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Contents

SINOPSE
NOTA DA AUTORA
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
OBRAS DA AUTORA
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
SINOPSE
Giuliana Ricci

Ela é a princesa da Máfia, obrigada a se casar com um


homem que não conhecia.
Assim que nasceu o futuro de Giuliana Ricci foi selado
devido a um acordo entre duas famílias.
Um pouco antes de completar dezoito anos, ela é enviada
ao Norte para finalmente ser apresentada ao noivo, cuja fama de ser
um homem violento e cruel, é conhecida e temida por todos.
Para o desespero de Giuliana, Romano é muito pior do que
contaram a ela e sua recepção à família De Lucca foi mais
traumática do que ela poderia ter imaginado, levando Giuliana a
cogitar algo que ela nunca pensou, fugir.
Mas dias antes do seu temível casamento, o noivo é
assassinado por uma Máfia rival. O alívio de Giovana dura pouco
tempo. Ela será obrigada cumprir a promessa feita por seus pais e
se casar com o irmão mais novo de Romano, Salvattore De Lucca.
Ela acredita que ele será apenas mais um homem cruel para
transformar sua vida num inferno. E Giuliana arma um plano para
fugir após o casamento.
Então, Salvattore faz uma proposta irrecusável.

Salvattore De Lucca

Salvattore nasceu e foi criado para servir a Máfia e ao seu


irmão Romano, que se tornará o grande Capo, após o seu
casamento.
Para ele só há duas coisas com que se importa: a famiglia
[1]e a organização.
Salvattore não concorda muito em como o pai dele e o
irmão sempre conduziram os negócios, mas sabe que deve
fidelidade ao seu juramento.
Quando Romano é atacado e perde a vida, Salvattore é
obrigado a assumir os negócios e uma noiva que ele nunca desejou.
Ele não quer distrações, então faz um acordo com a jovem
assustada, Giuliana Ricci. Ele vai deixá-la em paz, vivendo bem
longe dele.
Os anos passam, Salvattore prospera nos negócios e
ganha a fama de Capo implacável aos seus inimigos. Apesar de
todas as suas grandes conquistas, as duas famílias pressionam o
casal para terem um herdeiro. Salvattore está feliz com as suas
amantes e procura Giuliana para sugerir uma gravidez sem contato
físico, após isso cada um seguirá a sua vida como quiser. Mas após
reencontrá-la e ver que a assustada adolescente se transformou em
uma deslumbrante jovem mulher, Salvattore decide que precisa
conquistar o coração de sua esposa e ter seu herdeiro de forma
natural.
Ele precisa e a terá em sua cama.

Os dois

Giuliana não vai se render a um homem cruel e ter o


destino traçado pela dor e sofrimento. Ela conhece os De Lucca,
sabe a forma cruel que eles agem. E não dará um filho a um deles.
Mas cada dia ao lado do atraente, sedutor, terrivelmente
sexy e possessivo, Salvattore faz suas resistências começarem a
fraquejar. E ela não pode se apaixonar por um homem assim.
Só resta a Giuliana fugir.
O que ela não contava é que ao fazer isso, levaria um
segredo junto com ela.
Para ter Giuliana de volta e o filho deles em seu ventre,
Salvattore a caçaria até o inferno e brigaria com o próprio diabo por
sua família, se fosse preciso.
Ela vai lutar.
Ele não vai perder essa guerra.
NOTA DA AUTORA
Olá, queridos leitores.
Depois do sucesso de O filho rejeitado do Sheik, eu estou
de volta, e dessa vez trazendo um pouco do universo da Máfia.
Embora o livro trate de um tema considerado dark, devido
a conduta duvidosa dos personagens, tentei não pegar muito
pesado nos temas mais brutais, ainda assim, pode ter conteúdo
sensível para alguns leitores.
O livro não está pesado, mas também não está
completamente florzinha. Tem tiro, porrada e bomba, literalmente
bombas! :)
Um ponto a destacar, é que o mocinho é implacável com
todos os seus rivais, mas é uma bela cadelinha para a sua mocinha,
cuidando, protegendo e com aquele toque possessivo, assim como
o Sheik, porque é o tipo mocinho que eu gosto de escrever e ler.
Vale lembrar que essa é uma história fictícia e embora eu
use recursos da vida real, como países, figuras públicas e
acontecimentos, prefiro descrever no livro ambientes feitos por mim,
assim me dá uma certa liberdade para desenvolver a história.
As cidades Rifiuti, Acino e Vergini foram criadas para
esse livro.
Também é um livro único. A história do casal começa e
termina nesse.
Espero que vocês gostem de Salvattore De Lucca e
Giuliana Ricci tanto quanto eu me apaixonei por eles.
Um beijo,
Agatha Costa.
CAPÍTULO 1

Rifiuti, Sul da Itália

A minha vida foi decidida assim que eu nasci. Começando


por vir a esse mundo sendo mulher. Algumas pessoas poderiam
dizer que às coisas haviam mudado com a modernização, que muita
liberdade e decisão de escolha está sendo dada às mulheres. Mas
não no meu caso. Não no ambiente que cresci. A máfia italiana.
Aqui a vontade e os desejos dos homens ainda imperam.
Eles são os mais fortes, mais violentos, dominadores, administram
os negócios com mãos de ferro e eliminam seus inimigos com
banhos de sangue.
Na Itália, onde nasci, há três Famílias de Máfias muito
importantes: os De Lucca, os Conti e a família Ricci, onde o meu pai
é o atual Capo.
Os De Lucca, também chamados de Rosanera[2], dominam
o Norte e Oeste do país, foi a primeira máfia a existir e sua história
de glorias e conquistas em nosso mundo, é lendária. Eles carregam
no peito uma tatuagem de uma rosa negra com as leras R e N
entrelaçadas em espinhos.
A família Conti domina grande parte do Leste. É uma
organização relativamente nova, mas sua ambição os torna
altamente perigosos. E eles usam um crânio como símbolo, o seu
lema é: uccidi e vinci.[3] Matar e vencer.
A minha família, os Ricci, também chamados Cuore Nero[4],
tem poder em toda a parte Sul. Os homens tatuam nas costas um
coração com uma adaga cravada nele. Até as mulheres precisam
fazer uma, no peito, um coração preto com uma rosa vermelha. Eu
fiz a minha aos quatorze anos. E o nosso lema é: onore, casa e
famiglia[5]. Exatamente nessa ordem e nós fomos a segunda máfia a
surgir.
É como se a Itália fosse dividida em três países dentro dela,
De Lucca, Ricci e os Conti.
Há quase vinte anos os De Lucca e Ricci vem mantendo um
acordo de paz. Ninguém se intromete nos negócios do outro, mas se
unem contra os Conti sempre que é preciso.
Como parte do acordo entre os dois Capos, ficou decretado
que o primeiro filho dos De Lucca e a primeira filha dos Ricci se
uniriam em matrimonio quando a garota completasse dezoito anos.
O que farei algumas semanas.
Após três lindos bebês homens, que são o orgulho do meu
pai, finalmente eu cheguei à família e a promessa será cumprida.
Eu sou a princesa da família Ricci. Que deveria ser amada,
cuidada e protegida, certo? Do ponto de vista do meu pai e irmãos,
isso realmente aconteceu. Estive em excelentes escolas, conto com
os melhores seguranças, cresci na casa mais linda do Sul da Itália,
uso as melhores grifes de roupas e tenho algumas das joias mais
deslumbrantes do mundo.
Tudo material.
Eu sei que os meus pais e irmãos me amam. Mas a nossa
organização é a nossa família e eu faço parte de um acordo
importante, selado há muitos anos.
O que eu quero, desejo ou sonho, não importa.
O meu destino é me casar com Romano De Lucca. E
depois desse dia a minha família será ele. A minha obediência e
fidelidade pertencerão ao meu marido. Tenho que ser silenciosa,
bem-comportada e dar os filhos que ocuparão o mais alto posto na
organização quando tiverem idade para isso.
Serei apenas mais um objeto caro que o De Lucca exibirá
ao mundo, mostrando como ele é forte, poderoso e sortudo, por ter
em todas as noites, aquecendo a sua cama, uma bela mulher.
— Gia!
O chamado de meu irmão, desvia a minha atenção da
janela onde estive observando uma das paisagens mais linda por
aqui. Na esperança de acalmar meu coração em angústia, enquanto
meu destino é selado na sala do meu pai.
— A reunião acabou.
Com o que ele diz, desvio o meu olhar para baixo onde
estão os carros pretos. Eu não vi quando Romano De Lucca e sua
comitiva chegaram. Agora observando o movimento, avisto os
homens de preto saindo da minha casa. Um deles está rodeado por
três seguranças e eu sei que se trata do meu noivo. Não consigo ver
seu rosto, ele está de cabeça abaixada. Mas vejo que é alto e tem
um corpo desenvolvido em academias, exatamente como os meus
irmãos.
Por último, quando estou perto de sair da janela, vejo o
último homem surgir. Ele tem um celular no ouvido. Desce a escada
da entrada tranquilamente ao dirigir-se ao seu carro. Tem ombros
largos, braços longos, pernas grossas, posso ver pelas linhas justas
da calça. Um corpo ainda mais trabalho em músculos que percebi
em Romano. E os cabelos mais escuros que eu já me deparei.
Seus movimentos são elegantes para alguém tão alto e
másculo como ele parece ser.
Então ele começa a se virar e como se atraído pela minha
curiosidade indevida, seu rosto ergue em minha direção.
Garotos nunca me chamaram atenção antes porque eu não
tinha permissão de ficar perto deles, nem mesmo para amizades. E,
também, eu sabia que seria apenas mais um problema em minha
vida, me envolver com alguém que nunca poderia ficar.
Mas esse homem é o mais lindo que eu já vi na minha vida
e ele estava me encarando firmemente. Me desafiando a desviar o
olhar primeiro.
— Gia? Está ouvindo o que eu estou dizendo?
Fecho a cortina com pressa. O meu coração está batendo
disparado no peito e eu afirmo que é apenas o susto de ter sido
flagrada, observando o que e quem eu não deveria.
— O que foi, Tommaso? — Volto correndo para a minha
cama, onde me jogo olhando para o teto.
Ele só é apenas um ano mais velho do que eu, mas é o
meu irmão mais doce, gentil e preferido.
— O seu casamento. Vai ser daqui a três meses. Os
preparativos para a festa devem começar na próxima semana.
E em dois eu serei enviada ao Norte.
— Você está com medo, Gia? — Tommy vem até mim,
sentando-se ao meu lado.
— Por que eu deveria?
Na verdade, eu me sinto apavorada. Mas eu fui treinada
para saber controlar as minhas emoções.
— Eu fui preparada para isso a minha vida inteira. É uma
honra ser a prometida de um De Lucca.
— Mas não para alguém como Romano, minha irmã — ele
segura a minha mão e estou surpresa delas não estarem trêmulas
quando entrelaçamos os nossos dedos — Não tem ideia do que
falam sobre ele. O chamam de demônio. E o que eu vi essa manhã,
eu não gostei.
E Tommaso normalmente gostava de todo mundo.
— Serei a sua esposa. A mãe dos seus herdeiros.
Apesar de ser um homem de pulso firme e que nunca
abaixaria a cabeça para nenhuma mulher, o nosso pai sempre tratou
a nossa mãe com respeito. Eles não se casaram por amor, mas ele
surgiu com a convivência e tempo. Era isso que a minha mãe dizia
que aconteceria comigo e Romano De Lucca.
— Por que você não foge, Gia? — Sugere Tommaso com
ares de rebelde — Eu te ajudo.
— Tommaso — tomo o seu rosto com carinho — Você sabe
o que aconteceria se eu fizesse isso.
Uma guerra sanguinária entre as nossas famílias, como há
muito tempo não vimos. Eu não posso condenar a minha frágil mãe,
meus irmãos e meu pai prestes a se aposentar, a um destino trágico
porque estava me sentindo covarde e com medo.
— Romano De Lucca não irá me machucar.
— Se ele fizer isso, promete nos dizer? Alessandro, Mattia e
eu, não vamos deixar de cuidar de você nem mesmo casada.
Fizemos esse juramento em sua festa de quinze anos. Aliás,
Alessandro está nesse momento conversando com o papai.
Meus irmãos tão amados.
Isso era algo que Tommaso e nem mesmo Alessandro
poderia prometer. Talvez meu irmão mais velho quando ocupar o
lugar de nosso pai em breve, tenha uma voz mais ativa. Mas não
seria nada inteligente peitar a forma que Romano cuidava da sua
família, interferindo em algo tão pessoal.
— Nada vai acontecer comigo, meu irmão.
E se acontecesse, eu teria que enfrentar em silêncio.
Em breve serei enviada para conhecer o meu noivo e me
casar com ele.
Eu não tenho escolha.
Não pude decidir o meu futuro.
Nenhuma de nós teve essa chance até hoje.
CAPÍTULO 2

Rifiuti, Sul da Itália

Eu não deveria estar aqui. Eu não queria estar aqui. Mas


estou cumprindo uma ordem do meu pai. Acompanhar meu irmão
Romeno nas negociações finais do seu casamento com a filha mais
nova dos Ricci.
Um compromisso que ele não deseja, mas que foi selado
anos antes mesmo dele nascer. Unir as duas famílias de máfia mais
importantes da Itália
— Então os benefícios de me casar com a sua filha, será
apenas o fato de ter uma mulher bonita em minha cama sempre que
quiser sanar os meus desejos sexuais? — Romano se espalha pela
cadeira e encara seu futuro sogro e chefe dos Ricci, como se fosse
alguém insignificante para ele — Quer dizer, ainda não sabemos se
ela é mesmo bonita como falam.
— Irmão. — Toco o seu ombro e ele me encara, atrás dele,
com uma expressão nada feliz — O seu casamento trará ótimos
benefícios para as duas famílias.
Até o momento temos apenas um acordo de paz. Com a
união das duas casas, criaremos mais força para ambos os lados.
— Eu não vou poder comandar a parte Sul — destaca
Romano e seu comentário faz Allessandro, o filho mais velho dos
Ricci o encarar com desprezo.
— Eu tenho três filhos, De Lucca — Nicola diz com orgulho
— Alessandro em breve tomará o meu lugar. E minha gente não vai
aceitar nenhum Capo que não saia de nós.
Romano sabe muito bem disso. Podemos nos tornar
aliados, mas nenhum clã e afiliados, tanto do nosso lado como dos
Ricci, aceitariam um novo Capo que não tivesse nascido e crescido
nos lemas da própria casa. O que ele quer é irritar a famiglia de sua
noiva, mostrando que ele estava acima de todos nós.
— Não somos seus inimigos, filho — relembra Nicola com
controle e sabedoria que só deixa o meu irmão mais incomodado.
— Eu não sou seu filho, ainda, Don Ricci.
— O que meu pai quer destacar é que os Conti são —
Alessandro se manifesta — E pelo que andei ouvindo por aí, você
anda deixando-os bastante irritados. Houve baixas significativas do
seu lado recentemente, não foi?
— Aquilo foi um inconveniente — responde, Romano.
— Trinta e seis soldados mortos é um inconveniente para
você? — Alessandro exaspera e o pai dele faz um sinal com a mão
para que se cale.
— Trinta e seis nossos. Quarenta oito deles. Nós demos
uma resposta — Romano o encara com desprezo e proclama o
nosso lema — Siamo nati di mafia, moriamo di mafia, il nostro cuore
è nero.
Nascemos da máfia, morremos na máfia e o nosso coração
é negro!
— Alessandro tem razão, Romano — destaca Nicola — Os
Condi estão sedentos por tomar mais território e eles estão de olho
no oeste. A nossa casa é importante para vocês.
Não há nada que o meu irmão odeie mais do que estar
errado e ter que recuar.
— Está bem. Mas que fique claro que aqui ou na minha
casa, jamais receberei ordens desse fedelho.
O que Romano diz, faz Alessandro se levantar e levar a
mão na cintura, dando um pequeno vislumbre de sua arma, com toda
certeza carregada até os dentes. Entre os dois existe diferença de
idade de apenas dois anos, sendo o meu irmão o mais velho. Mas o
primeiro filho de Don Ricci, tem coragem e brio.
— Ninguém vai receber ordem de ninguém — aviso,
elevando a minha voz — Estamos aqui para unir forças e
enfraquecer os Conti.
— Muito bem — murmura Romano também ficando de pé.
Ele sabe que é preciso enfrentar um inimigo de cada vez,
embora só ele não consiga enxergar que os Ricci não representam
isso para a nossa casa.
— Agora posso conhecer a minha noiva?
— Giuliana não está aqui — avisa Alessandro e o rápido
olhar que o pai dele troca com ele, me faz pensar que isso não é
realmente verdade — Está visitando alguns parentes nas aldeias
vizinhas.
Isso não é bom. Se os Ricci reconsiderarem a união entre
as nossas famílias, poderá dar ideias erradas ao nosso adversário
em comum.
— É uma grande pena que os noivos não possam se
encontrar hoje — tomo a frente de Romano antes que ele pudesse
soltar mais alguma idiotice — Mas eu tenho certeza de que o mais
importante foi concluído. Que o juramento entre o meu pai e Don
Nicola fizeram há muitos anos, em uma sala exatamente como essa,
será cumprido.
O senhor Ricci me encara com bastante atenção. Eu
mantenho o meu olhar firme sustentando o dele.
— A minha palavra continua de pé, De Lucca.
Em nosso mundo isso vale tudo ou não vale nada.
Um homem de honra nunca quebra a sua palavra.
Por mais que Nicola Ricci não fosse ficar feliz em entregar
sua única filha nas mãos de alguém tão imprudente, cínico e frio
quanto o meu irmão, o destino dela havia sido traçado há muitos
anos.
— O que está passando pela sua cabeça, Romano? —
Enfrento-o assim que saímos do escritório do Capo, depois de
termos tratado de todos os detalhes do casamento.
— O que eu disse ao filho de Don Ricci se aplica a você,
Salvattore. Não vou receber os conselhos de um garoto. Mesmo
você sendo o meu irmão.
Garoto?
Tenho vinte oito anos bem vividos. Apenas quatro a menos
que ele, e, no entanto, é o meu irmão mais velho a agir como um
adolescente brincando de ser homem.
— As ordens do nosso pai foram claras. Você saia daqui
comprometido com a filha dos Ricci ou não precisava voltar.
— E você foi enviado para me vigiar, certo?
— Para manter a sua cabeça no lugar. O Sul é tão poderoso
quanto o Norte. Se perdermos essa aliança, teremos duas casas
importantes contra nós. Já basta você ter irritado os Conti.
— Eu não tenho culpa se a putinha da sobrinha do Capo,
achou que poderia me seduzir.
— O que chegou aos meus ouvidos é que ela nem sabia
quem você era. Estavam num território neutro, os Estados Unidos. E
o que fez àquela jovem...
Eu nem conseguia concluir. O lema do meu irmão é o que
ele não conquista, ele toma, do jeito que for preciso. Normalmente,
envolve muita crueldade e violência.
O nosso mundo é brutal e nos obriga a sermos implacáveis
quando precisamos. Mas eu não sou a favor de fazer o mais fraco
pagar pelos erros dos mais fortes, embora essa prática ocorra mais
do que eu gostaria.
A sobrinha do Conti não deveria ter sido uma peça nos
jogos sádicos de Romeno, inflamando ainda mais a briga entre as
duas organizações, que esteve relativamente calma no último ano.
— Agora eles sabem que se tentarem enganar um de nós...
Não adianta tentar argumentar com Romeno agora. Ainda
tem muita merda causada por seu temperamento intempestivo para
resolver. Ele não deveria se tornar o nosso chefe. O problema é que
o nosso pai é tão brutal e cruel quanto o meu irmão. As ações de
Romeno são vistas como um ato de coragem e ambição.
Eu temo que ele leve a nossa casa a um banho de sangue.
— Preciso atender o velho — ele avisa ao ouvir seu telefone
tocar.
Assisto Romano e seus homens seguirem para a saída.
— O seu irmão ainda vai terminar com uma bela bala na
testa — manifesta Marco que esteve na parede ao lado tragando um
cigarro enquanto ouvia a nossa discussão em silencio — O que vou
achar excelente. Sempre acreditei que o capo deveria ser você.
Encaro o homem de braços e pescoço tatuado, vindo
morosamente até mim. Não se engane com seus movimentos
tranquilos, quase como os de um felino ao rodear sua presa. Eu não
conheço ninguém que seja tão letal com uma faca quanto ele.
— Você não deveria dizer essas coisas — faço um sinal
para irmos para fora
Além de meu braço direito, ele é meu primo. Crescemos,
fomos criados e treinados juntos. O seu pai, meu tio, é o
Consigliere[6] do meu pai. Marco está sendo treinado para ocupar a
mesma posição quando o meu irmão assumir a organização. O
grande problema é que ele odeia o Romano.
— É a verdade. E quer saber? Meu pai também está
convencido disso. O seu pai não precisa colocar o Romano, se ele
não se provar digno.
O impasse é que meu pai e Romano pensam muito
parecidos. Só que o meu pai é inteligente o suficiente e sabe ouvir
mais conselhos, que seu filho mais velho.
— É ele ligando — aviso a Marco quando chegamos no
lado de fora.
Vejo o meu primo dar a última tragada, jogar o cigarro no
chão e esmagar com o pé.
— Essa merda ainda vai te matar — aviso.
— Alguma coisa tem que ser melhor do que eu.
Ignorando tanto convencimento, assisto-o ir para o nosso
carro e pego meu telefone.
— Pai?
Enquanto ele me enche de perguntas para saber como tudo
havia se saído na reunião com Don Ricci, tenho a sensação de que
há algo estranho. Como se eu estivesse sendo observado de algum
lugar.
Quando ergo o meu olhar para a parte superior da grande
casa, vejo entre as cortinas um dos rostos mais belos que já vi.
A garota não deveria ter mais do que dezesseis ou
dezessete anos. E nem deveria chamar a minha atenção. Mas ela
chama. Por alguns segundos fico com a minha atenção fixada nela.
Seria Giuliana Ricci espreitando-me através da cortina?
Isso só provaria que eu estive certo e seu irmão Alessandro
mentiu.
Para protegê-la ou irritar ainda mais Romano?
— Salvattore? O que você achou?
Preciso dar atenção ao inquérito do meu pai.
— O senhor sabe como é o Romano.
— Aquele garoto tem a cabeça quente igual a mim.
Se o problema fosse apenas a cabeça quente.
Volto a olhar para cima e infelizmente a garota não está
mais ali.
— Está me ouvindo Salvattore?
— Sim, pai.
Se aquela fosse mesmo Giuliana Ricci, ela era um problema
que Romano deveria cuidar. Estou cansado de bancar a babá dele e
colher suas merdas pelo chão.
Pobre garota.
Ela mal sabe que está prestes a assinar um contrato com o
diabo.
E que ele era muito, muito cruel.
CAPÍTULO 3

