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Definições por Olavo de Carvalho

PERSONALIDADE: a forma mais ou menos estável e reconhecível que a


individualidade humana adquire perante si mesma e perante os outros, em certa época
da sua existência. É um elemento estritamente individual e intransferível. É algo que
existe perante a consciência do seu portador e perante a consciência alheia. Ela é um
conjunto de informações que você passa para os outros e para si mesmo. Ela é um dado
da sua esfera cognitiva, e não um elemento fisicamente presente. É altamente
vulnerável e influenciável pelas decisões que se refiram a ela. A PERSONALIDADE
se forma no decorrer do tempo, sendo resultado de várias influências, inclusive o seu
próprio portador, então ela é um elemento histórico. A única estabilidade que ela pode
ter é uma estabilidade mutável. A PERSONALIDADE existe eminentemente para a
consciência, ela é algo que se apresenta à consciência. Ela não é uma presença física,
mas sim uma presença cognitiva. Altamente cognoscível. A PERSONALIDADE é
algo que podemos reconhecer e, portanto, conhecer. É possível reconhecer uma
PERSONALIDADE inteira num único detalhe, ato ou gesto, que de algum modo
condensa todo o modo de ser daquela pessoa. A PERSONALIDADE pode ser
conhecida, mas não pode ser pensada. Tudo o que pensarmos a seu respeito serão
apenas aspectos, ela mesma só pode ser conhecida num relance e num ato intuitivo.
Qualquer representação que se dê da PERSONALIDADE de um indivíduo é falha,
parcial e alusiva. No entanto, a sua PERSONALIDADE é perfeitamente
cognoscível. Quando estudamos este fenômeno chamado “PERSONALIDADE”,
vemos uma margem imensa de conhecimentos que permanecem indizíveis, mas que são
reconhecíveis quando se apresentam para nós. Pelo lado científico, poderemos
reconhecer alguns traços passíveis de comparação com outras PERSONALIDADEs.
Pelo lado da intuição imediata, poderemos apreender PERSONALIDADEs inteiras e
das quais não se pode dizer quase nada. O verdadeiro conhecimento da
PERSONALIDADE não é científico e nem estético, mas existencial. a
PERSONALIDADE humana é um elemento da realidade. A PERSONALIDADE é
cognoscível, mas não é pensável. Modificar a sua própria PERSONALIDADE e
melhorá-la. Isso é perfeitamente possível. Uma das maneiras de entendermos o modus
operandi da PERSONALIDADE é estudar as vidas dessas pessoas. A
PERSONALIDADE é uma presença sensível e não sensível, ao mesmo tempo. A
PERSONALIDADE é uma presença sensível e não sensível, ao mesmo tempo. Há
elementos nela que são fisicamente presentes e outros que são adivinhados, e tudo isso
vem junto para nós. É um produto histórico. É algo no qual você pode interferir, mudar,
pois as pessoas mudam de PERSONALIDADE mesmo – para melhor ou pior. Como
nós tomamos consciência de uma PERSONALIDADE? Evidentemente, não é por
nenhum traço verbalizável. Você distingue uma pessoa pela outra não só fisicamente,
mas por um certo tônus, uma certa energia, uma certa modalidade de presença que é
característica daquela pessoa. Há uma variedade de expressões enorme e cada uma
dessas expressões vai diferenciar uma PERSONALIDADE. Alguns dos elementos que
compõem uma PERSONALIDADE adulta foram colocados lá pelo seu próprio
portador, outros foram herdados, outros foram incorporados, copiados do meio, e
frequentemente nós não sabemos onde termina uma coisa e onde começa outra. A nossa
própria PERSONALIDADE contém para cada um nós um certo coeficiente de
obscuridade, uma parte nossa que nós não conhecemos, mas que nós sabemos que está
ali. Como essa parte está atuando junto com as partes que são conhecíveis, isso quer
dizer que sempre a nossa conduta pode desencadear sobre o meio efeitos que são
diferentes daqueles que nós esperávamos. E essa expectativa do erro de comunicação
também faz parte da PERSONALIDADE e todos os mecanismos que vamos criando
para fazer isso também fazem parte. A PERSONALIDADE que você percebe é, a cada
momento, a resultante de um conflito. O conflito entre um “eu”, que é um centro
decisório, e os recursos disponíveis – esses recursos são dados pela sua hereditariedade,
pelo que vice aprendeu, pela cultura adquirida, pelos hábitos introjetados, etc., tudo isso
já está presente em você como fato. E esse dado está em você, mas ao mesmo tempo
