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Papo Reto com o Pediatra

A saúde do seu filho sem mistérios


Volume 1

coletânea com 30 textos

Dr Flávio Melo
Pediatra CRM PB 5239 - RQE 3065
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Índice

Alergias
Evite alergias: seu bebê precisa comer de tudo
Alergia à lactose: “non existe”!!!!!

Alimentação
Depende de você: seu filho pode viver cem anos
Quanto açúcar escondido seu filho come
Alimentação na gravidez: o que evitar

H1N1, Zika, Dengue e afins


H1N1: Tudo que você precisa saber mas o Fantástico não
te contou
Proteja seu bebê menor de 6 meses da H1N1
Medo da H1N1 mas dá porcaria pro filho comer
Chikungunya: a bola da vez
Vacina Influenza/H1N1 e S. de Guillain-Barré
Vacina Influenza/H1N1 e alergia ao ovo
Vacina Influenza/H1N1, mercúrio e narcolepsia
Sua avó estava certa: canja faz bem para a gripe
Repelentes: tudo que você precisa saber

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Mitos & Verdades sobre doenças


Seus filhos não desgrudam do celular?
Socorro - meu filho pode ter convulsão febril?
Prisão de ventre
Caxumba está de volta
Coqueluche - você tem que agir agora
Tudo sobre a Vitamina S(ujeira)
Vitamina C e resfriados: razão vs emoção
Seu filho toma antibióticos todos os dias e você não sabe

Estilo de Vida
Dicas práticas para o planejamento da gravidez
A licença maternidade está no final? O mundo não vai
acabar

Socorro! Tivemos um bebê e viramos zumbis


Parte 1

Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5

2
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Quais alimentos fazem o seu bebê dormir


melhor?

Conheça a melatonina

Receita 1 - Smoothie do Soninho

Receita 2 - para um sono feliz e intestino saudável

3
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Evite alergias: seu bebê precisa


comer de tudo
Você acha que ovos, amendoim e outros são
alimentos proibidos para as crianças que estão
começando a ingerir alimentos sólidos, além do leite
materno, porque causam alergias? Muitos estudos
novos contradizem esta crença. Leia este post para
entender por que talvez seja uma boa ideia expor
nossos pequenos a estes alimentos.

O mais difícil da medicina de hoje é ser atualizado.


Precisa de muito estudo, dedicação e estar ligado no
mar de informações que se renova todos os dias.

Ontem estava navegando nesse mar e um editorial


do New England Journal me chamou a atenção.

Era sobre o estudo EAT, que busca demonstrar a


incidência de alergias alimentares, em rota crescente,
de acordo com o momento da introdução de alimentos
alergênicos para o bebê.

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Há alguns anos, recomendávamos que deveria ser


evitada ou postergada a introdução precoce de ovo
(só podia a gema…), peixe, amendoim, leite de vaca e
derivados, para bebês que iriam iniciar a transição do
aleitamento materno exclusivo, para os alimentos
sólidos.

A partir do estudo LEAP, onde se verificou que a


introdução precoce de amendoim para os pacientes
com alto risco de alergia, diminui substancialmente
seu risco posterior de desenvolver alergia, o conceito
mudou radicalmente.

E esse estudo publicado semana passada, apesar de


não mostrar que introduzir antes dos 6 meses os
alimentos acima tem um caráter protetor em relação à
introdução após os 6 meses, continua sinalizando
para essa mudança de paradigma.
Portanto, a mensagem que está sendo passada é a
seguinte: provavelmente é bastante benéfico que
desde o início da alimentação complementar, sejam

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introduzidos todos os alimentos, sem postergações ou


restrições, sendo essa prática protetora para o
desenvolvimento de alergias alimentares.

No consultório ainda luto para que as famílias


introduzam peixe, ovo inteiro e outros alimentos
para seus bebês, mas há uma resistência cultural.
Espero esteja no fim, para o bem da saúde dos seus
filhos.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Alergia à lactose: “non


existe”!!!!!

Alergia só acontece quando há reação à proteínas!


Sendo a lactose um carboidrato, a expressão
“alergia à lactose” não faz sentido algum. Leia o post
para entender este tema sem mistérios

Eu sinto um profundo frio na espinha ao ouvir o termo


acima.

E queria explicar a vocês essa confusão, de uma vez


por todas. Espero ouvir cada vez menos que “meu filho
foi diagnosticado com essa doença”. Simplesmente
porque ela “non existe”, como diria o Padre Quevedo!

Se ficar com dúvidas ou tiver comentários, fique a


vontade para escrever ao final deste post. Prometo
responder assim que possível.

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Entendendo os termos – alergia à


lactose não faz sentido
● Alergia Alimentar – é uma reação imunológica
exacerbada à uma proteína, proveniente de
alimentos.

● Lactose – é o principal açúcar do leite, portanto


é um carboidrato.

Portanto, como lactose não é proteína, não existe


alergia à lactose!

Desfazendo a confusão
Estou me sentido um professor de filosofia e suas
lições de lógica, irrefutáveis. Mas como estou longe de
ser professor, filósofo ou de entender a lógica, vou
explicar com um pouco mais de cuidado, a origem
dessa confusão.

Existem duas doenças. Vejamos.

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1) Alergia à proteína do leite de vaca: ocorre quando


o indivíduo tem sintomas gastrointestinais, de pele ou
respiratórios, após a ingestão de qualquer quantidade
de leite ou produtos que o contenha.
Pode se manifestar com sintomas bastante agudos,
minutos após a exposição, como por exemplo a
urticária, vômitos, dor abdominal ou uma crise de
chiado e tosse.

Também pode se manifestar de forma tardia, como


sangramento nas fezes de bebês e na forma mista,
como a dermatite atópica, com lesões irritadas e
pruriginosas na pele.

Solução: retira-se o leite da dieta, seja da mãe, em


caso de bebê em aleitamento materno exclusivo, seja
do próprio bebê, em caso de uso de fórmula e o
problema se resolve. E no caso de bebês em uso de
fórmula, prescreve-se uma fórmula apropriada para a
situação.

2) Intolerância à lactose: ocorre quando não há


absorção adequada do açúcar do leite, que vocês já
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sabem que se chama lactose, no intestino.

Para que a digestão ocorra é necessária uma enzima


chamada lactase, que “quebra” a lactose em glicose e
galactose e esta é absorvida para a corrente
sanguínea.

Se o indivíduo, por algum motivo, tem pouca (mais


comum) ou nenhuma enzima (raríssimo), a lactose se
acumula no interior do intestino, é fermentada pelas
bactérias e surgem os sintomas de gases, cólicas
abdominais e diarréia ácida no indivíduo.

Solução: consumir produtos com baixa quantidade de


lactose ou adicionar a enzima lactase na alimentação.
Nesse caso, pode-se ter laticínios e leite na
alimentação a depender da tolerância individual e com
a devida orientação do nutrólogo/pediatra E
nutricionista.

Ah, Dr Flávio, meu filho tem os dois


problemas!

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Infelizmente isso pode acontecer, principalmente


quando por uma dieta inadequada, um portador de
alergia à proteína do leite de vaca, desenvolve uma
inflamação intestinal decorrente do problema e
compromete a mucosa intestinal e consequentemente
a quantidade de lactase disponível. Mas não é comum!

Solução: uso de uma fórmula apropriada para APLV


(alergia à proteína do leite de vaca) sem lactose.

Inflamação do intestino pode causar


intolerância
Tem outra coisa que queria que vocês soubessem:
após uma infecção intestinal, que pode causar uma
inflamação significativa do intestino, o indivíduo
também pode desenvolver por algum tempo uma
intolerância à lactose, que chamamos de secundária.
Mas nesse caso, entre 15 a 30 dias, com a
recuperação da mucosa intestinal, a lactase volta aos
níveis normais e segue a vida.

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Solução: retirar/diminuir a lactose da dieta por um


prazo de 15 a 30 dias.

Enfim, deu para entender porque não existe alergia à


lactose?

Quando alguém disser que o problema do seu filho é


este, peça desculpas e diga que isso não existe!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Depende de você: seu filho pode


viver mais de 100 anos com
qualidade
Você gostaria de chegar aos 100 anos? Mas como
você quer chegar lá? Tomando um monte de
remédios, mal podendo andar, solitário? Claro que
não. Mas para ter uma vida com longevidade
qualidade, é preciso começar ontem. Veja neste post
o que dizem alguns estudos científicos a respeito e
viva mais e melhor.

O mundo é cada vez mais longevo. Em cerca de duas


décadas, conseguimos aumentar em torno de 10% a
expectativa de vida no mundo e reduzir drasticamente
a mortalidade infantil.

Esse fenômeno nos abre o horizonte para uma vida


longa para nossos filhos, em pouco tempo não será
raro viver além dos 100 anos.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Avanços na ciência, especialmente relacionados à


medicina, como vacinas, tratamento do câncer, das
doenças cardiovasculares, diminuição do tabagismo e
acesso à atendimento médico, pavimentam essa
estrada para o centenarismo.

Viver mais significa viver melhor?


Porém, há uma dualidade, entre vida longa e
qualidade de vida.

Pergunte-se: quantas pessoas acima de 50 anos


que você conhece não estão tomando medicamentos
para hipertensão, diabetes, alzheimer, quantos não
estão acima do peso? Isso compromete a longevidade
com qualidade de vida.

E o que meus filhos ou meus futuros filhos tem a ver


com isso?

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A questão é abordada no livro que recomendo a todos:


“Carta a um menino que viverá 100 anos”, do biólogo
Eduardo Boncinelli. Sabemos hoje que a semente da
maioria dessas doenças crônicas é plantada no bebê.
Só com um estilo de vida mais voltado para a
preservação da saúde, teremos longevos
saudáveis.

Sua alimentação está preparada para


você viver 100 anos?
Um artigo científico, publicado ano passado na
Pediatrics, maior revista científica pediátrica do
mundo, me chamou muito a atenção. O grupo da Dra
Melania Marco, Universidade de Roma, demonstrou a
presença e o aumento de moléculas que
predispõem o indivíduo ao alzheimer, no sangue
de adolescentes obesos e com alterações
glicêmicas.
Ou seja, a semente do Alzheimer é “plantada” muito
antes do que pensamos e nosso estilo de vida tem
tudo a ver com isso.

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O que as pessoas que vivem muito e


com qualidade têm em comum?
Recentemente, vários estudos científicos foram feitos
com os chamados centenários, e o que se viu é que,
mesmo distantes milhares de quilômetros (Okinawa-
Japão, Loma Linda-Califórnia, Nicoya-Costa Rica,
Ikaria-Grécia, Sardenha-Itália), essas comunidades
tinham algo em comum entre si:

1- Alimentação com um mínimo de alimentos


industrializados/ultraprocessados. Base alimentar
de hortaliças/frutas e leguminosas, consumo de altas
quantidades de fibras, uma discreta redução calórica
(cerca de 80% da necessidade) e consumo de vinho
ou bebida alcoólica com frequência, porém pequena
quantidade (no Nordeste se diz, uma lapadinha para
almoçar).

2- Movimentação natural. Não precisa virar um rato de


academia (olha o estresse!), mas diariamente não se
deve perder oportunidade de aumentar o número de

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passos dados. Evitar longos períodos sentados, ou


atividades essencialmente sedentárias. E tente fazê-lo
em ambientes abertos, tome sol, com moderação, mas
tome;

3- Propósito e meditação. Estabelecer objetivos,


caminhos, projetos, mas sempre tendo possibilidade
de parar e meditar.

4- Convivência. O engajamento em uma


comunidade, família ou religião, naturalmente criando
uma rede de apoio e mitigando os terríveis efeitos na
saúde da solidão, principalmente para os idosos.

O desafio para nós, profissionais da saúde é de uma


visão mais ampla do indivíduo, no sentido de tratar as
famílias e fazer uma prevenção que chamo de
longitudinal ampliada, onde o cuidado é dado desde
antes da concepção e se estende por gerações.

Quer ser longevo e fazer seu filho longevo? Comece a


aplicar esses princípios agora!

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Mude seu estilo de vida!

Para finalizar, recomendo muito que assistam este


vídeo curtinho sobre o “Blue Zones Solution”, uma
iniciativa que mapeia o que fazem as pessoas que
vivem bastante e com qualidade de vida.

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Quanto açúcar escondido seu


filho come?
O açúcar escondido está em 80% dos produtos
industrializados. Pior: muitas vezes vêm disfarçados
com outros nomes que você nem imagina que são
açúcares. Aprenda neste post a identificar e evitar o
açúcar escondido que seu filho come.

O problema do açúcar escondido


Apesar da ciência da alimentação humana discordar
em inúmeros pontos de vista, se tem um que não se
tem praticamente nenhuma dúvida é o impacto
negativo do alto consumo de açúcar adicionado
dos alimentos, que prefiro chamar de açúcar
escondido.

Em especial, o consumo do chamado xarope de


frutose ou xarope de milho de alta frutose (em inglês
HFCS – High Fructose Corn Syrup), uma forma mais
barata e industrialmente plausível, causa uma
verdadeira tempestade no seu metabolismo.

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Em doses excessivas, que é o que se vê nos dias de


hoje principalmente na forma de bebidas
(refrigerantes, sucos industrializados, leites
adoçados), ultrapassa rapidamente a capacidade e a
necessidade do nosso organismo de utilizá-lo,
direcionando o armazenamento na forma de gordura
(sim, açúcar em excesso se transforma em gordura no
organismo!).

A partir daí se inicia todo o processo de inflamação,


excesso de liberação de insulina e acúmulo de
gordura, que estão na base da obesidade,
hipertensão, diabetes e esteatose hepática.
Seus triglicérides sobem por dois motivos básicos:
excesso de açúcar/carboidratos e excesso de calorias.

Não se inclui nesse contexto este mesmo açúcar


presente nas frutas inteiras, onde estão em menor
quantidade e acompanhado de fibras, que
desaceleram seu impacto metabólico, além de sua
saciedade ser bem maior.

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Exemplo prático: um copo de suco de laranja – quatro


a cinco laranjas. Você consegue comer cinco laranjas
de uma vez? Mas consegue “beber” tranquilamente,
não?

Até a OMS recomenda baixo consumo


de açúcar
Por esse motivo, a OMS recomenda nos dias de hoje
um consumo ideal de 5% das calorias diárias na
forma de açúcar adicionado, com um máximo de
10%, incluindo o mel e sucos de frutas 100% na conta.

Trocando em miúdos: em média, de 4 a 6 colheres de


chá para uma criança e mulheres e de 6 a 10 colheres
de chá para um adulto masculino. Você pode pensar:
mas é muito açúcar!!!!!

Você come açúcar sem saber


Vou repetir o alerta: o açúcar está escondido em
muitos alimentos do seu dia a dia. Não conte como
açúcar apenas o pó branco que você adiciona ao café.
Esse é o explícito, claro, que todo mundo sabe.

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Mas você sabia que um refrigerante em lata (não


diet/zero) contêm sete colheres de açúcar?

Ou seja, se seu filho consome uma lata de refrigerante


por dia, já passa da conta! Isso é açúcar escondido!

O açúcar escondido está presente em 80% dos


industrializados que comemos.

Em média, estamos comendo seis vezes mais


açúcar do que deveríamos. E o resultado está aí,
uma pandemia de obesidade e síndrome metabólica.

É só o açúcar a causa? Definitivamente não! Mas


devemos começar por ele!

A solução: Comida de Verdade!


Tudo aquilo que não está em uma embalagem
contendo nomes incompreensíveis nos ingredientes,
inclusive uma das 52 denominações técnicas do
açúcar escondido. Isso sim é Comida de Verdade.

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Alimentação na gravidez: o que


evitar?
A alimentação na gravidez muda, nem todos
alimentos são indicados. A recomendação deve
continuar sendo comer Comida de Verdade, mas
com algumas restrições. Veja a lista.

Baseado no post do Authority Nutrition.

Hoje vou listar abaixo, alimentos que toda grávida


deve moderar ou evitar durante a gestação, para seu
bem e do bebê.

1- Peixes com quantidade elevada de mercúrio

São peixes do mar, que pelo seu grande tamanho,


podem acumular quantidades significativas desse
metal: Tubarão, Cavala verdadeira, Peixe-espada e
Atum (inclui o enlatado).

