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REGISTRO DE

IMÓVEIS E GESTÃO
PATRIMONIAL

Fernanda Ribeiro Souto


Incorporação imobiliária
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as noções gerais da incorporação imobiliária.


 Explicar os aspectos gerais da instituição e convenção de condomínio.
 Descrever a aplicação do patrimônio de afetação ao condomínio
de lotes.

Introdução
Desde o Código de Napoleão, o modo de propriedade de condomínio
edilício, à época chamada de copropriedade por andar, foi positivado no
Direito, prevendo que algumas despesas de determinados trabalhados
realizados entre os coproprietários deveriam ser divididas.
Após a Primeira Guerra, contudo, houve o desenvolvimento desse
instituto, em razão da crise de moradia que ocorreu na Europa. O Código
Civil de 1916, por sua vez, não previa qualquer norma sobre o condomínio
edilício, que veio a ser previsto na Lei nº. 4.591, de 16 de dezembro de
1964, que se encontra em vigor até os dias de hoje e contém normas
sobre o condomínio edilício e a incorporação.
Neste capítulo, você vai ler sobre as noções gerais do condomínio
edilício (como instituição e convenção), da incorporação imobiliária e,
ainda, da aplicação do patrimônio de afetação ao condomínio de lotes.

1 Noções gerais da incorporação imobiliária


O condomínio edilício, ou propriedade horizontal, é a propriedade exclusiva
de uma unidade autônoma, com a copropriedade de outras áreas, chamadas
de áreas comuns de um imóvel. Segundo Loureiro (2017, p. 893):
2 Incorporação imobiliária

A unidade autônoma é o piso ou local do edifício com possibilidade de apro-


veitamento exclusivo e independente, por ter saída própria para uma área
comum que permite acesso à via pública, ou até mesmo acesso direto à via
pública. A unidade autônoma corresponde sempre a uma fração ideal do
terreno sobre o qual foi erguido o edifício e é designada por uma expressão
numérica ou alfabética.

As casas geminadas não configuram condomínio edilício, não sendo possível o registro,
a instituição e a convenção de condomínio.

Para se caracterizar um condomínio edilício, é necessário o vínculo entre


o terreno e a construção que constitui a unidade autônoma. O condomínio
edilício é coativo e perene e tem início com acordo de vontades ou por
meio de testamento registrado no cartório de registro de imóveis, devendo
constar a discriminação e individualização das unidades de propriedade
exclusiva e das partes comuns, a fração ideal de cada unidade e o fim a
que se destinam.
Desde 1964, é obrigatório o registro do condomínio quando houver mais
de uma unidade autônoma, que somente ocorrerá após a conclusão do edi-
fício, por meio de habite-se concedido pela prefeitura municipal. Assim, as
unidades autônomas passarão a existir física e juridicamente após a averbação
da construção e o registro da instituição do condomínio. Segundo Loureiro
(2017, p. 895):

O condomínio edilício, portanto, tem início efetivamente com o registro


de sua instituição. Este registro é que dá existência jurídica ao condomínio
por unidades autônomas. A instituição pode se dar por ato entre vivos
ou por testamento, devendo, em ambos os casos, ser levada a registro
no Cartório de Registro de Imóveis. Não há necessidade de descrição,
no ato de instituição do condomínio, das partes internas, uma vez que é
obrigatória a anexação da planta aprovada, que já apresenta a descrição
interna de cada unidade.
Incorporação imobiliária 3

Quando realizada por ato entre vivos, a constituição de condomínio pode


se dar por:

 incorporação de um prédio;
 associação de várias pessoas para compra de um edifício;
 divisão de imóvel comum;
 alienação que o proprietário faça de uma unidade autônoma do edifício;
 construção de edifício pelos condôminos do terreno e construção pelo
Poder Público.