Tudo o que eu deveria estar pensando era no meu


casamento dentro de dois meses. Principalmente para a minha
viagem para Acino, onde meu noivo mora. Mas nos últimos dias eu
não pensei em Romano de Lucca, mas sim no homem misterioso
que abaixo de minha janela.
Não consigo esquecer o rosto tão bonito, sério e de olhar
tão intrigante. E se fosse apenas em meus pensamentos que o
desconhecido ficasse, tudo bem.
Em quase todas as noites ele invade os meus sonhos. Vejo-
o surgir através de cortinas balançando, em névoas em noites
escuras ou através de fumaças. As imagens são sempre as mesmas.
Ele caminha lentamente até mim, toca o meu rosto com suas
grandes mãos e quando nossas bocas se aproximam, eu acordo
com a respiração acelerada e suando.
É errado sonhar com um homem, desejar que ele me beije
quando em algumas semanas estarei casada com outro.
Eu precisava tirar um dos soldados de Romano De Lucca
da minha cabeça. E fugir dele o máximo que eu conseguisse, porque
se apenas com alguns segundos que nos encaramos ele conseguiu
deixar uma impressão tão marcante em mim. O que aconteceria
quando eu morasse em Acino?
— Giuliana, batatina.
A minha mãe entra eufórica no quarto, gesticulando suas as
mãos, os braços e falando alto como se eu estivesse a quilômetros
de distância e não bem na frente dela.
Ela me chama de sua batatinha desde que me entendo por
gente.
— O seu enxoval chegou.
Não há trancas em meu quarto. O meu pai dizia que uma
garota não tem nada a esconder dos seus pais. A falta de
privacidade não é uma coisa que eu sinta falta, porque nunca tive.
Apenas os meus irmãos, após os meus treze anos, exigi que
batessem antes de entrar.
— Precisa ver quanta coisa linda. O seu pai foi muito
generoso. Os De Lucca ficarão impressionados.
Eu não acredito que a família do meu noivo se importe com
isso. Eu poderia chegar até mesmo num saco de batatas.
— Mas não está animada, patatina mia?
Nenhum pouco, mas como dizer isso à minha mãe?
Assim como eu, a mãe dela, e outras mulheres anteriores
da nossa família, tinham nascido e sido criadas dentro da máfia.
Educadas para sermos boas filhas, esposas e mães. Todo esse ritual
para minha mãe é algo natural, que deveria me animar por entrar em
uma das famiglias mais importantes do mundo.
— Claro que sim, mamãe. Só acordei hoje com um pouco
de enxaqueca.
— Pobre picolina mia[7]. Vou pedir que Franca traga um
remédio. Mas aposto que quando provar todas as roupas irá se sentir
melhor.
A única coisa que me faria sentir melhor, seria a minha
liberdade. Mas isso eu nunca irei ter.
— Tem razão. Pode mandar subirem.
A primeira coisa que recebi foi um comprimido com um copo
de água. Coloquei-o na boca e deixei embaixo da língua até ir ao
banheiro despejar o restante da água do copo, depois joguei o
comprimido no lixo. Minha dor de cabeça não era real, mas a que
carrego em meu peito, sim.
— Veja, Gia, que linda essa camisola — mamãe me mostra
a peça branca de seda.
É mesmo bonita e delicada, mas eu só consigo pensar que
Romano vai me ver dentro dela e que pensamentos maliciosos irão
tomar a mente dele, antes de arrancá-la do meu corpo.
O restante das provas seguiu do mesmo jeito. A minha mãe
e o estilista da família de vários anos, seguem mostrando todo o
enxoval, enquanto eu tento fazer meu estômago não revirar.
— Agora o mais importante — minha mãe pega a enorme
embalagem branca — O seu vestido de noiva.
Se eu fosse usar uma palavra para defini-lo, seria
ostentação. É bonito, seria impossível um vestido de noiva escolhido
para mim ser feio. Mas não é exatamente a minha cara. É como meu
pai e minha mãe querem que a família De Lucca, principalmente
Romano me vejam, como a princesinha sendo oferecida a ele em
uma embalagem que representada castidade e pureza.
— Está linda, patatina mia — mamãe abraça o meu ombro
enquanto nós duas observamos a minha imagem no espelho —
Animada para a viagem e por finalmente conhecer seu noivo e sua
nova casa?
— Vou sentir saudade de Rifiuti, das nossas terras. De
correr pela fazenda, cultivar o campo. De vocês principalmente,
mamma — acho que é a primeira vez que me atrevo a demonstrar os
meus verdadeiros sentimentos, talvez porque meu destino sombrio
está cada vez mais perto — Eu não sou uma jovem da cidade. Se
não me adaptar em Acino?
— Querida, você é a nossa principessa[8]— mamma passa
a mão em meu rosto com carinho — Mesmo que seja uma garota do
campo, passamos a vida inteira de preparando para isso.
A um destino que eu não escolhi. Mas em vez de continuar
a dizer a mamma todos os medos do meu coração, apenas sorrio e
finjo felicidade, como sempre fiz.
CAPÍTULO 4

Acino, Norte da Itália

A melhor parte de ser apenas o Underboss[9], é a certa


liberdade que tenho para fazer o que quero, como quero e quando
quero, principalmente no que envolve a relacionamentos.
A grande responsabilidade de dar continuidade ao nome da
famiglia é de Romano. É claro que algum dia terei que me casar e ter
filhos, é a evolução do ser humano, multiplicar. Mas quando decidir
por isso, e será em um futuro muito distante, será com a mulher que
eu decidir escolher para passar o restante dos anos ao meu lado.
Felizmente, não estou preso em uma obrigação ou
juramento familiar para me unir a alguém completamente
desconhecido, tornando-a uma pedra incômoda em meu sapato.
— Caro mio? — Olho para a bela morena, de joelhos em
frente a mim, que me encara preocupada — Onde está a sua cabeça
hoje, Salvattore?
Gosto de ter minhas aventuras sexuais, mas não sou o tipo
de homem que sai com uma mulher todas às noites. Sou bastante
seletivo em relação a companhia feminina e quando encontro alguma
que me chame atenção, o suficiente para torná-la minha amante,
mantenho-a comigo até sentir a necessidade de algo novo.
— Qual das duas? — Indago com um sorriso cínico e pego
o meu pau que deveria estar sendo enfiado na garganta dela nesse
instante — Por que essa deveria estar na sua boca, não acha?
Uso sexo por prazer, mas também como meio de aliviar a
tensão que os negócios causam. E nos últimos dias, por cortesia do
meu irmão Romano, há muitos conflitos precisando serem
solucionados. Os Conti estão furiosos e sedentos por vingança.
Tivemos estabelecimentos e vários de nossos negócios sendo
atacados por eles.
Uma fortuna está sendo gasta para que a imprensa não
coloque nas primeiras páginas dos jornais, todo esse conflito,
trazendo atenção de quem não queremos para a organização. E
Romano em vez de estar concentrado em sua noiva chegando e nos
preparativos do casamento, provoca ainda mais os nossos inimigos,
revidando de forma mais violenta e sangrenta. Para ele é tudo
diversão, não importa quantos soldados vamos perdendo pelo
caminho.
— É o seu irmão?
Apesar de Graziella ser filha de um dos membros afiliado da
organização, eu não falo de assuntos profissionais e muito menos
familiares com ela. Estamos aqui para sexo e prazer, e, não nos
tornarmos amigos.
— Isso não é assunto para você, Graziella — aviso duro,
massageando toda a extensão do meu pau, em seguida levo a
glande ficando ainda inchada a boca dela — Esse, é.
No momento que seus lábios macios envolvem o meu pau,
deixo toda a minha concentração nisso. O sexo é sagrado para mim,
como muitas outras coisas em minha vida.
E Graziella é talentosa. Ela teve uma grande quantidade de
amantes que lhe deram bastante experiência para imaginar como
gosto de ser chupado. Mas eu sou mais exigente como também
ofereço mais que todos eles juntos.
— Abre — ordeno que abra mais a boca enquanto envolvo
o seu pescoço com a minha mão — Mais.
O seu rosto ficando vermelho com o meu pau fodendo a sua
boca é uma visão perfeita. Saio e invado com estocadas lentas e
profundas. Ela mela o meu pau e chega a engasgar algumas vezes,
mas continua a me tomar com determinação.
Sinto o meu pau cada vez mais grosso e minhas bolas mais
pesadas.
Essa porra é muito gostosa, mas eu não vou aguentar muito
tempo se continuar assim. Em uma tentativa de Graziella se afastar
para tomar ar, faço-a sair do chão e debruçar no encosto do sofá.
Acaricio suas nádegas, esfregando a mão por toda a pele
macia. Depois eu a ergo meu pulso no ar e minha palma desce firme
sobre a sua bunda. O primeiro estalo fez Graciella saltar para frente
e soltar um gemido ofegante.
Não é força, é jeito.
Duas, quatro, cinco vezes e o seu traseiro está em chamas.
É lindo de ver. Como se eu admirasse a pintura de um quadro. Gosto
do sexo mais quente.
— Tesoro! — A esse ponto ela geme como uma cadelinha
desejando ser possuída.
É o que faço, assim que coloco o preservativo. Arregaço
ainda mais as suas pernas e mergulho na boceta quente e molhada.
Fundo.
Comendo-a com força e em um ritmo cada vez mais
intenso.
Então Graziella goza gritando o meu nome.
E em algumas estocadas depois, libero o meu próprio
prazer.
CAPÍTULO 5

Rifiuti, Sul da Itália


Um dia antes

É a minha última noite na casa que nasci, cresci e vivi a


minha vida inteira. Apesar de ser assustador me casar com Romano,
um homem que nunca vi, mas a fama ruim o precede, já aceitei o
meu destino. O que deixa o meu coração apertado é ter que dar
adeus ao meu lar.
— Ei, Gia? Posso entrar?
— Tommaso?
Pulo da cama e corro descalça até a porta antes de dar a
permissão para ele entrar no meu quarto. Já passa da uma da
manhã e todos deveriam estar dormindo. Eu não tinha conseguido
ainda, por estar nervosa com a viagem do dia seguinte.
— O que faz aqui?
— Eu não consegui dormir e queria ver se você quer dar
uma volta lá fora?
Não é a primeira vez que fazemos isso. Correr como doidos
pelas plantações até nossas pernas ficarem fracas e nos jogarmos
na terra fofa para ver alguma noite estrelada.
As noites na fazenda Ricci são lindas de emocionar.
Essa pode ser a minha última chance de viver isso.
— Espere apenas um minuto Tommaso. Vou apenas pegar
o meu chale e os chinelos.
Depois de pegar tudo o que preciso, o meu irmão pega a
minha mão e tentamos correr pelos corredores sem que nossos
risinhos animados, nos denuncie para toda a casa.
Assim que sinto o vento gelado, mas suportável, bater em
meu rosto, lágrimas vem aos meus olhos. São as minhas últimas
horas do que conheço de liberdade.
Eu paro no meio do caminho e respiro fundo, sentindo todo
ar puro e a energia que esse lugar sempre me trás.
— Gia? — grita Tommaso, que já está no caminho da
plantação de maçãs — Vem!
Corremos pelos veios como se ainda fossemos crianças
brincando de exploradores. Mas dessa vez quando nos cansamos,
não nos jogamos no chão. Tommaso agarra minha mão e leva por
outro caminho e chegamos a uma árvore onde há um cavalo.
— O que é isso Tommaso?
Eu não tenho coragem de me aproximar do animal como ele
faz, não por medo do belo garanhão marrom, aprendi a montar com
cinco anos, mas porque começo a imaginar as intenções do meu
irmão.
— A sua liberdade, Gia — ele passa a mão no pelo brilhoso
do animal — Eu vendi toda a minha coleção de carrinhos para o filho
do Esposito. Não deu muita coisa, mas juntei com toda a mesada
que recebi esse mês. Você vai poder recomeçar em algum lugar Gia.
O gesto do meu irmão, sendo tão bonito me emociona.
Tommaso sempre foi o mais próximo a mim e sempre será o meu
preferido.
— E quando estiver em um lugar seguro, arranje um jeito de
me avisar. Vou mandar mais dinheiro.
— Oh, Tommaso! — Vou até ele e pulo em seus braços.
— Você não merece casar-se com aquele homem, Giuliana.
Eu não mereço, mas preciso. Ninguém deixa a famiglia, a
máfia, a nossa organização, qualquer um que tenha tentado antes,
ocupa um caixão agora.
— É o que tenho que fazer Tommaso — pisco os meus
olhos para tentar conter as lágrimas, mas é inútil.
— Por que Gia?
Apesar do nosso papà ter sido bom conosco, ele é o Capo e
terá que aplicar a lei dada a qualquer um que cometa traição, mesmo
em seus filhos. Se eu fosse pega, eu tenho certeza de que eu seria,
não apenas eu, seria castigada, mas Tommaso também.
— Você sabe o que o papà terá que fazer se conseguir me
achar.
— Então eu vou com você.
Não temo o castigo que me seria dado, mas não posso
condenar a Tommaso. Ele só é um menino ainda e esse plano
maluco, apesar de lindo, apenas prova isso.
— Não é só o papà que me preocupa, irmão, mas o De
Lucca. Ele viria contra todos nós para defender a sua honra. Toda a
nossa famiglia cairia em desgraça. Você sabe o que Alessandro seria
capaz de fazer para nos defender.
— Onore, casa e famiglia — recita, inconformado.
— Será feita uma guerra, irmão — passo carinhosamente a
mão no rosto dele — Não posso condenar a vida de todos vocês
pela minha.
Porque eu honro a minha famiglia e a minha casa, mas
acima de tudo eu os amo.
— Então saiba que quando você precisar e quando você
quiser, vou estar com você.
— Vou me lembrar disso Tommaso — é o meu primeiro
sorriso sincero dentro de dias — Agora por que não aproveitamos o
belo cavalo para passearmos um pouco? Quero guardar o máximo
possível de memórias desse lugar.

***

Acino, Itália
No dia seguinte
A nossa casa é muito bonita, mas a mansão dos De Lucca
além de grandiosa e imponente, demonstra toda a riqueza, poder e
elegância que eles têm.
— Que bonita casa, não acha Gia? — Pergunta a minha
mamma, completamente encantada.
Seus olhos ficam ainda mais impressionados quando somos
conduzidos para dentro.
— Nicola! — Um senhor vem ao nosso encontro — É um
prazer revê-lo e dessa vez com toda a famiglia. Vá bene! Essa é a
piccolina [10]Giuliana?
Com o mesmo entusiasmo que nos recebe o senhor me
puxa para um abraço apertado.
— A última vez que a vi era só uma garotinha. Como está
bella, não acha Matilde?
A senhora Matilde De Lucca, uma mulher muito elegante,
sorri carinhosamente para mim.
— Uma verdadeira principessa — ela me dá beijos
calorosos no rosto — Sejam bem-vindos todos vocês.
Os meus pais e os pais do meu noivo se conhecem bem,
embora os encontros acontecessem mais quando meu pai precisava
viajar para o Norte para resolver negócios ou o Don Francesco
cruzava para o Sul. Eu o vi com a esposa poucas vezes, na verdade,
e nunca nenhum dos seus filhos.
— Romano? Venha aqui — A autoridade na voz do pai do
meu noivo é impressionante — Venha ver como é bella a sua noiva.
Sei que não conseguiram se ver da última vez.
Vejo um homem num terno escuro se aproximar. O que
Romano De Lucca tem de bonito, exibe de frieza em seu olhar. É um
brilho completamente diferente do que eu vi no soldado dele em
minha casa. Os do meu noivo exibem raiva.
Comigo.
— Boa tarde — eu o cumprimento no dialeto da sua região.
Pratico desde os meus nove anos e tenho fluência.
— Veja, Francesco — a senhora De Lucca fala, emocionada
— Ela sabe o nosso dialeto.
A conversa começa a girar em como fui bem-educada e
todos os outros excelentes dotes que eu tenho. Sei cozinhar,
costurar, administrar uma casa e fazer recepções, além do dialeto de
Acino, também falo um pouco de inglês e francês. A esposa perfeita
para Romano De Lucca.
Enquanto sou exibida como carne em exposição, encaro o
meu noivo e dou um sorriso tímido para ele. Recebo um olhar
comprimido e uma avaliação descarada por todo o meu corpo que
me deixa intimidada. Parece sujo. Indecente. Faz o meu sangue
gelar nas veias.
— Quantos anos você tem mesmo?
Sei que não sou uma jovem exuberante como devem ser as
mulheres que ele deve conhecer e sair. Mas a mamma diz que vou
me tornar uma bela mulher.
— Dezessete.
Vejo o canto da sua boca retorcer ao ouvir a minha
resposta.
— Mas a principessa mia terá dezoito completos no dia do
casamento, Romano — avisa o meu pai com um sorriso enorme de
orgulho por mim — Gia foi bem-educada e treinada para ser uma
boa esposa. A altura de um Capo como você será.
Sim, como se eu fosse um cachorro sendo adestrado,
penso amarga.
Angustiada, procuro por Tommaso, mas ele está afastado
no outro lado sala com meus irmãos e um homem muito tatuado do
clã De Lucca.
— Vamos tomar um bom vinho para comemorar — diz o
senhor De Lucca, chamando a atenção de todos.
Eu só consigo encarar Romano, amedrontada. Assim como
ele, não pedi por esse casamento, mas seu olhar furioso comigo me
faz sentir como se eu fosse a única culpada.
CAPÍTULO 6

Eu tenho o meu próprio apartamento, mas em algumas


ocasiões preciso estar na casa dos meus pais. A chegada da noiva
de Romano é um bom motivo.
A primeira pessoa que vejo ao entrar na residência onde
cresci, além de alguns soldados fazendo a segurança, é Romano,
ele está no bar.
— Onde você estava Salvattore? Passou a tarde todo
incomunicável. Aposto que com alguma de suas putinhas — ele sorri
antes de levar o copo a boca — Qual é a da vez?
— Eu já tenho um pai e não é você.
Embora eu tivesse mesmo passado as últimas horas na
companhia de Graziella, nas outras estava acalmando um membro
importante de nosso clã, cujos negócios tinham sido atingidos
gravemente por essa rixa alimentada por Romano contra os Conti.
As pessoas estão começando a ficar impacientes e incertas
se meu irmão é o homem certo para assumir a organização. É por
isso que o nosso pai quer que ele se case logo com a filha de Don
Ricci. Ele acredita que essa união e seu dever com a famiglia, irá
acalmar um pouco o seu filho mais velho. Mas esse não é o
temperamento de Romano.
— Em breve eu serei o Capo.
— E ainda assim, não manda em mim.
Trabalho com ele, mas não sou um dos seus soldados
abaixando a cabeça.
— Você tem sorte de ser meu irmão, Salvattore — ele toma
o último gole de sua bebida e bate o copo com uma força excessiva
no balcão — Outros falando comigo assim, já estariam mortos.
Eu não duvido disso. Romano parece um homem grande
que não cresceu. Todos os seus impasses são resolvidos com
sangue. Os seus homens não o respeitavam, o temiam. E isso não é
bom porque o medo pode levar ao ódio, e o ódio à traição.
— Mas sabe o que mais tenho inveja em você? — Ele vem
até mim e coloca o braço em meu ombro — A sua liberdade. A
putinha Ricci já está aqui...
— Não fale assim da sua noiva. Sua futura esposa e mãe
dos seus filhos.
— Giuliana ainda não é nada disso. Como também é uma
fedelha. A garota cheira a leite de cabra.
— Você já a viu?
Por algum motivo eu recordo da menina na janela da casa
dos Ricci. O rosto dela vem me assombrando há dias.
— Chegaram tem quase uma hora. Estão com o papà na
sala, bajulando sendo bajulados — ele continua abraçado a mim
enquanto andamos como se tivemos esse tipo de camaradagem —
Mas há algo que gostei. Ela tem medo de mim, vejo nos seus olhos.
Quem não tem medo de Romano? Sua fama de cruel e
violento é conhecida por todos. Claro que assustaria uma
adolescente.
Ninguém saí da organização, a não ser que seja morto. Mas
no lugar da menina eu fugiria.
— É bom que a principessa Ricci valha mesmo a pena por
toda diversão que vou perder — ele avisa quando chegamos a
entrada arqueada — Mas você continua o legado dos De Lucca,
mostrando a todas as garotas quem somos.
Romano odeia o fato de ter que se casar com alguém que
ele não escolheu e isso eu entendo. Aliás, se ele tivesse escolha
morreria solteiro em uma cama cheia de mulheres. Mas eu não vejo
as garotas com quem trepo de forma não fria e descartável quanto
ele. Sim, não tem nenhum apego emocional e nem juras de amor.
Dou o que elas querem e recebo o que desejo de volta, como todo
bom acordo tem que ser. Com o Romano não é assim, já ele tem um
instinto monstruoso.
Mas é assim que as coisas funcionam, contanto que ele não
leve vergonha à famiglia Ricci, como irá tratar sua futura esposa e
filhos é da conta dele.
Assim que somos avistados chegar, Romano é chamado
para o grupo onde está o papà., o casal Ricci e seus filhos.
Os mais velhos encaram Romano com alegria e festividade
quando ele se aproxima. Os irmãos da noiva o observam com receio,
o mais velho, Alessandro, até mesmo com rancor. Em meio essa
empolgação noto o que ninguém mais se dá conta, a jovem de
cabeça baixa, afastando-se silenciosamente.
Ela está de costa para mim e ainda não vi o seu rosto. Eu
deveria seguir até os demais, mas me vejo seguir para o mesmo
lugar que a garota de lindos cabelos loiros na altura do pescoço,
segue.
Ela não se dá conta que está sendo seguida, para onde vai
e nem eu por qual razão faço isso. Tenho em mente que só vou
apenas dar um olá a minha nova sorella.
Chegamos ao grande salão onde boas partes das mesas
receberam as toalhas brancas. Os preparativos para a festa de
casamento podem durar até um mês.
Paro no centro do salão quando vejo a jovem debruçar o
corpo sobre a mesa.
Ela está com medo do que o futuro reserva e não a culpo
por isso.
— Giuliana?
Identifico a tensão em seus ombros e ela leva alguns
segundos para se virar ao meu chamado e quando o faz, nós dois
somos tomados pelo choque.
Non ci posso credere![11]
CAPÍTULO 7

Eu não aguentava ficar mais um minuto ouvindo todos


falarem da minha vida, sabendo que eu não tenho qualquer controle
sobre ela. Além disso, as minhas impressões com Romano De Lucca
foram as piores possíveis.
Tudo o que pensei nos últimos cinco minutos era que
deveria ter aceitado o plano do meu irmão Tommaso e ter fugido. Só
que eu nunca iria me perdoar se acontecesse uma guerra e alguém
da minha famiglia fosse machucado.
Apenas peguei a primeira oportunidade para me afastar de
todo mundo, correndo pela casa dos De Lucca, sem nenhum rumo
certo seguir.
Sinto como se os meus pulmões esvaziassem de ar e uma
grande pressão os fizesse querer explodir em meu peito.
Eu estou em completa desgraça, admito, escorando sobre
uma mesa.
— Giuliana?
Primeiro eu fico apreensiva em descobrir que não estou
sozinha no grande salão e que alguém na casa presenciasse o meu
descontrole. Mas assim que eu me viro em direção a voz grave, e
que encontro o rosto que há tantos dias vem me assombrando, todo
o meu corpo paralisa de choque.
— Que-quem é você?
A pergunta não é apenas sobre o homem parado em minha
frente, me encarando com o mesmo choque e surpresa que eu o
enfrento. É sobre quem é o homem que eu havia visto debaixo da
minha janela.
— Salvattore — ele leva as duas mãos nos bolsos da calça
do terno cor de chumbo e caminha calmamente até mim —
Salvattore De Lucca.
— Você é o irmão do Romano — eu mal consigo balbuciar
essa constatação.
— E você é a noiva dele — ele diz baixinho.
Como se afirmar isso fosse errado.
Se há algo que preciso destacar dos irmãos De Lucca, é
que eles sabem ser intimidantes.
Enquanto Salvatore encurta a distância entre nós, eu não
consigo me mover. E quando ele para bem na minha frente, envolve
delicadamente a sua grande mão em minha bochecha e seu rosto se
aproxima do meu, estremeço.
Seu perfume é tão másculo quanto Salvattore e me deixa
um pouco tonta.
O rosto dele toca os meus cabelos e o movimento que faz
com a cabeça é como se me farejasse. Sinto as minhas pernas
fracas e tenho que tocar no peito dele para manter o meu equilíbrio.
— Rosas... — ele sussurra roucamente em meu ouvido.
Depois como se esse momento mágico entre nós não
estivesse acontecendo, Salvattore se afasta.
— O-q-que disse?
Um sorriso sacana começa surgir em seu rosto e isso me
faz afastar dele como se estivesse pegando fogo.
— O seu cheiro. Não tem nada a ver com leite de cabra.
Romano estava completamente errado.
Eu não conseguia entender nada do que ele estava falando,
embora os meus olhos não conseguissem afastar de seus lábios
sedutores.
Salvattore é como um daqueles círculos de linhas que ficam
girando e mantendo a nossa mente presa. Não dizíamos nada um ao
outro, ainda assim eu não conseguia desviar a minha completa
atenção dele.
— Gia?
Eu me afasto de Salvattore, assustada, quando reconheço a
voz de uns dos meus irmãos próximos à porta. Por sorte é apenas
Tommaso que está nos encarando com bastante curiosidade.
Diferente de mim que continuo parada no lugar apreensiva,
Salvattore me dá um último olhar que me deixa estremecida e passa
pelo meu irmão com toda naturalidade.
— O que estava acontecendo, Gia? O que faziam aqui
sozinhos e o que conversavam?
— Nada de mais, Tommaso — tento passar por ele, mas ele
segura o meu braço com firmeza.
— Você não acha que um De Lucca já é problema suficiente
para você.
Apesar de Tommaso ser o mais jovem dos meus irmãos e
mais doce, também é muito observador e teimoso.
— Já disse que não é nada — eu nem sabia explicar por
que eu estava tanto na defensiva — Salvattore é irmão do meu
noivo. Não posso ignorá-lo mesmo se eu quisesse.
Essa é uma resposta que acho suficiente para convencer a
Tommaso, mas e quanto a mim?
Assim como Romano, Salvattore De Lucca mexe muito
comigo, de uma forma completamente diferente e a meu ver, ainda
mais perigosa.
CAPÍTULO 8

Que merda tinha acontecido naquele salão?