No máximo, 2 porções por mês.

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Que peixes comer? Todos os outros, especialmente os


do mar, 2-3x/semana.

2 – Peixe mal cozido (ceviche, por exemplo), peixe


cru (sushi, sashimi) ou mariscos.

Podem conter agentes infecciosos como Norovirus,


Listeria (especialmente arriscada para o bebê),
Salmonela e parasitas.

3 – Carne mal passada, crua ou processada


Também podem conter diversos germes, como a
Salmonela, E. coli, Listeria e Toxoplasma (cuidado
extra!). As carnes processadas, como por exemplo, as
salsichas, além da contaminação, também têm
quantidades excessivas de sódio.

4 – Ovos crus ou mal cozidos

Podem ter a Salmonela. Cuidado também com molhos


feitos com gema crua, coberturas de bolos com claras
em neve, maionese caseira (cuidado com os food
trucks!) e sorvetes caseiros (sorbet que não leva ovo

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tudo bem).

5 – Carnes de órgão

Fígado e outras carnes de órgão (moela) podem


conter quantidades significativas de Vitamina A e
cobre, que podem ser prejudiciais, principalmente no
primeiro trimestre. Por outro lado, são fontes
importantes de Colina, Vitaminas do Complexo B e
Ferro, necessários para uma boa saúde da gestante e
do bebê. Então, consumir no máximo 1 vez por
semana, mas não deixar de comer!

6 – Cafeína

Grávidas devem limitar seu consumo de cafeína a no


máximo 200mg/dia, o que daria de 2-3 xícaras de café
por dia. Um alto consumo de cafeína durante a
gestação pode limitar o crescimento fetal e causar
baixo peso ao nascer.

7 – Brotos crus

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Os brotos, como alfafa e broto de bambu, podem estar


contaminados com a Salmonela, que pode estar em
suas sementes. Cozidos não há problema em
consumir.

8 – Hortaliças e frutas sem lavar

Podem conter bactérias como E.coli, Salmonela e


Listeria, além do Toxoplasma.

9 – Leite cru e Laticínios não pasteurizados

Podem conter Listeria, Salmonela, E. coli e


Campilobacter. A recomendação é consumir os
produtos pasteurizados.

– “Ah, mas eu ouvi dizer que probióticos são ótimos…”

Os lactobacilos benéficos permanecem nos produtos


lácteos industrializados pasteurizados, como o iogurte,
a coalhada e o queijo.

10 – Álcool

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– Tolerância ZERO. Simples assim.

11 – Alimentos ultra-processados – Comida Lixo

– Tolerância ZERO. Simples assim.

Um dos profissionais mais importantes na sua


gestação, além do obstetra e do
pediatra/neonatologista, é o nutricionista!
#comidadeverdade , mas com cuidados especiais.

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H1N1: tudo o que você precisa


saber para proteger seu filho,
mas o Fantástico não te contou

Idosos, pessoas com doenças cardíacas e


respiratórias são mais suscetíveis. Mas é necessário
ter cuidados especiais com os pequenos: todos que
cuidam ou lidam com seu bebê devem ser
vacinados. Essa é a única e melhor forma de
protegê-lo do H1N1

Quando a gente pensa que o aperreio com a Zika &


Cia limitada já estava grande, lá vem o H1N1, para
acrescentar pimenta ao caldo.

Hoje a caixa de mensagens já começou a acusar o


golpe (eita palavrinha enjoada!!!). Mas aqui não vai ter
golpe, vai ter informação!!!! Não deixe de me enviar
suas dúvidas e comentários ao final deste post.

Ontem vi a reportagem do Fantástico, mas acho que o


Dr. Dráuzio Varela está de férias ou esqueceram de
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

consultá-lo, de tão fraquinha e superficial que foi sobre


o tema.

Listinha básica sobre o tema do


momento
– H1N1 sempre esteve por aqui nos últimos anos,
sendo que sua aparição estava mais concentrada
próxima do outono/inverno;

– Por algum motivo ainda não totalmente esclarecido,


ele resolveu aparecer um pouco antes, no começo do
outono e a maioria não está mais protegida pela vacina
do ano passado.

– Quem está complicando mais e quem está morrendo


mais são os idosos e portadores de doenças crônicas,
principalmente cardíacas e respiratórias.

– Os menores de 5 anos de idade, ainda mais menores


de 2 anos de idade, AINDA mais menores de 6 meses
de idade, são suscetíveis a complicações.

E aí, o que fazer para proteger seu filho?


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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Se tiver que guardar uma mensagem, que seja esta:


antecipe a vacinação. Como o corpo leva em torno
de 30 dias para estar com os anticorpos formados e
atuantes, caso a onda do H1N1 esteja realmente se
espalhando, deixar para vacinar em Abril/Maio pode
significar arriscar demais.

Há duas opções de vacinas (ambas contêm o H1N1):

– Trivalente, a mesma do governo, que só será feita


nos postos no final de Abril, mas que possivelmente já
estará disponível nas clínicas de vacina essa semana.

– Quadrivalente, que tem uma proteção a mais para


um tipo de Influenza e estará disponível nas clínicas
privadas em no máximo 15 dias para os maiores de 6
meses. Já está disponível uma marca para os maiores
de 3 anos de idade.

Mas fique atento: se tiver um bebê menor de 6 meses


em casa, todos que cuidam ou lidam com seu bebê
devem ser vacinados. Essa é a única e melhor forma
de protegê-lo do H1N1.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

O mesmo vale se seu filho, mesmo em idade maior,


tiver contra indicação de tomar a vacina.

Existe medicação para o H1N1


É o velho conhecido Oseltamivir (Tamiflu), deve ser
indicado para os indivíduos com suspeita de síndrome
gripal e fatores de risco (idade, doenças crônicas, etc)
ou que estejam com quadro de síndrome gripal e
sintomas de gravidade.

Seu médico pediatra deve conhecer o protocolo e


explicar para você como ele funciona, no caso de
suspeitar de H1N1 no seu filho.

Agora, não confunda os cerca de 70 vírus


respiratórios que causam resfriado comum com o
H1N1, pois os primeiros incomodam, chateiam, mas
não derrubam teu filho.

Não apenas teu filho, mas você também.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Proteja seu bebê menor de 6


meses da H1N1
O que fazer com os bebês menores de 6 meses, já
que não existe vacina de H1N1 para eles? Veja o
que é recomendado por importantes e respeitados
institutos oficiais no Brasil e nos EUA.

Esta é a pergunta do momento! É algo muito


importante mesmo, porque eles estão em um grupo de
alto risco de complicações e mortalidade por
H1N1/Influenza.

Papo reto: o que fazer para proteger seu


bebê do H1N1
Para proteger seu bebê menor de 6 meses da H1N1,
fazer o seguinte:

– Vacinação da gestante e puérpera até 2 semanas


do pós-parto. Se a gestante tomou ano passado a
vacina 2015, esse ano toma de novo a 2016 (30 dias

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

de intervalo mínimo).

– Vacinação da família e dos cuidadores. Mãe, pai,


irmãos, avós e quaisquer outros familiares que
convivam ou qualquer outra pessoa que cuide do
bebê, devem se vacinar.

Qual vacina os familiares devem tomar?


Pode ser a trivalente e a quadrivalente, sendo que a
quadrivalente protege para mais um tipo de Influenza
B. As duas protegem contra o H1N1.

Essa estratégia é recomendada pela Academia


Americana de Pediatria, pelo Comitê de Vacinas do
CDC/EUA, pela Academia Americana de Obstetrícia e
Ginecologia, pela Sociedade Brasileira de Pediatria e
pela Sociedade Brasileira de Imunizações.

Tem um nome lindo: estratégia Cocoon – quem lembra


do filme dos anos 80, entende bem o porquê. Se não
conhece o filme, tem no Google e no Netflix.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Só não venham me perguntar o motivo pelo qual o


governo não adota essa rotina na saúde pública. Não
me coloquem em maus lençóis!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Medo da H1N1 mas dá porcaria


pro filho comer?
Novos estudos trazem à tona algo que já imaginava:
comer porcaria e ficar obeso prejudica sua
imunidade. Não acredita? Pior pra você! Veja como
isso pode ter a ver com H1N1.

Todo mundo já está cansado de saber que


alimentação é a base da saúde. Mas parece ser mais
fácil fechar os olhos e ouvidos e entrar no fast-food
mais próximo.

Ontem pude sentir o quanto as pessoas estão


apavoradas com o H1N1. Quem me acompanha sabe
que não sou alarmista, mas confesso que estamos
em um momento crítico.

Na volta do trabalho pra casa, estava escutando sobre


a situação em São Paulo na CBN e realmente o
cenário é de se preocupar.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Mas talvez as pessoas estejam deixando o básico para


trás e tentando fazer apenas o mais fácil. Pode ser que
isso não funcione.

Vacinar contra H1N1 é importante, mas


não vale se sabotar
Não existe imunidade boa quando quase tudo o que
se come é porcaria (junk food)!

Todo mundo correndo atrás da vacina e do álcool gel,


o pessoal das clínicas de vacina (não tenho, nem
pretendo) com o telefone tocando sem parar, você já
quase um especialista no tema de tanto que já leu,
mas todos esquecendo o principal.

A nossa população está cada vez mais acima do


peso e obesa – não é para menos: comemos cada
vez mais comida de pacote e cada vez menos
comida de verdade.

“- Ah, Doutor Flávio, isso eu já sabia! Mas aí eu dou a


vacina pro meu filho e fico tranquilo.”

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

É mesmo? Não, definitivamente não!

Para que você que pensa assim possa refletir, queria


deixar a conclusão de dois estudos sobre alimentação,
vírus influenza e vacinação:

1. Journal of Nutrition – 2007 – Estudo com ratos


obesos e resposta à infecção por influenza
“Os dados indicam que a obesidade inibe a
habilidade do sistema imunológico responder
apropriadamente à infecção por influenza e sugerem
que pode levar a um aumento de morbidade e
mortalidade por infecções virais.”
“-Beleza, é só dar a vacina então…”

Será? Veja este outro estudo então.

2. International Journal of Obesity – 2012 – A


obesidade está associada com resposta imune
diminuída à vacinação para influenza em humanos
Pois é, acho que não precisamos de mais motivos para
entender o quanto estamos doentes e adoecendo
nossos filhos por causa de nossa alimentação e estilo
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

de vida.

E se todo mundo só fala de vacina (deve ser feita por


todos, vejam este outro post meu), álcool gel e
máscaras N95, eu prefiro te alertar que na boa
alimentação está o alicerce para a tua saúde e dos
teus filhos.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Chikungunya: a bola da vez

Leia este post para entender como se proteger da


Chikungunya, sem mistérios. Como sempre, fuja dos
boatos e mandingas e use a ciência como seu
protetor.

Antes que algum irresponsável caçador de cliques


toque as trombetas anunciando o fim do mundo, vou
tentar te explicar essa notícia de hoje.

Se você buscar na minha fanpage do Facebook, vai


ver que algumas semanas atrás fui procurado pelo
diretor da vigilância epidemiológica nacional, o Dr.
Eduardo Hage, para conversar sobre um alerta que fiz
em uma palestra, no mês de Março, sobre o possível
aumento de mortalidade por Chikungunya nas cidades
supostamente afetadas por uma epidemia do
problema.

O mesmo problema parecia ocorrer em Pernambuco e


na mesma semana recebi e-mail do Rio Grande do
41
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Norte pedindo para compartilhar meus dados, pois


estavam observando o mesmo problema por lá.

Qual é a real situação da Chikungunya?

Já sabíamos, ao consultar a literatura sobre


Chikungunya, que na Índia onde houve duas ondas da
doença em anos consecutivos. Na segunda onda, a
mortalidade em grupos de alto risco foi bem maior.

Quais esses grupos?


Recém-nascidos cuja mãe teve Chikungunya na
semana antes do parto (por isso é importante se
proteger até o bebê nascer). Idosos acima de 60 anos
de idade e portadores de doenças crônicas,
especialmente portadores de doenças cardíacas,
renais, respiratórias, neurológicas e imunológicas.

Acrescento também a observação de problemas


articulares crônicos e recorrentes em pacientes
adultos jovens e idosos, com grande dificuldade de
responder aos medicamentos convencionais.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Como se proteger?
Dica importante: não tomem medicamentos sem
avaliação médica!

O uso errado de certas medicações, pode fazer com


que a doença ou sintomas reapareçam com maior
intensidade (quem já teve sabe do que estou
falando).

A proteção é simples:

– Repelentes.

– Roupas mais compridas.

– Tudo o que você já sabe para se proteger das


doenças transmitidas pelo Aedes.

E o principal: combate irrestrito ao Aedes.

“-Ah, mas moro no Sudeste, aqui tá tudo tranquilo, o


problema está no Nordeste.” Não contem com isso,
protejam-se!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Vacina Influenza/H1N1 e S. de
Guillain-Barré: a verdade sem
sensacionalismo
Não vacinar contra H1N1/influenza aumenta as
chances de Síndrome de Guillain-Barré (SGB).
Estudos científicos comprovam isso e a mensagem
é simples: do ponto de vista do risco benefício, é
muito melhor vacinar do que não. Vou mostrar isso
neste post.

Eu sei que os tempos são difíceis. Que a informação


vem como um tsunami e pipoca no seu Whatsapp,
Facebook, Instagram, Periscope e Snapchat ao
mesmo tempo. E que boatos rendem audiência, tal
qual notícia ruim.

Eu sempre busco a verdade na ciência. Não que ela


seja perfeita, mas ela é a rocha sólida que temos para
nos apoiar e não a areia movediça do
sensacionalismo.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Como não abordei sobre essa questão na minha


postagem sobre “Mercúrio, Narcolepsia e vacina para
influenza/H1N1”, quero desmistificar mais esse boato
bem recente.

Desfazendo mitos sobre vacinas e


Guillain-Barré
É dez vezes mais provável você ter Síndrome de
Guillain-Barré (SGB) após a infecção por Influenza,
H1N1 incluída, do que após a vacinação.

Os estudos que usei para montar este post (publicados


no Center for Disease Control e no Lancet) avaliaram
esses riscos e a realidade é a seguinte:
● A cada um milhão de doses de vacina, existe
o risco do aparecimento de um caso de SGB,
e apesar da plausibilidade biológica, nenhum
estudo ainda pode explicar completamente o
mecanismo.

● A cada 100 mil pessoas que pegam Influenza,


uma desenvolve SGB (10 vezes maior risco).

46
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Há vários estudos que comprovam essa


causalidade, inclusive com mecanismo
biológico explicado.

● Esse risco é maior, ou seja, quanto mais casos


de Influenza ocorrerem e quanto menor for a
eficácia da vacina e também é maior nos grupos
de maior risco.

Portanto, quanto menos vacinar os grupos de maior


risco, mais Influenza e mais SGB, compreenderam?

Anualmente, mesmo com a vacinação, ocorrem cerca


de 5 milhões de casos graves por Influenza no mundo
e entre 250-500 mil mortes.

É uma questão de risco/benefício


Cada vez que você pega um avião, você se submete
ao risco de um acidente mortal a cada dois milhões de
decolagens.

Cada vez que você sai de carro, você tem um risco 26

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

vezes maior de ter um acidente mortal.

Se você pudesse escolher, andaria de avião ou de


carro todos os dias?

Se você pudesse escolher, baseado no risco de ter


SGB, tomaria a vacina ou arriscaria a doença?

Você decide: o risco ínfimo do efeito da vacina ou o


risco não negligenciável da doença e suas possíveis
consequências?

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Vacina Influenza/H1N1 e alergia


ao ovo: o que fazer?
A alergia ao ovo deve ser tratada com cuidado
quando falamos de vacinas, mas, como sempre, é

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

importante se informar antes de entrar em pânico e


não vacinar seu filho. Leia este post e fale com seu
pediatra sobre a situação particular do seu filho, caso
você suspeite de alergia ao ovo.

Talvez essa seja a questão que deixe todas as mães


e pais de cabelo em pé e olheiras profundas. Mas será
que você precisa mesmo ficar tão preocupada com
isso?

