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A Contribuição do Profissional de Neuropsicopedagogia no Tratamento do Transtorno

do Desenvolvimento da Coordenação (TDC): Identificação e Intervenção

Denise Silva de Oliveira1

Resumo
O objetivo do presente artigo científico, em formato de revisão bibliográfica, é tratar sobre o
Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) ou Dispraxia, suas principais
características e repercussões na aprendizagem e desempenho social e emocional da
criança portadora. O tema será abordado com ênfase na importância do
Neuropsicopedagogo, na avaliação e intervenção dos casos de TDC e também um
conhecimento geral das atribuições deste profissional. A pesquisa justifica-se por aumentar
a conscientização sobre o TDC e a importância de um tratamento adequado por
profissionais especializados, como o Neuropsicopedagogo, e também de um esforço coletivo
entre especialistas de outras áreas pertinentes, família e escola. Conclui-se então que a
Dispraxia é um transtorno que não deve ser ignorado, pois há equipes multidisciplinares e
estratégias disponíveis para a avaliação e correta intervenção, traçando estratégias para que
responsáveis e professores possam ajudar a garantir tratamento adequado e melhor
condição de vida para as pessoas afetadas por essa condição.

Palavras-chave: TDC. Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação. Dispraxia.


Neuropsicopedagogo.

Abstract
The purpose of this scientific article, in the form of a bibliographical review, is to address
Developmental Coordination Disorder (DCD) or Dyspraxia, its main characteristics and
repercussions on learning and social and emotional performance of the child with it. The
theme will be approached with emphasis on the importance of the Neuropsychopedagogue,
in the evaluation and intervention of DCD cases and also a general knowledge of the
attributions of this professional. The research is justified by raising awareness about BDD
and the importance of adequate treatment by specialized professionals, such as the
Neuropsychopedagogue, and also of a collective effort among specialists from other relevant
areas, family and school. It is therefore concluded that Dyspraxia is a disorder that should not
be ignored, as there are multidisciplinary teams and strategies available for the evaluation

1Graduada em Pedagogia e Pós-graduanda em Neuropsicopedagogia pela FACIMIG. E-mail:


novadeni@hotmail.com
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and correct intervention, outlining strategies so that guardians and teachers can help ensure
adequate treatment and better living conditions for children. people affected by this condition.

Keywords: TDC. Developmental Coordination Disorder. Dyspraxia.


Neuropsychopedagogue.

1 Introdução
O objetivo desta pesquisa é tornar mais conhecido o Transtorno do Desenvolvimento
da Coordenação (TDC) também conhecido como Dispraxia, levando-se em consideração
que a condição atinge em torno de 5% das crianças em idade escolar, apesar de que não
temos como afirmar esta taxa, pois depende muito de região. Também ocorre que muitos
casos passam despercebidos ou são subdiagnosticados, por isso a importante relevância
desta pesquisa. Mas para chegarmos â compreensão do quadro geral que nos encontramos,
precisamos analisar alguns pontos.
Primeiramente, elencaremos algumas características do Transtorno do
Desesnvolvimento da Coordenação, sendo adotada a sigla TDC para facilitar. Serão trazidas
â luz as principais características que a criança afetada apresenta, quais áreas da sua vida
são prejudicadas por conta desta condição, quais comorbidades podem ser relacionadas,
entre outras informações relevantes.
No segundo momento, será apresentado um breve apanhado geral sobre as
atribuições do profissional de Neuropsicopegogia referente aos transtornos da
aprendizagem. Sua importância, em quais situações ele é requisitado, em quais áreas ele
desempenha sua função e o que ele promove.
Em seguida, será apontada a importância do neuropsicopedagogo para o tratamento
especificamente do TDC. Este ponto será subdividido em dois itens: o primeiro com foco na
avaliação do possível paciente, mencionando alguns testes, questionários e métodos que
são utilizados na detecção do transtorno; e o segundo com enfoque na intervenção,
mostrando como é feito um plano de intervenção com base na avaliação. Em ambos, o
Neuropsicopedagogo conta com uma equipe multidisciplinar para que o tratamento seja
mais efetivo e benéfico para o paciente.
Por último, serão exploradas algumas estratégias de apoio aos familiares e
professores do paciente com Dispraxia. Algumas modificações ou adaptações podem ser
feitas no ambiente doméstico e escolar para que a criança com TDC se sinta menos
frustrada e mais confortável, encorajando-a a realizar as tarefas como qualquer outra criança
de sua idade, porém com ritmo e destreza diferentes.
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Considerando os pontos expostos no decorrer do texto, poderemos chegar à