O motivo de ir atrás de Giuliana era apenas dizer a ela que
poderia encontrar em nossa famiglia, um amigo. Que eu seria como
o seu irmão mais velho, que ela irá perder contato após o
casamento.
Mas quando finalmente consegui ver o seu rosto e confirmar
que a linda jovem na janela e ela são mesmo a mesma pessoa como
eu desconfiava, todo o restante do nosso breve momento, juntos,
perdi o controle.
Ela cheira a rosas. Um perfume suave e sedutor que
combina perfeitamente com ela.
Está tudo errado. Giuliana ainda nem completou 18 anos.
Ela é só uma menina, com rosto de menina, corpo de menina, mas
mexe comigo como não deveria.
E para piorar tudo isso, ela é a porra da noiva do meu
irmão. Qualquer sentimento entre nós não pode ser nada além de
fraternal.
— Que onça mordeu a sua bunda, Salvattore?
Do canto da escada vejo Marco surgir. Péssimo momento
para ele aparecer.
— Você fica se escondendo nos cantos agora?
— Por quê? — Ele apaga o cigarro que esteve tragando e
eu entendo o meu primo ter se refugiado ali, a minha mãe não gosta
que fumem dentro de casa, mesmo Marco sendo o queridinho dela, a
regra também se aplica a ele — Eu deveria.?
— Veio para o jantar do Romano? — Pergunto de volta.
— Infelizmente, sim. Somos uma famiglia, certo?
— Sabe que vai ter que resolver esse problema com
Romano quando ele assumir a organização.
— Sim, mas ele ainda não é o Capo.
Os gênios dos dois nunca bateram, mas a relação entre
eles piorou ainda mais no período universitário quando se
interessaram pela mesma garota. Claro que a história não terminou
bem para nenhum dos três. Sendo o Romano culpado por tudo.
Porque ele não liga para ninguém além dele mesmo.
— Mas o assunto era sobre você, Salvattore? Por que
surgiu parecendo que estava sendo perseguido?
— Eu a conheci.
Marco é o único que não consigo esconder quase nada
sobre a minha vida. Mais do que a nossa relação no trabalho,
sermos primos e amigos, temos um companheirismo que eu acredito
que nunca terei com Romano.
— A garota Ricci? E como ela é? — Ele apaga a bituca de
cigarro em um dos vasos caríssimos e amados da mamma, esse
homem não tem medo do perigo que uma italiana nervosa
representa — Espero que seja feia.
A provocação e o sorriso cínico dele deveria me fazer rir,
mas contínuo aperreado.
— Pelo contrário. Giuliana é uma jovem muito bella.
— Você gostou dela?
Uma das melhores e mais irritantes qualidades de Marco, é
que ele vai direto ao assunto. Ele não fica rodeando o assunto.
— Isso é um absurdo, Marco. Gia é a noiva de Romano.
— Gia?
— É como a maioria a chama.
— Hum.
Esse único resmungar consegue ser tão irritante quanto ele.
— Tire completamente essas ideias idiotas da sua cabeça
— aviso com muita seriedade — E nem pense dizer algo como isso
perto de Romano.
Não por mim. Faz algum tempo que desejo dar uma bela
coça no meu irmão mais velho, mas eu penso no que Romano
poderia fazer a Giuliana apenas para se vingar de mim.
— O problema não é o que falo, Salvattore — ele caminha
em direção a sala onde as nossas famiglias estão — Mas como você
vai agir.
Me manter o mais longe possível de Giuliana Ricci, antes do
casamento com Romano e principalmente depois dele.

***

Deveria ser apenas um jantar para reunir as famiglias que


logo irão ficar ainda mais unidas pelo matrimônio. Mas quando se
fala em eventos, o mais simples que seja, e ainda por cima vindo de
um italiano, principalmente de um De Lucca, tudo vira uma grande
comemoração.
A mesa está farta. Há muita comida, bebida e conversas
animadas ao redor da mesa. Porque não apenas falamos com a
boca, usamos todo o nosso corpo como meio para se expressar. Mas
há três pessoas que destoam desse clima de festa. Romano ao lado
da noiva e que desde que se sentou ao lado dela, mal dirigiu o olhar
para a garota. A própria Giuliana mal desvia o seu olhar do prato
quando precisa responder algo que perguntam a ela. E, eu. Esse é o
último lugar que eu gostaria de estar essa noite e a causadora desse
sentimento está bem a minha frente.
Em cada uma das vezes que Giuliana teve coragem de
erguer o olhar do prato que ela mal tocou, como agora, os nossos
olhares se cruzaram. A tensão entre nós parecia quase palpável.
Como se existe algum tipo de eletricidade passando por nós dois,
como luzes de Natal enfeitando a árvore.
— O que acha Salvattore?
Sigo o meu olhar para Romano. Ele segura a mão de
Giuliana e pela forma que vejo seus dedos ficarem ainda mais
brancos e que ela tenta disfarçar o dor que ele causa, vejo que não
está sendo nada gentil com a garota.
A forma como ele me encara também denuncia que
Romano sente que há algo entre a sua inocente noiva e eu.
— Sobre o que Romano? Não prestei atenção em sua
pergunta.
— Claro que, não — vejo-o estreitar o olhar — A sua
atenção estava em outra pessoa.
Ele leva a mão de Giuliana aos lábios, beijando o dedo
onde está o anel de noivado.
— Em uma das vagabundas que gosta de colocar em sua
cama?
O que Romano me diz, faz Giuliana puxar a mão da dele.
— Por que isso deveria interessar a você? — Levo a minha
taça de vinho a boca e enfrento Romano com um olhar duro, que
deixa claro que a mim, ele não consegue intimidar.
— Tem razão. A única coisa que precisa manter a minha
atenção é minha bela noiva — ele levanta o braço, passando pelo
ombro de Giuliana em uma declaração clara de posse — Estava
dizendo enquanto mantinha sua mente e olhos longe daqui, como ela
está incrivelmente encantadora essa noite, não acha?
Em seu vestido prateado de um ombro só, cabelos presos
em um coque bonito e os brincos brilhando em suas orelhas e uma
maquiagem um pouco mais adulta de quando a vi essa tarde,
Giuliana está belíssima.
Com todos esses truques femininos, eu poderia dar a ela
essa noite entre dezenove e vinte dois anos. Isso só prova que com
o tempo, a filha dos Ricci irá se transformar em uma mulher
deslumbrante.
— Sim, ela está. Você é mesmo um homem de muita sorte,
Romano.
Ele sorri cheio de arrogância e convencimento.
— Interessante que estou começando a ver isso.
Como eu também percebo que sem a sua desconfiança de
qualquer interesse meu, ou algum outro homem da família, em sua
noiva, Romano mal estava ligando para ela.
Ele é um babaca e eu precisa evitar levantar seu ciúme. Gia
é a única que sofreria com isso.
CAPÍTULO 9

Durante boa parte do festivo jantar, achei que Romano me


ignorar como se eu fosse invisível, fosse a pior coisa que pudesse
me acontecer, enchendo-me de vergonha. Mas quando ele
finalmente deu a devida atenção a mim, foi pelos motivos errados, vi
que estive errada.
Nenhuma das outras pessoas na mesa, concentrados em
suas conversas animadas, conseguia captar a grande tensão girando
entre mim, Romano e Salvattore.
Agora que descobri a identidade do homem na janela, e,
que ele é o irmão mais novo do meu noivo, bloquear Salvattore na
minha mente e principalmente no coração, que fica acelerado
quando o pegava olhando intensamente para mim, é quase
impossível.
Estou num grande problema e pelo jeito brusco, até mesmo
violento que Romano pegou a minha mão, obrigando-me a fazer um
esforço gigantesco para não emitir um gemido de dor a sua carícia
rude, o meu noivo também percebeu que existe algum tipo de tensão
entre mim e o seu irmão.
Nós mal havíamos trocado algumas palavras, mas o meu
encontro com Salvattore essa tarde foi intenso o suficiente para me
desestabilizar. Pelas horas seguintes estive divagando sobre ele. E
quando a mamma veio ao meu quarto me ajudar a escolher o vestido
perfeito para essa noite, não foi em Romano que pensei agradar ao
colocar o bonito vestido prateado. Não foi em meu noivo que pensei
quando cogitei se o batom vermelho parecia exagerado demais.
— Acha que ele vai me achar bonita? — perguntei
distraidamente à minha mãe quando me ajudou a colocar o colar.
— O De Lucca ficará encantado com você, mia principessa.
Romano ou Salvattore? E por que eu desejava
ardentemente impressionar o homem errado?
Esse jantar não estava sendo fácil. Aliás, assim que
Romano passa o braço em meus ombros e me puxa mais para ele
em um nítido sinal de posse, consigo dizer que o jantar está uma
verdadeira tortura.
Assim como a comida que foi colocada a minha frente e
sendo retirada depois, eu mal toquei na sobremesa.
— Pessoal, vamos para a sala — a mãe de Romano, uma
excelente anfitriã, por sinal, sugere seguirmos para o novo ambiente,
eu fico aliviada por ter esse motivo para fugir do agarre possessivo
do meu noivo — Stefania, chegou uma safra de vinhos excelente
essa tarde.
Mattia consegue fisgar Romano em algum tema que
interessa aos dois. Eu fico presa na cadeira observando todos
deixarem a sala de jantar.
Exceto. Salvattore.
Como eu conseguia me sentir tão conectada a ele nesses
breves momentos que os nossos olhares se encontram e só ter
medo de Romano em todos os minutos que fui obrigada a ficar ao
lado dele?
Os dois irmãos têm intensidade, só que enquanto a do meu
noivo é mais sombria, Salvattore tem uma aura mais felina, perigosa,
mas sexy e atraente.
E eu não tenho qualquer experiência para dosar o quanto
atraente um homem pode ser. Ainda sou virgem e nem ao menos
havia beijado algum garoto.
— Foi um jantar maravilhoso — início a conversa por
educação.
Por dentro sou como um vulcão querendo explodir. Tanto de
tensão como pelo que o olhar profundo de Salvattore me causa.
— Foi mesmo? — A pergunta e principalmente a forma que
ele me encara, soa bastante provocativa.
— A sua mãe é uma excelente anfitriã.
— E o que você pensa do seu noivo, Giuliana?
Além de que me causa repulsa e medo?
— Romano é muito gentil.
O que falo faz Salvattore rir, mas não há o brilho dele
chegando aos seus olhos.
— Então você tem uma forma bem diferente de ver as
coisas — ele diz, girando a taça vazia ao lado de seu prato — Ou é
ingênua demais. Ou é muito burra.
Salvattore está certo, nas duas observações, mas o que ele
disse e como disse para me provocar, consegue exatamente isso.
Fico furiosa!
— Cesso!
Assim que falo isso, levo a minha mão a boca. Eu fui criada
para ser uma garota bem-educada e elegante, assim como a
mamma de Salvattore. Uma mulher da alta sociedade e garotas
bem-nascidas não saem esbravejando.
Até porque a última coisa que Salvattore consegue ser é
feio e imundo.
— Desculpe — levanto-me da mesa envergonhada — Eu
não queria...
Seria maravilhoso se um buraco no chão se abrisse e eu
pudesse cair dentro dele. Em vez disso, antes que eu chegue ao final
da mesa, Salvattore me encontra e segura os meus braços, fazendo-
me virar para ele.
— Eu, e-eu, não deveria ter falado aquilo.
Se minha mamma tivesse presenciado, ficaria horrorizada.
— Você quis, Gia — ele me puxa mais para ele e a forma
que nossos corpos ficam grudados, faz a minha pele arrepiar e meu
sangue correr mais rápido pelas minhas veias — E fez bem em dizer.
Comigo você pode me dizer o que quiser.
— Qualquer coisa? — pronuncio baixinho.
Eu sinto os polegares de Salvattore fazerem carícias suaves
em meus braços. O local que ele toca em minha pele queima como
brasa.
— O que está passando em sua cabeça, Gia?
Eu me perco tanto em seus intensos olhos cinzas como o
céu em um dia nublado, que por um momento é difícil entender a sua
pergunta.
— Me beija Salvattore.
CAPÍTULO 10

Porra, ela não me disse isso!


E o pior de tudo, eu estou assustadoramente tentando a
realizar o seu pedido.
Giuliana é apenas uma menina agindo por impulso, mas eu
sou um homem e sei bem que seguir o que ela quer, irá nos colocar
em uma tremenda confusão.
Mas, foda-se! Enfrentarei as consequências depois.
Agora eu preciso beijá-la. Apenas uma vez sentir qual o
gosto dos seus lábios carnudos e depois colocar no esquecimento
toda essa noite insana.
Antes de cobrir sua boca com a minha, olho atentamente
para o seu rosto delicado e lindo. Eu vejo em seus olhos a inocência
e como ela me faz desejar corrompê-la.
O desejo então queima a minha pele como se eu fosse
jogado em um caldeirão fervendo.
Toco o seu rosto e quando faço uma carícia em sua
bochecha, Giuliana emite um pequeno gemido que faz o meu pau
ganhar mais volume em minha calça. E ao vê-la fechar os olhos,
entreabrindo os lábios, fico fora de mim.
Beijo-a e enfio a minha língua dentro da boca dela. No início
ela é tímida e até um pouco atrapalhada em sincronizar os
movimentos dos seus lábios com os meus. Mas quando isso
finalmente acontece, que encontramos juntos a forma de deixar esse
beijo sexy, puta merda.
Ele fica quente!
Quanto mais vamos nos envolvendo nesse beijo, que
vamos nos entregando a ele, puxo Gia para mim. Eu espremo o
corpo dela contra o meu. As minhas mãos fecham em sua bunda
redonda e eu esfrego o meu quadril contra o dela.
Caralho!
A minha mente entra em erupção e só penso em como
desejo jogá-la sobre a mesa, arrancar esse vestido sexy e afundar o
meu pau, cada vez mais duro e inchado, em sua boceta ainda
virgem. Porque sim, ainda que Gia se entregue completamente a
esse beijo, vejo pela forma que ela tenta retribuir, que ninguém a
tocou. Não como eu desejo.
Arrisco a dizer que esse pode ser o primeiro beijo dela.
Comigo!
— Salvattore!
Marco.
O chamado urgente de meu primo faz com que eu
interrompa o beijo quente que Gia e eu estávamos provando.
Assim que eu a afasto, a garota me encara com um olhar
assustado, depois ao meu primo. Passo, nervosamente a mão pelo
meu rosto.
— Gia...
— Eu tenho que ir — é tudo o que ela me diz antes de se
afastar correndo.
Dou alguns passos para ir atrás dela, mas Marco me faz
ficar no lugar.
— Deixe-a ir.
É mais do que um aviso para esse momento. É um lembrete
que a garota pertence ao meu irmão.
— Está maluco Salvattore? Se fosse Romano a vir aqui? —
Ele está furioso comigo e eu mereço — Aliás o vi o tempo todo
olhando para porta, procurando você e a noiva dele.
Ah, que bosta. Fui mais que irresponsável
— Ela me pediu para beijá-la — assim que disse isso e vejo
a expressão debochada de Marco, percebo o quanto a justificativa
soa ridícula.
Giuliana é uma menina, agindo de acordo com a idade dela,
mas eu sou um homem.
— E você, o cara que sempre tem uma puta pulando na sua
cama, não resistiu a uma fedelha curiosa?
— Não a chame assim Marco.
Fecho o meu punho com força. Sei que a intenção dele é
me ajudar e impedir uma tragédia, mas já é frustrante ver Romano
tratar a noiva com tanto descaso.
— Ela não é sua — ele diz, calmamente. — E nunca será.—
Eu sei disso, porra! — Passo a mão nos meus cabelos — Mesmo
que houvesse a mínima possibilidade para isso, não estou pronto
para me casar.
Gosto de ser livre e assim que a novidade com Giuliana em
minha cama passasse, desejaria ter outra satisfazendo os meus
desejos e necessidades sexuais.
Eu tinha que tirá-la da minha cabeça. Esse beijo
principalmente. Agir como se nunca tivesse acontecido. Pelo bem de
nós dois.
CAPÍTULO 11

Eu não estava preparada para o beijo e nem em como tão


forte Salvattore me arrebatou. Nem sei como tive coragem de fazer o
pedido estúpido, mas quando ele me disse que podia confiar e dizer
exatamente o que se passava em minha cabeça, tudo o que pensei é
que não queria que o meu primeiro beijo fosse com Romano.
— Giuliana? Onde você estava?
Tommaso vem ao meu encontro e não parece nada feliz.
— Eu...
Ainda estou tão atordoada com beijo de Salvattore, não
apenas o beijo, mas a forma que ele me fez sentir, como se quisesse
me devorar.
— Estava com ele, não é mesmo? — Sussurra Tommaso.
— Ele quem?
— O Salvattore! — Ele agarra o meu braço — Vem comigo.
Sou arrastada pelo corredor até entrarmos em uma toalete.
Assim que meu irmão fecha a porta, força o meu rosto para o
espelho. Tommaso nunca foi agressivo assim comigo, mas assim
que vejo a minha imagem refletida, consigo entender.
O meu batom está borrado. A minha boca está um pouco
inchada. E os meus cabelos em desalinho.
— Você está brincando com fogo, Gia — ele avisa,
passando um pouco de papel a mim — Se o Romano tivesse visto
isso, aconteceria uma guerra hoje. Sua sorte que Mattia está
mantendo a atenção dele.
Será que os meus irmãos tinham percebido que havia algo
de errado no jantar?
— Ele não iria contra o irmão dele.
Famiglia é tudo. No máximo o noivado seria desfeito?
Será que por isso, inconscientemente incitei Salvattore a me
beijar?
Não. Eu queria que ele me beijasse. Ainda quero isso.
Eu não sabia que um beijo pudesse ser incrível e revelador
sobre mim.
— Romano não considera ninguém. Tudo o que já ouviu
sobre ele é verdade. Você não quis fugir — ele coloca a mão em
meu ombro — Entendo que quis nos proteger. Mas não provoque a
ira do De Lucca.
Tommaso tem razão. Eu tenho que me lembrar do motivo
que me trouxe aqui. Que é me casar com Romano de Lucca, o
próximo Capo.
— Tem algo na sua bolsinha para corrigir isso? — O meu
irmão indica os meus lábios ainda manchados.
— Claro — respondo, atordoada — A mamma diz que a
bolsa de uma mulher deve estar sempre equipada para mantê-la
linda.
Eu tenho base, pó e o batom vermelho.
Antes refazer a minha maquiagem, passo um pouco de
água fria nos meus lábios. Depois me maquio com o máximo de
cuidado, mascarando o máximo possível o que Salvattore e eu
estivemos fazendo.
— Para qualquer efeito, esteve esse tempo todo comigo.
— Mas o Romano vai acreditar?
— Se ele contestar isso arrumará uma cena. Será a nossa
palavra contra a dele e sem provas que você estivesse fazendo algo
demais, ele passaria como um ciumento idiota.
— Tá bom.
Respiro fundo quando vejo o meu irmão protetor abrir a
porta.
— Tommaso? — Toco o ombro dele antes de seguirmos
nossa caminhada pelo corredor — Obrigada. Você é muito gentil.
Sua futura esposa terá sorte.
Ele revira os olhos, típico de jovens na idade dele.
— Não penso sobre isso, Gia.
Mas um dia irá pensar. Eu só espero que o destino dele não
fique atrelado a uma obrigação que o nosso papà acredite que ele
deva aceitar. Tommaso merece conhecer uma garota por quem ele
se apaixone.
Voltamos para sala onde os homens fumam charutos e
bebem enquanto conversam e as mulheres degustam uma taça de
vinho. Eu vou direto para onde a minha mamma está e Tommaso se
junta aos nossos irmãos, meu futuro sogro, o papà e Romano.
Sinto um frio na espinha ao cruzar o meu olhar com o do
meu noivo. Existe algo ali, como um aviso que eu vou pagar por
qualquer coisa que estivesse passando na cabeça dele.
— Gia tudo bem?
Viro para minha mamma e forço um sorriso.
— Estou com um pouco de enxaqueca, mamma.
Ela me encara preocupada e passa a mão em meu rosto.
— Tem tido muitas nos últimos dias.
— É o nervosismo por causa do casamento — minha sogra
sorri e busca a minha mão — Não se preocupe, querida. Estou aqui
para ajudá-la em tudo.
Tudo o que posso fazer é continuar a sorrir e
disfarçadamente procurar o meu cunhado, que ainda não vi, em
algum canto da sala. Não vejo ele e nem o primo dele, Marco.
É melhor assim. Salvattore já me deixou abalada o
suficiente pelo resta da minha vida.
CAPÍTULO 12

Passei quase toda a madrugada em claro. A primeira parte


fazendo exercícios na academia e a outra rolando pela cama,
pensando em Giuliana.
Tive apenas duas horas de sono, que eu uso como
desculpa para a minha irritação de manhã. Nem mesmo um banho
conseguiu relaxar a tensão em meu corpo.
— Salvattore? — Ouço o chamado suave de minha mãe
através da porta fechada do quarto, após a leve batida.
— Entre mamma.
Às dez da manhã, Matilde De Lucca está maquiada e
vestida como se tivesse acabado de sair de um desfile de moda. Eu
nunca vi ninguém tão elegante quanto ela, em qualquer horário do
dia.
— Você não desceu para o café. Sentimos a sua falta.
Quem? A mamma? Meu papà? Giuliana.
Não pense nela, ordeno a minha mente traiçoeira.
— Tive alguns assuntos importantes para resolver — indico
o computador na mesinha — Aliás já estou saindo.
— Você mal vem aqui Salvattore — ela resmunga — E
quando vem, saí fugindo. Será que vou ter que marcar dias e
horários para ver o meu próprio filho?
— Pode me visitar em meu apartamento.
— É mesmo? — Ela me dá aquele olhar de reprimenda que
só as mães conseguem dar — Lembra a última vez que estive lá o
que aconteceu?
Faz mais de um ano. A mamma foi fazer uma surpresa e
quem havia sido surpreendida tinha sido ela ao encontrar a porta
aberta e presumir que o caminho estava livre. Como resultado ela
me pegou com uma de minhas meninas, fodendo-a em cima da
mesa.
É claro que tive que dispensar a garota e uma boa foda
para acudir minha mãe histérica.
— Aquela coisa de marcar dia e horário, de repente pode
ser uma boa.
Levo um belo beliscão no braço por ter ousado ser tão
atrevido.
Depois vejo a minha mãe caminhar pelo quarto como se eu
ainda tivesse dez anos e ela vistoriasse se arrumei tudo como
deveria.
— A menina Ricci... — ela ajeita um porta-retrato na
mesinha, que não precisa ser arrumado, fingindo distração para me
perguntar o que quer — O que acha dela?
Conheço a Sra. De Lucca. Embora por toda a vida as
pessoas ao nosso redor a vejam apenas como uma mulher elegante
e submissa ao meu pai, eu sei bem sua argúcia e quando decide
usá-la.
— Parece que é uma boa menina.
— Só isso?
— O que quer saber mamma?
— Vocês dois pareciam íntimos no jantar.
— Nós quase trocamos meias palavras.
— Algumas vezes falamos de outra forma.
Quem mais além de Marco e claro, Romano havia
percebido isso?
— Chegue logo ao ponto Dona Matilde.
— Romano sempre foi o mais parecido com o seu pai.
Embora eu ache que ele seja mais profundo nas partes mais
sombrias.
É uma maneira branda de descrever o meu irmão, mas
como mãe, entendo-a relutar em enxergá-lo como realmente é.
— Você é mais próximo a mim. Pensa mais. Avalia quando
deve agir e com quem agir. Não é cruel, apenas por ser cruel.
— Está me chamando de fraco mamma? — Pergunto com
um sorriso de provocação.
— Não. Na organização muitos homens têm a ideia de que
precisam ser cruéis o tempo todo em vez de justos. Você vai castigar
quem precisa ser castigado — ela passa a mão em meu rosto —
Punir quem precisa ser punido. De forma justa e não sádica. Seria
um excelente Capo, meu filho. Eu temo o que o futuro nos espera
com Romano.
— O papai confia nele.
— O seu pai está cego pelo filho mais velho. Sempre
passou a mão na cabeça de tudo o que Romano fazia. Faltou pulso
firme como deveria.
Até uma certa idade, minha mãe conseguia ter um grande
papel na educação e correção de Romano. Quando ele passou a ser
ensinado e orientado pelo papà seu lado mais sombrio começou a
ser revelado.
— Eu nunca vou deixar nada acontecer a você, mamma —
trago-a para um abraço.
— Querido, não é comigo que me importo. Sei lidar com
homens como o seu irmão. Eu me casei com um.
— Mas você o ama.
— No início, não. Eu odiava. Mas aprendi a amar a
claridade e escuridão do seu pai. Foi para isso que eu fui criada.
Para aceitar e cumprir o seu papel. Assim como Giuliana
com Romano. Só que meu irmão é muito pior que o nosso papà.
CAPÍTULO 13

