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Paisagismo II
Marina Otte
Metodologia do projeto
paisagístico urbano
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Trabalhar os espaços livres é de suma importância para a humanização
de uma cidade. As áreas urbanizadas, em sua grande maioria, possuem
espaços repletos de história que devem ser analisados. Além disso, os
elementos que compõem a morfologia urbana são parte indissociável
do diagnóstico em um projeto, visto que a morfologia se encarrega de
estudar as transformações da cidade, bem como suas formas e estruturas.
Neste capítulo, você conhecerá os passos iniciais para o desenvolvi-
mento de um projeto paisagístico urbano. Além disso, perceberá a im-
portância histórica de analisar áreas urbanas. Por fim, identificará aspectos
urbanos e morfológicos, bem como a infraestrutura e os equipamentos
de mobiliário urbano.
desde cidades cosmopolitas até cidades que parecem ter parado no tempo. “Em
função da intensificação do processo de urbanização em diferentes regiões e países,
há diversos casos e situações que podem ser abordados, desde as grandes áreas
metropolitanas fortemente vinculadas à dinâmica global, até as pequenas cidades
dispersas no território” (MIYAZAKI, 2013, documento on-line). Além disso, existe
uma diversidade de fauna, flora, clima, costumes e valores que devem ser entendidos.
Ao iniciar um novo projeto, o arquiteto paisagista terá um sítio para trabalhar. O
primeiro passo é discutir com o cliente, seja ele público ou privado, as necessidades
do projeto, criando, assim, um briefing. O refinamento desse briefing será feito
após outro passo essencial: a visita ao sítio em que será desenvolvido o projeto.
Essa visita requer um preparo por parte do profissional, que deve estar munido das
ferramentas necessárias para um bom levantamento de dados no local determinado.
O arquiteto paisagista precisa de ferramentas básicas, como trenas, e, se tiver acesso
a equipamentos mais complexos, como GPS ou drones, deve-se fazer uso destes,
pois podem facilitar a pesquisa das informações. Hoje, com os celulares, alguns
equipamentos podem ser dispensados, pois já estão integrados ao dispositivo, como
câmera fotográfica e bússola, mas sempre é bom testar antes e ver a preferência do
profissional no uso. Algumas ferramentas antigas, como prancheta, papel e lápis,
facilitam muito as anotações do que será levantado no local.
Quanto à segurança, é recomendável o uso de sapatos fechados, uma vez que os
sítios podem conter entulhos, restos de construções e até mesmo certas vegetações,
que podem machucar os pés e a pele. Somado a isso, o Brasil é um país tropical,
portanto, a proteção deve se estender ao uso de chapéus, protetor solar e, por vezes,
roupas mais fechadas, visto que o trabalho é feito ao ar livre e muitas vezes por
um tempo estendido.
Já no local do trabalho, é preciso se familiarizar com o espaço. “É o que se
chama levantamento de campo. Trata-se de uma lista – um relato de tudo o que
existe em um terreno. Isso estabelece o contexto no qual o projetista trabalhará.
O levantamento inclui todos os aspectos que definem um lugar. É importante
conhecer a história de um sítio” (WATERMAN, 2011, p. 54). O autor cita vários
elementos que devem ser considerados, como: listar a vegetação encontrada
no sítio, aproveitando para classificar quais são espécies nativas e quais são
exóticas; verificar o contexto socioeconômico da área em questão, se está no
subúrbio ou em uma zona central; considerar aspectos naturais, como geologia,
tipo de solo, recursos hídricos, clima, direção dos ventos, insolação. Nesse ponto,
ressalta-se a observação do entorno, se este faz sombras no sítio, se impede
que os ventos incidam no local, etc. Waterman (2011) destaca, ainda, que é
preciso verificar se o local está sujeito a inundações ou se possui desnível em
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(Continua)
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(Continuação)
Fonte: Adaptado de Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura ([2017]).