está presente para você como se fosse uma coisa externa porque não foi você que
escolheu. Então, esses elementos que são, por assim dizer, voluntários e involuntários,
estão sempre num conflito e a PERSONALIDADE que você percebe a cada instante é a
resultante provisória desse conflito. Esta resultante provisória me mostra certos centros
motivacionais, quer dizer, certos motivos que o indivíduo tem para agir e que para ele
são muito importantes – mas que podem deixar de ser importantes no instante seguinte,
tão logo ele passe de uma camada a outra. Portanto, aquilo que você percebe como
PERSONALIDADE do sujeito não é PERSONALIDADE ainda. Isso quer dizer que a
PERSONALIDADE só pode ser conhecida, a rigor, depois que o sujeito morreu, depois
que você conhece a vida inteira dele e então você sabe quais são os elementos
estruturais permanentes, profundos, etc., e quais foram elementos que se anexaram ali
de passagem e foram rejeitados, eliminados ou neutralizados em seguida. Porém, a cada
instante nós também podemos imaginar projetivamente como será a continuação da
vida dessa pessoa. E notem bem que este julgamento está implícito na própria
percepção que temos da PERSONALIDADE dela – perceber uma PERSONALIDADE
é também fazer implicitamente uma previsão. Perceber quais são os limites e
possibilidades de aprendizado e de evolução que cada pessoa tem, pois eles não são os
mesmos em todas as pessoas. A PERSONALIDADE é um dos elementos mais ativos
que existem. Na percepção da PERSONALIDADE, a forma que você apreende na
presença da pessoa sugere certas ações e condutas possíveis que combinam com a
presença física dela. Todo conhecimento que possamos ter de uma PERSONALIDADE
é desse tipo: eu percebo que o sujeito é assim ou assado porque ele percebeu que sou
assim ou assado. Se você fizer abstração disso, a sua visão da PERSONALIDADE do
indivíduo passa a ser coisificada, pois você está descrevendo o indivíduo como se você
fosse um ser invisível que o percebeu. Então, existe o seguinte elemento: o indivíduo
aparece de tal ou qual maneira porque eu lhe apareço de tal ou qual outra maneira. É
uma coisa inteira que se apresenta a você toda de uma vez. É um fenômeno que te
envolve diretamente porque você mesmo é uma PERSONALIDADE humana. O
pressuposto da PERSONALIDADE é esse desejo de tornar-se: sempre há alguma coisa
que você deseja tornar-se em seguida. Mesmo quando você está agindo inteiramente
sobre o mundo exterior, você também está mudando o seu papel nesse mundo (página
40). Esta força é o centro a PERSONALIDADE. Esse centro joga sempre com uma
parte dos elementos desconhecidos e outra parte dos elementos conhecidos. O que
significa que não podemos definir a PERSONALIDADE, nem em termos de liberdade
e nem em termos de determinismo porque é absolutamente necessário que os dois
elementos estejam presentes o tempo todo (página 41). Existem muitas causas que
agem através de nós, que transcendem a nossa vontade e que nos impelem a agir desta
ou daquela maneira. Mas há outras coisas que não há como serem explicadas por uma
causa anterior. Então, em parte somos causa do que acontece e em parte somos
instrumentos de forças que nos transcendem, e estes dois elementos estão numa
permanente tensão. O resultado dessas várias tensões desse tipo que aparecem são
aquilo que a nossa PERSONALIDADE é a cada momento (página 41). Não há traços
de PERSONALIDADE isolada, pois a PERSONALIDADE é sempre um conjunto
tensional e se há um elemento, deve haver outro, outro e outro, etc. (página 43). a
PERSONALIDADE é, em grande parte, o resultado das suas decisões, das suas
escolhas (página 53). Uma descrição adequada da PERSONALIDADE deve levar em
conta todos os aspectos, as doze camadas ao mesmo tempo e para todas as pessoas, e
também levar em conta alguns elementos que não fazem parte das camadas e que são,
por assim dizer, dados externos (página 55). Se há chance de atuar [politicamente], por
mínimo que seja, o sujeito tem o dever de assimilar os deveres da cidadania porque isso
fará parte da estrutura da sua psique. Se essa parte não é introjetada, ela fica de fora
pressionando a sua PERSONALIDADE real (página 71). O fenômeno que estamos
lidando chamado “PERSONALIDADE”, ele próprio é objetivo e subjetivo ao mesmo
tempo. De maneira que, adotar qualquer das perspectivas unilateralmente iria deformar
o objeto (página 78).