Fatos sobre a vacina e alergia ao ovo


● Se seu filho é maior do que 2 anos de idade e
não tem doenças crônicas, ele não se enquadra
no grupo de maior risco para complicações (os
menores de 2 anos apresentam risco!).

● A alergia à ovo ocorre entre 0,5-2% das


crianças.

● A vacina é produzida através de cultura de


células em ovos de galinha, portanto, pode

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

conter uma quantidade de ovoalbumina


suficiente para desencadear uma reação
alérgica.

Mas o que os estudos dizem?


Esse estudo de 2012, que analisou dados de 26
estudos, com cerca de 4.700 pacientes alérgicos ao
ovo e cerca de 500 com história de alergia severa,
nenhum desenvolveu reações anafiláticas após a
vacinação.

Sua conclusão: sempre haverá um risco muito


pequeno de anafilaxia associada à vacinação de
influenza ou qualquer outra, porém há evidências
robustas que pacientes alérgicos a ovo, mesmo com
alergia severa, podem ser vacinados de forma
segura. O risco de anafilaxia parece suficientemente
baixo para pacientes com alergia, comparados à
população geral, não necessitando de administração
por um alergologista.

50
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Mas, porém, contudo, todavia… Na medicina existe o


princípio da prudência e de primeiro não causar
dano.

Então, depois, analisando os dados do sistema de


eventos adversos à vacinação dos EUA, as
autoridades resolveram pôr um pouco mais de cuidado
e apesar do risco baixo, recomendam o seguinte:

● Se seu filho é alérgico ao ovo, mas apresenta


apenas urticária com a exposição, pode ser
vacinado desde que seja por um profissional
familiar com as manifestações potenciais de
alergia à ovo e deve ficar em observação por 30
minutos após a vacinação.

● Se o tipo de reação é severa, do tipo


anafilático, com inchaço generalizado, edema
de glote, desconforto respiratório, mal estar
geral e vômitos, a vacina pode ser
administrada por um profissional
alergologista, com experiência no

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

reconhecimento e manejo e uma reação


alérgica grave. A bula deixa claro que não deve
ser feito, por prudência eu não indicaria.

● Independentemente da história alérgica, todas


as vacinas devem ser administradas em locais
equipados e por pessoas preparadas para
reconhecer e tratar uma eventual reação
grave/anafilática (aqui mora o problema no
Brasil, onde vacinas são administradas até no
meio da rua).

● Pessoas que comem ovos mexidos pouco


cozidos, sem ter reações, provavelmente não
são alérgicas. Algumas pessoas alérgicas
podem tolerar produtos com ovo que foram
cozidos/aquecidos, como bolos e pães.
Portanto, tolerância à esses alimentos não
exclui a possibilidade de alergia ao ovo.

● Se existe alguma suspeita de alergia ao ovo,


antes de vacinar discuta o assunto com seu

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

pediatra/alergista.

Este documento do CDC (Center for Disease Control)


discute com maior detalhe o tema.

Perguntas que podem surgir


“- Ah, Dr. Flávio, na minha cidade não tem alergista,
pediatra, não quero vacinar, mas fico morrendo de
medo dele pegar a doença.”

A alternativa, que apesar de ser menos eficaz, talvez


lhe poupe noites de sono, seria vacinar todos as
pessoas que convivem mais de perto com seu filho em
casa, para dar uma proteção indireta.

“- E a escola?”

Na escola, todos os que não se enquadram na


situação do seu filho deveriam se vacinar, para o seu
próprio bem, mas terminariam o ajudando.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Vacina de influenza e H1N1,


mercúrio e narcolepsia: os
boateiros não desistem nunca!
Um certo pânico foi espalhado pela notícia de que o
mercúrio contido na vacina de influenza poderia
fazer mal. Este tema já foi bastante debatido e a
conclusão bem clara: não há problema algum. Sei
que boatos às vezes nos deixam com medo, por isso
montei este post para te tranquilizar.

Se tem um motivo pelo qual eu estudo, escrevo e tento


esclarecer as pessoas, é que a sanha dos boateiros
não acaba nem com reza brava. Toda semana tem um
boato novo.

E tome medo! E tome whatsapp e mensagem pros


pediatras!

Mas a desinformação pode matar, deformar e fazer


as pessoas sofrerem, por isso me sinto na obrigação
de esclarecer.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

A verdade sobre o mercúrio na vacina de


influenza
É fácil entender. Leia os pontos abaixo e veja que o
boato não faz sentido. Para mais informações (em
inglês), veja esta página do FDA (Food & Drug
Administration).

● As vacinas de influenza em apresentações de


múltiplas doses por ampola, que é a
disponibilizada pelo governo, contém 2
microgramas de timerosal por dose de 0,5 ml.

● O timerosal é um preservativo das vacinas que


são apresentadas em múltiplas doses, que evita
a contaminação do frasco com fungos e
bactérias pela introdução da agulha na hora de
retirar a dose.
● O timerosal contém 50% de etilmercúrio, que é
diferente do metilmercúrio do ambiente, que em
doses excessivas pode trazer prejuízos para a
saúde.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

● O etilmercúrio é rapidamente metabolizado pelo


organismo e vários estudos atestaram a
capacidade do organismo de se livrar dele, sem
maiores problemas.

● A quantidade de mercúrio que é considerada


segura pelas autoridades de proteção
ambiental americanas (EPA) é entre 65-165
microgramas nos primeiros 6 meses de vida.
Preste atenção: a vacina de influenza do
Butantan contém dois microgramas!!!

● Todos os estudos realizados pelas autoridades


científicas mais sérias, afastaram a
possibilidade do timerosal estar ligado à
alterações neuro-cognitivas nas crianças,
não há mais discussão na literatura sobre isso.

● De qualquer forma, poucas vacinas contém


timerosal na sua formulação nos dias de hoje,
ao contrário de antigamente.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

● As vacinas em dose única por seringa, que são


as vacinas do serviço privado, não contém
timerosal na sua composição, mas deixo bem
claro que a vacina do governo é segura e
eficaz e protege contra o H1N1.

E sobre a narcolepsia?

Vou traduzir textualmente o documento científico do


CDC USA (Center for Disease Control):
“Em 2014, o CDC publicou um estudo sobre a
associação das vacinas de influenza de 2009, as
vacinas 2010/2011 para influenza e a narcolepsia. A
análise incluiu mais de 650 mil pessoas que
receberam a vacina da gripe pandêmica em 2009 e
mais de 870 mil que receberam a vacina da gripe
sazonal em 2010/2011.”

Sem falta de educação, segue em caixa alta:

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

“O ESTUDO MOSTROU QUE A VACINAÇÃO NÃO


ESTEVE ASSOCIADA COM UM AUMENTO DE
RISCO DE NARCOLEPSIA.” (esta vacina feita nos
EUA é bastante semelhante com a que é feita aqui nos
postos).

– O problema na Finlândia, em 2009, foi com uma


vacina que não é feita por aqui. Além disso, até hoje
sequer se chegou a um consenso se existe relação
causa-efeito com a vacina. Leia mais sobre este
problema em específico neste relatório.

Pronto, precisa de mais alguma coisa?

Fiquei preocupado, pois até em grupo de pediatras vi


gente compartilhando a informação maldosa e
falaciosa e tive notícias de médicos se recusando a
vacinar seus filhos por conta desses boatos.

A ciência não é incontestável, mas precisa de outra


ciência para contestação e não o boato da internet.

Vacinas salvam vidas, ignorância mata.


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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Sua avó estava certa: canja de


galinha faz bem para a gripe!
Alguns estudos nas últimas décadas encontraram
relação entre tomar canja de galinha e melhora nos
sintomas da gripe. Sua avó estava certa! Leia o post
para entender melhor e ver como se proteger com
uma bela receita de canja

Era só escorrer o nariz e começar a tossir que sua avó


dizia:

– Ah, vou preparar uma canja extra forte pra você


melhorar!

E aí você até aceitava, meio à contragosto, pois


preferia mesmo tomar aquele efervescente com
zilhões de gramas de uma vitamina que saía quase
toda na urina. E melhorava. E sempre atribuía a
melhora ao efervescente.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Pois é, eu respeito muito as avós e sinto informar, para


os que reviram os olhos quando sentem o cheiro da
canja perfumando a casa, que elas estão cobertas de
razão!

Canja de galinha melhora os sintomas da


gripe
Esse estudo de 2000, publicado na revista CHEST,
maior periódico de doenças pulmonares do mundo,
deixou alguns cientistas de cabelo em pé, pois
ninguém havia pensado nisso antes!

Os autores demonstraram que a ingestão de uma


canja de galinha caprichada, com hortaliças
variadas, causava uma diminuição/balanceamento da
resposta inflamatória, o que ajudava a diminuir os
sintomas (tecnicamente falando isso acontecia pela
redução significativa da quimioatração dos
neutrófilos). Só não descobriram o que exatamente
tinha esse efeito.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Ainda nessa linha de pesquisa canja/gripe,


pesquisadores da universidade de Moscou,
descobriram que o elemento responsável pela
modulação dessa resposta inflamatória frente aos
vírus da Influenza (um dos tipos de gripe), eram os
peptídeos e isopeptídeos da carnosina, presentes na
carne do frango.

Incrível, não?

Calma, vacina e ida ao médico ainda são


importantes no caso do H1N1
Claro que não estou dizendo para ninguém deixar de
se prevenir com a vacina! Como a eficácia dela não é
100%, caso você tenha os sintomas da H1N1, não
deixe de ir ao médico, nem de se medicar com o que
ele prescreveu. Mas, definitivamente, brilhe os olhos
quando sua avó lhe oferecer aquela canja de
galinha, feita com tanto amor e sapiência.

Afinal, amor de avó é amor em dobro!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Não sabe a receita da canja? Clique aqui, que tem


gente querendo te ensinar a preparar Comida de
Verdade.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Repelentes: tudo o que você


precisa saber
Um bom meio para se proteger de mosquitos
causadores de doenças como Dengue e Zika são os
repelentes. Mas é importante saber como e quando
usá-los. Você sabe? Fique tranquilo pois neste post
vou te explicar tudo a respeito.

Este assunto veio à tona junto com a enxurrada de


informações e dúvidas sobre Zika, Dengue e afins.

Eu bem que me esforço para deixar de escrever sobre


a Zika, mas como as dúvidas continuam – e
provavelmente continuarão por um bom tempo – vou
manter a regularidade de textos sobre o problema, no
estrito sentido de ajudar à legião de amigos
preocupados e duvidosos sobre o tema.

Fiquei até meio surpreso com a repercussão do último


texto, pelo lado positivo, que me reafirma a
necessidade que as pessoas em geral têm de
informação clara, concisa, atualizada e confiável.
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Tenho estudado muito sobre o tema, e isso não me


causa nenhum tipo de incômodo, afinal, o faço por
puro prazer.

Enfim, papo reto para você ser um expert em repelentes!

1 – O que são repelentes?


São produtos, naturais ou sintéticos, utilizados para
evitar o contato de insetos ou carrapatos e suas
picadas na pele.

2 – Quais são os repelentes mais utilizados e


estudados no mundo?
Temos os repelentes tópicos e os repelentes físicos ou
ambientais. As cinco substâncias para uso tópico mais
citadas nos estudos são: o DEET, a Icaridina ou
Picaridina, o IR3535, o óleo de eucalipto e o de
citronela.

Os repelentes físicos ou ambientais são quaisquer


produtos de vestuário ou proteção, tratados

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

quimicamente com repelentes, inseticidas ou simples


barreiras físicas como os cortinados e as telas para
janelas.

Mais informações, em inglês, aqui.

3 – Qual o tempo de ação médios dos repelentes


tópicos?
O tempo e ação dos repelentes tópicos dependem de
vários fatores, como a concentração, o tipo de veículo
(spray, loção, gel), o inseto a ser repelido e as
condições ambientais e da pele.

Em geral, os repelentes com DEET e Icaridina a 20%


conferem uma proteção de 6 até 10 horas.

4 – São eficazes para quais tipos de insetos?


R – São eficazes contra os Aedes (Dengue, Zika,
Chikungunya, O’nyong-nyong, etc), os Anopheles
(Malária) e os Culex (Filariose).

5 – São seguros para o uso em crianças?

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Um estudo de 2009 analisou os repelentes disponíveis


no mercado, apenas retificando que em crianças, na
situação atual, não há restrições em toda a literatura
citada para aplicação do DEET (OFF, Repelex),
Icaridina (Exposis) e IR3535 (Repelente Johnson’s)
em bebês maiores de 2 meses de idade.

Para os bebês menores de 2 meses, a proteção será


pelos meios físicos. Mas isso deve ser conversado e
avaliado com seu pediatra ou obstetra!

6 – Quais os cuidados para o uso em crianças?


Não permita que crianças manuseiem o produto e não
aplique diretamente em suas mãos. Primeiro nas mãos
do pai/mãe e, em seguida, sobre a criança.

Depois de voltar para dentro de casa, lavar a pele e


roupas do seu filho com água e sabão ou dê banho.
De acordo com a etiqueta, óleo de eucalipto não deve
ser utilizado em crianças com menos de três anos de
idade.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Veja aqui algumas dicas de como escolher o repelente


para seu filho.

7 – São seguros para o uso em gestantes?


Na literatura não há restrição para o uso de DEET e
Icaridina para gestantes, nas mesmas concentrações
utilizadas para adultos.

8 – Devo utilizá-lo continuamente?


Por prudência, todas as vezes que for sair para o
ambiente externo deve-se usar repelentes. Caso
precise usar filtro solar, primeiro aplique o filtro e 30
minutos depois aplique o repelente por cima.

9 – Quais os cuidados para aplicação?


Siga as instruções do rótulo para garantir a utilização
adequada:

– Aplicar repelentes apenas para pele e/ou roupas


expostas. Não usar sob a roupa.

– Não aplicar perto dos olhos e da boca e aplicar com


moderação ao redor das orelhas.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

– Ao utilizar sprays , não aplicar diretamente no rosto:


aplique nas mãos primeiro e depois no rosto.

– Nunca use repelentes sobre cortes, feridas ou pele


irritada.

– Não pulverizar em áreas fechadas.

– Evite respirar um produto spray.

– Não o utilize perto de alimentos.

– Depois de voltar para dentro de casa, lavar a pele e


roupas com água e sabão.

– Não utilize qualquer produto em animais de


estimação ou outros animais a menos que o rótulo
claramente afirmar que são seguros para animais.

– A maioria dos repelentes de insetos não funcionam


contra piolhos ou pulgas.

– Armazenar repelentes de insetos com segurança


fora do alcance das crianças.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Mais info, neste link da US Environmental Protection


Agency.

10- E além dos repelentes tópicos, quais outros


meios de proteção?
Existem os meios físicos, como roupas mais
compridas, cortinados, telas tratadas com inseticidas e
roupas tratadas com repelentes (não disponíveis no
Brasil, apenas no exterior). São meios
complementares, que devem ser utilizados. Alguns
repelentes já têm formulação para aplicação em
roupas (Exposis), e podem ser usados conforme
instruções do fabricante.

Importante: gestantes e crianças pequenas não


devem utilizar inseticidas ambientais, incluindo os
de tomada, pela imprevisibilidade de seu efeito
quando inalados. Já existem evidências suficientes na
literatura para refutar a eficácia de vitaminas do
complexo B, alho e outros salamaleques, simpatias e
pajelanças no combate aos insetos.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

O problema exige atenção e cuidados por parte de


todos nós, mas lembrem-se: não precisaríamos estar
tão preocupados e lamentando as famílias vítimas do
problema, se estivéssemos tendo sucesso no combate
ao mosquito.

Veja aqui dicas do Sociedade Pediátrica do Canadá


para evitar as picadas de mosquitos (em inglês).

E isso também depende de todos nós!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Seus filhos não desgrudam do


celular?
Nem vocês…E aí vem alguém e te assusta dizendo
que uso excessivo de celular causa câncer de
cérebro. Sério? Mande este post para os que
querem te assustar.

“Estudos” e suas conclusões podem te


enganar
Antes de qualquer coisa, se você pensar com calma
verá que quase tudo que já foi pesquisado no mundo,
pode ou não causar câncer. Tudo depende do
“esforço” do estudioso em “espremer” os números e
tirar deles essa afirmação.