O ruim das mentiras é quando elas começam a se tornarem


verdades. Ter que passar quase duas horas fingindo tranquilidade
me deu mesmo uma tremenda dor de cabeça. E, além disso, passei
quase que a noite toda pensando em Salvattore e no nosso beijo.
Como eu podia ter pedido que ele me beijasse?
E por que ele me beijou?
Aquilo foi irresponsável e completamente maluco.
Eu não posso ter qualquer envolvimento romântico com o
meu cunhado.
O irmão de Romano!
Isso é insano e muito perigoso. Eu tenho que evitar
Salvattore e principalmente esses sentimentos estranhos que ele
causa em mim.
Então quando desço para o café da manhã, completamente
tensa por reencontrá-lo, é um alívio não o ver na mesa. Não posso
dizer o mesmo sobre o meu noivo.
— Giuliana, que bom que já acordou — a mãe dele me
cumprimenta com uma festividade moderada — Está melhor da
enxaqueca.
Mesmo que eu não estivesse, nunca poderia dizer o
contrário. Os nossos sentimentos e necessidades, jamais devem
estar acima de nossas obrigações.
— Sim. Tomei o remédio que a senhora gentilmente me
ofereceu. Sinto-me bem melhor.
Tenho que sentar-me ao lado de Romano, quando o meu
desejo é ficar bem longe dele.
— Isso é excelente — ele comemora pegando a minha mão
e levando aos seus lábios como um noivo devotado e apaixonado, o
que sabemos que Romano não é — Então poderemos passear no
jardim assim que terminarmos o café. Quero alguns minutos com a
minha noiva.
O pânico me invade, mas preciso controlar essa reação.
— Mas não a roube por tanto tempo, filho — Matilde vem ao
meu socorro, sem nem ao menos imaginar que está fazendo isso —
Temos alguns assuntos do casamento para discutir com a mãe dela.
A não ser que queira dar alguns palpites.
Romano solta a minha mão e encara a mãe dele
aborrecido.
— Casamento é um assunto de mulher.
Como ele é cortês. Só que não.
Quando volto a olhar para a minha sogra, recebo um sorriso
carinhoso. A forma que ela me olha, um pouco dando conforto e um
pouco de pena, me mostra que de alguma forma ela entende o que
sinto, embora não haja muito a fazer para me ajudar.
Mas é um alívio saber que talvez eu possa encontrar nela
uma amiga. Todas nós acabamos tendo o mesmo destino. Somos
educadas para servir.
Eu demoro o máximo possível no café da manhã porque
desejo passar o mínimo de tempo com Romano. Mas quando o vejo
começar a ficar impaciente, decido encerrar.
— Já acabei.
— Ótimo. Achei que nunca mais iria largar o garfo — ele me
encara irritado — Espero que pense melhor sobre a sua alimentação.
Não vou acabar com uma mulher obesa.
— Romano! — Minha sogra fica tão chocado com a
grosseria dele quanto eu estou — Isso não foi educado.
— Mamma, cuide apenas dos assuntos que são da sua
conta.
Eu não comi muito, aliás, fiquei apenas mordiscando e
revirando as coisas em meu prato. Mas mesmo que tivesse me
empanturrado, Romano não precisava ser tão cruel.
— Vamos — ele se levanta e pega o meu braço — Tenho
muitas coisas para fazer.
Eu sou literalmente arrastada por ele desde a mesa do café
até chegarmos em um bonito jardim. Quando Romano me solta, eu
nem sei como agir, apenas fico encarando-o, assustada.
Assim como com Salvattore, eu não consigo esconder as
minhas emoções com Romano. Só que o que ele me causa é muito
medo.
— O que há entre você e Salvattore?
— Como?
Ele segura firme o meu ombro e quando seus dedos
pressionam a minha carne, faço um grande esforço para não reagir a
dor. Com toda certeza minha pele ficará marcada com o roxo nas
formas de seus dedos brutos.
— Não se faça de estúpida! Eu notei como se olharam
durante o jantar e por mais que seus irmãos idiotas tentassem me
distrair, vi que vocês dois desapareceram.
— Eu estava com Tommaso. Por causa da enxaqueca.
Romano leva as mãos dos meus ombros, passa pelo meu
pescoço e elas fecham em meu rosto. Sua expressão é tão
ameaçadora, que me faz estremecer.
— Não brinca comigo Giuliana. Nenhum de vocês. Eu não
tenho problema algum de colocar uma bala na cabeça do Salvattore
— os seus dedos fecham em torno do meu rosto e ele pressiona
tanto que imagino que facilmente poderia quebrar o meu crânio —
Depois eu faria cada um dos meus soltados foder você, bem na
minha frente.
O que ele diz, com seu olhar odioso, é a coisa mais horrível
que eu já ouvi em toda a minha vida e faz o meu estômago revirar.
— Não há nada Romano — as lágrimas vêm aos meus
olhos, mas eu me obrigo a contê-las, também fui treinada a não
demonstrar fraqueza — Eu juro.
Eu não sei até que ponto ele acredita em mim ou apenas
finge acreditar. Mas o seu toque começa a suavizar e para o meu
asco, ele passa suavemente os dedos entre os meus lábios.
— Você ainda é virgem, não é?
— Sim, meu noivo. Nunca houve ninguém.
— E já foi beijada antes?
Engulo em seco.
— Não, senhor.
Ele sorri com arrogância e me puxa mais para ele. Não está
certo. Os nossos corpos não se encaixam como deveriam. É como
ter uma cobra rastejando em cima de mim.
— Eu serei o primeiro em tudo — sua boca desliza pela
minha — Gosto disso.
O problema de Salvattore ter me beijado é que não consigo
deixar de comparar o beijo bruto que meu noivo me dá, com o
apaixonado e quente do irmão dele.
Quando a língua do Romano invade a minha boca, não
sinto um calor gostoso na barriga, o meu estômago se revira. A força
para controlar a ânsia de vômito, enche os meus olhos de lágrimas e
algumas delas deslizam pelo meu rosto.
— Sua mamma deveria ter ensinado a você mais do que
etiqueta — ele me afasta rispidamente, provando que para ele o
beijo também não foi agradável — Como a agradar um homem. Mas
tudo bem. Vou treinar você para o que eu quero.
— Eu ficarei ansiosa em aprender.
Essa é apenas uma das várias mentiras que terei que dizer
a ele ao longo do nosso casamento. É uma questão de
sobrevivência. Não irritar Romano e deixá-lo satisfeito comigo.
Quando tudo isso eram apenas promessas na minha
cabeça, eu sentia que era mais fácil de lidar.
Diante de Romano, sabendo o quanto ele é frio, não sei se
sou capaz de enfrentar esse futuro tão tenebroso ao seu lado.
Será que eu deveria fugir?
Mesmo que isso condenasse toda a minha famiglia?
CAPÍTULO 14

Foram poucas as vezes que vi a ira do meu papà, porque


desde pequeno aprendi a fazer o que se era esperado de mim. As
ações impensadas de Romano, para revidar os ataques do Conti,
começam a incomodar o meu pai.
Ele é um homem duro e pode até mesmo chegar a ser cruel
quando o assunto é correção ou tirar alguma ameaça do seu
caminho, mas burro como o meu irmão ele nunca foi.
— Uma escola, Romano? Com crianças?
Dessa vez, nem toda a nossa influência e dinheiro vai
conseguir manter a atenção dos jornais longe da gente. O que a
imprensa local tentasse abafar, os correspondentes de outros países
conseguiriam dizer. E no mundo de hoje onde bastava as pessoas
terem um telefone com câmera e acesso a internet qualquer um
virava reporte.
— Quantas crianças, Salvattore?
— Até o momento Marco relatou que três não sobreviveram
e cinco estão no hospital.
— Papà. Era apenas para explodir o carro do consigliere —
Romano tenta justificar o injustificável — Não era para aquelas
crianças estarem ali. Ou não era para ele estar ali.
— Zitto[12]! — O papà esbraveja e Romano se afasta alguns
segundos de ser atingido por ele — Era uma escola, scemo[13]! Onde
queria que elas estivessem?
A fúria do papà é tanta, que não duvido ele ser capaz de
esganar Romano com as próprias mãos se ele se atrevesse a dizer
mais alguma coisa.
— Primeiro a sobrinha de Don Conti. Agora o consigliere,
que assim como o seu tio é para mim, também é o irmão dele. Isso
significa sangue pelo sangue.
— O ataque dele ao cassino colocou todo o prédio ao chão
e levou nove dos nossos homens. O senhor ficaria calado?
— Se eu fosse você, garoto estúpido. Estaria me
preocupando com o casamento. Iria lidar com os Conti de outra
forma.
—Dizem que eles estão se aproximando dos russos —
aviso ao meu pai, uma informação que nem mesmo o idiota do meu
irmão sabia ainda.
— A Bratva? — O papà me olha espantado.
Se for verdade o que chegou aos meus ouvidos, mais do
que nunca a união com os Ricci através do casamento de Romano
com Giuliana, precisa acontecer.
Na história, a Bratva é a segunda máfia mais perigosa e rica
do mundo. Ser alvo deles através do Conti, é algo que não queremos
e nem precisamos agora.
— Sparisci! — O papa grita a Romano e ele sai com
ombros caídos — Fale tudo o que sabe, Salvattore.
— O Morozov foi visto na região dos Conti há alguns dias.
Ele não tem negócios por essa parte da Europa.
— A não ser que Don Conti esteja querendo negociar. Acha
que são armas?
— Ou uma aliança. A nossa cabeça por uma parte do
território italiano. Dominamos o Norte e o Oeste. Ele pode ter
oferecido um dos dois.
O papà reflete em silêncio o perigo dessas suposições. Eu
teria como investigar mais a fundo, se Romano não estivesse
fazendo tanta besteira.
— Chame o seu tio e o Greco também. E vá atrás de
Romano antes que ele cometa mais uma merda. Com a morte do
irmão de Don Conti. Todos nós temos um alvo na cabeça.
O que eu desejo é ir mais a fundo na investigação sobre os
russos, em vez disso preciso vigiar o meu irmão mais velho. Romano
está acabando com a minha paciência.
— Marco? — Vou atrás do meu primo assim que saio da
sala do papà — Sabe onde o Romano está?
— Não — ele gira a sua faca como se brincasse com um
bastão de madeira e não com uma das peças mais antigas e afiadas
que ele tem — Mas sei como achá-lo.
— Então vamos buscá-lo.
Romano é tão previsível que foi fácil rastreá-lo em uma das
nossas casas noturnas, cercado de mulheres e muita bebida.
— Se ele caísse sem querer na minha faca? — Sugere
Marco.
E pela forma que encara meu irmão, não foi uma sugestão
de brincadeira.
— Ele é um babaca — Observo Romano derramar um
pouco de bebida diretamente da garrafa na boca de uma das garotas
no colo dele, depois em sua própria boca — Mas ainda é seu primo e
meu irmão. Somos famiglia.
— Isso é você que está dizendo — finaliza Marco antes de
seguirmos até a mesa do meu irmão.
A casa ainda está fechada para o público, então não dará
muito trabalho tirar Romano daqui. O problema é que assim como
Marco, a minha paciência com ele chegou ao fim.
CAPÍTULO 15

Eu tinha que dar opinião sobre o bolo, o menu, a escolha


das músicas para a festa, sobre a lista de convidados imensa e a
minha mente só conseguia focar em como fazer para dar fim a toda
essa tortura e promessa de uma vida de sofrimento.
— Eu fico feliz que Matilde esteja sendo tão boa com você,
piccolina mia. Ela será uma ótima mamma depois que você se casar.
— Ela tem sido muito gentil — desvio o olhar da janela para
a minha mãe fazendo a sua mala — Tem mesmo que ir mamma?
— Querida, esse é o momento de você e sua sogra
estreitarem seus laços — ela vem até mim e afaga o meu rosto —
Mas estarei de volta alguns dias antes do seu casamento.
Tenho que confessar que não ter mais os meus pais aqui e
os meus irmãos está me enchendo de pânico.
— Mamma? Se por acaso eu não quiser me casar?
O seu olhar horrorizado e a forma que leva a mão ao peito,
já me dão uma resposta. Eu não tenho escolha.
— Piccolina mia, não diga uma coisa dessa. Sei que se
casar e uma família nova é assustador. Mas você foi bem-preparada.
Além disso, vai aprender como agradar seu marido. Todas nós
aprendemos.
Eu queria quebrar esse ciclo, começando por mim.
Nenhuma garota deveria ser obrigada a um compromisso eterno com
alguém que ela não amasse.
— O Romano parece um homem difícil.
— Ele é cruel mamma!
— Pelas coisas que ele disse? — Ela balança a mão — São
besteiras de um garoto querendo mostrar autoridade. Todos os
italianos têm brio, Giuliana. Não vê o seu pai.
O meu papà é completamente diferente de Romano. Sim,
ele é autoritário e exige que as coisas sejam cumpridas à sua
maneira, mas eu nunca o vi maltratar a esposa, nem mesmo com
palavras.
— Além disso, sabe o que acontece se esse casamento for
cancelado. Toda a família será atingida. Alessandro principalmente.
Ele irá ocupar o lugar do seu pai em breve.
Ou seja, não posso sacrificar todos eles pela minha
felicidade.
— Vai dar tudo certo. Você foi bem-preparada.
Não para alguém como Romano de Lucca.

***

Dias depois

O vestido de noiva para a maioria das mulheres representa


a realização de sonho, para mim não passa de um terrível pesadelo.
Às vezes sinto como se estivesse presa dentro de um deles, que
gritasse, chamasse por ajuda e ninguém fosse capaz de me escutar.
— Você está linda, Giuliana — Matilde caminha em volta de
mim com olhar emocionado — Uma verdadeira principessa. Romano
ficará encantado quando a vir entrar na igreja.
Apenas a citação do nome dele já me deixa angustiada.
Felizmente, o meu noivo esteve bastante ocupado resolvendo
conflitos causados por ele mesmo, que envolvia os Conti, que mal
nos vimos desde nosso passeio no jardim.
Escuto os elogios e animação da minha sogra, sem
realmente prestar atenção no que ela diz. Mantenho-me apática e
perdida em meus pensamentos até que escuto um burburinho vindo
da porta.
— Ninguém diz o que tenho que fazer.
Assim que reconheço a voz, o meu sangue gela.
— Você não deve entrar Romano. Não pode ver Giuliana no
vestido de noiva.
— Isso é uma superstição idiota!
Sigo em direção as vozes exaltadas e vejo Romano
afastando a mãe dele para passar pela porta, Salvattore impedindo a
queda dela e Marco surgindo atrás de todos.
O estilista com a costureira atrapalhada, tentam me
entregar uma capa a tempo, mas quando a recebo, o meu exaltado e
cambaleante noivo, já está a minha frente.
Vejo que Romano está embriagado. Eu temo o quanto ruim
ele ainda pode se tornar sob o efeito da bebida.
— Tesoro [14]mio — ele busca a minha mão e o vejo vacilar,
com o corpo indo para a direita — Belissima.
— Meu Jesus, isso não é bom. Salvattore isso não é bom —
Matilde volta a lamentar quando se afasta do filho mais novo — Não
traz boa sorte. Romano saia.
Ele não a escuta, em vez disso, me observa da cabeça aos
pés com uma expressão cheia de malícia e más intenções.
— Já chega, Romano! — Salvattore vem até ele.
É a primeira vez que o vejo desde o nosso beijo. O meu
coração não deveria bater tão forte em meu peito e nem seu olhar
tão intenso mexer tanto comigo.
Os dois irmãos entram em uma discussão que vira um
embate de mãos e braços entre eles, que devido ao estado físico de
Romano, sai na pior. Na verdade, acho que mesmo se ele não
estivesse bêbado, Salvattore ainda venceria a batalha.
— Marco, tire-o daqui. Garanta que seja colocado debaixo
da água fria. Quem sabe isso o acalme.
Romano tenta lutar contra o primo, mas Matilde o ajuda a
arrastá-lo para fora do quarto.
— Saiam!
Atordoada vejo o estilista e a costureira saírem do quarto
feito duas baratas tontas. Ficamos apenas eu e Salvattore.
Seguro as saias bufantes do vestido e desço do banquinho.
As minhas pernas estão trêmulas demais para continuar na mesma
posição, como um manequim na vitrine.
Eu poderia dizer que todo o meu estado emocional era
devido a confusão que Romeno provocou, mas isso não é totalmente
verdade.
É por Salvattore. É por ele que meu coração parece que vai
sair pela minha boca, que as minhas mãos estão suando frio e meus
joelhos tremem mais do que vara verde.
— Você está linda, Giuliana — sua voz rouca e sexy, causa
um pequeno tremor em mim.
Salvattore está sério, quase que com uma expressão dura,
mas eu vejo calor em seus olhos. Ele me admira no vestido branco,
mas não tem as mesmas insinuações nojentas que Romano.
Com ele, através do seu olhar, pela primeira vez me acho
bonita e uma noiva de verdade.
CAPÍTULO 16

Por todos esses dias mantive firme a minha promessa de


ficar longe de Giuliana. Afastado da casa dos meus pais e recusando
qualquer convite onde eu pudesse esbarrar com ela e Romano.
Mas o encontro de hoje foi inevitável. Ao trazer meu irritante
e embriagado irmão para casa, eu sabia que haveria uma chance de
nos encontramos. O que não esperei era que fosse ver Giuliana tão
linda em seu vestido de noiva.
Essa não é uma visão que eu facilmente vá conseguir
apagar das minhas memórias. Eu nem consigo desviar os meus
olhos dela. Tudo o que penso é que desejo a puxar para os meus
braços e mais uma vez tomar posse de seus lábios doces.
— Você não deve ligar para o Romano — aviso quando eu
a vejo seguir para a cama, ela está nervosa.
Comigo ou pelo show que o meu irmão deu?
O jeito que Gia evita me encarar, me faz chegar à conclusão
que a minha presença mexe mais com ela do que o seu noivo, por
mais odioso que ele consiga ser.
— Ele é um idiota a maior parte do tempo. Mas estava tão
bêbado que nem se lembrará que a viu no vestido.
— Eu não me importo com isso — ela fala, baixinho e o seu
rosta está voltado para as mãos dela.
— O que disse?
— Não me importo com toda essa coisa de azar no
casamento — ela volta a erguer a um pouco a cabeça, a coragem e
obstinação que me enfrenta me admira — Não há nada de bom com
esse casamento de qualquer forma. Muito menos sorte.
Eu queria dizer que ela está errada, mas não posso. Nem
poderia dizer que Gia poderia dizer não a tudo isso. O seu destino
com Romano foi traçado há muito tempo.
— Gia — seguro o queixo dela, virando seu rosto para mim.
Ela ainda tem traços da menina que é, seus olhos possuem
uma inocência, que Romano vai corromper. Pensar sobre isso me
faz ter algo por meu irmão, que mesmo em nossos piores
desentendimentos, nunca senti. Ódio e desprezo.
Independente dos meus sentimentos, e eles não são mais
nada do que desejo pelo proibido e pena da garota, Giuliana
pertence a Romano.
Então por que eu simplesmente não conseguia me afastar
dela? Por que mesmo a sua pele macia queimando a minha mão,
não consigo me afastar desse fogo perigoso?
— Salvattore — o meu nome dançando em seus lábios sexy
é tão tentador que ignoro todos os alertas em minha cabeça.
Inclino sobre Giuliana e reivindico seus lábios macios.
A explosão começa em minha cabeça e irradia por todo o
meu corpo. Afundo a minha língua dentro da boca dela, do mesmo
jeito que gostaria que meu pau, mergulhasse em sua boceta
intocada.
Porra!
Apenas esse pensamento me deixa maluco. E não ajuda
nada a controlar os meus instintos animais, ouvir Giuliana gemer,
apenas com esse beijo.
— Salvattore — suas pequenas mãos agarram o meu terno
e Gia me puxa mais para ela quando começo a espalhar beijos por
seu rosto e pescoço.
Gia é tão linda e seu perfume floral me tira o fôlego.
Eu não posso ir tão longe e já estou na beira do precipício.
Já existe uma guerra acontecendo lá fora e não posso
trazer outra para a famiglia.
— Não podemos — Afasto-me, bruscamente.
Vejo a confusão e um ar de atordoamento no rosto dela.
Giuliana é jovem demais para entender o tipo de jogo
arriscado que estamos jogando.
Se Romano, se quer imaginar, que estamos sozinhos no
quarto dela e nos beijando com tanto fogo e desejo, sua batalha
comigo seria pior do que ele vem travando contra os Conti.
— Salvattore...
Os olhos inocentes são tentadores demais para que eu
resista a eles por muito tempo. Então para evitar uma tragédia ainda
maior, saio do quarto apressado e me escoro contra a porta que foi
batida atrás de mim.
Tento arduamente controlar a minha respiração e
principalmente o desejo queimando em meu corpo.
Isso está saindo do controle!
CAPÍTULO 17

Salvattore me beijou de novo e eu não pude resistir a isso.


Mas ele tem razão, mais uma vez. Não podemos continuar
com isso. Logo eu serei esposa do irmão dele. Não podemos ceder
ao desejo e o melhor é ficarmos longe um do outro.
Mas como conseguir isso, se basta ele me olhar para o meu
corpo inteiro pegar fogo?
Eu tenho que me manter longe de Salvattore. Já basta um
De Lucca tornando a minha vida miserável. E se Romano desconfiar
de qualquer intimidade entre mim e seu irmão mais novo, as nossas
vidas estarão condenadas.
— Giuliana!
Minha sogra entra no quarto e por um momento posso
deixar de lado esses pensamentos conflitantes.
— Desculpe, minha querida. Romano anda com a cabeça
muito cheia de coisas esses dias — ela vem até mim e gentilmente
alisa o meu rosto — Mas não se preocupe. Como foi um acidente,
não acredito que a má sorte estará com você.
Se má sorte significava esse casamento não ser
concretizado. Então eu anseio por ela, mas não posso dizer isso à
minha sogra. Por pior que seja Romano, ele é o filho dela e as mães
sempre ficarão ao lado deles.