PERSONALIDADE segundo Freud na visão de Olavo de Carvalho: Freud tem a sua


teoria sobre a formação da PERSONALIDADE, segundo a qual nascemos com um
conjunto de pulsões. Isso é verdade: desde já queremos comer e dormir, e reclamamos
quando sentimos uma dor — nós fazemos isso desde pequenininhos por termos
impulsos. Em cima destes impulsos, surge a noção de disciplina ou proibição social,
que ele chama de super-ego. Então nós já nascemos espremidos entre o que vem de
baixo e o que vem de cima, ou seja, do organismo e da autoridade. No meio disso vai se
formando um treco chamado ego, que é o mediador entre o id e o super-ego. O id quer
todas as satisfações possíveis da maneira mais imediata, enquanto que o super-ego quer
que nos adaptemos às exigências e limitações sociais da maneira mais completa
possível. Quando este desenvolvimento é saudável, o ego funciona como um árbitro
eficiente, modulando as exigências do id e do super-ego. Mas também pode surgir uma
PERSONALIDADE neurótica. Isso é a PERSONALIDADE, segundo Freud. a sua
teoria não é sobre a PERSONALIDADE, mas sobre uma estrutura instintiva que sem
dúvida existe. Essa estrutura é um aspecto entre vários outros.

Caráter: é uma forma fixa sobre a qual podem se desenvolver várias


PERSONALIDADEs diferentes. Ele é como um algoritmo, uma matriz de
transformações. Não corresponde a nenhuma qualidade concreta que podemos
observar na vida. É um objeto que a linguagem científica, literária ou humanística, com
a qual descrevemos a PERSONALIDADE, não pode captar. O caráter é a sua
totalidade, envolvendo tanto o que você sabe quanto o que não sabe. O caráter não pode
ser descrito em termos de qualidades ou defeitos da PERSONALIDADE, mas ele tem
de ter uma linguagem própria, que é quase uma linguagem matemática e isso é
altamente abstrato. É uma estrutura fixa.

Identidade transcendental (Kant): uma essência permanente que permita as várias


modificações. Essência humana permanente é inapreensível em si mesma. Não
podemos transformá-la num objeto do nosso pensamento. E algo que não apreendemos,
mas que constitui o quadro de referência daquilo que apreendemos. “Transcendental”
significava aquilo que é prévio à experiência e que determina a sua forma, mas que só
se torna conhecido no curso da própria experiência. É prévia à experiência e a pré-
determina. Nela se inclui tudo o que o sujeito fez. A identidade transcendental
propriamente dita é incognoscível por nós – sabemos que ela existe e que está lá. Mas
há algumas coisas que você pode saber dela: por exemplo, quando o sujeito morre você
sabe que a vida dele já adquiriu a forma total, portanto, alguma correspondência com o
caráter deve ter.
Eu: a palavra “eu” tem vários significados diferentes: um eu que se identifica com o seu
papel social; um eu que é o eu das suas memórias: é aquilo que você conta ao longo do
tempo; “eu” que se refere a ele como autor responsável pelos seus atos, uma espécie de
eu jurídico ou moral; eu ideal: este é o que você gostaria de ser e apresentar para os
outros; algo que você realmente é , e que eu costumo chamar de eu substancial. Ele é o
aspecto cognitivo da identidade transcendental. O eu é uma coisa que existe para você,
ele é uma auto-referência.

Eu substancial: aquilo que você é mesmo. Algo que você realmente é. Ele é o aspecto
cognitivo da identidade transcendental. O eu substancial é uma parte do caráter, que se
identifica àquilo que Kant chamava de “identidade transcendental”. É aquilo que você é
mesmo e que só se fecha no instante da sua morte, quando mais nenhuma transformação
é possível e você conhece a sua forma fixa.

Conhecimento por presença: A imagem está no nosso pensamento, mas a presença da


pessoa não. A presença está na própria pessoa, que se apresenta e é reconhecida. E a
presença não precisa ser necessariamente física. É um conhecimento que só existe na
experiência. Ele não existe nem na esfera da ciência, nem da representação literária,
nem coisa nenhuma. Conhecemos as coisas porque elas estão presentes a nós e nós
estamos presentes a elas, e não porque somos capazes de pensá-las, explicá-las, narrá-
las ou descrevê-las. Este conhecimento mudo e imediato é o conhecimento fundamental.
Nós baseamos absolutamente todas as nossas ações nele. Um conhecimento que não se
torna conceitual. É o conhecimento da presença pela presença.

Ciência: Ela é uma referência às partes da realidade que não são acessíveis à nossa
experiência, que não podem ser conhecidas diretamente, mas que de algum modo
existem. Nenhuma ciência estuda objetos concretos. Por definição, elas só podem
estudar seleções de aspectos.

Inteligência: percepção da presença. É a capacidade de perceber a realidade. A


capacidade de apreender a realidade em toda a sua amplitude.

Pensamentos / pensar: os pensamentos são fatos que acontecem dentro do mundo e só


podem ser compreendidos em referência a ele. O pensar é só um aspecto do ser. A
realidade e o conhecimento estão no ser, e não no pensar. “Pensar” é algo que eu faço
entre milhões de coisas. Ele está dentro da minha realidade e é só uma parte dela. É
uma das maneiras de conhecermos a PERSONALIDADE e os elementos conflitivos
que a compõem. O pensamento não é um dado que recebemos de fora, mas algo que
criamos. Ele existe somente quando pensamos e deixa de existir quando paramos de
pensá-lo. Ele se compõe de palavras que circulam o tempo todo. O pensamento adquire
uma presença física através das ações que o manifestam. Tem as suas exigências
próprias – a lógica, a gramática, etc. – a associação de idéias tem um monte de
mecanismos que me dão certa independência em relação à percepção. Pensar é só
transitar de uma idéia à outra, de uma palavra à outra.

Subjetivismo cartesiano: segundo o qual a única certeza que podemos ter é da nossa
subjetividade — tudo o mais seria duvidoso. Evidentemente essa prioridade do sujeito
é um engano, porque o primeiro o sujeito tem de estar no mundo para depois pensar
nele. A prioridade do sujeito existe apenas no pensamento e para o pensamento. O
pensamento é o que próprio pensamento pode conhecer melhor, mas pensamento não
é conhecimento. É apenas um artifício onde nos apoiamos para conhecer. Nós
acabamos de ver que existem muitas coisas que podemos conhecer sem pensá-las.

Escritor: Escritor é um sujeito capaz de calcular o efeito exato de cada palavra no


ouvido do seu leitor. O escritor fala para pessoas que não têm o domínio de uma
linguagem especializada.