O meio mais comum de constituição de condomínio é a incorporação


imobiliária, que se encontra prevista na Lei nº. 4.591/1964 (BRASIL, 1964,
documento on-line). Conforme o art. 28 (parágrafo único), é “[...] a atividade
exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação
total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas de
unidades autônomas”.
Assim, em resumo, a incorporação imobiliária é uma modalidade para
vender imóvel na planta, mesmo sem a construção, em que há o respaldo do
cartório de imóveis, com parceria de instituições financeiras.
Para Marta El Debs (2016), considera-se incorporação imobiliária a ati-
vidade exercida com o intuito de promover e realizar a construção, para
alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas
de unidades autônomas.
A principal característica de uma incorporação é que ela possibilita a
alienação das unidades autônomas do prédio construído, inclusive a venda
na planta. Cabe lembrar que pode ser incorporador não apenas o proprietário
do imóvel. Conforme a Lei do Condomínio Edilício (BRASIL, 1964), pode
ser incorporador:

 o proprietário do terreno, o promitente comprador, o cessionário deste


ou o promitente cessionário;
 o construtor ou corretor de imóveis;
 o ente da Federação imitido na posse a partir de decisão proferida em
processo judicial de desapropriação em curso ou seu cessionário.
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Nem todo construtor é incorporador, mas as construtoras também podem ser


incorporadoras. A incorporadora será responsável pelo projeto e pela contratação
da construtora do empreendimento, além da administração e venda das unidades.
A construtora, por sua vez, será responsável pela execução das obras conforme o
projeto, devendo providenciar mão de obra e materiais, por exemplo.

Assim, o próprio proprietário, o construtor e o corretor de imóveis podem


ser incorporadores. A pessoa física ou a jurídica podem ser incorporadoras.
A incorporação deve prever três cláusulas especiais:

1. cláusula de irretratabilidade e irrevogabilidade;


2. imissão de posse do imóvel;
3. consentimento para demolição e reconstrução, se o registro anterior
tiver a averbação da construção.

Na incorporação de empreendimentos imobiliários, devem ser especifi-


cadas a totalidade da área, a área interna, a área externa, a área por unidade
e a quantidade de unidades feitas.
A incorporação imobiliária tem, entre seus objetivos, proteger a economia
popular. Por exemplo, se alguém pretende vender um apartamento na planta
(que não esteja pronto), deve demonstrar a possibilidade de concretização. De
acordo com o Código de Normas dos Serviços Notariais e de Registros do
Estado de Pernambuco/2016:

Art. 1.204 A incorporação imobiliária é a atividade empresarial, de natureza


mercantil ou comercial, exercida com a finalidade de promover e realizar a
construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de
edificações compostas de unidades autônomas, para oferta ao público an-
tes da conclusão do empreendimento, sendo regulada nos termos da Lei nº.
4.591/1964 (PERNAMBUCO, 2016, documento on-line).

Ainda, conforme o Código de Normas do Estado de São Paulo (SANTOS,


1989), para o registro de incorporação imobiliária, deve ser exigido o projeto
de construção ou de urbanização de condomínio de lotes devidamente apro-
vados pelas autoridades competentes, dispensada a apresentação do alvará
de execução da obra.
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O contrato mais adequado para ser utilizado na venda de unidades da


incorporação imobiliária é o contrato de promessa de compra e venda.

Conforme definido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no Recurso Especial nº.
830.572/RJ (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2011), cabe dano moral quando o em-
preendimento imobiliário não for construído por negligência da incorporadora, sendo
desta a responsabilidade pelo pagamento da indenização. No caso referido, foi assinado
contrato de promessa de compra e venda de unidade habitacional, mas, após 9 anos
do prazo previsto para a entrega, o imóvel não foi construído.

2 Aspectos gerais da instituição e convenção


de condomínio
O condomínio edilício pode ser iniciado por meio de memorial de incorporação
ou por escritura pública ou particular de instituição de condomínio e divisão
das unidades autônomas entre os proprietários em comum.
Como mencionado e de acordo com a previsão do art. 1.332 do Código
Civil, institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento,
registrado no cartório de registro de imóveis, devendo constar naquele ato,
além do disposto em lei especial:

Art. 1.332 [...]


I — a discriminação e individualização das unidades de propriedade exclusiva,
estremadas uma das outras e das partes comuns;
II — a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade, relativamente
ao terreno e partes comuns;
III — o fim a que as unidades se destinam (BRASIL, 2002, documento on-line).