Vejam esse estudo, que pegou um livro de receitas e


avaliou o risco em relação à vários tipos de câncer de
40 ingredientes, desde o insuspeito chá, passando
pelo beatificado limão (serve pra tudo, até pra
gastrite?!?!?!?), e chegando nos vilões bacon e carne

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

vermelha.

Conclusão: quase todos os ingredientes podem estar


ou não relacionados à alguns tipos de câncer.
Qual o problema? A metodologia!

Quanto mais preciso e amplo for o estudo, como uma


metanálise, menor o efeito. Ou seja, o problema é o
estudo e não o alimento.

E quando o assunto é celular e câncer?


Sempre esteve em alta nas rodas de boatos a
informação de que o celular e suas ondas
eletromagnéticas poderiam causar câncer de
cérebro.

Em ciência, o ditado “onde há fumaça, há fogo” só vale


para formular hipóteses.
Em ciência existe método e é preciso seguir
protocolos rígidos para que os resultados de
experimentos sejam confiáveis.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Por isso você escuta uma coisa um dia (estudo ruim),


que é negada no outro mês (estudo bem feito) e vice
versa.

Aí, para testar essa hipótese de que o uso de celulares


estava relacionado ao aparecimento de câncer de
cérebro, estudiosos Australianos fizeram o que se
chama de estudo ecológico, de excelente qualidade.

Eles analisaram dados dos 30 anos que se seguiram


à introdução de celulares no país, relacionando com a
incidência esperada de cânceres de cérebro, diante da
hipótese que teria que haver um aumento se essa
fosse correta.

E o que encontraram: o porte (não tem como medir


adequadamente o uso) de celulares não está
relacionado com o aumento de cânceres na
população geral.

O que é importante dizer: isso serve para o nível


populacional. Ou seja, não significa que alguns
indivíduos, por suscetibilidade genética e uso
75
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

excessivo, não possam ter o problema, pois não teria


como o estudo avaliar isso.

Mas, sem dúvida, é mais um boato/mito que a ciência


desbanca.

E você que está ligado aqui fica sabendo.

Sabe o que me preocupa mais com o uso excessivo


do celular pelas crianças?

● Isolamento social.
● Falta de diálogo com os pais.
● Lesões cervicais e problemas nos dedos por
esforço repetitivo.
● Problemas (pelo impedimento da liberação da
melatonina).

Mas esse último tema ficará para uma das postagens


sobre sono, cuja série já está na terceira parte e você
encontra na página.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Socorro – meu filho pode ter


convulsão febril?
De 2 a 4% das crianças tem convulsão febril.
Portanto, se seu filho está com febre, entrar em
pânico mais atrapalha do que ajuda. Leia este post e
veja opções do que fazer

Por que os pais têm um medo tão grande


da febre?
Toda vez que pergunto a pais porque tem medo de
febre, a resposta sempre é a mesma:

“- Doutor, morro de medo dele ter uma convulsão!”

Isso significa que toda vez que o menino tem febre,


não dorme pai, nem mãe, menino, cachorro… Nem
dorme o pediatra se brincar!

Porque se verifica a temperatura a cada 5 minutos,


remédio a cada quatro horas (errado), banho,
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

envoltório, mil whatsapps, saem correndo de


madrugada pro hospital para fazer injetável (99,9%
das vezes não precisa), o menino fica igual uma
múmia na chuva, tremendo de frio e está instalado o
caos!

Tudo isso por medo de uma convulsão que ocorre


somente em cerca de 2 a 4% das crianças entre 3
meses e 5 anos de idade, se forem predispostas
geneticamente ou pegarem o vírus “errado”, na hora
errada.

Leia esta lista e saiba tudo sobre


convulsão febril
O que vou escrever abaixo é tudo o que você precisa
saber sobre convulsão febril para não tornar a sua
casa, nem a vida do seu filho, um terror, quando ele
estiver com febre:

1. Como já coloquei acima, estatisticamente a chance


do seu filho ter febre e convulsão febril (CF) é baixa!
De cada 100 crianças, apenas 2 a 4 poderão ter CF
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

na vida e 96 a 98 nunca terão, mesmo que a febre


seja aquela que dá para fritar um ovo na barriga ou
estourar o termômetro!

2. Convulsão febril não mata. Pode até matar o pai


ou a mãe do coração, mas definitivamente não há
relatos de morte por convulsão febril simples. Aí você
fala:

“- Dr. Flávio, tenho uma conhecida que o menino teve


febre, vomitou sem parar, em jato, com dores
fortíssimas de cabeça, não conseguia olhar para a luz,
e depois morreu”.

Aí não é convulsão febril, aí é meningite! CF é febre,


convulsão e pronto!!

3. Não precisa fazer Eletroencefalograma para


investigar convulsão febril! Não sou eu que estou
dizendo, são todos os artigos científicos e revisões
mais recentes.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

“- Ah, doutor, todo médico pede…” Beleza, pode até


pedir, você pode até fazer, mas não ajuda em nada,
nem muda a conduta. O mesmo para Tomografia.

4. Medicar excessivamente para febre não evita a


convulsão. Isso não significa que não deve medicar
para a febre. Explicar as opções, prescrever as
doses corretas e intervalo de administração é
tarefa do pediatra e não da vizinha, do Dr. Google ou
da sua cabeça em desespero.

Também não precisa correr para emergência toda vez


que o menino tem febre, isso não vai evitar nada e vai
criar um ser totalmente traumatizado!

5. Dar anticonvulsivantes, especialmente os


contínuos, não é recomendado na grande maioria
dos casos. Você vai ter literalmente um pequeno
“noiado” na sua casa, sem que isso evite ou amenize
qualquer coisa. Em casos muito especiais, o seu
pediatra, em concordância com o neuropediatra, pode
optar por usar uma medicação preventiva,
normalmente de uso somente no período febril. Mas é
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

uma exceção!

6. O risco de uma criança que teve convulsão febril


desenvolver convulsões afebris/epilepsia, é quase o
mesmo da população geral, portanto, não precisa
aposentar o menino, deixá-lo amarrado na areia da
praia e impedir ele de brincar até de jogo de botão (fui
longe…), por causa do problema.

7. Para quem a conversa muda: convulsões sem febre;


convulsões em menores de 1 ano; convulsões
prolongadas, graves que levaram à UTI; convulsões
com febre, vômitos e dores fortíssimas de cabeça;
parentes de primeiro grau com história de convulsão.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

“- Ah, doutor, meu filho já teve convulsão,


foi horrível e você fica aqui fazendo
graça!”
Epa, alto lá! Não estou fazendo graça, tô tentando
tranquilizar 98% dos aflitos e deixando bem claro as
situações que podem implicar em gravidade.

Os 2% cujos filhos já tiveram convulsões, precisam de


duas coisas: um diálogo longo, franco e aberto com
seu médico e tranquilidade no momento inevitável que
seu filho estiver com febre. Em 60% das vezes, a crise
será única, raramente recorrerá, e se isso acontecer,
provavelmente no máximo uma segunda vez.

Como vocês já devem saber, o meu mantra é: mais


conversa, menos pânico!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Prisão de ventre
Prisão de ventre é uma preocupação muito frequente
entre pais, que pode levar ao desespero por pura
falta de informação. Para evitar isso, montei uma
listinha com dez “faça” e “não faça”

Já que prisão tá na moda, vamos falar de prisão de


ventre?

Mas que termo mais chulo, prisão de ventre…Ok,


vamos falar de constipação intestinal. Mas que todo
mundo conhece como prisão de ventre, conhece.

Quase todos pais têm que lidar com


prisão de ventre
É um grande motivo de perda de cabelos em pais e
mães. Principalmente porque tem crianças que criam
um ritual tão grande por conta da constipação, que até
bate um desespero.

– Doutor, o menino pra fazer cocô, tem que ficar nu, ir


para debaixo de uma árvore, fica dando pulinhos,

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

urrando e ninguém pode chegar perto. Não sei se o


problema é pra você ou para um psiquiatra!

É, na maioria das vezes dá para poupar o menino da


visita ao psiquiatra.

Muita coisa pode ser feita


Então, de 1 a 10, preste atenção, no que importa sobre
constipação (rimou!):

1- O bebê precisa defecar pela primeira vez até 2 dias


após o nascimento. Se não ocorrer, podemos ter um
problema.

2- Os bebês podem ter o que chamamos de


pseudoconstipação. Por um processo relacionado à
imaturidade do aparelho digestório, bebês que
amamentam exclusivamente podem ter eliminações
retardadas, ficam se “espremendo”, às vezes até com
a barriga um pouco inchada.

Depois de uns 3 a 4 dias – obviamente a mãe já quase


louca – eliminam fezes líquido-pastosas e fica tudo

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

tranquilo e favorável (gosto da frase, abomino o autor).


Não se deve introduzir supositórios (só estímulo retal
algumas vezes), nem dar nenhum tipo de remédio
além daquele para gases.

3- As fórmulas tendem a causar constipação de


verdade, com fezes em bolinhas e grande esforço ao
evacuar, até mesmo com sangue, pela possibilidade
de fissuras anais. Quanto mais barata a fórmula, maior
a tendência a pior qualidade e mais potencial de
constipar. Isso por conta da composição das fórmulas.
As melhores são mais caras, só isso.

– Ah, mas meu filho mamava no peito da vaca e nunca


teve nada! Sorte sua.

4- A forma de introdução da alimentação


complementar faz diferença. Quanto mais variada a
quantidade de hortaliças e frutas que você oferece,
melhor. Leguminosas também, traduzindo feijões,
incluindo lentilhas.

5- Massas e farináceos constipam e não ajudam a


saúde de nenhuma criança! Isso é coisa das avós, que

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

só acreditam em menino saudável que for gordo e em


mingau grosso.

Quem tiver opinião contrária, me mostre aqui os


artigos. Mas conheço avós bem “prafrentex”, que
adoram uma BLW (não sabe o que é? depois eu
conto).

6- Quanto mais comida de verdade e leite materno e


menos leite artificial, menos constipação. Simples
assim. Sem mistérios. Abacate é a fruta que tem mais
fibras no mundo. Se você não está dando para seu
filho, como diria Murilo Gun, está de brincadeira na
tomateira…

7- Fruta não constipa, se for inteira e não comer


somente ela. Quanto mais água tomar, menos
constipação. Isso não vale para suco.

– Ah, mas banana e maçã constipam meu filho.

– Claro, você só dá banana com farinha láctea e maçã


raspadinha (a maior parte da fibra está na casca).

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Como fazer? Use um processador e não um


liquidificador. E logo que possível, entregue a maçã ao
menino e vá checar seu whatsapp.

8- Não é falta de educação, é alerta: não se deve dar


óleo mineral, de rícino ou qualquer outro óleo para
menores de dois anos de idade.

9- As medicações e o tratamento devem ser indicados


pelo seu pediatra e o uso é relativamente prolongado,
nos casos de constipação que não respondam à
modificações alimentares.

10- Quando se preocupar de verdade:

– Constipação com dificuldade para ganhar peso ou


perda de peso.

– Sangramento todas as vezes que defeca.

– Não melhora com o tratamento.

– Constipação acompanhada de anemia (falta de

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

absorção de nutrientes, doenças inflamatórias


intestinais, etc.), febre (pode facilitar infecções
urinárias), vômitos.

Esses casos acima precisam de exames


complementares e provavelmente a parceria pediatra
com gastropediatra.

Só peço uma coisa a mais: evitem ao máximo levar


seu bebê/criança para a emergência com constipação.
Acho que não há situação de maior trauma para a
criança e para a família. A maior parte das
constipações podem ser resolvidas com medicações
em casa, inclusive temos opção de medicamentos que
fazem o mesmo efeito da “lavagem” intestinal, dados
por via oral.

Post à pedido da mamãe aperreada com constipação,


Camila Thó.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Caxumba está de volta!


Você precisa estar atenta a isso! O que fazer para
proteger seus filhos? Vou te contar neste post.

Mande isso para todos os seus contatos!

Mais um problema relacionado à infecções, começa a


ressurgir no país: a caxumba, também conhecida
como papeira.

A imprensa começou a noticiar essa semana a


ocorrência de surtos no estado de São Paulo, com
cerca de 568% de aumento.

Então, antes que comece o estresse e os boateiros


sedentos por cliques façam o seu terrorismo
característico, estou aqui para esclarecer vocês.

Primeiro, entenda o que é a caxumba?

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

É uma infecção viral, causada pelo Paramixovírus,


que tem como característica peculiar, a inflamação nas
glândulas salivares/parótidas, que ficam abaixo e em
torno da mandíbula, bilateralmente.

Importante dizer que a parotidite pode ser causada por


vários vírus comuns, até mesmo o vírus da
gripe/influenza, problemas como cálculos no ducto que
leva a saliva para dentro da boca e muito raramente,
tumores.

Quais são os outros sintomas e


complicações?
Normalmente, os sintomas são febre, dores no corpo
e logo após aparece o inchaço na face, muitas vezes
doloroso. Em menos de 10% dos casos, em homens,
ocorre dor e aumento do testículo – a chamada orquite
– bastante característico da doença. E mais raramente
ainda, podemos ter complicações graves como a
meningoencefalite, sendo extremamente rara a
morte.

Como se transmite?
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Da mesma forma que as gripes, através das


secreções/gotículas respiratórias. O cuidado que você
está tendo (espero!) para a H1N1/Influenza, também
serve para evitar a caxumba.

O período de incubação é de 16 a 18 dias e após os


primeiros sintomas, as crianças e os adultos devem se
afastar da escola ou trabalho por pelo menos cinco
dias.

E o tratamento?
Bem, não vou entrar em todas as crendices sobre
caxumba. Com certeza sua avó deve ter mil histórias
e recomendações: não pode comer isso, não pode
comer aquilo senão a doença desce pro testículo (já
viram que é comum), emenda o pescoço e se auto-
estrangula (pera aí….).

Na realidade o tratamento é o básico para os vírus:


hidratação, analgésicos, repouso e canja (pronto,
agora canja serve pra tudo). Evitar alimentos ácidos
pode diminuir a dor, já que os mesmos estimulam mais

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

a secreção de saliva.

Sempre é bom procurar o médico para uma


avaliação com exames e para confirmar o diagnóstico,
mas se lembre de cumprir a etiqueta dos vírus
respiratórios no consultório e não tossir na cara da
atendente, do médico e nem do paciente ao lado.
Normalmente, 99% dos pacientes se recuperam
totalmente e sem complicações ao pegar a caxumba.

E o que danado aconteceu para ela estar


voltando?
Isso está ocorrendo no mundo todo, provavelmente
tem a ver com a vacina, que se pensava proteger por
um tempo muito grande, e na verdade parece haver
uma diminuição da proteção ao longo do tempo.

Deixo claro que a vacina é bastante eficaz, já que só


nos EUA nos anos 50, houve cerca de 200 mil casos,
com grande incidência de complicações e hoje
estamos na casa dos mil, 2 mil casos por ano. Apenas

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

provavelmente precisa de ajustes no calendário.

No início da vacinação, em meados dos anos 90,


aplicava-se apenas uma dose. Posteriormente, nos
anos 2000, decidiu-se acrescentar o reforço, mas no
momento a recomendação é principalmente rever a
vacinação em locais de surto.

Lembretes importantes para ter na ponta


da língua
Se houver casos na escola do seu filho, as medidas
são as seguintes:

– Menores de 1 ano não devem ser vacinados.

– Verifique o cartão de vacina do seu filho: se ele tiver


2 doses aplicadas da SCR/MMR ou Tríplice Viral
(nomes que pode encontrar), tudo ok.

– Se não há registro da vacinação, vá ao posto para


checar.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

– Maiores de 20 anos de idade e nascidos após 1960:


se nunca vacinou, tomar uma dose da vacina e
agendar uma segunda para 30 dias após. Se tem uma
dose anterior, há mais de 30 dias, fazer a segunda
dose.

– Professores que não sabem o seu estado vacinal:


mais prudente vacinar. Profissionais de saúde idem.
Lembro que houve vacinação de adultos jovens há
menos de 5 anos, quando colocaram um adesivo na
carteira de identidade.

– grávidas não devem tomar a vacina.