Literatura: É a arte da expressão, é dizer as coisas da melhor maneira concebível, de


modo que atinja o efeito necessário.

Filosofia: A filosofia é uma especialidade que consiste na busca pela unidade do


conhecimento na unidade do conhecimento (erro de digitação?) consciência, e vice-
versa. Não é lógica, matemática, literatura ou história, embora possa usar de tudo isso.
Concepção geral que tentasse (erro de digitação? ) tenta articular o conjunto do
conhecimento. Filosofia é a busca pela unidade do conhecimento na unidade da
consciência, e vice-versa, então ela terá de absorver a cultura contemporânea,
abarcando e compreendendo o máximo do conhecimento disponível. A filosofia
consiste em assegurar a inteligibilidade do conhecimento disponível, mediante esta
operação que articula o conhecimento e a consciência. A filosofia existe para reintegrar
o que é conhecido numa inteligibilidade. Falar da esfera da experiência real de tal modo
que possa ser reconhecido por quem teve a mesma experiência na esfera existencial,
mas que não havia transposto à esfera do pensamento. “Voltar às coisas mesmas”

Inteligibilidade: por si mesma tem a ver com unidade e evidentemente com a unidade da
consciência. Entender algo é saber o que aquilo pode significar para você no contexto
da sua vida, assim como na sua existência social e histórica.

Consciência: a consciência implica responsabilidade moral e jurídica. A vulnerabilidade


física de um ser humano faz parte da sua consciência. O centro articulador da
PERSONALIDADE (página 77)
Batismo: Ele não imprime nenhum caráter, mas o amplia ao criar possibilidades que
naturalmente não tinha. Você é o que é, mas através do batismo se abrem
possibilidades que pela natureza não existiam.

Linguagem humana: a linguagem humana tem este poder de desencadear efeitos sobre
as pessoas sem a referência ao objeto de que elas estão falando, onde certas palavras já
estão imantadas de uma aura emocional por si mesmas.

Astrocaracteriologia: não é um estudo sobre o caráter, mas é o estudo sobre


determinados elementos do caráter, portanto, elementos permanentes, para saber se eles
poder ter uma correspondência estrutural com a posição dos planetas na hora do
nascimento ou não. Portanto, não é um estudo sobre o caráter de forma geral

Amor (distinção entre as experiências mais diversas associadas a esses termos - sexo,
desejo e amor):

1- No seu nível mais imediato e fisiológico, o desejo é um fenômeno puramente


interno, produto da química hormonal sem objeto definido. Não existisse o sexo nesse
primeiro sentido puramente fisiológico. O desejo vêm de dentro para fora. É o da pura
química hormonal que produz um desejo sem objeto específico e que, portanto, pode se
grudar em qualquer objeto que apareça. o desejo vem de dentro para fora. 2- Desejo
despertado pela visão direta ou indireta de um objeto, de um corpo desejável. É atraído
de fora. O fator excitante é aí algum traço sexual secundário ao qual o sujeito seja
particularmente sensível. Este é o nível que corresponde tecnicamente à noção
escolástica da concupiscentia. Não precisa de um objeto, mas é simplesmente um
produto de sua dinâmica interna. O desejo despertado pela paixão por um objeto. É
atraído de fora para dentro. 3- O desejo não é despertado por nenhuma característica
física mais saliente, mas por uma impressão geral, indefinida e não-localizada de beleza
ou charme, quase uma aura mágica em torno do objeto desejado, uma impressão geral
que você tem de uma pessoa inteira. O desejo não é mais despertado por um traço
específico do que a visão de uma pessoa inteira, sem que você saiba dizer o que
exatamente o atraiu na pessoa. 4- A paixão, o enamoramento, o coup de foudre que
torna o objeto uma presença obsessiva na mente do apaixonado. Esta emoção é repleta
de ambigüidades. Traz inevitavelmente consigo a ansiedade, o medo da rejeição e
aciona um conjunto de mecanismos psicológicos de defesa contra a frustração possível.
5- Vencidas essas ambigüidades, o enamoramento pode se consolidar num sonho
conjugal, o anseio de ter a pessoa amada ao nosso lado para sempre. Neste nível o
desejo assume tons de um valor moral. Destinado a manifestar-se na aceitação comum
de sacrifícios para o benefício mútuo, para a criação de uma família, para a aceitação
de responsabilidades sociais, etc. A resistência maior ou menor às dificuldades pode
levar a resultados que vão desde a criação de uma família estável até uma variedade de
desastres conjugais. 6- Verdadeiro e genuíno amor: é o impulso firme, constante e
irrevogável de tudo sacrificar pelo bem da pessoa amada, de perdoar sempre e
incondicionalmente os seus defeitos e pecados, de protegê-la de todo mal e de toda
tristeza, ainda que com o risco da nossa própria vida, e de conservá-la ao nosso lado
como o nosso bem mais precioso não só nesta existência terrestre, mas por toda a
eternidade. Neste último nível, o “sexo” propriamente dito perdeu toda energia
autônoma e ou é esquecido ou passa a desempenhar um papel ocasional e bem modesto
entre mil e um modos diversos de expressar o amor. Cada um desses níveis engloba e
transcende o anterior, e só quem chegou ao último e mais elevado compreende o que
estava em jogo nas fases superadas. – quer dizer, quem não alcançou pode imaginar,
mas não tem ainda a vivência concreta de todos os elementos que foram se
incorporando na sua experiência do amor e a torando cada vez mais complexa e
abrangente. Tudo isto é amor.