A convenção são as regras internas que regem as relações entre os condô-


minos e disciplinam a conduta de terceiros dentro do condomínio. A convenção
deve ser subscrita pelos titulares de, no mínimo, dois terços das frações ideais
e torna-se obrigatória para os titulares de direito sobre as unidades. Segundo
Tartuce (2017, p. 699):
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No que concerne à convenção de condomínio, essa constitui o estatuto cole-


tivo que regula os interesses das partes, havendo um típico negócio jurídico
decorrente do exercício da autonomia privada. Enuncia o art. 1.333 do CC
que a convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pelos
titulares de, no mínimo, dois terços das frações ideais, tornando-se, desde
logo, obrigatória para os titulares de direito sobre as unidades, ou para quantos
sobre elas tenham posse ou detenção.

Para que seja válida contra terceiros, a convenção deve ser registrada no
cartório de registro de imóveis. No entanto, conforme a Súmula nº. 260 do STJ
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2011), a convenção de condomínio
aprovada, ainda que sem registro, é eficaz para regular as relações entre os
condôminos (tem pelo menos efeitos inter partes).
Ademais, apenas será possível o registro da convenção após o registro
da instituição e especificação do condomínio (quando passa a ter existência
jurídica). A convenção também deve prever a quota proporcional e o modo de
pagamento das contribuições dos condôminos para atender:

 às despesas ordinárias e extraordinárias do condomínio;


 à sua forma de administração;
 à competência das assembleias, à forma de sua convocação e ao quorum
exigido para as deliberações;
 às sanções a que estão sujeitos os condôminos ou possuidores e o re-
gimento interno.

Além disso, a convenção pode adotar a forma de escritura pública ou


escritura particular e terá aplicação não somente a proprietários, mas aos
promitentes compradores e aos cessionários de direitos relativos às unidades
autônomas.
Inclusive, após registrada a promessa de compra e venda e desde que o
promitente comprador esteja na posse da unidade, ele deverá então proceder
ao pagamento das despesas de condomínio. A convenção poderá ser alterada
quando aprovada a modificação por dois terços dos votos dos condôminos. No
entanto, para mudança da destinção do edifício ou da unidade imobiliária, é
necessária a provação da unanimidade dos condôminos. Vejamos:
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A convenção de condomínio é o ato-regra, de natureza institucional, que


disciplina as relações internas entre os coproprietários, estipulando os direitos
e deveres de uns para com os outros, e cuja força cogente alcança não apenas
os que a subscreveram mas também todos aqueles que futuramente ingressem
no condomínio, quer na condição de adquirente ou promissário comprador,
quer na de locatário, impondo restrições à liberdade de ação de cada um em
benefício da coletividade; e estabelece regras proibitivas e imperativas, a que
todos se sujeitam, inclusive a própria Assembleia, salvo a esta a faculdade de
alterar o mencionado estatuto regularmente, ou seja, pelo quorum de 2/3 dos
condôminos presentes (art. 1.351 do CC) (STJ, Ministro Luis Felipe Salomão,
Recurso Especial nº. 1.177.591 — RJ [2010/0017133-9]) (TRIBUNAL DE
JUSTIÇA, 2010, documento on-line).

Além das normas já previstas quanto ao direito de vizinhança, a convenção


e o regulamento interno regulamentam as relações jurídicas entre os condô-
minos. Conforme o art. 1.335 do Código Civil, são direitos do condômino
(BRASIL, 2002):

 usar, fruir e livremente dispor das suas unidades;


 usar das partes comuns, conforme a sua destinação, contanto que não
exclua a utilização dos demais copossuidores;
 votar nas deliberações da assembleia e delas participar, estando quite.

Por outro lado, como obrigação, o condômino deve:

 contribuir para as despesas do condomínio, conforme suas frações


ideais;
 não realizar obras que comprometam a segurança da edificação;
 não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas;
 dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação;
 não utilizar suas partes de maneira prejudicial ao sossego, à salubridade
e à segurança dos possuidores ou aos bons costumes.

Em caso de descumprimento de seus deveres, o condômino pode ser com-


pelido a pagar multa conforme previsto na convenção, em até cinco vezes o
valor de suas contribuições mensais, independentemente das perdas e dos
danos que se apurarem, após deliberação pela assembleia geral. Conforme
Loureiro (2017, p. 903–904):
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Não pode o condômino tornar privativa área de uso comum. O problema mais
complexo é o que se refere ao terraço de cobertura de edifícios de apartamento.
Trata-se de área de uso comum que, portanto, é insuscetível de uso privativo
(art. 1.331, § 5º, CC). [...] Por outro lado, o proprietário do apartamento de
cobertura não é obrigado a tolerar a passagem de outros proprietários pela
área de sua propriedade exclusiva para que possam chegar até o terraço. Não
há que falar aqui em servidão de passagem.

