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LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO BÁSICA

(LEB)

AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
Docente: Prof.ª Dr.ª Teresa Gonçalves
2.º ano, 1.º semestre
MÓDULOS *Avaliação

MÓDULO I
10 horas 1.º teste de avaliação de frequência:
8 nov.
MÓDULO II
8 horas
MÓDULO III
3 horas 2.º teste de avaliação de frequência:
10 jan.
MÓDULO IV
20 horas
*Avaliação 2 horas + 2 horas
Recursos em linha
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=terminology
• Dicionário de termos linguísticos (Portal da Língua Portuguesa): DTL https://dt.dge.mec.pt/
• DT Dicionário Terminológico: DT

https://www.infopedia.pt
• Infopédia (secção
/ Língua Portuguesa): INF
https://www.dge.mec.pt/educacao-de-infancia
Módulo 1 – Comunicação e
linguagem
(10 horas)

1.1. Definição de conceitos


1.2. O processo de aquisição da linguagem.
Comunicação
Competência comunicativa
Comunicação
Transmissão de Produção de
(indepen-
conteúdo sentido dentemente
dos códigos
usados)
https://www.youtube.com/watch?v=aSVBakv_2jY
No vídeo que acabaram
O vídeo transmitiu de ver foi usado o
algum conteúdo código linguístico?
(mensagem)?

Pode recontar através Que códigos foram


do código linguístico o usados para a
conteúdo (mensagem) transmissão do
transmitido pelo vídeo? conteúdo (mensagem)?

CONCLUSÃO:
O AUTOR (realizador) DESTE VÍDEO TEM
COMPETÊNCIA COMUNICATIVA, POIS
CONSEGUIU TRANSMITIR UMA MENSAGEM
(conteúdo), RECORRENDO A VÁRIOS CÓDIGOS:
linguagem não verbal, imagens, cores, sons,
movimento das personagens...
Código: sistema de sinais
Comunicação: troca de Competência comunicativa: convencionais destinados a
informação entre indivíduos capacidade de transmitir representar e a transmitir
através da fala, da escrita, conteúdo (mensagem) a uma informação. (In INF)
de um outro código comum recetor(es), usando um ou (…) sistema de relações
ou do próprio múltiplos códigos em estruturadas entre signos ou
comportamento. (In INF) simultâneo. conjuntos de signos. (código
linguístico) (In INF)
Linguagem
Linguagem verbal e linguagem não-verbal
Linguagem Competência
Em sentido mais abrangente: O
termo é utilizado para designar
linguística: “Em
meios de comunicação, gramática generativa,
nomeadamente, o raciocínio conhecimento
matemático ou químico, a
Linguagem não- interiorizado que o falante
linguagem dos animais ou os verbal: É constituída nativo tem da sua língua,
sistemas de programação em Linguagem verbal: por todos os códigos não isto é, o domínio do
informática. É a variedade da sistema de regras que lhe
linguísticos que também
Em sentido restrito: linguagem que se realiza podem ser usados pelos permite produzir e
“Capacidade humana de pela utilização das compreender um número
comunicar através do uso seres humanos para
sistemático e convencional de
palavras, isto é, fazendo comunicarem conteúdo, infinito de frases assim
sons [na oralidade], sinais uso do código linguístico por exemplo, a postura como reconhecer erros e
[signos] ou símbolos escritos [uma língua ou várias]. corporal, a gestualidade, a ambiguidades.” In DTL
[escrita], [nomeadamente, expressividade do rosto,
alfabetos e caracteres de
“Capacidade intuitiva que
imagens, música, etc. o falante tem de usar a
escritas asiáticas].”
sua língua materna,
In D. T. L.
decorrente do processo
Linguagem oral (receção e natural de aquisição da
produção) e linguagem escrita
(receção e produção)
linguagem.” In DT
Competência linguística (gramatical): implica o domínio da

comunicar através de uma língua


depende da utilização de várias
linguagem verbal e da não-verbal

O domínio da capacidade de
Competência enciclopédica

competências
Competência pragmática (competência
discursiva/retórica)

Competência lógica

Competência metalinguística
Competência linguística
Competência linguística

Capacidade de
Conhecimento
comunicar, oralmente duplo
interiorizado que o
e/ou por escrito, signifi-
cado falante tem sobre uma
fazendo uso de uma
(várias) língua(s).
(várias) língua(s).
Capacidade de comunicar
fazendo uso de uma
(várias) língua(s).