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o solo;
os edifícios;
o lote;
o quarteirão;
a fachada;
o logradouro;
o traçado, a rua;
a praça;
o monumento;
a árvore e a vegetação;
o mobiliário urbano.
O solo
O solo é analisado sob dois aspectos: a topografia e o revestimento. A to-
pografia influencia onde as edificações são construídas, determina limites,
pode direcionar os ventos e as águas, bem como condiciona as vias públicas,
cria visuais e esconde outros. Direciona, ainda, o formato do espaço livre e
configura a paisagem (Figura 2).
O revestimento é onde colocamos nossos pés. É importante verificar que
material o reveste ou se é o solo original. Se houver o uso de um pavimento, é
preciso verificar se ele é permeável ou não. Deve-se apontar, ainda, se existem
degraus, passeios, etc.
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Os edifícios
“É através dos edifícios que se constitui o espaço urbano e se organizam os
diferentes espaços identificáveis e com forma própria: a rua, a praça, o beco,
a avenida [...]” (LAMAS, 2011, p. 84).
Para esse item, uma ferramenta interessante para o entendimento é o
mapa de cheios e vazios. Para confeccionar esse mapa, são pintadas de preto
todas as edificações, e o restante fica em branco, determinando os “vazios”.
São nos vazios que se encontrarão os espaços capazes de receber os projetos
paisagísticos urbanos.
O lote
O lote determina as possibilidades de forma do edifício e dos espaços vazios,
onde o paisagismo urbano pode intervir. É uma porção cadastral/legal da
cidade. Por determinar a forma do edifício, acaba por determinar a forma da
cidade. O lote geralmente é vinculado à relação do público versus privado: o
que está dentro do lote é privado, o que está fora é público.
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O quarteirão
O quarteirão está diretamente ligado à conformação dos lotes e vice-versa. É
um “[...] espaço delimitado pelo cruzamento de três ou mais vias e subdivisível
em parcelas de cadastro (lotes) para construção de edifícios” (LAMAS, 2011,
p. 88). Os quarteirões ajudam na organização urbana, condicionam o traçado
das ruas e reforçam as relações públicas e privadas, já apontadas no lote.
A fachada
As fachadas caracterizam a linguagem arquitetônica de um lugar, são a co-
municação do edifício com o espaço, e, assim, moldam a cidade. As fachadas
condicionam o projeto paisagístico a partir da intenção de intervenção, que
pode ser dissonante do entorno ou uma continuidade dele.
As fachadas também passam sensações distributivas: espaços que podem ser
acessados, que podem ser transpostos ou não. Elas condicionam e direcionam o
olhar, visto que são elas que estão na linha dos olhos (Figura 3), diferentemente
do lote, que é mais perceptível com uma visão superior.
Figura 3. Local que virou ponto turístico em Nova Iorque, nos Estados
Unidos. Observe como as fachadas condicionam o olhar.
Fonte: Wallup.Net (2017, documento on-line).
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O logradouro
O logradouro “[...] constitui o espaço privado do lote não ocupado por constru-
ção” (LAMAS, 2011, p. 98). Ou seja, são os recuos da construção em relação
aos lotes vizinhos e à calçada. São os espaços livres dentro do terreno. Grande
parte do paisagismo em construções particulares se ocupa desses espaços.
O traçado/a rua
As ruas ligam os vários espaços de uma cidade, locais onde se dá o transporte
e os encontros. O tipo de urbanização determina se a rua é resultado de edi-
ficações/lote/quarteirão ou se as edificações/lote/quarteirão determinaram as
ruas. Por exemplo, no caso das cidades sob influência islâmica, as ruas são
resultado das edificações, gerando um traçado sinuoso.
As ruas podem, ainda, ter um traçado regular e retilíneo, e geralmente
aparecem em cidades planejadas, como Brasília (DF), Belo Horizonte (MG)
e Maringá (PR). Culturalmente, as ruas podem ser configuradas pelos pontos
cardeais, como no caso de várias cidades chinesas influenciadas pelo Feng Shui.
