico. Seus exames
não deram alterações além das drogas, mas pode estar havendo
outra coisa...

Olhei para os olhos azuis nublados e a preocupação neles

me fez questionar tudo. Suas traições, suas mentiras, seu amor. Se


ele se preocupava tanto comigo, por que a visitava?

— Estou bem. Não se preocupe — eu disse de maneira

firme.

Romeo acenou, tocando minha cintura. Eu me sentia

queimando enquanto ele me guiava para fora do banheiro e de volta

para a nossa mesa. Tentei controlar meus olhos enquanto procurava


a mulher pelo salão. Romeo me observava de perto, ainda

parecendo preocupado. Fingi um sorriso e voltei para o meu lugar.

— Você está bem? — Sienna e Lake perguntaram ao mesmo

tempo.

Só acenei e engoli em seco.

O jantar foi servido e eu vi a mulher mais uma vez. Porém,

dessa vez ela me olhou nos olhos. Ela me viu olhando para ela e
seu olhar de choque seria o bastante para confirmar, se o perfume

já não fosse.
— Precisamos cumprimentar algumas pessoas — Romeo

disse ao se levantar.

Rocco fez o mesmo e Sienna o seguiu, porém fiquei parada.

— Posso ficar? Ainda não me sinto cem por cento — menti

enquanto o encarava.

Romeo voltou a sentar e tocou meu rosto.

— Vou levar você ao médico.

— Amanhã — declarei, sabendo que discutir agora não era o

adequado. Amanhã eu inventaria algo.

— Ok. — Romeo se ergueu e se afastou enquanto Matteo,


Prince e Lake continuavam na mesa.

Me movi devagar e minha mão bateu na taça de Romeo,


respigando sobre mim.

— Oh, droga — murmurei e me levantei. Suspirei ao ver as

gotas em meu vestido. — Vou limpar meu vestido — avisei a eles,


colocando o guardanapo sobre a mesa.

Os três acenaram e eu saí devagar, caminhando entre as


pessoas. Me virei lentamente e vi que meus cunhados estavam

conversando e não olhando para mim. Apertei minha mão e olhei ao

redor, encontrando a mulher de perfume infame entrando em uma


porta. Caminhei enquanto sorria para algumas pessoas e entrei na

mesma porta.

— A entrada...

Sua voz cessou quando ela se virou e me viu. Seus olhos se

arregalaram e sua boca se abriu, mas não produziu nenhum ruído.

— Qual o seu nome? — Minha voz soou baixa, controlada.

— Senhora...

— Eu não vou perguntar de novo — eu a interrompi

agressivamente, fazendo-a estremecer devagar.

— Katalyna.

— Desde quando?

— Lunna...

Minha mão foi antes que eu sequer pensasse a respeito.

Katalyna segurou seu rosto enquanto minha palma ardia do tapa.

— Não diga meu nome. Responda à pergunta.

— Dias depois do casamento de vocês. Mas não é...

— Eu cresci na Cosa Nostra, Katalyna. Aprendi algumas


coisas sobre casamento dentro dela, e uma delas é que não devo

esperar lealdade do meu marido. Mas espero, porque eu o amo,


apesar de tudo. — Dei um passo em sua direção e fiquei frente a

frente com ela. — E vou matar você na próxima vez que eu souber
que você tocou nele.

— Isso é...

— Farei e vou amar ver a vida se esvair dos seus olhos — eu

disse pausadamente, sentindo a fúria latente crescer e transbordar.

— Sabe quantas noites eu senti você nele? Quantas lágrimas você


e ele me fizeram derramar?

— Senhora Trevisan, eu...

— Prometo que vou matar você se ousar ficar a um metro

dele.

Katalyna acenou, desistindo de falar, então me afastei

devagar, deixando-a acuada no canto como a rata que ela era.


Eu a procurei entre as pessoas, meus punhos cerrados. Ela
não estava em nossa mesa, eu sabia que algo estava errado. Lunna
estava estranha. Não queria pensar que ela sabia que Katalyna

estava aqui.

— Ela foi ao banheiro — Lake disse quando me aproximei da

mesa, procurando Lunna.

— De novo? — Sienna franziu as sobrancelhas ao se sentar

ao lado de Rocco.

— Ela derrubou champanhe no vestido — Lake continuou

esclarecendo nossas dúvidas.


Olhei para o banheiro e o cabelo escuro apareceu quando a

porta foi aberta, então relaxei.

— Ei. — Lunna me olhou e sorriu devagar, me fazendo

respirar aliviado.

— Enxugou o vestido?

— Tentei meu melhor. — Ela riu para Sienna e nos sentamos.

Procurei Katalyna entre as pessoas, porém não a encontrei.

Algo estava errado. Eu queria torcer seu pescoço pelo atrevimento

ao vir trabalhar aqui, hoje. Numa festa da Outfit. Ela pagaria pelo
seu desrespeito.

— Está tudo bem? — Lunna perguntou ao me encarar. O


brilho nos seus olhos me deixou inquieto.

— Sim.

— Quem está procurando? — Quando olhou no fundo dos


meus olhos, fiquei ciente que ela sabia.

— Ninguém. Estou observando as pessoas. É aberto,

perigoso demais — falei o que era verdade. Lunna continuou me

encarando. — Você a viu.

— E você quer vê-la.


— Não existe mais nada. — Fui firme ao dizer.

Lunna sorriu, tão diferente dela. Da sua aura bondosa e

inocente.

— Se existisse, você me perderia em um piscar de olhos,

Romeo — Lunna prometeu ao me encarar e ergueu o queixo em um

atrevimento que nunca vi ou percebi.

— O que está falando?

— Eu iria embora. Sairia da sua vida tão rápido que você não

saberia.

— Eu nunca a deixarei ir. — Me inclinei e apertei sua coxa


com força, fazendo-a trincar os dentes. — Me mate antes. Porque

se sair, prometo que caçarei você nos quatro cantos da merda

desse mundo.

Lunna engoliu em seco e eu toquei seu pescoço.

— E você sabe que eu a encontraria.

Lunna se afastou e não falou mais nada.

Agora eu tinha mais um motivo para matar Katalyna.


— Você acha que essa porta vai me manter longe? —

perguntei, tocando na madeira enquanto ouvia Lunna dentro do seu


quarto antigo.

Seus passos soaram devagar e eu sabia que ela estava em


frente à porta.

— Abra essa merda, Lunna!

— Por quê?

— Por que o quê? — perguntei, apertando meu punho,

irritado com essa merda toda.

Voltamos para casa há uma hora, e desde então ela subiu e

se trancou aqui. A festa foi boa para todos, menos para mim. Lunna
me manteve longe.

— Por que não me quis antes? Por que me traiu com aquela

mulher? Por que me tratou com tanta indiferença em todos esses


anos? Eu não consigo entender. Apenas hoje eu realmente parei
para pensar. Precisa ter um motivo, Romeo. Porque eu não acredito

que você fez isso por pura maldade. Não comigo, entende?

Meu peito apertou tão forte quanto meu punho. Fechei meus
olhos e encostei a testa na madeira que me separava dela. O que
ela diria? O que Lunna faria ao saber de tudo?
— Não posso — murmurei devagar. O soluço que cortou sua

respiração me fez socar a porta. — Abre.

— Me deixe sozinha — ela implorou, chorando.

Balancei a cabeça. Não faria isso. Eu nunca mais a deixaria


sozinha.

— Se afaste da porta porque eu vou atirar.

Puxei minha arma e apontei para a maçaneta. Escutei Lunna


abrindo a porta e coloquei a arma na cômoda ao lado da porta ao

entrar.

— Pare com as mentiras. Diga-me a verdade. Eu preciso

dela.

— A verdade pode doer, Lunna.

— Que doa! Eu não me importo com dor, porque é tudo que


sinto desde que me casei com você! Você me machuca mais que
qualquer pessoa no mundo e eu ainda continuo te amando. E eu me

pergunto o porquê. Eu gosto disso? Das suas traições e mentiras?

— Lunna, pare com isso. Katalyna não é ninguém, transei


com ela antes, não agora. Eu quero só você.

— Você acha que sou idiota? — Lunna piscou, apertando o


vestido que desejei tirar do seu corpo hoje.
— Não. Eu acho você inteligente e incrível.

— Então pare. Me diga o motivo, só isso que quero.

— Somos maiores que essa merda. Não vou contar. Você é

minha, Lunna. Minha e eu nunca vou deixar você me afastar ou


fugir. Nunca mais vou permitir que durma uma noite longe de mim.

Nem mesmo a você.

— O que ela fazia lá? — Sua voz abrandou, mas sua postura

continuava na defensiva.

— Eu não sei. Não falei ou me aproximei dela.

— O que ela é para você? Não minta para mim, por favor —
Lunna pediu enquanto lágrimas desciam pelo seu rosto.

— Nada...

— Não minta! — minha Lótus gritou e levou a mão à boca


enquanto chorava.

— Ok, Lunna. — Engoli em seco e ela piscou, esperando. —


Katalyna me ajudou com problemas. Coisas que eu guardava dentro

de mim. Que ainda guardo.

— Você confiou suas dores a ela? — A mágoa na sua voz


era maior agora que no dia em que ela descobriu que eu a traía.
— Sim.

— Não a mim, sua esposa.

— Não é disso que isso se trata — falei rapidamente.

Lunna acenou e caminhou para longe.

— É exatamente disso que se trata. — Ela me deu as costas


e abraçou a si mesma. — Eu preciso dormir. Amanhã temos que
chegar cedo à mansão.

Ela entrou no banheiro e eu ouvi seus movimentos enquanto

lutava contra minha necessidade de a ter. Perdi a batalha e saí do


seu quarto, me sentindo tão fracassado quanto no dia em que minha

mãe foi morta.

Andei até meu escritório e peguei o celular. Parei em frente à

janela e olhei para o lago Michigan. Muitos diriam que era um erro

morarmos próximo a ele. Nossos inimigos poderiam vir por ele e

atacar sem percebermos. Porém, não éramos idiotas. Rocco tinha


mais poder nessa cidade que o próprio prefeito. Ninguém

ultrapassava o limite que colocávamos.

Ele estava completamente congelado e a neve estava

amena, caindo devagar. Ouvi a chamada começar e virei a garrafa

de uísque no copo. Levei o vidro aos meus lábios e esperei.


— Eu juro que não falei nada — Katalyna falou rápido assim

que atendeu.

— Como?

— Quando ela me encurralou na sala dos funcionários. Eu

juro, Romeo, não falei nada.

— Ela... — Parei, apertando o copo e respirando fundo.


Porra. — Eu quero que você esqueça que ela e eu existimos. O que

estava fazendo lá, aliás?

— Eu queria vê-la. — Sua voz era baixa, fraca e medrosa.

— Para que, porra? — gritei, querendo socar algo.

— Ver com meus olhos o quanto ela é perfeita. Para você.

Vocês combinam. — Ela se engasgou no meio da fala.

— Katalyna, nunca mais se aproxime.

— Por quê? Você me amava...

— Que merda você está falando? — rugi impacientemente e

andei para a minha mesa.

— Ela tomou você de mim, não o contrário. Sua casa deveria

ser minha, e você meu! Por que se casou? Você sempre me teve...
— Escuta a merda que está falando! Nunca existiu isso.

Éramos amigos. Só isso.

— Eu sempre o amei. Cada pedaço de mim é seu.

— Eu não quero.

— Eu sei. E eu a odeio por fazer você amá-la.

— Nunca mais quero você no mesmo lugar que ela. Saia da

cidade, vá embora. —Fui firme enquanto apertava o celular. — Se


eu voltar a ver você, não vai ser bonito.

Katalyna soluçou na linha e eu encerrei a chamada. Ondas


de dor dispararam pelas minhas têmporas e eu apertei meus dedos

contra elas.

Observei, sentado na poltrona, ela sorrir e desfazer o

embrulho prata com fitas vermelhas. Lake gritou quando tirou um


celular novo e se jogou nos braços de Prince, agradecendo-o.

— Oh meu Deus! — Sienna puxou uma gaiola dourada e

pequena de dentro de uma caixa vermelha. Seus olhos brilharam e


eu vi o pássaro branco na portinha.

Ele poderia voar se quisesse, mas ele permanecia na porta.


— Obrigada. — Ela fungou e olhou para Rocco enquanto ele

sorria de lado.

Voltei a encarar Lunna e ela sorriu ao pegar um livro mais

grosso que meu punho de dentro da caixa prateada. Seus olhos


brilharam e ela começou a folheá-lo.

— Não tem nome — ela disse, virando a caixa antes de seus

olhos encontrarem os meus. Não falei nada, mas Lunna lambeu seu
lábio, umedecendo-o. — Obrigada. Eu amei.

Acenei, ainda distante, e Lunna continuou abrindo seus


presentes. Ela parecia uma criança a cada embrulho aberto, e eu

jurei comprar presentes e mais presentes para ela.

— E este? — Lake pegou uma caixa maior e abriu devagar,


rindo para a gente.

Quando ela abriu a caixa, seu grito estridente me fez pular e


Rocco correr. Assim que olhei para a caixa, meu corpo virou pedra.

A cabeça de Poliana estava ali. Me virei e olhei para Lunna, vendo-a

se aproximar. Puxei-a para mim e escondi seu rosto em meu

pescoço.

— Tire isso daqui — gritei furioso e Rocco se moveu

rapidamente.
— O que é? O que foi? — Lunna se debateu em meus braços

enquanto eu a segurava com mais força. — Me solta! — ela gritou

apavorada e pisou com uma força surpreendente no meu pé. Eu a

soltei por reflexo e ela correu até Rocco.

Quando suas mãos abriram a caixa, os joelhos de Lunna

despencaram no chão. Seu olhar ficou vazio e seu grito cortou o


silêncio. Ela levou a mão aos lábios e gritou de novo. Lunna vomitou

em si mesma enquanto eu a puxava para mim de novo.

— No, no, no. Mamma! Mamma! — Lunna gritou, chamando


uma e outra vez pela mãe. — Mamma. Mamma, per favore. — Sua

cabeça entrou em meu pescoço e seu choro foi substituído por

soluços que partiram meu coração.

Nunca imaginei que a dor de alguém pudesse me partir ao

meio. Eu estava errado.

— Sinto muito — murmurei diversas vezes em seu ouvido,

enquanto ela continuava a chorar.

Olhei para a minha família e vi Rocco com o celular no

ouvido, Sienna e Lake chorando juntas, e Prince e Matteo parados

no canto, olhando para o chão.


— Foi ele. — Lunna se afastou devagar e me olhou, com

lágrimas não derramadas. — Ele a matou. Mas por quê? Por que
ele faria isso? — Suas palavras embolaram enquanto ela continuava

se questionando.

— Vou descobrir, e no dia eu vou trazê-lo para você.

— Eu vou matá-lo. — Sua voz ficou firme.

— E eu vou segurá-lo para você — afirmei, segurando o seu

rosto.

Lunna acenou, seu queixo tremendo, então a puxei para mim


mais uma vez. Subi com ela para o meu antigo quarto e tirei sua

roupa enquanto ela ficava quieta, olhando para suas mãos. Ajudei

Lunna a entrar na banheira e fiquei de pé observando-a.

Observei-a colocar o queixo nos joelhos e fechar os olhos

com força.

— Não queria que você tivesse visto — falei sob sua

respiração lenta. — Aquela imagem. Ela sempre vai te acompanhar,

sei dessa merda porque todos os dias eu vejo minha mãe morta no
chão. O sangue consumindo tudo.

Lunna fungou e me olhou, seus olhos azuis vívidos e grandes

que engoliam meu mundo.


— Não acredito que isso aconteceu. — Ela capturou uma
lágrima que desceu sobre seu lábio e fechou os olhos. — Mia

madre. La mia vita.

— Ele vai pagar, Lótus. Prometo.

E eu honraria minha promessa.

Quando desci, Rocco já havia tirado a caixa da sala. Lunna


dormiu e eu queria mantê-la assim até que eu pudesse entregar seu

pai fodido. Carmelo pagaria com a vida.

— Por que ele fez isso? — Rocco estava em frente à janela


do escritório quando entrei.

— Não sei, mas vou descobrir.

— Nós descobriremos — meu irmão disse ao se virar.

— Esperamos tempo demais. — Apertei meus punhos. — Se


o tivéssemos matado no dia do casamento, Poliana estaria viva e
Lunna... porra, minha mulher estaria bem, não dopada de dor.

— Não é culpa sua. Nada nessa merda é.

— O que eu faço com ela? — Baixei minha voz,


desesperado.
— O tempo vai amenizar a dor dela. — Rocco respirou fundo.
— Amenizou a minha, amenizou a sua e dos nossos irmãos. Minha
mãe, Violetta e Poliana não mereciam isso. As mulheres em nosso

mundo são usadas como merda. Isso vai acabar dentro da Outfit.
Assim que cheguei a minha casa na manhã seguinte, entrei
no banheiro e deslizei a mão pelo meu cabelo ao me olhar no
espelho. Pálida, olhos fundos e roxos, bochechas sem vida ou cor.

Fraca.

Destruída.

Mamma. Fechei meus olhos e os abri tão rápido quando

pude. A imagem da sua cabeça dentro daquela caixa de presentes

me acertou no estômago e eu me curvei, ficando de joelhos. O


vômito saiu e eu continuei no chão, sentindo lágrimas e mais

lágrimas me cegando.
Peguei o celular na bancada e disquei seu número. Nunca

liguei para ele. Nunca perguntei por ele. Nunca falei que o amava.
Eu só o deixei para trás.

— Como aconteceu? — Minha voz soou e eu funguei.

— Eu sinto muito. — Sua voz firme e controlada me deixou à

beira do desespero. — Ele a pegou com um dos soldados.

— O quê? — gritei, tocando meu peito.

— Sua mãe estava com um dos soldados, Lunna. — Mariano

esclareceu.

— Não, não estava! É mentira! — berrei, sufocando. Mariano

ficou em silêncio por um longo tempo. — Mari... diga que é mentira.

— Não é. Eu estava lá. Ela merecia ser amada, Lunna, e ela

teve isso antes. Ela não sofreu. O soldado a matou e se matou em

seguida. Ele sabia que Carmelo a faria sofrer.

— O quê? — minha respiração parou.

— Ele a salvou do sofrimento — Mariano continuou. —

Apenas isso. Seu pai a torturaria, você sabe disso tão bem quanto

eu.

— Sei, sei — eu me apressei em dizer e escutei seus sapatos


no chão, percebi que meu amigo se moveu. — Por que ele enviou a
cabeça dela para mim? — Minha voz estremeceu, mas consegui
dizer.

— Você não viu o bilhete?

— Que bilhete? — questionei, tremendo.

— Ele quer ela. Foi um aviso. Ele a quer.

— Ela quem?

— Lake — Mariano esclareceu.

Eu fiquei parada, no chão frio do banheiro.

— Por quê? Ela é uma criança... meu pai nem a conhece...

— Seu marido não contou porra nenhuma a você, caralho?

— Mariano gritou, mas sua fúria era dirigida a Romeo, não a mim.

Ele o odiava.

— Mariano, diga.

— Ela é filha de Carmelo. Lake é uma Bianchi.

Meus olhos se arregalaram e eu escutei meu coração

batendo em meus ouvidos tão alto quanto o som de uma bateria

acústica.

— Você...
— Lake é sua irmã, Lunna — Mariano disse em um suspiro

antes de eu o ouvir bater em algo. — Carmelo estuprou Violetta


quando a sequestrou anos atrás. Ele a enviou grávida para Ettore.

— Não! — gritei, me erguendo. Mariano ficou em silêncio. —


Ele não, ela não... Lake...

— Seu marido é um filho da puta. Esse casamento, essa

merda dos Trevisan aqui. Tudo foi um plano. Tirar a filha de


Carmelo, matá-la e devolver a pancada.

— Mas Ettore concordou com o casamento. Ettore foi até a


nossa casa. Ele e papai deram as mãos em acordo. Como ele

ousou fazer acordo com o homem que havia estuprado sua esposa?

— Ettore não ligava para Violetta. Ela era apenas seu forno
para crianças. Ninguém sabia da existência de Lake até o dia em

que ela foi apresentada. Seu pai soube dela e ele a quer.

— Ele não a terá! Ela é uma criança, não tem culpa!

— Ela é filha dele e ele tem direito de tê-la sob seu teto. Você

sabe disso.

— Ele vai ter que passar por cima de mim para pegá-la.

— Eu vejo que sim. — Ouvi o som do vento na ligação e eu


sabia que Mariano havia saído de casa. — Não me ligue
novamente.

E ele desligou.

Me sentei no vaso sanitário e olhei para os meus dedos. A

aliança estava ali, brincando comigo. Se divertindo. Era por isso?

Romeo me traiu, me afastou e me fez sofrer por causa do

meu pai? Do que ele fez com a mãe dele? Funguei, lutando contra
as lágrimas, e fechei os olhos. Ele me odiava, queria me punir. Esse

sempre foi seu plano?

Ouvi seus passos no nosso quarto e me ergui. Joguei água


em meu rosto e enxuguei em seguida.

— Lunna? — Sua voz rouca, forte e paciente me fez tremer


suavemente.

— Estou saindo — murmurei me olhando no espelho. Prendi

meu cabelo no alto da cabeça e saí, segurando minha camisola


entre meus dedos.

— Com quem estava falando? — Ele se aproximou devagar e


tocou meus ombros. Fiquei rígida por um segundo, mas me forcei a

relaxar.

— Mariano.
— Um dos capos de Nova York? — Romeo se afastou,
semicerrando os olhos.

Engoli em seco e caminhei pelo quarto até a janela.

— Você esconde segredos de mim, Romeo? — A pergunta


direta saiu e eu me virei, olhando sobre meu ombro. — Seja

honesto.

— Não existe uma pessoa no mundo que não tenha

segredos. — Ele me encarou sério e eu ergui meu rosto, olhando


diretamente para ele.