RECEÇÃO PRODUÇÃO
DIFERENTES ATIVIDADES
COMUNICATIVAS
LINGUÍSTICAS (orais ou escritas)
INTERAÇÃO MEDIAÇÃO
Capacidade de comunicar
fazendo uso de uma
(várias) língua(s).

Competência
linguística
(comunicar através do uso da
Competência linguagem verbal (língua) e
linguística oral não-verbal)

(compreender o que Competência


os outros dizem linguística escrita (ler
[receção], falar [receção], escrever
[produção], conversar [produção], trocar
[interação oral] e mensagens escritas
explicar a outros o [interação escrita] e
que alguém disse mediar a escrita de
[mediação]) alguém [mediação]
Capacidade de comunicar
(oralmente) fazendo uso de
uma (várias) língua(s). Competência linguística
“No sentido do utilizador, define-se a competência (…) [linguística] oral como a
capacidade de saber usar, de um lado, os signos verbais e, do outro, os elementos não verbais
da comunicação humana, como os traços prosódicos (acento, entoação, pausas), os traços
extralinguísticos (cinésicos [movimento e gestualidade], proxémicos*), de acordo com a
situação de comunicação. Estes signos permitem reconhecer quem disse e a quem se disse;
estipular quando falar ou limitar-se a guardar silêncio; como dirigir-se a pessoas que ocupam
lugares e representam estatutos diferentes; como encontrar o modo apropriado para dizer
tudo quanto merece ser dito (…).”
Figueiredo, 2011:248.

* proxémica:
“1.
estudo das distâncias físicas que os indivíduos estabelecem entre si quando interagem
socialmente e do significado e possíveis razões da variação dessas distâncias
2.
estudo da utilização do espaço, principalmente pelo ser humano”

proxémica in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora,
2003-2018.
Capacidade de comunicar
(oralmente) fazendo uso de
uma (várias) língua(s).

Compe-
tência Uso do código linguístico oral
linguís- (signos verbais)
tica oral

traços prosódicos (acento,


Uso de entoação, pausas)
elementos
não-verbais da traços extralinguísticos
(cinésicos [movimento e
comunicação gestualidade], proxémicos*)
Capacidade de comunicar
(por escrito) fazendo uso
de uma (várias) língua(s).

Compe-
tência Uso do código linguístico
linguís- escrito (signos verbais)
tica
escrita
Distribuição do texto no suporte,
Uso de tamanhos e fontes de letras, sublinhados,
negritos, cores, esquemas, desenhos,
elementos mapas, símbolos (setas, parêntesis…),
paginação, etc.
não-verbais da Sinais de pontuação, acentos gráficos
comunicação (agudo, grave e circunflexo) e a marca de
nasalidade til.
Conhecimento interiorizado que o
falante tem sobre uma (várias)
língua(s).
Competência linguística
“Capacidade intuitiva que o falante tem de usar a sua língua materna,
decorrente do processo natural de aquisição da linguagem.”
In DT dicionário terminológico em linha

“6. [Competência] LINGUÍSTICA conhecimento adquirido e


inconsciente das regras da língua, graças ao qual o sujeito falante é
capaz de construir, reconhecer e compreender um número infinito
de frases gramaticais”
Também, frequentemente, é designada por competência gramatical,
que nos permite determinar a gramaticalidade ou agramaticalidade
das frases.

competência in Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto:


Porto Editora, 2003-2018.
Conhecimento interiorizado que o
falante tem sobre uma (várias)
língua(s).

