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Dossiê do Professor – Em Questão – Filosofia 10.

º ano

3. Doze Homens em Fúria

“Doze Homens em Fúria” | Sidney Lumet – EUA – 1957 – 96 minutos. M/12

“Um testemunho que pode levar um rapaz à cadeira elétrica tem de ser preciso.” E, no entanto, seja
por pressa ou por preconceito, um rapaz estaria na iminência de lá ir parar, não fosse existir um jurado
que substitui a dúvida pela certeza. Um filme em que a vida de um cidadão está dependente de uma
discussão. Um filme que se vê como um jogo de futebol: no final, quem ganha? Um filme que é, todo ele,
argumentação.

1. A conclusão a que o júri chegar, de “inocente” ou “culpado”, terá de ser unânime.


Depreende-se daqui que, se for um “júri inconclusivo”, então:
a) deduziu “inocente”.

b) deduziu “culpado”.

c) nada deduziu.

d) não deduziu “inocente”.

2. Um dos elementos do júri estabelece que quem “nasceu num bairro de lata” e depois
cresce na pobreza extrema “nasce mentiroso”: “não podemos acreditar numa palavra
do que dizem”, conclui.
Ora, tanto o réu como uma das testemunhas, que é vizinha do réu, são oriundos deste
meio.
A dado momento do filme, um outro elemento do júri diz àquele, que acreditava na
versão da testemunha mas não acreditava na versão do réu, o seguinte: “Você não
acredita na versão do rapaz. Porque é que acredita na da mulher? Ela também é da
mesma laia, não é?”
Com o desvelar desta contradição, percebe-se que o raciocínio daquele constituía:
a) uma generalização precipitada.

b) um apelo à ignorância.

c) um apelo ilegítimo à autoridade.

d) uma falsa analogia.

José Ferreira Borges, Marta Paiva, Orlanda Tavares


Dossiê do Professor – Em Questão – Filosofia 10.º ano

3. A dado momento do filme, para mostrar que uma das testemunhas, um “velho”, podia
estar a mentir em Tribunal, diz o mais idoso dos elementos do júri: “Era um homem
muito velho com um casaco roto. E deslocou-se muito devagar quando foi depor.
Arrastava a perna esquerda e caminhava muito devagar porque tinha vergonha. Acho
que conheço esse homem melhor do que alguém aqui. É um velho assustado,
insignificante, que nunca foi nada toda a vida. Que nunca teve reconhecimento ou o
nome publicado nos jornais. Ninguém o conhece. Ninguém o menciona. Ninguém
procura os seus conselhos após 75 anos. Meus senhores, isto é uma coisa muito triste:
não significar nada. Um homem assim precisa de ser mencionado, de ser ouvido. Ser
mencionado uma vez que seja, uma vez importante. Seria tão duro para ele retirar-se
para segundo plano.”
Ao que contesta um outro jurado: “Espere lá. Está a dizer que ele mentiria só para poder
ser importante uma vez?”
Jurado idoso: “Não. Ele não iria propriamente mentir. Mas talvez ele se tenha
convencido de que ouviu essas palavras e que tenha reconhecido a cara do rapaz.”
Outro jurado: “Como pode você especular assim? O que sabe você disso?”
Que tipo de argumento é ignorado pelo interlocutor do jurado idoso quando, depois de
o ouvir, lhe pergunta “O que sabe você disso?”?
a) Argumento dedutivo.

b) Ad populum.

c) Falso dilema.

d) Argumento de autoridade.

4. “O sistema jurídico coloca o júri face a um falso dilema: ou conclui 'inocente' ou ajuíza
'culpado'.” Esta afirmação é:
a) verdadeira, porque a um júri “dividido” ou “inconclusivo” equivale a sentença de “culpado”.

b) falsa, porque não há uma terceira alternativa: à (presunção da) inocência segue-se a
(prova da) culpa, que, podendo ter vários graus, não deixa de ser culpa.
c) verdadeira, porque o dito dilema é uma disjunção inclusiva.

d) falsa, porque só há um falso dilema quando se leva alguém a aceitar o que não se
consegue provar.

José Ferreira Borges, Marta Paiva, Orlanda Tavares


Dossiê do Professor – Em Questão – Filosofia 10.º ano

5. A dado momento do filme, um elemento do júri diz o seguinte:

“É sempre difícil ultrapassar os preconceitos pessoais neste tipo de coisas. Sempre que nos
deparamos com ele, o preconceito obscurece a verdade. Eu não sei realmente o que é a verdade.
Suponho que ninguém pode ter certezas. 9 de nós os 12 acha agora que o réu é inocente. Mas
estamos apenas no domínio das probabilidades. Podemos estar errados. Podemos estar a tentar que
um culpado saia em liberdade. Não sei. Ninguém pode saber. Mas temos uma dúvida legítima. E isso
é muito valorizado no nosso sistema. Nenhum júri pode declarar um homem culpado a não ser que
tenha a certeza. Nós, os 9, não percebemos como é que vocês os 3 ainda têm a certeza.”

Face ao exposto, qual das seguintes alíneas é falsa?


a) A inocência pode deduzir-se de um contraexemplo à culpa; a culpa não pode induzir-se da
maioria das provas que para ela apontam.
b) A presunção de inocência faz com que a determinação da culpa resulte não de argumentos
não-dedutivos, mas de argumentos dedutivos.
c) Dado que “nenhum júri pode declarar um homem culpado a não ser que tenha a
certeza”, a declaração de que um réu tem “culpa” constitui uma generalização precipitada.
d) A existência de uma “dúvida legítima” é condição suficiente para o veredicto de
“inocente”.

6. A dado momento do filme, afirma um jurado: “Ele é culpado. (...) Ninguém provou o
contrário.” Trata-se de:
a) uma analogia.

b) um argumento de autoridade.

c) um apelo à ignorância (apesar de o ónus da prova recair, no contexto jurídico, sobre a


acusação).
d) uma falsa analogia.

7. Diz a determinado momento do filme o mais idoso dos jurados a respeito do primeiro
elemento do júri a ajuizar “inocente”: “Ele não diz que o rapaz não é culpado. Apenas
não tem a certeza.” Atendendo ao que viu no filme, quão importante lhe parece ser a
argumentação? Justifique.

Respostas:
1. C; 2. A; 3. D; 4. B; 5. C; 6. C.

José Ferreira Borges, Marta Paiva, Orlanda Tavares

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