conclusão de que a temática da pesquisa é de extrema importância, pois apesar de
conhecido, este tipo de transtorno ainda não é tão difundido, possuindo literatura limitada.
Por esse motivo, se faz necessário um trabalho de divulgação sobre a condição do TDC
entre as escolas e comunidade em geral, para que não passe despercebida, causando
sofrimento para crianças, familiares e professores que ignoram a condição, e
consequentemente, não recebem o tratamento devido.

2 O TRANSTORNO DO DESENVOLVIMENTO DA COORDENAÇÃO


O transtorno do desenvolvimento da coordenação (TDC), ou dispraxia, é um
transtorno neurobiológico que afeta a capacidade da pessoa em coordenar seus
movimentos e habilidades motoras, o que pode repercutir em sua capacidade de realizar
atividades cotidianas, como escovar os dentes, andar, correr, vestir-se, calçar-se e participar
de atividades de Educação Física na escola. Em consequência disto, também pode resultar
em baixa autoestima, levando à timidez e ao retraimento, principalmente para realizar
atividades de esporte coletivo na escola ou na comunidade.
Conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), este transtorno afeta
aproximadamente entre 5% e 6% das crianças em idade escolar, com maior frequência em
meninos - proporção de 4 ou 5 para cada menina -, mas esta é uma estimativa muito
inespecífica, pois ainda há muitos casos não identificados ou subdiagnosticados. Esta
condição, quando não descoberta na infância ou adolescência, pode se estender à vida
adulta, influenciando, além da vida social, a escolarização e opções de trabalho, refletindo
assim na própria sociedade. Por este motivo, é tão importante uma maior divulgação a
respeito do transtorno, auxiliando que professores e responsáveis observem e possam
buscar atendimento afim de diagnosticar este ou outros transtornos, ou se é apenas um
atraso passageiro do desenvolvimento.
A origem do TDC não é precisam, como explica Missiuna, Rivard e Pollock (2011), a
condição não tem uma razão definida. As autoras ainda acrescentam ”Ainda que não
tenhamos certeza daquilo que causa os problemas de coordenação motora, a pesquisa
indica que a criannça pode ter dificuldades em aprender a planejar, organizar, realizar e/ou
modificar os próprios movimentos”. Apesar deste déficit motor estar englobado no campo
das Dificuldades da Aprendizagem (DA), as quais são consideradas como disfunções
neurológicas, “as DA podem não estar associadas a nenhum tipo de comprometimento
neurológico como atrasos mentais, doenças congênitas, deficiência física” (TAVARES;
CARDOSO, 2016, p. 89), e este é um ponto delicado, pois “a ausência de sinais
neurológicos clássicos leva a uma atitude de incredulidade diante do problema,
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negligenciando-se a sua existência.” (MAZER; BARBA, 2010, p. 75). E ainda, a pessoa


mesmo apresentando disfunção nas habilidades motoras , possui inteligência normal ou
acima da média.
Segundo a CID-10 (OMS, 1993), o TDC está identificado por “F82-Transtorno
Específico do Desenvolvimento da Função Motora”, e referente ao termo “transtorno”, ainda
explica que ele é utilizado para que não seja confundido com os termos “doença” ou
“enfermidade”. ““Transtorno” não é um termo exato, porém é usado aqui para indicar a
existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível
associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferências com funções pessoais.”.
Assim podemos entender que a palavra “transtorno” é diferente de “doença”, pois a segunda
tem causa definida, enquanto a primeira é considerada um estado alterado da saúde, não
necessariamente relacionado a uma doença, porém é mais ligado a alterações
especificamente no cérebro. E o TDC pode ainda vir acompanhado de outros transtornos,
como “transtornos de aprendizagem, fala, leitura, escrita e atenção” (INSTITUTO
NEUROSABER, 2021), assim como também ” podem ser percebidas co-ocorrências
associadas com a obesidade, problemas de saúde mental e o transtorno do déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH)” (FRANCA; CARDOSO; ARAÚJO, 2017, p. 87).
Algumas características principais podem ser observadas na criança com TDC, para
fins de diagnóstico:
Características físicas: movimentos desajeitados, trombando e caindo com mais
frequência; atraso ao desenvolver habilidades motoras grossas ou finas; maior
dificuldade ao coordenar ambos os lados do corpo; demora mais tempo até aprender
novas habilidades e realizar suas tarefas; dificuldade em organizar seu espaço.
(INSTITUTO NEUROSABER, 2021).
Características ou consequências emocionais e sociais: desinteresse em atividades
motoras; baixa tolerância à frustração, falta de motivação e auto-estima baixa;
retraimento social; insatisfação com seu desempenho; resistência a mudanças.
(MISSIUNA; RIVARD; POLLOCK, 2011, p. 5).