2. Constrói uma frase que obedeça à


Criança - Eu quero um gelado!
seguinte estrutura: S + P + CD

A criança que diz a primeira frase mostra ter adquirido um


conhecimento inconsciente e implícito das regras da sua língua, pois
produz uma frase gramatical, que pode ser compreendida por
qualquer falante português.
Quem conseguir fazer o exercício 2 demonstra dominar a linguagem
técnica utilizada [metalinguagem] e ter aprendido a língua
portuguesa, isto é, ter conhecimento consciente e explícito sobre a
sua língua.
Conhecimento interiorizado que o
falante tem sobre uma (várias)
língua(s).

Conhecimento Conhecimento
implícito da explícito da língua
língua – aquisição - aprendizagem -
- (conhecimento (consciência
intuitivo) linguística)
Conhecimento interiorizado que o
falante tem sobre uma (várias)
língua(s).

O conhecimento sobre uma língua inclui:


• a pronúncia das palavras [na escrita: a ortografia das mesmas],
• a colocação do acento, isto é, dar mais ênfase à sílaba tónica [na escrita: a
colocação dos acentos gráficos],
• a entoação [na escrita: os sinais de pontuação],
• o uso de pausas [na escrita: os sinais de pontuação],
• a construção frásica,
• a escolha do léxico/vocabulário,
• a concretização dos atos de fala,
• a estruturação do discurso,
• a estruturação dos tipos de texto (por exemplo, informativo, preditivo,
funcional, etc.),
• a estruturação dos géneros de texto (notícia, artigo científico, boletim
meteorológico, aviso, discurso de agradecimento, etc.), entre outros aspetos.
Conhecimento
interiorizado que o
falante tem sobre
• A pronúncia das • A escolha do uma (várias) língua(s).
palavras, léxico
colocação do
acento e entoação

Competência
Competência
lexical e
fonológica
morfológica

Competência linguística
Competência Competência
discursiva e sintática
pragmática
• A estruturação do • A construção
discurso, os tipos frásica
de texto e os atos
de fala
Língua
“Sistema linguístico complexo e dinâmico de símbolos convencionados, usado em modalidades
diversas para [o homem] comunicar e pensar.”
(In Sim-Sim, 1998: 22-23.)
Análise da definição anterior de língua:

Este sistema é constituído por unidades discretas (fonemas, sílabas,


morfemas, palavras, sintagmas, frases e textos/enunciados) que se
combinam mediante regras específicas. Componentes: fonológica,
morfológica, lexical, sintática, semântica, discursiva e pragmática.

Sistema dinâmico: variabilidade sincrónica (variedades da


língua num mesmo período) e diacrónica (variações que
se manifestam através dos tempos).

Símbolos convencionados: signos


(palavras)(significante/significado) arbitrários que
remetem ou não para referentes

Modalidades: oral e escrita

Forma privilegiada de comunicação


humana. O pensamento processa-se
através da linguagem; pensamos na
nossa língua.
Competência enciclopédica
Competência enciclopédica
• reservatório de saberes/conhecimento e crenças sobre o universo
referencial [referentes] do discurso.

referente
“LINGUÍSTICA entidade ou localização temporal ou espacial, real ou imaginária, para a qual uma expressão
linguística remete, num determinado contexto.” (INF)
Exemplo: ‘porta’

• Enciclopédia mental: “Armazenagem de todos os factos e


generalizações que cada pessoa conhece acerca dos objetos, eventos e
estados do mundo que a rodeia.” (DTL)
“Não basta ter o domínio da gramática e do dicionário
para produzir e interpretar textos. Com efeito, a
competência discursiva e textual, além de exigir o
conhecimento de estratégias e regras atinentes às
macroestruturas (grandes partes constitutivas do texto) e
às microestruturas textuais (parágrafos, frases, campos
lexicais relativos a tema e subtema, etc.) e dos factores
pragmáticos relativos ao contexto situacional,
pressupõe a existência da enciclopédia, na
acepção semiótica do termo: conjunto dos
conhecimentos e das crenças sobre o mundo,
partilhado, num determinado tempo e numa
determinada comunidade social, pelos interlocutores e
pelos autores e leitores que intervêm na produção e na
interpretação de actos discursivos e de textos.”
(DT)
Necessitamos Se o discurso for sobre, por exemplo, mitocôndrias, o
de recetor necessita conhecer este conceito da Biologia para
competência compreender o que ouve ou lê.
enciclopédica
para
compreender Se o discurso for sobre dragões, o recetor necessita
o conteúdo conhecer esta personagem animal fantástica para
das compreender o que ouve ou lê.
mensagens.