— Você planejou me matar? — A pergunta o fez tensionar

seu olho levemente.

— Eu nunca, jamais pensei nisso. — Suas palavras me

fizeram acreditar nele. Mesmo depois de um lago de mentiras,


acreditei nele.

— Por que se casou comigo?

— Ettore fez esse arranjo.

— Você sabia que meu pai tinha ferido sua mãe? Você me
odiou por isso? — Pisquei, afastando as lágrimas para poder ver

Romeo. Seu rosto se contorceu por um segundo, mas logo sua


máscara fria voltou.
— Eu soube um dia antes do nosso casamento.

— E se casou mesmo assim.

— Você cresceu na máfia, Lunna. Temos nossos deveres. Eu

fiz o que era meu dever.

— Comigo, Romeo! Filha do homem que sequestrou,


estuprou e engravidou sua mãe. Você se casou comigo! — gritei,

parando de fingir que eu estava calma e bem.

— E eu me casaria novamente, mil vezes, porque você é a

única coisa que eu desejo ao acordar e dormir.

— Pare de mentir! Pare de me enganar!

— Lunna, eu me casei com você porque era meu dever...

— Mentira.

— Ok. Tudo bem. Você quer a verdade, Lunna? — Romeo


gritou, saindo da calmaria que sempre o rodeava. — Meu dever era

deixar meu pai longe tempo suficiente para Rocco matar seus

homens e tomar o poder. Meu dever era chegar a Nova York e voltar
para casa sem uma esposa. Sem você. Eu mudei o plano, fiz um

novo assim que a vi caminhando em minha direção na igreja. Você

era minha e eu a tomei. O que mais quer saber?


Meu coração saltou e bateu descontroladamente enquanto

ele me encarava em silêncio, respirando profundamente.

— Eu deixei você longe de mim, dos meus irmãos, porque

mesmo você sendo minha, ainda é uma Bianchi. Ainda tem o


sangue dele nas suas veias. Eu a quis longe de Lake. Longe de

mim.

— Você é egoísta, sádico e cruel. Você me envolveu em uma


vida que me sugou, me deixou num rio de lágrimas e me tirou a

felicidade. — Minha voz soou forte, mas ele via minha dor dentro

dos meus olhos. — Romeo Trevisan, você foi o único culpado da


minha desgraça.

— Eu nunca disse o contrário. — Romeo sustentou meu olhar

e eu balancei a cabeça.

— Saia da casa. Leve suas coisas. Eu não quero te ver.

Romeo deu um passo na minha direção e eu peguei a

tesoura que ficava na minha penteadeira. Coloquei-a sobre meu

pulso e o encarei.

— Você sabe que a pegarei antes.

— Sim, hoje sim. Mas e quando eu estiver sozinha? —


Minhas palavras fizeram Romeo ficar rígido. — Eu não tenho nada.
Minha mãe está morta. Eu vou me cortar se não sair hoje da minha

casa.

— Lunna.

— Saia.

— Me prometa. — A tensão em sua voz me deixou confiante.

— Me prometa que não vai tentar isso. Prometa, agora!

— Se sair, prometo não me machucar. — Forcei meus lábios


a se moverem.

— Estou saindo. — Romeo fechou os olhos acenando.

Quando ele fechou a porta, eu soltei a tesoura e deslizei até

despencar no chão.

Quebrada.

Destruída.

Por ele.

Andei na grama verde e bonita dias depois. Flores estavam

espalhadas pelo ambiente, e mesmo que eu dissesse repetidamente


que aqui era um lugar que ela descansaria, eu não conseguia ficar
em paz. A imagem daquela caixa ainda estava em mim, cravada

dentro do meu coração como uma faca afiada.

Sienna me enviou uma mensagem dizendo que haviam

enterrado mamãe aqui. Pelo menos uma parte dela. Engoli em seco
ao pensar nisso. Eu odiava isso. Odiava o que ele fez com ela e por

algo tão estúpido.

Me ajoelhei em frente ao túmulo bonito e cheio de flores. Meu


coração destruído ficou apertado quando li as palavras que havia na

lápide.

Poliana Bianchi

Uma mãe amorosa.

Nada além.

Mamãe era mais que amorosa. Ela sempre foi meu porto
seguro. Seu sorriso iluminava meus dias. Ela sempre foi a única

pessoa em quem eu podia confiar.

Minha força.

Minha metade.

Não apenas meu coração estava partido. Eu estava assim.

Me sentia sozinha mais do que nunca. Mais do que no dia que pus
os pés em Chicago. Porque naquele momento eu ainda a tinha pelo

celular, ainda a tinha em meu dia a dia.

Agora tudo havia mudado.

E eu odiava o motivo para isso.

Mariano foi firme ao falar o motivo e eu nunca duvidaria dele.

Mamãe amava outro homem. E ele a salvou da crueldade do meu

pai, a salvou de dias de tortura. Ele a amava também. Eles tiveram

um amor trágico, e por mais que eu ainda queira com todas as


minhas forças minha mãe comigo, eu era grata ao homem. Ele a

poupou de uma dor que nem mesmo homens feitos aguentariam

calados.

Eu sabia que meu pai era cruel. E eu o odiava

profundamente.

— Quando você me prometeu que Romeo me amaria um dia,

eu não duvidei. Nunca, mamãe — murmurei, tocando sua lápide e

me inclinando. — Quando você disse que ele seria um homem


bonito, eu também não duvidei. Eu poderia dizer mil coisas, e

nenhuma delas seria verdade, e hoje eu quero dizer coisas que a

fará não duvidar de mim. Então, mamma, mimadre, miamore, eu

vou te amar até meu último suspiro. Vou dizer aos meus filhos o
quanto você os amaria e o quanto sua partida me tirou o chão.

Nunca vou te esquecer. Você é minha vida, meu coração, e eu sei


que vou te ver novamente. E você vai amar meus filhos como seus,

porque é assim que você é. Com um coração gigante, sempre

disposta a amar todos.

Meus soluços ficaram altos e eu ouvi passos ao meu redor.

Eu sabia que eram meus seguranças. Tentei me erguer e falhei. Um

deles me ajudou e eu solucei mais forte. Chorei por longos minutos


e deixei que eles vissem minha dor. Deixei que eles vissem minha

fraqueza. Porque abaixo de nós estava minha mãe.

Eles amavam a deles. Poderiam mensurar minha dor. Eu


tinha certeza.

Seu rosto oval, seus olhos cinza e seu cabelo castanho me

deixaram parada por um longo tempo. Nunca olhei para ela com

tanta atenção quanto agora. Procurei em cada canto algo que nós
duas tivéssemos em comum. Ela piscou lentamente e uma lágrima

fujona deslizou pela sua bochecha. Eu quis enxugar, mas não me

movi.
— Me desculpe — Lake pediu, engolindo em seco. Respirei
fundo, apertando o vestido preto entre meus dedos. — Você está

bem? — ela perguntou ao se aproximar, deixando-me rígida.

— Por quê? — implorei por uma explicação, mas Lake olhou

para o chão.

— Você tinha tanta coisa na cabeça com Nikolai. Eu não

queria sobrecarregar você com mais peso...

— Você é minha irmã.

— Sim. — Lake piscou mais uma vez e mordeu o lábio. — Eu

o odeio. Por tudo.

— Eu o odeio também — murmurei e ela se encostou na

ponta da cama.

— Sinto muito por sua mãe, Lunna. Ela não merecia isso.

— Eu também sinto muito pela sua.

Lake se aproximou até se sentar diante de mim. Sua mão


procurou a minha e eu apertei seus dedos, tremendo e lambendo

meus lábios ressecados.

— Romeo não quis...


— Não — eu a interrompi com firmeza e olhei para a janela.
— Eu não quero falar sobre o seu irmão.

— Meus irmãos, todos eles, têm feridas criadas única e


exclusivamente por meu pai. Por Ettore. Eles não são homens

comuns, Lunna. Eles não pedem desculpas, eles fazem o que


querem e matam quem se coloca no caminho deles. Eu nunca vi

Romeo cair. Nunca. Ele nunca mostrou sentimentos diante de mim.


Porém, quando viu aquela caixa, eu enxerguei um homem que
estava apavorado. Com tanto medo que senti entre meus dedos.

“E era por você. Do que aquilo faria a você. Não por ele. Não

por ninguém, ele queria proteger seu sono, sua paz e a imagem da
sua mãe. Meu Romeo, meu soldado mais frio e impenetrável,

desabou por você.”

Lake tocou meu rosto e eu percebi as lágrimas banhando


minha pele.

— Ele te ama mais que o ar que ele respira. Você é tudo que

ele tem ou quer. Não faça isso com vocês.

— Ele me enganou por anos, me traiu várias vezes. Ele ouvia


meu choro à noite. Ele sabia o quanto eu me corroía por dentro

cada vez que pegava suas roupas e o cheiro de outra estava nele.
Romeo me despedaçou por três anos. Eu não aguento mais. Não
tem mais nada dentro de mim para ele rasgar. Eu estou oca.

Lake se jogou em meus braços e me abraçou com tanta força

que eu me deixei chorar nos cabelos dela. Molhando sua roupa e


sua pele. Minha irmã, meu sangue, minha menina.

Eu a protegeria de tudo e todos.

Principalmente de Carmelo.

— Sienna quer te ver — Lake avisou assim que nos


afastamos.

— Mande-a vir. Eu realmente preciso de um tempo longe do

seu irmão.

Lake deixou seus ombros caírem e eu toquei seu rosto.

— Eu amo você, Lake. Todos vocês, mas você... sempre


senti uma cordinha me puxando em sua direção. — Sorri ao vê-la

sorrir também em meio a lágrimas. Quando ela me abraçou de


novo, eu a apertei.

Lake se despediu de mim e eu olhei pela janela enquanto

Prince e um soldado entravam em um carro. Me deitei em minha


cama e abracei meu travesseiro. Tentei não ver a imagem daquela
caixa, mas ela continuava a me atormentar.
Meu celular vibrou entre meus dedos e eu abri a mensagem.

Sinto muito por sua mãe. Se tiver algo que eu possa

fazer, me avise.
S.R.
Eu não precisava pensar, as siglas eram o bastante.

Salvatore.

Bloqueei o celular e não o respondi. Não queria mais


confusão. Não queria mais mortes ou sangue. E eu sabia que se

Romeo soubesse disso, ele o mataria. Ele prometeu.

Continuei lutando contra meu sono, e quando enfim


adormeci, a cabeça dentro da caixa de presentes não era da minha

mãe.

Era a de Lake.
Andei pela sala sem som enquanto Rocco torturava um dos
homens da Bratva que havia entrado aqui. Não tínhamos tido
informações daqueles filhos da puta desde que matei Nikolai.

Ninguém ligou ou fez ameaças a Outfit. Até ontem.

— Quem mandou você? — Rocco perguntou pela milésima

vez antes de enfiar uma agulha longa embaixo da unha do homem.


Lentamente. O soldado ficou rígido, mas não se moveu. — Quem

mandou você? — meu irmão perguntou devagar e bateu um dos

dedos na agulha, fazendo o homem gritar.

— Você gosta — eu disse, me aproximando e pegando uma

agulha nova. Levei a ponta até seu olho e ele se assustou. A ponta
fina entrou na carne e ele gritou de novo, tremendo. — Responda!

— gritei, deixando a agulha dentro do seu olho.

— Eu falo! Eu falo! Tira! — ele berrou e eu o fiz.

— Fale — ordenei, vendo o sangue deslizar pelo canto do


olho e molhar seu peito.

— O novo chefe. Ele queria que eu levasse a menina de


Nikolai.

— Você errou de cidade. Não tem ninguém aqui que pertence

a Nikolai — Rocco falou ao se aproximar.

Soquei o rosto do homem, fúria nadando em minhas veias.

— O nome do novo cara no comando. Fale.

— Mikhail. Ele é irmão do Nikolai — o homem falou cuspindo

sangue e fechou os olhos. — Virão outros.

— E eu vou matar todos.

Rocco tirou a arma do cós e atirou no homem. Eu não me

mexi.

— Vou ligar para Mikhail. Que merda de nome é esse? —

Meu irmão e eu andamos para fora da sala.

— Para quê?
— Você acha que vou esperar esses merdas aparecerem
aqui? — Rocco me encarou, confuso. — Esse merda quer algo.

Faremos um trato, a merda de um casamento, o caralho que for,

mas não vou permitir Russos no meu território.

— Casamento? Que merda, Rocco?

— Casamento é sempre a merda que tira a máfia de guerra.

— Todos terminaram em guerra do mesmo jeito. E quem

diabos se casaria com um russo? Lake? Nem pela merda do meu

cadáver.

— Você acha que estou ficando fraco? — Meu irmão foi

sucinto e me encarou com seriedade.

— Não.

— Porque, Romeo, eu estaria no cais esperando a porra da

Bratva, Cosa Nostra e até os fodidos da Camorra se eu não a

tivesse. Eu quero ter filhos, quero vê-los crescer, então se tenho que

ligar para um filho da puta e dizer que quero a porra da paz para
isso, foda-se, eu irei.

— Então Enrico Bellucci é nosso destino.

— De todo homem feito.


Segui meu irmão para fora e me separei dele depois de nos

limparmos. Dirigi por um tempo e a vi na esquina quando parei no


estacionamento. Vestido justo, casaco grosso e meia-calça. Eu fiz

isso com ela.

— Entre — ordenei assim que o carro parou ao seu lado.

Katalyna abriu a boca e voltou a fechá-la antes de fazer o que

mandei.

Dirigi até um hotel e entrei com ela. Katalyna se sentou na


cama e mordeu o lábio enquanto me observava tomar uísque.

— Tem dinheiro e uma passagem aérea no envelope — eu


disse, estendendo o papel pardo. Katalyna o pegou, porém não

abriu. — Foi um acordo que ambos concordamos.

— Eu sei.

— Não volte a Chicago. Viva sua vida. Procure alguém e


construa uma família. Você merece isso, Katalyna — falei a
verdade, me encostando na parede.

Conheci Katalyna aos quinze anos. Ela tinha treze e era uma

menina simples, filha de um dono de bar. Ela era amigável e não


fazia perguntas. Quando me casei, a dor de perder minha mãe me
sufocou e eu precisava contar sobre os pesadelos, visões diárias e

a vontade de me entorpecer.

Na primeira vez que transamos, eu sabia que era um erro.


Porém voltava cada vez que o desejo por Lunna alcançava um pico

maior. Eu era sujo, um cretino, Lunna merecia algo melhor. Eu


sabia.

Katalyna sempre me recebeu, bem disposta, sedenta pela


minha atenção, eu deveria saber que ela nutria sentimentos. Não

soube e eu destruí duas mulheres.

— Espero que ela o faça feliz. — Katalyna engoliu em seco e


eu vi as lágrimas em seus olhos.

— Ela já faz.

Eu saí e deixei Katalyna, minhas mentiras e traições para


trás.

Quando cheguei à mansão tudo estava claro. Entrei na sala


de jogos e parei ao ver Sienna e Lake no celular. Elas falavam

olhando para a tela, eu já sabia quem era antes de ouvir sua voz.

— Eu fiz macarrão com queijo. Posso mandar um dos


soldados levar.
Fechei meus olhos ao ouvir a voz dela. Fazia uma semana
desde que a vi pela última vez. Eu queria vê-la sem ser pelas
câmeras de segurança, mas isso era tudo que eu podia ter.

— Você está pálida. Está comendo bem? — Sienna

perguntou.

Eu fiquei rígido. Daqui eu não conseguia ver o celular e eu


senti a urgência atravessar meu corpo.

— Eu... sim. Eu vou à farmácia amanhã. Acho que preciso de


vitaminas — Lunna respondeu de prontidão, me fazendo relaxar um

pouco.

— Por que não vem para cá? Eu realmente não gosto de


saber que você fica sozinha aí — Lake pediu, sua voz baixa.

— Os soldados estão aqui. Não se preocupe.

— Tem certeza? — Sienna reforçou e eu ouvi a respiração


longa de Lunna.

— Eu... vocês podem vir aqui amanhã? Quando eu voltar da


farmácia...

— Claro. Você está bem mesmo?

— Estou com medo de uma coisa. Muito medo, mas não

quero falar por telefone — Lunna falou rápido e eu apertei a mão.


Droga.

— Estou preocupada agora — Lake disse, eu sentia o

mesmo.

— Não fique. É só... — Lunna parou de falar e eu sabia que


ela estava mexendo no cabelo. — Amanhã. Prometo.

Sienna suspirou e eu me afastei quando elas encerraram a

chamada. O que Lunna tinha? A preocupação me perturbou durante


o resto da noite, e quando me ergui da cama, ainda de madrugada,

calcei meus tênis.

Corri porta afora e os soldados acenaram ao me ver passar.


Corri em direção à minha casa e parei diante da porta. Os homens

que mantinham Lunna em segurança me cumprimentaram e eu abri

a porta.

Subi os degraus devagar e andei tentando não fazer barulho.

Sua porta estava fechada e eu a abri lentamente. Os lençóis

brancos estavam espelhados e eu vi Lunna no meio da cama. As


tremidas leves e os gemidos eram tão similares que eu fiquei rígido.

Me aproximei, respirei fundo e baixei meu capuz do moletom


grosso.
— Não. Não — Lunna balbuciou enquanto eu via o suor se

concentrar em sua testa.

Me arrastei até seu lado e me sentei, tocando sua perna.

— Lunna — chamei, me curvando e tirando seu cabelo do

rosto. Procurei o restante do fio e engoli em seco ao ver que ela o

tinha cortado. Antes tão longo que se perdia nos lençóis, agora iam

até seu ombro.

Seus olhos dispararam e ela se sentou rapidamente. Alívio

me varreu quando vi que o cabelo caiu e continuava tão longo


quanto antes. Ela tinha cortado apenas os cabelos que adornavam

seu rosto.

— Romeo. — Lunna respirou fundo.

Desci meus olhos por seu colo e parei na blusa branca de

botões. Minha.

— Você está bem? — perguntei, sem tocar no assunto.

Lunna molhou os lábios com a ponta da língua.

— Sim. O que está fazendo aqui? Que horas são? — Ela se

afastou e puxou o celular que estava na mesa de cabeceira.

— Ouvi Sienna dizendo que não parecia bem. O que está

acontecendo? — questionei.
Ela arregalou os olhos, tensa.

— Não é nada.

— Lunna.

— Não comi direito nos últimos dias. Só isso — ela falou


rapidamente. Lunna encarou as mãos e fechou os olhos. — Você

está bem? — Seu olhar azul encontrou o meu e eu toquei sua

bochecha, querendo ardentemente beijá-la.

— Sim — falei e Lunna acenou devagar. — Você quer que eu

vá embora?

— Eu deveria querer. — Sua mão tocou a minha antes de se

afastar. — Você a viu?

— Quem? — perguntei, porém, antes que ela dissesse, eu já


sabia.

— Katalyna.

— Sim — eu disse de uma vez. Lunna se afastou de mim

rapidamente e se levantou, enquanto eu ficava na cama. — Você

quer que eu minta?

— Eu queria que não tivesse corrido para ela! Era isso que

eu queria. — Sua voz aumentou e eu fechei meu punho.


— Não foi para isso. — A frustração em meu tom ficou nítida.

— Katalyna não era uma puta que eu pegava na rua, Lunna. Ela era
uma amiga, antes de tudo. Antes de nós.

— Eu deveria ir lá e pedir desculpas a ela? — Seu escárnio


me fez me levantar e me virar para ela.

— Não estou dizendo isso. Me escute.

— É melhor não, porque cada frase que você fala, suas

palavras me magoam mais e mais. E estou cansada. Cansada de

ser magoada por você.

— Eu não toquei nela. Eu não a quero! — gritei e me

aproximei. Lunna andou de costas até atingir a parede. Eu prendi

seu corpo com o meu e lutei contra o desejo de beijar seus lábios.
— Você é minha fraqueza. Você é dona de mim, do meu coração

congelado e da minha alma. Eu não quero ninguém além de você.

— Então, por quê?

— Para dar dinheiro e uma passagem para ela. Quero que

ela seja feliz, mas longe da gente. Da nossa vida — argumentei,


tocando seu rosto enquanto ela fechava os olhos. — Você é tudo

que preciso.
— Talvez. — Sua voz ficou fraca e ela mordeu o lábio. — Eu

odeio precisar de você para ser completa. Eu me odeio por

continuar te amando mesmo com todos os seus erros.

— Lótus.

— Eu não quero me sentir assim, Romeo.

— Você não quer me amar? — questionei, ouvindo uma

fragilidade na minha voz que nunca presenciei.

— Eu quero me amar antes. Só isso.

Olhei para o lado e me afastei, dando passos para trás


enquanto ela continuava parada contra a parede, então puxei meu

capuz sobre minha cabeça.

— Você quer o divórcio? — perguntei, me mantendo ereto.

Seus olhos azuis se arregalaram e o medo dentro deles me

deu um pouco de alívio.

— Você nunca me daria.

— Você o quer? — Forcei a pergunta, vendo seu peito subir e


descer.

— Você disse que jamais me deixaria ir. Você disse! — ela


gritou de volta, desesperada.
— Vou mandar um dos meus advogados falar com você.

— Não se atreva! — ela gritou e se lançou para mim.

Seus punhos bateram em meu peito enquanto ela chorava e

se engasgava com os soluços. Prendi suas mãos e me inclinei,


beijando sua boca com força. Lunna parou de se debater e abriu os

lábios, me recebendo como todas as vezes. Soltei seus pulsos e

puxei sua cintura contra mim enquanto provava seus lábios. Enfiei
meus dedos em seu cabelo e chupei sua língua em minha boca.

Devagar, nós desaceleramos e eu deixei um beijo pequeno

em seus lábios, antes de me afastar.