A praça
Desenho intencional (não o que sobrou), lugar do encontro, da permanência,
das práticas sociais, das manifestações de vida urbana e comunitária, de
funções estruturantes e arquitetura significativa, a praça é um espaço coletivo
de importante significação (LAMAS, 2011).
É muitas vezes o respiro da cidade, muito visível em cidades medievais,
com seu aglomerado de edificações, em que, no meio, há uma praça. É um
dos locais mais característicos do trabalho do arquiteto paisagista. Aqui, vale
reforçar que o trabalho do paisagista não se refere apenas aos maciços verdes,
ele projeta os espaços que podem ser uma “praça seca” (sem árvores), como a
Praça do Três Poderes, em Brasília, ou uma praça bastante arborizada, como
a Praça Victor Civita, em São Paulo.
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O monumento
Os monumentos são marcos para uma cidade e devem ter valor cultural,
histórico ou social, ou seja, ter significado, como, por exemplo, a Torre Eiffel,
em Paris, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, ambos de grande porte, ou o
Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo. Monumentos também podem ter portes
menores, como a estátua do maestro e compositor Tom Jobim, localizada na
orla da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Esse monumento conta a história
de um local, e, por esse motivo, acaba por ser resistente a transformações da
cidade. Um arquiteto paisagista pode ser convidado para reconfigurar toda uma
praça, mas deve manter o monumento que nela se encontra (salvo exceções,
como a mudança do monumento para outro espaço, etc.).
A árvore e a vegetação
A vegetação é um elemento que compõe a cidade. É a primeira associação
que se faz ao pensar em um projeto paisagístico, uma vez, principalmente
nos centros urbanos, o homem tem a necessidade de estar perto da natureza.
A vegetação não tem a mesma permanência que as edificações, mas tem
a capacidade de organizar, definir e conter os espaços (LAMAS, 2011). Esse
é um dos recursos mais utilizados pelo arquiteto paisagista para compor
seus projetos. Desse modo, avaliar esse elemento antes de iniciar o projeto é
imprescindível, visto que ele pode ser aproveitado.
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O mobiliário urbano
Esses elementos correspondem todo o conjunto de objetos e equipamentos existentes
nas áreas públicas disponíveis para o uso da população. São elementos móveis
que equipam a cidade, como, por exemplo, totens, bancos, bebedouros, telefones,
banheiros, lixeiras, postes de iluminação, ponto de ônibus, brinquedos, entre outros.
Esses elementos humanizam e qualificam a cidade. Por isso, é necessário avaliar
seu estado de conservação, o posicionamento, a quantidade e verificar necessidades
não atendidas.
A infraestrutura
A infraestrutura existente no local condiciona o projeto, e muitas ideias podem se
tornar inviáveis se não houver a infraestrutura necessária, ou a execução do projeto
pode demorar mais, em função da necessidade de prover o local da infraestrutura
necessária. São elementos básicos de infraestrutura, conforme Buxton (2017, p. 24):
Em relação ao levantamen-
to de dados e diagnóstico,
é correto afirmar que:
a) o levantamento deve ser deli-
mitado para que seja possível
a sua análise, por isso se con-
sidera apenas o espaço livre.
Fonte: cyo bo/Shutterstock.com. b) o local não possui mobiliário
urbano, mostrando grande
a) A quadra. potencial para intervenções.
b) O mobiliário urbano. c) deve-se analisar a parte
c) O monumento. arquitetônica, ou seja, os
d) O lote. prédios no entorno.
e) O traçado da rua. d) por ser em um centro ur-
3. Sobre a expressão “paisagem bano, não é necessário
cultural”, utilizada pela UNESCO analisar a geologia.
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES e) os ventos permanecem inal-
UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, terados pela cidade, por isso
A CIÊNCIA E A CULTURA, basta observar sua direção.
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