Se o discurso for sobre faunos, o recetor necessita conhecer


esta personagem mitológica para compreender o que ouve
ou lê.

Se o discurso for sobre o complexo de édipo, o recetor


necessita conhecer o mito de Édipo e as características
deste problema psicológico descrito por Sigmund Freud
para entender o que ouve ou lê.
Exemplo da necessidade de recorrer à competência enciclopédica para
compreender a mensagem:
“Ramiro Arribas mudara de nome para Román Altares, diferente do
original mas relativamente parecido. Agora, não falava um castelhano
como o meu, mas sim um fluido espanhol portenho*. Não parecia
correr-lhe mal a vida, a julgar pelo seu aspeto e pelo facto de conhecer,
pelo menos tangencialmente, Alberto Dodero (…)”, amigo muito
próximo de Eva Péron**.
In Sira, de María Dueñas.

*O espanhol rioplatense é uma variedade do espanhol falada principalmente nos arredores do Rio da Prata, particularmente
na região da província de Buenos Aires, capital da Argentina.
** Mulher do presidente argentino Juan Domingo Péron, durante um período do seu mandato, de 1946 a 1952.
Competência pragmática
“No sentido do utilizador, define-se a competência (…) [linguística] oral como a
capacidade de saber usar, de um lado, os signos verbais e, do outro, os elementos não verbais da
comunicação humana, como os traços prosódicos (acento, entoação, pausas), os traços
extralinguísticos (cinésicos [movimento e gestualidade], proxémicos*), de acordo com
a situação de comunicação. Estes signos permitem reconhecer quem disse
e a quem se disse; estipular quando falar ou limitar-se a guardar silêncio; como dirigir-se a pessoas
que ocupam lugares e representam estatutos diferentes; como encontrar o modo apropriado para
dizer tudo quanto merece ser dito (…).”
Figueiredo, 2011:248.
Competência retórica-pragmática
“Retórica
Arte, no sentido da palavra grega techne – conjunto
sistematizado de preceitos para, através da sua aplicação,
alcançar a consecução de um determinado fim –, que estuda,
organiza e ensina a aplicar os princípios e as regras da
elaboração do discurso correcto e elegante (ars recte et bene
dicendi) que tem como finalidade fundamental persuadir o
auditório, mediante a argumentação, a utilização adequada
dos sentimentos e das emoções.
A retórica, como disciplina que ensina a construir o discurso
e a ordenar o debate argumentativo numa particular
situação comunicativa, tendo em consideração o contexto
extraverbal, o interlocutor e a matéria em causa, é uma arte
eminentemente pragmática que, ao longo de séculos, foi
precursora das actuais análise do discurso e linguística textual.
(DT)
Conhecer as regras da elaboração do discurso correto e elegante
implica ter competência discursiva/textual

discurso / enunciado / texto: sequência discursiva de


extensão variável resultante de um ato de enunciação

“(…) A competência discursiva e a competência textual


consistem no domínio dos saberes linguístico e retórico-
pragmáticos que permitem configurar as estruturas
discursivas e textuais.”
(DT)