— Eu nunca lhe daria o divórcio, Lunna. Você deveria saber.

Deixei-a no meio do quarto, tocando a boca, e saí da nossa

casa. Corri até a mansão, tentando engolir meu sorriso de merda,

porém não consegui. Depois de tomar banho, me deitei em minha

cama antiga e me forcei a dormir.

Se Lunna queria que ficássemos longe, então ficaríamos.

Porém, eu nunca a deixaria ir. E eu sabia que ela nunca me


deixaria.
Penteei meu cabelo duas vezes antes de sair do quarto.
Peguei minha bolsa e desci a escada sentindo minhas pernas
moles. Eu estava nervosa. Eu deveria estar nervosa. O medo estava

me sufocando, e mesmo que eu quisesse, não conseguiria parecer


bem.

Entrei em meu carro e vi os soldados que faziam minha


segurança entrando em um deles para me seguir. Passei em frente

à mansão, mas não parei. Continuei dirigindo até alcançar a rua.

Meus dedos estavam tremendo e meu estômago revirado. Não


queria pensar no que eu estava fazendo. Eu enlouqueceria se

sequer colocasse em palavras.


A minha ida à farmácia não durou muito tempo, logo voltei

para a casa. Fiquei de pé em frente ao espelho no banheiro,


olhando para as caixas rosa de várias marcas. Tirei todos os palitos

de dentro e fiz xixi em um potinho. Molhei cada um por cinco

segundos e coloquei todos diante de mim.

Engoli em seco enquanto encarava o relógio de pulso que eu

usava, esperando. Meu celular tocou dentro da minha bolsa, me


assustando por um segundo, então fui ao quarto pegá-lo. Atendi a

chamada sem ver quem era e me arrependi instantaneamente.

— Você está bem? — Salvatore perguntou e eu engoli em


seco.

— Eu não sei o que pretende, mas me ligar, enviar


mensagens e continuar com seus flertes não vai acabar bem.

— Estou preocupado.

— Você quer morrer? Responda sinceramente.

— Não.

— Então me esqueça! — pedi, batendo o pé no piso, fora de

mim. Eu estava com medo dos testes, de mim e de Romeo. Eu não

precisava de Salvatore na equação de merda que minha vida estava

se transformando. — Pare com isso!


— Você acha que eu não quero? — Sua voz ficou alta. Eu
fechei meus olhos. — Desde o dia em que pus meus olhos em

você... sua imagem é a única coisa na minha cabeça.

— E ela vai matar você. Estou implorando, pare com isso. Na

próxima mensagem ou ligação eu falarei para Romeo. Ele não

matou você ainda, mas ele vai se você continuar. — Puxei o celular

do meu ouvido assim que desliguei a chamada e o joguei na cama,


ainda tremendo.

Salvatore queria realmente que Romeo o matasse? Sério?

Mordi meu lábio, planejando falar com Sienna. Eu precisava dela.

Salvatore a escutaria.

Respirei fundo e me lembrei dos testes, ficando tensa


novamente.

Corri de volta para o banheiro, mordendo minha unha e

sentindo minhas pernas virarem gelatina quando vi os testes

positivos na bancada. Deslizei pela parede segurando todos e fechei

os olhos tão apertados quanto consegui. Oh meu Deus.

Grávida.

Pressionei meus dedos contra minhas pálpebras, sentindo

meu chão se abrir e os olhos azuis aparecerem diante de mim. Meu


peito doeu, as lágrimas me cegaram e eu solucei.

Nikolai.

Meu choro ecoava pelo banheiro, me deixando doente. Era

dele. O bebê dentro de mim era dele. Ou de Romeo, mas o mero


pensamento de ser do homem que me sequestrou e estuprou me
apavorou.

O que Romeo faria? O olhar de nojo que me deu quando me

pegou na cama com Nikolai me acertou, me levando ao desespero.


A sensação que tinha deixado meu corpo voltou com tudo e eu me
senti suja. Imunda.

Ele me deixaria. Eu sabia disso. Romeo nunca ficaria com um

filho que não era dele. Sangue do homem que matou com as
próprias mãos.

— Lunna!

A voz de Sienna soou e eu me ergui, catando os testes no


chão rapidamente. Enfiei todos no lixo e fechei a tampa, ouvindo

minha respiração entrecortada. Joguei água no rosto e puxei a


toalha.

— Aqui! — gritei de volta e saí do quarto.

Sienna entrou e eu sorri ao ver Lake segui-la.


— Trouxemos algumas coisas para testarmos um prato novo

— Lake falou ao me abraçar.

Pisquei e relaxei, tentando ficar calma e não demonstrar a


elas que meu mundo estava desabando.

— Podemos descer para começar. Vocês estão bem? —


perguntei.

Ambas acenaram e começaram a contar coisas triviais.

Passei a manhã com elas na cozinha, e na hora do almoço eu me


sentei para comer com ambas. Mexi a salada e cortei a carne

suculenta. Gemi ao comer e Sienna fez o mesmo.

— Está muito bom — Lake disse, acenando.

— Você precisa fazer as pazes com Romeo. — Sienna

mudou de assunto drasticamente.

Eu a encarei, erguendo as sobrancelhas, tentando mascarar


meu medo. Nunca mais faríamos as pazes. O pensamento me fez
querer chorar.

— Ano-Novo. Precisamos passar juntos... e bem. O ano que

chegará será muito bom para todos nós — Sienna continuou


explicando.

Um novo ano. Sem minha mãe. Sem Romeo.


Com um bebê de um estuprador.

Me encolhi ao escolher essas palavras.

— É amanhã.

— O quê?

— O Ano-Novo. Já é amanhã. Como quer que eu faça as


pazes tão rápido? — continuei a conversa, tentando soar normal.

— Fique nua — Sienna disse de uma vez e gritou, tampando

a boca ao ver o olhar chocado de Lake. — Eu esqueci que temos


uma baby na mesa.

— Ei! Eu já sou quase adulta.

— Alguns anos, querida, e eu contarei tudo que precisa


saber. — Sienna riu e eu fiz o mesmo.

— Onde passarão a virada? — perguntei, suspirando.

Romeo passava comigo nos anos em que esteve aqui. Ele


me deixava depois de me desejar feliz Ano-Novo e ia ver seus

irmãos.

— Em casa, eu acho.

— Eu vou — eu disse com firmeza e Sienna sorriu


largamente.
Eu me arrumei sozinha em casa. O vestido branco era

apertado e alcançava o topo das minhas coxas. Minha sandália era


de salto fino e as tiras adornavam meu pé. Deslizei a bala do batom
nude em meus lábios e olhei para os olhos azuis que estavam

esfumados com marrom. Me afastei enquanto tocava o colar que


Sienna me deu de presente em meu aniversário e suspirei.

Vai ficar tudo bem.

Passei a mão pelos meus cabelos que estavam alisados e

alcançavam abaixo da minha bunda. O manto preto era lindo e eu o


amava tanto quanto mamãe e Romeo. Afastei o pensamento triste e

segurei minha bolsa, saindo do quarto.

— Boa noite!

A voz rouca me fez pular e gritar ao mesmo tempo.

— O que você...

— Feliz Ano-Novo, Lunna — Salvatore falou, parado no

corredor. Ele estava vestindo uma calça justa, blusa branca e um


casaco grosso.

— Por favor, saia — ordenei, tremendo e apertando meu

casaco.
— Estou indo embora. É por isso que estou aqui — Salvatore

murmurou enquanto se movia e parava diante de mim.

Indo embora?

— Como assim? — perguntei, confusa. Ele era da Outfit.

— Se você não pertencesse a ele ficaria comigo? — O irmão

de Sienna ignorou minha pergunta e me encarou seriamente.

— Salvatore.

— Só responda isso — ele pediu, se inclinando.

Espalmei seu peito, mantendo-o longe.

— Não — afirmei, convicta. Ele desviou os olhos dos meus.

— Não sinto nada por você. Saia da minha casa. — Eu me afastei

rápido e andei em direção à escada. Ele me seguiu em silêncio e


nós saímos de casa juntos.

— Boa vida, Lunna. — Sua voz triste me deixou preocupada,

mas eu ficaria muito mais se Romeo o pegasse comigo.

— Boa vida, Salvatore.

Entrei em meu carro e dirigi até a mansão, tentando esquecer

Salvatore, testes de gravidez e que mamãe não estava curtindo o

champanhe que tanto gostava.


As portas da mansão se abriram e eu entrei, tentando

parecer relaxada. Sienna apareceu vestindo um macacão longo e

me abraçou. Olhei ao redor na sala de jogos e todos os Trevisan me


encararam. Todos eles estavam arrumados e elegantes.

— Boa noite — murmurei e engoli em seco ao me lembrar a

última vez que estive aqui. A árvore de Natal tinha sumido, os


presentes, as caixas. Mamãe.

— Boa noite, Lunna. — Prince se aproximou e sorriu por um


segundo antes que eu desse um passo e o abraçasse.

— Boa noite.

Romeo estava encostado em um canto enquanto balançava o

copo cheio de uísque. Seu terno deu lugar a um casaco grosso,

blusa com gola alta preta e calça escura.

— A mesa está posta — Lake avisou e eu beijei seu rosto.

Todos saíram da sala, mas eu permaneci com Romeo. Me


virei e percebi seus olhos em meu corpo. Medindo cada pedaço,

desejando e apreciando. Seu olhar me aqueceu em lugares que

sentiam sua falta.

— Você está linda.


— Você também — murmurei de volta e andei até ficar diante

dele. — Eu... tenho algo para contar, mas não quero estragar o
jantar. Você pode passar em casa amanhã?

— Eu pensei que dormiria em casa hoje. — Sua frase direta


me fez ofegar e morder meu lábio.

— Precisamos ter essa conversa antes. — Eu fui firme,

mesmo querendo levá-lo para a casa, seduzi-lo e dizer que o


amava. Que nada era mais importante que nós dois.

Mas ele me odiaria amanhã.

Romeo respirou fundo e ficou ereto, mostrando o quão mais

alto ele era em relação a mim. Sua mão entrou em meu cabelo e

vislumbres de ontem apareceram em meus olhos.

Ele dizendo que me daria o divórcio. Meu desespero ao ouvir

suas palavras. Quem eu queria enganar? Eu não queria perder meu


marido. Nos afastei porque realmente precisava de espaço. Não

apenas por suas mentiras, mas por mim. Por meu luto.

— Se o que vai contar estragará o jantar é algo ruim,


presumo — sua afirmação me fez suspirar e desviar os olhos dos

dele.

Era? Estar grávida era ruim?


Se for dele, jamais. Mas e se for de Nikolai? Me afastei

devagar, sentindo a inquietação crescer em meu estômago. Não

queria me imaginar tendo um bebê como ele. Eu amaria esse bebê?

O que eu faria?

A dor me cegou quando Lake apareceu na porta. Ela era

esse bebê anos atrás. Na barriga da Violetta. Inocente, intocada,


perfeita.

Abracei meu corpo e reuni coragem no lugar mais profundo

dentro de mim.

Eu amaria meu bebê.

Ele era parte de mim. Eu o amaria.

— Vocês vêm? — Lake sorriu ao questionar.

Eu acenei e comecei a caminhar. Lutei contra a vontade de

agarrá-la e dizer que a amava. Lake era o bebê ainda em meu

ventre.

Romeo me seguiu e nós nos sentamos com a nossa família.

Matteo deixou o ambiente mais leve com suas brincadeiras, porém,

a cada poucos minutos, Sienna sorria e olhava para a porta como se


esperasse por alguém. Eu sabia quem.
— Salvatore não veio — afirmei quando estávamos na sala

de jogos, próximas da janela. A lareira estava acesa e nossos


casacos longe.

— Rocco não permitiria. — Sua voz ficou baixa e ela sorriu

tristemente. — Eu fico entre a cruz e a espada, me sinto sangrando


por causa deles.

— Si.

— Mamãe está sozinha na Itália. Passou Natal e hoje sem

ninguém além da irmã. Eu me sinto tão sobrecarregada. Eu amo

Rocco com todo meu coração e tento esconder minhas tristezas e


frustrações dele, isso está me consumindo. — Sienna tocou a

bochecha, pegando uma lágrima, e eu a abracei. — Eu sou uma

idiota. Você é a única passando por um inferno e eu aqui me


lamentando por coisas bobas.

— O que te machuca nunca pode ser chamado de bobo. São

suas dores. Ninguém pode minimizá-las. Nem mesmo você.

— Você é tão forte, Lunna. Queria ser assim. — Sienna sorriu

e beijou meus cabelos, me embalando em seus braços.

— Uma tempestade está se formando e eu estou com tanto

medo. Se soubesse, não me acharia corajosa ou forte.


Sienna se afastou, franzindo as sobrancelhas.

— Amanhã.

Todo mundo se juntou e nós pegamos taças com

champanhe. Matteo gritou a contagem regressiva e nós sorrimos,

brindando ao ano novo que chegou.

— Feliz Ano-Novo, Lótus. — Romeo se encostou contra

minha coluna e eu engoli em seco, ainda segurando a taça intocada.

Sua mão descansou em meu ventre e eu suspirei, implorando

a Deus que tudo desse certo.

— Feliz Ano-Novo, Romeo — murmurei devagar, me virando


e beijando seu pescoço, sentindo seu perfume.

Nós nos abraçamos e fomos para a sua família. Todos


beberam e festejaram enquanto eu ficava com Sienna e Lake,

conversando trivialidades.

— Eu vou dormir. Não nasci para virar a noite — Lake disse,

levantando-se.

Sorri, porque nisso a gente era parecida.

— Eu também.
Me despedi das pessoas e Romeo me seguiu para fora,
ainda bebendo uísque. Ele já estava bêbado e isso estava me
deixando preocupada.

— Você já bebeu o suficiente — eu disse, tomando o copo

das suas mãos.

Romeo sorriu largamente e eu fiquei sem ar, como todas as


vezes em que ele fazia isso.

— Quero você, Lunna. Vamos subir para o meu quarto — ele


pediu e fechou a porta da mansão. — Você é minha, Lótus. Só
minha.

— Sim, eu sou — admiti quando ele me tocou.

Seu polegar pressionou meu lábio e Romeo se inclinou, me


beijando. E eu deixei. Segurei seu casaco e abri os lábios,
recebendo sua língua habilidosa que tinha o gosto do uísque.

Romeo me empurrou até a parede e segurou minhas coxas, me


tirando do chão. Ele mordeu meu lábio e desceu para meu colo. Sua

mão desceu meu vestido e meus seios saltaram. Seus dentes


rasparam meu mamilo esquerdo e eu gemi, apertando seu cabelo.

Meus sentidos estavam perdidos, mas eu sabia que logo


alguém nos veria aqui. Era a entrada da casa. Puxei seu cabelo até
sua boca libertar meu peito e ofeguei ao ver seu olhar nublado de
desejo.

— Quarto — pedi sem fôlego, e puxei meu vestido para me

cobrir.

Romeo acenou, me colocou no chão e me guiou até a escada


enquanto eu latejava de desejo.
Lunna andava até a cama enquanto eu tirava meu casaco.
Ela se virou, mordendo o lábio vermelho e inchado. Dos meus
beijos.

— Você está linda — balbuciei, me aproximando e parando

diante dela.

— Romeo.

Me inclinei e calei suas palavras com meus lábios ao beijar

sua boca. Lunna derreteu contra mim e eu puxei sua cintura,


sentindo sua língua doce deslizar pela costura da minha boca.

— Você me deixa louco — confessei, puxando seu vestido


pelas suas coxas. Toquei sua bunda pela calcinha e andei até a
cama, ainda mordendo seus lábios.

Lunna segurou meus ombros e se afastou, virando-se. Desci

as alças do vestido e o tirei do seu corpo. Segurei seu seio pesado e

apertei seu mamilo, tirando um gemido alto de Lunna. Desci a mão


pela sua cintura e entrei em sua calcinha de renda. Ela estremeceu

quando meus dedos deslizaram por sua boceta escorregadia.

Segurei seu cabelo e pressionei seu clitóris, fazendo-a se


curvar. O aperto nos seus fios negros ficou forte e ela gemeu mais

alto. Curvei Lunna sobre a cama e alisei sua bunda empinada.

Afastei sua calcinha e me ajoelhei para prová-la. Seu gosto doce


bateu em minha língua e eu gemi, segurando seus quadris.

— Romeo! — Lunna gritou quando minha mão colidiu com


sua bunda em um tapa forte. Eu a senti estremecer e suas pernas

cederam quando ela gozou.

Me ergui e abri meu zíper enquanto Lunna olhava por cima

do ombro, vermelha e perfeita. Ela se sentou na cama quando


terminei de tirar minha roupa e eu me inclinei, cobrindo seu corpo

com o meu.

Empurrei meu pau em sua boceta apertada e fechei os olhos,

sentindo Lunna beijar meu peito. Nós dois gememos em sincronia,


lutando contra nossas respirações. Apertei Lunna pelos quadris e
capturei seu mamilo, lambendo e mordiscando. O brilho dos seus

seios me enfeitiçou e eu enlouqueci enquanto empurrava dentro

dela.

Lunna gemeu mais alto e mordeu meu ombro, me fazendo

gozar imediatamente. Ela gritou e me seguiu tão rápido quanto eu.

Nossas respirações ofegantes ecoavam pelo quarto e eu

beijei seus seios. Lambi seus mamilos e ela suspirou, mordendo o

lábio.

— Quero voltar para casa. Para você — falei, tirando o

cabelo escuro do seu rosto suado.

Lunna piscou e seu olhar mudou de apaixonado para

preocupado em segundos.

— Vamos dormir.

— Lótus. — Pressionei, segurando seu rosto entre meus

dedos. — Somos nós dois. Você é minha desde os quinze anos.


Não me afaste — pedi, desesperado.

Ela tocou minha bochecha.

— Eu te amo tanto que esse sentimento me sufoca. — Lótus

piscou, seus olhos cheios de lágrimas.


Respirei fundo sem entender. Então, por que ela não queria

que eu voltasse para casa?

— Romeo.

Me afastei, ficando rígido. Sentei-me enquanto via Lunna


fazer o mesmo, puxando um lençol para cobrir sua nudez. Eu não
me incomodei com a minha.

— O que está acontecendo? — perguntei, sabendo que algo

estava errado.

— Amanhã.

— Não. Hoje. Agora. O que aconteceu? — eu queria gritar,

porém contive meu anseio. Lunna desviou os olhos de mim, mas


segurei seu queixo e a fiz me encarar novamente. — Agora, Lunna.

— Você está bêbado.

— Não mais. Fale.

Lunna piscou e se moveu. Suspirei quando ela se sentou em


meu colo, pondo suas pernas em cada lado das minhas. Seus seios

saltaram quando pousei minhas mãos em sua cintura e a puxei


contra meu peito.

— Eu te amo. Só estou pedindo que confie em mim.


— Eu não vou pedir novamente — rosnei, apertando sua

cintura entre meus dedos.

Lunna me olhou e engoliu em seco.

— Estou grávida.

Meus olhos se arregalaram e eu senti meu coração parar por

um segundo. Olhei para sua barriga plana e mal contive o sorriso


que cortou meu rosto. Ergui a mão para tocar sua pele branca, mas

Lunna se esquivou. Semicerrei os olhos e voltei a encará-la.

— O que...

— Pode ser dele.

Suas palavras não fizeram sentido por longos segundos,

porém, quando isso aconteceu, lava pura encheu meus sentidos.

— O que disse?

— Eu... — Lunna se calou quando eu a tirei de perto de mim

e me ergui. Vesti uma calça de moletom que estava caída na cama,


sentindo meu coração bater a uma velocidade assustadora. —

Romeo — ela implorou com os olhos azuis enquanto eu continuava


tremendo e precisando matar alguém.

Lunna estava grávida.


De um filho daquele desgraçado.

Minha Lótus.

Grávida de Nikolai.

O ódio cegou meus sentidos e eu soquei a parede. Puxei o

abajur ao lado da cama e joguei-o do outro lado do quarto. Os cacos


de vidro se estilhaçaram e eu senti alguns acertarem meus braços.

— Romeo...

— Você... — Eu não consegui terminar a frase. Me virei, não


conseguia encará-la, e fui para o closet. Puxei uma das minhas

camisas antigas que ainda eram guardadas ali, precisando sair


desse quarto, de perto dela. Minha alma clamava para que eu
machucasse alguém, mas não podia ser ela.

— Por favor. — Lunna me seguiu e eu apertei meus punhos.

— Não fale. Não fale! — gritei enquanto me vestia e virava

para sair do closet. Foi impossível me mexer. Lunna estava parada


na entrada, enrolada em um lençol. Sua maquiagem borrada,
lágrimas fazendo uma lambança em suas bochechas. — Saia da

minha frente.

— Não tenho culpa. Olhe para mim! Sou eu, sua Lótus. —
Lunna deu um passo em minha direção.
Eu apertei meus punhos mais uma vez, tremendo.

— Grávida daquele filho da puta!

— Ou de você! — Lunna gritou de volta, chorando. Comecei

a andar pelo espaço pequeno. — Eu não sei. Ficamos juntos assim


que voltamos da Rússia. Isso está em branco. Não podemos saber

até fazer um teste, mas ainda sou eu.

— E se for dele, Lunna? — perguntei de maneira firme,


encarando-a. — O que você espera acontecer?

— Eu não sei, Romeo. — Ela fungou e levou as mãos ao

rosto, parecendo tão desesperada quanto eu. — O que você vai


fazer?

— Eu não vou criar um bastardo. Isso é o que eu não vou


fazer. Você me ouviu? — gritei, furioso. Lunna desviou os olhos de

mim. — É isso que está esperando? Que eu crie essa merda?