3 O Neuropsicopedagogo
Como definição, no artigo10ª do capítulo II do Código de Ética Técnico Profissional
da Neuropsicopedagogia, da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp, 2014):

A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos


conhecimentos da Neurosciência aplicada à educação, com interface da
Pedagogia e Psicologia Cognitiva que tem como objetivo formal de estudo a
relação entre o funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem
humana numa perspectiva de reintegração pessoal, social e educacional.
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É uma área muito recente no Brasil, sendo que em 2008 surgiu o primeiro curso de
Neuropsicopedagogia, em 2009 foi publicado o primeiro artigo na área e em 2014 nasce a
Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SNPp),entidade que passou a nortear a
profissão. A suma importância da atuação deste profissional está no fato dele ajudar as
pessoas, crianças, adolescentes, familiares e professores, a superarem os problemas de
aprendizagem dos alunos para terem uma vida de qualidade e mais feliz.
Ainda, esta ciência trabalha com informações de três áreas, que, em conjunto,
ajudam a compreender o ser humano como um todo. São elas:
Neurosciência - conforme Borges e Coelho, 2019,

a neurociência educacional busca explicar a aprendizagem através de


experimentos comportamentais, uso de aparelhos de tomografia e
ressonância magnética, a fim de observar alterações de funcionamento
cerebral que podem ser desencadeados em função de fatores cognitivos ou
até mesmo externos.

Sendo assim, fornece conhecimentos sobre o funcionamento cerebral e como o aprendizado


e o comportamento humano são afetados por determinadas anomalias. Apresenta dados,
através de exames neurológicos e neurocientíficos, que ajudam a compreender melhor as
dificuldades que os alunos apresentam, possibilitando assim desenvolver estratégias de
intervenção mais eficazes.
Psicologia - é a área que “busca entender como e por que o indivíduo se comporta de
determinadas formas” (GONÇALVES, 2020), trás estudos sobre a psicologia do
desenvolvimento, com as mudanças que ocorrem no comportamento humano ao longo
das diferentes fases da vida, fundamentais para que o neuropsicopedagogo possa
entender como as habilidades e competências cognitivas e socioemocionais são
desenvolvidas, junto ao estudo do comportamento humano em diferentes contextos e
situações, ajudando a elaborar estratégias mais eficazes de intervenção.
Pedagogia - fornece conhecimentos sobre o processo de ensino e aprendizagem em
seus variados modelos, possibilitando adaptar as estratégias de intervenção às
necessidades de cada aluno, provendo informações sobre como o ensino pode ser
organizado e estruturado, contribuindo também na produção de materiais didáticos que
sejam adequados às necessidades dos alunos, com atividades lúdicas, jogos educativos,
materiais visuais, entre outros recursos.
A partir da contribuição de cada área, o neuropsicopedagogo elabora estratégias e
intervenções que visam melhorar o processo de ensino-aprendizagem e o desenvolvimento
global do indivíduo.
Entre as atividades que um neuropsicopedagogo pode desenvolver estão: aplicação
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de testes neuropsicológicos, avaliação e acompanhamento de alunos com dificuldades de