• Macroestruturas discursivas e textuais


• Microestruturas discursivas e textuais
“pragmática
1.
conjunto de regras ou fórmulas que regulam os atos e
cerimónias oficiais; protocolo
2.
conjunto das formalidades e regras de etiqueta
(…)
5.
LINGUÍSTICA disciplina que estuda as relações
existentes entre as formas linguísticas e os falantes, no
sentido de descrever o uso que estes fazem da língua
nas mais diversas situações de comunicação”

pragmática in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa


[em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2018.
Exemplos de A escolha das formas de tratamento
aspetos
relacionados
A escolha das formas de saudação e despedida
com os usos
sociais da
língua, nas Uso de termos técnicos e termos comuns
mais diversas
situações de
comunicação Uso de marcas de subjetividade

Uso de expressões linguísticas fixas próprias de determinados


tipos de textos
Níveis de língua em contextos formais e contextos informais
(registo linguístico e estilo)
Alusões e inferências

Respeito pelas máximas conversacionais (da qualidade [verdade], de


modo [o discurso deve ser claro, breve e ordenado], da relação [relevante e
relacionada com o tópico da conversa] e da quantidade [apenas a informação
principal e necessária])
Competência lógica
Competência lógica
Capacidade para avaliar e determinar as características de um texto/discurso oral
ou escrito: a sua validade (qualidade da sua lógica interna), a sua veracidade, a sua
correção, a sua coerência (não contradição das ideias (conteúdo) apresentadas) e o
encadeamento regular das ideias expressas.

Todos os textos, orais ou escritos, têm uma lógica interna própria, sendo
necessário que o falante automatize essa lógica para mais fácil e rapidamente os
compreender (receção) ou produzir (produção).

Não é necessário ser um especialista em língua para, por exemplo, compreender


que, num convite, logicamente, deve constar a designação do evento, a data, a
hora, a duração, o local e, eventualmente, o grau de formalidade do mesmo (esta é
a macroestrutura deste tipo de texto).

Do mesmo modo, num texto descritivo, oral ou escrito, devem ser tomadas
decisões sobre a ordem e a natureza da informação que se quer transmitir [vista
panorâmica, especificações sobre o local/tempo, seres humanos, outros seres
vivos, objetos (dos maiores para os mais pequenos), detalhes, etc.].
Competência metalinguística
Competência metalinguística
“Capacidade que um falante tem de manipular e reflectir sobre
unidades, processos e regras da gramática da sua língua. O
desenvolvimento pleno da competência metalinguística depende, em
grande parte, de instrução explícita e formal.”
(DT)

A competência metalinguística é necessária para fazer uma análise crítica


sobre a estrutura de um texto/discurso, oral ou escrito, sobre a
estrutura das frases que o constituem, sobre a diversificação vocabular,
etc. Para fazer esta análise, é necessário conhecer e dominar a
linguagem técnica própria da gramática do texto e da gramática da frase.
oral
vertentes ou
modos da língua
escrito
Vertentes ou modos da língua: oral e escrita
“Oralidade
As línguas verbais podem ser realizadas através de dois modos que constituem a sua
substância de expressão: a oralidade e a escrita.
A oralidade é o modo primário, natural e universal da realização da língua. No modo oral, o
aparelho fonador produz os enunciados que, transmitidos pelo ar, são percepcionados
auditivamente pelo(s) receptor(es). A realização fónico-acústica ou vocal auditiva
dos enunciados e dos textos determina que a comunicação oral seja de tipo próximo e
instantâneo, com o emissor e o(s) [receptor(es) in praesentia, isto é, situados no mesmo
contexto situacional, e possua uma duração efémera (os modernos meios tecnológicos de
registo e reprodução do som e da imagem alteraram pontualmente esta problemática, mas a
comunicação oral quotidiana, espontânea e prototípica, é de tipo próximo e instantâneo).”
In DT
“Formalmente, o discurso oral caracteriza-se pela parataxe [justaposição de frases sem uso de
conjunção coordenativa ou subordinativa], por um modelo acumulativo ou agregativo da
organização da informação, pela utilização simultânea de importantes recursos supra
segmentais [a entoação, a duração e os acentos], paralinguísticos [gestos, expressões faciais e postura
corporal], cinésicos [movimento do olhar e do corpo] e proxémicos [distância a que se colocam os
interlocutores], que lhe podem conferir uma grande força emocional e persuasiva, por uma
dependência forte dos contextos extraverbais, representada pelo uso de numerosos
elementos deícticos [são palavras cujos referentes variam de um texto oral para outro, por exemplo,
‘aqui’, ‘agora’, ‘ontem’, ‘nós’, etc.], por um vocabulário menos rico e apurado em relação ao
discurso escrito e pelo emprego de marcadores discursivos tópicos e estereotipados que
funcionam como bordões [ex.: tipo, tipo…, portanto, portanto…]