— Não diga isso. É um bebê inocente. Não tem culpa de


nada disso — Lunna implorou, dando um passo. Voltei a me afastar,

não confiando em mim mesmo perto dela. — Você quer que eu

aborte? Ou talvez, me envie de volta a Nova York? É isso que vai


fazer, Romeo?
— Você deve ficar com a família do seu filho. Seu pai nunca a

aceitará de volta. Mikhail mandou homens virem buscá-la. Não sei o


que diabos ele quer com você, mas se for ter o filho de Nikolai,

aposto que ele está interessado em recebê-la.

— O quê? — Lunna gritou, perdendo a cor do rosto enquanto

eu fingia que sua dor não era nada para mim.

— Mikhail é irmão do Nikolai.

— Você vai me mandar para a Rússia? — Sua voz baixou e

eu soquei uma das portas do closet, fazendo Lunna pular ao se


assustar. — O bebê pode ser seu. Você pelo menos pensou nisso?

— Ela se recuperou, gritando e dando passos para trás enquanto eu

me virava.

— Volte para casa. Um dos médicos da Outfit irá até lá

amanhã. Vamos fazer o teste.

— Não me trate assim. Sou a mesma mulher que estava na

cama com você há alguns minutos. Sou sua esposa. — A voz aos

berros estremeceu e eu a encarei. — Eu juro que carregar seu bebê

sempre foi tudo que mais desejei em minha vida, Romeo. Meu
sonho sempre foi ser mãe. Cheguei aqui com planos. — Sua voz

baixou e Lunna derramou mais lágrimas. — Eu só estou pedindo


que não culpe uma criança inocente por tragédias que ela não foi

responsável.

— Não culpo — afirmei, virando-me até encarar a parede. —


Mas não o quero perto de mim. Eu nunca quero pôr os olhos nele, e

isso é uma decisão minha.

— Lake — Lunna murmurou o nome da minha irmã.

— O que ela tem a ver com essa merda? — Olhei para ela,

sem entender.

— Ela era esse bebê anos atrás. Sua mãe voltou de Nova

York com ela no ventre. Você...

— Não se atreva.

— Você quer que eu aborte? Depois de saber que é de


Nikolai, você vai querer que eu o mate?

Sua voz começou a me irritar com suas perguntas difíceis.

— Já falei, você irá para a Rússia.

— Você queria que sua mãe tivesse abortado Lake? Lembre-


se dela, do seu sorriso, do seu amor por ela. Você realmente...

— Pare! — gritei, interrompendo-a.


Lunna me olhou por alguns segundos e deixou o lençol cair.

Meus olhos me traíram e apreciaram cada pedaço do seu corpo.


Minha esposa limpou o rosto e puxou o cabelo para frente, as

mechas cobrindo os seus seios.

— Você nunca me deixaria ir. — Ela ergueu o queixo e deu

um passo para a frente, em minha direção. — Eu sou sua. Eu

pertenço apenas a você.

— Lunna — rosnei quando suas mãos tocaram meu peito

ainda nu.

— Você me ama. Seu coração congelado é meu. Você nunca

me daria para outra pessoa.

— Não duvide de mim.

— Nunca — ela respondeu e tocou meu rosto enquanto eu

permanecia rígido. — Tampouco duvido da sua possessividade,


desejo e do seu amor.

Lunna me olhou sem reservas, completamente convicta de

cada palavra dita.

E ela estava certa.

Porque Lunna Trevisan era minha e isso nunca mudaria.

— Vá para casa.
— Você vai comigo.

— Não empurre essa merda — ordenei.

Ela encostou seu corpo ao meu, me olhando de baixo, seus

olhos azuis com veias vermelhas do choro fixos em mim.

— Por favor.

Fechei meus olhos e senti suas mãos segurarem meu

pescoço. Lunna se agarrou a mim e rodeou minha cintura com suas


pernas. Segurei seu quadril e ela enterrou o rosto em meu pescoço.

— Eu te amo. Você é tudo que eu tenho. Não me afaste.


Estou tão furiosa, triste e frustrada quanto você.

Suas palavras me fizeram respirar fundo. Andei com Lunna

de volta para a cama e me deitei ainda preso a ela. Puxei as


cobertas e toquei seu cabelo devagar.

— Se for dele você tem duas opções. Abortar ou ir embora.


Você decide, Lunna. — Deixei as palavras saírem e segurei seus

pulsos, afastando-a de mim, fazendo-a me soltar.

Me afastei até o outro lado da cama e fechei meus olhos,


ouvindo seu choro baixo. Eu quis ardentemente consolá-la, mas não

podia. Eu disse a verdade.

Não criaria o bebê daquele filho da puta.


Nunca.

Ouvi quando ele se aproximou. Levei a garrafa aos meus


lábios e dei um longo gole enquanto olhava nosso cais. A neve

ainda cobria toda a água congelada e eu fixei meus olhos nela.

— O que houve? — Sua voz ecoou preocupada e eu dei mais


um gole para deixar minha boca ocupada. — Você está me

preocupando.

Rocco parou ao meu lado na janela e semicerrou os olhos.

— Lunna está grávida — eu disse rapidamente. Meu irmão

arregalou os olhos, o mesmo sorriso que dei ao ouvir a notícia


apareceu em sua boca. — Pode ser do Nikolai.

Rocco parou de sorrir imediatamente. Seu rosto ficou escuro

e ele tocou meu ombro enquanto eu continuava sentindo a dor


inebriante que cegava meus sentidos.

— Cara.

— Está se repetindo — murmurei, apoiando minha mão no

vidro da janela.

— Que merda, Romeo.


— Mamãe era Lunna. O bebê dentro dela é Lake. Você está
entendendo? — Eu me virei para o meu irmão, ele estava

completamente rígido.

— Não faça isso.

— Eu pedi que ela matasse Lake! Você entendeu? Eu disse


com todas as letras que ela deveria abortar ou ir embora. Eu vou

entregá-la a Mikhail.

— Você não vai fazer isso. Você ama aquela mulher.

— Mas eu pedi pra ela matar Lake. Você me ouviu? — gritei

com meu irmão.

Ele me pegou pelos ombros e me empurrou contra a parede.

Seu braço empurrou contra meu pescoço e Rocco me encarou tão

sério como jamais o vi.

— O bebê é seu. Lake não tem nada a ver com essa merda.
Se recomponha.

— Eu não o quero.

— Tudo bem. Se não o quer e já disse a Lunna isso, agora é


uma decisão dela.

— Se ela escolher ir? — perguntei, soando tão patético que

eu apostava meu dinheiro todo que meu irmão me achava um idiota.


— Então, foda-se.

— Ela é minha, Rocco.

— Você não vai fazê-la abortar, Romeo. Essa é uma decisão


dela.

Rocco relaxou o aperto e me soltou. Os olhos azuis dele


amoleceram e meu irmão me puxou contra seu peito, me
abraçando.

— Vai ser seu. É seu herdeiro. Você vai ver.

— E se não for?

— Quantas vezes eu menti para você?

Nenhuma.
O lado da cama em que Romeo dormiu estava vazio na
manhã seguinte. Me forcei a não chorar enquanto tomava banho e
fechava meus olhos quando parei em frente ao espelho. O rosto de

Nikolai apareceu diante de mim, me testando. Eu precisava pensar


no que faria a seguir. Romeo deixou claro o que faria se o bebê não

fosse dele.

Minhas opções eram impensáveis, pois, por mais que eu

amasse Romeo, eu não abortaria. Não tiraria a vida de um bebê

inocente.

Mas jamais iria para a Rússia também.

Minha única saída me odiava, mas um dia ele me amou.


— Eu disse para não me ligar novamente. — Mariano rosnou

na chamada.

Eu me sentei no vaso sanitário enquanto fechava os olhos.

— Estou grávida.

— Nossa, que bom. Felicidades.

Sua ironia me acertou e eu respirei fundo.

— Quando vai esquecer isso, Mari?

— Eu já esqueci, mas você me ligando não é uma merda que

ajuda.

— Eu o amava. Você sabe disso. Quem renuncia ao amor


quando o tem entre os dedos? — perguntei com veemência e

apertei a palma contra meu peito.

Mariano ficou em silêncio e eu me recordei do seu pedido de

casamento. Eu já era prometida a Romeo, já o amava tanto que me


sufocava, mas amava Mariano também. Ele sempre foi meu melhor

amigo. Crescemos juntos, dentro da máfia. Ele é filho de um dos

melhores amigos de Carmelo.

Quando Mari me avisou que pediria minha mão, eu me

apavorei. Meu pai poderia desfazer meu casamento com Romeo se


assim desejasse. E se fosse com Mariano, ele o faria sem pensar
duas vezes. Eu implorei para que ele não o fizesse. Chorei e gritei
dizendo que não o queria.

Mariano ficou despedaçado.

— O que você quer, Lunna? — ele perguntou sem se abalar.

— Nikolai me estuprou quando estive sob seu domínio na


Rússia — eu disse de uma vez e Mariano praguejou. — Pode ser

dele, Mari.

— Porra.

— Romeo pediu o teste, e se o bebê for realmente daquele

demônio, ele me enviará para a Rússia.

— O quê?

— Ou eu aborto. — Minha voz tremeu e Mariano respirou

fundo. — Não vou abortar, Mari. E só entro na Rússia morta, então

eu preciso de você.

— Cuidado com o que vai me pedir, Lunna.

— Se o bebê for de Nikolai eu voltarei para Nova York.

— Não fale.

— Me perdoa. Eu não tenho mais ninguém. Você é o único. É

tudo que me restou. — Chorei, segurando o celular, quando Mariano


bateu em algo. — Você me receberia? Casaria comigo?

Mariano ficou em silêncio e eu senti que tinha ido longe

demais.

— Você o escolheu a mim. Você o ama. Por que eu aceitaria


o filho de outro homem?

— Mari...

— Diga! — ele gritou pelo celular.

— Porque me ama. Eu sei disso.

— E ele não. Romeo não te ama, Lunna. Porque se ele te

amasse, aceitaria esse filho. Ele nem mesmo faria um teste, apenas
deixaria a dúvida para trás — Mariano gritou cada palavra, me

fazendo perceber as lágrimas em meu rosto.

— Mari.

— Escute o que está me pedindo. Você está me dando “e

ses”. Me dando esperança de que eu a teria comigo apenas se o


filho que está esperando fosse daquele filho de puta dos infernos.

Você realmente não percebe o quanto seu pedido me deixa


machucado?

— Eu sei...
— Eu digo que sim, faço mudanças, e no final seu filho é do

Romeo. E eu mais uma vez sou deixado para trás e você vai viver a
porra do seu conto de fadas. — Mariano enfiou facas em meu

coração com suas palavras e eu chorei, sem conseguir parar.

— Me desculpe. Eu não deveria. Me perdoe, por favor.

— Se chegar na porta da minha casa, eu nunca a mandaria

embora, Lunna. Então só chegue. Não avise, não me dê


esperanças. Apenas venha.

Mariano não esperou por respostas. Enquanto eu ficava no

silêncio do banheiro, eu vi a bagunça que minha vida se


transformou. Mais uma vez sendo egoísta com a única pessoa que
sempre se deu para mim.

Enxuguei meu rosto e me ergui. Terminei de me arrumar e

desci a escada com os cabelos presos em um rabo de cavalo e


abraçada com meu casaco. Andei até a sala de jantar e me sentei

ao lado de Lake, mantendo meus olhos na mesa.

— Bom dia! — Sienna saudou ao se sentar diante de mim.

Eu sorri, cumprimentando-a. — Você quer assar marshmallow mais


tarde? Comprei alguns.
— Eu adoraria — falei devagar e vi o momento em que
Rocco e Romeo entraram na sala. Romeo estava completamente
suado, sua camisa branca agarrada ao seu peito, e seus braços

brilhavam.

Rocco se sentou, mas seu irmão só pegou uma maçã.

— Vou tomar banho — ele avisou e se afastou.

Senti os olhos de Sienna e Lake sobre mim. Prince e Matteo

estavam longe de serem vistos.

— Salvatore falou com você ontem?

A voz de Rocco enviou um arrepio pela minha pele. Perigo.


Ergui meu rosto e o vi com os olhos presos em Sienna.

— Por quê? — Ela franziu as sobrancelhas e eu senti sua


preocupação daqui.

— Sienna, se você o ajudou a tentar fugir daqui, eu realmente

vou te enfiar na porra de uma gaiola e te manter lá dentro.

— Não falei com ele. Eu juro — ela se apressou a dizer

enquanto Rocco socava a mesa. — O que aconteceu?

— Estou cansado de me perguntar onde a porra da sua


lealdade está. Se naquele merda do seu irmão ou em mim. —

Rocco pegou a faca pequena e a jogou com força. A lâmina prendeu


na parede e eu ofeguei. — Aquele desgraçado matou dois homens
meus enquanto tentava voltar para a Itália.

— Meu Deus. — Sienna ecoou assustada, enquanto Rocco


se erguia.

— Não vou poupar aquele desgraçado e vou dormir me

odiando hoje, mas enfiarei uma bala na cabeça dele — ele falou
convicto. Eu respirei fundo, estremecendo de medo do homem

impiedoso e cruel diante de mim. — E vou enviar a porra do corpo


dele para a sua mãe como uma forma de respeito. Espero que você

não derrame mais nenhuma lágrima de merda por ele, porque se eu

ouvir você implorando, vou ficar muito puto.

— Rocco...

— Não se atreva! — ele gritou quando Sienna se ergueu e o


chamou.

— Eu juro que não sabia de nada. Eu juro. Prometo pelo meu

coração. Eu nunca trairia você dessa forma. Jamais — ela disse,


ainda sem chorar.

Engoli em seco e senti a mão de Lake em minha coxa.

— Ele foi até a minha casa ontem — eu falei de uma vez.

Rocco se virou junto com Sienna. Vi Romeo se mover na lateral dos


meus olhos e engoli em seco. — Ele só se despediu. Eu não entendi

nada, fiquei confusa.

— Por que ele iria à sua casa? — Lake perguntou, franzindo

as sobrancelhas.

— Porque ele quer morrer — Romeo rosnou e eu estremeci.

— Eu deveria ter dito algo, mas não lembrei. Eu achei que


vocês o tinham deixado voltar. Eu não sei — me expliquei

rapidamente quando Rocco deu um passo em minha direção.

— Onde ele está? — Sienna puxou a atenção de Rocco para

si e eu agradeci internamente.

— No Village — Romeo foi o único a responder.

— Posso vê-lo antes? — Sienna pediu, fazendo Rocco rir.

— Você escutou o que eu falei?

— E se fosse Romeo? Eu sei que daria a vida por seu irmão.

Eu sei, Rocco. Eu vejo isso em seu olhar todos os dias. Quando foi
para a Rússia disposto a morrer por ele e me deixou aqui. Eu nunca

questionei seu amor por ele...

— Levaram Lunna dele porque, mais uma vez do caralho,

seu irmão levou você daqui. Foi culpa minha e do seu irmão Romeo
não estar aqui, então não faça isso. Essa balança vai despencar

para o seu lado.

Sienna se encolheu e eu me ergui devagar.

— Puna-o — eu disse baixo e todo mundo me encarou. —

Faça algo que ele não queira. Só não o mate. — Minhas palavras
fizeram Romeo se mover para mim rapidamente.

— Você está pedindo por ele?

— Não. Por Sienna — eu disse com pressa e encarei os

olhos do meu marido.

— Não vou puni-lo. Já puni demais — Rocco falou alto e bom

som. — Você vai ter que aprender que na máfia perdemos a vida

por erros, Sienna. Eu poupei seu irmão uma vez, não farei uma

segunda.

Sienna olhou para suas mãos e seu marido saiu da cozinha.

Romeo ficou parado, me encarando.

— Não tenho nada a ver com Salvatore. Nada, Romeo.

— Não está parecendo — ele rosnou de volta.

— Vou para casa esperar pelo médico. — Respirei fundo.


Romeo me encarou por alguns segundos e se afastou, me

deixando passar. Andei até Sienna e toquei seu ombro. Si pareceu


acordar de um transe e engoliu em seco.

— Me desculpa pelo que falei.

— Eu entendo.

— Eu preciso ligar para minha mãe. — Sienna se afastou e


me deu um sorriso apertado. — Desculpe por Salvatore ter se

apaixonado por você.

— Não era paixão.

— Talvez.

Sienna caminhou para longe e eu me virei, vendo Lake e

Romeo nos mesmos lugares.

— Eu estou indo.

Lake acenou e nos despedimos com um abraço. Entrei em

meu carro e acelerei para casa.

O homem de cabelos grisalhos tocou meu braço e procurou

minha veia por alguns minutos. Já era final de tarde e ele tinha

chegado há alguns minutos. Suspirei com a picada da agulha e ele


evitou me olhar diretamente nos olhos. Romeo veio com ele, mas

ficou lá embaixo. Ele não me encarava e isso estava me deixando

tão nervosa quanto triste.

— Estresse, má alimentação e esforço físico podem fazer mal

ao seu bebê. Essas vitaminas devem ser tomadas todos os dias. —

Sua voz me tirou de Romeo e eu acenei ao vê-lo me entregar um


pote com pílulas.

— Os exames saem quando? — perguntei, engolindo em

seco.

— Alguns ainda hoje, outros amanhã.

—Eo ?

— Só pode ser feito com onze semanas de gestação. Temos

algumas semanas pela frente, e depois será feito. — Novamente ele


não me encarou. Respirei fundo, tentando ficar calma. — Você não

tomou medicamentos contra doenças e uma pílula do dia seguinte

para evitar a gravidez após o estupro?

— Não. Eu e Romeo não falamos para o médico que veio me

ver que o estupro havia acontecido. Só falamos das drogas.

— Entendo. Vou solicitar exames para todas as doenças.


Eu não disse mais nada, apenas esperei que ele terminasse

e agradeci. Andei até minha janela, segurando o adesivo que ele


colocou sobre o pequeno furinho que a agulha deixou. Meu coração

acelerou quando Romeo apareceu com o médico. Ambos entraram

no carro de Romeo e foram embora.

Semanas até descobrir se o bebê era dele. Semanas sem tê-

lo por perto.

Eu achei que não poderia ficar mais triste, porém, como

sempre, eu estava errada.

Voltei para a cama e me deitei, puxando meu celular. A foto


mais recente de mamãe apareceu em uma das nossas últimas

conversas, e eu não lutei contra as lágrimas. Minha única fuga, meu

refúgio, não estava mais aqui.

Eu ainda podia me lembrar do seu olhar reprovador a cada

vez que pedia para cortar meu cabelo, a cada vez que Romeo foi à

nossa casa e ela repetiu o quanto eu seria feliz, que eu seria uma
rainha dentro da Outfit.

Desculpe, mamãe, a coroa é muito pesada.


— Mikhail ligou. — Rocco adentrou o escritório no Village e
eu olhei por cima do meu ombro. Ele se sentou em sua cadeira e
me encarou. — Ele aceitou o casamento e blá blá blá.

— Sério?

— Sim, ele tem uma sobrinha e quer enviá-la para Chicago.

— Uma mulher com um dos nossos? Pensei que seria o

contrário.

— Que mulher escolheríamos? Não temos mulheres para sair

dando para nossos inimigos — Rocco explicou rápido e eu acenei,

porque realmente não tínhamos. A Outfit era forte por isso, nosso
povo era na maioria homens. Mulheres vinham e iam.
— Matteo? — Arqueei a sobrancelha e ri sutilmente.

— Você sabe que ele seria uma dor na nossa bunda. —

Rocco riu, balançando a cabeça. Eu me aproximei, sentando-me

diante dele. — Ainda não sei, mas vou pensar.

— Que tal Salvatore? — A voz de Prince ecoou e eu vi o

nosso irmão mais novo encostado na parede.

— Eu vou matá-lo hoje. Próximo? — Rocco respondeu,

encarando a arma em cima da mesa.

Prince se moveu até a janela que eu estava.

— Coloque outra pessoa para matá-lo. Sienna vai odiar você

pelo resto da vida — Prince mais uma vez falou e eu me virei para
encará-lo.

— Ele assinou sua sentença quando matou Célio e Breno. Eu

não vou dar uma esposa do caralho para um idiota que acabou de

matar dois dos meus homens.

— Ele não vai vê-la como um prêmio, Rocco. Talvez visse se

fosse Lunna no lugar dela — Prince disse e eu semicerrei meus

olhos, furioso.

— Mate-o. Prince vai se casar — eu falei de uma vez e meu

irmão mais novo arregalou os olhos.


— Eu não vou me casar. — Sua voz aumentou e eu olhei
para Rocco.

— Se quiser, eu tiro a opção das suas mãos e eu mesmo vou

lá matá-lo. Não me importo com a opinião da sua esposa, você sabe

disso — murmurei preguiçosamente e ele olhou para o teto.

— Por que esse filho da puta veio para cá, em primeiro lugar?
Minha vida seria mais fácil sem aquele merda por perto.

— Então deixe Romeo matá-lo — Prince disse atrás de mim

e eu esperei pela resposta de Rocco.

— Tudo bem.

Nós nos levantamos ao mesmo tempo e andamos para a

porta, porém, bateram nela antes. Prince mandou entrarem e Matteo

apareceu, sem camisa e suado.

— Seu dia de sorte, papi. — Ele sorriu ao falar e eu quase

revirei os olhos para o apelido idiota que ele deu a Rocco. —

Mataram Salvatore.

Franzi as sobrancelhas e olhei para Rocco, que estava

igualmente confuso.

— Quem?
— Você não vai acreditar. — Matteo sorriu ainda mais

largamente.

— Fale de uma vez! — berrei para ele, que riu e ergueu as

mãos.

— Giulio.

— De jeito nenhum — Rocco disse rápido e eu fiz o mesmo.

Eles eram amigos, não acreditava que ele faria isso.

— Encontraram Giulio na cela de Salvatore, segurando uma


arma.

— Onde Giulio está? — perguntei, me aproximando.

— Na propriedade, com os médicos. Ele está ferido.