aprendizagem, elaboração de planos de intervenção pedagógica, orientação a pais e
professores, acompanhamento de alunos com transtornos do espectro autista, dentre outras:
Realizar avaliação neuropsicopedagógica para identificar possíveis alterações
neuropsicológicas, disfunções cognitivas, emocionais e comportamentais em crianças e
adolescentes que possam afetar seu processo de aprendizagem.
Elaborar plano de intervenção com base na avaliação neuropsicopedagógica, o
considera as necessidades específicas do indivíduo, com o objetivo de auxiliar no
processo de aprendizagem.
Orientar pais e professores sobre estratégias pedagógicas adequadas às necessidades
da criança ou adolescente avaliado, além de fornecer informações sobre o
funcionamento cognitivo e emocional.
Realizar acompanhamento da evolução do indivíduo, avaliando os resultados das
intervenções e propondo ajustes, se necessário.
Trabalhar em equipe com outros profissionais da área da saúde e da educação, para
proporcionar um atendimento mais integrado e efetivo.
Promover a inclusão de pessoas com dificuldades de aprendizagem, buscando
proporcionar igualdade de oportunidades e um ambiente escolar acolhedor e adaptado
às necessidades de cada indivíduo.
Realizar pesquisas e estudos na área, com o objetivo de aprimorar suas técnicas e
contribuir para o desenvolvimento do campo da neuropsicopedagogia.
Prevenção de dificuldades de aprendizagem, desenvolvendo programas de prevenção
de dificuldades de aprendizagem, por meio de intervenções precoces e orientações aos
pais e professores.
Capacitação de profissionais da educação e saúde, fornecendo informações sobre as
disfunções neuropsicológicas e estratégias pedagógicas adequadas às necessidades
das crianças e adolescentes.
É importante ressaltar que as atribuições do neuropsicopedagogo podem variar de acordo
com o contexto de atuação e a formação específica do profissional.
Além disso, o neuropsicopedagogo deve seguir os princípios éticos básicos, como
respeitar a dignidade e privacidade do paciente/cliente, manter sigilo profissional, zelar pela
integridade física e psicológica do paciente/cliente, não discriminar ou desrespeitar qualquer
pessoa, atuar com competência e responsabilidade, entre outros. O neuropsicopedagogo
também deve estar atualizado em relação às pesquisas e práticas em sua área de atuação,
e deve buscar aperfeiçoamento constante por meio de cursos, treinamentos e supervisão
profissional (SBNPp, 2014).
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4 O papel do Neuropsicopedagogo no tratamento do TDC

Após termos conhecido as características do TDC e seus reflexos na vida dos


portadores, um breve histórico da profissão de Neuropsicopedagogo, sua formação e suas
atribuições, agora podemos unir as informações e entender o papel do profissional na
avaliação e intervenção de pacientes com o transtorno.
Como o TDC é um transtorno da aprendizagem, este é um campo em que o
neuropsicopedagogo é de extrema importância, pois leva em consideração várias áreas que,
em conjunto, ajudam a entender o ser humano na sua essência. As principais contribuições
referentes ao tratamento do aluno com Dispraxia são:

4.1 Avaliação

Existem diversos testes que o neuropsicopedagogo pode utilizar para avaliar se a


criança possui Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC), ou Dispraxia. A
escolha dos testes dependerá do perfil da criança e das suas dificuldades motoras e
cognitivas. É um processo complexo que envolve a avaliação de diversas áreas, como
habilidades motoras, cognitivas e emocionais. Segundo o Conselho Federal de Psicologia
(CFP, 2002), a avaliação neuropsicológica deve ser realizada por profissionais habilitados e
capacitados, com formação específica na área e que utilizem instrumentos padronizados e
validados para a população brasileira
Algumas das principais avaliações utilizadas pelo neuropsicopedagogo para avaliar o
TDC incluem:
Movement Assessment Battery for Children (M-ABC): a avaliação consiste em tarefas
como pegar objetos pequenos, equilibrar-se em uma perna e saltar.

avalia o desempenho motor de crianças, por meio de oito tarefas distribuídas


em três domínios: destreza manual, apontar e receber, e equilíbrio,
separadas em três faixas etárias: 3-6, 7- 10, 11-16 anos. A classificação é
realizada por meio do percentil que é divido em três tópicos: dificuldade,
risco, e ausência de dificuldade do movimento. (IZEPPI; OLIVEIRA;
PEREIRA, 2020)