Como mencionado, a convenção é regida pelo princípio da pacta sunt


servanda, ou seja, tem força obrigatória para seu devido cumprimento. No
entanto, observando-se as decisões contemporâneas, esse princípio encontra
limitação nas normas de ordem pública, nos preceitos constitucionais e em
princípios sociais.
Como exemplo, temos a polêmica da presença de animais nas dependências
do condomínio. Há casos em que a convenção proíbe a presença dos animais,
casos em que é omissa e casos em que permite essa presença. Porém, a juris-
prudência majoritária entende que é permitida a permanência do animal de
estimação, desde que ele não perturbe o sossego, a saúde e a segurança dos
demais coproprietários. Vejamos a jurisprudência:

Condomínio. Ação declaratória c.c. obrigação de fazer. Parcial procedência.


Condôminos que mantêm cachorro de pequeno porte (raça Yorkshire) em sua
unidade condominial. Convenção condominial que proíbe a manutenção de
qualquer espécie de animal nas dependências do condomínio. Abusividade, na
hipótese. Inexistência de qualquer espécie de risco aos demais condôminos.
Provas no sentido de que referido animal não causa qualquer transtorno aos
moradores. Entendimento jurisprudencial que permite a permanência de
animais de pequeno porte (hipótese dos autos) nas dependências do condo-
mínio. Ausência de risco ao sossego e segurança dos condôminos (art. 10,
III, Lei 4.591/1964). Sentença mantida. Recurso improvido (TJSP, Apelação
994.05.0492852, Acórdão 4383110, Sorocaba, 8ª Câmara de Direito Privado,
Rel. Des. Salles Rossi, j. 17/3/2010, DJESP 12/4/2010) (TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DE SÃO PAULO, 2010).

Para a administração do condomínio, será eleito pela assembleia um síndico,


que poderá não ser condômino, para administrar o condomínio, por prazo
não superior a 2 anos, o qual poderá renovar-se. Ao síndico, compete, entre
outros deveres, cumprir e fazer cumprir a convenção, o regimento interno e
as determinações da assembleia.
Por fim, o condomínio pode ser extinto com destruição ou ameaça de ruína
do edifício, quando os condôminos deliberarão em assembleia sobre a recons-
trução, ou venda, por votos que representem metade mais um das frações ideais.
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Segundo o Direito comparado, a destruição do edifício é considerada quando o valor


da sua reconstrução superar 50% do valor do imóvel ao tempo do sinistro, a menos
que esteja coberto por seguro. Além disso, é possível a extinção quando houver
desapropriação e deliberação unânime dos condôminos para que seja transformado
em condomínio comum.

3 Aplicação do patrimônio de afetação


ao condomínio de lotes
O condomínio de lotes foi previsto no art. 1.358-A do Código Civil de 2002,
após ser incorporado ao Direito pela Lei nº. 13.465, de 11 de julho de 2017:

Art. 1.358-A Pode haver, em terrenos, partes designadas de lotes que são
propriedade exclusiva e partes que são propriedade comum dos condôminos.
§ 1º A fração ideal de cada condômino poderá ser proporcional à área do solo
de cada unidade autônoma, ao respectivo potencial construtivo ou a outros
critérios indicados no ato de instituição.
§ 2º Aplica-se, no que couber, ao condomínio de lotes o disposto sobre con-
domínio edilício neste Capítulo, respeitada a legislação urbanística.
§ 3º Para fins de incorporação imobiliária, a implantação de toda a infraes-
trutura ficará a cargo do empreendedor (BRASIL, 2017, documento on-line).