Dicionário: dicionário não descreve coisas, mas só o significado de palavras. Não há no


dicionário nenhuma palavra que seja usada para definir outra palavra e que não esteja,
por sua vez, também definida. o dicionário é um todo fechado, é o sistema da língua.
Acontece que a língua só um sistema quando considerada em si mesma e
independentemente de seu uso social, porque neste segundo caso, ela passa a ter
referência a objetos que não são palavras e cuja descrição ou expressão em palavras é
bastante complexa. Quando mais você tem a impressão viva de um objeto, mais
palavras você precisaria para escrevê-la ou exprimi-la.

Fetichismo: Não é amor a uma pessoa, mas a uma situação determinada.

Pedofilia: É uma atração que se tem por determinada situação biológica do objeto
desejado e não pelo próprio objeto. Não é amor de maneira alguma, mas apenas uma
necessidade interna do imaginário. Pedofilia é fetichismo e não amor.

Psicologia da PERSONALIDADE: Uma psicologia da PERSONALIDADE precisaria


começar por colocar este problema: como é que todo conhecimento de uma
PERSONALIDADE? – e por descrever essa experiência. O que significa exatamente
perceber uma pessoa como pessoa e não somente como uma presença física. Mesmo
quando se tem a presença física de uma pessoa desconhecida, algo da
PERSONALIDADE dela já é captado, é quase impossível que não se capte nada; é
quase impossível captarmos uma pessoa somente como presença física – não dá para
fazer isso, pois sempre alguma outra coisa a mais chama a sua atenção: a posição, o
tônus, o modo de vestir, etc., são várias coisas que, se fosse fazer a lista, não acabaria
mais. Pode ser um sujeito que você viu na rua e percebeu que ele estava triste – muito
bem: agora me descreva todos os traços pelos quais você captou que ele estava triste.
Não consegue.

No entanto, o conhecimento da PERSONALIDADE consiste exatamente nesta


descrição. Em segundo lugar, mesmo quando você percebe a PERSONALIDADE,
você não tem noção de quais são as fontes interiores dela porque quando você percebe
a PERSONALIDADE, ela já está pronta de algum modo – é claro que ela pode se
modificar em seguida, mas ela não apareceu inteira pronta, pois foi se formando de
algum modo e você não conhece essa história. Portanto, você também não sabe dos
traços percebidos, quais serão mais permanentes e quais podem desaparecer no instante
seguinte. Para isso, nós teríamos que recuar desde a primeira impressão da
PERSONALIDADE para a sua fonte interior, isto é, como o problema dessa
PERSONALIDADE se colocou para o seu próprio portador – ou seja, o problema do
“quem sou eu?”, ou do “quem eu quero ser?”, ou do “como estou parecendo?”, ou do
“como as pessoas me vêem?”. Todo mundo se colocou essas perguntas um dia e
colocar essas perguntas é uma das matrizes da PERSONALIDADE.
Teoria das Camadas da PERSONALIDADE: Ela é uma dinâmica da
PERSONALIDADE, pois assim como estou falando de uma estática, de uma estrutura
da PERSONALIDADE, que vai desde esse círculo externo de percepções até o seu
núcleo mais íntimo – núcleo que, por sua vez, mergulha no passado desconhecido e
inconsciente, etc. – assim também existe uma psicologia evolutiva da
PERSONALIDADE.

Círculo de latência: perceber qualquer coisa, qualquer ente, não é só perceber a sua
presença física, mas um certo potencial de ação que está contido nele e que o diferencia
dos demais. Portanto, a percepção da essência de um objeto é imediata e dada no
primeiro objeto daquela espécie que você viu – também é claro que você pode se
equivocar às vezes. Essas primeiras percepções estão ricas de sugestões, pois você
percebe as coisas, os entes, não apenas como presenças, mas como possibilidades de
ação que estão implícitas nele e que fazem com que ele seja o que é. Essa percepção
antecipativa está sempre presente em tudo o que percebemos

Percepção: toda percepção está carregada de uma antecipação – que não está só na
nossa mente, mas ela é sugerida pela própria forma do objeto que você está percebendo.
torção da nossa atenção desde a mecânica da linguagem e do pensamento para o objeto.

Definição: Fato social (Durkheim): “fato social é aquilo que ninguém decidiu”

Fato social: aquilo que simplesmente acontece e não depende da vontade de ninguém.

Linguagem da realidade: que falam de coisas que o povo vivenciou, que ele conhece –
que falem da realidade ao invés de criar essa eloquência pomposa e vazia

Linguagem das impressões hipnóticas: esperando criar emoções a partir do impacto


direto das palavras, sem referência à coisas do mundo. Criar uma realidade por meio do
impacto das palavras e, evidentemente, do prestígio anterior de quem fala. Confundir
valores e fatos. Delírio verbal onde as palavras estão carregadas de prestígio, positivo
ou negativo. O sujeito está falando, não porque a coisa existe, mas porque você quer dar
uma impressão. É uma linguagem realmente viciada.