Em países europeus, já se indica a terceira dose nos


casos de surtos e possivelmente haverá um reforço a
ser feito na adolescência, mas essa prática ainda não
é recomendada no País.

Essencialmente: atenção, nada de desespero. Não


repassem boatos, repassem informação!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Coqueluche – você precisa agir


agora
Casos de coqueluche estão aparecendo novamente
– já não é uma doença do tempo de nossos avós.
Todo cuidado é pouco, principalmente com nossos
pequenos. Veja neste post um caso dramático de um
bebê de dois meses que foi salvo por pouco e
aprenda o que fazer para proteger seus amados.

Posso desabafar um pouco? Vida de médico é dura!


Uma das coisas mais difíceis na tarefa de ser médico,
é a necessidade de atualização contínua e nos tempos
de internet e smartphones, é quase minuto a minuto.

Pior que isso, é a sensação de enxergar doença toda


hora nas pessoas.

Lembram daquele menino do filme que dizia: “- Eu vejo


gente morta…o tempo todo…”? Pois é, a gente, por
mais que não queira, vê, escuta e sente doença o
tempo todo. Mais do que gostaria, às vezes.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Um aperto de mão meio suado, uma pele um pouco


pálida, uma postura um pouco mais curvada, um andar
mais hesitante ou uma piscadela diferente nos olhos e
pronto. Já estamos vendo gente doente, mesmo que
seja naquele aniversário animadíssimo.

Não é incomum que estejamos atendendo um


paciente e uma tosse estranha nos chame atenção na
sala de espera. Sim, a gente escuta esse tipo de
tosse através da porta!

Uma história real do presente (apesar de


parecer do passado)
Um dia, há uns quatro anos, estava eu atendendo e
uma tosse dessas me atiçou os sentidos. E eu
aperreado, querendo que essa paciente entrasse logo,
por dois motivos:

1- eu sabia que ela estava literalmente despejando


bactérias (chamada Bordetella pertussis) nas outras
pessoas e nas crianças na sala de espera;

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

2- eu sabia que iria complicar, mais hora, menos hora.

E ela entrou. Após examiná-la, sua mãe arregalou os


olhos quando disse que o diagnóstico provável
daquele bebê de 2 meses era coqueluche. Eu sabia
disso pois ao tossir sufocava e emitia um ruído
característico, chamado guincho.

A mãe exclamou: “- Mas doutor, não é possível, isso é


doença do tempo da minha avó!!!”

E eu disse: “- Não, é aquela doença do tempo da sua


avó, mas que infelizmente está voltando com toda a
força.“

Eu havia acabado de voltar de um congresso, onde um


especialista da Costa Rica tinha nos alertado da
explosão da coqueluche no seu país e sabíamos que
aqui não seria diferente.

Quando encaminhei para o internamento no hospital


referência em doenças infecciosas e onde ela poderia
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

ficar isolada, fui chamado de doido por um “colega”


que recebeu a bebê e a dispensou, dizendo que
essa doença não existia mais, era doença do tempo
da sua avó (?!?!?!?!).

Se não fosse um acesso de tosse na recepção do


hospital, que levou a bebê quase a uma parada
cardíaca e a pronta ação dos colegas da pediatria, a
bebê talvez não estivesse mais por aqui.

Dia desses, a mãe me procurou no consultório e


lembramos juntos o “sufoco” que passamos com a
doença da menina.

Não se engane – vacinar é primordial: o


trágico caso da Califórnia
Nesses tempos de mitologia irresponsável sobre
possíveis danos que as vacinas podem causar, foi
exatamente um desses movimentos anti-vacinação,
na Califórnia, entre 2012 e 2014, que contribuiu para a
explosão de casos e mortes de diversos bebês por
Coqueluche.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

O que ocorre é que a doença é 25 vezes mais


incidente entre bebês não vacinados. Com a
constatação de que a imunidade causada pela vacina
não é definitiva e que adolescentes e adultos jovens
eram transmissores da bactéria para os pequeninos,
formou-se o cenário ideal para uma epidemia e o
grande aumento de casos.

Há vários outros motivos, mas como o post não é


palestra médica, fiquem com o básico.

Aqui não deve ser diferente, apenas não temos dados


confiáveis, para variar.

Então, como proteger seu bebê contra a


coqueluche?
– Gestantes devem tomar a vacina Tdap entre 27 a
36 semanas, idealmente, ou imediatamente após o
parto, independentemente de ter recebido qualquer

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

dose de reforço para o tétano e a difteria, em qualquer


tempo.

– Familiares, cuidadores ou quaisquer pessoas


que tenham contato frequente com o bebê, devem
também tomar esse reforço antes do bebê nascer.

– Adolescentes devem fazer o reforço com pelo


menos 1 dose de Tdap, a cada 10 anos
posteriormente.

E lembre-se, não ache que seu médico está maluco


quando ele lhe falar dessa doença, isso é um sinal
importante que ele está ligado no que está
acontecendo.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Tudo sobre a Vitamina


S(ujeira): as boas bactérias e sua
importância para a saúde do seu
filho.
Ficamos tão neuróticos com limpeza que acabamos
diminuindo nossa exposição à importante Vitamina S
(de Sujeira). Ela nos faz mais resistentes à doenças,
melhorando nosso sistema imunológico desde o
momento que nascemos. Neste post vou te mostrar
o que podemos fazer no dia a dia para que ela
proteja nossos pequenos.

Se a década passada foi chamada da “Década do


Cérebro”, ousaria chamar a atual de “Década do
Microbioma“.

Não existe área mais ampla, fervilhante e


importante na ciência da saúde na atualidade e
quem não está ligado no tema ou que não tem
estudado os artigos relacionados na sua área, está
dirigindo com os olhos para o retrovisor.
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Somos tomados por bactérias, quase todos os nossos


órgãos ou cavidades contém uma flora própria. O
intestino poderia ser chamado da “sede” dessa flora e
os outros órgãos as filiais.

Dependemos delas, muito mais para a saúde, do que


para a doença. É literalmente um ecossistema, uma
floresta dentro de nós.

Os excessos estão destruindo nossa


“floresta” de bactérias – e isso é
péssimo!
Como? Uso excessivo de antibióticos, tanto na
prescrição, quanto nos alimentos que consumimos,
principalmente os alimentos de origem animal de
grandes produtores.

Uso excessivo de antissépticos, bucais, nasais


(benzalcônio do Sorine é um antisséptico), sabonetes
que prometem eliminar 99,9% das bactérias (as boas

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

também?!?!?!?!).

Pouco contato com a natureza. Qual foi a última vez


que você colocou os seus preciosos pés na terra?
Qual foi a última vez que arrancou uma fruta do pé e
comeu, sem se preocupar com o hipoclorito? Qual foi
a última vez que rolou na grama ou andou na lama?

Se quiserem se aprofundar neste tema, recomendo a


leitura deste livro: “Missing Microbes”

Nossos filhos também sofrem com isso –


entenda como
Sabemos hoje, que é crescente a incidência de
doenças alérgicas, autoimunes e crônico-
degenerativas iniciando na infância.

O que as bactérias têm a ver com isso? Tudo!!!!

Desde a gestação, o nosso organismo precisa


engendrar respostas imunológicas adequadas,

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

inicialmente para que o sistema imune da mãe “tolere”


o feto, afinal, é um ser metade mãe (reconhecido),
metade pai (não reconhecido). Ao nascer, ocorre a
transferência da microbiota para o bebê e o
estabelecimento do sistema imune dele. Se puderem,
assistam ao filme “Microbirth”.

Se nascer de parto normal, a microbiota é a do canal


vaginal e do intestino materno e se for de parto
cesáreo eletivo (mais comum), é a flora do hospital (o
que é péssimo).

Essa microbiota colonizará o intestino do bebê e a


partir dela haverá a sinalização para o início da
maturação do sistema imunológico do bebê.

Caso esse processo dê errado, nosso corpo será


“programado” para reações exacerbadas e para a
inflamação, que terá como resultado todas as
doenças crônicas da modernidade, como diabetes,
obesidade, hipertensão, depressão, até mesmo

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Alzheimer (a depender de outros fatores do estilo de


vida e da suscetibilidade genética, claro).

Outro ingrediente nesse processo é o leite materno e


a pele da mãe, por isso damos tanta importância para
que o bebê tenha contato pele a pele logo após o
nascimento (não venham brigar comigo porque não
fizeram isso no seu parto).

O leite materno, especialmente o colostro, tem


inúmeras substâncias prebióticas, imunorreguladoras
e estimuladoras, que também sinalizarão para o
sistema imune.

Por isso, bebê deve ficar com a mãe logo após


nascer, se em boas condições, mesmo que de parto
cesáreo e não ser levado para o berçário para a
primeira foto no Facebook e logo após tomar o tal
complemento, que será péssimo para ele!

Meu bebê não teve nada disso, e agora?


Há outras oportunidades, pelo menos até os 3 anos de
idade para ajudá-lo a diminuir o “prejuízo” e tomar essa
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Vitamina S(ujeira), tão benéfica.

Para não me alongar e ser prático, cito abaixo:

– aleitamento materno exclusivo até 6 meses. Nem


água? Nem água!!!

– contato com a natureza e com o chão (tapetinho


de EVA para os medrosos). Falo isso para todos os
pais, poucos acreditam, poucos fazem. Comprem um
tapetinho no enxoval!!! E não precisa ficar limpando de
manhã, de tarde e de noite. Vitamina S(ujeira) à
vontade!

– evitar uso de produtos bactericidas no bebê (vou


citar a marca, propaganda negativa, mas não estou
nem aí – começa com D e termina com YD!!!!!!!): usem
sabonetes comuns para bebês.

– não precisa esterilizar, colocar em autoclave ou


irradiar qualquer coisa do bebê que toque o chão.
Deixe sua paranoia e dos familiares para si.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

– É bastante normal e faz parte da evolução do bebê


ter de 6 a 12 infecções virais (resfriados, diarréias,
febres) nos primeiros 2 anos de vida. Fuja dos
antibióticos! Corra dos profissionais da saúde que ao
qualquer sinal de garganta vermelhinha, mau hálito ou
secreção já ratificam uma amigdalite bacteriana e
prescrevem antibióticos. Isso está errado!!!

– É muito importante que a alimentação complementar


do bebê, iniciada aos 6 meses, seja bem orientada,
contendo uma variedade grande alimentos,
preparados em casa e nada de industrializados
ultraprocessados, como farináceos refinados,
bolachas, iogurtes com sabor/corantes, doces etc.
Tolerância zero mesmo.

Tudo o que coloquei aqui vale para a mãe que quer


engravidar e para a gestante também.

E o futuro nessa área, o que promete?


Estudos estão sendo feitos sobre o procedimento
chamado de “microbiome seeding”, na tradução literal,
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

semeadura de microbiota, com grande promessa. É


introduzida uma gaze no canal vaginal da parturiente
e logo após o parto cesariano é retirada e esfregada
na boca e no corpo do recém-nascido, na tentativa de
transferência de uma microbiota mais favorável.

Há estudos que mostram que a flora intestinal de


bebês que nasceram de cesáreas onde houve ruptura
espontânea da bolsa das águas, também tinham flora
mais favorável, portanto, se possível, evitem cesárea
eletiva.

A reposição de probióticos orais parece ser relevante.


A questão é encontrar o probiótico certo, para o
problema certo. Já estamos usando uma opção na
cólica, com bons resultados nos estudos e na prática
clínica.

Outro tema sendo estudado é o transplante fecal. A


transferência, através de cápsulas (atualmente através
de enemas retais – BLARGHHHH!) de uma flora
saudável, que substituirá a flora ruim.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Enquanto o futuro não chega, continue tentando os


passos anteriores, com destaque mais que especial
para o modo de parto e aleitamento materno
exclusivo, e por favor, coloquem o menino(a) no
chão!!!! Voltar ao índice

Vitamina C e resfriados: razão


(ciência) versus emoção
(placebo)
A ciência (séria) mostra que vitamina C
suplementada não funciona para prevenção ou
tratamento de resfriados e gripes. Sim, tudo que
você ouviu até hoje era pura lenda urbana. Mas
calma, que neste post vou te mostrar outras formas
comprovadas de melhorar nossa resistência.

Não passa sequer um dia em minha prática clínica,


sem que um familiar me conte que está dando vitamina
C suplementada para seu filho, para prevenir ou tratar
o resfriado comum ou gripes.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Frequentemente essa orientação parte desde


profissionais da saúde, até o pipoqueiro da esquina,
ou seja, é praticamente uma lenda urbana.

Sempre explico com paciência que não há nenhum


estudo que comprove que para a população geral,
exista efeito dessa prática. Por mais que se saiba que
o uso desse suplemento, em pequenas doses, não
traz riscos, o desperdício financeiro e a exposição à
corantes e excipientes em suas formulações não
devem ser ignoradas.

Na maioria das vezes, é bom para quem o vende.

Neste estudo de revisão sobre prevenção e tratamento


do resfriado comum, publicado no Canadian Medical
Association Journal, em 2014, fica bastante claro que
o uso de vitamina C suplementada na prevenção e
tratamento dos resfriados não tem suporte da
ciência.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Em uma análise de 29 estudos de boa qualidade, com


cerca de 12.000 participantes no total, não se
demonstrou nenhum efeito da vitamina C como
preventivo, a não ser nos indivíduos que praticam
atividade física extenuante.

Também não se demonstra nenhum efeito no


tratamento.

Se a vitamina C não funciona, o que


pode ser feito?
Bem, do ponto de vista da ciência, em relação à
prevenção, há eficácia de medidas de proteção:

● Lavar as mãos.
● Suplementação de zinco para aqueles com
baixa ingestão (prefiro através da comida).
● Suplementação ou ingestão de alho.
● Quanto ao tratamento:
● Hidratação.
● Zinco.
● Antitérmicos e analgésicos com moderação.
● Mel para maiores de 1 ano.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

● Algumas opções farmacológicas para casos


selecionados, é o que a ciência nos oferece.
● Antibióticos, obviamente, além de não terem
nenhum efeito, fazem mal!

E agora, ficamos com o quê? Para a maioria, com o


que a vovó dizia: muita água e frutas (hidratação),
gargarejos, limpeza nasal, lambedor (sem mel para os
menores de 1 ano, com mel para os demais) e uma
canja bem caprichada, com carnes e arroz (sim, tem
Zinco!).

Como dizia Hipócrates, faça do teu alimento o teu


medicamento.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Seu filho toma antibióticos


todos os dias e você não sabe
A conta é simples: produtores usam antibióticos nos
animais que comemos e, portanto, ingerimos uma
quantidade considerável destes, sem saber quanto.
Não subestime o tamanho do problema. Veja neste
post quais os impactos disso e o que pode ser feito.

Essa semana li um artigo na maior revista de pediatria


do mundo, a Pediatrics, da Academia Americana de
Pediatria (AAP) que me deixou preocupado, revoltado
e instigado, tudo ao mesmo tempo.

Em poucas palavras, é o que está no título: você, eu,


nossos filhos, os sãos e os doentes, tomamos
antibióticos todos os dias!

Não é lenda urbana – o uso de


antibióticos nos animais é abusivo
É uma grande preocupação, tanto que a AAP escreveu
esse relatório técnico essa semana, que vou tentar

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

resumir aqui pra vocês.

Em 2012, vendeu-se 15 toneladas de antibióticos


para uso animal, comparando com 3 toneladas para
uso humano. Aproximadamente 60% dos antibióticos
usados para animais, tem relevância para a saúde
humana, sendo inclusive usados para tratamento das
nossas doenças infecciosas.

Aí começa o problema: nos EUA, não há controle para


venda de antibióticos para uso veterinário e
provavelmente, igualmente a nós, muitos animais
“tomam” antibióticos sem nenhuma necessidade.

Do mesmo jeito que me irrito com a prescrição


excessiva de Amoxicilina para “viroses”ou “garganta”
– aquele nome de uma estrutura do corpo que virou
nome de doença (garganta não é doença!!!!) – nos
animais, ocorre prescrição abusiva, e pior, sem
controle! Nos EUA, 97% sem prescrição veterinária.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Só que no caso dos animais, muitas vezes os


antibióticos são usados em baixas doses,
cronicamente, em caráter “preventivo”, para “promover
crescimento”, para “melhorar a eficiência da sua
alimentação”: todos eufemismos para seu uso
abusivo.