O condomínio de lotes, portanto, passou a ser considerado um tipo de


condomínio edilício, obedecendo às regras referentes a essa modalidade
condominial. No condomínio de lotes, haverá a atribuição de fração ideal à
titularidade privada, o que o diferencia do loteamento.
O condomínio de lotes deve ser produto de parcelamento do solo, ob-
servando as normas constantes na Lei nº. 6.766, de 19 de dezembro de 1979
(BRASIL, 1979). Além disso, há exigência de aprovação prévia do loteamento
pelo Poder Público municipal, sendo o lote tido como unidade autônoma, com
matrícula própria, com o loteador equiparado ao incorporador imobiliário.
Logo, sendo equiparado o condomínio de lotes à incorporação, é cabível o
emprego do patrimônio de afetação à referida espécie condominial.
Ainda, o Poder Público pode determinar limitações, sejam elas ambientais,
urbanísticas, administrativas ou outas, bem como direitos reais sobre o referido
condomínio. Todavia, as ruas de circulação interna constituem bens privados.
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A Lei nº. 6.766/1979, em seu art. 2º, § 7º, prevê: “Art. 2º [...] § 7º O lote poderá
ser constituído sob a forma de imóvel autônomo ou de unidade imobiliária
integrante de condomínio de lotes” (BRASIL, 1979, documento on-line).
O patrimônio de afetação, por sua vez, é a separação de determinados
bens da empresa para vinculá-los ao empreendimento que será construído,
garantindo-se que os adquirentes tenham segurança e confiabilidade na aqui-
sição de unidades imobiliárias que ainda serão construídas. Para loteamentos,
inclusive, a instituição do patrimônio de afetação não é possível.
Conforme o art. 31-A da Lei nº. 4.591/1964, se o incorporador desejar, a
incorporação poderá ser submetida ao regime da afetação, pelo qual o terreno,
as acessões objeto de incorporação imobiliária e os demais bens e direitos
a ela vinculados manter-se-ão apartados do patrimônio do incorporador e
constituirão patrimônio de afetação, destinado à consecução da incorporação
correspondente e à entrega das unidades imobiliárias aos respectivos adqui-
rentes (BRASIL, 1964).
O patrimônio afetado, assim, só responde por dívidas e obrigações vincu-
ladas à incorporação respectiva, enquanto o incorporador responderá pelos
prejuízos que causar ao patrimônio de afetação. No entanto, excluem-se do
patrimônio de afetação:

Art. 30-A [...]


§ 8º [...]
I — os recursos financeiros que excederem a importância necessária à con-
clusão da obra, considerando-se os valores a receber até sua conclusão e, bem
assim, os recursos necessários à quitação de financiamento para a construção,
se houver; e
II — o valor referente ao preço de alienação da fração ideal de terreno de
cada unidade vendida, no caso de incorporação em que a construção seja
contratada sob o regime por empreitada (art. 55) ou por administração (art.
58) (BRASIL, 2001, documento on-line).

Para constituir-se o patrimônio de afetação, deve ser feita averbação, a


qualquer tempo, no registro de imóveis, de termo firmado pelo incorporador
e, quando for o caso, também pelos titulares de direitos reais de aquisição
sobre o terreno. Os deveres do incorporador estão previstos no art. 31-D da
Lei nº. 4.591/1964, como (BRASIL, 1964):

 promover todos os atos necessários à boa administração e à preservação


do patrimônio de afetação;
 manter apartados os bens e direitos objeto de cada incorporação;
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 diligenciar a captação dos recursos necessários à incorporação;


 entregar balancetes trimestralmente;
 manter escrituração contábil.

Inclusive, o incorporador deve entregar à comissão de representantes, no


mínimo a cada 3 meses, o demonstrativo do estado da obra e de sua corres-
pondência com o prazo pactuado ou com os recursos financeiros que integrem
o patrimônio de afetação recebidos no período, firmados por profissionais
habilitados. Extingue-se o patrimônio de afetação:

 pela averbação da construção;


 pelo registro dos títulos de domínio ou de direito de aquisição em nome
dos respectivos adquirentes;
 pela revogação em razão de denúncia da incorporação, depois de res-
tituídas aos adquirentes as quantias por eles pagas;
 pela liquidação deliberada pela assembleia geral.