O discurso oral prototípico tem uma sintaxe pouco estruturada – com predomínio, como
ficou dito, da parataxe, com orações incompletas, com repetição de estruturas,
com elipses, etc. – e, em geral, apresenta uma formalidade mais débil e descuidada do
que o texto escrito. Todavia, o discurso oral pode apresentar-se formalmente bem
planificado e estruturado, como acontece nos discursos políticos e judiciários e nos
sermões construídos em conformidade com as normas da retórica clássica.”
In DT
modo oral

comunicação
o aparelho
o recetor de tipo
modo fonador do
ouve os próximo comunicação duração
primário da emissor
enunciados e (partilha de instantânea efémera
língua produz
interpreta-os contexto
enunciados
situacional)
modo oral: estrutura do discurso

faz uso de traços


suprassegmentais
(entoação, a forte
predomina a duração, os dependência do
recursos cinésicos vocabulário utilização de
parataxe (frases acentos) e contexto (deíticos
e proxémicos menos rico bordões
justapostas) paralinguísticos - isto, eu,
(tom de voz – de aquilo…)
irritação, de
dúvida…)
“Escrita: modalidade de realização da língua que recorre a um suporte gráfico e exige a adequação
discursiva que tenha em conta o facto de o destinatário estar ausente no tempo e no espaço.”
In Infopédia
“Escrita
A escrita, podendo embora ser apenas a transcodificação de um texto oralmente
realizado, como quando se transcreve o registo gravado de uma conversa, de um
depoimento judicial, etc., (…) [também pode decorrer de uma intenção de
produção de um texto escrito de um determinado tipo e género] .

A escrita, que possibilita uma comunicação diferida no tempo e no espaço e a


elaboração de um pensamento fortemente descontextualizado, abstracto e
analítico, produz textos cuidadosamente planificados e elaborados – embora haja
textos escritos debilmente elaborados e apressadamente produzidos e haja outros textos, por vezes de
grande complexidade, produzidos de um jacto, sem interrupções nem correcções (o que não significa que
não tenham subjacente um longo processo de planeamento e amadurecimento) –, susceptíveis de
um processo de reescrita, de reformulação e correcções sucessivas.
No texto escrito predomina a hipotaxe [subordinação], avultam os
elementos coesivos e as palavras de tipo linguístico gramatical dedicadas à
planificação discursiva do texto. O léxico do texto escrito é mais rico, variado e
cuidado do que o léxico do texto oral, podendo alcançar um elevado grau de
especialização (por exemplo, nos textos científicos, filosóficos, jurídicos, etc.).
O texto escrito pode conter elementos importantes de natureza não verbal, como
o tipo de letra, a disposição iconográfica das palavras no espaço da página, a
interacção entre os elementos verbais e elementos pertencentes a outros códigos
semióticos – o desenho, as ilustrações, as fotografias, etc, – ou a interacção com
esquemas, diagramas ou tábuas estatísticas, característica de muitos textos
escritos de natureza científica e tecnológica.
A escrita pode incorporar marcas peculiares da oralidade para obter
determinados efeitos estilísticos e para tornar mais dúctil, plástica e moderna
uma língua escrita demasiado conservadora e rígida no seu léxico, na
sua sintaxe, na sua semântica e na sua pragmática. Um magnífico exemplo na
literatura portuguesa desta vivificação da língua escrita literária pela língua oral
encontra-se nas Viagens na minha terra de Almeida Garrett.
A escrita pressupõe uma longa e complexa aprendizagem de processos
linguísticos, cognitivos, socioculturais e pragmáticos, que proporcione o
conhecimento dos recursos e das normas da língua, dos registos adequados a
cada tipo de texto e as propriedades elocutivas e discursivas fundamentais como
a correcção, desde a ortografia à sintaxe, a clareza, a coesão e a coerência.
Esta longa e complexa aprendizagem tem na leitura como processo
compreensivo e na leitura como processo criativo – na leitura de textos de
diversa e plural tipologia – a sua trave mestra.”