***

Toda a organização do meu casamento foi praticamente


idealizada e colocada em prática pela Sra. De Lucca. Eu realmente
não me importava com nada e a deixei completamente à vontade
para escolher tudo.
O que me importa qual o recheio do bolo se para mim, ele
terá gosto de veneno?
E as flores? Não vou conseguir olhar para nenhuma delas
sem imaginar que seriam do meu funeral. Porque no dia que andar
pelo altar ao encontro de Romano, me matarei em vida.
A única coisa que me deixa feliz é que em três dias a minha
família estará aqui para o casamento. Será o meu último contato com
eles por um longo tempo.
E tinha o fato que Romano não me procurou em nenhum
dia após seu vexame em meu quarto. E só nos vimos algumas vezes
na mesa do café da manhã e para o jantar, onde novamente ele me
tratou com indiferença, como se eu fosse alguma mobilha da casa.
Quando eu não estou com a minha sogra resolvendo
questões da cerimônia e festa de casamento, gosto explorar a casa.
A biblioteca e o jardim até o momento são os meus locais preferidos.
Gosto de pegar um livro e me sentar em uma das
espreguiçadeiras para viajar nos romances que nunca irei viver. A
não ser os de tragédia.
O que peguei a dois dias já havia finalizado a noite em
minha cama. Vou devolvê-lo a estante para pegar uma outra obra
que me interessou. Estou saindo distraidamente do quarto quando
vejo Romano de costas e dois dos seus homens.
Fico indecisa entre voltar correndo para o meu quarto ou
continuar andando esperando que ele me ignore como sempre.
— Tem que ser hoje! — Ele diz a alguém com bastante
agressividade na voz — Você sabe que quando me casar com a
putinha Ricci, não poderemos nos ver mais.
Eu fico lívida com o que escuto, não por saber que Romano
tem uma amante, mas pela forma que ele fala sobre mim.
Como não seria nada inteligente ir de frente contra ele,
decido retornar para o meu quarto e descontar toda a minha raiva
contra o asqueroso Romano em um dos meus travesseiros.
Infelizmente, quando penso em me virar, um dos soldados
do meu noivo me vê e ele faz um sinal para Romano que olha para
trás.
— Giuliana — ele encerra a ligação sem ao menos se
despedir da pessoa com quem esteve discutindo — Quer dizer que
gosta de ficar pelos cantos, ouvindo conversas que não deveria.
— Desculpe. Eu não tive a intenção disse. Sai do meu
quarto para ir à biblioteca...
— E quando me viu aqui, decidiu tentar descobrir com quem
eu falava.
— Não!
— O nome dela é Lucia Galli — ele começa a caminhar em
direção a mim, parando bem a minha frente — Estamos juntos há
cerca de um ano.
Eu não desejo saber nenhuma dessas informações e se
Romano pensa que falar isso irá me abalar, ele está completamente
enganado.
— Ciúmes, bella?
A minha resposta deveria ser um sonoro “não”, mas não sei
o quanto isso pode irritar Romano e o grande ego dele.
— Eu fiz uma pergunta? — Ele puxa bruscamente o meu
braço e segura com uma força excessiva — Ou você é uma cadela
treinada para ser tão fria que isso não importa.
Os seus dedos cravados em minha pele causam uma dor
absurda. Sinto as lágrimas arderem em meus olhos, mas mantenho-
as controladas.
— O quê? Vai chorar?
De ódio dele. Sim, isso estou bem perto.
— Não sei o que dizer, meu noivo. Você tinha uma vida
antes de mim.
Enquanto eu fui mantida em uma cúpula de vidro, sendo
impedida de me aproximar das pessoas e que elas chegassem muito
perto de mim. Enquanto Romano saiu se divertindo com todos os
tipos de mulheres, fui orientada, vigiada e obrigada a manter minha
pureza.
— Mas eu sei o que fazer para acabar com tanta pose.
Eu vejo mais do que maldade em seu olhar, noto um brilho
cruel que rapidamente me coloca em alerta.
— Romano...
— Você é minha, Giuliana — ele me arrasta pelo corredor
até chegarmos em frente ao quarto dele — Antes mesmo de você
nascer, foi vendida a mim.
Isso não é totalmente verdade. Foi um acordo entre as
nossas famílias com o intuito de fortalecer ainda mais a aliança entre
elas.
— Quando vamos a uma sorveteria, podemos provar o que
vamos pedir — ele me empurra para dentro do quarto escuro.
O pânico me toma ao imaginar o que ele possa querer fazer
comigo.
Quando a luz é acessa corro em direção a porta, mas os
seus guardas parados em frente a ela, me impedem de sair.
— Nunca achei justo ter que me unir a você, pelo resto da
minha vida — ele diz, tirando o terno, que joga em cima de uma
poltrona — Sem nunca a ter visto e nem mesmo a beijado.
Enquanto ele caminha lentamente até mim, faço o mesmo
de costas, indo para longe dele. Andamos em círculos e ele parece
se divertir em me acuar.
— Gostei do nosso beijo aquele dia, mas quero mais...
Eu sei o que esse mais significa. Estava tentando me
preparar para suportar a noite de núpcias, mas ainda não estou
pronta.
— Romano... — recuo mais e minhas costas batem contra a
penteadeira — Sabe que não pode fazer isso. Temos que mostrar a
prova...
Engulo em seco.
— Você sabe... que me entreguei pura a você.
Ele sorri. De um jeito odioso e que me causa mais medo, do
que quando demonstra fúria.
— Bella, mia — agora ele está sem camisa e abre o cinto
na calça — Há mais de uma maneira de conseguir o que eu quero.
Quando ele desfaz o botão e o desliza o zíper, a calça vai
ao chão e com um movimento rápido ele também tira a cueca.
— Por favor, Romeno... — imploro, estendendo as minhas
mãos, como se isso fosse impedi-lo de se aproximar mais de mim.
Eu nem tenho coragem de olhar para as suas partes
íntimas. Estou tentando controlar a ânsia de vômito entalada em
minha garganta — Não faça isso.
O meu pedido fraco e desesperado não o comove, pelo
contrário, parece incitar ainda mais a ele que vem até mim.
— Eu vou ter o que quero — seus dedos cravam em meu
queixo — E acho bom gostar do que vou provar Giuliana. Ou vou
transformar sua vida num inferno, tanto quanto a minha será um.
Dessa vez eu não consigo conter às minhas lágrimas de
desespero e medo. E quando Romano cobre a minha boca com a
dele e enfia sua língua em mim, tento lutar contra ele.
Seu beijo, diferente dos de Salvattore, que são explosivos,
quentes e cheios de sensualidade, tem gosto de punição.
Luto contra Romano batendo em seu peito, tentando
empurrá-lo para longe, mas isso só faz dar um tapa em meu rosto e
me virar bruscamente de costas para ele.
— A gatinha gosta de ser selvagem, não é? — Ele sussurra
em meu ouvido e força a minha cabeça contra a madeira da
penteadeira — Mas eu vou aparar as suas garras.
Olho em direção a porta e vejo seus homens nos assistindo.
Nenhum deles demonstra compaixão. Pelo contrário, observo que
estão se divertindo em ver Romano agir como um animal. Eles são
tão odiosos quanto o De Lucca.
— Gosto de sua pele macia, Giuliana — suas mãos
nojentas se enfiam por debaixo do meu vestido e sobem por minhas
coxas.
Esse é um momento que me arrependo de não ter colocado
uma calça, não que fosse fazer diferença com Romano. Para
homens como ele, não importava o que uma mulher vestisse, eles
sempre acham que podem tomar o que acham ser deles ou que
acreditam que lhes é oferecido, quando na verdade não é assim.
— Romano... não... — choro mais alto e a minha calcinha é
puxada, machucando a minha pele — Por favor, não faz isso.
Fecho as minhas pernas tentando impedir que a mão dele
avance mais, só que Romano tem outra parte em minha em mente.
Começo a chorar e gritar para que ele pare. Então sinto-o
roçar em minha bunda e buscar caminho até mim. Choro e grito alto,
pedindo por ajuda e quando as minhas forças estão se esgotando
em minha luta contra ele, escuto alguém o chamar.
Salvattore!
CAPÍTULO 18

Nada que Romano fizesse deveria me surpreender. Mas vê-


lo em cima de Giuliana exercendo sua crueldade e poder sobre ela,
me deixa completamente cego.
Quando ouvi os gritos do corredor, achei que os dois
pudessem estar tendo apenas uma briga e avancei em direção do
quarto para colocar fim a isso. O que vi na verdade, era
monstruosos.
— Saiam da minha frente! — Ordeno aos seguranças dele.
Os homens se afastam, mas ficam em posição para atender
qualquer comando de seu chefe.
— Pare imediatamente com isso, Romano.
— Ou o quê?
Levo calmamente a minha mão a cintura e afasto o meu
terno.
Romano me conhece bem e sabe que quando coloco algo
na cabeça, ninguém consegue me mover da ideia.
Ele se afasta de Giuliana, que desaba até o chão e
abraçando a si mesma, ela se encolhe.
— Gia?
Tento tocá-la, mas ela se contrai mais. Está em choque.
— Precisava mesmo disso Romano? — Encaro-o não
apenas com raiva, mas com asco e desprezo.
Um homem que precisava forçar uma mulher, nem deveria
ser chamado de homem. Romano merece ser executado no pátio.
Primeiro ter o pau decepado, depois sendo obrigado a comer o
próprio pênis antes de ter a navalha em sua garganta.
— Se vou ficar preso a essa puta pelo resto da vida, preciso
saber que mercadoria estou levando para cama — ele sorri,
debochado — De qualquer forma, carne nova é sempre bem-vinda.
— Que merda você acha que está fazendo?
— A puta não tem que ser virgem até o dia do casamento?
Dei o meu jeito de provar antes a sobremesa. Quer dizer, poderia ter
feito isso se você não fosse tão intrometido, Salvattore.
— Quando o papà souber disso... Ou o pai dela. Gia é sua
noiva seu imbecil. Não uma das suas outras.
— Você não vai contar — ele me olha com fúria — Afinal,
tudo o que tive foi uma crise de ciúmes em saber que o meu irmão e
a cadela da minha noiva, andam se esfregando pelos cantos.
— Que merda é essa, Romano?
— Os dois acham que sou imbecil? Sei o que fazem quando
estão juntos. Eu não sou cego. Ninguém aqui é. Então se disser algo
ao papà do que houve essa tarde, a vida dela e a sua serão
desgraçadas — encaro-o completamente encolerizado.
Primeiro porque o que ele disse sobre Giuliana e eu é
verdade. Eu não temo nada, mas ela será severamente punida se
isso vier a público.
— Então além dos Conti, teremos os Ricci em guerra contra
a gente — ele sorri cinicamente — Então vá lá, irmãozinho. Conta
tudo para o papai.
— E eu vou. Não importa a merda que aconteça. Você foi
longe demais Romano — aviso, rangendo os meus dentes — E
agradeça que por eu estar preocupado com Gia, e uma bala minha
não vá para a sua cabeça.
A morte é pouco demais para ele e vindo das minhas mãos
desgraçaria toda a nossa família e organização. Um irmão não pode
contra o outro, sangue do seu sangue, por mais desavenças que se
tenha.
— Termine o que eu comecei — ele busca suas roupas pelo
chão — Mas a boceta virgem dela é minha.
Eu me ergo pronto para atacá-lo, mas um dos seus homens
se coloca entre nós. Romano é covarde demais para me enfrentar na
luta.
— Solte-o — ele me encara com ódio antes de ir para a
porta — Eu já terminei aqui.
Romano sai rindo com os seus homens. Eu fico dividido
entre segui-lo e dar parte do castigo que merece ou atender ao choro
baixinho de Giuliana.
Ela vence.
Vou lidar com Romano assim que cuidar dela.
— Gia? — Toco sua cabeça, mas ela se afasta com um
grito.
— Não chega perto de mim!
Antes mesmo de conhecê-la, eu sabia que Romano seria
uma desgraça para ela. Só nunca pensei que ele chegasse a ser tão
monstruoso. Casamentos arranjados são comuns na organização,
principalmente nos topos mais alto da pirâmide. Mas todo homem
sabe que ao se casar, sua mulher deveria ser protegida, cuidada e
amada.
— Sinto muito Gia — não sei mais o que poderia dizer a ela
e tudo o que falasse parecia errado.
Ela chora copiosamente. Isso causa um aperto em meu
peito.
Quero pegá-la em meu colo. Jurar que vou protegê-la. Mas
Giuliana está arisca e assustada demais.
Ajoelho ao seu lado no chão e pego o meu telefone. Envio
uma mensagem a Marco pedindo que ele venha e traga um médico.
— Não podemos ficar aqui, Gia — mesmo ela lutando
contra mim.
Acho que lutaria com qualquer pessoa, eu a pego no colo e
nos erguemos.
Ela envolve o braço em meu pescoço e esconde o rosto em
meu peito.
— Eu o odeio.
O seu pranto fica cada vez mais forte.
— Quero que ele morra.
Giuliana tem todo o direito desse sentimento. E Romano o
merece antes mesmo do que aconteceu no seu quarto.
Levo Gia para o quarto dela e a coloco na cama. Interfono
para a cozinha e peço para que preparem um chá, para quem sabe a
acalme um pouco até Marco chegar com um médico.
A mamma não está em casa, foi por causa dela, para
atender um pedido que me fez que vim aqui essa tarde.
O que Romano fez, além de arruinar o casamento, vai
destruir o coração da nossa mãe.
A empregada surge trazendo o chá e eu pego a bandeja da
porta.
— Gia? — Ela ainda soluça baixinho — Você precisa beber.
Vai se sentir melhor.
Ela não se vira para mim e vejo seus ombros sacudirem
mais forte.
— Eu nunca mais vou me sentir bem — a dor em sua voz,
causa uma angústia gigantesca dentro de mim — Queria estar
morta.
— Não diga isso, Giuliana!
Imagino que seja muito difícil lidar com um trauma como
esse, mas Romano não merecia que ela tivesse a vida destruída por
isso.
Coloco a xícara de volta na bandeja, na mesinha, e quando
retorno para Giuliana, uma batida na porta me faz ir até ela.
Marco e o médico estão aqui. Explico rapidamente a eles o
que aconteceu. Confio no silêncio de meu primo e no juramento de
manter confidenciabilidade do doutor.
— Aquele desgraçado! — Marco busca a sua faca — Onde
ele está, Salvattore?
— Marco, vamos lidar com Romano em breve. Giuliana
precisa de ajuda.
O meu primo não gosta do meu pedido, mas entende que
Gia precisa de cuidados agora. O médico pede para ficar sozinho
com ela. Enquanto ela é atendida, ligo para o meu pai e aviso que
preciso falar urgentemente com ele.
Quase uma hora depois o médico retorna à porta.
— E então, doutor?
— Fisicamente, apesar dos hematomas na pele... — o
homem está constrangido em continuar a falar — Ela afirmou que
não houve um abuso mais grave.
— Eu cheguei a tempo.
Não que isso minimizasse algo. Apenas a intenção de
Romano já era suficiente para traumatizar Gia.
— Seria melhor levá-la à clínica. Mas ela não quer. Tomou
banho e eu dei uma medição para ela dormir. No momento é tudo o
que posso fazer.
— Obrigado, doutor.
Observamos o doutor ir embora, depois Marco me encara
com um olhar que não gosto nada. Eu sei que ele pensa o mesmo
que eu, até mesmo pior.
— Marco, o papà vai resolver isso.
— Eu acho bom que dessa vez ele não fique novamente do
lado dele ou eu mesmo dou a lição que seu irmão está merecendo
há muito tempo.
— E eu vou estar com você.
O que meu irmão fez a Giuliana não vai ficar impune, nem
que eu tenha que fazer justiça com as minhas próprias mãos.
— O papà chegou — aviso assim que visualizo a
mensagem — Você fica aqui na porta?
Duvido que Romano tenha coragem de retornar, mas ele
poderia enviar alguém para castigar Giuliana como vingança.
— Qualquer um que tente passar por essa porta é um
homem morto.
Eu sei que Marco irá cumprir a promessa, então posso
deixar o quarto com um pouco mais de tranquilidade.
Essa não será uma conversa fácil com o papà porque vai
mudar tudo.
CAPÍTULO 19

Acordo desorientada e no quarto escuro.


Eu não estou sozinha. Alguém mais está aqui. E quando
olho para a figura masculina enorme na porta, emito um grito e saio
pulando da cama.
A luz é acessa e a claridade me cega por alguns segundos.
— Tudo bem, Giuliana — reconheço a voz em um tom
cauteloso de Marco, primo e braço direito de Salvattore — Você está
segura.
Isso não é verdade. Enquanto eu estive com os De Lucca,
no mesmo teto que Romano, eu nunca estaria segura novamente.
— O que você faz aqui? — Encaro-o com raiva e acusação.
— Cuidando para que nada ruim aconteça a você.
Salvattore me pediu isso.
Ouvir o nome de Salvattore ao mesmo tempo que me
acalenta, causa angústia. Ele também é um De Lucca e não deve ser
tão diferente do irmão dele. Só sabe ser mais sedutor.
— Cuidando ou vigiando?
— Eu sei que está com raiva Ricci.
— Raiva? — Encaro-o com fúria.
Não é de Marco que tenho que ser arisca, mas não consigo
evitar. Sinto uma angústia tão grande no peito, uma dor tão intensa
que preciso me livrar de alguma forma.
— Eu tenho ódio. De todos os De Lucca.
— Não somos todos iguais.
Quem poderia me garantir isso? Porque eu estou trancada
nesse quarto com um vigia, enquanto Romano está por aí, se
divertindo e podendo machucar mais pessoas.
Eu tenho certeza sobre uma coisa. Não posso me casar
com ele, nem mesmo para proteger a minha família. O casamento
será em dois dias e antes disso preciso encontrar uma forma de
fugir. Depois entrar em contato com Tommaso.
— Salvattore e o pai dele vão cuidar de tudo.
Claro. Vão encontrar uma forma de Romano sair ileso do
que tentou fazer comigo. E depois de casada com ele, eu seria
problema do meu marido. Nem mesmo a minha família poderia
interferir nisso.
Eu preferia a morte a esse destino cruel.
Eu vou fugir ou pular da janela, mas não me caso com
Romano De Lucca.

***

É angustiante pensar em minhas possibilidades de fuga


quando Marco está aqui, acompanhando com o olhar atento, cada
movimento mínimo que faço.
Quando me levanto da cama e vou até a entrada do
banheiro ele avança até a metade do quarto.
— O quê? Vai me vigiar fazendo xixi?
Ele fica desconcertado com o que eu falo e se eu não
estivesse tão nervosa, acharia engraçado a expressão dele. Isso
porque Marco não demostra muito o que está pensando ou sentido.
Eu nunca consegui lê-lo.
Entro apressada e fecho a porta do banheiro. Sigo nervosa
até o vaso e após baixar a tampa me sento. Todo o meu corpo está
tremendo. Eu não consigo bloquear da minha mente o ataque de
Romano. Nunca senti tanto medo em toda a minha vida. Tenho
calafrios, náuseas e desespero apenas em pensar.
Eu tenho que fugir.
É só o que a minha mente me diz.
Mas como?
Desde que Romano mandou o ataque ao carro do
consigliere na escola, a segurança na casa e para a família De Lucca
redobrou. Há muitos guardas lá fora que me pegariam facilmente.
A melhor tentativa seria essa noite. Mas se Marco decidir
passar a noite toda me vigiando?
Apesar das minhas pernas fracas, levanto-me com pressa e
vou até a janela.
É muito alto e nem mesmo tem uma árvore próximo para
me ajudar. Eu teria que usar cordas. Daria para providenciar uma
com lençóis, mas novamente com Marco no quarto olhando cada um
dos meus movimentos é impossível.
Só me resta os comprimidos que o doutor me deixou essa
tarde. Se conseguir colocar alguns na bebida ou comida de Marco,
eu terei uma chance de fugir.
Então a melhor forma de agir desse momento em diante,
mesmo que me cause repulsa, é voltar para o quarto e tentar ganhar
a confiança dele. Eu lidarei com as minhas emoções depois.
Agora preciso ser fria.
— Desculpe — tento sorrir, mas não consigo — Não quis
ser grossa com você. Não é de você que tenho raiva.
Em parte, é verdade. Embora eu tenha medo do primo todo
tatuado de Salvattore tanto quanto dos demais De Lucca.
— Não se preocupe. Você pode me dar um soco se quiser.
A expressão dele não dá qualquer sinal se está brincando
ou falando sério.
— Eu não gosto de violência.
— Algumas vezes é preciso — ele diz duro — Como para
castigar um miserável.
Ele estaria mesmo contra Romano?
Não. Eu não posso confiar. Se Marco estivesse do meu
lado, ele não estaria no meu quarto me vigiando a pedido do primo
dele.
Todos os De Lucca são cruéis e eu preciso manter isso em
minha mente.
Os minutos se arrastam e eu não sei como Marco consegue
se manter tão tranquilo na mesma posição, me encarando.
— Salvattore disse quando volta?
Ele apenas balança a cabeça em negativa.
— E minha sogra já voltou para casa?
Dessa vez ele só balança os ombros.
Que homem irritante. Como vou ter algum diálogo com ele
sé só sabe responder com sinais?
Não sei mais o que dizer para puxar assunto e com toda
certeza não vou tocar no nome de Romano. Eu desejo que ele arda
no inferno.
Para um pouco do meu alívio emocional, o telefone de
Marco toca. Eu observo em silêncio ele ouvir a ligação. Também noto
o seu corpo ficar tenso e quando ele olha para mim, há algo em seu
olhar que me coloca tensa.
— Sim. O meu tio já sabe?
Saio da cama e paro bem na frente dele.
— Eu cuido do resto.
Com isso ele finaliza a ligação e sua expressão está mais
dura do que antes.
— O que aconteceu? — Pergunto, apreensiva.
— Romano está morto.
Morto?
— Ele estava em uma das nossas boates e o pessoal dos
Conti atacaram. Ele levou dezoito tiros.
— Meu Deus! — Levo a mão ao peito, não por Romano ter
sido atingido, mas pela brutalidade como foi morto.
Que Deus me perdoasse, mas eu não consigo sentir pena
dele. Em vez disso, sinto um alívio profundo.
O casamento não vai mais acontecer e eu estava finalmente
livre.
CAPÍTULO 20

Eu estava furioso por meu pai ter decretado que Giuliana


decidisse sobre o destino de Romano e o casamento deles.
A garota não tem experiência e nem psicológico para julgar
o caso como merece. E meu irmão tem que ser duramente punido.
— O Romano foi longe demais, papà e você sabe disso.
— Como você também sabe que a organização está em
risco. Os Conti só querem uma falha nossa e agora agindo com os
russos.
— Foda-se os Conti e os malditos russos! — bato
duramente na mesa — Estamos falando de Romano e se o senhor
não fizer nada, eu mesmo faço.
A cena que vi, o estado que encontrei Giuliana e impedi que
o pior acontece ficará gravado em minha mente até a minha morte.
— Eu sei que ele passou dos limites, mas vamos tentar
resolver isso, sem que Don Ricci arme uma guerra contra nós,
Salvattore — ele tenta argumentar — A nossa gente não pode pagar
pelos erros do seu irmão.
Resumindo, não posso apenas focar em meu ódio contra
Romano. Preciso pensar em nosso clã. Nos que podem ser atingidos
se Don Ricci abrir uma guerra contra a gente.
— O que o senhor pensa fazer?
— Vou ligar para Don Ricci e pedir que ele antecipe a sua
viagem. É melhor conversar com ele com paciência.
— E Giuliana?
— Já disse que vou dar a chance para que ela tenha justiça.
Sem abrir uma guerra.
Não é o que desejo, mas é o melhor que podemos ter no
momento.
— E seu irmão?
— Deve ter se escondido em algum lugar. Tentou me
chantagear dizendo que fez o que fez por minha causa. Ele acha que
há algo entre mim e Gia.
Meu papà me olha atentamente. Eu forço uma expressão
que ele não consiga ler.
— E há?
— É com o Romeno que você tem que se preocupar, papà.
Enquanto ele faz sua ligação, eu faço as minhas, ordenando
aos meus soldados que cacem Romano por toda Acino e que
colocasse a cidade abaixo se fosse preciso para encontrá-lo.
Ainda estava no escritório do papà quando a notícia
finalmente chega, mas infelizmente não é exatamente a que eu
esperava.
— Papà?
Não sei como dizer isso a ele. Romano era um desgraçado,
mas era o seu filho.
— Encontraram o Romano.
— Onde o seu pessoal disse que ele está? — Diz ele,
ficando de pé — Eu mesmo vou buscar aquele imbecil.
— Os meus homens chegaram um pouco tarde. Os Conti o
acharam primeiro — sinto um nó na garganta, não exatamente por
Romano, mas por nosso pai — Sinto muito papà...
— O que você quer dizer, Salvattore?
Ele segura firme a borda da mesa, mas acaba desabando
de volta na cadeira.
— Romano foi encurralado e morto.
Eu nunca vi o meu pai desmoronar, até hoje.
E nem conseguia imaginar a dor que ele estivesse sentido,
apesar de também me sentir um pouco baqueado pelo que
aconteceu. Nunca me dei muito bem com Romano, mas ele era o
meu irmão, sangue do meu sangue.
A morte dele de forma tão violenta e covarde pelos Conti,
exige justiça.
Sangue contra sangue.

