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Casos práticos

Delegação de poderes:
Esta questão prende-se o regime jurídico da delegação de poderes, figura consagrada, em
geral, nos artigos 44º e ss do CPA. A delegação de poderes consiste no ato pelo qual o órgão
administrativo (no caso…) permite a outro órgão administrativo (no caso…) exerça a sua
competência para a prática de determinadas atuações administrativas. Talqualmente resulta do
regime legal, a delegação tem a natureza de concessão constitutiva por um lado, o delegado
não detém, antes da delegação, a competência delegada; por outro lado o delegante não
perde, em consequência da delegação, a sua competência, mas pelo contrário, mantém a
respetiva titularidade.
Em virtude das exigências de sentido decorrentes do princípio da indisponibilidade das
competências- art. 36º CPA e de facto da atribuição de poderes aos órgãos administrativos
equivaler à outorga de poderes-deveres ou poderes funcionais, que o órgão deve exercer
sempre que o interesse publico assim exija, a possibilidade de delegação de competências
depende de uma habilitação legal nesse sentido- art. 47º, CPA.

Regulamentos
 Emanados pelo Governo
O governo pode emitir normas enquanto órgão da AP. Estão em causa os regulamentos
administrativos. São atos normativos, emanados por órgãos da AP, no exercício da
função administrativa e dotados de valor infralegal. Trata-se de uma fonte de direito
administrativo, em simultâneo, constitui uma forma de ação administrativa. Por este
motivo, a respetiva emissão e o seu conteúdo normativo, encontram-se submetidos a
um conjunto de exigências de direito que, no caso concreto nem sempre forma
respeitadas
o Se A não foi ouvido durante o processo regulamentar:
A não foi ouvido durante o processo regulamentar. Se o princípio da
participação representa um princípio fundamental do procedimento
administrativo- com assento constitucional no art. 267º, nº1 e nº5 da CRP e
legislativo art. 12º CPA. Tal não significa necessariamente que a respetiva
observância implique a audição dos destinatários da ação administrativa em
causa. No horizonte do procedimento regulamentar, os artigos 100º e 101º do
CPA consagram dois modos de participação: a audiência e a consulta pública.
Na primeira hipótese (audiência), o órgão responsável pela direção do
procedimento submete o projeto de regulamento a audiência dos interessados
que como tal se tenham constituído no procedimento. Na segunda hipótese
(consulta pública), a Administração publicita o projeto de regulamento, para a
recolha de sugestões a apresentar por qualquer interessado. No caso em
concreto…
Tal significa que, diversamente do que sucede quando está em causa a prática
de um ato administrativo, António não teria de ser, na qualidade de
destinatário do regulamento, necessariamente notificado para se pronunciar
sobre o projeto de regulamento. Por um lado, nos termos do artigo 100º,
apenas têm o direito a ser ouvidos em audiência os titulares de posições
jurídicas substantivas afetadas, de modo direto e imediato, pelas normas
regulamentares. Por outro lado, no interior deste universo, a audiência apenas
abrange os interessados que como tal se tenha se constituído no
procedimento, i. e., obedecendo às exigências que, nos termos do nº 1 do
artigo 98º do CPA, a Administração publicitou em conjunto com o anúncio do
início do procedimento regulamentar. Finalmente, e atento o conteúdo do
regulamento em causa (a “natureza da matéria”), a emanação do diploma teria
estado sujeita a consulta pública, de acordo com o artigo 101º do CPA;
havendo-se verificado esta última hipótese, António deteria a faculdade de,
naquela consulta, apresentar propostas, sugestões ou críticas.
o Não reveste a forma constitucionalmente exigida (neste caso está revestido
por uma resolução de conselho de ministros)
Neste caso aponta no sentido de que o regulamento padece de deficiências
formais. Por um lado, importa apreciar se a forma de 2resolução de conselho
de ministros” se adequa ao regulamento em causa. Relativamente aos
regulamentos governamentais, a constituição prevê que devem revestir a
forma de decreto regulamentar “quando tal seja determinado por lei que
regulamentem, bem como no caso de regulamentos independentes” (art.
112º, nº 6, da CRP). Não dispondo de dados que permitam aferir se se verifica
a primeira parte do preceito, impõe-se aferir se o regulamento apresentado
constitui um regulamento independente. Os regulamentos independentes
caracterizam-se por conterem a disciplina inicial ou primária sobre certa
matéria, pelo que a respetiva lei habilitante se limita a definir a competência
objetiva e subjetiva para a sua emissão; ou, como dispõe hoje o nº 3 do artigo
136º do CPA, “consideram-se independentes os regulamentos que visam
introduzir uma disciplina jurídica inovadora no âmbito das atribuições das
entidades que os emitam”. Por este motivo, diz-se que os regulamentos
independentes desempenham uma função de dinamização da ordem jurídica:
a habilitação para a emissão regulamentar é efetuada mediante uma lei que se
limita a enunciar os princípios gerais e a dispor quais as normas fundamentais
sobre a disciplina jurídica de uma matéria, deixando para o regulamento o seu
desenvolvimento (quase) completo, tendo como pano de fundo toda a ordem
jurídica (e não apenas a lei habilitante). Do texto do regulamento apresentado
decorre que se trata, efetivamente, de um regulamento independente do
Governo.
Constituindo um regulamento independente do Governo, teria o mesmo que
revestir a forma de decreto regulamentar (e não de resolução do Conselho de
Ministros). Esta opção constitucional não é despicienda, visto que o
procedimento para a adoção de decretos regulamentares do Governo possui
mais uma fase (fase de controlo), subsequente à fase constitutiva: após a
aprovação em Conselho de Ministros, o decreto é submetido a promulgação
presidencial (podendo o Presidente da República exercer o direito de veto) e a
referenda ministerial [cf. artigos 134º, alínea b), e 141º, nº 1, da CRP] – atos
estes cuja ausência determina a inexistência jurídica do diploma (cf. artigos
137º e 141º, nº 2, da CRP).
o Ausência de lei habilitante
António assinala ainda que o regulamento não menciona qualquer lei
habilitante. O dever de citação da lei habilitante constitui uma exigência do nº
7 do artigo 112º da CRP e do nº 2 do artigo 136º do CPA; no caso dos
regulamentos independentes, a sua observância traduz-se na citação da lei que
define a competência objetiva e subjetiva para a sua emissão. A imposição
deste dever explica-se pela necessidade de assegurar o controlo da
observância do princípio da precedência de lei, subprincípio do princípio da
legalidade a que a atividade regulamentar também se encontra sujeita.
Salienta, a este propósito, o Tribunal Constitucional (muito rigoroso no que
tange ao cumprimento do nº 7 do artigo 112º), que o dever de citação da lei
habilitante pretende garantir a subordinação do regulamento à lei, na sua
vertente de precedência de lei, e daí a necessidade de a mesma ser expressa
ou ostensiva, considerando-se inconstitucional qualquer referência implícita.
 Emanados por entidades autónomas:
Em virtude de o poder regulamentar autónomo ainda constituir uma
manifestação do princípio da descentralização (constitucionalmente consagrado no nº
2 do artigo 267º da CRP), torna-se possível equacionar o sentido dos limites que o
princípio da reserva de lei coloca relativamente à emissão de normas regulamentares
iniciais ou primárias, como a apresentada no caso prático.

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