Além disso, extingue-se também o patrimônio de afetação pelo não paga-


mento das obrigações tributárias, previdenciárias e trabalhistas, vinculadas
ao patrimônio de afetação, cujos fatos geradores tenham ocorrido até a data
da decretação da falência, ou insolvência do incorporador, sempre em até 1
ano da deliberação de continuidade da obra ou até a data da concessão do
habite-se, se esta ocorrer em prazo inferior.
Quanto às responsabilidades dos condôminos, na hipótese de falência ou
insolvência civil do incorporador, caso estes se decidam pela continuação
da obra, subrogar-se-ão automaticamente aos direitos, às obrigações e aos
encargos relativos à incorporação.
Além disso, haverá também responsabilidade individual de cada condômino
pelo saldo porventura existente entre as receitas do empreendimento e o custo
da conclusão da incorporação, conforme expressa o § 12 do artigo citado, que
será calculada (BRASIL, 1964):

 na proporção dos coeficientes de construção atribuíveis às respectivas


unidades;
 por outro critério deliberado em assembleia geral por dois terços dos
votos dos adquirentes.

Ainda, o art. 9º da Lei nº. 10.931/04 prevê que os condôminos devem


satisfazer às obrigações tributárias, trabalhistas e previdenciárias dentro do
12 Incorporação imobiliária

prazo de até 1 ano, contado da deliberação da continuidade da obra, ou até a


data da decretação da falência ou da insolvência do incorporador ou, ainda,
até a data da concessão do habite-se (BRASIL, 2004).
Se os condôminos ficarem inadimplentes, serão cessados os efeitos do regime
de afetação e haverá perda da deliberação pela continuidade da obra. Esse é
o regime de afetação que também pode ser cabível aos condomínios de lotes.
Em recente decisão, o Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou a necessidade
de averbação do patrimônio de afetação na matrícula do imóvel para que seja consi-
derado constituído, conforme previsto no art. 31-B da Lei nº. 4.591/1964. Vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPRA E VENDA IMOBILIÁRIA. CUM-


PRIMENTO DE SENTENÇA. PENHORA DE IMÓVEL. PATRIMÔNIO DE
AFETAÇÃO NÃO AVERBADO. Insurgência contra decisão que rejeitou a
impugnação à penhora. Patrimônio de afetação se constitui mediante averbação,
nos termos do artigo 31-B da Lei nº. 4.591/64. Formalidade legal não observada.
Subsistência da penhora. Recurso desprovido (TJSP Agravo de Instrumento nº.
2071672-73.2019.8.26.0000) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, 2019).

BRASIL. Lei nº. 13.465, de 11 de julho de 2017. Diário Oficial da União, Brasília, 12 jul. 2017.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13465.htm.
Acesso em: 19 mar. 2020.
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.
htm. Acesso em: 19 mar. 2020.
BRASIL. Lei nº. 10.931, de 2 de agosto de 2004. Dispõe sobre o patrimônio de afetação
de incorporações imobiliárias, Letra de Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Imobiliário,
Cédula de Crédito Bancário, altera o Decreto-Lei nº 911, de 1º de outubro de 1969, as Leis
nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, nº 4.728, de 14 de julho de 1965, e nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 3 ago. 2004.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.931.
htm. Acesso em: 19 mar. 2020.
BRASIL. Lei nº. 4.591, de 16 de dezembro de 1964. Dispõe sôbre o condomínio em edificações
e as incorporações imobiliárias. Diário Oficial da União, Brasília, 21 dez. 1964. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4591.htm. Acesso em: 19 mar. 2020.
BRASIL. Lei nº. 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo
Urbano e dá outras Providências. Diário Oficial da União, Brasília, 20 dez. 1979. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6766.htm. Acesso em: 19 mar. 2020.
Incorporação imobiliária 13

BRASIL. Medida provisória nº. 2.221, de 4 de setembro de 2001. Altera a Lei nº 4.591, de 16
de dezembro de 1964, instituindo o patrimônio de afetação nas incorporações imobiliárias,
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasil, 5 set. 2001. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/Antigas_2001/2221.htmimpressao.htm. Acesso em:
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DEBS, M. E. Legislação notarial e de registros públicos comentadas: doutrina, jurisprudência e
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. AI 2071672-73.2019.8.26.0000 SP 2071672-
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Leitura recomendada
BRASIL. Lei nº. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 31 dez. 1973. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm. Acesso em: 14 mar. 2020.
14 Incorporação imobiliária

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