***

Era para estarmos falando de um casamento e agora


estamos lidando com um funeral e a Vendetta[15] exigida pelo papà e
a mamma.
Não que Romano merecesse isso, mas temos que mostrar
aos Conti, que não se mexe com um dos nossos.
Foram quatro dias de velório, que pelo sofrimento dos meus
pais, principalmente da mamma, decidi não prolongar.
Mesmo após o enterro a casa está cheia de amigos e
parentes. A maior parte em respeito ao meu pai, do que realmente
por Romano. Ele conseguia irritar muitas pessoas.
Durante esses dias eu não troquei uma palavra com
Giuliana, mas eu a via sempre com a mãe dela ou dando conforto a
minha, como faz agora do outro lado da sala cheia. Ela deve estar
aliviada por finalmente se livrar de um compromisso que não
desejou.
Isso nos coloca definitivamente com os caminhos longe um
do outro. De qualquer forma agora eu tenho outras coisas para
pensar. Em ajudar o meu papà a se manter em pé, consolar a
mamma e me preparar para a batalha mais árdua e sangrenta contra
os Conti.
— Salvattore? — Marco chega ao meu lado — O seu pai
deseja falar com você no escritório.
Eu o vi indo para lá com Don Ricci e Alessandro. Com
certeza deve ter ido acertar o encerramento do casamento que não
vai mais acontecer. Ele deveria ter me chamado antes.
— Papà?
Chamo por ele e três rostos viram na minha direção quando
entro no escritório.
— Salvattore, figlio mio — eu nunca vi o meu papà me olhar
com tanta emoção — É tudo o que me restou.
Não é verdade, ele ainda tem a mamãe e a organização.
— Estávamos falando justamente sobre você e seu futuro.
— Sobre mim? — Indago desconfiado.
É claro que sei que com a morte de Romano, sou eu que
vou ocupar o lugar do meu pai a frente da organização. Mas porque
isso poderia interessar ao Don Ricci?
— É muito triste o que aconteceu — é justamente o pai de
Giuliana a responder a minha pergunta — Mas o seu pai e eu
chegamos à conclusão, que nosso acordo feito há muitos anos, não
precisa ser desfeito.
— O que querem dizer?
— Você será o capo agora, Salvattore — meu pai vem até
mim e coloca a mão em meu ombro — E precisa ter uma boa
esposa. Ninguém é melhor do que a filha de Don Ricci.
Encaro cada um dos três, absurdamente chocados.
— Estão sugerindo para me casar com Giuliana?
— É o mais correto a fazer, meu filho — decreta o meu pai
como se não enxergasse insanidade nisso.
— Vocês estão malucos? Pai você ainda é o Capo —
encaro-o totalmente incrédulo — E contou a eles sobre Romano...
Sobre a Gia?
Eu vejo um brilho perigoso passar nos olhos tanto de Don
Ricci como em Alessandro e tenho certeza de que se meu irmão já
não estivesse morto, um deles, ou os dois fariam isso. Como podiam
agora aceitar que eu, me cassasse com Giuliana?
— Você não é o seu irmão, Salvattore — afirma Don Ricci.
— Talvez Gia não pense assim!
Ela deveria nos odiar e com razão.
— Assim como nós, Nicola também está preocupado com a
união dos Conti com os russos.
Ninguém inteligente o suficiente quer guerra com a Bratva.
— Ainda somos aliados, mas nos casar?
— Matar o seu irmão não foi apenas um ato de vendetta —
argumenta o meu pai — Eles queriam impedir nossa união com os
Ricci. Isso não vai acontecer. Você vai ocupar o lugar do seu irmão e
se casar com Giuliana.
É uma ordem. Simples. Clara. E que não posso ignorar nem
lutar contra.
A noiva do meu irmão agora pertence a mim.
Puta merda!
— Preciso falar com Giuliana — aviso aos três — Sozinho.
Eu nunca quis uma esposa, nem pensei em me casar
durante os próximos anos, mas não podia ignorar uma ordem do
meu pai.
Antes dessa merda toda acontecer, a atração pulsante entre
mim e Giuliana até poderia deixar empolgado com esse casamento
forçado. Agora duvido muito que ela consiga olhar para mim sem
lembrar o que Romano fez com ela.
Que porra!
CAPÍTULO 21

Tudo o que eu mais desejava era que esses dias tristes


terminassem logo e eu pudesse voltar para casa com a minha
família. Felizmente, Salvattore sugeriu um velório mais curto e o
enterro aconteceu essa tarde.
Nós não trocamos uma palavra desde que ele me deixou no
quarto, após ter me socorrido de Romano. Eu nem tive coragem de
me aproximar e dar os meus pêsames.
Isso porque Salvattore causa em mim, sentimentos que não
posso ter, preciso ignorar e sufocar em meu peito.
Logo voltarei para minha amada Rifiuti e poderei fingir que
os irmãos De Lucca nunca existiram em minha vida.
— Isso não é certo — A Sra. De Lucca pranteia — Mães
não devem enterrar seus filhos. Mesmo alguém tão difícil como
Romano. Não é a ordem natural das coisas.
Minha mamma a consola com palavras bonitas, eu só
consigo ficar ao lado delas. Pelo ocorrido e como não iria adiantar
jogar mais um punhado de dor sobre Matilde, decidi não contar a ela
e nem a minha mãe o que aconteceu aquele dia no quarto de
Romano. Mas não consigo dizer nada de bom para confortá-la,
apenas fico ao lado, dando apoio.
Olho para o outro lado da sala e vejo Salvattore
conversando com Marco. A forma como o De Lucca olha para mim
antes de sair é tão intensa que me deixa mexida.
Esqueça Salvattore De Lucca, ordeno ao meu coração
masoquista. Ele é tão ou mais perigoso que Romano. Porque o
falecido era um homem frio e cruel e Salvattore pode ser letal na
forma que consegue ser sedutor e pode ser muito mais ameaçador
com isso.
— Gia?
Mattia e Tommaso chegam juntos para me chamar e me
puxam para um canto mais afastado e silencioso da grande sala.
Enquanto o mais novo dos meus três irmãos é mais
amoroso e doce, Mattia é causador de encrenca. Alessandro não fica
muito longe, mas geralmente ele pensa mais antes de agir. Mattia
primeiro sai no soco para depois perguntar o que estava
acontecendo.
Eles são muito diferentes, mas eu amo os três e estou muito
feliz de voltar para casa.
— Salvattore quer falar com você — avisa Mattia.
— Salvattore? — Pergunto, alarmada — Por quê? Não
temos nada a conversar.
— Vocês têm sim — afirma Mattia — Don Lucca e o papà
acabaram de acertar os detalhes do casamento de vocês.
Eu sinto as minhas pernas perderem as forças e Tommaso
me ampara.
— Do que vocês estão falando? O meu noivo era o Romano
— balbucio quase sem voz — Agora ele está morto. Eu estou livre do
acordo.
— Não, Gia. O papà e Don Lucca reafirmaram o acordo
agora com você e Salvattore.
Isso não pode ser verdade.
Sinto as lágrimas inundarem os meus olhos. O meu pai não
podia ter feito isso comigo de novo.
— Não pode ser — murmuro aflita e nem consigo resistir
quando os meus irmãos me levam para fora — Não pode estar
acontecendo de novo.
Meu lamento desesperado segue por todo o corredor. É
como se eu estivesse sendo guiado para o corredor da morte.
— Calma, Gia — Tommaso passa a mão em meus cabelos
para me consolar — Salvattore é bem diferente do irmão dele.
— Não é! — Grito com ele, estou totalmente fora de mim —
Todos os De Lucca são desprezíveis e odiosos como o Romano.
Eu não posso colocar nessa categoria a Matilde. Mas os
homens De Lucca me dão medo, de uma forma ou de outra.
— Eu os odeio!
Assim que eu termino a minha crise histérica, olho para o
mesmo lado que meus irmãos encaram sem jeito e vejo que a porta
está aberta. Dentro da sala está o meu pai e irmão me encarando
chocados, Don Lucca, completamente envergonhado e Salvattore
com uma expressão fria, que me causa medo.
— Me deixem sozinho com ela, por favor — ele diz
friamente e sua voz tem tanta autoridade que o pedido soa mais
como uma ordem que ninguém se atreve a negar.
Eu não quero ficar sozinha com Salvattore, mas meu pai me
empurra para dentro quando chega ao meu lado.
— Pense bem no que vai dizer, Giuliana — avisa ele antes
de sair e fechar a porta atrás de mim.
Eu não tinha que pensar em nada. Não quero me casar com
Salvattore como não quis me casar com Romano. E se me
obrigarem irei fugir antes que eu seja forçada a ir para a igreja.
— Sente-se, por favor.
— Eu não quero — apesar de por dentro eu estar como
uma gelatina, enfrento Salvattore com coragem.
— Você não quer muitas coisas e dentre elas imagino que
seja casar comigo.
— Está certo.
Salvattore sempre está.
— Eu também não quero me casar, Giuliana.
— Ótimo — respiro aliviada — Vamos dizer isso às nossos
famílias e problema resolvido.
— Infelizmente as coisas não funcionam assim. O nosso
casamento é importante.
— Para quem? Minha família? Eles não ligam para o que eu
sinto. Para a sua? Eu...
— Sei bem o que pensa sobre nós. Ouvi em alto e bom
som.
Eu tenho a respiração acelerada e Salvattore não está
muito longe disso. Vamos iniciar uma guerra. Em todas às vezes que
nos encontramos, jamais pensei que acabaríamos assim.
— Eu não vou me casar com você, Salvattore — afirmo e
em pânico o vejo se aproximar lentamente de mim — Prefiro a morte.
Eu pulo da janela ou tomo veneno.
Estou mesmo disposta a um gesto tão drástico e dramático,
se uma fuga não der certo.
— Você realmente me odeia? — Com a pergunta ele leva a
mão em meu pescoço e eu sinto meu coração bater mais rápido —
Me despreza ao ponto de fazer uma loucura como essa?
Não.
Sim.
Eu deveria.
— Sim.
Ele me olha com tanta intensidade, que sinto os meus
joelhos fracos. Embora a minha mente me diga para correr o mais
longe dele, meu coração deseja outra coisa. O meu corpo anseia que
Salvattore me tome nos braços e me beije. Que os beijos dele me
façam esquecer tudo.
— Muito bem — ele se afasta como se tocar minha pele,
queimasse os dedos dele — Não posso te livrar do compromisso de
casamento.
Estou pronta para começar a argumentar quantas vezes
fosse preciso para fazê-lo mudar de ideia.
— Mas eu tenho uma proposta a fazer.
Encaro-o bastante chocada e perdida.
CAPÍTULO 22

Imaginar o que Giuliana pensava sobre mim e ouvir dos


seus próprios lábios eram coisas completamente diferentes. E não
posso culpá-la por sentir tanta aversão por mim e minha família.
Ela não foi tratada como deveria quando esteve entre nós,
não a protegemos e fizemos se sentir segura. De um lado Romano
se comportando como um ser odioso, meus pais cegos pelas
canalhices dele e me aproveitei de toda a fragilidade dela para
seduzi-la, quando ainda era proibida para mim.
Não. Gia não está errada em nos julgar tão mal. Mas eu não
posso dar liberdade nem mesmo a mim. Então vou propor um
acordo.
— Vamos nos casar. Isso é inevitável, Gia.
— Giuliana — ela me corrige com dureza — Apenas quem
amo me chama de Gia.
Isso não foi um problema antes. A garota é mais difícil do
que eu pensava.
— Há uma guerra lá fora. Os Conti agora têm apoio dos
russos.
— Por que eu deveria me importar com isso, Salvattore?
Vocês fazem as merdas e nós, as mulheres, que nem temos voz,
precisamos aguentar.
Ela não está errada. Mas ainda assim faz parte disso.
— Pode estar irritada agora, Giuliana, mas eu sei que ama
sua família. Estava disposta a se casar com Romano por eles.
— Família que novamente me joga aos leões.
Esfrego o meu rosto com as mãos. Ao mesmo tempo que
tenho desejo de esganar o lindo pescocinho dela, outro queima
dentro de mim para agarrá-la e fazer se calar com beijos ardentes.
— Ainda assim faria isso, porque você entende sobre
lealdade e dever. E assim que os Conti aniquilassem a gente, sua
família seria a próxima. Em vez de casar comigo, como não quer,
eles podem dá-la como escrava para algum russo. Acha que isso
seria mesmo pior do que se casar comigo?
O que eu falo a faz titubear.
— Ver os seus pais e irmãos morrerem na sua frente,
depois ser levada a uma terra estrangeira.
— Eu teria que estar viva.
Quanto calor, apesar do drama exagerado. Giuliana tem
mesmo sangue quente italiano correndo em suas veias.
— A minha proposta é, nos casamos como todos querem.
Unimos as nossas famiglias. Eu deixo você escolher qualquer casa
em Acino para morar sozinha.
— Em Rifiuti — ela contra-argumenta.
— Em Acino — digo firme — Não temos que nos ver, nos
falarmos ou mantermos contato que não seja através do meus
homens.
— Vai ser um casamento de mentira?
— De fachada.
— Vamos nos casar na igreja como deve e no cartório. Mas
estaremos separados completamente de corpos.
— Por quanto tempo?
— O que acha de cinco anos? Eu imagino que seja tempo
suficiente para dar um jeito nos Conti e nos russos.
— E o que vamos dizer a nossa famiglia quando decidirmos
nos separar?
— Que não deu certo. Até lá os negócios estarão
controlados.
— Como você sabe?
Giuliana está negociando a vida dela, e não vai deixar os
detalhes de lado. Gosto disso.
— Eu, sei. Em breve serei o Capo e poderei fazer as coisas
do meu jeito.
Nos encaramos por alguns segundos. Ela tem
determinação. Nem de perto é a garota apática, treinada para ser
obediente como pensei. Ou talvez tenha sido o que Romano fez a
ela que a leva a começar a reagir.
— Depois de cinco anos estou livre, então?
— Sim.
— Mas o que diremos a família enquanto estivermos
casados? Vão querer ver a gente juntos. E vão perguntar.
— Não vou ter tempo para socializar. Fará isso por mim, ir a
eventos sempre que for necessário. O quando perguntarem, diga
que tive algo urgente a resolver.
— Nunca vamos nos ver? — Ela indaga em um fio de voz.
Giuliana estaria triste por isso?
Não. Ela afirmou em alto e bom som que me odeia.
— Nunca. Eu só tenho uma única regra Giuliana — volto a
me aproximar dela e dessa vez seguro seu rosto — Nenhum homem
ocupará a sua cama. Sem amantes.
Pensar em outro tocando-a, não me deixa feliz. Enquanto
formos casados, Gia é minha.
— Eu não quero saber de homem nenhum. Nunca mais
quero um em minha vida.
Ela é jovem demais para afirmar isso. Quando for livre
novamente, haverá uma fila de pretendentes atrás dela. E isso me
irrita ainda mais. É como se ela fosse uma linda joia na vitrine e eu
fosse só um observador.
— É bom saber disso por enquanto — sorrio e isso a faz se
afastar de mim.
— E você? Terá amantes.
— Eu sou homem.
— Que machista, Salvattore. Você não poder trair sua
esposa, vai contra os mandamentos da organização.
Um mafioso italiano não pode ser infiel a sua esposa.
— Mas esse não é um casamento de verdade, certo?
Por que ela está tão irritada, se não significamos nada um
para o outro? Estamos presos a um acordo que não foi feito por nós.
E estou dando uma excelente saída para Giuliana. O máximo de
liberdade que ela poderia conseguir. Sua vida com Romano seria
infinitamente mais difícil.
— Tenho as minhas necessidades Gia e...
— Não quero ouvir. Faça da sua vida o que quiser. Só me
deixe em paz.
Eu nunca a vi tão irritada e me pergunto se Giuliana é
realmente tão indiferente a mim com outras mulheres como ela
afirma.
— Prometo que nunca vou deixar a vergonha chegar até
você.
— Vá para o inferno! — Ela grita, abrindo a porta.
Quando vou atrás dela, vejo Marco parado no lado de fora,
escorado na parede.
— Isso foi um não ao pedido de casamento? — Ele indaga
antes de uma longa tragada em seu cigarro.
Isso vai mesmo matá-lo um dia.
— Não — aviso, abrindo um sorriso — Foi um sim.
Ele se engasga com a fumaça e me encara abismado.
— Que merda — diz Marco.
Que grande merda mesmo.
CAPÍTULO 23

Eu odeio o Salvattore, mas tenho que admitir que a


proposta dele é melhor saída que tenho no momento. Cumprir a
promessa dos meus pais, aliar as nossas famílias e evitar uma
guerra. Ainda assim, conseguir um pouco de liberdade.
O que mais me atrai no plano dele ou me atraía era o fato
de não precisarmos nos ver. Até ouvi-lo que não tenho permissão
para se quer ver outros homens, enquanto ele seguirá com sua vida
de diversão com outras mulheres.
Não me importo com o fato de não conhecer outros
homens, a traumática experiência com Romano me mostrou o
quanto eles podem ser odiosos. Pensar em alguém me tocando,
acariciando, tentando me beijar, me causa calafrios.
Mas eu não gostei de saber que Salvattore terá uma vida de
solteiro, estando casado comigo. Isso não é certo. Só que o que ele
faz e com quem, não deve me importar. Apenas que ele mantenha
sua palavra de me deixar livre.
— Principessa mia! — Minha mamma vem até mim assim
que chego na sala.
Eu observo que todas as pessoas que estiveram aqui, após
o enterro foram retiradas e há apenas os meus pais, os meus irmãos
e os pais de Salvattore.
— Como foi a conversa?
Todos me encaram com grande expectativa. E eu entendo
como esse casamento, mesmo que me sacrifique, é importante para
todo mundo. Estamos na mira dos Conti e agora com eles unidos
aos russos, a vida de cada um de nós está em risco.
Apesar de muito chateada com eles por me usarem como
um cordeiro em um sacrifício, amo muito a minha família e os pais de
Salvattore já haviam tido uma grande perda.
Eu nunca fui uma pessoa que só pensa em mim. Então
respiro fundo e dou o meu melhor e mais ensaiado sorriso a eles.
— Nós vamos nos casar.
É o suficiente para uma pequena comemoração reverberar
pela sala.
— Ah, minha querida — Matilde vem até mim com olhos
marejados e me abraça — Perdi um filho, mas ganhei uma filha. Eu
sei que Salvattore irá fazê-la muito feliz.
Ela estava enganada sobre outro de seus filhos. Salvattore
não podia me fazer feliz porque simplesmente ele nem desejava ficar
comigo. Não é um casamento real, apenas um bom acordo entre
nós.
— Logo vamos ter bambinos correndo por toda casa,
Matilde — diz o Don Lucca ao receber a esposa em seus braços —
Você vai ver.
Sinto uma pontada no peito por saber que sobre isso,
também vou decepcioná-los, principalmente por minha sogra. Se
esse fosse um casamento pelas razões certas, ou seja, por amor.
Bebês chegando à família iria preencher esse vazio no coração de
mãe que ela ficou com a morte de Romano.
Mas as minhas reflexões são abandonadas quando
Salvattore surge na sala acompanhado do primo. Ele para bem ao
meu lado e me abraça pela cintura. Eu tento ignorar o que a
presença dele me causa, mas é muito difícil. Desde o perfume
másculo do De Lucca até seu corpo grande e musculoso envolvendo
o meu até as lembranças do nossos momentos juntos, me põe
atordoada.
Não há champanhe para comemorar o nosso noivado, pois
há um clima fúnebre, mas todos expressam sua felicidade em
relação ao meu casamento com Salvattore.

***

Uma semana depois

Hoje é o jantar de noivado.