Rocco saiu rápido e eu o segui, sabendo que algo estava


errado. Algo muito sério estava acontecendo e eu descobriria essa
merda.

— Eu tive que induzir ao coma — o médico falou para nós

assim que entramos no galpão longe da mansão. Aqui era nosso


centro médico ou alguma coisa perto disso. Não podíamos levar
nossos homens ao hospital, perguntas seriam feitas, então tínhamos

nossos próprios médicos.

— Eu não acredito nisso — Rocco falou quando o médico se


afastou. Apertei meu punho e vi Rocco andar de um lado para o

outro. — Como vou falar para ela?

— Você disse que o mataria.

— Eu sei! Mas não fui eu. Foi esse merda que está quase

morto também.

— Você acredita nisso? Giulio não machucaria Salvatore. —


Tentei explicar ao meu irmão e ele deu de ombros.

— Foda-se. Eu não dou a mínima.

— Algo está errado. Precisamos pensar com calma.

— Você está certo. — Rocco respirou fundo e fechou os


olhos. — Mande Matteo enviar o corpo de Salvatore para a mãe
dele.

— Tudo bem.

Rocco se afastou e eu liguei para Matteo, avisando da ordem

de Rocco. Quando terminei a ligação, o nome de Lunna apareceu


no visor.
— Romeo — respondi, andando para fora.

— Ele disse a você que o exame só pode ser feito daqui a

algumas semanas? — Lunna perguntou enquanto eu abria a porta


do meu carro.

— Sim.

— Então?

— Então, o quê?

— Você vai voltar para casa? — Ela fungou na linha e eu


apoiei minha testa no volante.

— Vou — respondi depois de longos segundos em silêncio e


desliguei o celular.

Dirigi até a mansão e depois de entrar em casa, parei ao

ouvir um grito estrangulado. Eu não precisava ver para saber que


era Sienna. Entrei na cozinha e a vi no chão, de joelhos.

— Foi você! Foi você! Não Giulio! Não minta — ela gritou,
segurando o celular contra a orelha e soluçando. — Só diga a

verdade. Por favor, me diga a verdade.

Sienna deixou o celular cair e eu vi o nome do meu irmão. Me


aproximei devagar e Sienna se encolheu contra a parede, me

olhando.
— Vocês o mataram.

— Não fomos nós. Pelas evidências foi Giulio, mas também

não acredito nisso.

— Não foi! Giulio não faria isso.

— Quando ele acordar vamos descobrir. — Eu me abaixei e


encarei seus olhos ficando ainda mais sérios. — Mas não foi meu

irmão. Ele nunca mentiu para você. Nunca. Então pare de atacá-lo.
Seu irmão foi um saco cheio de merda conosco, mesmo depois da

gente poupá-lo. Você quer culpar alguém, Sienna? Culpe Salvatore.

Ajudei-a a se erguer e me afastei. Sienna enxugou o rosto e


me olhou, piscando.

— Obrigada.

— Não agradeça. De um jeito ou de outro seu irmão acabaria

morto hoje. Só não foi pelas mãos de nenhum Trevisan, no entanto.

Me virei e a deixei sozinha.

Rocco desceu a escada da mansão meia hora depois de

subir para falar com Sienna. Já passava das onze da noite e o frio

estava ainda mais forte. Se me perguntarem, eu nunca me


acostumaria com a temperatura dessa cidade no inverno.
— Ela vai ficar bem — falei para o meu irmão, que parecia

preocupado.

— Eu sei. A mãe dela falou com ela e eu não sei quem

chorava mais. Foi um inferno.

Enchi meu copo com uísque e virei, olhando para fora pela

parede de vidro que ia do teto ao chão.

— Mikhail me enviou uma mensagem. Quer a foto do noivo e

saber qual seu posto dentro da Outfit. — Rocco coçou o rosto e

mordeu o punho. — Iron?

— Ele não vai aceitar — falei de prontidão e Rocco continuou

me encarando. — Você acha que Mikhail, seja quem diabos for, vai

dar uma de suas mulheres para o executor da Outfit?

— É isso ou nada. Iron é da família, tem o sangue Trevisan.

— Nunca o vi com mulher nenhuma, nem com as prostitutas

do Village.

— Eu não ligo. Mande-o vir aqui amanhã.

— Aqui? Ele nunca veio aqui.

— Sim, eu sei. Essa é uma conversa de família. — Rocco

apertou meu ombro e eu acenei. — Vá para sua mulher agora. Se a

minha me quisesse por perto, eu estaria com ela.


Eu não disse nada, só saí da mansão e fui para casa.

Assim que abri a porta, escutei passos dentro da casa. Puxei

minha arma do coldre e segurei-a na minha frente. Lunna estaria


dormindo a essa hora. Quem diabos entrou aqui? Dei um passo e

entrei na nossa sala. Os olhos azuis se expandiram quando me

viram.

— O que está fazendo acordada? — perguntei, baixando o

revólver.

— Esperando você. Não estou conseguindo dormir. — Lunna

colocou o cabelo atrás da orelha e abraçou a si mesma, de pé perto

da lareira. — Você disse que vinha, então...

— Suba. Eu preciso tomar banho e dormir. A merda do dia foi

cheio. — Me afastei em direção à escada, porém sua voz me


deteve.

— Lake me contou. — Eu me virei e a vi engolir em seco.

— Está triste? — Minha pergunta a fez revirar os olhos.

— Um homem foi morto, o irmão de uma mulher que amo, é


claro que estou triste — ela respondeu prontamente.

Eu me aproximei devagar até estar diante dela.

— Ele se despediu de você. Fez mais do que com a irmã.


— Eu não queria...

— Não importa. Suba para o seu quarto — ordenei, rígido.

Lunna engoliu em seco e se afastou. Eu a segui pela escada


e me afastei ao chegar no corredor dos quartos. Entrei no meu e fui

para o meu banheiro. Tomei banho por um longo tempo e quando

saí, Lunna estava sentada na cama.

— Eu preciso dormir.

— Eu vou para Nova York.

Suas palavras me fizeram ficar rígido.

— Seu pai não a aceitará. Nós dois sabemos disso —


respondi rispidamente.

— Se o bebê for de Nikolai, eu voltarei para a casa. Nunca


mais quero colocar os pés na Rússia. Nunca. E por mais que eu te

ame, não vou abortar. — Lunna se ergueu devagar e apertou os

lábios em uma linha fina.

— Isso é tudo? — perguntei, apertando meus punhos

enquanto ela se aproximava devagar.

— Você me ama?
Sua pergunta me pegou totalmente desprevenido. E Lunna

viu isso.

— Que pergunta é essa?

— Você nunca disse.

— Não sei o que é amor, Lunna.

Foi como se eu tivesse cortado seu coração em dois. Eu vi

seus olhos ficarem frios e ela lutar contra as lágrimas.

— Boa noite, Romeo.

Iron chegou à mansão no horário certo. Seus olhos escuros

preguiçosos olhando em silêncio para tudo. Eu costumava dizer que


ele era um ferro, por isso seu nome, duro, fechado, só amoleceria

no inferno que era para onde iríamos.

Cada um de nós tinha um lugar cativo ao lado do diabo para

tomarmos uísque.

— Romeo. — Ele apertou minha mão quando o


cumprimentei.

— Rocco está esperando no escritório.


— Achei estranho seu chamado. Fazemos negócios no

Village ou por ligações — Iron falou, me seguindo para dentro de


casa.

— Você é nosso primo. Não trazemos desconhecidos para

dentro. — Abri a porta e o deixei passar. — E o assunto é de família.

— Iron! — Rocco se ergueu da poltrona e andou até a gente,

vestindo nada mais que uma das calças ridículas de moletom que
ele colecionava. Iron estava com calça jeans e casaco, enquanto eu

estava com meu terno.

— Rocco — Iron cumprimentou meu irmão e nos sentamos.

— O que acha de uma esposa?

Não sei por que me surpreendia com a sutileza escassa de

Rocco. Ele falava tudo de uma vez, não se importando com a

reação das pessoas.

— Isso se trata de um casamento?

— Sim.

— Vocês não cansam dos casamentos arranjados? Romeo,

você... — Iron falou calmamente e Rocco riu, descansando os pés

em cima da mesa.

— São negócios.
— Perigosos, eu diria — Iron disse sem rir e Rocco piscou
lentamente enquanto o encarava.

— Não é um pedido.

— Eu sei. — Iron continuou sem sorrir e respirou fundo. —

Não quero uma esposa, não quero um anel em volta do meu dedo.
Peço que reconsidere.

— Não posso. — Rocco coçou o queixo e encarou a mim e,

em seguida, Iron. — Você é da família. Tem sangue Trevisan e


precisamos disso. Casamentos desfazem guerras, o seu será um

deles.

— Você já pensou em tudo.

— Cada coisa. Quer conhecer sua esposa? — Rocco sorriu

largamente e Iron respirou fundo, negando.

— Dia e horário. Eu estarei lá.

Iron se ergueu e eu fiz o mesmo, ainda em silêncio.

— São negócios, Iron. Ter uma bela russa ao seu lado é

apenas um brinde.

— Bratva? — Iron parou de se mover e Rocco acenou.


— Não haverá problemas — eu disse algo pela primeira vez
e Iron me olhou. — Esteja na igreja no dia e tudo ficará bem.

Iron não respondeu, apenas acenou, pediu licença e foi


embora.

— Aos preparativos. — Rocco me olhou, sorrindo, e eu


balancei a cabeça.

Ele era louco.


As semanas se passaram tão lentamente que eu já estava
cansada da espera. Os enjoos começaram e nada permanecia
dentro do meu estômago por muito tempo. Eu ia ao hospital

constantemente, porque estava ficando fraca. Lá me davam soro e


me olhavam com preocupação. Romeo não me via ou sabia dos

episódios. Os soldados sabiam, obviamente, pois me seguiam, mas

eu achava que eles não informavam nada a menos que fosse


solicitado. E não foi.

Romeo fingia que eu não existia.

— Você está comendo de três em três horas? — a médica

questionou quando eu cheguei ao hospital mais uma vez durante


aquela semana. Meus exames estavam em sua mão e seu rosto

não era bom.

— Sim, mas vomito tudo em seguida — eu disse rápido para

evitar mais perguntas. Sempre eram as mesmas, eu estava


cansada, sonolenta e enjoada.

— Você está com Hiperêmese gravídica[iv] em um grau bem

preocupante. Vou precisar internar você, Lunna. — Suas palavras


me fizeram ficar tensa e eu a encarei, assustada. — Você está

fraca, perdendo peso ao invés de ganhar, e desidratada. Seu bebê

precisa que esteja bem. Por ele.

A culpa remoeu meu estômago. Eu estava fazendo mal a ele.

— Me desculpa — pedi, piscando assim que senti lágrimas


encherem meus olhos.

— Você não tem culpa. Está pronta? Vou mover você para o

quarto. — A doutora Amanda me acalmou e eu acenei devagar.

— Quanto tempo ficarei aqui? — perguntei depois que o


enfermeiro me ajudou a sentar em uma cadeira de rodas.

— Não sei. Vamos ver conforme você melhora, mas não se

preocupe, não passará de alguns dias.


Acenei e peguei meu celular enquanto eles me guiavam pelo
corredor. Não queria preocupar Sienna, ela ainda estava muito

abalada com morte de Salvatore. Lake ainda era uma criança, não

poderia vir aqui. Pensei em Matteo e suspirei. Droga.

— Lunna Trevisan me ligando. Oh, oh. — Matteo balbuciou

ironicamente do jeito único dele.

— Estou no hospital.

— Merda, o que foi? Vou chamar Romeo — ele gritou, me

fazendo gemer.

— Não, não o chame. Estou bem — eu me apressei a falar e

Matteo ficou em silêncio. — Só preciso que mande meus


seguranças trazerem algumas coisas.

— Lunna, você está no hospital. Seja o que diabos for, você

não está bem. — Matteo ficou sério de repente e eu engoli em seco.

— O que está acontecendo?

— Estou um pouquinho doente e precisei ser internada. É só


isso.

— Vou chamar Romeo.

— Matteo, não precisa.


— Não minto para os meus irmãos, Lunna. Ele é seu marido,

deve saber — meu cunhado falou com firmeza e eu apertei meus


dedos contra meus olhos.

— Tudo bem. Se ele vier, mande trazer meus produtos de


higiene e meu Kindle. Está no closet — falei de uma vez e Matteo

respondeu que faria isso. — Se ele não vier, você traz?

— Ele vai, Lunna.

Não consegui respondê-lo, pois ele desligou.

— Tudo certo? — Amanda perguntou e eu acenei, esperando


que sim.

Fiquei no quarto e ponderei ligar para Sienna mais uma vez.


Nenhum deles sabia da minha gravidez. Eu queria manter assim.

Principalmente por temer dizer que o bebê poderia ser de Nikolai.


Queria tirar a dúvida e depois contar, mas infelizmente tudo estava
desmoronando.

Bateram na porta do quarto e eu me sentei, tendo cuidado

com meu acesso venoso. O pacote grande de soro não estava nem
perto de acabar. Quando o cabelo escuro de Matteo apareceu, eu

me perdi um pouco dentro de mim mesma.


— Então para que você usa esse treco? — Meu cunhado se

aproximou com o Kindle nas mãos e uma bolsa na outra.

— Ele vem, hum? — murmurei devagar, ignorando suas


palavras.

— Ele viajou. Não se preocupe, ele já sabe e está voltando.

— Quando?

— Ele viajou hoje de madrugada. — Matteo me entregou


minhas coisas e se sentou na poltrona, relaxado. — Eu não sabia

que ele tinha ido.

— Tudo bem. — Acenei e liguei meu aparelho. Procurei o

último livro que peguei e abri na página em que parei. — Você já


sabe?

— Juntei os pontos — Matteo falou, seus olhos fixos no

celular. — Espero que ela puxe a você.

— É um homem, mas eu também espero — eu disse de volta

e toquei minha barriga redonda e pequena. Eu havia descoberto o


sexo por um exame de sangue dias atrás. Matteo sorriu e se

inclinou.

— Posso? — Sua mão pairou acima da minha pele.


— Claro. — Eu me deitei para que ele pudesse ter um melhor
acesso.

Matteo contemplou minha barriga de uma maneira que eu


nunca fiz. Nunca toquei nela da maneira fascinada que o Trevisan

estava.

— Ele tem nome?

— Ainda não — murmurei, engolindo em seco enquanto

Matteo se afastava.

— Um dia, muito, porra, muito mesmo distante, eu vou querer


um — ele riu ao falar.

Eu relaxei enquanto o olhava de lado.

— Ele será seu mundo.

— Eu sei. — Matteo sorriu mais largo e me deixou de lado,


focando novamente em seu celular.

Nós jantamos juntos e quando pensei que ele iria embora,


Matteo me surpreendeu ao se deitar na cama de acompanhante,

ainda mexendo no celular. O enjoo não me perturbou e eu


suspeitava que era pelos remédios que a doutora Amanda estava

me dando.

Adormeci em algum momento sem perceber.


Durante a noite eu senti uma mão contra meus lábios e
arregalei os olhos, me debatendo. Matteo entrou em meu campo de
visão e me mandou ficar quieta.

— Ouvi tiros. Vamos sair daqui — ele ordenou. Arregalei os

olhos, com medo. — Eu preciso que tire essa merda. — Matteo


apontou para o acesso venoso e eu acenei, me virando. Tirei

devagar e choraminguei com a dor da agulha.

Matteo me puxou ainda vestida apenas com a camisola do


hospital e nós andamos para fora do quarto. O barulho de um novo

tiro fez meus olhos encherem de lágrimas.

— É Mikhail? — perguntei a Matteo enquanto ele me


segurava perto e andava pelo corredor.

— Talvez.

— Como descobriram que eu estava aqui?

— Não sei. Vamos. — Ele apertou o botão para chamar o


elevador e nos escondeu, mirando a arma que carregava nas

portas. Quando elas abriram, as enfermeiras dentro arregalaram os

olhos, assustadas. — Se escondam!

Matteo nos colocou dentro do elevador assim que elas

correram em busca de um esconderijo e socou o painel. A caixa de


metal parou de se mover quando ele apertou o botão de parada de

emergência.

— Estamos no elevador. Quem é? — Matteo disse

calmamente ao celular e ouviu a resposta. — Ela está bem. Vou


ficar no elevador. É o tempo que vai levar para chegarem. — Matteo

desligou e apertou a arma, ficando de frente para as portas do

elevador, mirando-a nelas e na porta do teto.

— Quem é?

— Seu pai.

— O quê? — eu gritei, arregalando os olhos.

— O fodido quer você e Lake. — Matteo acenou.

— Mas por quê?

— Porque ele quer morrer. Desculpe, Lunna, ele não vai sair

vivo de Chicago.

Diferente do que Matteo imaginava, eu não senti nada. A


imagem da cabeça da mamãe naquela caixa foi o suficiente para eu

desejar ardentemente matá-lo com as minhas próprias mãos.

— Era Romeo no celular?

— Sim.
Eu relaxei um pouco, sabendo que ele nunca me deixaria ser

machucada.

Não sei quanto tempo ficamos dentro do elevador, mas


quando o celular de Matteo voltou a tocar, eu suspirei de alívio.

— Droga. Estou indo — ele respondeu rápido e eu o encarei,


alarmada. Matteo socou o painel e o elevador voltou a andar. —

Segura. — Matteo tirou uma nova arma do seu coldre e eu balancei

a cabeça. — Romeo está sozinho. Rocco e Prince foram por trás.


Você precisa segurar a arma.

— Eu não...

— Ele pode morrer lá, Lunna — Matteo disse e meu coração

parou de bater por alguns segundos. Depois de um segundo, eu

segurei a arma com força. — Você vai parar o elevador da mesma


maneira que fiz. Não abra a porta. Não mova o elevador.

— Tá.

— E se alguém aparecer, não pense, apenas atire.

— Matteo. — Engoli em seco, assustada.

— Eles não teriam pena se fosse você na mira deles.

As portas se abriram e Matteo se virou, mirando a arma para


a frente. Quando ele saiu, eu me vi sozinha e fiz o que ele ordenou.
Minha palma começou a suar contra a arma pesada e eu engoli em

seco.

Vamos ficar bem, pensei ao tocar a minha barriga e piscar,

apertando a arma com mais força.

Dez minutos depois, Romeo ligou e me mandou sair do

elevador. Fiz isso ainda segurando a arma e não a baixei em

nenhum segundo até ver Romeo diante de mim, sujo de sangue e


olhando para baixo.

— Oh meu Deus! — Meus joelhos cederam e eu caí ao lado


de Matteo. Vários médicos estavam sobre ele enquanto mãos me

puxavam para longe. — Matteo.

— Ele vai ficar bem — Romeo falou contra meu cabelo e eu


pisquei, sentindo lágrimas encherem meus olhos.

Matteo foi levado por médicos enquanto eu ainda me debatia


e Romeo continuava me segurando.

— O que aconteceu? — perguntei, me afastando dele,

mesmo querendo estar em seus braços, protegida.

— Seu pai tentou sequestrar você e Lake. Os homens que

foram à mansão estão mortos. De alguma maneira ele soube que


você estava aqui e veio para cá. — Seus olhos encontraram os

meus e eu pisquei, me recompondo.

— Usei meu cartão de crédito antigo na lanchonete quando


cheguei. Eu pensei que estivesse cancelado a essa altura, mas

passou. Eu jamais poderia imaginar...

— Nunca mais faça isso — Romeo ordenou.

— Eu preciso voltar ao quarto.

— Você vai para a casa.

— Não, eu não vou. — Eu me virei, encarando-o com raiva.


— Eu não estou bem e, consequentemente, meu filho também não,

então, Romeo, eu vou ficar exatamente onde estou.

— Lunna — ele rosnou, furioso.

— Eu sei que você quer que ele morra, mas eu não. Na

verdade, ele é tudo que tenho — eu disse convicta e o olhei de cima


a baixo. — Eu errei por pensar que me amava. Você não consegue.

— Você...

— É um menino, aliás — falei, enxugando minhas

bochechas.

— O que você quer?


— Hoje, nada. Amanhã, sim. Quando o resultado sair, eu

quero que assine o divórcio e me deixe ir embora.

— Ele vai ser meu.

— Se for também — murmurei com firmeza e ele franziu as


sobrancelhas. — Perdoei demais você, Romeo. Cada traição,

mentira e distância. Perdoei você por ter me deixado sozinha

durante três anos, mas não vou perdoar você por me fazer sentir
culpa. Culpa por algo que eu não tive, culpa por um bebê.

— Eu não...

— Mande seu advogado me procurar.

— Não faça isso! — Romeo gritou, furioso, e eu ergui meu


queixo. — Eu nunca vou deixar você ir. Me mate antes, Lunna, você

sabe onde guardo minhas armas.

Ele se virou e sumiu pelo corredor, me deixando sozinha mais


uma vez.

Amanda apareceu na manhã seguinte com o semblante

cauteloso. A bagunça de ontem tinha nome e sobrenome. Lunna

Trevisan. Eu compreendia seu medo.


— Você já pode ir para a casa. — Suas palavras rápidas me
fizeram lhe dar um sorriso pequeno.

— Eu entendo seu medo. Não se preocupe, ninguém irá


machucá-la — eu disse, tentando consolá-la.

— Desculpe. — Ela pareceu engolir me seco.

— Tudo bem. — Eu me sentei na cama e ela me tocou

devagar, tirando o acesso venoso que colocaram novamente ontem.

— Vou pedir que continue com o soro. Uma dieta calórica e

exercícios. — Amanda se aproximou e sorriu devagar. — Espero

que você e seu príncipe fiquem bem.

— Obrigada.

Levei apenas dez minutos para trocar de roupa e pegar meus


pertences. Três soldados estavam de pé do lado de fora e eu acenei

para eles, andando para longe do quarto.

