NEUROPSICOLÓGICOS PARA AVALIAR FUNÇÕES EXECUTIVAS Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla1 – Universidade São Francisco
As funções executivas referem-se à (Cozza, 2005) que, conforme o arrazoado teórico,
capacidade do sujeito de engajar-se em avaliam atenção seletiva, controle inibitório, comportamento orientado a objetivos, realizando flexibilidade e planejamento, respectivamente. ações voluntárias, independentes, auto- Paralelamente a tais testes, têm sido usados os organizadas e direcionadas a metas específicas Testes de Memória de Trabalho Auditiva e de (Ardila & Ostrosky-Solís, 1996). 1Suas bases Memória de Trabalho Visual (Primi, 2002), bem neurológicas encontram-se no córtex pré-frontal, como uma versão do Teste de Fluência Verbal especialmente no córtex pré-frontal lateral e no FAS (Montiel, 2005). giro cingulado anterior (Duncan, Johnson, Swales Todos esses instrumentos, com exceção dos & Frees, 1997; Gazzaniga, Ivry & Mangun, Testes de Trilhas e Torre de Londres, são 2002). Alterações nas funções executivas têm se informatizados, o que traz grandes vantagens para mostrado relacionadas a vários transtornos a análise de medidas temporais, como tempo de cognitivos e psiquiátricos, decorrentes de lesões reação e duração da resposta, pois permite ou de disfunções neurológicas, como, por registrar precisamente o tempo em milésimos de exemplo, esquizofrenia (Gil, 2002), autismo segundos, aumentando a sensibilidade dos testes. (Bosa, 2001; Duncan, 1986) e Transtorno de Além disso, a informatização auxilia a Déficit de Atenção e Hiperatividade (Barkley, padronização das condições de apresentação de 1997). estímulos e a coleta das respostas, permitindo Apesar das funções executivas terem sido maior rigor no controle das condições de tradicionalmente estudadas pela neuropsicologia avaliação, tornando os instrumentos um recurso como um construto unitário, pesquisas recentes mais confiável para a avaliação neuropsicológica. têm apontado a necessidade desmembrá-las em Pesquisas usando tais instrumentos têm sido componentes como memória de trabalho, atenção conduzidas. Numa primeira pesquisa (Capovilla, seletiva, controle inibitório, flexibilidade e Cozza, Capovilla & Macedo, 2005), por exemplo, planejamento (Duncan & cols., 1997). Para tanto, participaram 154 crianças, sendo 56,5% do sexo é fundamental dispor de instrumentos de avaliação masculino e 43,5% do sexo feminino, com idades neuropsicológica adequados. Neste contexto, têm variando de 8 a 13 anos, com média de 10 anos e sido desenvolvidos testes para avaliar os 6 meses. Os participantes cursavam entre terceira componentes das funções executivas, bem como e quarta séries de escolas públicas da Grande São conduzidos estudos para investigar sua precisão e Paulo. buscar evidências de validade, especialmente Foram aplicados os Testes de Trilhas, verificando sua relação com sintomas de Memória de Trabalho Auditiva, Memória de desatenção e hiperatividade. Trabalho Visual e Torre de Londres pata avaliar Já foram desenvolvidas versões de testes flexibilidade, memória de trabalho auditiva, tradicionalmente usados para avaliar componentes memória de trabalho visual e planejamento, das funções executivas, tais como Teste de Stroop respectivamente. Além disso, os professores das (Capovilla, Montiel, Macedo & Charin, 2005), crianças responderam à Escala de Transtorno de Teste de Geração Semântica (Assef & Capovilla, Déficit de Atenção e Hiperatividade – ETDAH submetido), Teste de Trilhas (Montiel & (Benczik, 2000). Capovilla, no prelo) e Teste da Torre de Londres Houve correlações significativas entre percentis na ETDAH e medidas dos Testes de Trilhas, de Memória de Trabalho Auditiva, de 1 Contato: Memória de Trabalho Visual e Torre de Londres. Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Itatiba, SP, Não houve correlações com Testes de Stroop e de 13.251-900 Geração Semântica, que avaliam atenção seletiva e-mail: alessandra.capovilla@saofrancisco.edu.br e controle inibitório, provavelmente porque