— Tem certeza de que não quer usar algo com mais cor,
Gia? — A mamma me pergunta outra vez enquanto finalizo a
máscara de cílios nos meus olhos — Algo amarelo ou um salmão?
O meu vestido é preto. Escolhi a cor não pelo fato de
recentemente ter enterrado o meu noivo, mas como um aviso a
Salvattore que apesar de ele ter vencido todas as batalhas comigo,
ainda estamos em guerra.
Não é meu luto por Romano, esse desejo que esteja
ardendo no inferno para pagar todas as maldades que fez, mas um
luto por mim.
— Não acho que seja adequado, mamma.
— Tem razão. Tudo certo por aqui? Preciso ver se seu pai
precisa de ajuda.
— Vou descer em alguns minutos.
Ainda preciso de um pouco mais de tempo para me
preparar psicologicamente.
Não vejo Salvattore desde que anunciamos aceitar o nosso
compromisso. A mãe dele disse que há muitas coisas para resolver,
que o clã anda inquieto sobre a vendetta e os afiliados questionam
se a famiglia De Lucca consegue conter os Conti.
Assim como o irmão dele, penso que Salvattore só está
usando desculpas para me ignorar. Não que eu reclame disso.
Quanto mais longe ele estiver de mim, melhor.
Olho a minha imagem no espelho mais uma vez. Com a
ajuda da maquiagem, em tons mais escuros, consegui me dar um ar
mais maduro. Os cabelos presos em um coque elegante também
ajudavam. Talvez eu os deixe crescer para perder esse ar de
menina.
Respiro fundo, pego minha bolsinha com o telefone e saio
do quarto.
— Giuliana?
Encontrar Salvattore no corredor me deixa balançada. Ele
está lindo em um conjunto de terno escuro. Tudo nele respira poder e
elegância.
— Estava esperando por você — ele diz, vindo
vagarosamente até mim.
Cada passo que ele dá, é uma forma masculamente
sensual.
Salvattore é um verdadeiro macho alfa, isso não posso
negar.
É como uma pantera seduzindo a noite. Perigosa, mas que
não conseguimos desviar o olhar.
— Por quê?
Em vez de me dar uma resposta, ele pega a minha mão e
coloca um lindo anel em minha palma.
— Para dar isso. O anel de noivado.
O que Romano me deu, devolvi a mãe deles no dia seguinte
ao enterro. Embora ela tivesse insistido para que eu ficasse com a
joia, não queria nada que me lembrasse aquele homem. Já me
bastava essa casa e cada um dos De Lucca.
— Eu não...
— Precisa de um, Giuliana. Todos esperam que você tenha.
O anel é bem diferente do que o irmão dele me deu. O de
Romano era enorme e extravagante. Para mostrar ao mundo o
dinheiro e poder que ele tinha. Esse de Salvattore, embora também
demonstre isso, já é uma peça mais delicada, elegante e seria algo
que eu teria escolhido.
Vai ser impossível olhar para ela e não lembrar dele. Então
faço uma promessa a mim mesma de só usar a joia em público.
— Vamos? — Ele estende o braço dobrado para mim e não
me resta outra coisa além de aceitar.
Novamente, apenas o fato de Salvattore estar perto de mim,
me desnorteia, mas eu faço todo o possível para não demonstrar
isso. Fui treinada para fingir e saber esconder as minhas emoções. O
problema é que com ele é muito difícil de atuar. Ele me desconcerta.
Somos recebidos com alegria. E como Salvattore previu, o
meu anel chamou a atenção de todos.
— Também tenho outro presente à minha noiva — ele me
entrega uma caixinha que ao abrir, vejo surgir a chave de um carro
— De aniversário, atrasado.
Tinha sido um dia após Romano ter me levado a força para
o quarto dele. Com toda a tensão pré-casamento e com o
falecimento dele, isso havia passado batido por sua família, mas
Salvattore lembrou.
Todos vamos para fora e vemos um lindo carro prateado
surgir.
— Caramba, Gia! — Festeja Tommaso, mal conseguindo
esconder sua empolgação.
Nunca pensei que fosse admitir isso, mas esse jantar de
noivado está sendo bem mais difícil do que o primeiro. Isso porque
diferente de Romano, que fez questão de me ignorar a maior parte
da refeição, Salvattore tem se mostrado extremamente gentil,
atencioso e amoroso comigo.
O que deixa os meus pais, principalmente a mamma,
encantados, e os meus irmão de guarda baixa. Até Alessandro e
Mattia parecem gostar de conversar com Salvattore. Tommaso, nem
preciso dizer como já havia caído nos encantos dele.
Quando fomos direcionados para a sala de conforto, eu já
estava com o corpo todo rígido de tensão.
— Eu gostaria de levar a minha noiva para um passeio no
jardim — Salvattore se junta a mim e as nossas mães.
Recordo de quando Romano sugeriu a mesma coisa e do
que aconteceu.
— Claro que sim — as nossas mães dão risinhos como se
fossem duas adolescentes encantadas com o amor.
Eu e Salvattore não podíamos estar mais longe disso.
Apesar de contrariada, deixo que ele me guie até o jardim.
Apenas quando chegamos lá que minha rebeldia vem à tona.
— Por que isso?
— Exatamente o quê?
— Todo esse teatrinho, Salvattore. Primeiro o anel —
mostro o meu dedo a ele com raiva — Depois toda a atenção e
gentileza na mesa e agora um passeio romântico ao luar.
Ele sorri. Cretino. Um sorriso meio de lado, sexy e letal.
Então se escora em uma pilastra no gazebo e me analisa de cima a
baixo. Dos meu ombro esquerdo desnudo, ao vestido colado em meu
corpo, na altura dos joelhos até os salto altos.
Salvattore aprecia o que vê e não esconde isso.
— Não é assim que um noivo deve agir?
— O Romano não...
Antes que eu pudesse terminar a frase, ele me puxa para os
seus braços.
— Jamais me compare com o meu irmão.
O que eu queria dizer era que Romano nunca se esforçou
para termos ao menos um pouco de cordialidade com o outro.
— Eu não ia...
— Não sou igual a ele.
Apesar do brilho da lua refletir nos olhos dele, Salvattore me
encara de uma maneira muito fria e perigosa. Compará-lo a Romano
significa para ele uma grande ofensa.
Os dois realmente não são iguais. Salvattore é pior, não no
sentido de ser cruel, fisicamente, mas ele mexe com a minha mente
e coração. Isso sim, é um grande perigo.
Preciso manter o meu coração e lucidez a salvo de sua
sedução.
— Desculpe — o meu pedido trêmulo faz os dedos dele
afrouxarem em minha pele.
E quando ele os desliza pelo meu braço, sinto até o seu
olhar ganhar mais suavidade. A minha respiração fica suspensa
quando ele toca o meu pescoço e a outra mão segura o meu rosto.
— O que está fazendo Salvattore?
Quanto mais o seu rosto se aproxima do meu, fica claro
para mim as sua intenções e isso faz o meu coração disparar e as
minhas pernas ficarem trêmulas.
— Estão nos observando da janela.
Olho rapidamente na direção que ele diz, mas não capto
qualquer movimento entre as cortinas.
— Eu não vejo nada — volto a ele e nossos narizes se
tocam.
— Estão lá, acredite — ele sussurra em meu lábios.
O roçar me faz estremecer e quando Salvattore toma a
minha boca, em um beijo cheio de sensualidade, não consigo resistir.
Eu me entrego a esse beijo como se dos lábios dele, viesse o ar que
eu preciso respirar.
CAPÍTULO 24

Eu menti para Giuliana. Não havia ninguém na janela nos


vigiando. Usei vergonhosamente essa desculpa para que ela não
fugisse correndo quando eu fosse beijá-la.
Porque por Deus! Eu precisava fazer isso.
Desde que a encontrei no corredor e que descemos para o
jantar. Que a tive em meus braços por alguns minutos, que senti seu
perfume de rosas e toquei sua pele macia... Porra! Eu ansiei por
esse beijo. E se não fizesse isso, passaria a noite em claro, como um
louco sedento por isso.
Só que beijar Gia, não aplaca o meu fogo, pelo contrário, é
como se ela fosse a brasa e eu gasolina.
— Salvattore! — Ela consegue me empurrar enquanto
busca puxar o ar para os seus pulmões.
Eu não estou menos abalado por ela.
— Não faça isso! — Ela passa as costas das mãos pelos
seus lábios inchados — Não tem esse direito.
— Tenho todo o direito. E enquanto estivermos em público,
precisamos demonstrar algum sinal de afeto.
— Por quê? Vamos nos separar em cinco anos.
— Mas nossa família precisa acreditar que tentamos fazer
esse casamento dar certo — passo os dedos em meus cabelos,
tentando encontrar a calma — Ou vão sugerir que continuemos
tentando.
— Eu não sei se isso vai dar certo — ela sussurra.
— Qual o seu problema, Gia?
— Giuliana!
Eu me aproximo dela que vai se afastando até suas costas
baterem em um pilar.
— Medo de mim ou de você mesma? — Passo um dedo
suavemente pelo seu rosto e me delicio com o tremor que causo
nela.
Porque Gia pode me odiar, mas ela também sente uma
grande atração por mim.
— Eu só quero que esse inferno termine logo.
O desespero que vejo em seu olhar, me faz fechar a mão e
recuar. Não sou como Romano. Eu não forço uma garota a ficar
comigo. Elas vêm por desejo e vontade própria.
— Em três semanas vamos nos casar — aviso com frieza
— E você estará livre de mim.
Assumir isso me causa uma sensação esquisita no peito,
mas a enterro com todas as outras emoções que não me permito
sentir.
Para tranquilidade de Giuliana, eu me afasto e deixo-a no
jardim, livre da minha presença desprezível.

***

Matriz D`Luc
No dia seguinte

A organização está estremecida, nosso clã e afiliados


andam ansiosos e nervosos. Ninguém sente a perda de Romano,
mas causa preocupação a eles, o meu irmão ter sido executado bem
diante dos nossos olhos.
Se fosse qualquer outro membro na máfia, mas o filho de
Capo, gera inquietação. Pode dar um sinal de que temos pontos
fracos e todo o restante de nós está desprotegidos.
O que não é bem verdade. O problema é que Romano
extrapolou todos os limites e fez os Conti se arriscarem mais.
Há uma guerra se aproximando. Mais sangrenta e violenta
que vimos em anos.
— Eles vão dar um tempo para que você amargue o luto
Don Lucca — avisa o meu tio — Mas assim que Salvattore se casar
com a menina Ricci, vão construir novos planos contra nós.
Precisamos nos preparar.
— E que conselho tem a me dar, meu irmão?
O papà está cansado, mas não demostra isso a todos que o
observam.
— Deixe que Salvattore assuma, logo após o casamento.
Um murmurinho começa a ecoar pela sala. Todos
concordam com a sugestão do meu tio.
O meu pai já estava pronto para se aposentar. Deixar o
cargo para o seu filho, não é um problema para ele, só que quem
ocuparia o seu lugar era o Romano.
— Salvattore não foi preparado para isso — ele destaca um
fato.
— Com todo o respeito, meu tio — Marco se coloca ao lado
do pai dele — Salvattore não precisava ser preparado. Ele nasceu
para isso.
— Marco tem razão — O Sr. Carbone, um dos membros
mais antigos, importantes e dono de uma conhecida rede de
restaurante vem dar apoio ao meu primo — Venho observando seu
filho mais novo há muito tempo Don Lucca. O garoto tem jeito para o
negócio. Além de que é um sangue fresco.
O mundo muda e a nossa organização também precisa
evoluir. O meu pai sabe disso, ele mesmo fez algumas mudanças
que seu papà foi resistente, mas beneficiou a todos nós.
— Está certo. Logo após o casamento Salvattore assume o
meu lugar. O que mais temo a discutir?
Dessa vez o burburinho em volta é animado. Foi colocado
uma grande responsabilidade sobre mim, mas eu darei orgulho ao
meu papà, principalmente ao nosso clã.
— Finalmente as coisas são como deveriam ser — Marco
se junta a mim e fala apenas para que eu conseguisse ouvir.
Ele nunca escondeu que preferia que eu assumisse a
cadeira do que meu irmão.
— Marco, não foi você que deu o tiro em Romano, foi?
Apesar de ter levado vários tiros no corpo, o legista disse
que o que realmente matou meu irmão, foi um que ele levou na
cabeça.
— Não. Mas eu gostaria de ter sido.
Ele esteve o tempo todo com a Gia. Embora antes de
chegar até a minha casa, Marco pudesse ter facilitado a entrada dos
Conti. Sinceramente, não queria que as mãos dele estivessem sujas
de sangue por isso.
CAPÍTULO 25

O casamento teve que ser reorganizado e devido ao fato de


a família De Lucca ainda estar de luto, só contaremos com presença
dos amigos e familiares mais próximos.
Eu tive que providenciar outro vestido de noiva, e dessa vez
eu escolhi algo que realmente gostasse, um designe mais moderno,
com saia calda de sereia, e que foi bem caro por sinal. Além de dizer
a Salvattore que é ele que deve pagar por todos os gastos com o
casamento.
— Seu pai ainda não está confortável por Salvattore arcar
sozinho com os custos.
Isso porque o papà nem imagina que fui eu a exigir isso. Os
meus pais já haviam gastado uma fortuna com um casamento não
realizado. Eu não acho justo tirar ainda mais dinheiro deles por algo
com prazo de validade para acabar.
— Mas Salvattore insistiu tanto — a mamma coloca uma
das joias de volta ao mostruário que foi enviado a mim para escolher
algumas peças — Ele está tão encantado por você, patatina mia.
Percebi isso no momento que vocês se encontram pela primeira vez.
— Perceberam? — É a primeira vez que desvio a minha
atenção das joias para dar total atenção a mamma.
— Sim. Havia alguma eletricidade. Seu papà e eu ficamos
preocupados. Por causa do Romano — ela faz o sinal da cruz —
Que Deus o tenha. Mas você sabia da fama dele de esquentado.
Esquentado é meu irmão Mattia, Romano era cruel.
— Uma briga entre irmãos por sua causa — ela faz o sinal
da cruz outra vez — Não quero nem pensar nisso.
— Salvattore só foi gentil comigo, mamma. Esquece esse
assunto — volto a observar uma das caixas de joias, enquanto o
meu coração bate disparado em meu peito — Vou ficar com esse
colar e essa pulseira. E também aqueles dois anéis. Hum, e aquele
conjunto de brincos.
— Gia!
Minha mamma fica espantada como não tenho pudor algum
em escolher várias peças e as mais bonitas e caras nos tabuleiros.
Fui ingênua no passado, mas não sou burra. Preciso me
precaver e essas joias são investimentos.
Se Salvattore quer uma esposa troféu, teria que pagar muito
bem para isso. E eu vou ter as joias mais brilhantes, os carros mais
luxuosos e casa mais bonita em Acino. Tudo isso para irritá-lo.
Mas essas peças, não, isso é para o meu futuro, caso eu
precisasse.

***

O casamento
Três semanas depois

Dessa vez a minha família ficou em Acino. O meu pai e


irmãos passaram a maior parte do tempo com Salvattore e o pai
dele, cuidando sobre negócios. A minha mãe me ajudou a
providenciar uma nova decoração, buffet e tudo relacionando ao
cerimonial, visto que a Sra. De Lucca não tinha cabeça para passar
por tudo isso outra vez.
Ela tenta se mostrar animada, mas vejo que a morte de
Romano a abalou muito. Que mãe não ficaria, mesmo ele sendo tão
malvado.
Impressionantemente eu me diverti ajudando a organizar
tudo. Eu via esse casamento bem diferente agora, como mais um
passo para a minha liberdade, mesmo que por cinco anos ainda vá
ficar presa a Salvattore.
Então essa é uma festa para mim. Porque depois que
estivesse divorciada, nem meu papà poderia mais ditar o meu
destino. Isso era o que eu me dizia para explicar tanta empolgação.
Já minha família via isso como se eu estivesse caindo nos
encantos de Salvattore. E ele seguia se mostrando para eles o noivo
maravilhoso que toda garota sonha. Me enchendo de presentes e
atenção quando estamos em público.
Saídas para jantar. Idas ao teatro e corridas de carros que
nossas organizações apoiam. Até havia saído uma foto nossa no
jornal local.
Tudo mentira, embora em cada momento com ele, me sinto
cada vez mais envolvida. Cada abraço, carícia e beijo que me dava
na frente de todos, me deixava mais perdida em relação aos meus
sentimentos por ele.
Odeio. Desprezo Salvattore. Eu tinha que manter isso em
minha mente e coração.
— Está pronta, mia principessa?
Apesar de aceitar o meu destino, não imaginei que fosse
ficar tão nervosa.
— Sim, papà.
Saio da frente do espelho e vou em direção a ele na porta.
— Vai continuar me chamando assim, mesmo depois de
casada? — Indago ao unir o meu braço no dele.
— Sempre será principessa mia, Gia. E a minha filhinha
também.
— Então porque me jogou nas mãos dos De Lucca outra
vez?
Esse não era o momento para falar sobre isso, mas não
consigo dar esse grande passo sem ter uma resposta.
O meu papà para no corredor e gira para ficar de frente a
mim.
— A primeira vez, com Romano — ele pigarreia, antes de
continuar — Foi um acordo feito há muito tempo.
— Mas você o conhecia papà. Sabia como ele era mal —
pisco os meus olhos para evitar as lágrimas.
— Sinceramente, achei que quando se casasse ele fosse
mudar. Isso aconteceu comigo e com Francesco. Mas depois que
soube o que ele tentou fazer com você...
Não quero ter que me lembrar daquele dia justo hoje, mas é
inevitável para essa conversa acontecer.
— Eu não iria deixar que se cassasse com ele depois
daquilo.
— Então por que o Salvattore? Por que me jogou nos lobos
outras vez?
— Salvattore é diferente.
— Papà!
Ele nem quer se casar comigo. Está cumprindo uma
obrigação tanto quanto eu.
— Vai entender isso no futuro, Gia. Só confia no seu papà.
Eu não consigo pensar em ninguém melhor no mundo para cuidar de
você. E hoje estou muito feliz por isso.
Que bom que alguém estivesse feliz com esse casamento.
— Agora vamos. Há um limite que uma noiva deva fazer o
noivo esperar no altar.
Seguimos para o carro, uma luxuosa limusine preta,
cortesia do noivo, claro.
Chegamos à igreja de Acino, uma das mais antigas e
bonitas da Itália. Há uma fila gigantesca de espera que pode durar
até dois anos e não sei como Salvattore conseguiu nos encaixar.
Romano tinha preferido que o nosso casamento fosse celebrado na
casa dos De Lucca.
A marcha nupcial começa a tocar assim que chegamos na
entrada. Caminho lentamente como foi ensaiado e fico aliviada de
meu pai estar ao meu lado me guiando.
Apesar da igreja ser enorme, não há muitos convidados,
mas os que estão presentes deixam claro a felicidade em participar
de um momento tão especial entre os noivos e as famílias.
Olho para Salvattore no altar. Ele está todo de branco. Eu
nunca o vi com cores tão claras. Geralmente ele vai do cinza escuro
ao preto.
É impossível não perceber como ele está lindo. E eu quase
acredito no seu olhar encantado e apaixonado para mim.
— Eu te entrego a minha joia mais preciosa, Salvattore — O
meu pai sussurra quando ele vem de encontro a nós.
— Vou cuidar dela como se fosse a minha própria vida.
Seria tão maravilhoso se essa promessa fosse verdade.
— Você está deslumbrante, Gia.
Todo o resto pode ser falso, mas acredito que sobre isso,
Salvattore está sendo mesmo sincero. Porque mesmo não querendo,
também acho que ele está lindo.
Ele pega a minha mão trêmula, segura firme e seguimos
para o altar, onde nos ajoelhamos nas almofadas.
No início da cerimônia tentei manter em minha mente que
nada do que o padre dizia, poderia ser absorvido por mim, mas
sempre que Salvattore me encarava e sorria, toda a minha
resistência ia por água abaixo. No fim, acabei me emocionando de
verdade, e no fundo do meu coração, tolamente desejando que em
algum momento, nossa relação pudesse ser mais do que um acordo.
Fazemos nossos votos e trocamos as alianças. O padre nos
dá sua bênção final e autoriza Salvattore a me beijar, agora como
sua esposa.
O beijo é diferente. Calmo, suave, mas ao mesmo tempo
incrivelmente perturbador.
Definitivamente não é ódio e desprezo que sinto.
Na saída da igreja somos recepcionados com alegria.
Acreditamos que: “Sposa bagnata, sposa fortunata.”[16]
Então a cerimônia é laureada com uma verdadeira chuva de
arroz sobre nós. Simbolizando votos de fertilidade, riqueza e alegria:
Ninguém pode deixar a igreja sem a certeza de cumprir
esse gesto sagrado.

***
Eu pensei que a parte da igreja seria a mais tensa, mas
quando nós dois entramos no carro, sinto que a parte da festa será
pior. Porque precisamos fingir estrema felicidade. E não sei se
consigo fazer isso.
No dia seguinte vou para a minha casa nova e não tenho
ideia de onde Salvattore irá se enfiar nos próximos anos.
Será o nosso adeus.
— Sorria Giuliana — Salvattore exige assim que chegamos
à mansão dos De Lucca — A sua tormenta acabará em algumas
horas.
Ou talvez ela estivesse apenas começando.
CAPÍTULO 26

A cerimônia de casamento não deveria ter mexido em nada


comigo, foi tudo um acordo, mas me envolveu.
Ver Giuliana entrar tão linda na igreja me sacudiu.
Eu já havia a achado perfeita no vestido de noiva para o
casamento com Romano, mas hoje, no traje elegante e que combina
muito mais com ela, Gia roubou o meu fôlego completamente.
Em cada palavra discursada pelo sacerdote eu só
conseguia pensar que essa linda garota estava se tornando minha.
Na igreja e perante a lei.
Minha Giuliana.
Eu não consegui evitar o sorriso bobo sempre que olhava
para ela.
Gia tinha sentido que foi real tanto quanto foi para mim?
Essa merda fugiu do controle porque ela quis evitar esse
casamento tanto quanto eu.
Não vamos ter um futuro. Dei minha palavra a Giuliana de
dar sua liberdade. É melhor deixar tudo isso de lado.
Só mais algumas horas. Precisamos fingir a todos um
pouco mais e depois seguirmos caminhos separados como deve ser
Se tem uma coisa que um italiano sabe fazer é dar uma boa
festa. Por causa do luto dos meus pais, a nossa não vai durar dias,
mas ainda assim, as pessoas estão bebendo, comendo, dançando e
se divertindo muito.
Nenhuma das tradições ficou de lado como o arroz na saída
da igreja, a fita branca nos carros dos convidados e as buzinas
durante o cortejo e por fim, chegar à recepção comigo cruzando a
porta, com a minha esposa nos braços.
Isso é feito para protegê-la de dos espíritos malignos que
esperam na porta. E minha mamma acredita, verdadeiramente,
nessas tradições.
Tivemos a valsa obrigatória para os noivos, mas o momento
realmente tenso é quando Marco e alguns amigos me desafiam a
tirar Giuliana para um tango.
Por ser uma dança muito sensual, ela está muito presente
entre nós. Enquanto o homem exibi todo o seu poder e
masculinidade, a mulher nos presenteia com sua sensualidade.
— Por que temos que fazer isso? — Giuliana indaga
baixinho quando a arrasto para pista de dança.
Ela não está confortável e eu não estou menos tenso.
— Faz parte do show, tesoro mio.
— É o que é para você? — Seus olhos me encaram em
chamas quando paramos em frente um ao outro — Tudo um jogo.
Estava longe disso. Mas baixar as minhas armas para Gia,
daria um poder a ela que eu nunca havia dado a ninguém.
— E, não é? — Seguro a sua mão, depois a cintura e a
puxo para mim — Não estamos todos fingindo, minha esposa?
Passo suavemente a minha mão por sua coxa e faço sua
perna dobrar e encaixar em mim. Maldita hora que Giuliana havia
tirado a saia mais longa do vestido.
Agora ela está mais sexy e tentadora que nunca.
— Me diz você — seu olhar desafiador me coloca em
chamas — É o especialista nisso.
O tango pode ser uma dança de sedução, ou como no meu
caso com Giuliana, uma briga silenciosa e erótica.
A música começa. Damos início aos primeiros movimentos.
Afasto Giuliana e puxo de volta para os meus braços ao ritmo da
canção. Roçamos os nossos corpos um contra o outro com
movimentos incontrolavelmente sensuais. Eu sou firme, ela é suave.
Eu provoco, ela responde, com seu corpo e olhar desafiador.
Faço-a se curvar até o chão, depois pego uma rosa sobre
uma das mesas e coloco em meus lábios, que Giuliana pega e se
aproxima o suficiente para indicar que vai me beijar, mas isso não
acontece. A rosa é jogada fazendo gritos ecoar pelo salão e eu a
faço pular em meu colo.
Giro com ela assim. As pernas encaixadas em meu quadril,
o seu rosto muito próximo ao meu. Nossas respirações aceleradas e
o desejo estampado em meu rosto.
Então a música termina e eu coloco Giuliana no chão.
A tensão é tão forte entre nós, que se ligassem um isqueiro,
pegaríamos fogo.
— É a hora do buquê!
Alguém grita de algum lugar e nós somos afastados pelas
pessoas.
Eu preciso de ar.
CAPÍTULO 27