Símbolo verdadeiro: experiência compartilhada

Vocabulário literário: um conjunto de imagens que o* sugere. (* escrevendo qualquer


coisa da realidade).

Vocabulário técnico: tentará, para cada ato ou nuance de percepção, dar um nome
diferente.

Linguagem de reflexão: Para se trazer o objeto e torná-lo presente, por exemplo, numa
aula, você precisa de uma série de artifícios verbais que não existem na linguagem
corrente – e isso é a linguagem da reflexão, que significa dobrar-se novamente sobre
alguma coisa que já esteve diante de sua atenção, ou seja, tal coisa já passou pela minha
atenção e me debruço novamente sobre aquilo para trazer a minha atenção de volta. “Eu
quero saber realmente como a coisa é”.
Refletir: o refletir é voltar àquela experiência e permitir que ela fale e buscar que o seu
pensamento expresse o que se passou realmente.

Pensar: O que é pensar? É transitar de uma idéia à outra.

Meditar: O que é meditar? É rastrear um pensamento ao contrário até a sua raiz na


experiência real.

Contemplar: O que é contemplar? Depois de ter feito várias meditações, você as vê


articuladamente – a contemplação é uma percepção complexa.

Leitura de filosofia: rastrear desde a forma verbal que o autor lhe entregou até a
experiência que ele teve e que justifica que ele diga o que está dizendo. Se você não fez
esse rastreamento, realmente não entendeu nada do livro de filosofia – que não é uma
simples leitura, pois é como uma partitura: tem que ser executado. Em geral, o modo
que as pessoas leem um livro de filosofia é como um surdo lendo partitura: ele capta
uma estrutura, uma ordem, mas não a referência à uma coisa; tem o signo e o
significado, mas não tem referência.

Círculo de discussão filosófica: é um círculo de pessoas altamente aprimoradas na sua


percepção e que, além da percepção aprimorada, tem também um conjunto de
referências culturais compartilhadas que lhes dão uma linguagem para falar dessas
coisas – e essa linguagem é repleta de alusões literárias, recordações, nuances, etc. É
preciso tudo isso para se formar uma camada letrada.

Poder intelectual ou o poder cultural: Uma camada intelectual é um conjunto de pessoas


com essa capacidade, então isso quer dizer que praticamente tudo o que se fala e se
discute na sociedade foi discutido antes por essas pessoas, elas moldam a mente – isso é
o que se chama o poder intelectual ou o poder cultural

Desaculturado: bastante acima da sua esfera cultural e percebia coisas que os outros não
percebiam e assim ele abria portas para que percebessem também.

Psicologia da PERSONALIDADE: se divide em duas etapas: primeiro, o


aprimoramento da percepção da própria PERSONALIDADE e depois o estudo
científico.

Camadas da PERSONALIDADE: pode ser vista ao mesmo tempo como uma estrutura
da PERSONALIDADE e como uma psicologia evolutiva, que são elementos que vão se
incorporando na PERSONALIDADE, mas que no fim estão todos lá – e que, a cada
momento também estão lá como possibilidades, como potências que podem ser ativas
no instante seguinte, portanto elas nunca estão ausentes. É claro que cada camada é pré-
condição para a seguinte, pois se o sujeito não passou por aquilo ele não pode ir para a
seguinte, ainda que ele possa vislumbrar essa possibilidade para adiante. Essas camadas
não são uma distinção meramente teórica que foi feita a posteriori, mas correspondem à
etapas da experiência real que não podem ser saltadas porque cada uma exige a anterior
(página 39). toda a estrutura da PERSONALIDADE já está dada na teoria das camadas,
porque é assim que as PERSONALIDADEs se formam pela aquisição de novos
círculos de percepção pela mudança do eixo de interesse. Até certo ponto esta mudança
é impelida pelo próprio desenvolvimento natural físico, pois se você está crescendo,
você vai passando de uma esfera de interesses para a outra. A partir do momento onde
você já dominou os movimentos elementares, onde o lidar com o mundo exterior já não
é mais um problema fundamental para você, quando o atarraxar da rosca já deixou de
ser um problema já faz um tempo, então é natural que você passe para outra esfera de
ação, que é a ação da comunicação: você tenta agir sobre os seres humanos ou interagir
com outros seres humanos.