240 Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla naquela pesquisa foi computado apenas escore, e fatores são especialmente relevantes, tais como não tempo de reação. O grupo de crianças com uso de medicação, tipo de escola, nível sócio- sintomas de desatenção e hiperatividade (percentis econômico, idade, gênero e comorbidades, entre acima de 75 na ETDAH) apresentaram outros, visto que, conforme descrito na literatura desempenhos significativamente inferiores ao (Houghton et al., 1999; Sergeant, Geurts & grupo sem tais sintomas em medidas dos Testes Oosterlaan, 2002), muitas variáveis externas aos de Trilhas e de Memória de Trabalho Auditiva, testes podem interferir na avaliação dos fornecendo evidências de validade concorrente de comprometimentos em distúrbios tais testes na identificação de crianças com neuropsicológicos. sintomas de desatenção e hiperatividade. É importante estudar, também, as De modo a compreender mais características intrínsecas a cada versão dos testes detalhadamente a relação entre os componentes anteriormente descritos. Por exemplo, na versão das funções executivas e TDAH, uma segunda descrita do Teste de Stroop, de apresentação pesquisa avaliou 62 participantes, com idades informatizada, cada estímulo é apresentado entre 8 e 12 anos, divididos em dois grupos isoladamente na tela, e a passagem para o (Assef, 2005). O grupo 1 foi formado por 31 próximo estímulo só é realizada após a emissão da crianças com diagnóstico de TDAH, realizado por resposta ao estímulo apresentado. Esse fator psiquiatra segundo os critérios da Associação elimina a interferência da distração pela Psiquiátrica Americana – DSM-IV-TR™ apresentação de vários estímulos numa única (American Psychiatric Association, 2002). O situação, como ocorre, por exemplo, na versão de grupo 2 foi formado por outras 31 crianças que Regard (1981) em papel. Se por um lado isso não apresentavam sintomas de desatenção ou elimina a interferência da distração, por outro lado hiperatividade, conforme avaliada pela ETDAH, restringe a possibilidade de erros de resposta e pareadas por idade e sexo com as crianças do aumenta o tempo de reação. grupo 1. De forma a dar continuidade às pesquisas Houve diferenças significativas entre os com a aplicação de testes para avaliar funções dois grupos para os tempos de reação nos Testes executivas, novos estudos estão sendo de Geração Semântica e de Stroop, e para os conduzidos, buscando derivar dados normativos escores no Teste de Trilhas, fornecendo validade para crianças brasileiras, o que permitirá ao para esses instrumentos na identificação de neuropsicólogo comparar o desempenho de seus crianças com TDAH. Nas análises de correlação pacientes. Nesta ampla pesquisa de normatização de Pearson, todos os desempenhos nos diferentes poderão ser estudados, de forma mais testes correlacionaram-se com alguma outra aprofundada, possíveis efeitos de variáveis medida. De forma geral as correlações importantes como gênero, tipo de escola e idade significativas foram baixas, sugerindo que tais sobre o desempenho nos testes neuropsicológicos testes avaliam construtos distintos, embora em crianças sem transtornos psiquiátricos, relacionados, o que corrobora a hipótese de verificando se emergem os mesmos padrões dissociação entre componentes de funções observados nas crianças com TDAH. executivas. Desta forma, as pesquisas anteriormente REFERÊNCIAS descritas têm contribuído para fornecer evidências de validade de diversos instrumentos que avaliam American Psychiatric Association (2002). Manual as funções executivas, relevando o diagnóstico e estatístico de transtornos comprometimento de alguns aspectos no TDAH. mentais. Porto Alegre: Artmed. Têm, ainda, corroborado a hipótese de que as Ardila, A., & Ostrosky-Solís, F. (1996). funções executivas devem ser consideradas Diagnóstico del daño cerebral: enfoque incluindo diferentes componentes, tais como neuropsicológico. Mexico: Editorial Trillas. atenção seletiva, planejamento, controle inibitório, Assef, E. C. S. (2005). Funções executivas e memória de trabalho e flexibilidade. TDAH: um estudo de evidências de validade. Buscando aumentar a compreensão dos Dissertação. Universidade São Francisco, comprometimentos de crianças com TDAH, os Itatiba. resultados obtidos devem ser pesquisados mais Assef, E. C. S. & Capovilla, A. G. S. (submetido). detalhadamente em pesquisas futuras. Alguns Avaliação do controle inibitório em TDAH
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Cópia Traduzida de Earlier Development of The Accumbens Relative To Orbitofrontal Cortex Might Underlie Risk-Taking Behavior in Adolescents, Journal of Neuroscience Reply
Nação tarja preta: O que há por trás da conduta dos médicos, da dependência dos pacientes e da atuação da indústria farmacêutica (leia também Nação dopamina)