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JAMILE SERRA COUTINHO

PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS

SANTO ANTÔNIO DE JESUS


2023
JAMILE SERRA COUTINHO

PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS

Trabalho apresentado ao curso de Psicologia,


oferecido pela Faculdade Anhanguera, como
requisito de avaliação do 1° bimestre da
disciplina de Processos Psicológicos Básicos,
1º semestre 2023.1.
Sob a orientação da docente Cristiane Neiva.

SANTO ANTÔNIO DE JESUS


2023
Resenha crítica do filme Divertidamente

Divertidamente (em inglês Inside Out) é um filme em formato de


animação lançado em 2015 pelo estúdio Pixar, que conta a história do
amadurecimento de Riley, uma garotinha de 11 anos que está aprendendo a
lidar com suas emoções. Quando seus pais decidem deixar sua cidade natal
em Minnesota para viver em San Francisco, Riley precisa entender a diferentes
emoções que se tornam parte do seu dia a dia na mudança de escola, na
ansiedade de fazer novos amigos e com a nova rotina de trabalho do seu pai.
Dentro do cérebro da garotinha, representados por personagens,
convivem várias emoções diferentes, no que é denominado “sala de comando”:
a Alegria, o Medo, a Raiva, o Nojinho e a Tristeza. São essas emoções
primárias que regem o seu comportamento social, e diante de todo esse
contexto de mudança, a Alegria acredita que Riley deve estar sempre feliz,
ainda que tudo que ela conhecia tenha desaparecido, e nessa tentativa de
manter a Tristeza afastada, ambas saem da sala de comando, o que muda
radicalmente a conduta da menina, levando-a a tomar decisões extremamente
perigosas para si e que ferem as pessoas que a amam.
De acordo com Atkinson e Hilgard, as crianças “[...] entram no mundo
com todos os seus sistemas sensoriais funcionando e preparadas para
aprender sobre o novo ambiente”.1 E o filme nos leva a perceber isso em
diversos momentos de Riley, desde a alegria genuína quando ela nasce e
esboça a primeira reação ao ver seus pais, passando pela descoberta de
novos alimentos nem tão saborosos, como o brócolis, que desperta o nojo e,
explorando e descobrindo novos ambientes na casa com o medo, que evita
grandes acidentes domésticos.
É durante a infância que ocorre o aumento da capacidade de pensar e
raciocinar, a construção dessa nova habilidade se desenvolve em conjunto com
o amadurecimento natural, as interações da criança com o ambiente, e com os
estímulos oferecidos a ela. Enxergando o ser humano como um agente social e
histórico, no processo de formação da subjetividade do sujeito, os
comportamentos são também desenvolvidos e selecionados a partir da