A cada momento, portanto, está presente na consciência do indivíduo um certo


julgamento, uma certa avaliação do que ele faz das suas possibilidades de ação e do
que lhe interessa fazer em seguida. A isto nós podemos chamar o centro da
PERSONALIDADE. Mas o centro não tem um poder total sobre a
PERSONALIDADE porque nenhum de nós é uma PERSONALIDADE em sentido
total, pois existem inúmeros elementos em nós que são impessoais. Existem estes
elementos que estão em nós e são desconhecidos. E existem os elementos do mundo
exterior, da sociedade humana e que para nós são enigmáticos (página 40). A
PERSONALIDADE tem o poder de se estabilizar numa das camadas e não passar para
as outras? Ela não tem essa capacidade, pois ela pode não conseguir transpor a
passagem de uma camada para outra, mas objetivamente ela será colocada em situações
que são próprias das camadas seguintes (página 41). as camadas que não foram
transpostas, que estão adiante e como meras possibilidades, de certo modo pressionam
o sujeito, porque as doze camadas são, de certo modo, uma figura ideal da vida
humana, pois o ser humano foi feito para percorrer as doze. Se ele tem a capacidade de
fazer isto, de certo modo, ele tem a obrigação de fazê-lo. E se o sujeito não as realiza,
então ele ficou abaixo do que o ser humano é (página 48). Uma psicologia evolutiva,
como um traçado biográfico de etapas pelas quais o indivíduo iria passando ao longo
da vida, de modo que seria possível a cada momento, mais ou menos, situar em que
camada de desenvolvimento o indivíduo estava. do ponto de vista Estático, estrutural,
uma grade descritiva do estado presente do indivíduo sob o ponto de vista das várias
camadas (página 54). As camadas existem como elementos estruturais da vida humana,
como requisitos permanentes da vida humana, ou seja, tudo mundo é chamado a ocupar
as doze camadas de algum modo, onde as doze camadas formam o conjunto das
necessidades fundamentais da vida humana. Portanto, as qualidades correspondentes às
qualidades que o indivíduo não atingiu estão presentes nele como deficiências, e é
assim que você vai analisá-lo. (página 55). Através dessas percepções e dessas
adaptações e que você passa de camada a camada (página 56). Todas as camadas
seguintes estão presentes ao mesmo tempo como exigências que são naturais na vida
humana (página 58). As camadas que nós não atravessamos existem para nós soba
forma de pressões do mundo e não como partes da nossa psique, pois na nossa psique
elas não existem, mas que são exigências que pesam sobre nós (pagina 74). Cada
camada pode ser transposta por uma atuação meramente simbólica, desde que satisfaça
o indivíduo. desde que ele não passe para as etapas seguintes mantendo as exigências e
necessidades da etapa anterior (página 75). O instrumento pelo que você observa os
outros é a camada na qual você está. As camadas seguintes podem ser imaginadas
esquematicamente, mas não são vivenciadas, não são uma coisa presente e viva para
você. A teoria [das camadas da PERSONALIDADE] também nos mostra a origem de
todos os erros de julgamento psicológico e que constituem a trama da vida diária das
pessoas, que não se entendem, se julgam de maneira errada e procedem com relação
uns aos outros à partir da visão deformada que têm da PERSONALIDADE alheia.
Então, é claro que esta teoria vai muito além da psicologia da PERSONALIDADE,
pois ela é também toda uma psicologia das relações humanas – e, de certo modo, o
fundamento dela é uma antropologia, uma visão estrutural do que é a vida humana para
todos os seres humanos universalmente, no sentido das sucessivas exigências que a
vida coloca aos seres humanos pelo simples fato de serem seres humanos, ou seja, nos
coloca problemas que os animais desconhecem. (página 77). O que decide se o
indivíduo está numa camada ou na outra é aquilo que é o objetivo mais permanente e
mais importante para ele naquela fase da sua existência, ou seja, o que motiva as suas
ações. Exige uma espécie de um diagnóstico motivacional, ou seja, o que o indivíduo
está procurando por trás da sua conduta.

(página 78).

Grade descritiva do estado presente do indivíduo sob o ponto de vista das várias
camadas:

1- primeiro lugar, a PERSONALIDADE se compõe de uma presença física, que lhe


dará uma percepção agradável ou desagradável à primeira vista e isso marca uma
fisionomia

2- segundo lugar, você verá o domínio que este indivíduo tem do ambiente físico em
torno: a sua força, habilidade, os recursos de que dispõe, etc

3- terceiro lugar, o indivíduo terá uma linguagem – que é o conjunto de meios que ele
tem para penetrar nos vários ambientes sociais, para poder se fazer compreender ou
confundir, e assim por diante.

4- quarto lugar, você verá o tônus emocional da pessoa: é uma pessoa triste, ou alegre, é
um deprimido, é um obsessivo – todas as qualidades que nós costumamos chamar de
psicológicas estão na camada quatro.

5- quinto lugar, você verá a capacidade de disputa, a capacidade de autoafirmação, a


capacidade de lugar e vencer ou perder

6-são capazes de desempenhar as suas tarefas, de sustentar as suas famílias, de pagar as


suas despesas e de administrar, mais ou menos, o fluxo de caixa: não gastar mais do que
ganha, não contrair dívidas que não possa pagar e assim por diante. São capazes de
nivelar o seu padrão social às suas disponibilidades reais sem se sentir uma vítima ou
sem se sentir discriminado por causa disso (página 59). É a coisa mais prática a se fazer,
levando em conta apenas o seu interesse e a sua sobrevivência imediata (página 61).

7- A camada sete corresponde à cidadania. Deveres da cidadania. Consciente dos efeitos


de suas ações – acumuladas com as ações dos demais – sobre o conjunto da
sociedade (página 61).

