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Escolhas Neste texto não falaremos das tecnologias educacionais propria-

mente ditas, mas das escolhas didáticas com as quais os professo-


didáticas para res(as) vão se deparar ao tentar inovar em sala de aula. Somente a
ensino remoto partir dessas decisões planejadas e arquitetadas é que será possí-
vel pensar em quais tecnologias queremos usar para inovar. Esse é
um tema muito importante para aumentar as chances de sucesso
durante a implementação de tecnologias em qualquer ambiente
educacional. Vamos começar?

Escolhas didáticas na preparação


dos planos de ensino
Neste texto discutiremos como as escolhas didáticas podem afetar o suces-
so da implementação de tecnologias educacionais. Esse assunto é muitas
vezes esquecido na empolgação pelo uso de um novo recurso tecnológico
em sala de aula. Entretanto, alinhar as escolhas didáticas antes das deci-
sões sobre uso das novas tecnologias educacionais parece ser um fator
fundamental para as inovações de sucesso em qualquer sistema de ensino.

Uma vez iniciado o processo de planejamento de uma aula com a identifi-


cação de objetivos de aprendizagem, habilidades e competências associa-
das ao currículo, é hora de o professor considerar também o contexto da
sua sala de aula e da escola. Planos de ensino eficazes não são planejados
para turmas genéricas de estudantes. Essa é uma das principais causas de
fracasso no oferecimento de planos de aula prontos ao professor – como os
apresentados em sites governamentais ou geralmente associados ao mate-
rial de apoio ao professor feitos pelos livros didáticos.
https://www.pxfuel.com/en/free-photo-xsxhp

ESCOLHAS DIDÁTICAS PARA ENSINO REMOTO 1


Planos de ensino devem ser criados para situações es- sos tecnológicos de ponta até o emprego de estratégias
pecíficas, levando em consideração o contexto do grupo mais simples e tradicionais, desde que elas o apoiem
de estudantes em questão: o ambiente físico da sala de para atingir os objetivos esperados para a aula.
aula (espaço, local, infraestrutura, distribuição de alu-
nos etc.); o tempo disponível para a aula; ferramentas
digitais ou não digitais disponíveis; tamanho da turma; Tentar inovar com tecnologias educacionais sem
conhecimento prévio e interesse da turma; preferên- ter clareza dos objetivos de aprendizagem a serem
cias da turma e estratégias de ensino mais eficazes para atingidos ou das escolhas pedagógicas corretas
o grupo, dentre diversos outros fatores. Tudo isso deve para o contexto da turma é a causa fundamental do
estar alinhado aos seus objetivos de aprendizagem e às fracasso na implementação de novas tecnologias
habilidades e competências que pretende desenvolver em qualquer contexto educacional.
em seus estudantes.

Ou seja, os professores precisam iniciar seus planeja-


Com a intenção de apoiar o professor nessa tomada
mentos tendo em mente o grupo específico de alunos e
de decisões, Harris e Hofer apresentaram o Quadro 1,
qual o nível de interação que terá com eles. Todas essas
que descreve as possiblidades de decisões didáticas do
realidades de contexto devem ser ponderadas e con-
professor em diversos aspectos, como: nível de instru-
sideradas, pois serão determinantes para as escolhas
ção, conhecimento prévio, nível de aprofundamento do
pedagógicas tomadas pelo professor quando na reali-
conteúdo, tempo disponível, necessidade de apoio para
zação de seu plano de ensino.
aprender e trabalho em grupos. A proposta é apenas um
Esses fatores determinarão o potencial de inovação guia para ajudar o(a) professor(a) a refletir e avaliar o
do(a) professor(a), que poderá ir desde o uso de recur- contexto das suas decisões ao preparar uma aula.
Contínuo de decisões didáticas em planos de ensino

Direcionamento da instrução Quadro 1:


Fraca Equilibrada Forte
Contínuo de
decisões didáticas
Autonomia
na preparação de
Baixa Equilibrada Alta
planos de ensino
Fundação Cecierj. Pictogramas de Freepik, Smashicon acessados em <www.flaticon.com>.

com tecnologias
Experiências prévias dos estudantes
Forte

Alta

Muitas

Profundo

1 semana ou +

Individual

Poucas Algumas Muitas


tínuo de decisões didáticas em planos de ensino

Complexidade do conhecimento
Baixo Médio Profundo
Experiências prévias dos estudantes

Complexidade do conhecimento
Direcionamento da instrução

Tempo de aula
30 a 60 min. 1 dia 1 semana ou +
Tempo de aula

Colaboração
Equilibrada

Equilibrada
Autonomia

Algumas

Grupos
Médio

1 dia

Colaboração
Toda a turma Grupos Individual

Fundação Cecierj. Pictogramas de Freepik, Smashicon acessados em <www.flaticon.com>.

ESCOLHAS DIDÁTICAS PARA ENSINO REMOTO 2


oda a turma
0 a 60 min.
oucas

aixo
aixa
raca
A recomendação para o uso desse quadro é que em cada item (seta de con-
tinuidade) você pense no contexto educacional para o qual está planejando
a aula. Somente a partir disso você deve tomar suas decisões e fazer marca-
ções para o que considera adequado para a turma em questão. Se você não
tem certeza em algum dos itens, deixe em branco até que você tenha mais
contato com a turma, conseguindo compreendê-la quanto a esses aspectos.
Com base nessa reflexão você será levado a pensar em quais abordagens ou
estratégias de ensino poderão funcionar melhor para seu plano de ensino.

Desde já gostaríamos de destacar as metodologias ativas como uma dentre


as possíveis estratégias pedagógicas pelas quais o professor pode optar a
partir da sua reflexão contextual da turma. Outras abordagens, tais como
aprendizagem colaborativa, aprendizagem situada, construtivismo social e
até mesmo as abordagens mais tradicionais podem ser opções viáveis (ou
até mesmo mais recomendadas) diante das diferentes necessidades e con-
textos revelados a partir da reflexão baseada no Quadro 1. Vamos falar mais
de metodologias ativas em outros materiais deste curso.

Em resumo...
Os usos de novos recursos tecnológicos no ensino não garantem sozinhos
a ruptura de velhos paradigmas educacionais. É necessário que se mudem
as concepções do processo de ensino-aprendizagem para uma perspectiva
mais moderna da educação na atual sociedade do conhecimento. Durante
a adoção de qualquer nova estratégia pedagógica, nova tecnologia ou de
uma metodologia inovadora, o currículo precisará ser configurado de ma-
neira a integrar as escolhas didáticas do professor, abrindo lugar para no
final ocorrerem as escolhas tecnológicas.

Essas escolhas didáticas, por sua vez, serão determinantes para o sucesso e
a eficácia das estratégias de ensino utilizadas em sala de aula. Mais do que
a disponibilidade de recursos tecnológicos desprovidos de ganho potencial
para o processo de ensino-aprendizagem, o(a) professor(a) precisa ser ca-
pacitado a desenvolver conhecimento pedagógico sobre o conteúdo a ser
ensinado; a partir daí, estará apto a escolher novas tecnologias educacio-
nais. Essa visão menos tecnicista do uso das tecnologias na Educação é uma
ferramenta importante para diminuição da fragmentação e do reducionis-
mo do conhecimento, abrindo a porta para aulas mais dinâmicas, práticas,
ativas e contextualizadas.

Referências
HOFER, M.; HARRIS, J. Developing TPACK with Learning Activity Types.
In: The TPACK Handbook for Practitioners. Media Rich Cases about Teacher
Knowledge, 2015.

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