E onde eles vão? Na comida que o animal come,


frequentemente uma ração, e da mesma forma que
engordamos e acumulamos gordura maléfica ao redor
dos órgãos, ocorre com os animais. E provavelmente
da mesma forma que as alterações na flora intestinal
causam esses efeitos em nós, nos animais não é
diferente.

Resumindo: comemos carnes de animais com


péssima qualidade de composição, animais entupidos
de antibióticos, doentes por esse motivo e adoecemos
duplamente!

E o pior: comemos pequenas doses de antibióticos de


uso humano diariamente, podemos estar sendo
contaminados com bactérias que causam intoxicações

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

alimentares cada vez mais poderosas (Salmonela,


Estafilococos, Campilobacter), causando um brutal
aumento na resistência bacteriana nos humanos.

Então, não vamos colocar somente na conta dos


médicos a questão da resistência bacteriana, vamos
dividir a conta com a indústria alimentícia e veterinária
(tô morto a partir de hoje…).

E agora, o que fazer?


Primeiro, cobrar o controle da prescrição excessiva de
antibióticos tanto dos médicos, quanto dos
veterinários.

Segundo, comprar carnes de pequenos produtores,


carne orgânica (frango caipira, carne de gado
alimentado com pasto), digamos, pode ser um
caminho.

E fica bem claro, que a preocupação está longe de ser


os hormônios que supostamente fazem o frango
crescer (não acredito nisso, deixo claro para os

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

especialistas da área de produção animal não me


crucificarem) e sim os antibióticos que eles comem
todos os dias que devemos ter cuidado.

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Dicas práticas para o


planejamento da gravidez
Planejamento da gravidez também é essencial,
afinal estamos colocando uma nova vida no mundo.
Infelizmente, 99% das pessoas não fazem. Veja
alguns pontos que você não pode esquecer na hora
de tomar esta importante decisão.

Sempre que atendo um casal com um recém-nascido


e começo a investigar o antes, durante e depois da
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

gravidez (sim, o pediatra precisa fazer isso), me


chama a atenção que ao perguntar se houve o
planejamento para engravidar a resposta é: mais ou
menos…

Fez exames prévios à gestação? 99%, não.

Procurou seu ginecologista de confiança antes de


engravidar? 99%, não.

Procurou alguém para orientar o estilo de vida? 100%,


não.

E aí no meio dessa grande preocupação atual com o


Zika, vejo o quanto as pessoas tomam cuidado e
planejam várias coisas na vida, mas algo tão, tão
importante quanto o planejamento da gravidez fica
relegado a um segundo, terceiro ou quarto planos.

Então, decidi escrever esse post, para orientar as


futuras e atuais mamães e papais sobre esse
planejamento, que vale tanto para quem nunca teve
bebê, quanto para quem já tem e pensa em engravidar
de novo.
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

O que fazer antes de engravidar


A ciência já nos indica hoje, que até a saúde paterna
pode influenciar na tendência de doenças crônicas
para os filhotes, então não é só a mamãe que deve
fazer exames antes da fecundação, mas também o
papai.

Então, quer engravidar? Mamãe, procure seu


ginecologista e papai, procure seu clínico de confiança
e fiquem atentos para a listinha abaixo:

– Doenças infecciosas (por isso não é só o Zika): é


muito importante que sejam feitas sorologias para
Hepatite B, Hepatite C, Toxoplasmose,
Citomegalovírus, Sífilis, HIV, Rubéola e, caso já seja
possível na época, Zika e Chikungunya. Também vale
a pena verificar a presença de alguma infecção genital.

Lembro que muitas dessas doenças têm seu maior


risco de acometimento fetal nos primeiros 3 meses de
gestação, então, não adianta esperar engravidar para
avaliar os riscos. Também há vacinas que podem ser

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

atualizadas para ambos antes da gravidez.

– Doenças hereditárias: Se existem casos de


quaisquer doenças genéticas transmissíveis na
família, como por exemplo, anemia falciforme,
hemofilia, síndromes em geral, cardiopatias e
quaisquer outras malformações.

– Doenças metabólicas/nutricionais/endocrinológicas:
Obesidade, pré-diabetes (importantíssimo),
diabetes, (pré-)hipertensão, doenças da tireoide ou
quaisquer outras condições crônicas dessa área,
precisam de avaliação de risco prévio, ajuste de
medicações e intervenções no caso de condições com
possibilidade de reversão, como pré-diabetes por
exemplo.

Qualquer desbalanço de vitaminas ou minerais pode


ser determinante para a fecundação/formação dos
órgãos do bebê/gestação. Procure um nutrólogo e
nutricionista de confiança!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

– Doenças cardíacas, renais, cânceres: Em tese,


seriam contraindicações para engravidar, mas a
depender e uma avaliação criteriosa, de um bom
especialista, tendo consciência dos riscos, é possível
ter sucesso em uma gravidez bem acompanhada.

– Estilo de vida: deixei por último algo que considero


essencial. Quando o casal decide ter um filho, deveria
ser no momento do ápice de um estilo de vida
saudável.

Muitas vezes, vejo que ocorre o contrário. As pessoas


vão “empurrando com a barriga” a ideia e a barriga de
ambos vai crescendo. Quando as reuniões de
família do Domingo vão ficando cada vez mais
insuportáveis com a inevitável cobrança de quando
virá o bebê, vocês, só de birra, dizem um para o outro:
sabe de uma coisa? Vamos engravidar!

Isso com 10 anos de casados, até que estáveis


financeiramente, mas há dois anos sem andar nem
100 metros, o pai fumando, estressados com o
trabalho, com cartão de fidelidade de todos os fast-
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

foods da cidade e comendo um vidro de Nutella, à


meia-noite, na tediosa sexta-feira dos casais
certinhos…

É o pior momento!!!! Não estou dizendo que vocês


precisam se mudar para uma casinha branca de
varanda, em um sítio bucólico, comer exclusivamente
da própria horta e meditar 2 horas por dia (antes de
qualquer coisa, incenso faz mal!), andar por mais 2
horas, para terem uma gestação e filhos saudáveis.

Mas, antes de empreender uma vida, não custa


planejar e tomar precauções. Quanto tempo antes?
Mais prudente possível – talvez um ano antes.

É o tipo da situação onde não vale a pena contar com


a sorte.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

A licença maternidade está no


final? O mundo não vai acabar!

Fim da licença maternidade não é o fim do mundo.


Vou te mostrar neste post que, fazendo valer seus
direitos e se programando com antecedência, você
pode continuar cuidando muito bem de seu pequeno.

Esse temor é um dos que mais escuto no consultório


nos dias de hoje. Se brincar, antes de me dizer o peso
ao nascer, tem mães que me perguntam se não podem
dar complemento para “acostumar” o bebê para
quando o fim da licença maternidade chegar.

Na verdade, ele decorre da dualidade entre noção do


quanto é importante o aleitamento materno (isso é
muito bom!) versus o quanto é necessário que a
lactante retorne ao trabalho ou estudos (realidade
inevitável).

Mas não deve ser motivo para começar fórmula e


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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

mamadeira para o bebê com um mês de vida, para


testar.

Também não deve ser motivo de ficar quatro ou seis


meses angustiada, pensando todos os dias nisso e até
atrapalhando o próprio aleitamento, pois se tem algo
que “seca” o leite, é estresse!

Como as leis ajudam a lactante


Então, quais são os direitos da lactante e quais são
as estratégias para trabalhar e aleitar ao mesmo
tempo:

1- A licença maternidade, nas empresas privadas, via


CLT, é de 120 dias. Qual o pulo do gato aqui?

O artigo 392 da CLT, parágrafo segundo, determina


que o período de descanso pode ser estendido em
duas semanas antes e duas semanas depois da
licença, através de atestado médico.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

2- A lei 8122/90, artigo 209, e artigo 396 da CLT,


determinam que a servidora lactante poderá dispor,
durante a jornada de trabalho, de uma hora adicional
de descanso, que poderá ser dividida em dois
períodos de meia hora, até seis meses de idade do
filho.

3- O Artigo 389, determina que em estabelecimentos


que empreguem mais de 30 mulheres com mais de 16
anos de idade, terão que dispor de local apropriado
onde seja permitido à empregada guardar, sob
vigilância e assistência, os seus filhos em período de
amamentação.

“- Ah, Dr. Flávio, ninguém cumpre!” Será? Por quê?

Reflitam!

A lei 11.770/08, iniciativa da Sociedade Brasileira de


Pediatria, na presidência do Dr. Dioclécio Campos
Júnior e através da Senadora Patrícia Saboya, desde
2008, estabeleceu a licença maternidade de 6 meses,
desde esse prazo estabelecida no serviço público

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

federal.

Atenção agora: nos demais entes públicos, essa lei


tem que ser regulamentada em cada esfera, ou seja,
se seu município ainda não a regulamentou, junte-se
a outras mães e cobre dos seus vereadores (época
boa para exigir que isso seja feito).

Segue aqui modelo, no qual o vereador só coloca o


nome e município (mais fácil que isso, impossível).

No serviço privado, a empresa que aderir ao Empresa


Cidadã, estabelece a licença maternidade de 6 meses
para suas colaboradoras e automaticamente recebe
isenção fiscal integral dos valores referentes aos dois
meses adicionais.
Qual a desculpa do seu chefe?

E na prática, o que fazer para se


preparar para depois dos 6 meses?
Você sabe muito bem que isso depende de onde mora
(trânsito), das condições no trabalho (local específico

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

para o bebê na empresa), de quem estará cuidando do


bebê etc.

Mas tem como manter o aleitamento! Primeiro,


comece a praticar a ordenha desde cedo. Aproveite e
doe leite!

Quinze dias antes da licença terminar, comece a


estocar leite no freezer, colocando a data da
ordenha, prazo de 15 dias no freezer, 12 horas após
descongelar. Você também pode estocar no local de
trabalho e no final do dia congelar em casa, basta
colocar em uma geladeira o frasquinho coletado (por
não mais que 12 horas).

Tente utilizar o copinho, antes de tentar a mamadeira.


Caso a sua licença seja de seis meses, em
concordância com o pediatra, você poderá começar a
testar alimentação sólida (frutas, palitinho de legumes,
procurem BLW – Baby Led Weaning em inglês ou
Desmame Orientado pelo Bebê) 15 dias antes e dessa
forma permitir que ele se alimente no intervalo antes

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

do almoço e à tarde.

Se sua licença for de quatro meses, use o atestado de


mais 15 dias do pediatra (não precisa ser doente para
necessitar do aleitamento). Após isso, use o direito de
uma hora a mais de intervalo.

Dependendo da situação, seria melhor iniciar


introdução alimentar mais cedo do que substituí-la
integralmente por fórmula. Já existem estudos que não
demonstram nenhum problema em iniciar IA entre os
quatro e seis meses, nessas condições acima, à
critério do médico acompanhante.

Estão vendo que não precisa ser um bicho de 7


cabeças? Que você tem direitos que nem imaginava?
Que é possível conciliar trabalho e aleitamento?

E se não der certo, se você trabalha o dia todo fora de


casa, não tem como voltar e ainda estudar à noite?

Amamente o máximo que puder, não torne esse


momento mágico uma angústia, conte com apoio da
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

família, faça valer os seus direitos e tenha no pediatra


o seu aliado!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Socorro! Tivemos um bebê e


viramos zumbis! (Parte 1)
Eu sei, não é como nos filmes de contos de fada.
Vivi isso pois sou pai de dois e quando chega a
madrugada, todos cansados de um dia de atenção e
cuidados e nosso bebê ainda grita, chora e
esperneia. Vocês acham que nunca mais na vida
terão uma noite de sono decente.

Mas não, isso passa, tudo passa e um dia vocês


dormirão de novo. Mas não precisa durar tanto tempo,
não é?
E é para isso que estou aqui: ajudar vocês que esse
momento chegue logo.

Primeiro é importante entender que…

● Bebês não nascem programados para


dormir a noite toda, simplesmente porque
ainda não sabem distinguir bem o dia da noite,

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

afinal, foram cerca de 9 meses de noite…

● Bebês dormem de 16 a 18 horas por dia, pelo


menos até os quatro meses de vida, mas,
infelizmente, sem horários regulares.

● Bebês que amamentam, pela maior


digestibilidade do leite materno, demandam
maior frequência de alimentações, mas isso
não deve ser encarado como desvantagem.
Pois é exatamente o que cria algo essencial
para a saúde psicológica do bebê e da mãe,
que chama-se vínculo!

● O ciclo de sono do bebê varia entre um sono


ativo, onde ele se mexe, fica até com olhos
entreabertos e em movimento (chamado REM
– Rapid Eye Moviment) e um sono profundo e
silencioso. Normalmente o bebê adormece no
sono ativo e tendem a acordar mais
rapidamente desse tipo de sono. É exatamente
por esse motivo que seu bebê acorda com

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

facilidade se adormecer nesse estado de sono


nos seus braços. Das duas uma: ou você
espera ele entrar em sono profundo para
colocar no berço ou coloca ele no berço logo
após a alimentação, quando estiver um pouco
sonolento, mas ainda não adormecido.

● Tem mães que me dizem que o bebê tem


“alergia” ao colchão: colocou no berço,
acordam. Entenderam o motivo?

● Após cerca de 25-30 minutos nesse estágio,


eles mudam para o sono profundo/silencioso,
onde ficará nesse estágio por mais 25-30
minutos, até voltar ao estágio ativo de sono.
Quando voltam ao estado ativo se mexem,
balbuciam, até choram levemente.

● Você pode até dar uma olhada no que está


acontecendo, pois sei que pais e mães
desenvolvem uma babá eletrônica interna, que
ao menor sinal, ao menor grunhido do bebê,

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

dão um salto da cama e correm. Uma


taquicardia daquelas, na velocidade dos 100
metros rasos, mas cambaleantes. Ao alarmar
toda a casa, todo mundo acorda, inclusive o
bebê.

● A medida que os bebês crescem, vão


conseguindo uma liberação do hormônio do
sono, a melatonina, de forma mais estável.
Assim, se você for fazendo tudo direitinho, ao
redor dos 4-6 meses, ele poderá, se muito, só
acordar uma vez na noite. Bem ao estilo dos
bebês franceses daquele livro onde tudo é
perfeito…

Vou dividir o post em dois, para não tomar tanto


espaço e tempo no dia de vocês. Esse foi apenas para
introduzir o assunto.

Logo mais vem o post sobre o que fazer para melhorar


o sono do seu bebê e ensinar o bebê a dormir.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Socorro! Tivemos um bebê e


viramos zumbis! (Parte 2)
Se você não leu a primeira parte, comece por ela
clicando aqui. Fazer um bebê dormir, do nascimento
até em torno de 6 meses, não é fácil. Precisa de
conhecimento, planejamento, paciência e muito
amor. Neste post vou dar algumas sugestões para
você lidar melhor com as dificuldades que vão
aparecer.

Se você procurar na internet, vai encontrar inúmeros


livros sobre o tema, que vão te ensinar táticas que
parecem curso de adestramento de cães da polícia
militar, até rituais etéreos misturando cristais com
dança do ventre.

Eu queria te falar de ciência do sono dos bebês e o


que existe publicado é muito para ser resumido em um
post, então serão vários.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Por isso te darei as diretrizes e você escolhe o modo


que mais se adapta ao seu estilo de criação de filhos
(respeito todos, desde que não signifiquem
desrespeito).

Vamos por partes – informe-se para um


bom sono do bebê

1- Conhecimento

Lendo o primeiro post, você entendeu que é normal


que os bebês até quatro meses tenham sono irregular
e que os seus ciclos de sono sejam mais curtos e
facilmente quebrados por nossas ações.

Então, antes mesmo de nascer o bebê, sugiro que


estudem um pouco o tema, para que se preparem e
não tomem medidas extremas diante de um bebê
insone.

Também é importante aproveitar suas tardes


sufocantes no final da gestação, para conversar com
suas amigas que já tiveram filhos e acessar os bons

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

grupos de apoio à mães no Facebook, entender as


experiências de quem já teve filhos para preparar o
coração e a cabeça (principalmente!).

