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ABORDAGEM TRIANGULAR NO ENSINO DE ARTES VISUAIS

(UNEMAT/ DEAD Outubro/2018)

Cilene Leite de Mello *

RESUMO:
Este artigo tem como objetivo fazer um breve estudo e análise da Abordagem Triangular
de Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, que foi considerado um programa educativo
influenciado pelas Escuelas Al Aire Libre (México), Critical Studies (Inglaterra) e da
Discipline Based Art Educacion (DBAE - USA) desenvolvido pela Getty Foundation,
sistematizado nos anos de 1987 a 1993 no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP
e que modificou a forma de se pensar arte. Uma nova forma de se aplicar os conteúdos
em sala de aula é sugerida pela autora.
Esta abordagem focada no ensino de artes influenciou grandemente o ensino público a
inclusive os Parâmetros Curriculares da Educação no Brasil.

INTRODUÇÃO

Ana Mae Tavares Bastos Barbosa nasceu no Rio de Janeiro em 17 de Julho de


1936. É uma arte educadora brasileira e considerada pioneira em arte-educação.
Em um período já considerado pós-modernismo, Ana Mae resolve dedicar sua
vida à pesquisa direcionada a crítica e reflexão da arte, apontando para possíveis
caminhos metodológicos, onde o educador pode trabalhar imagens diversificadas.
Sua proposta em arte-educação foi sistematizada à partir de 1987, denominada
como Proposta Triangular ou Abordagem Triangular. Foi considerado um programa
educativo tendo influência das Escuelas Al Aire Libre (México), Critical Studies
(Inglaterra) e da Discipline Based Art Educacion (DBAE - USA) desenvolvido pela Getty
Foundation que é a Arte-Educação baseada em 4 disciplinas: produção de arte, história
da arte, crítica e estética.
Ana Mae considera que o ensino da Arte não dever ser apenas um repasse
informativo de fatores históricos, mas deve ser uma mola propulsora de criatividade,
inventividade e leituras diversas, entendendo que a arte pode ter um diálogo constante de
aprendizado.
Essa Abordagem começou a ser divulgado nas escolas municipais de SP por
volta de 1989 a 1992 por meio de visitas dos alunos ao MAC onde os mesmos ficavam
em contato direto com essa nova abordagem.
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* Cilene Leite de Mello é Licenciada em Educação Artística – Habilitação em Música (UFMT) e
pós-graduada em Metodologia do Ensino de Artes Visuais (IBPEX), professora do Ensino
Fundamental e Médio em Escola Pública Estadual e professora da Unemat no curso de
Licenciatura em Artes Visuais (DEAD)
Esses experimentos se deram através do “fazer artístico”, sem considerar o
contexto histórico da obra, mas as turmas tiveram melhor resultado quando esse fazer era
contextualizado historicamente. Assim Ana Mae pesquisa e estuda experiência em
diversas regiões do Brasil procurando avaliar erros e acertos e resultados que diversos
professores vem obtendo com o uso da Abordagem Triangular.
Em suas experiências na Escolinha de Arte de São Paulo (EASP/1968-1971)
Ana Mae já atentava para a necessidade de desenvolver a capacidade crítica para analisar
uma obra e encorajar os estudantes ao processo criativo, do qual se resultaria a novas
respostas em relação a realidade, podendo até chegar a um processo de transformação.
(Barbosa, 1975 pag. 70 apud Peterson & Coutinho, 2017).
Através da criação da Lei 5.692/71, Ana Mae já chamava a atenção dos
profissionais da Arte sobre a obrigatoriedade da disciplina Educação Artística nos
currículos plenos dos estabelecimentos de 1º e 2º graus, e o perigo de a disciplina ser
considerada apenas como atividade paralela (Barbosa,1975, p. 111 apud Peterson &
Coutinho, 2017).
Durante os anos de 1987 a 1993 essa proposta foi testada no MAC – Museu de
Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), através de leituras de obras
originais. Ana Mae optou mais pelo termo “Abordagem” pelo fato de ser considerado
uma forma de aprendizagem e não propriamente um método ou um modelo a ser seguido.
É uma opção onde cada professor poderá usá-la em suas práticas cotidianas e poderá ser
motivado ao incessante processo investigativo.
E foi no XIV Festival de Inverno de Campos de Jordão, local considerado como
‘laboratório’ de uma concepção de ensino de arte, reativa as consequências da Educação
Artística praticada ao longo da década de 70.
Ana Mae Barbosa primeiramente chamou seus estudos de Metodologia
Triangular, e com o passar do tempo, observou interpretações erradas do termo
“metodologia” e resolveu renomear seus estudos como “Abordagem Triangular”,
tornando-se uma referência pedagógica para a educação. (SILVA, 2011)
Em 1997 o Ministério da Educação e Cultura (MEC) estabeleceu os Parâmetros
Curriculares Nacionais dando enfoque na Arte através das diretrizes para o ensino de arte
na educação básica. Essa ênfase se deu através de três documentos: PCN/Arte para o
Ensino Fundamental (Brasil, 1997), Referencial curricular Nacional para a educação

