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Autor:Davi Andrade Pereira

Graduando em ciências sociais pela UFAL

Eriksen e Nielsen apresentam uma breve biografia de Radcliffe-Brown, a sua


origem, na classe operária, seu percurso acadêmico (inicialmente estudante de
medicina) até ingressar na antropologia, bem como a disposição teórica adotada
pelo antropólogo em seu estágio inicial (o difusionismo), até chegar, através do seu
contato com Durkheim, mais precisamente com a obra “As formas elementares da
vida religiosa”, ao desenvolvimento do estrutural funcionalismo.
E nesse ponto, ao tratar das contribuições teóricas de Radcliffe-Brown,
apresentam sinteticamente as principais noções teóricas (antropológicas) por ele
estabelecidas e suas características gerais.
Interessante perceber o persistente paralelo que os autores fazem entre
Radcliffe-Brown e Malinowski, tratando quase que por contraste as duas figuras e
correntes antropológicas que eles representam, algo que aparece de forma muito
clara e sintética no seguinte trecho:

"Radcliffe-Brown foi seguidor de Durkheim ao considerar o indivíduo


principalmente como produto da sociedade. Enquanto Malinowski
preparava seus alunos para irem a campo e procurarem as motivações
humanas e a lógica da ação, Radcliffe-Brown pedia aos seus que
descobrissem princípios estruturais abstratos e mecanismos de integração
social." (ERIKSEN E NIELSEN, 2007, p. 59)

Ou seja, na abordagem funcionalista de Malinowski os antropólogos preconizam o


indivíduo e as motivações mesmas de suas ações, reconhecendo como
imprescindível para efetivação do conhecimento e compreensão da cultura esse
procedimento, de compreensão dessas motivações humanas, algo que se
exemplifica muito bem no trecho que segue, presente na obra “Crime e castigo na
sociedade selvagem”, de Malinowski:

“[...] O verdadeiro problema não é estudar como a vida humana se submete


às regras - ela simplesmente não se submete -, o verdadeiro problema é
saber como as regras se adaptaram à vida.” (MALINOWSKI, 2003, p.95)
Com isso, Malinowsky não nega o caráter coercitivo que tem as instituições
sociais, mas reafirma o caráter intercambiável que tende a estabelecer entre a
fisiologia e a cultura, uma vez que, conforme seu “individualismo metodológico”,
Eriksen e Nielsen determinam:

“[...] As instituições existiam para as pessoas, não o contrário, e eram as


necessidades das pessoas, em última análise suas necessidades
biológicas, que constituíam o motor primeiro da estabilidade social e da
mudança [...]” (ERIKSEN E NIELSEN, 2007, p. 57 a 58)

Sendo assim, enquanto Malinowski afirma, da vida humana, que ela


simplesmente não se submete às regras, mas as regras se adaptam a ela, para
Radcliffe-Brown, são as estruturas sociais, instituições, normas de comportamento,
"representações coletivas", em suma as redes de relações, gerais e coercitivas,
encaradas mesmo em sua externalidade e coercitividade sob o individuo que devem
ser estudadas e, portanto, ocupam esse protagonismo epistemológico, como
Eriksen e Nielsen explicam:

“[...] Na obra de Radcliffe-Brown a estrutura social existe


independentemente dos atores individuais que a reproduzem. As pessoas
reais e suas relações são meras agenciações da estrutura, e o objetivo
último do antropólogo é descobrir sob o verniz situações empiricamente
existentes os princípios que regem essa estrutura [...]” (ERIKSEN E
NIELSEN, 2007, p. 60)

Importa ressaltar, sobre o contraste entre esses dois antropólogos o que afirmam
Eriksen e Nielsen, que:

“[...] Embora o contraste seja frequentemente exagerado nos relatos


históricos, às vezes o resultado foram estilos de pesquisa
consideravelmente diferentes." (ERIKSEN E NIELSEN, 200, p.59)

Afirmação que não exclui, de certo, convergências entre o funcionalismo de


Malinowski e o estrutural funcionalismo de Radcliffe-Brown, primeiro ambas
correntes adotam uma abordagem sincrônica e empirista em suas pesquisas,
desconsiderando a necessidade de realizar reconstruções históricas das culturas
estudadas e reconhecendo a necessidade da realização do trabalho de campo,
através de “observação participante” e ambos concebem a sociedade como um
organismo composto de diversas partes inter relacionadas, mas, enquanto para
Malinowski, o organismo social se revela através da análise etnográfica da relação
entre indivíduo e grupo, para Radcliffe-Brown importa mais compreender e
demonstrar as forças estruturais que integram os indivíduos à sociedade, as
estruturas sociais, bem como o papel que desempenham, a determinação sobre o
indivíduo, ou seja, a função produtora que as estruturas, instituições sociais,
desempenham na determinação da vida social, do homem como ser social
(socializado), mas de modo comparativo, ou seja, etnológico, num estudo
comparativo entre diferentes etnografias, indo, como diz o próprio Radcliffe-Brown
(1978) em sua obra "O método comparativo em antropologia social", do particular ao
geral, do geral para o mais geral, para, assim, chegar-se a uma compreensão das
estruturas universais, comum à todas as culturas humanas.

Referências bibliográficas:

Eriksen; Finn Sivert Nielsen; História da antropologia; tradução de Euclides Luiz


Calloni; revisão técnica de Emerson Sena da Silveira. Petrópolis, RJ :'Vozes,
2007.p.58/62
MALINOWSKI,Bronislaw; Crime e costume na sociedade selvagem; tradução de Maria
Clara Corrêa Dias; revisão técnica de Beatriz Sidou. - Brasília
Brasília:Imprensa Oficial do Estado, 2003.100p.
O método comparativo em Antropologia Social". In MELATTI, Julio Cezar (org.):
Radcliffe-Brown: Antropologia, pp. 43-58. (Grandes Cientistas Sociais, 3) São Paulo:
Ática.

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