1
Introdução à psicologia, Atkinson & Hilgard. Tradução da 16ª edição norte-americana. Susan Nolen
Hoeksema, Barbara L. Fredrickson, Geoffrey R. Loftus e Christel Lutz. 2ª edição brasileira. P. 68.
interação e consequências com o ambiente. E é durante a infância que a
criança desenvolve a capacidade de entender seus sentimentos e adaptá-los
ao meio que a cerca.
Ao longo da infância e entrada na adolescência de Riley, esses
sentimentos vão sendo processados e interferem no ambiente, como quando
ela decide jogar hockey na sala da casa nova, para chamar a atenção do pai e
aliviar a tensão da mudança, ou quando os pais fazem o “macaquinho” para ela
se animar e ir para a escola. Assistimos não apenas o que se passa na cabeça
da garota, mas de que forma esses sentimentos se transformam ao longo do
seu amadurecimento e adaptação ao novo ambiente.
Na primeira parte do filme, antes de encarar todas as mudanças, as
emoções manifestavam-se quase que isoladamente em situações especificas:
a alegria, uma das principais emoções no centro de comando, presente nos
principais momentos de sua vida e responsável pelo seu bem-estar; a tristeza é
descrita desde o início de forma negativa, responsável por arruinar todos os
momentos felizes da criança, mas é ela também que revela quando Riley
precisa de suporte da família e dos amigos; o medo é responsável por manter a
menina em segurança e sempre alerta em situações de perigo; a raiva aparece
quando as coisas não saem conforme o esperado, é uma das principais
emoções a se manifestar na segunda parte do filme, quando ela não aceita o
cotidiano imposto pela mudança; o nojinho faz Riley se afastar imediatamente
de situações que lhe causam repulsa, é essa emoção que garante que ela
esteja integrada a sociedade e saudável.
É na segunda parte, quando a alegria e a tristeza estão longe da sala de
comando, que a raiva, o nojo e o medo começam a dominar as emoções de
Riley, são elas que determinam o comportamento da menina diante de
estímulos externos. Sem entender que a vida passa por mudanças e sem
aceitar se sentir triste e confusa, a garotinha entende que a solução é retornar
para onde foi feliz, e tenta fugir de casa, numa analogia à tentativa de fuga da
realidade para não se permitir estar triste. É só quando a alegria e a tristeza
retornam, que ela permite ser dominada pela dor que a tristeza provoca. Mas
essa dor é temporária, pois logo que é amparada pelos pais ela passa a dividir
espaço coma alegria, e perceber que as emoções podem ser complexas e
coexistirem.
O consultor do filme foi o psicólogo Paul Ekman, especialista em
microexpressões, que decodificou as expressões características de cada
emoção, e definiu as cinco emoções básicas elementares: raiva, tristeza,
medo, desgosto e alegria. Ekman definiu também que as emoções, como
impulso biológico, têm gatilhos diferentes em cada pessoa, e são perceptíveis
através da voz, na linguagem corporal e na expressão facial, elas determinam
a reação de cada pessoa ao experimentar cada sensação, e a consciência e
controle dessas reações é o que se denomina inteligência emocional.
Essas emoções geram respostas e consolidam as memórias, cada
experiência vivida é responsável por uma memória, que ao ser resgatada gera
um sentimento que pode variar de acordo com o contexto: quando morava em
Minesotta, Riley sentia alegria quando se lembrava do seu primeiro gol no
hockey, mas ao se mudar para San Francisco essa lembrança lhe causava
tristeza, por representar aquilo que ela não teria mais, o time e o jogo. Esse
aspecto é essencial na formação de cada traço de personalidade.
Fica claro em Divertidamente que cada emoção tem um propósito na
construção das memórias, que formam as “ilhas de personalidade”, ou seja, as
estruturas sobre a qual Riley se constrói como pessoa. Ao longo do filme
percebemos a garota experimentando emoções mais complexas, e no
processo de tentar entender e se adaptar a elas, as ilhas de personalidade
antigas se destroem e novas nascem, acomodando novos gostos, novas
emoções, novos amigos e a puberdade.
É durante o caminho de retorno à sala de comando que a Alegria e a
Tristeza interagem, e a alegria percebe que cada sentimento desempenha uma
função, e é nessa complexidade das emoções que acontece o processo de
aprendizagem e a aquisição de novas habilidades, como a linguagem.
Considerando que são os sentimentos que guiam as atitudes cotidianas, o filme
nos revela a importância de sentir todas as emoções para poder criar
mecanismos de construção de memórias.
A principal mensagem do filme é nos fazer entender o quanto é
importante deixar que cada emoção seja sentida de acordo com as
circunstâncias da vida. Existe uma crítica profunda à concepção de que
devemos ser felizes o tempo todo, sem considerar que sem a tristeza não é
possível enxergar a verdadeira alegria. Ao amadurecer e desenvolver
habilidade emocionais mais complexas, Riley percebe que não pode ser feliz o
tempo todo, portanto as memórias da sua vida em Minesotta serão um misto de
alegria e tristeza, o que ensina a recordar com felicidade e entender que
mudanças são necessárias, ainda que difíceis.

Referências bibliográficas

Barbosa, Suria. O que o filme “Divertidamente” ensina sobre inteligência


emocional. Disponível em: https://www.napratica.org.br/filme-divertidamente-e-
inteligencia-emocional/. Acesso em 07/09/2023.

Fuks, Rebeca. Filme Divertida Mente (resumo, análise e lições). Disponível em:
https://www.culturagenial.com/filme-divertida-mente/. Acesso em: 07/09/2023.

Hoeksema, Susan Nolen; Fredrickson, Barbara L.; Loftus, Geoffrey R.; Lutz,
Christel. Introdução à psicologia, Atkinson & Hilgard. Tradução da 16ª edição
norte-americana. Editora CENGAGE, São Paulo, SP. 2ª edição brasileira.

Sonsin, Juliana. O que o filme “Divertida Mente” ensina sobre as emoções.


Disponível em: https://www.telavita.com.br/blog/divertida-mente-e-emocoes/.
Acesso em: 07/09/2023.

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