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* Cilene Leite de Mello é Licenciada em Educação Artística – Habilitação em Música (UFMT) e
pós-graduada em Metodologia do Ensino de Artes Visuais (IBPEX), professora do Ensino
Fundamental e Médio em Escola Pública Estadual e professora da Unemat no curso de
Licenciatura em Artes Visuais (DEAD)
infantil (Brasil, 1998) e PCN/ Ensino Médio (Brasil, 1999). É evidente nestes documentos
a Abordagem Triangular, porém a mesma não é citada na bibliografia. (SILVA, 2011)

A ABORDAGEM TRIANGULAR

Na Abordagem Triangular Ana Mae propõe uma alfabetização pela imagem


onde se daria a união da teoria e a prática das artes através da leitura de imagens. Segundo
Ana Mae as imagens transmitem a linguagem presentacional, que é aquela que capta e
processa a informação através da imagem. A linguagem presentacional faz com que o ser
humano consiga transmitir significados que não podem ser transmitidos através da
linguagem discursivas (científica ou linguística) (Dicionário Informal, 2018)
A linguagem discursiva não consegue expressar tudo aquilo que uma imagem
pode trazer a um observador. Por isso que, para uma mesma obra de arte é possível
interpretações diversas.
Para se fazer a leitura de uma imagem é impossível não relacionar os fatos
estéticos com o fator histórico, uma vez que o artista ao produzir uma obra de arte,
dificilmente não expressa a situação que está em seu entorno, e esta situação que afeta a
produção da obra de arte, pode ser de aspecto político, social ou religioso.
A Abordagem Triangular de Ana Mae diz que para se construir conhecimento
em Artes, essa proposta visa três eixos de ação: contextualizar, ler e fazer, por isso o
termo Triangular, onde permite ao professor escolher qual desses três vértices irá escolher
para desenvolver o seu trabalho, tornando-se uma abordagem flexível.

A abordagem não se baseia em conteúdos a serem dados,


mas em ações mentalmente e sensorialmente básicas, sendo
facilmente apropriadas a diversos conteúdos. Seguramente, a
Abordagem Triangular corresponde aos modos como se aprende,
não é um modelo, um guia, para o que se aprende. (BARROS,
2016)

Ou seja, quando um educador usar a Abordagem Triangular como referencial


para sua aula, ele não obrigará o educando a escolher uma obra de arte como suporte para
a sua produção plástica. A observação de obras de arte o estimulará a uma experiência
individual. O educador não deve ficar exigindo dos educandos representações fiéis das

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* Cilene Leite de Mello é Licenciada em Educação Artística – Habilitação em Música (UFMT) e
pós-graduada em Metodologia do Ensino de Artes Visuais (IBPEX), professora do Ensino
Fundamental e Médio em Escola Pública Estadual e professora da Unemat no curso de
Licenciatura em Artes Visuais (DEAD)
obras de arte observadas. Elas devem ser uma fonte de inspiração representativa e não um
modelo a ser copiado fielmente.
A livre expressão deve ser estimulada no aluno, ou seja, levar o educando a criar
sua própria obra de arte inspirando-se nas já existentes. Assim o educador pode utilizar
esses três vértices:

1. Contextualização Histórica:
A história da arte leva as crianças a compreender o lugar e o tempo onde as obras
estão situadas. Nenhuma obra de arte existe sem um contexto, e para compreendê-la é
necessário o entendimento deste. Assim Ana Mae (1999) diz: "A estética esclarece as
bases teóricas para julgar a qualidade do que é visto'“.
O educando precisa compreender que a arte se dá em contextos relacionados a
tempos e espaço, obtendo o conhecimento relacionado a história. Não é apenas situá-lo
historicamente da época em que foi produzida a obra, mas dar sentido à vida daqueles
que a observam.
Através da leitura de obras de artes estaremos preparando a criança e ou
adolescente para a decodificação da gramática visual da imagem fixa, através da leitura,
do cinema e da televisão, levando-as a aprender a gramática da imagem em movimento.