— O Romeo quer a sua presença no Village — um deles

falou assim que entramos no carro.

Eu acenei, sabendo que era uma ordem direta de Romeo


dada a eles.

Quando cheguei ao tal Village, vi uma dúzia de mulheres no

bar. Suas roupas eram curtas, seios grandes saltando das peças.
Elas me olharam assim que entrei no local. Não foquei minha
atenção em nenhuma. Não queria imaginar qual delas foi para cama
com meu marido. Eu sabia que muitas.

— Por aqui — um dos homens que me trouxeram disse e eu

o segui.

Assim que entrei na sala, eu vi Rocco sentado e Romeo perto


de uma janela que dava vista para a entrada do lugar.

— Romeo lhe fez uma promessa.

Olhei para Romeo, que permanecia virado, e voltei a encarar


meu cunhado em busca de explicações.

— Você vai precisar de uma arma.

Franzi as sobrancelhas e Romeo se virou, travando os olhos


nos meus.

— Eu jurei que entregaria seu pai. Ele é seu. — Ele tirou uma

das suas armas do coldre e andou até mim, colocando-a entre meus
dedos.

— Romeo — ecoei, chocada.

— Decida. — Ele me encarava com seriedade.


— Não posso. — Engoli em seco e me afastei, deixando a
arma nas suas mãos. — Mate-o por mim. Eu não consigo.

— Tudo bem — Romeo disse, ainda com os olhos presos aos

meus.

Rocco se ergueu da mesa.

— Parabéns pelo menino. — Ele tocou meu ombro e eu

pisquei, encarando-o completamente rígida. — Romeo não esconde


nada de mim, Lunna.

— Espero que ele já tenha dito que eu pedi o divórcio — falei


de uma vez e vi Romeo semicerrar os olhos, fúria dançando em sua

íris.

— Ele nunca lhe dará — Rocco afirmou alto o bastante para


me fazer estremecer. — A Outfit não segue os costumes tanto

quanto a Cosa Nostra, mas prezamos alguns e casamento é um


deles. Não há divórcio.

Suas palavras continuaram na sala mesmo depois que ele

saiu.
Lunna não pronunciou uma palavra desde que saímos do
Village. Eu tinha sua receita e histórico médico no celular e
vasculhei cada linha para saber realmente o que ela tinha.

Hiperêmese gravídica. Uma merda que dá em um por cento das


mulheres grávidas.

— Quem é aquela mulher na minha cozinha? — o seu grito


não me espantou.

Apostava meu dinheiro que ela gostava mais da cozinha do


que de mim.

Me virei e a vi na entrada do meu escritório.

— Contratei uma cozinheira — respondi.


— Eu faço a minha comida! — Ela bateu o pé e o vestido que

usava chamou minha atenção. A bolinha redonda em seu ventre me


deixou sem ar por alguns segundos. — Romeo!

— Você precisa descansar e seguir uma dieta. A médica


passou tudo e a nutricionista fez um cardápio que a Morgana vai

seguir — expliquei, desviando os olhos dela.

— Mas...

— Cama, soro, comida e caminhada à tarde. É tudo que pode

fazer até melhorar — cortei sua fala e ela fechou os olhos,


respirando fundo. — Mais alguma coisa? — perguntei, empurrando

sua irritação.

Ela se virou e me mostrou o dedo do meio.

Sorri e continuei trabalhando.

Sienna apareceu na porta de casa assim que Morgana serviu

o almoço. Lunna se ergueu e os olhos da minha cunhada foram

atraídos para a barriga pequena. Lunna poderia não ter percebido,

mas eu sim. Sienna se encolheu um pouco.

— Um menino? — Ela se recuperou e abraçou minha

esposa, me dando um sorriso.


— Sim, descobri há pouco tempo — Lunna murmurou baixo e
eu vi culpa em seu rosto. — Desculpa, eu queria contar, mas...

— Não tem problema. Eu vou ser tia! — Sienna gritou, vi a

felicidade clarear seu rosto.

As duas se abraçaram mais uma vez e Lunna pediu que

Sienna se juntasse a nós. O que ela fez de bom grado.

— Lake virá mais tarde. Ela tem sessão com a psicóloga.

— Vou escolher um filme para ver com ela.

— Já escolheu o nome dele? — Sienna levou um garfo à

boca e mastigou enquanto esperava a resposta de Lunna. Eu fiz o


mesmo.

— Mais ou menos. Eu pensei em alguns, mas não decidi —

Lunna disse, revirando o prato. Sienna olhou entre nós dois. — Sua

mãe está melhor?

— Sim, vai fazer um cruzeiro esse mês. — Sienna engoliu em


seco. Lunna tocou sua mão por cima da mesa. — Está amenizando.

— A minha também. — Lunna engoliu em seco e deslizou o

dedo pela tela do celular, onde a foto da sua mãe estava.

Sienna foi embora duas horas depois, pois ficou com Lunna

no quarto enquanto ela tomava soro. Eu subi a escadas depois de


receber uma atualização sobre Giulio. Ele continuava em coma.

Parei na entrada do quarto e vi minha esposa acariciar a

barriga, perdida em pensamentos.

— Precisa de alguma coisa? — perguntei baixo para não a


assustar, mas mesmo assim ela pulou. — Não quis assustar.

— Não tem problema. — Lunna respirou fundo e balançou a


cabeça. — Vou caminhar agora, não preciso de nada.

— Você sabe ligar a esteira?

— Sim. — Ela acenou e eu cruzei meus braços, ponderando


minhas próximas palavras.

Vê-la pedir o divórcio e jogar meus erros no meu rosto

naquele corredor de hospital me deixou inquieto e me sentindo


horrível. Eu a estava perdendo. Por erros que não foram cometidos

por mim, por ela ou por nosso filho.

— Não quero mais saber. — Minhas palavras fizeram Lunna

me encarar com um ar confuso. — Ele é meu, Lunna. Nosso.

Seus olhos se expandiram e sua respiração engatou.

— Eu vou amá-lo da mesma forma porque é seu. Veio de


você. E nada que saia de você, que tenha seu sangue e seus olhos,
merece nada menos que amor.
— Você... — Lunna engasgou e se levantou da cama.

Continuei parado, mesmo querendo correr em sua direção.

— Você é tudo que eu quero e penso. Eu dou minha vida por

você, mas não me peça o divórcio, porque isso é a única coisa que
eu nunca farei por você — pronunciei cada palavra com todo meu
coração.

Nunca pensei que meu coração batesse por outra razão além

de bombear sangue. Lunna Trevisan me mostrou que eu estava


enganado. Ele batia por ela.

— Eu te amo, Lótus.

Ela colidiu contra mim e eu senti suas lágrimas molhando


minha camisa de manga longa. Seus braços me rodearam e Lunna

inclinou o rosto, seus olhos azuis presos aos meus.

— Eu te amo. Me desculpa por tudo isso.

— Não. Você estava certa no hospital. Eu fiz você se culpar

por algo que não teve responsabilidade, eu pedi que tirasse a vida
de um bebê que pode ser meu. Eu não sou assim. Eu mato pessoas

e as torturo, mas eles merecem isso. Nosso filho não.

— Ele é seu. Eu sinto, Romeo.

— Que bom, Lótus. Porque eu sinto o mesmo.


Ela soluçou e eu a peguei em meus braços, abraçando-a
tanto quanto eu podia. Lunna me beijou e segurou meu rosto
enquanto eu sentia um tipo de emoção que nunca experimentei com

ninguém além dela.

— Estava com saudade de você. — Ela gemeu quando beijei


e lambi seu pescoço.

— Tire a roupa — pedi, minha voz rouca. Lunna desceu,


puxando o vestido. — Merda — murmurei, vendo suas curvas e

seus peitos ainda maiores. Segurei um em toda minha mão e Lunna


gemeu.

Segurei seu cabelo enquanto lambia o mamilo e mordia


devagar. Me afastei, tirando minha camisa e saí da calça. Lunna me

esperava, nua e ansiosa, então me deitei na cama e a puxei para


mim. Segurei seus quadris largos e a fiz deslizar pelo meu pau. Se

isso podia ser verdade, sua boceta estava ainda mais apertada.

— Ah — ela gritou enquanto eu a ajudava a subir e descer.

Me inclinei e peguei seu outro mamilo, chupando com força.

De alguma maneira, sua boceta apertou mais e eu a senti gozar.


Rápido e forte. Nos virei e empurrei dentro dela, segurando seu

pescoço. Lunna me apertou com mais força e eu sorri ao ver que ela
gostava. Pressionei meus dedos mais um pouco e ela gozou mais
uma vez, puxando meu esperma para dentro dela.

— Eu gosto disso — ela disse entre respirações quando


desabei em cima dela e ri.

— Percebi.

Nós fomos para o banheiro e eu a ajudei a entrar na água

quente. Toquei sua barriga enquanto ela encostava a cabeça em


meu peito, de costas para mim. Lunna suspirou e eu beijei seu

pescoço.

— Remy.

— Hum?

— O nome que pensei — Lunna explicou.

— Remy Trevisan — murmurei, deslizando a mão em sua

barriga.

— O que acha? — ela perguntou, ansiosa.

— Um nome americano.

— Sim. Eu não pensei nisso. — Sua voz ficou preocupada e

eu a fiz me olhar por cima do ombro.

— Eu gostei. Combina.
Lunna sorriu e eu recebi vários beijos em recompensa. Nós

saímos do banheiro e eu a acompanhei na academia. Corri ao seu


lado, prestando atenção se ela estava bem. Lunna sorria a cada vez

que me via observando-a.

— Você precisa ir trabalhar — ela disse quando passava das

seis da tarde.

Eu tinha algumas coisas para resolver, era verdade.

— Onde está Lake? — perguntei, vendo-a se mover pela

cozinha enquanto fazia pipoca.

— Deve estar chegando.

— Oh meu Deus, cadê meu sobrinho? — o grito da minha


irmã fez Lunna rir e eu revirar os olhos.

— De olho nela. Volto daqui duas horas.

— Certo, General.

Ouvi as duas rirem enquanto eu saía.

Me aproximei do meu irmão e ele gritou com alguém pelo

fone de ouvido que usava. Me sentei ao lado da sua cama e Matteo

franziu a testa para a .


— Seu merda do caralho — seu grito cessou quando ele

gemeu de dor. A marca da bala em sua coxa ainda estava se

curando.

— Você deveria estar descansando — eu disse, segurando

meu celular e mandando mensagens a Iron. Rocco tinha escolhido a

data de casamento.

Daqui a dois meses.

— Estou bem — Matteo murmurou e olhou para as minhas


mensagens. — Iron se fodeu. — Ele riu e deixou o videogame de

lado enquanto eu dava de ombros.

— A moça é bonita, então não acho que ele se fodeu — falei,

virando o celular para Matteo.

Meu irmão encarou a mulher ruiva por alguns segundos e


arqueou as sobrancelhas em agrado.

— Gostosa.

— Iron não está interessado, mas é seu dever.

— Dever e honra — Matteo balbuciou e eu acenei,


guardando o celular. — Qual o nome dela? — Olhei para Matteo e

arqueei as sobrancelhas. — O quê? Eu não posso ser curioso?

— Não cause problemas.


— Eu?

— Você acha que Rocco e eu não sabemos que fode as

mulheres de alguns dos nossos homens? — questionei com

seriedade.

— Elas me desejam — Matteo me deu um sorriso

presunçoso —, eu dou o que elas querem. — Ele abriu os braços e

eu balancei a cabeça.

— O nome da noiva de Iron é não é da merda da sua conta.

Matteo riu ainda mais enquanto eu me erguia e andava até a

porta.

— Nika Petrov — murmurei no limite da porta e Matteo parou


de rir. — Se olhar para ela eu darei permissão a Iron para punir

você. Pare de dormir com mulheres que pertencem a outros

homens.

— Claro, chefe — Matteo respondeu enquanto me encarava,

mas não ria mais.

— O nome do seu sobrinho será Remy.

Saí deixando a informação e desci a escada. Ouvi uma


movimentação na cozinha e andei até lá. Não era na cozinha em si.
No banheiro, que ficava próximo. Me aproximei e ouvi um soluço,

suspirei ao reconhecer Sienna.

Bati à porta devagar e esperei alguns segundos até ela abrir.

— Você está bem? — questionei assim que ela apareceu,

seus olhos vermelhos.

— Sim. — Ela mordeu o lábio e olhou para o chão. — Só

ando sentindo falta de casa mais do que o normal.

— Você está em casa — respondi bruscamente e ela

arregalou os olhos, porém acenou rapidamente.

— Eu sei. Mamãe apenas... eu quero a minha mãe. — Ela

limpou as bochechas e piscou, se recuperando. — Não comente

com Rocco sobre isso...

— Você mentiu. Não sei o que está acontecendo, então não

poderia dizer a ele. Você quer falar a verdade agora? — Empurrei a

questão e vi seus olhos se arregalarem ainda mais.

— Não, não.

— Vá. — Apontei para fora e ela suspirou ao se afastar.

Rocco me encontrou na sala enquanto eu olhava para o lago

ainda congelado. O inverno só acabaria no próximo mês. Ele se


sentou no sofá enquanto segurava um copo com uísque.
— Lake pediu para ir para a faculdade em outro estado.

Daqui a dois anos. Disse que pensássemos com calma e depois


disséssemos a ela.

Suas palavras me fizeram franzir o cenho.

— É um não — respondi prontamente e Rocco acenou.

— Eu também acho.

— Se ela quiser ir para UC ótimo, caso contrário, ela vai

estudar de casa. É o máximo de liberdade que ela vai ter — falei e

me sentei de frente para o meu irmão.

— Ela pediu para ver Carmelo.

— Ele está morto... quase.

— Ela queria vê-lo no seu pior. — Rocco coçou o rosto e me

olhou com firmeza. — Ela cuspiu nele, Romeo. Bem na cara dele.

Fiquei chocado demais para pronunciar algo.

— Lake será uma dor na nossa bunda. Escreva o que estou

dizendo.

Eu apostava que sim. Lake tinha um olhar firme quando


estava com raiva, e aquele olhar ainda deixaria homens de joelhos.

— Sienna está bem? — perguntei ao meu irmão diretamente.


Ele respirou fundo e esfregou o rosto.

— Não sei. Ela se fechou de uma maneira que não estou

conseguindo entrar. Desde Salvatore ela está assim. Eu a pego


chorando em cada canto, já fui cruel, já fui devagar e calmo, já tentei

tudo. Eu não estou a alcançando.

— Vocês estão tentando engravidar? — perguntei

diretamente.

Rocco franziu as sobrancelhas, porém deu de ombros.

— Não tentando realmente, mas nunca usamos proteção. Por

quê?

— Ela quer isso. Um bebê — falei para meu irmão e me

inclinei. — Eu vi em seu olhar quando ela soube de Lunna.

— Você acha que é por isso que ela está distante?

— Talvez. Fale com ela. Sienna é sua, Rocco. Aquela mulher


ama você.

— Vou falar.

Apertei seu ombro e me ergui, indo embora.


O envelope branco estava sobre a mesa de cabeceira
enquanto eu roía minha unha. Eu tinha acordado pouco depois que
Romeo saiu para trabalhar e o exame foi entregue após o café da

manhã. Morgana fez ovos mexidos e me deu um chá, que segundo


ela, me deixaria sem enjoos. Porém, desde que peguei no papel que

diria que meu bebê era ou não de Romeo, eu estava em pânico.

— Lunna. — A voz de Sienna me tirou dos meus

pensamentos, eu me virei e a encontrei parada na porta.

— Ei! — Me aproximei devagar e a abracei. Sua pele gelada

me arrepiou antes de nos afastarmos. — Você está melhor?

— Não sei — ela disse devagar e segurou minha mão.


— Eu entendo — murmurei. Sienna acenou, piscando os

olhos cheios de lágrimas. — Você vai ficar bem, Si. Logo logo —
afirmei, querendo consolar minha amiga.

— Sim, espero que sim. — Sienna tocou minha mão e


apertou devagar. — Salvatore está morto e eu me sinto culpada.

Meu luto não passa e eu menti quando disse que a dor estava

amenizando. Meu irmão era muito jovem, e cada vez que olho para
Matteo eu penso nele. — Ela deixou as lágrimas descerem pelas

bochechas.

— Você merece ser feliz, Sienna. — Toquei seu rosto. —


Salvatore é o único culpado por sua morte. Ele fez isso. Não você.

— Mas não somos Deus para decidir quem morre e quem


vive. Rocco e Romeo não têm esse poder... — Sienna contrapôs

rapidamente, me interrompendo. — Quando foi que aceitamos isso?

Qual foi o momento que passamos a achar normal...

— Não faça isso — pedi, inclinando a cabeça e franzindo o


rosto.

— Lunna.

— Eles são o que são. Isso é a máfia. Isso é nossa vida. Não

vou julgar Romeo pelo que ele é. Não posso mudá-lo e não vou
tentar. — Sienna desviou os olhos dos meus e eu apertei seu joelho.
— Não tente. Porque se você fizer Rocco escolher, ele vai ser

morto. Ele precisa que o apoie, seja sua força. Rocco quer você

feliz. Feche seus olhos, Sienna, olhe para o outro lado, mas não o

faça achar que o ama menos por ele ser o chefe da Outfit.

— Eu o amo por tudo. Não é uma ou outra coisa. Ele me faz

bem, mas a morte de Salvatore me tirou o chão. E estou caindo,


Lunna. — Si piscou e eu limpei a lágrima solitária que deslizou pelo

seu rosto.

— Dói, eu sei. Só peço que não deixe a escuridão te engolir

quando você consegue alcançar a luz. O amor de vocês é seu filete

de brilho. Agarre-se a ele e o deixe te curar. Você merece.

— Eu sei. — Ela sorriu. — Amo vocês dois. Obrigada. — Si

me puxou contra seu peito.

— Nós te amamos também. — Fechei os olhos, abraçando-a

de volta

— Remy, hum? — Ela se afastou e sorriu, limpando as


bochechas.

— Você gostou? Eu sou ótima em escolher nomes. Eu te

ajudo quando você engravidar do seu bebê — falei, brincando.


— Obrigada, mas já escolhi. Será Amo ou Alena. — Ela

lambeu os lábios e sorriu em expectativa.

— São nomes italianos. Perfeitos.

— Sim, eu gosto deles desde pequena.

— Nossos filhos serão melhores amigos desde sempre.

— E para sempre.

Nós sorrimos.

— O que eu perdi? — Lake apareceu na porta com uma


bacia com pipoca.

— Nada! Você pode pegar meu celular na cômoda? — pedi,

fazendo biquinho.

— Você vai usar esse truque para que eu fique com Remy?
— Lake questionou enquanto ia pegar meu telefone.

— Você vai ser minha babá número um.

— Soou como uma ameaça, sabe, Lunna. Uma sentença de


morte.

Nós rimos e eu tentei esconder a emoção de ter Lake assim,

conosco. A terapia estava fazendo bem a ela. Seu medo, cautela e


tristeza estavam se dissipando. Sienna e eu já tínhamos falado

sobre isso.

— Vocês viram a russa que virá para Chicago? — Lake

questionou, juntando as pipocas que deixou cair, enquanto Sienna


estava trançando meu cabelo.

— Como assim? — questionei, confusa.

— Um casamento vai acontecer em alguns meses. Entre Iron

e ela.

— Quem diabos é Iron e como você sabe disso tudo? —

perguntou Sienna, meio rindo.

— Iron é primo dos meus irmãos. Enfim, eu ouvi. As paredes


têm ouvidos, sabia? — Ela arqueou a sobrancelha e eu balancei a

cabeça. — Enfim, eu vi uma foto dela no computador de Romeo.

— Por que Romeo teria uma foto dela? — questionei, ficando

tensa.

— Meu Deus, como você é ciumenta.

— Desembuche, espertinha.

— Não sei, mas... quero conhecê-la.


— Por que haverá casamento entre a Outfit e a Bratva?
Estamos em guerra e piorou desde que o irmão de Nikolai tentou
pegar Lunna. — Sienna questionou, me fazendo ficar tensa por um

segundo.

— Não sei! Escutei tudo pela metade. Por que vocês não
buscam informações com seus maridos e me contam a fofoca
completa? — Lake indicou, pegando o último grão de pipoca e o

levando à boca.

Pensei sobre a mulher russa depois que as meninas foram


embora. Não queria questionar Romeo, ainda mais com o envelope

branco diante de nós, mas a curiosidade estava me corroendo.

— Você está nervosa — Romeo murmurou enquanto andava

até o closet apenas de toalha. Sua pele tatuada estava salpicada


com pingos de água e eu mordi meu lábio, desejando lamber cada

uma delas. — Lótus. — Sua voz me fez piscar e eu encarei seu


rosto.

— Por que haverá um casamento entre a gente e a Bratva?


— perguntei de uma vez.

Romeo semicerrou os olhos, talvez se perguntando como eu

poderia saber disso.


— Mikhail estava enviando homens para nosso território.

— Por minha causa?

— Sim. Ele não quer guerra com a Outfit. Ele queria apenas

você.

Um arrepio me atravessou, porém Romeo me tranquilizou


com apenas um olhar.

— Ele teria que passar por mim, Lunna.

— Eu sei. — Acenei, ficando mais tranquila.

— Rocco aprendeu com o Bellucci que casamentos cessam

guerras. — Meu marido se aproximou. — Agora que estamos

querendo a cabeça de Enrico, Rocco sabe que Mikhail quer o


mesmo, então ofertou uma aliança — Romeo explicou.

— Vocês confiam? Eles não criam mulheres submissas como

a Cosa Nostra. Ela pode estar vindo me matar. — Eu me surpreendi


com o quão firmes as minhas palavras saíram.

Romeo pareceu ter a mesma reação, pois ficou alguns


segundos processando isso.