Escala de Desenvolvimento Motor (EDM): conforme Santos et. al. (2019, p. 2), da Rev.
Cefac, este é um instrumento de avaliação dos mais abrangentes, que utiliza escalas de
“motricidade fina, global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial,
organização temporal e lateralidade”, o qual atende crianças de 2 a 11 anos,
comparando a idade motora com a cronológica.
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Test of Gross Motor Development (TGMD): é um teste baseado em critérios que avalia
de 10 a 12 tarefas de habilidades motoras fundamentais em crianças com idades entre
três e 10 anos, Essas tarefas são agrupadas nas categorias de habilidades de
locomoção (correr, galopar, pular, saltar, etc) e controle de objetos (golpe com as duas
mãos de uma bola estacionária, drible estacionário, recepção, chute, arremesso por cima
e rolamento por baixo), como explica Gandotra et. al., 2020 (tradução nossa)..
Teste de Avaliação do Desempenho Motor (TADM): testes que avaliam o desempenho da
motricidade da criança e adolescente.
Developmental Coordination Disorder Questionnaire (DCDQ): é um questionário onde os
pais/responsáveis fornecem algumas informações sobre o desempenho motor de seus
filhos, comparando-os com crianças de mesma idade, referente a atividades realizadas
diariamente por eles (MAGALHAES; WILSON, 2017).
Além desses instrumentos, é importante que o neuropsicopedagogo realize primeiramente
uma entrevista com os pais ou responsáveis pela criança, a fim de obter informações sobre
o histórico de seu desenvolvimento e possíveis fatores de risco.
A partir da avaliação neuropsicopedagógica, identificam-se as habilidades e
dificuldades da criança, permitindo a elaboração de um plano de intervenção adequado às
suas necessidades. Além disso, a avaliação pode auxiliar na identificação de outras
condições que possam estar relacionadas ao TDC, como Transtorno do Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDAH) e Transtornos do Espectro Autista (TEA).

4.2 Intervenção

As intervenções do neuropsicopedagogo podem envolver uma variedade de técnicas e


estratégias, como treinamento motor, terapia ocupacional, terapia da fala e treinamento
cognitivo, que visam melhorar a coordenação motora, a consciência corporal, a percepção
espacial e a organização do planejamento motor. Pode e deve ser trabalhado em conjunto
com outros profissionais, como terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos,
pediatras, neuropediatras, entre outros, para fornecer suporte para um tratamento mais
eficaz possível. As atividades propostas podem ser realizadas individualmente ou em grupo,
dependendo das necessidades da criança e dos recursos disponíveis.

Os jogos de tabuleiros são intervenções neuropsicopedagógicas valorosas


no processo de flexibilidade cognitiva. [...] pois, estimula o raciocínio,
organizar pensamentos, relacionar o abstrato com as concretizações futuras,
tomada de decisões, resoluções de problemas e a autonomia estes são
alguns dos inúmeros benefícios que a atividade alcança. (SILVA; CATUNDA,
2021).
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Além de todo este trabalho que o Neuropsicopedagogo realiza, com a avaliação e


intervenção, este profissional também pode orientar os pais/responsáveis e professores
sobre as necessidades e potencialidades da criança com TDC, fornecendo estratégias para
auxiliar na aprendizagem e no desenvolvimento socioemocional da criança. Podem ser
incluídas estratégias de ensino e adaptações para a sala de aula e fornecer orientações aos
familiares sobre como ajudar as crianças e adolescentes em casa.
Enfim, o objetivo é sempre de ajudar a criança a superar as dificuldades e desenvolver
suas habilidades motoras, cognitivas e socioemocionais, para que ela possa realizar suas
atividades cotidianas com mais facilidade, confiança e autonomia.