2. Leitura de Obras de Arte (Apreciação):


Desenvolver nos alunos a capacidade de ver e sentir uma obra de arte,
incentivando-os à análise. Nessa leitura levamos o aluno a observar os detalhes da obra,
o desenho, as cores, a disposição do ambiente, as formas das figuras, etc.

3. Produção (Fazer arte):


Desenvolver no aluno a capacidade de criar objetos e imagens utilizando as
formas já existentes e incentivando-os a criação de novas formas, despertando a sua
criatividade.
Ana Mae salienta que “... nem toda criança virá a ser um produtor de Arte, mas
todas poderão ser observadores efetivos, extraindo do consumo visual os mesmos
benefícios auferidos na ação sobre os materiais e na construção de símbolos. Para isso é
necessário que aprendam, pela contemplação, que o objeto de arte age sobre quem o

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* Cilene Leite de Mello é Licenciada em Educação Artística – Habilitação em Música (UFMT) e
pós-graduada em Metodologia do Ensino de Artes Visuais (IBPEX), professora do Ensino
Fundamental e Médio em Escola Pública Estadual e professora da Unemat no curso de
Licenciatura em Artes Visuais (DEAD)
observa, organizando sentimentos e ideias e permitindo que o processo de interpretar
imagens mobilize o potencial criativo, da mesma maneira que o processo de produzi-las.
” (BARBOSA, 1975, p. 113)

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Este estudo sobre a Abordagem Triangular de Ana Mae Barbosa se deu pela
necessidade do planejamento da disciplina Metodologia do Ensino de Artes Visuais do
curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade do Estado de Mato Grosso,
através da UAB (Universidade Aberta do Brasil) modalidade EAD, para as turmas das
cidades de Cuiabá e Sorriso – MT.
Observamos o histórico de vida de Ana Mae Barbosa, uma arte educadora que
trouxe grandes contribuições para o campo da Arte.
A Abordagem Triangular é uma opção para o professor de Artes das séries
iniciais, ensino fundamental e médio para a aplicação dos conteúdos de artes em sala de
aula. Uma forma de levar os alunos a interpretar obras e leva-los ao fazer artístico. Essa
abordagem nos dá a opção de fazermos várias atividades diferenciadas, uma forma livre
do professor criar opções de o aluno entrar em contato com o mundo artístico, e vivenciar
experiências próprias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARBOSA, Ana Mae. Teoria e prática da Educação Artística. São Paulo: Cultrix, 1975.

BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1999.

BARROS, Ângelo Roberto Silva. Abordagem Triangular no Ensino das Artes e Culturas
Visuais: uma breve revisão. Anais do XXVI CONFAEB, Boa Vista, Novembro de 2016.

DICIONÁRIO INFORMAL: https://www.dicionarioinformal.com.br/presentacional/

PETERSON, Sidiney; COUTINHO, Rejane Galvão. Abordagem Triangular:


ziguezagueando entre um ideário e uma ação reconstrutora para o ensino de artes. 282
Revista GEARTE, Porto Alegre, v. 4, n. 2, p. 282-294, maio/ago. 2017. Disponível em:
http://seer.ufrgs.br/gearte

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* Cilene Leite de Mello é Licenciada em Educação Artística – Habilitação em Música (UFMT) e
pós-graduada em Metodologia do Ensino de Artes Visuais (IBPEX), professora do Ensino
Fundamental e Médio em Escola Pública Estadual e professora da Unemat no curso de
Licenciatura em Artes Visuais (DEAD)
SILVA, Patrícia Simone da. Aplicação da Abordagem Triangular nas séries do Ensino
Fundamental II nas Escolas Públicas da cidade de Barretos. UNB: Instituto de Artes,
Barretos/SP, 2011.

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* Cilene Leite de Mello é Licenciada em Educação Artística – Habilitação em Música (UFMT) e
pós-graduada em Metodologia do Ensino de Artes Visuais (IBPEX), professora do Ensino
Fundamental e Médio em Escola Pública Estadual e professora da Unemat no curso de
Licenciatura em Artes Visuais (DEAD)

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