2- Planejamento
Decida uma coisa logo: você quer seu bebê no seu
quarto ou no quarto dele (se puder)?

Vejo tanto mimimi nessa questão de cama


compartilhada, que fico até com receio de mexer
nessa Caixa de Pandora.

Mas, sendo reto, o ponto é o seguinte: quer fazer


cama compartilhada? Faça e provavelmente
acordará um pouco mais. Porém o processo de
adormecer é facilitado e o processo de amamentação
também!

Agora, se seu marido emite sons dormindo


(politicamente incorreto – ronca!) como uma Scania
com escapamento furado ou todos os dias para dormir
toma três doses duplas de Whisky com Rivotril,
esqueça cama compartilhada com ele e o bebê!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Está nos estudos, que aumenta substancialmente o


risco de sufocamento, dividir a cama com pais que
tomam tranquilizantes/drogas e bebida alcoólica.
Também vale para os obesos graves.

E ninguém, nem você, nem o bebê, conseguirá dormir


nunca com a sinfonia da Scania.

“- Não, eu quero o bebê no quarto dele!”


Então, primeiro, o berço não precisa e não deve estar
mais enfeitado do que carro alegórico da Unidos da
Tijuca! Principalmente com travesseiros, rolinhos e
seiscentos ursinhos de pelúcia do chá de bebê.
Também aumentam o risco de sufocação e podem
atrapalhar o sono.

Lençol confortável e único, de preferência levemente


preso nas laterais do berço ao nível do tórax do bebê.
Travesseiro mínimo.

Bebê pequeno deve dormir de barriga para cima.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Quer usar uma babá eletrônica? Use. Mas sem lembre


que eu te disse que você, ao ter o bebê, ativa uma que
já vem de fábrica no seu cérebro.

Calor demais faz mal, frio demais faz mal.

Ventilador tem o inconveniente de quase nunca


conseguir ser limpo totalmente. Se você puder e o
governo deixar, use um ar condicionado com a
temperatura ao redor de 23 graus e limpe pelo menos
duas vezes por semana o filtro.

3- Paciência e Rotina
Se tem algo que pode ajudar o seu bebê a aprender a
dormir direito, é algo que se chama rotina!
Portanto, sempre que possível, programe os banhos
do seu bebê para os mesmos horários e crie um ritual
a ser seguido:

– Tire a roupa.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

– Banho de sol 5 minutos dentro do próprio quarto até


o terceiro mês, com a janela aberta. Se estiver muito
frio, relaxe, espero que seu pediatra tenha prescrito a
suplementação de vitamina D.

– Dê o banho, mas não precisa fazer o bebê dormir na


água.

– Amamente e antes que ele adormeça, quando ainda


estiver sonolento, coloque no berço e fique um pouco
com ele até perceber que ele entrou em sono
profundo. (no post anterior expliquei a razão disso).

“- Ah, mas ele adormeceu no peito…”

Tudo bem, coloque para dormir assim mesmo! Porém,


talvez seja melhor esperar um pouco mais para arrotar
(20 minutos) para que ele entre em sono profundo.

De dia, coloque o bebê para dormir com claridade, com


sons normais de rotina da casa, desde que não seja a
metralhadora (arghhhh) tocando no som e outra
metralhadora pipocando no videogame do quarto do
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

irmão ao lado.

De noite, dormir no escuro total.

Faça o mesmo ritual de banho, pode até começar


com uma massagem relaxante (Shantala), por volta de
19h30-20h e já chegue com ele no quarto com as luzes
mínimas e com o ambiente pronto para que ele durma.

Nada de abajurzinho, nada de Candy Crush no quarto


do bebê, pois vocês devem dormir o máximo possível
quando o bebê dorme e não ficar olhando Facebook e
jogando. Principalmente se em cama compartilhada.

Se o seu bebê, começar a se mexer, grunhir, gemer,


você pode ir até lá verificar se tudo está bem, olhar a
fralda, checar a temperatura do ambiente, mas só o
pegue nos braços se ele chorar!

Como você leu ontem, há ciclos de superficialização e


aprofundamento do sono e se você o pegar nos braços
nesses momentos de superficialização, ele vai acordar

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

e começa tudo de novo.

Uma das coisas mais importantes que seu bebê deve


aprender é exatamente se “auto acalmar” para entrar
em sono profundo. E isso acontece justamente quando
ele superficializa e depois consegue novamente
relaxar profundamente (ciclos de 25 minutos,
aproximadamente).

“- Ah, mas não tenho que acordá-lo de 3 em 3 horas


para comer?”

Sem rodeios: até um mês de vida, sim! Depois disso,


se estiver ganhando peso bem e não for prematuro,
não.

Quer acordar o bebê? Tire a roupa dele. Simples


assim.

Lembrando que sempre que ele acordar chorando


(diferente de superficializar), deve ser alimentado e
verificar se não está molhado/cocô, não importa o

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

intervalo.

4 – Sobre o amor

Algo que me preocupa muito são os estudos que


mostram a grande incidência de depressão nas mães
de bebês insones. Isso é mais comum do que
pensamos e caso seja muito intenso o sintoma,
precisa de ajuda médica.

Não guarde para você o sentimento de frustração e


tristeza se as coisas não estão do jeito que você
sonhou com seu bebê.

Como disse no início, não é fácil, mas na maioria das


vezes tudo pode melhorar com o apoio da família, de
uma pediatra compreensivo e até mesmo de um
psiquiatra.

Caso sinta que a situação está fugindo do controle,

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

peça ajuda!

Por mais que você tente tudo isso que coloquei acima,
alguns bebês podem ser indóceis e um pouco mais
irritáveis, principalmente os que tem mais cólicas e sei
ser extremamente frustrante passar dias e noites com
um bebê que parece não corresponder à nossa
idealização.

No próximo post eu vou falar sobre técnicas para


exercitar a capacidade do bebê de se auto acalmar e
sobre o famigerado treinamento do sono.

Como disse no início, precisaria de um livro para


colocar tudo sobre o tema, então, se tiverem
paciência, farei alguns posts sobre o tema, começando
na fase de bebê e chegando até a fase da criança
maior.

Pronto, agora pode voltar pro seu Candy Crush.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

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Socorro! Tivemos um bebê e


viramos zumbis! (Parte 3)
Neste post você vai conhecer a técnica da escada
do sono, descrita no livro “The Happy Sleeper”. Com
o tempo, pode ajudar muito a ensinar o bebê a se
auto acalmar e ter um sono tranquilo.

Será que é possível “ensinar” seu bebê a dormir antes


dos quatro meses de idade?

Eu sei que vocês “sonham”, acordados e acabados,


todas as noites com isso.

Se você leu a primeira parte, entendeu porque não é


fácil. Na segunda parte, os requisitos para começar o
processo de treinamento.

E agora, vamos para a prática!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Recapitulando por que é complicado


Bem, antes disso, deixo claro: a maioria da literatura
sobre o assunto reitera a dificuldade de treinar bebês
menores de quatro meses a dormir, por vários motivos:

– Imaturidade da liberação do hormônio do sono, a


melatonina;

– A fase das cólicas (isso é assunto para outra série


de posts);

– As dificuldades iniciais com alimentação (para um


bom sono o bebê precisa estar se alimentando bem e
crescendo);

– O grande salto de crescimento e o rápido


desenvolvimento do nascimento até os 4 meses, pois
imagine que em média, o bebê dobra o peso de
nascimento aos 4 meses!

– Os outros problemas: o refluxo e a doença do


refluxo gastroesofágico, a disquezia do lactente,
aquele bebê que se espreme até dormindo, a
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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

aerofagia dos bebês que tomam mamadeira e


engolem muito ar.

Esses problemas precisam ser avaliados e


possivelmente contornados nas consultas pediátricas
de rotina.

Eles ficam insaciáveis, cada vez mais ativos e


interessados no ambiente externo. Igualzinho quando
você compra um celular novo.

Tudo isso definitivamente atrapalha a rotina do bebê e


causa certa perturbação, mas tem algumas formas de
começar a treiná-lo que, com consistência e paciência,
podem começar a surtir efeito e prepará-lo para ser um
futuro Morfeu… (meio exagerado,não?!?!?!)

Repito: rituais são importantes


Como já sabem, o sono tem rotina, melhor dizendo, o
sono tem rituais e “apetrechos”, necessita de um
ambiente tranquilo, com temperatura e cheiros
agradáveis e escuridão total!

150
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Quanto aos “apetrechos”, quem não tem seu


travesseirinho preferido, mesmo que seja puído e
malcheiroso? E os ursinhos, bonequinhas, paninhos,
fraldinhas e etc.?

Todos servem para nos acalmar e permitir transições


suaves entre as fases de superficialização e
aprofundamento do sono.
Você não percebe isso em você(s)? Claro, você(s) não
dorme(m)!!!! (tem que rir para não chorar).

Seu bebê inicialmente “elege” como objeto de


referência você e o peito. Isso é lógico e saudável.
Mas se você não segue o que te orientei no segundo
post da série, e deixa o bebê adormecer no peito, ele
sempre buscará você e o peito como objetos de
referência, ao superficializar o sono.

Portanto, sempre tente perceber quando o bebê não


está mais sugando (dizemos que está “chupetando”)
o peito e suavemente retire. Se estiver sonolento,
coloque um tempinho para arrotar e leve-o pro berço.
Se ele resmungar, fique por perto, fale com voz suave
– não precisa ser com a voz da Peppa Pig – e veja se
151
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

ele consegue adormecer.

Se ao sair do peito ele chora forte e volta a mamar com


toda força, repita a retirada depois de algum tempo,
mas sempre contando até dez, depois até 15, depois
até 20 para ver se ele se acalma e pode ser colocado
no berço.

Outra dica legal dos livros sobre o tema, é tentar


estabelecer uma rotina de sonecas diurnas, sem
deixar que o bebê fique acordado por mais de 90
minutos. Claro que a amamentação é livre demanda,
mas com o tempo e a consistência a tendência é ele
absorver a rotina de banhos, mamar e sono.

Você tem que conhecer “a escada do


sono”
Outra dica muito boa é a tática da escada, que é
explicada no livro “The Happy Sleeper”, ainda não
lançado no Brasil.

Toda vez que for colocar seu bebê para dormir, siga

152
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

esses passos sequenciais, como se estivesse


descendo uma escada (cada passo é um degrau):

1. Entrar no quarto com luz mínima.

2. O som suave da sua voz (shshshshsh, falando de


leve, cantando de leve).

3. Trocar, recolocar uma fraldinha que passou no seio


após a mamada próxima, sem ser na região do rosto,
um ursinho, um lençolzinho cheiroso em bebês
maiores de 6 meses (objeto de referência)

4. Tocar de leve o bebê, alisar a cabeça ou a barriga.

5. Balançar de leve o berço.

6. Pegar o bebê e balançar no braço até acalmar, sem


adormecer.

7. Alimentar.

Cada vez que ele acordar no meio da noite, você


imagina essa escada e fica entre 15 a 30 segundos
153
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

em cada degrau.

A tendência é que ao longo do tempo ele vá se


acalmando e até aprenda a se auto acalmar no
primeiro degrau, desde que não precise se alimentar
mesmo. Lembrando que em torno dos 4 meses e entre
5 e 6 quilos de peso, a maioria pode ficar quase a noite
toda sem comer.

Bem, essas são as dicas para os menores de 4 meses.

No próximo post, o treinamento de guerra


(brincadeira), para fazer seu bebê entre 4 meses e 2
anos dormir, nem que seja à base de … (de jeito
nenhum!!!).

Voltar ao índice

154
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Socorro! Tivemos um bebê e


viramos zumbis! Parte 4

Talvez nem tudo tenha saído perfeito, certo?

Mas eu sei que mesmo com tudo feito direitinho,


conforme o figurino, tem bebês acima de quatro meses
que literalmente, se recusam a obedecer!

Na verdade, sendo bem sincero, os primeiros anos de


vida são uma torrente fisiológica no nosso organismo
e cada menino(a), em cada ambiente, em cada estilo
de criação e de vida, pode reagir de uma forma.

Até que a criança complete em torno de 4-5 anos de


idade, dificilmente você terá um reloginho de sono em
155
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

casa. Mas algumas dicas, amor e paciência podem


ajudar a vocês que, depois de uma noite de trabalho,
trânsito e agitação, pedem de joelhos que o menino
durma.

Mas quanto uma criança entre 4 meses e 2 anos


dorme, em média?

Segundo o mais recente estudo, da National Sleep


Foundation, de 2015, nos gráficos abaixo você vê o
quanto dormem, em média, recém-nascidos, bebês de
4 a 11 meses de idade, lactentes de 1 a 2 anos e pré-
escolares de 3 a 5 anos:

Percebam que o gráfico mostra exatamente o que


expliquei acima: existem bebês que dormem pouco e
bebês bastante dorminhocos. Então, a depender dos
156
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

fatores individuais, e do que explicarei logo após,


vocês podem entender o que está acontecendo nas
noites insones da sua casa e se tiveram a sorte de ter
um ursinho em casa ou um tetéu, a ave que nunca
dorme...

O que pode atrapalhar o sono nessa idade

Outra questão importante, é listar algumas situações


momentâneas, que podem atrapalhar o sono na
infância:

- Surtos de crescimento:

O crescimento não é constante, ele ocorre em surtos


e platôs. O surto é quando o menino come tudo, vai
ficando gordinho, a vovó feliz e vocês também.

O platô é quando a avó surta, diz que o menino vai


morrer de inanição e compra escondida todas as
vitaminas da farmácia e se você descuidar, dá um
vidro inteiro ao menino, até você descobrir, quando ele
golfar um líquido azul, com cheiro de tutti-fruti...

- Saltos de desenvolvimento:

157
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Os bebês adquirem muitas habilidades nos primeiros


3 anos de vida, como segurar a cabeça, sentar,
engatinhar, andar. Cada vez que ele adquire uma
habilidade nova, fica empolgado para repeti-la
incessantemente, igual quando você compra um
celular novo. Aí o sono vai embora...

- Intolerâncias/alergias alimentares

Durante a introdução da alimentação complementar,


seu bebê pode "estranhar" alguns alimentos, também
pode desenvolver alergia à algum deles e isso causar
acúmulo de gases, dor abdominal, enfim, a barriga
enlouquece e o sono também. Isso precisa da ajuda
do pediatra.

- Dentição

Esse assunto merecerá um post logo logo, mas para


ser sucinto, nos dias que antecedem e precedem a
ruptura dentária, pode ocorrer uma alteração no
comportamento e padrão do sono.

- Infecções respiratórias

158
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Rapidinho, tossiu, entupiu o nariz, o sono pode


complicar. Levantar a cabeceira da cama e lavar o
nariz com soro fisiológico são medidas primordiais.

- Mudanças de rotina

Queria que alguém me explicasse porque tem gente


que leva o recém-nascido pro shopping ou pagode de
sábado à tarde e depois quer que o menino durma à
noite...

- Ansiedade de separação

Em torno de 9 meses, seu bebê trará de volta a


lembrança de quando os pais se conheceram e eram
namoradinhos que não conseguiam desgrudar 24
horas. Ele vira um grude, procura vocês em todo canto
e se desespera ao não ver a mãe ou o pai no ambiente.
Isso mexe muito no sono, principalmente em relação
aos despertares noturnos.

A hora da verdade: o treinamento

Por coincidência, os treinamentos que vou explicar


aqui foram objeto de estudo essa semana na revista

159
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Pediatrics, a de maior impacto na área da pediatria na


literatura, foi publicado um estudo randomizado e
controlado (boa qualidade de evidência) de um grupo
Australiano, com 43 bebês, entre 6 meses e 16 meses
de idade e suas mães.

Cada grupo recebeu um tipo de intervenção


(abordagem) e outro (grupo controle) recebeu apenas
orientações básicas sobre sono. Foi medido o nível de
cortisol - o chamado hormônio do estresse no bebê - o
humor e nível de estresse das mães. Também foram
verificados problemas comportamentais e emocionais
nos bebês além do nível de interação pais-filhos após
1 ano da intervenção.

As intervenções foram: extinção gradual ("cry it out") e


bedtime fading, que são os métodos (treinamentos)
que vou detalhar abaixo. É importante você saber que
estes treinamentos apenas são válidos para bebês
maiores de 4 meses. Para bebês menores, usar a
rotina que descrevi na parte 3.