8- Exigência ética mais profunda: “O que estou fazendo aqui? Quem sou eu? A minha
vida faz algum sentido? Confronto com a sua própria verdade, é uma meditação da
morte, é o confronto com a morte, é um confronto anterior à hora da morte, com a
consciência da morte e não com a morte propriamente dita. (página 66)

9- Desenvolvimento de uma PERSONALIDADE intelectual que é a camada nove, onde


o foco central do indivíduo é a busca da verdade sobre a sua própria vida (página 67)
10- A camada dez é o indivíduo que incorpora todo o poder sobre uma sociedade. É a
condição necessária para se poder opinar responsavelmente e para que a sua opinião
tenha algum valor para a sociedade e não apenas para a sua imaginação (página 73)

Reconhecimento imediato: é o maior patrimônio que o ser humano tem, pois consiste
em estar num mundo real que, por si, é portador do conhecimento – tudo o que chega
até você é conhecimento

Domínio da linguagem: você domina a linguagem na medida em que ela seja dominada
pela realidade que ela expressa, em vez de ela se deixar levar pelo seu próprio
mecanismo, quer dizer, tornar dizível o indizível – quanto do indizível? Só aquele
pedacinho que você necessita, porque o resto todo mundo já sabe. Antes de aprender a
se comunicar, de poder atuar no meio verbal humano, você teve que ter um certo
domínio da sua presença física, do mundo exterior, senão você não conseguiria nem
falar (página 43).

Saber: em primeiro lugar, é saber algo que os outros não sabem. Segundo, saber é saber
alguma coisa que você não consegue explicar (página 45).

Paralaxe cognitiva: que é algo que acontece em alto nível intelectual, mas pode chegar
ao ponto da loucura total, onde o indivíduo não entende nada do que ele está falando
porque não tem referência ao objeto (página 46).

Psicopata: que não é um doente mental, mas ao contrário, é uma pessoa mentalmente
normal, mas moral e emocionalmente desprovida de sentimentos morais, a pessoa não
tem consciência moral (página 63). Pode ser comprovado em laboratório, consiste em
tomar uma pessoa comum e, ao exibir cenas comoventes, as áreas do cérebro que são
afetadas são as áreas emocionais, e no psicopata é o contrário, são as áreas linguísticas,
pois o sujeito apreende a emoção como um código e não como uma vivência real. Isso
não quer dizer que o psicopata desconheça emoções, mas que ele a conhece melhor do
que outros porque ele a domina linguisticamente. Portanto, ele não sente a emoção, mas
sabe produzi-la – evidentemente são pessoas perigosas.

Histérico: Primeiro o sujeito se guia pelo que ouve do outro e depois começa a se guiar
pelo que ouve de si mesmo, onde o sujeito fala e se persuade pelo que falou – isso já é
histeria. O histérico vive de um auto-fingimento, não acreditando no que vê, no que
percebe, no que sente, mas no que ele diz. Por exemplo, se um histérico disser: “Eu
estou paralisado!”, ele não consegue mais se mover. Mas se você chegar e der dois
tapas nele, ele sai correndo. Histeria é uma autopersuasão deslocada da situação. Isso
pode se tornar tão permanente, que a pessoa passa a viver naquele seu mundo
imaginário. Quando a histeria provoca um desajuste entre a situação imediata do
sujeito, todo mundo percebe. Mas quando é um desajuste cívico, passa despercebido
porque estão todos desajustados (página 63). Distinção importantíssima: o sujeito que
aceita sabendo que está fingindo – “Não posso falar disso, senão eles me prendem
também..” – ou o indivíduo que acaba se tornando incapaz de perceber que tudo é uma
farsa, pois ele se convence de que nada está acontecendo – aí ele entrou na
sintomatologia histérica (página 64).

Discurso inventivo: se não existe uma ameaça física, e só existe apenas a indução
permanente, a repetição do discurso, etc., e não se trata da repetição doutrinal – e isto é
importante! – e por isso sou contra o uso da palavra “doutrinação”, pois quando se faz
uma doutrinação, há um discurso fixo, obrigatório, oficial e ele é repetido. O que
acontece em países como o Brasil e, em partes, nos EUA, não é isso, pois o discurso
oficial chega até você sobre mil versões diferentes e de maneira que, até para se
perceber que estão dizendo a mesma coisa, leva algum tempo (página 64). Em segundo
lugar, ele não chega com ameaças, mas com prêmios – a satisfação sexual, por
exemplo, “todos teremos a liberdade sexual e todos terão prazer”, além da recompensa
da aceitação, “todos irão gostar de você, pois é como a gente”, podendo ainda obter
vantagens financeiras (página 65).

Neurose: a definição de neurose do Dr. Juan Alfredo César Müller: a neurose é uma
mentira esquecida e na qual você ainda acredita (página 65).

Neurose induzida: mudar a sua conduta sem passar pela esfera do discurso, sem
discutir, mas [consiste] só em sugerir que o indivíduo faça certas coisas, que as
experimente. Quando o sujeito as experimenta, ele está mudado. Neurotizante, porque o
sujeito mudou e não sabe o que mudou (página 65).

Classes falantes: Aqueles que tem acesso à internet, jornal ou estação de rádio e podem
dar a sua opinião em público (página 67)

Etapa: etapa como a situação objetiva na qual o sujeito está (página 75). Todas as etapas
estão presentes para nós ao mesmo tempo, apenas não se manifestam todas de uma vez.

Camada: camada como aquilo em que psicologicamente ele está (página 75).

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