— Se ela chegar a um metro de você, eu cortarei a garganta

dela como fiz com aquele filho da puta. Você é minha única
preocupação. Eu matarei todos que colocarem você em perigo.
Iniciarei guerras por você e queimarei no meio delas sem hesitar. —

Romeo se inclinou, segurando meu queixo. Engoli em seco,


respirando rapidamente. — Vocês dois são minha única prioridade

até o meu último suspiro.

Eu sabia que suas palavras eram o seu jeito de dizer que nos

amava. Toquei seu rosto e o beijei. Romeo retribuiu de maneira

carinhosa, porém suas mãos eram firmes. Eu gemi quando ele me

deitou na cama e cobriu meu corpo com o seu.

Puxei sua toalha e contemplei seu corpo. Seu olhar nublado

me deu uma sensação de poder que nunca tinha experimentado.


Empurrei seu peito, e mesmo com o rosto franzido de confusão, ele

se afastou até ficar de pé. Tirei meu vestido e me ajoelhei diante

dele. Romeo trincou a mandíbula assim que peguei em seu membro

longo e grosso e me inclinei, levando-o aos meus lábios e


deslizando a minha língua por seu cumprimento.

Enquanto o provava, meu marido enfiou a mão em meu


cabelo e segurou em um aperto tão firme que doía, mas também

enviava faíscas doces pelo meu corpo até meu clitóris.

— Porra.
Sorri enquanto o sugava mais forte, e continuei com os olhos

presos nos dele. Quando ele estremeceu, eu me afastei e seu

esperma respigou em meus seios e lábios.

— Você de joelhos e suja com minha porra é a visão da

merda do paraíso.

Sorri e Romeo me ajudou a me erguer. Sua mão espalhou

seu gozo pelo meu corpo e ele enfiou os seus dois dedos em minha

boca. Chupei devagar e ele me virou. Sua mão em minha coluna


pressionou e eu sabia que ele me queria curvada. Ele deslizou para

dentro de mim tão lentamente que meus olhos lacrimejaram de

prazer. Sua mão enrolou em meu pescoço e eu tremi, sentindo o

aperto dos seus dedos. Eu não sabia que gostava do jeito bruto,
mas descobri que amava quando Romeo apertava seus dedos em

meu pescoço enquanto fazíamos amor.

Gozei em duas estocadas e Romeo continuou até me tirar

mais um orgasmo. Desabamos na cama assim que ele gozou dentro

de mim.

— Você é perfeita. — Romeo beijou minha coluna e eu sorri,

virando meu pescoço para olhar seu rosto.


— Eu te amo. — Toquei seu rosto e me aproximei,

descansando meu queixo em seu peito. — Sei que falou que não
quer ver o exame, mas ele chegou — falei de uma vez e peguei o

papel de cima da mesinha. O corpo de Romeo ficou rígido e eu

toquei seu rosto mais uma vez. — Eu não quero que faça isso por
mim. Se pelo menos uma parte pequena de você quer saber, abra e

veja. Por favor.

— Vocês são meus. — Suas palavras saíram firmes, mas


ainda assim enxerguei o desespero por baixo delas.

— Somos e sempre vamos ser, mas não quero que no futuro


você acorde e olhe para Remy se perguntando se ele é seu ou não

— balbuciei devagar e beijei seu peito.

— Ele é meu. Só meu. Nosso — Romeo falou ao se sentar,


então acenei e fiz o mesmo.

— Converse com Rocco — pedi, sorrindo, e passei a mão por


sua barba por fazer.

— Rocco tem seus próprios problemas. — Romeo beijou

minha palma e se ergueu. Ainda nu, ele tirou o papel dos meus
dedos e andou até minha escrivaninha. Ele tirou um isqueiro da

blusa e o acendeu, queimando o papel.


Tampei meus lábios e continuei observando o papel pegar

fogo lentamente.

— Remy é um Trevisan e ele herdará a Outfit — Romeo


murmurou lentamente e se virou, ainda segurando o papel

queimando. — E ele vai queimar a Bratva.

O arrepio que sua frase enviou ao meu corpo me preocupou.

— Não acredito que essa mulher é ela — Lake resmungou ao

meu lado assim que a russa entrou no salão de festas, quatro

semanas depois.

Nika Petrov era linda no mais belo significado da palavra.

Seus cabelos ruivos eram longos e chamativos. Tão lisos quanto o

meu quando eu fazia chapinha. Corpo esguio, poucas curvas, mas


os seios de uma atriz pornô, sem dúvidas. Eu tinha seios normais,

mas os dela pareciam silicone de tão grandes.

— Quero esses peitos — Sienna disse ao meu lado e eu ri,

porém escondi quando vi os olhos de Romeo presos em mim.

— Romeo parece um segurança em alerta.

— Ele é protetor — murmurei, sem querer contar sobre o

medo que eu e meu marido compartilhávamos.


— Rocco é protetor, Romeo é possessivo.

— Rocco é o possessivo — eu retruquei rápido e Sienna

começou a rir.

— O que vocês tanto falam? — Prince se aproximou devagar


e tocou o ombro de Lake. Ela sorriu e falou a ele. —

Impressionantes. — Prince mordeu o lábio e Sienna deu um tapa

em seu braço, fazendo-o rir.

— Ela está vindo — Sienna avisou.

Ergui os olhos e a vi se aproximar com um homem alto,


musculoso e assustador. Iron era tão assustador quanto Rocco.

— Romeo — Iron cumprimentou meu marido e eu o vi logo


atrás de mim. — Senhoras. Essa é minha noiva, Nika.

— É um prazer, Nika. — Sienna sorriu do seu jeito simpática,

e eu fiz o mesmo.

— Seja bem-vinda — falei.

Eu a vi dar um passo em minha direção. Romeo me puxou e

a moça de olhos escuros piscou, assustada com o gesto brusco.

— Não a toque. — Seu tom cortante fez Nika dar um passo


para trás.
— Eu não a machucaria — sua voz saiu baixa.

Iron segurou a cintura dela, deixando-a rígida, então olhou

para ela sem expressar qualquer sentimento.

— Precisamos cumprimentar outras pessoas — ele disse

enquanto se afastavam.

— Meu Deus, que esquisito — Lake disse.

Respirei fundo enquanto Romeo continuava me segurando,


então beijei seu pescoço.

— Está tudo bem. — Eu o tranquilizei baixinho, porém ele

não relaxou.

— Estará em breve.
— Vocês têm medo dela? — Iron perguntou assim que deixei
Lunna na mesa com Prince e Matteo, e viemos a uma sala privada
do hotel de luxo.

— Que merda está falando? — Rocco perguntou e levou um

dos cigarros à boca.

Eu pensei que ele tivesse parado, mas meu irmão era


imprevisível.

— Romeo agiu como um diabo protetor quando Nika tentou


tocar a esposa dele — Iron explicou como se eu não estivesse na

merda da sala.
— Você confiaria, porra? — perguntei, semicerrando os

olhos.

— Não dou a mínima. Por que diabos a trouxeram se não

confiam nela?

— Eu preciso explicar a merda a cada vez, porra? — Rocco

gritou ao se virar e olhou com fúria para Iron. — A mulher é bonita,

você vai tê-la esquentando seu pau toda noite e vai te dar filhos.
Qual é a merda do problema? — Ele se aproximou perigosamente.

Eu só respirei fundo ao me afastar.

— Nada. Só fiquei confuso. — Iron se afastou também.

— Você se casa em uma semana. Fique com sua noiva. —


Rocco tragou o cigarro mais uma vez, acenando.

Iron saiu da sala e eu encarei meu irmão.

— E aí? Nika não pode se aproximar da cristal? — meu irmão


zombou e eu semicerrei os olhos.

— Que merda está acontecendo com você? — perguntei,

furioso. Rocco olhou para a porta e eu segui seu olhar, encontrando

Sienna sentada à mesa com Lunna. As duas sorriam. — Ela está

bem.
— Os problemas de sempre. Só isso — Rocco disse,
respirando fundo e se afastando.

Nós fomos até nossas mulheres juntos. Me sentei ao lado de

Lótus e ela sorriu, tocando minha perna. Sua barriga estava maior e

era incrível ver suas curvas todo dia ao acordar.

— Podemos ir? — Lunna perguntou assim que bocejou.

— Sim — falei suspirando e me ergui. Estava ajudando

Lunna a se levantar quando o celular de Rocco tocou. Seu rosto

ficou escuro com o que quer que a pessoa na linha falou e todos

nós o observamos.

— Eu vou cortar seu pau e enfiar na sua boca, seu filho da


puta desgraçado — meu irmão falou enquanto se erguia.

Eu me aproximei no exato momento em que a chamada foi

encerrada e Rocco me encarou.

— O que aconteceu? — perguntei, com pressa.

— Carmelo fugiu.

— O quê? — gritei no meio do salão segundos antes de

Lunna agarrar o meu braço. Meu corpo ficou rígido e eu me virei,

olhando para ela. — Lunna...


— Você não o matou? — Sua voz estremeceu e seu corpo se

encolheu.

Antes que eu pudesse falar algo, meu irmão rosnou.

— Estávamos torturando por informações da famiglia.


Mataríamos após isso. — Rocco olhou dela para mim, mas Lunna
continuou me encarando. — Estou cansado disso. Vocês duas

nasceram nessa merda, parem de estremecer cada vez que


dizemos tortura, morte e o caralho. Nós fazemos isso. É o que

somos. Já deveriam ter chegado aqui sabendo disso ou pelo menos


terem se acostumado.

— Rocco. — Sienna arregalou os olhos e meu irmão não a


encarou, apenas olhou para a porta.

— Eu ouvi sua conversa com Lunna semanas atrás. — Ele

enfim observou sua esposa. — Você não desligou nossa ligação e


eu ouvi cada palavra.

— Rocco, me deixe falar.

— Não precisa. Eu dei chances ao seu irmão por sua causa.


Por mim, eu o teria matado na primeira vez que ele pisou na minha

cidade. Mas não, eu te ouvi e deixei aquele filho da puta ir embora.


— Rocco riu, recordando-se. — Mas eu já aprendi, Passarinha. Na
próxima vez que alguém me trair, eu só vou meter uma bala na

testa, sem chance de explicação. Nem por você nem por ninguém.

Rocco se afastou e acenou para nossos soldados. Todos


começaram a se movimentar e eu fiz o mesmo.

— Leve as três para casa — ordenei a Matteo e a Prince.

Lunna me olhava esperando por algo, mas eu saí sem me


despedir.

Rocco andou pelo lugar onde dois homens estavam mortos


no chão. Ele socou a parede até sua mão sangrar, e por pouco eu

não fiz o mesmo.

— Lake.

— E Lunna.

— Ele sabe que Lunna está grávida. Alguém falou isso aqui

dentro e ele ouviu. Eu não acho que ele a queira ainda — Rocco
falou devagar enquanto puxava uma garrafa de uísque da prateleira

do bar do Village.

— Como ele saiu daqui? — perguntei, apertando meu punho.


— Nós o subestimamos. Deixamos dois homens com ele.
Aquele filho da puta é esperto.

Rocco virou a garrafa na boca e engoliu uma grande


quantidade enquanto o sangue pingava das suas juntas.

— Enrico deve saber de algo...

— Enrico possivelmente o ajudou. Salvatore foi enviado


morto a ele. — Meu irmão deu de ombros e engoliu mais bebida.

— Você quer falar...

— Se eu precisar conversar, eu marco consulta com a

terapeuta da Lake.

Ignorei sua resposta brusca.

— Ele saiu daqui ferido. Não tentará pegar Lake tão cedo —

murmurei, bagunçando meu cabelo.

Caminhei até a janela, olhei para fora e vi as pessoas


andando lá embaixo despreocupadamente.

— Lunna vai superar.

— Eu não disse a ela que não o tinha matado. Eu menti —


falei ainda de costas antes de ouvir Rocco se erguer.

— Esconder não é mentir.


— Dá no mesmo.

Ele parou ao meu lado e olhou para a rua. Seus homens

estavam por aí, caçando Carmelo. Eu esperava que o filho da puta


fosse pego, porque aí sim eu enfiaria uma bala na cara dele no

primeiro segundo.

No dia seguinte eu fui para casa quando ficou claro que não
encontraríamos Carmelo. Lunna estava na cama, deitada de lado,

mal coberta e tão bonita que deveria ser considerado crime em

Chicago.

Ela se mexeu quando me deitei na cama, quase que

instintivamente ela se aproximou e se aconchegou contra mim.

Segurei sua cintura e acariciei sua barriga.

Acabei dormindo assim, e quando acordei Lunna estava

longe de ser vista.

Desci a escada depois de tomar banho e fui diretamente para

a cozinha. Ela estava sorrindo com Morgana enquanto comia ovos e

bacon.

— Bom dia — murmurei ao parar na entrada, deixando

ambas rígidas.
— Bom dia, senhor. — Morgana se moveu, indo para a sala

reservada.

Eu me aproximei de Lunna e me sentei ao seu lado.

— E aí, vamos brigar ou o quê? — perguntei de uma vez.

Lunna arregalou os olhos e se virou.

— O que...

— Eu vou matar seu pai, Lunna. Não se preocupe.

— Que horrível, Romeo.

— O quê?

— O jeito que falou! — ela afirmou, chocada.

— Ele fugiu sozinho. Seu pai é mais esperto do que parece

— murmurei devagar e segurei sua coxa, puxando-a para mim. —

Como estão? — perguntei, tocando sua barriga.

Lunna parecia amar cada vez que eu me aproximava e fazia

isso.

— Estamos bem. — Sua voz suavizou e ela sorriu. — Não


estou tão enjoada. Continuo, é claro, mas diminuiu.

— Que bom. — Me inclinei e beijei seu ombro.

— Um dia poderemos viajar?


— Como assim?

— Sabe, ir para outro país. — Lunna mordeu o lábio e eu o

capturei com meu dedo.

— Qual?

— Eu gostaria de conhecer vários, mas a França está no

topo. — Minha esposa sorriu e eu beijei sua boca devagar.

— Vou levá-la assim que Remy nascer. Bom? — perguntei,


mordendo seu queixo.

Lunna suspirou e acenou rapidamente.

— Quero voltar para o quarto. — Sua voz doce e manhosa

fez meu pau se contorcer dentro da minha calça.

— Segure-se em mim, Lótus.

Lunna sorriu e fez o que pedi. Me ergui e andei com ela até a
escada. Sua boca deslizou pelo meu pescoço e ela mordeu minha

pele, me fazendo apertar sua bunda.

— Rápido e forte ou lento? — perguntei assim que passamos


pela porta do nosso quarto.

Lunna suspirou ao se afastar e me encarou.

— Os dois.
Eu sorri ao ver suas bochechas pegando fogo e a beijei.

— Você está bem? — Minha voz a fez erguer a cabeça e me


encarar.

— Acho que sim. — Lake forçou um sorriso que não me


convenceu.

— Não deixaremos ninguém tocar em você.

— Eu sei. — Ela correu para afirmar enquanto eu caminhava

até chegar à janela do seu quarto.

— Rocco e eu decidimos deixar você ir para a escola. Último


ano e essa baboseira do ensino médio.

— Oh meu Deus, sério? — Lake gritou enquanto se


levantava.

— Foi antes disso, Lake.

Seu sorriso enorme deslizou e a tristeza que estampou suas

feições me deixou inquieto.

— Eu entendo — minha irmã disse, engolindo em seco. —

Vocês querem me manter a salva.


— Também. — Acenei devagar e vi quando Rocco apareceu

na porta. — Mas manter os outros também.

— Eu sei, ele poderia tentar algo que machucaria...

— De você — falei de uma vez e Lake ficou rígida. Minha

irmãzinha, a menina de cabelos escuros e olhos azuis. Nossa


princesa.

— Romeo.

— Nós sabemos — Rocco murmurou e se aproximou

devagar.

Lake começou a tremer sutilmente.

Tão pequena, indefesa.

Era o que pensávamos.

— Não sei do que estão falando — ela murmurou, movendo


seu olhar de mim para Rocco, se recompondo rapidamente.

— Por quê? — Rocco e eu questionamos ao mesmo tempo.

Lake deu passos para trás até atingir a mesa.

— Não fiz nada! — Ela tampou os ouvidos, gritando.

— Diga o motivo — Rocco exigiu e eu encarei minha irmã de

quinze anos como se não a conhecesse.


— Por favor. — Ela choramingou, se encolhendo.

— Fale, Lake.

— Ele ia tirá-la daqui. Eu vi. — Lake se sentou contra a porta

do banheiro e Rocco e eu ficamos parados. — Ele a levaria de novo.


Eu sabia.

— Lake.

— Eu o vi com Lunna. O jeito que a olhava. — Lake abraçou

suas pernas e olhou para o chão. — Eu vi. Dessa vez, ele levaria as

duas.

— Lake.

— Eu o matei. — Sua voz ficou fraca e ela olhou para as

mãos. — Ela vai me odiar.

— Como fez isso? Como matou Salvatore? — Rocco


questionou, completamente tenso.

Lake fungou e limpou o rosto.

— Giulio me levou até o Village quando eu tive uma crise de

pânico. Ele me levou para um dos quartos e me ajudou. Alguém o

chamou, e para não me deixar sozinha ele me levou. — Seus olhos


estavam perdidos. — Quando vi Salvatore, eu peguei a arma que

Giulio tinha deixado na mesa e atirei. Foi tão rápido. Eu não


consegui falar nada. Giulio tentou tomar a arma e ela acionou sem
eu querer.

— Você...

— Giulio ainda está em coma? — Lake perguntou, chorando.

— Como? Você é... meu Deus... — Rocco a olhou, sem


acreditar.

— Sabe o que eu daria para não ter sangue de ninguém em


minhas mãos, Lake? —gritei em sua direção. Ela me encarou ao se

encolher. — Você não é indefesa. Meu Deus, você o matou. O irmão

da sua melhor amiga!

— Eu não queria que ele levasse Sienna e Lunna...

— Rocco tinha dito que o mataria! — berrei, furioso.

— Mas ele não o faria! Você sabe disso. Quando o assunto é


Sienna, Rocco fica fraco. — Lake não esperava, muito menos eu,
mas o tapa que Rocco deu nela me fez arregalar os olhos.

— Não me culpe por sua decisão de matar outra pessoa. —

A áurea negra de Rocco alcançou um novo nível enquanto ele se


inclinava para Lake, que estava de olhos arregalados segurando a

bochecha.

— Saiam — ela ordenou ao virar o rosto.


— Você está de castigo, sem tempo previsto para acabar —
Rocco disse enquanto eu o afastava dela.

— O que vai tirar de mim, Rocco? — ela gritou de volta,


orgulhosa.

— Prince. — Sua resposta fez Lake arregalar os olhos e se


erguer.

— Não, não faça isso!

— Cuidado com suas palavras na próxima vez.

Rocco deu as costas a ela e nós saímos do quarto. Ele


desabou ainda no andar de Lake e socou a parede diversas vezes,
gritando.

— Ela... ela matou.

— Eu sei. Não consigo acreditar.

Rocco me enviou imagens do sistema de segurança do


Village, e ver Lake saindo dos corredores segundos depois de tiros

terem soado me fez duvidar. Duvidei de tudo e cada coisa. Porém,


quando Giulio acordou hoje e escreveu o nome dela quando
perguntamos foi o suficiente.

— Sienna nunca vai perdoá-la. Nunca. — Rocco descansou a


cabeça contra a parede e eu o puxei para a escada.
— Essa decisão é sua. Lunna está grávida, eu não vou
contar a ela.

Meu irmão esfregou o rosto e nós descemos até o térreo.

— Matteo está chamando. Tem treinamento hoje, vocês


esqueceram? — Prince apareceu diante de nós.

— Estamos indo. Vamos. — Rocco acenou para fora e nosso

irmão deu um passo para a escada.

— Vou apenas me despedir da Lake.

— Não. Ela está dormindo. — Eu o parei ao mentir.

— Ok. Vamos. — Ele acenou e deu de ombros.


O celular entre meus dedos ficou me testando. O nome do
Mariano me deixou nervosa, porém optei por começar a chamada.
Chamou duas vezes e o silêncio foi minha única resposta.

— Eu errei aquele dia. Eu não deveria ter feito aquele pedido.

Eu amo você. Realmente amo. E fui mesquinha e terrível ao brincar

com seus sentimentos daquela maneira.

Sua respiração sobressaiu enquanto eu caminhava até a

janela, engolindo em seco.

— Eu só queria me desculpar. Você pode ficar em silêncio.

Tudo bem. Eu apenas queria tirar isso do meu peito, porque eu

estava sufocando...
— Ele aceitou seu filho.

— Ele me ama. Eu o amo. Sempre amei.

— Tudo bem. Realmente. — Mari suspirou.

Então me lembrei das mensagens que recebi tempos atrás.

— Você estava me enviando mensagens? — questionei,


mordendo o lábio.

— Como soube que era eu? — Mariano sorriu na linha.

— Eu só deixei uma pessoa que se importaria comigo o

suficiente. Obrigada por elas.

— Eu teria tido alguma chance? Se ele nunca tivesse


aparecido? — Sua pergunta crua me pegou desprevenida.

Olhei para o lago ainda congelado e fechei meus olhos.

— Eu não sei, mas gostaria de pensar que sim. Você é um


homem incrível, Mariano. Merece ser amado.

— Seja feliz, Lunna.

— Você também, Mari.

Afastei o celular da orelha e o apertei contra meu peito. Meus

olhos estavam úmidos e eu desejei não ter magoado o Mari. Ele

sempre foi incrível comigo. Ele merecia mais de mim.


— Quem é Mariano? O que você pediu a ele?

A voz de Romeo me fez virar. Ele estava parado próximo à

porta, vestido em um terno preto e apoiado na parede. Seu

semblante era sério.

— Mariano é um dos capos da Cosa Nostra. Cresci com ele

— expliquei e me virei de vez. Romeo semicerrou os olhos. — Ele


me pediu em casamento enquanto éramos noivos.