160
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

A extinção
gradual é uma forma mais atenuada da famosa
extinção ou método "cry it out" (em português: deixe
chorar) tão criticado por deixar o bebê chorando até
dormir, sem intervenção dos pais.

No caso do estudo, foi proposta uma variação mais


leve do método. Após o aconselhamento sobre rotina
e ambiente para o sono, inicia-se um treinamento com
hora pré determinada para levar a cama, ainda
acordado.

À medida que a criança/bebê chora ou resiste,


acrescenta-se um tempo gradualmente maior para
responder com sua presença no ambiente, evitando-
se ao máximo pegá-lo no colo.

161
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Esta abordagem sempre foi muito criticada, por


possivelmente ser indutor de estresse à longo prazo
na criança e piorar o vínculo com os pais, podendo
resultar em indivíduos ansiosos e inseguros.

A tabela abaixo mostra como funciona este método.


Na 1a coluna temos o dia e nas colunas subsequentes
o tempo entre o bebê começar a chorar e os pais
darem algum tipo de atenção.

Um livro bastante conhecido e também criticado, o


Nana Nenê do pediatra espanhol Eduard Estivill, tem
um tempo de espera mais reduzido, como abaixo:

162
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

O método é eficaz? Pelos resultados do estudo, sim.

Causa excesso de cortisol/estresse ao bebê? Não


(veja aqui todos os resultados).

É o método ideal? Depende de cada família, modo de


enxergar o processo de formação de vínculo, se está
em aleitamento exclusivo, cama compartilhada.

Ou seja, precisa ser discutido entre pediatra e


família. O estudo, mesmo com um número de
participantes pequeno, mas com desenho estatístico
melhor do que os anteriores na literatura, aponta que
não seria tão prejudicial quanto se imaginava.

A segunda intervenção, chamada de Bedtime Fading,


termo de difícil tradução para o português, seria mais
ou menos "esvanecimento do tempo de ir à cama".

163
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Ao invés de explicar a teoria, vou usar um cenário


prático:

Joãozinho, 1 ano de idade, fica muito ativo quando


chego em casa às 20 horas e só dorme às 22 horas e
acorda muito tarde. Quero que ele acorde às 8:00 e
durma mais cedo.

O objetivo é colocar o bebê para dormir em um horário


que ele consiga adormecer em menos de 15
minutos. O que poderia ser feito?

Marcar o início do treinamento com um horário 30


minutos mais tarde do que a hora habitual de ir para a
cama (se ele vai para a cama às 22 horas, o início seria

164
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

às 22:30h). Não deixar dormir antes desse horário e


nem depois.

Iniciar rotina do sono (poucas luzes, banho,


historinha, música, alimentar, desligar a luz, carinho e
colocar na cama), 20-30 minutos antes.

Se a criança conseguir adormecer em até 15 minutos


após colocar na cama por duas noites seguidas, iniciar
todos os procedimentos 15 minutos antes na terceira
noite.

Se não, atrasa o horário de início em 15 minutos no


próximo dia (em nosso exemplo, começaria às 22:45),
até conseguir voltar para um horário mais cedo.

Importante: sempre acordar no mesmo horário e


permitir duas sonecas diurnas não maiores que 90
minutos, mesmo nos bebês entre 4 meses e 1 ano de
idade.

Quanto mais próximo dos 2 anos de idade, menor


tempo de soneca diurna: em torno de 60 minutos, no
máximo, ou seja, soneca com duração determinada.

165
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Após regular o sono noturno, você pode até permitir


uma soneca mais longa.

Após 15 dias do treino, Joãozinho conseguiu ir para a


cama às 21 horas e acordar às 8 horas (sei que é um
sonho, mas sonhos se realizam!).

Caso ele acorde no meio da noite, lembre-se da


escadinha do terceiro post e não se esqueça de
acordar sempre no mesmo horário estabelecido.

Ainda tem mais…

Voltar ao índice

Socorro! Tivemos um bebê e


viramos zumbis! Parte 5

Pois é, o assunto sono nos bebês rende, não?


166
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Sinto que às vezes ele é um pouco negligenciado e


que bom seria se os pais fossem educados desde o
pré-natal como lidar com essa questão.

Talvez assim ele não fosse um motivo tão frequente


de depressão materna e não seria preciso associar a
imagem dos coitados dos pais insones com zumbis...

Nesse (será?) último post da série, queria te orientar


quando a falta de sono pode significar realmente
um problema e merecer uma avaliação cuidadosa do
pediatra e talvez um encaminhamento para um
especialista em sono.

No final do texto, queria também deixar referências de


livros que li e considero importantes e por último uma
dica diferente, que provavelmente você não vai ler
em lugar nenhum sobre o que você pode incluir na
alimentação para ajudar seu bebê a dormir melhor.

Sinais importantes a serem observados

Pois é, nem sempre a falta de sono é leve e


passageira, como na maioria dos bebês. E tem alguns
sinais que você precisa prestar atenção, que podem
significar que realmente existem problemas.

Alguns não precisam de intervenções, apenas


paciência e calma (já sei que é pedir muito...), mas
em outras situações o menino(a) que não dorme pode
realmente precisar de ajuda médica e exames.

Se ligue se:

167
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

1- Seu bebê não dorme, chora o tempo todo e não


ganha peso.

Simplesmente ele pode estar faminto. Se você não


está percebendo muitas fraldas com urina, se ele não
se aquieta nenhum minuto e você percebe que ele
"briga" com o seio, não é deficiência de leite artificial.

Pode haver algo a ser corrigido na amamentação,


como a pega, a técnica da mamada (leite posterior) ou
língua presa, que estão impedindo que o menino coma
bem.

2- Seu bebê não dorme, não ganha peso e golfa o


tempo todo.

Pode estar com doença do refluxo gastroesofágico


(DRGE). Nesse caso, principalmente pela esofagite,
ele fica extremamente irritado e não consegue nem
terminar a mamada, algumas vezes.

Não ganha peso, fica faminto, golfa, fica irritado e o


ciclo se fecha e vocês quase arrancando os cabelos.
Apesar da DRGE não ser tão comum quanto se
168
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

diagnostica por aí (maior parte é refluxo comum),


nesses casos talvez seja necessário medicar.

3- A cólica não para, de manhã, de tarde e de noite

Cólica é igual a Hora do Brasil: sempre começa na


mesma hora. Se a cólica do seu bebê não é assim, seu
pediatra precisa procurar outros problemas.

Em alguns raros casos, a alergia à proteína do leite


pode se apresentar como cólica atípica. Mas isso não
significa que o leite precisa ser retirado da dieta
materna todas as vezes, pois retirar muitas coisas da
dieta da mãe pode facilitar o problema número 1.

4- Seu bebê está continuamente irritado, se


incomoda muito com os mínimos barulhos, não
consegue estabelecer contato visual com vocês e
parece sempre muito quieto e desinteressado. À
noite chora muito e ninguém o consola.

Aqui é algo que precisa ser visto com muito cuidado.


A primeira coisa a checar é a audição, mesmo que já
tenha feito o teste da orelhinha. Se o teste auditivo der
normal, é importante checar se não há um problema
no desenvolvimento cognitivo e social. Algumas
crianças autistas já podem ter esse comportamento
alterado, que também envolve o sono, como primeiro
sinal.

169
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

5- O bebê está roncando

Sei que já é dose aguentar o ronco do maridão (aquele


da Scania com escapamento furado do primeiro post).
Mas se seu bebê apresenta roncos, dorme de boca
aberta ou tem obstrução nasal de difícil resolução, ele
pode ter uma obstrução respiratória alta, quer seja por
obstrução das narinas, hipertrofia de adenóides e até
algo bem raro chamado estenose do seio piriforme.
Aqui precisamos de um otorrino.

Todas as situações acima exigem um olhar mais


cuidadoso e o seu pediatra pode avaliar se há algum
desses diagnósticos acima atrapalhando o sono.

Nos maiores de 2 anos de idade, podemos ter vários


outros problemas que podem atrapalhar o sono, como
o terror noturno, a síndrome das pernas inquietas, os
pesadelos e algumas doenças respiratórias, alérgicas
e que causam obstrução nas vias aéreas.

Para esse post não ficar muito extenso, se vocês


tiverem paciência e quiserem, volto ao tema em uma
série dedicada somente aos distúrbios do sono em

170
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

crianças maiores (me digam nos comentários deste


post).

Enfim, sono é algo tão importante na criança, que tem


livros para todos os gostos.

Quero te mostrar alguns, mas não me venham com


polêmicas sobre se um livro é cruel e o outro é
bonzinho e o outro é tecnicista e o outro é "bestinha".

Sugestões de livros sobre sono

Clique no link de cada livro caso tenha interesse em


comprar pela Amazon.

Soluções para noites sem choro - um método bem


mais "gentil", que não envolve a extinção e que talvez
seja o primeiro a ser tentado.

O bebê mais feliz (guia para um ótimo sono) - O Dr.


Harvey Karp se notabilizou pelas técnicas
desenvolvidas para amenizar a cólica, no seu DVD "O
Bebê Mais Feliz do Pedaço" (Happiest Baby on the
Block, em inglês). A indicação do cueiro, que também

171
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

está no seu livro para tratar o sono, está sendo


bastante questionada, pois tem mostrado relação com
síndrome da morte súbita. Mas o restante da técnica é
bastante gentil e pode ajudar bastante tanto na cólica,
quanto no sono.

The Happy Sleeper - ainda não traduzido para o


português, mas é o livro da técnica da escada da parte
2 da série. Também ensina uma técnica mais gentil,
que mescla uma extinção leve, com bedtime fading da
parte 4 da série. Muito bom!

Nana nenê - famosíssimo e bastante polêmico, pois


ensina uma técnica de extinção gradual. Não me cabe
julgar, mas penso que seria uma opção secundária,
nunca o primeiro a ser lido, nem tentado.

Bem, livros tem aos montes, mas a ideia geral


mesclada deles, está na série de posts no blog.

E será que tem algum remédio para a criança dormir?

Aqui gostaria de fazer um alerta muito importante:


existe um remédio famoso - cujo nome se parece com
sono - que já deveria ter sido banido no Brasil, mas
qualquer farmácia o vende sem receita.

Ele pode causar convulsões, arritmias e vários outros


efeitos colaterais. É formalmente contra indicado em
bebês. Portanto, nada de remédios sem avaliação
médica para seus filhos, ok?

E a melatonina?

172
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Pois é, em alguns casos bastante selecionados,


como por exemplo as crianças com dermatite atópica
severa, cuja coceira não a deixam dormir e no caso de
crianças com distúrbios comportamentais como o
autismo e TDAH, a melatonina pode ser indicada.

O problema?

Não tem pra comprar por aqui na farmácia. Não


recomendo que compre clandestinamente e em
algumas situações, seu médico pode prescrever
algumas substâncias similares que um
endocrinologista ou especialista em sono podem
prescrever.

Mas e para os bebês? E se a Melatonina pudesse ser


obtida da #comidadeverdade?

Pois é, o que vou escrever abaixo, dificilmente você


lerá em outro local.

Sempre se pensou que a Melatonina só pudesse ser


obtida de animais e que plantas não tivessem.

Foi quando pesquisadores descobriram que algumas


plantas, notadamente as frutas e algumas ervas
continham a Melatonina e que a inclusão delas na
alimentação, juntamente com fontes do aminoácido
triptofano, pudesse nos ajudar a dormir.

Mas como o post não teria fim se fosse contar o que


quero sobre a Melatonina nas plantas e como usá-la,

173
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

resolvi pedir a uma amiga que sabe tudo de receitas


me ajudar e farei um exclusivo sobre o tema.

O grand finale! Voltar ao índice

Quais alimentos fazem seu


bebê dormir melhor?
Como prometi, esse é o grand finale da série sobre
sono em bebês.

E para fechar a série queria dar uma dica que não tem
em nenhum dos mil livros de sono no bebê que você
já leu, nas noites insones...

Conheça a melatonina
Pois é, como já escrevi, uma das condições
necessárias para seu filho dormir, é liberar
adequadamente o hormônio melatonina, que é
produzido no cérebro, na glândula pineal.

Sempre se pensou que a melatonina fosse


exclusividade dos animais, que plantas não o
produziam (planta dorme?), mas tudo faz sentido
quando se estuda a fundo o assunto..

A melatonina, além de ser um indutor do sono, é um


potente anti-oxidante, ajudando à "limpar" toda a
"sujeira" produzida pelo seu corpo ao longo do dia.
174
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Com certeza você já ouviu dizer que o sono envolve a


reparação do corpo e a Melatonina é o maestro desse
processo noturno de "faxina orgânica".

Pois é, mas aí alguns cientistas avaliaram a


disponibilidade de Melatonina em plantas e eureka! -
ela estava lá.

Quais alimentos tem melatonina

No artigo do link acima está uma lista completa da


concentração de melatonina em plantas, mas destaco,
por ordem de concentração:

● Cerejas (as maiores fontes dentre as frutas!)


● Banana
● Tomate
● Morango
● Mirtilos
● Linhaça
● Amêndoas
● Arroz
● Mostarda
● Lentilhas
● Brócolis

Mas ainda dá pra ficar melhor

E quando você junta com alimentos com Triptofano,


um aminoácido que ajuda a produzir a serotonina, que
também ajuda no sono, aí as coisas melhoram mais
ainda.

175
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Fontes de triptofano:

● Espinafre
● Ovos
● Sementes de gergelim
● Peixe
● Frango
● Lentilhas
● Arroz negro
● Grão de bico
● Bananas
● Cerejas

Viu que tem alimentos com Melatonina e Triptofano ao


mesmo tempo?!?!?

Deus é maravilhoso, não?

A melatonina também está presente em


ervas/fitoterápicos, mas estas só podem ser prescritas
e usadas com orientação médica.

Mas Doutor, você não tem aí nenhuma receitinha?

Pois é, para não decepcionar, como não sou um


Masterchef, mas tenho amigos que o são, pedi à minha
amiga Patrícia Ayres, estudante de nutrição e
culinarista de mão cheia, para criar três receitas
especiais, que você pode incluir na alimentação do seu
bebê, para ajudá-lo a dormir.

Imprima, cole na geladeira e faça!

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Receita 1 - Smoothie do Soninho

● Tempo de preparo: Rápido.


● Facilidade de preparo: Fácil.
● Rendimento: 1 porção.

Ingredientes

■ 1 banana madura.
■ ½ xícara de leite de coco.
■ 1 colher de sopa de farinha de
linhaça.
■ ½ colher de sopa de uva passa.
■ 1 colher de sopa de amêndoas de
molho e trituradas.

177
Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

Instruções

● Comece batendo a banana e o leite de coco até


adquirir cremosidade.
● Adicione o restante dos ingredientes e bata por
1 minuto.

Dicas da Paty

Se não conseguir achar farinha de linhaça de boa


procedência, faça a sua. Basta bater a linhaça no
liquidificador e guarde na geladeira.

Deixe as amêndoas de molho de um dia para o outro.


Dessa forma fica mais fácil triturar. Pode tirar a pele,
se preferir.

Receita 2 - para um sono feliz e


intestino saudável
Sorvete de Morango

Tempo de preparo: Rápido (mas precisa congelar


ingredientes com antecedência)

Facilidade de preparo: Fácil

Rendimento: 1 porção

Ingredientes

● 1 banana verde.
● 1 banana madura.

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Papo Reto com o Pediatra - A saúde do seu filho sem mistérios

● 4 morangos.
● 2 colheres de sopa de iogurte natural integral
gelado.
● 1 tâmara (opcional)

Pré-preparo

● Descasque as bananas, pique em rodelas,


espalhe em um tabuleiro e congele.
● Lave os morangos, deixe escorrer e congele.

Instruções

● Coloque as rodelas de bananas do liquidificador


e bata até adquirir cremosidade.
● Acrescente o restante dos ingredientes e bata
até incorporar.

Dicas da Paty

Bananas congeladas são ótimas bases para sorvetes.

A tâmara confere mais dulçor ao sorvete, mas é


opcional. Às vezes a banana está dão docinha que
nem precisa! Pode usar uva passa também.

Use iogurte caseiro!

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