In DT, http://dt.dge.mec.pt/
modo escrito
pressupõe um
comunicação pode comunicar
discurso
diferida no pensamento
cuidadosamente
tempo e no abstrato e
planificado e
espaço analítico
elaborado
modo escrito
escrever um texto
pressupõe a
ativação de
Pode conter processos
elementos de linguísticos
pressupõe um natureza não (nomeadamente, o
predomina a discurso verbal (negritos, conhecimento da
fortemente vocabulário mais ortografia),
hipotaxe cuidadosamente tamanhos e cognitivos
coeso rico e variado
(subordinação) planificado e cores de letra, (competência
elaborado ilustração, enciclopédica),
mapas, pragmáticos,
esquemas…) discursivos
(estrutura do tipo
de texto que se
escreve) e retóricos.
Vertentes da língua

modo oral (espontâneo ou


modo escrito
previamente preparado)
modo primário, natural e universal da modo de realização da língua só possível
realização da língua após a aprendizagem da leitura e da escrita

realização fónico-acústica ou vocal auditiva uso de alfabetos (letras) para transcrever as


(sons) dos enunciados palavras dos enunciados

emissor e recetor no mesmo contexto


comunicação diferida no tempo e no espaço
situacional

o registo escrito pode perdurar durante um


duração efémera
longo período temporal

pouca preocupação com a organização muita preocupação com a organização


formal do discurso formal do discurso

utilização simultânea de linguagem não


utilização simultânea de linguagem não
verbal: tipo de letra, disposição no suporte,
verbal: aspetos cinésicos e proxémicos
ilustração, diagramas, gráficos, etc.
Um bebé de, por exemplo, três meses tem competência comunicativa? Porquê?
Questões
para
Uma criança de 3 anos tem competência linguística? Porquê?
refletir?
A competência comunicativa e linguística são passíveis de evolução? Porquê?

Podemos afirmar que quanto mais cultura e saber possuir uma pessoa, mais
facilmente compreenderá o que os outros dizem ou escrevem? Porquê?

Em que circunstâncias podemos afirmar que uma comunicação foi eficaz?

A competência retórica do falante pode relacionar-se com a eficácia da


comunicação? Porquê?

A competência lógica é importante para os recetores? Porquê?

A competência metalinguística pode ser importante para avaliar a correção do


nosso próprio discurso e para efetuar a correção de incorreções? Porquê?
As crianças dominam as duas vertentes da língua desde o nascimento?
Questões Justifique.
para
Qual das duas vertentes da língua é mais espontânea? Esta característica
refletir? acarreta consequências a nível da estruturação formal do enunciado. Quais?

Que aspetos terão de ser cuidados no discurso escrito?

No discurso oral são frequentemente usados deícticos (ontem, amanhã, aqui,


lá, cá, eu, tu, nós, etc.). No caso do modo escrito, quais deverão ser as
preocupações do autor relativamente a estes ou outros deícticos?
Referências bibliográficas
• Figueiredo, O. (2011). Da língua como sistema à fala como ato. Ensino
do modo oral. In Duarte, I. e Figueiredo, O. Português, Língua e
Ensino, pp. 247-263. Porto: Universidade do Porto.
• Dicionário de Termos Linguísticos. Alojado no Portal da Língua
Portuguesa.
• (2003-2018). Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha].
Porto: Porto Editora.
• (sd). DT dicionário terminológico em linha. Lisboa: Direção Geral de
Educação.

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