— Como é?

— Sim. Eu pedi que ele não levasse o pedido ao meu pai,

temendo que ele desfizesse o acordo com o seu. O pai de Mariano

era um grande amigo, então ele o faria, eu não tinha dúvidas.


Mariano respeitou a minha decisão.

Engoli em seco ao ver o olhar sério de Romeo preso ao meu.

— Quando você disse que me enviaria para a Rússia, eu

liguei para o Mari.

— O que você pediu a ele, Lunna? — Sua pergunta saiu

como um rosnado.

E eu entendia. Realmente entendia.

— Que ele me aceitasse em Nova York. Que casasse

comigo. — Minhas palavras fizeram Romeo dar um passo para mim


e parar. — Que cuidasse do nosso filho como dele.

— Por que você faria algo assim? — ele questionou, inquieto.

Eu sabia que ele estava com raiva. Seus olhos escureceram e seus

punhos estavam fechados. — Você estava com medo.

Ele respondeu antes de mim e eu acenei, mordendo o lábio


para parar minhas lágrimas.

— Eu não voltaria para a Rússia. Nunca. Mari é um homem

bom e honrado. Ele amaria a mim e ao bebê. Cuidaria de nós...

— Não me perdoarei por fazer você chegar a essa decisão.


Eu deveria ter cuidado de você desde o primeiro momento. —
Romeo soou torturado.

Meus ombros cederam, relaxando.

— Eu só quero esquecer tudo isso. — Eu me virei para a

janela e toquei minha barriga. — Quero Remy e você bem. Quero


que sejamos uma família feliz. Eu vou passar por cima de todos que
se opuserem a isso.

Senti suas mãos em mim e relaxei em seu peito.

— Remy e eu cuidaremos de você, Lótus.

Eu era tão feliz por isso.


SEMANAS DEPOIS...
Algo estava errado.

Fazia algumas horas que cólicas estavam me atormentando,


e mesmo que Amanda tivesse dito que era normal, há alguns dias

na minha consulta, eu estava com medo.

— Quero ir ao hospital — falei assim que Romeo me


atendeu.

— O que houve? — Sua preocupação me fez morder o lábio.

— Estou com muita cólica.

— A médica disse que é normal. — Ele respirou aliviado.

— Eu sei — ouvi barulho ao fundo —, mas estou preocupada


— falei devagar enquanto descia a escada com a bolsa no ombro.

— Eu volto logo.

— Os seguranças vão com você — ele falou rapidamente.

— Você não pode me encontrar lá?

— Posso, eu posso. Cuidado — Romeo disse antes de

desligar.

Um dos soldados abriu a porta para mim e eu entrei no carro


e suspirei ao sentir uma dor aguda. Não levou muito tempo para que
chegássemos ao hospital. Amanda me recebeu com um sorriso e eu
contei o que estava acontecendo.

— Eu pensei que pudesse ser algo ruim — falei para Romeo


assim que Amanda fez um ultrassom e viu que Remy estava bem.

— Não é nada ruim. Remy está esticando seu útero. As

cólicas são normais. Nem todas sentem com a intensidade que


você, mas ainda assim, são normais — Amanda avisou, sem

encarar Romeo.

Nós saímos do hospital e mordi meu lábio ao ver um rosto

conhecido do outro lado da rua. Katalyna. Romeo me guiou até o

carro e nem mesmo a viu, e eu percebi que ela também não nos viu.

— Você está bem? — meu marido questionou quando me

sentei ao seu lado.

— Sim. — Engoli em seco e segurei seus dedos. — Você viu

ou ouviu falar de Katalyna recentemente? — perguntei de uma vez,

não querendo alimentar a desconfiança dentro de mim.

Romeo me encarou por um segundo e o tempo que levou foi

suficiente para me deixar apreensiva.

— Ouvi dizer que ela voltou à cidade. Isso não é da minha

conta. Eu não ligo se ela está aqui ou em Nova York. — Suas


palavras se assentaram dentro de mim e eu encarei minha barriga

redonda. — Lótus.

— Eu sei. Tudo bem — falei rápido e olhei para seu rosto. —

Não é nada. Eu só a vi do outro lado da rua. — Mordi meu lábio


quando ele suspirou e tocou minha bochecha.

— Se ela está na cidade, talvez a veja outras vezes. Porém,

Katalyna não é problema nosso — Romeo afirmou enquanto dirigia


para a nossa casa.

Acenei e segurei a sua mão.

Romeo me deixou na cama com remédios e uma bolsa

térmica, e depois foi trabalhar mais uma vez.

Sienna apareceu à tarde e ela fez pipoca para a gente.

— Onde está Lake? — questionei, tentando tirar um pedaço


de pipoca que estava preso no meu dente.

— Não sei. Rocco disse que ela não estava em casa quando

liguei atrás dela. Fui ao seu quarto, mas ela não estava lá — Si
respondeu e sentou me encarando. — Nika.

— O que tem ela? — questionei, franzindo as sobrancelhas.

— Faz uma semana que ela está aqui. Ela deve estar se

sentindo sozinha.
— Você e sua mania de querer salvar todo mundo — eu

disse e ri, mas Sienna continuou séria. — O que quer fazer? Ela

está morando no centro enquanto não chega o dia do casamento.

— Eu consegui o número de Iron com Prince — ela explicou

e eu arqueei as sobrancelhas. — Vou ligar para ele e pedir para

falar com ela.

— Rocco vai cortar suas mãos. — Eu ri ao ver sua careta.

— É sério.

— Pare, Sienna. Eu sinto que Romeo está tenso, com

certeza algo está acontecendo. — falei séria e minha amiga mordeu


a unha. — Nós a veremos em uma semana no casamento. Lá você

pode falar com ela.

— Você está certa. — Sienna caiu de volta na cama, me


fazendo rir da sua careta ainda mais aprofundada.

Nós ficamos à tarde juntas, à noite Rocco apareceu buscá-la.

No dia do casamento de Iron e Nika, eu realmente senti que

algo estava errado. Lake não falou comigo durante a semana e nem
com Sienna. Prince parecia estar com ódio a maior parte do tempo,

e os irmãos Trevisan mais velhos estavam por um fio.


— Você pode conversar comigo? — pedi a Romeo enquanto

andávamos para a entrada da igreja decorada. Era linda.

— O que, Lótus? — Ele se virou e sorriu ao me encarar.

— Por que me chama assim? — perguntei, lembrando que

nunca fiz essa pergunta.

— Seus olhos.

— O que tem?

— Eles têm o mesmo tom de azul da flor de Lótus. E...

— E o quê — perguntei, ansiosa.

Romeo sorriu e me puxou até um lugar reservado da igreja.

Tão lindo, tão meu.

— A lótus azul é um alucinógeno. Ela é capaz de despertar

euforia e prazer. — Romeo tocou minha boca pintada com vermelho

e me olhou enquanto lambia os lábios. — Exatamente como você.

Sua boca desceu sobre a minha e eu gemi contra seu corpo,

porém, ao perceber onde nós dois estávamos me afastei.

— Não podemos — murmurei, tremendo.

— Foder na igreja não pode, Lótus? — Romeo riu e lambeu o

meu pescoço.
— Não! Não fale isso aqui dentro — falei, arregalando os

olhos.

— Caralho, quando eu acho que você não pode me envolver


mais ainda no seu dedinho, você vai e me faz pensar em você

deitada no altar, nua e pronta para mim.

— Romeo! — Bati em seu peito, vermelha dos pés à cabeça.

— Vamos, Lótus. — Ele riu enquanto se afastava.

Romeu continuou rindo, e cada vez que eu olhava para o

altar, suas palavras ganhavam imagem em minha cabeça.

— Onde está Lake? — perguntei assim que nos sentamos

em nossos lugares.

— Ela viajou.

— O quê? — perguntei, arregalando os olhos.

— Colégio interno — ele respondeu calmamente enquanto

acenava.

— Por quê? — questionei, completamente confusa.

— Ela decidiu assim. — Romeo respirou fundo. — Assim que

ela se acomodar irá ligar para você e Sienna. — Romeo tirou o


celular do bolso interno do terno enquanto eu continuava o

encarando.

— Você não está mentindo para mim, certo?

— É óbvio que não!

— Carmelo a roubou? — Meus batimentos aumentaram.

— Lótus, não. — Romeo balançou a cabeça. — Lake está

bem em um colégio interno com uma segurança absurda. Eu juro.

— Suas palavras me fizeram acenar.

— Me desculpe. — Suspirei, relaxando.

— Não se desculpe. Com ninguém.

— Tá.

Quando Nika entrou, todo mundo percebeu o quão linda ela


estava. Cabelos vermelhos sob o véu, olhos escuros esfumados e o

vestido tão lindo quanto impecável.

Suspirei ao ver Iron segurar sua mão. Eles se ajoelharam e o

padre começou a falar. Quando ambos aceitaram o casamento,

senti os olhos de Romeo em mim. Ele apertou meus dedos e

continuou me observando quando nos erguemos e vimos o casal se


beijar castamente. Nika olhou para todos e o vazio em seus olhos

acertou meu coração.


Procurei Sienna ao redor e a encontrei na fileira da frente.
Seu rosto era tomado por lembranças e eu sabia que estava

relembrando seu próprio casamento. Rodeada de estranhos e o

medo do futuro desconhecido.

— Você está triste? — Romeo trouxe minha atenção de volta.

Eu abri a boca para negar. — É pela festa que não aconteceu? Me


refiro a nossa festa de casamento...

— Romeo...

— Podemos fazer uma. Se isso a fizer feliz, Lótus.

Suas palavras me fizeram o amar ainda mais. Não por elas


realmente, mas pelo gesto. Romeo pensar em fazer uma festa

apenas para me alegrar me deixava imensamente feliz.

— Não preciso de uma festa. Eu tenho tudo que me faz feliz.


Você e Remy.

Romeo acenou, levando meus dedos à boca. Rapidamente

seu gesto se foi. Eu entendia. Romeo era o consigliere de Rocco.


Eles deveriam manter a postura entre as pessoas. Isso incluía,
claro, não demonstrar afeto.

Assim que chegamos à festa, Romeo me guiou até os noivos.


Nika tentou sorrir, mas se manteve distante. Eu a entendia. Meu
marido a havia assustado da última vez.

— Parabéns. Você está linda — murmurei calmamente. Ela


sorriu, olhando entre mim e Romeo. — Gostaria de me descul...

— Parabéns a vocês. Precisamos ir — Romeo me cortou

abruptamente.

Eu o encarei, confusa. Ele me guiou para a nossa mesa


completamente tenso.

— O que houve? — questionei ao ver seus irmãos reunidos,

menos Rocco.

— Precisamos sair. Onde está Rocco? — Romeo questionou


a Sienna enquanto Matteo e Prince se ergueram devagar. Matteo

segurou o braço de Sienna de maneira imperceptível e a fez se


levantar.

— O que está acontecendo? — perguntei mais uma vez e

Romeo me encarou.

— Matteo vai tirar você daqui com Sienna. — Suas palavras


me deixaram em alerta. Romeo só me afastaria se fosse algo

perigoso. — Não faça perguntas.

Acenei mesmo querendo muito fazer dezenas delas.

— Quem? — Prince perguntou, encarando meu marido.


— A russa. Ela vai explodir essa merda pelos ares. Onde
está Rocco, porra? — Romeo me puxou junto com Matteo. Sienna
veio atrás, olhando sobre o ombro à procura de Rocco.

— Eu não vou sair daqui sem ele — ela afirmou assim que
chegamos à saída.

— Sienna...

— Olhe para mim, Romeo, e diga se sairia daqui sem Lunna.

Romeo engoliu em seco e acenou para algumas pessoas que


passaram. Eu girei lentamente e vi Nika olhando diretamente para
nós. Ela semicerrou os olhos e olhou ao redor. Rocco saiu de uma

porta no momento exato. Romeo me puxou rápido, mas não o


bastante para não ouvir a explosão. Cai com Romeo metros longe
da festa. Senti minha barriga doer, meus ouvidos zumbirem e o eco

dos gritos.

A escuridão estava à espreita enquanto eu abria a boca e


gritava com as forças que me restavam por ele. Por meu Romeo.

— Romeo! — Minha voz estava distante, rouca e dolorida.

Seu rosto entrou em minha visão, fazendo com que eu


sentisse meu corpo se render à dor e à escuridão.

*
Meus olhos demoraram a abrir. Eu podia ouvir passos e a
mudança de clima. Estava tão frio. O barulho da bomba entrou em

minha mente e eu me recordei de tudo. Meu instinto gritou e minhas


mãos voaram para a minha barriga.

— Remy. — A dor aguda no acesso venoso em meu braço

não se comparou com a da garganta.

— Ei, Lótus. — Romeo apareceu ao meu lado.

Meus olhos voaram para a minha barriga. O chute pequeno


me fez relaxar e soltar uma lufada de ar pelos lábios.

— Estamos bem? — perguntei, abraçando Romeo. Olhei ao


redor e vi que eu estava em casa e não no hospital, como imaginei.

— Sim, tudo bem. — Suas mãos tocaram meu rosto e seus

lábios se encostaram nos meus.

Quando ele se afastou, encarei seus olhos. O vazio neles me


sacudiu.

— O que houve? O que Nika fez?

— Ela tinha explosivos presos ao corpo. O cheiro me alertou


quando nos aproximamos. — Romeo encostou a cabeça na minha.
— Ela se explodiu, Lunna.

— O quê?
— Foi uma emboscada. Usaram o casamento para juntar

todos os membros da Outfit. — Romeo desviou os olhos dos meus e


encarou a janela. Toquei seu braço, preocupada. — Fomos
imprudentes. Pensávamos que o caso de Sienna se repetiria, mas a

Bratva não é a Cosa Nostra.

— Mas não estávamos em paz com a Bratva? — A


ingenuidade em minha voz fez Romeo suspirar. — Eles nos

enganaram.

— Eles estão retalhando a morte de Nikolai. Estamos em


guerra, Lunna.

Romeo se ergueu e andou até a janela. Sua respiração era

relaxada, mas seu corpo ainda estava tão tenso quanto antes.

— O que há de errado?

Romeo se virou e se sentou em nossa poltrona. Suas mãos

subiram para o seu cabelo e ele ficou em silêncio. Eu soube o que


havia acontecido no mesmo instante. Só vi Romeo assim uma vez.

E era por Rocco.

— Rocco está bem?

— Eu não sei. Não o acharam nos escombros ainda. — O


desespero de suas palavras fez meus olhos se encherem de
lágrimas.

Desci da cama devagar e me sentei em seu colo, segurando


seu rosto. Romeo me deixou ver seus olhos azuis nublados e eu

implorei a mim mesma para ser forte. Forte pelo homem que eu
amava.

— Se ele estiver...

— Você sabe que ele está bem. Rocco é presunçoso demais

para morrer assim. Dê algum crédito ao seu irmão. — Minha voz


soou mais calma do que eu me sentia por dentro.

— Você e Remy precisam de mim.

— Somos sua fortaleza, Romeo. Eu jamais deixarei você cair.

— Eu me sinto caindo, Lunna.

— Eu vou segurar você.

Não importava o que acontecesse. Romeo era minha vida e


eu lutaria por ele contra ele próprio mais uma vez. Porém, agora, eu

tinha seu amor. Eu sabia que venceria qualquer batalha.

FIM
DEVOÇÃO DISTORCIDA

Diversas vezes me questionei se o amor era para sempre. Se


o que eu sentia por cada pessoa na minha vida sumiria ao longo do
tempo. Não sumia. Ele só se multiplicava. Consumia cada

pensamento e cada decisão que eu tomava. O amor estava nesse

momento irradiando de mim enquanto eu assinava papéis.

— Você precisa ser forte — Lunna pediu enquanto eu sentia

lágrimas querendo vir à tona. Felizmente, depois da morte de


Salvatore, eu conseguia escondê-las rapidamente.

— Eu sei. Está tudo bem. — Respirei fundo e me sentei ao

seu lado. Meu vestido preto estava alinhado, todos ao redor


pareciam intactos, menos o meu coração.

Lake havia sido enviada a um internato e eu nem sabia o

motivo. O que a levou a tal decisão? Ela não ligava, não respondia

meus recados ou mensagens. Hoje, apenas papéis do colégio


chegaram para que um responsável assinasse. Eu sentia que

estava sozinha mesmo estando rodeada dos irmãos Trevisan.

Prince estava próximo à janela de vidro, olhando de cima a


baixo. Eu estava preocupada com ele mais que todos. Prince e Lake

tinham uma ligação forte, mas agora estavam separados.

Apenas ela e Rocco não estavam nessa sala.

Fazia uma semana que procurávamos nos escombros do

hotel onde a festa de casamento daquela rata imunda aconteceu.


Olhando para trás, eu deveria saber que algo estava errado. Porém,

a minha bondade cega me fez de tola.

— Ele... — Matteo começou a falar do sofá onde estava

sentado, mas suas palavras cessaram.

Ele está bem.

Era metódico e incontável quantas pessoas se aproximaram

e me disseram isso. Eu queria me apegar a essa afirmação, mas eu

sabia que era impossível.


Romeo entrou pela porta da mansão como um furacão e eu
me ergui. Meu peito trovejando e implorando pela única notícia que

eu queria receber.

— Eles o acharam, Sienna.

Meus joelhos fraquejaram assim que as palavras dele

chegaram aos meus ouvidos.

— Estamos trazendo-o para cá. Ele está bastante ferido, mas

respirando.

— O hospital...

— Rocco não pode ir a um hospital comum. Nós dois


sabemos disso — Romeo disse rápido e eu abri minha boca para

retrucar, mas ele balançou a cabeça. — Temos os melhores

médicos. Você acha que se aqui fosse um lugar perigoso para o

meu irmão eu o traria?

— Você está certo. Sienna está preocupada com o marido.

Apenas isso. — Lunna tocou minhas costas.

— Vamos. — Eu andei em direção a Romeo quando ele

chamou. Matteo, Lunna e Prince nos seguiram.

Assim que entramos nas instalações do prédio, minutos mais

tarde, eu me sentei em uma das cadeiras. O prédio ficava a alguns


quilômetros dentro da propriedade, por isso viemos de carro. Todos

estavam em alerta, várias e várias pessoas entrando e saindo. Pelo


que eu sabia, aqui era o hospital da Outfit. Todos os feridos no

casamento ainda estavam aqui.

— É ele — Prince murmurou.

Eu me ergui e vi várias pessoas.

O corpo grande, musculoso e intimidante que eu conhecia

estava imóvel em cima de uma maca. Dois profissionais


empurravam o objeto enquanto dezenas de soldados estavam ao
seu redor.

Me aproximei rapidamente e logo os homens abriram espaço

para mim. Minhas mãos tremiam quando toquei seu peito. Sua pele
estava coberta de poeira, os ferimentos estavam por toda parte. Eu

desejei cuidar dele sozinha

— Precisamos examiná-lo — uma voz disse alto o bastante

para ser ouvida.

Senti mãos segurarem meus ombros e fui puxada para longe


do meu marido.

— Eu quero ficar com ele. — Me virei e encarei Romeo, que


acenou.
— Você vai. Calma.

Eu queria mandá-lo se foder com calma, mas não o fiz. Por

respeito, mas também, porque eu entendia. Rocco precisava de


profissionais cuidando dele.

Romeo me guiou com toda a família até um dos quartos e


nós esperamos por Rocco. Eu andei de um lado para o outro não

sei por quanto tempo. Quando ele chegou ao quarto reservado para
ele, seus olhos já estavam abertos.

— Passarinha — ele me chamou com a voz ainda mais

grossa do que eu me lembrava.

Me aproximei rapidamente e segurei sua mão.

— Ei, amor — murmurei, tentando sorrir, mas minhas

lágrimas pingaram em cima da sua pele.

— Você está bem. — Sua mão segurou a minha bochecha e


seus olhos azuis se fixaram nos meus. Eles me desnudaram em
segundos. Rocco Trevisan era a única pessoa no mundo capaz

desse feito.

— Estou. — Balancei a cabeça afirmando, enquanto ele


limpava minhas lágrimas. — Eu preciso que você fique bem agora.

— Eu estou bem, Passarinha. Nunca estive melhor.


Suas palavras me deixaram confusa. Rocco tentou se sentar,
mas era nítido que estava fraco demais para isso. Matteo se
aproximou e o ajudou a ficar ereto. Deu para ver em seu rosto que

ele odiou isso.

Rocco respirou fundo e apoiou as mãos na cama, nas laterais


das suas pernas.

— Eu vou matar Mikhail Isayev e todos que ficarem no


caminho até ele.

O arrepio que deslizou pelo meu corpo me deixou

preocupada, porém, o olhar de Rocco foi o estopim.

O ódio dentro da sua íris me levou ao inferno.

Onde ele era o próprio diabo.


Escrever sobre Romeo e Lunna foi prazeroso, intenso e como
todos os meus livros, dramático. Eu realmente amei esses dois de
uma forma absurda. Eles percorreram um longo caminho até

chegarem aqui. E eu os amei por tudo. Por seus erros e acertos, por
suas dores.

Retratar violência sempre é difícil, mas retratar o que Lunna


passou foi de tirar meu sono à noite ao imaginar quantas mulheres

passam por isso. Quero agradecer e dedicar este livro a vocês.

Suas dores e lutas diárias. Que sua força nunca cesse, apenas se
multiplique.

Gratidão a todos que chegaram até aqui.

Beijos!
Evilane Oliveira
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[i]
Nós chegamos. Motocicletas estão escondidas nas árvores.

[ii]
Ok.

[iii]
O FN FAL, é um fuzil de batalha criado pelos projetistas belgas

Dieudonné Saive e Ernest Vervier e fabricado pela Fabrique

Nationale d'Herstal.
[iv]
Um tipo forte de náusea e vômito durante a gestação.

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