5 PAIS/RESPONSÁVEIS E PROFESSORES

Além dos cuidados supracitados referentes a crianças e adolescentes com TDC, seus
familiares e escola também precisam receber orientações, afim de tornarem o ambiente
muito mais agradável e funciuonal, e para que as tarefas tornem-se mais leves e acessíveis.
Seguem algumas sugestões que Missiuna, Rivard e Pollock (2011) citam no livreto
preparado pelas autoras especificamente para os cuidados com esse público:
Para os pais/responsáveis: oportunizar a prática de esportes e jogos que a criança se
interesse, e frisar o aspecto de solidariedade ao invés do competitivo; sempre que for inserir
a criança em novas atividades ou locais, procurar fazê-lo individualmente antes de em
grupo; repassar regras de jogos e rotinas passo-a-passo com perguntas simples antes da
prática; utilizar roupas e calçados fáceis de vestirem pela criança, evitando estresse na hora
de sair de casa sem prejudicar a sua autonomia, e ir introduzindo o manijo de botões, fechos
e cadarços quando tiver mais tempo para isso; estimular a participação da criança em
atividades cotidianas, fazendo perguntas que relembrem cada passo; reforçar os pontos
fortes da criança, não deixando de oportunizar os que ela tem dificuldade.
Para os professores: garantir que a criança esteja posicionada de forma correta na
carteira escolar; não traçar metas inatingíveis que possam gerar frustração para a criança;
gerenciar o tempo para as atividades que exijam habilidades motoras finas; oferecer folhas
já impressas sempre que possível, focando na execução da tarefa; utilizar o computador
para exercitar a digitação como forma alternativa â escrita; possibilitar outros métodos além
das provas escritas para que a criança demonstre compreensão sobre o assunto; dar mais
tempo para a realização de provas/avaliações que a criança precise escrever.
Þ Na Educação Física: recompensar o esforço que a criança teve ao invés da
habilidade em si; introduzir novas regraas e mudanças de forma gradual assim que a
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criança tiver aprendido a anterior; relembrar o passo-a-passo dos movimentos e regras,


focando na compreensão do objetivo; fazer comentários encorajadores e positivos
quando for o caso.
Complementando as instruções citadas acima, também é muito importante que todos os
envolvidos cocmpreendam o transtorno, ajudando a criança a identificar suas habilidades e
interesses, fornecendo uma resposta positiva, que encoraje a criança e que os pais
procurem trabalhar em conjunto com profissionais da saúde e educação, considerando
talvez o auxíliio de um terapeuta ocupacional para melhorar a coordenação motora e as
suas habilidades.
Lembrando ainda que cada criança tem seu ritmo e necessidade diferentes, mas
independente disso, com apoio e compreensão e adaptações adequadas, os familiares e
professores podem ajudar a criança com TDC a superar suas dificuldades, alcançar seu
potencial e ter sucesso em casa, na comunidade e na escola.

Considerações Finais

/pós analisarmos o exposto, podemos concluir que o Transtorno do Desenvolvimento


da Coordenação (TDC) ou Dispraxia, é uma condição que afeta as habilidades de
coordenção motora, causando danos sign ificativos na vida cotidiana da pessoa portadora,
tanto social quanto emocional. As principais características incluem movimentos
desajeitados e demora para aprender e executar novas habilidades, e como consequências
temos desmotivação e baixa auto-estima, entre outras. O transtorno atinge uma parcela da
população em idade escolar, podendo persistir na fase adulta quando não diagnosticado de
forma correta, e sua estimativa é inexata, pois muitos casos não são identificados.
O Neuropsicopedagogo é um dos profissionais mais qualificados para tratar e
acompanhar os pacientes com este transtorno, pois ele abarca conhecimentos de três áreas,
sendo elas a neurosciência, com o entendimento sobre o funcionamento do cérebro, a
psicologia, com o estudo do comportamento e o desenvolvimento humano, e a pedagogia,
com os fundamentos do processo ensino-aprendizagem. Ele trabalha em conjunto com
outros profissionais também importantes para compôr a equipe multidisciplinar, como o
Pediatra, o Neuropediatra, o Terapeuta Ocupocional, o Fonoaudiólogo, entre outros, tanto na
avaliação, valendo-se de alguns testes e questionários que fornecem informações sobre o
desempenho motor da criança, quanto da intervenção, caso seja identificado o transtorno,
com a aplicação de técnicas e estratégias traçadas de acordo como os resultados da
avaliação.
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Outro trabalho importante que deve ser desenvolvido é o de instrução aos pais,
responsáveis e professores da criança ou adolescente com TDC, com orientações para que
essas pessoas tornem o ambiente mais agradável e funcional possível e as tarefas menos
frustrantes.
Ao final, podemos entender tamanha a importância que tem a Neuropsicopedagogia
para os envolvidos com portadores de transtornos globais da aprendizagem como é o caso
do TDC.

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