O buquê foi dado a grande nova sortuda, o bolo cortado e


todos os discursos foram feitos. Há pessoas bêbadas o suficiente
para não se importarem com a saída dos noivos.
Mas eu me importo porque será a primeira vez que ficarei a
noite toda sozinha em um quarto com um homem, agora, meu
marido.
Hoje ficaremos na mansão dos De Lucca, mas no dia
seguinte serei enviada a minha casa nova. Sozinha.
— Nervosa, Gia?
— Não, mamma — minto, mais uma vez — Você me disse
tudo o que precisava, saber, não é verdade?
Noto-a ficar vermelha como um tomate e não sei isso se
deve a minha noite de núpcias ou se foi por todas as taças de vinho
que ela tomou.
— Eu tentei. Não é fácil ter que dizer algumas coisas a você
sem incentivar sua curiosidade.
O que eu sei, além do que ela me falou e das conversas
que ouvi dos meus irmãos e consegui fuçar na internet é que
Salvattore vai me cobrir com o corpo dele e introduzir seu pênis em
mim, tirando a minha virgindade.
Não há nada espantoso no ato sexual, os animais fazem
isso de forma inibitiva. Ainda assim, em todas as vezes que me toca,
Salvattore me faz tão consciente do meu corpo e das sensações que
me provoca que é assustador. E isso não acontece com qualquer
pessoa porque o irmão dele não me despertava nada, além de asco
e medo.
— O seu pai foi muito gentil comigo — a mamma continua e
me passa o meu robe branco — Sei que Salvattore não será
diferente. Apenas tenha calma e tudo ficará bem.
É o último conselho da mamma antes de me deixar sozinha
no quarto, aguardando o meu marido.
Salvattore surge alguns minutos depois. Ele me devora com
o olhar antes de seguir apressadamente para o banheiro.
Nervosa, caminho de um lado para o outro do quarto.
O que vamos fazer. Esse casamento não é real para nós
dois, mas para todo o restante das nossas famílias é. E ele precisa
ser consumado.
Eu não desejo nenhum outro homem em minha vida, então
essa noite com Salvattore será a única experiência sexual que eu
poderia ter.
Será que consigo?
Fico em tormenta entre tentar bloquear as lembranças do
que Romano me fez e o que esperar de Salvattore.
— Giuliana?
Ele surge no quarto apenas de roupão e calça de pijama,
ambos azul escuro.
— Não tem que ter medo — ele sussurra, vindo
cuidadosamente até mim.
Minha mãe disse que Salvattore seria gentil e se eu fosse
recordar todos os nossos momentos juntos, preciso admitir que
mesmo nos momentos mais apaixonados, ele foi assim. E se há
alguém capaz de me fazer esquecer do ataque do irmão dele, essa
pessoa é Salvattore.
— Não tenho — respiro fundo e me obrigo a começar a
relaxar — Isso precisa ser feito, não é?
Seguro o meu robe com as minhas mãos trêmulas e faço-o
deslizar pelo meu corpo. Os olhos famintos de Salvattore passam por
todo meu corpo e pela camisola delicada.
— Então faça logo.
Eu vejo o desejo em seu rosto. Ele não consegue esconder.
De alguma forma insana, isso me deixa excitada.
Eu não tenho medo.
Definitivamente não é medo que sinto quando Salvattore
estica a mão e passa lentamente os seus dedos pelo meu braço.
— Há outra maneira de fazer isso — seus olhos escurecem.
Vejo aflição nele como ela queima em mim.
— O que quer dizer?
Confusa, observo Salvattore tirar algo prateado do bolso do
pijama. É um canivete bonito. Em seguida ele vai até a cama, estica
o braço sobre o lençol e faz um corte na palma da mão.
— Salvattore!
Encaro-o chocada.
Ninguém irá invadir o nosso quarto na manhã seguinte,
exigindo a comprovação da consumação do casamento e nem da
minha virgindade, mas os lençóis serão analisados no dia seguinte,
pelos nossos pais.
— Eles terão o sinal que desejam ver.
Um falso sinal, como tudo que estamos fazendo até agora.
Falsa felicidade. Falsos votos.
Uma consumação que nunca iria se realizar.
— Prometo que nunca vou tocar em você.
Enfrento seu olhar aflito. Não é isso que ele quer. Não é o
que eu desejo.
— Seja feliz, Giuliana — ele murmura fechando o punho
que começam a ficar manchado com seu sangue.
Atordoada vejo Salvattore sair silenciosamente do quarto,
enquanto as lágrimas descem pelo meu rosto.
Eu deveria me sentir feliz por Salvattore renunciar aos seus
direitos como marido. Mas eu não estava. O meu coração estava
sangrando tanto quanto a mão dele ferida.
O único homem que cogitei entregar o meu corpo puro, não
queria saber de mim.
Nunca me senti tão humilhada.
Ele havia me rejeitado em nossa noite de núpcias.
CAPÍTULO 28

Soco a parede e isso faz a ferida em minha mão sangrar


ainda mais. Eu não me importo com a dor. Fui treinado por anos para
ignorá-la. E é pífia perto da tormenta com que tenho que lidar.
O desejo insano por Giuliana que não foi aplacado.
O meu pau grita pela boceta dela, mas eu sei que tirar a sua
virgindade, não está incluso em nosso acordo. Mas não é só isso, de
alguma forma, sei que se possuísse Gia essa noite como tanto
desejo, eu nunca vou poder deixá-la ir embora.
E se tem algo que nós dois concordamos é que não
queremos esse casamento.
— Salvattore?!
Marco dá um salto gigante da cama, como um gato ficando
em alerta quando abro a porta do seu quarto. A jovem que está com
ele, alguma garota do buffet, percebo ao olhar o uniforme no chão,
me encara, confusa.
— Saia — ordeno a ela.
A mulher não tem o menor pudor ao deslizar
completamente nua, caminhar pelo quarto e pegar suas roupas pelo
chão. Antes sair noto seu olhar cobiçador passar por todo o meu
peito desnudo.
Marco que acompanhou todo o movimento da jovem com
um sorriso satisfeito, apoia as costas na cabeceira e cruza suas
mãos atrás da cabeça em uma postura relaxada.
— Pelo visto a sua noite de núpcias não foi muito boa e
você decidiu estragar a minha de diversão. Estou certo?
Ignoro a sua pergunta e vou direto para a janela. Quando
fugi do quarto que deveria estar dividindo com Giuliana, não há uma
maneira mais honrosa de dizer isso, não tinha em mente vir para cá.
Ainda mais conhecendo Marco. É uma sorte ter apenas uma garota
em seu quarto e não várias.
Nós nos divertimos bastante. Ele tem sorte de ainda ser
livre para fazer o que quer e do jeito dele. Liberdade é o verdadeiro
poder que poucas pessoas sabem apreciar. Marco e eu soubemos
por muitos anos.
— O que foi? A virgenzinha decepcionou o insaciável
Salvattore De Lucca?
Olho duramente para ele.
— Não fale assim sobre a Gia. Ela é minha esposa Marco,
não uma das putas com quem você trepa.
O meu primo sabe quando me tiram do sério e quando as
provocações dele devem parar.
Ele coloca as pernas para fora da cama e busca a sua
carteira de cigarros em cima da mesa de cabeceira.
— Exatamente isso. Agora ela é a sua esposa — ele leva
um cigarro a boca e dá um longo trago fazendo a brasa acender —
Uma jovem bonita e encantadora. Então por que porra você está
aqui?
— Não é um casamento de verdade.
— Como?
Ninguém além de Giuliana sabia sobre o nosso trato. A
menos que ela tivesse revelado o nosso acordo a alguém, o que
duvido muito. As únicas pessoas que eu sei que ela tem contato são
seus pais e irmãos e eu tenho certeza de que nenhum deles tem
conhecimento da nossa farsa.
— Explica isso direito Salvattore. Porque eu vi vocês dois
entrando na igreja, trocando votos e assinando os papéis. Então
como o casamento pode ter sido mentira.
— Para todos vocês, sim, foi mesmo um casamento de
verdade em todos os sentidos. Estamos mesmo unidos perante a lei
e a igreja. Mas tenho um acordo com Gia. Ficamos casados por
cinco anos. E eu vou deixá-la em paz por esse tempo, depois
pedimos o divórcio.
— Que merda é essa Salvattore. O casamento é tão
sagrado quanto a organização.
Marco está certo. Uma vez casado é esperado que o casal
se dando bem ou mal, fiquem juntos até o fim das suas vidas.
— Ela não queria se casar comigo e eu tão pouco me casar
com ela.
— Vocês poderiam ter dito não — ele fala ironicamente.
Encaro-o carregado de ironia.
— Podíamos? Sério? Você sabe o que esse casamento
significa. Precisamos dos Ricci tanto quanto eles precisam de nós.
Essa manhã vou assumir o posto como Capo. E você sabe que as
coisas vão ficar muito ruins.
Marco abandona o cigarro pela metade em um copo com
uísque. As vezes penso que ele só usa o cigarro para não usar a
adaga que está sempre com ele nos casos de tensão.
— Se as famiglias descobrirem isso...
— Ninguém vai saber. Giuliana não vai abrir a boca e nem
você.
Sei que posso confiar em Marco completamente. Ele guarda
segredos meus desde criança, inclusive já foi penalizado por
traquinagens que eu fiz.
— Certo. Me explica melhor como vai funcionar isso.
Assim como vou assumir como Capo, Marco irá herdar do
pai dele o cargo de consigliere. E o trabalho dele comigo já começa
antes mesmo de tudo ser oficializado.
É reconfortante ter alguém que confio cegamente ao meu
lado.
CAPÍTULO 29

Não foi espanto algum em vez de Salvattore, receber Marco


na porta do meu quarto para me levar à casa nova.
Nesse momento Salvattore já deve ter renovado o seu
juramento à organização e recebido o posto mais desejado na máfia
italiana. Como sua esposa, eu deveria estar ao seu lado, mas nem
mesmo para isso o meu precioso marido desejava a minha presença.
Fui confortada essa manhã, na mesa do café, por minha
mãe e sogra que estamos em um clima tenso, que não haverá uma
comemoração como se deve e Salvattore deseja iniciar as reuniões e
trabalho imediatamente. Assim, mesmo sendo um acontecimento
importante, o prédio D`Luc não era um lugar para mulheres.
— Sra. De Lucca — ele me cumprimenta educadamente —
Se estiver pronta, podemos partir imediatamente.
Assinto com a cabeça e dois homens saem de trás de
Marco para entrar em meu quarto e pegar as minhas malas.
É difícil dizer a adeus a Matilde, mas ainda mais a minha
chorosa mãe.
— Venha me visitar em breve Giuliana — pede a minha
sogra com os olhos marejados — E faça Salvattore vir. Aquele ali as
vezes parece que esquece que tem uma mãe.
Mal sabe ela que não tenho qualquer influência sobre o filho
dela.
— E vá para Rifiuti assim que puder, patatina mia — a
mamma pede.
Excluindo a minha viagem a Acino para o casamento, essa
é a primeira vez que ficaremos tanto tempo longe e de forma
definitiva.
Beijo e abraço as duas pela última vez antes de seguir
Marco para a saída.
Um Alfa Romeo vermelho brilhante nos espera do lado de
fora da mansão.
Nós dois nos acomodamos no banco de trás, um segurança
ocupa a direção e outro senta-se ao seu lado.
Escolhi a casa nova através de fotos e vídeos enviados pela
imobiliária. Tanto a residência como a região em volta me atraíram
assim que comecei a olhar as imagens. Fica a uma hora de Acino,
em uma cidade chamada Vergini. Tem esse nome por ser uma região
bastante montanhosa e com uma vegetação espessa.
A casa é toda de madeira e vidro, muito mais vidro do que
madeira, apesar disso, a qualidade do material impede que curiosos
vejam o seu interior e as árvores em volta também ajudam a dar
privacidade. Além disso, o vizinho mais próximo está a quilômetros
de distância, isso que mais me agradou até agora.
Porém, vê-la pessoalmente me deixa ainda mais encantada.
— É linda — digo a Marco assim que ele me ajuda a descer
do carro.
Enquanto os seguranças cuidam dos meus pertences,
decido explorar a casa nova, começando pela área externa.
Além do caminho de pedra para a entrada todo o terreno é
coberto por uma grama bem cuidada e muito verde. Dou a volta na
casa e vejo a piscina em forma de S, a área de lazer e mais ao fundo
uma pequena propriedade que sei pertencer a governanta que vai
trabalhar para mim e ao que me lembre, ela tem uma filha de um
ano.
Também virá duas faxineiras durante a semana, terei
seguranças vigiando a casa e dois pessoais para atender todos os
meus pedidos.
De certa maneira ainda estou em uma prisão, mas é a
minha gaiola dourada e eu serei feliz nela, da forma que eu puder.
— Sra. De Lucca?
Vejo uma jovem ansiosa surgir e ela paralisa assim que
avista Marco atrás de mim.
Ele realmente é um homem intimidante a primeira vista.
— Senhora... — ela continua, nervosa.
A jovem tem uma enorme mancha branca de alguma coisa
na sua camisa azul. Me faz pensar que foi alguma arte da sua filha.
— Só a esperávamos para daqui a duas horas — ela
lamenta, demostrando profunda angústia — Eu deveria recebê-la na
porta...
— Não se preocupe... Cara?
Tive tantas coisas na cabeça nos últimos dias que não me
atentei em memorizar o nome dela.
— Chiara Morelli — ela seca a mão rapidamente no avental
cobrindo sua saia cinza escuro, depois estende-a a mim — Sou a
governanta aos seus serviços.
Chiara é uma linda jovem de cabelos pretos e bonitos olhos
castanhos. Ela tem os traços marcantes de uma típica italiana.
Diferente de mim, que por causa da origem alemã da minha mãe,
herdei os cabelos loiros escuros e olhos azuis.
— É um prazer, Chiara. Espero que nos tornemos boas
amigas — o que eu falo a faz sorrir aliviada — Esse é Marco De
Lucca. Primo do meu marido Salvattore.
A reação de Chiara ao avaliar Marco, é de certa forma
engraçada. Ela mal consegue disfarçar os olhos arregalados e o
receio em ter próximo um homem tão imponente.
— Gos-gos-taria que eu mostrasse a casa, senhora
Salvattore?
Chiara não tem por que temer o Marco. Ele não ficará aqui.
Assim que me deixar devidamente instalada e com garantia de que
vou ficar segura, ele retornará a Acino ao lado de Salvattore.
— Eu adoraria.
Essa casa não é tão grande como a mansão dos De Lucca
em Acino, mas é enorme para mim. Possui quatro suítes no andar de
cima. Uma sala de ginastica. Uma de cinema. Biblioteca. Dois
escritórios. Uma cozinha imensa. Sala de jantar e café da manhã e
sala de visitas.
Tudo do mais moderno e elegante. E Salvattore havia me
dado carta branca para redecorar tudo e um cartão de crédito sem
limites. Não sei ainda se quero mudar algo. Por enquanto gosto do
trabalho que os arquitetos e decoradores fizeram.
Depois que Marco se retira para falar com os seguranças e
conferir pessoalmente todo sistema instalado para me manter
protegida, Chiara se sente mais solta para falar comigo.
Ela é uma moça muito comunicativa e estou feliz de ter um
contato feminino que não fosse a minha mãe, alguma tia ou minha
sogra, além de alguém mais próximo a minha idade.
— Você é jovem para ser governanta.
— Tenho vinte três. O meu falecido marido, trabalhava
como um dos seguranças do senhor De Lucca. O falecido senhor De
Lucca — ela explica rapidamente — Foi um dos que perdeu a vida
na boate. Por isso o emprego foi oferecido a mim.
— Eu sinto muito por sua perda, Chiara — busco a mão
dela para evidenciar os meus sentimentos.
— Não posso dizer o mesmo, senhora — a sua reposta
honesta me pega em choque.
Não importa qual sua posição dentro da máfia, as mulheres
sempre têm o mesmo destino. Servir ao pai, depois ao marido
escolhido por ele.
Ainda é cedo para falar, mas gostei de Chiara. Ela é
espontânea e comunicativa. Acho que vamos nos dar muito bem.
— Você tem uma filha, certo?
— Mia. Está dormindo agora. Apesar do que vê — ela
aponta a camisa manchada — Eu garanto que ela não vai atrapalhar
o meu trabalho e nem a senhora e o seu esposo.
— Não se preocupe com isso. Vou amar conhecê-la quando
puder.
Acho que é o mais perto que vou chegar de um bebê por
toda a minha vida, já que não pretendo me casar outra vez e me
enfiar em uma nova prisão.
— A senhora deve estar com fome. Eu fiz algumas opções
de sucos, dois bolos e uma torta salgada.
Eu não estava, mas a gentileza e cuidado de Chiara me
animam.
Seguimos para cozinha para comermos e iniciar o que eu
espero ser uma longa amizade.

***

Alguns dias depois

Já faz mais de uma semana que estou aqui e para a minha


surpresa, sinto-me feliz.
Posso organizar o meu dia como eu quiser. Normalmente
acordo cedo, tomo café da manhã com Chiara e sua filha. Depois
saio para caminhar um pouco, infelizmente tendo dois seguranças
atrás de mim, mas não me impede de ver a linda paisagem ao redor
da casa. Depois ajudo Chiara a organizar o que precisa ser feito na
casa, mesmo com seus protestos horrorizados. Não é muita coisa,
afinal as faxineiras sempre deixam tudo bem limpo. Leio um pouco.
Vejo algum filme na TV quando consigo arrastar Chiara e a filha dela
comigo.
As vezes passo algumas tardes na piscina nadando ou
apenas tomando sol. Descobri que gosto de cuidar do jardim. Tenho
encomendado muitas mudas pela internet.
Hoje tenho desejo por algo mais com agitação, então decido
que vou na cidade mais próxima comprar algumas coisas da lista de
Chiara.
— Senhora.
Eu mal coloco a mão na maçaneta do carro em um dos
meus seguranças surge.
— Vou ao mercado.
A minha falsa sensação de liberdade me fez esquecer que
cada um dos meus passos é vigiado.
— Eu vou levá-la senhora — ele se coloca ao meu lado e
tenta pegar a chave da minha mão.
— Não vai, não.
A Lamborghini prata foi um presente que Salvattore me deu
de aniversário e mesmo que tenha evitado ao máximo por orgulho,
estou louca para testar o carro novo.
Aprendi a dirigir com Mattia e até tirei a habilitação, porque
uma excelente esposa precisa saber de tudo. Tommaso às vezes me
deixava conduzir a Ferrari dele por pouquíssimos minutos. Mas
nunca tive um automóvel só para mim e nem autorização para usar
os do meu pai e irmãos para passear por aí.
— Senhora. Eu fui ordenado para...
— O que te ordenaram não me importa. Não é o Salvattore
que está aqui. Então você pode ir chorar para ele e dizer que não
conseguiu cumprir a sua missão — abro um sorriso desafiador e
arcar com as consequências disso — Ou pode me seguir do seu
carro e ninguém dirá nada a ninguém.
Ele me encara espantado e eu aproveito da sua surpresa
para pular para dentro do meu carro. Abro o portão da garagem
rapidamente e quando dou o primeiro arranque vejo os seguranças
correrem para o carro deles.
— Urru! — O meu grito animado ecoa pelo carro e meu
sorriso se alarga mais quando pego a estrada e acelero no máximo
do limite permitido.
Isso sim é liberdade.
E tenho cinco anos para sentir o gostinho disso.
Talvez Salvattore não fosse tão ruim como estive pensando.
Quem sabe no final de tudo, pudéssemos ser amigos.
CAPÍTULO 30

Acino
3 anos depois

O fato do meu primo ser um tremendo mulherengo, trás


grandes benefícios a mim.
Ninguém fica abismado com a entrada frequente de
mulheres entrando e saindo do apartamento dele, mas o que
ninguém desconfia é que algumas delas são trazidas para mim.
É assim que tenho alimentado essa necessidade do meu
corpo. Visitando Marco e usando-o para mascarar o pouco que tenho
de uma vida sexual.
Normalmente são trazidas duas garotas, uma para mim e
outra para ele. Já dividimos, mas essa não é a minha praia. Além do
fato que, preciso admitir, nos últimos três anos, não tenho sido o
mesmo homem do passado.
Eu apenas trepo para aliviar a tensão. Muitas vezes nem
dura muito tempo. De alguma forma não consigo me conectar com
essas garotas. Acho que se tivesse comprado uma boneca inflável
seria a mesma coisa.
Tudo isso por causa de Giuliana.
A garota não sai da minha cabeça desde que a deixei
confusa, e chorosa no quarto, apenas em uma camisola sexy, que
me faz ter fantasias loucas com ela, enquanto me masturbo. Esse
sim, são orgasmos que me levam ao mais alto prazer, imaginar o
meu pau fodendo duro a sua boceta intocada.
— Vattene[17]! — ordeno duramente à garota empolgada em
chupar o meu pau — Não estou no clima hoje.
A jovem me encara com espanto. Eu sei que faço o tipo que
agrada as mulheres e deixei muitas felizes no passado.
Observo-a recolher seu roupão no chão e caminhar
silenciosa até a porta. Quando ela sai, pego o meu pau molhado por
seus lábios e começo a 1sfrega-lo.
Lindos olhos azuis vêm a minha mente e o rosto inocente e
mais bonito que já vi.
Lembro de como é beijar Giuliana, senti-la em meus braços.
Tocar sua pele macia. E como somos quentes juntos.
— Gia! — O seu nome vibra em meu lábios enquanto um
orgasmo intenso me faz sacudir.
Com a respiração mais calma, sigo para o banheiro para me
lavar.
Desejar Giuliana e não poder tê-la tem se tornado a minha
obsessão. No primeiro e segundo ano de casamento foi mais fácil
ignorar isso. Havia muito trabalho a fazer. Vingamos a morte de
Romano, executando dois dos filhos de Don Conti. Isso os fez tentar
vir com toda a força contra nós. Houve muito trabalho, mas com
Alessandro, Sul, Norte e Sudeste unidos, resistimos a todos os
ataques.
E se os Conti conseguiram se aliar a Bratva, nós agora
temos acordo com a Máfia irlandesa. Então, no momento nossos
inimigos estão recuados.
Com as coisas mais calmas, nossos rivais sabendo que não
é nada inteligente nos provocar e os negócios em expansão, tenho
mais tempo para pensar em minha esposa.
Recebo semanalmente relatórios sobre cada passo de
Giuliana, mas não a vi e nem falei com ela por todo esse tempo.
Nem mesmo por fotos. Evitei-a completamente e não tenho ideia de
como a minha esposa possa estar agora.
Ainda com o corpo e rosto de menina? Ou havia ganhado
as formas de mulher?
Saio do banheiro tentando ignorar esses questionamentos
quando vejo o meu telefone tocar.
— Papà?
— Salvattore, preciso falar com você imediatamente. Venha
para cá agora.
O meu pai não é de ficar exigindo a minha presença. Assim
que ele percebeu que foi uma grande e acertada decisão me colocar
no poder, recebo mais dos seus elogios do que críticas. Então para
me convocar o assunto só pode ser urgente e familiar.
— Marco!
Escancaro a porta dele e flagro fodendo uma garota contra
a parede.
— Temos que ir.
A jovem choraminga quando ele desliza para fora dela.
— A gente continua outro dia — ele dá um belo tapa no
traseiro dela que faz a garota sorrir.
Pela quantidade das camisinhas usadas que vejo no chão,
constato que eles andavam se divertindo bastante.
— Vista-se. Saímos em cinco minutos.
Ele não faz perguntas. Vou explicar o motivo da urgência no
carro. O que sei, pelo menos.

***

— A sua mãe está com câncer, meu filho. O médico disse


que ela tem boas chances de recuperação, mas você sabe como
essa doença é traiçoeira. É o sonho dela ver os netos chegarem. Já
faz três anos do seu casamento, Salvattore. O problema é com você
ou Giuliana.
— Com nenhum de nós dois — respondo, ainda abalado
pelo que disse sobre a saúde da mamma — Apenas achamos que
não era o momento.
— Pois agora é. Don Ricci também anda perguntando por
isso e há rumores...
— Que rumores?
— Você e a menina Ricci...
Giuliana não é mais uma menina. Não tão menina quanto a
conheci, eu espero.
— Você e sua esposa nunca são vistos em público. Ela vem
nos visitar e a família dela e você nunca está presente.
— Tenho ficado muito ocupado nos últimos anos, cuidando
dos negócios da famiglia.
— Sim. Você, Marco e Alessandro Ricci tem feito um ótimo
trabalho, expandindo e controlando os Conti. Mas não justifica nunca
estar com sua esposa. Tem algum problema filho?
Cedo ou tarde eu sabia que essa merda viria até a gente.
Eu esperava que fosse tarde demais.
— Só preferimos uma vida mais pacata.
— E as mulheres?
Tenho tido o máximo de cuidado para que nenhuma das
mulheres que vou para cama, sejam de conhecimento público.
Começando pelo fato de que nunca repito a mesma garota,
normalmente são profissionais do sexo apenas para atender minhas
necessidades sexuais e sempre uso Marco como escudo.
Mas sempre pode ter alguma desejando mais do que lhe
era prometido.
— São boatos.
— Você sabe cuidar, amar, honrar e ser fiel as nossas
esposas é dos nossos dez mandamentos, não é?
Mas Giuliana não é a minha esposa de verdade. Não como
se deve. Nós nunca consumamos o casamento. Só que meu pai e
ninguém envolvido com a gente, além de Marco, sabem disso.
— Um herdeiro, Salvattore. Isso vai acabar com todos os
boatos e fazer a sua mãe feliz. Além de que pode ser o último desejo
dela.
— Não fale assim, papà, a mamma não vai morrer.
— Só Deus sabe.
— Vocês têm um ano por livre e espontânea vontade para
terem um bebê.
Livre e espontânea vontade?
— Se não acontecer, Nicola e eu vamos interferir de forma
mais dura. Você entendeu?
— Sim, papà.
Eu era o Capo agora, mas sua autoridade como pai ainda
existia e principalmente o meu profundo respeito pelo homem que
me ensinou tudo.
— E aí? — Marco vem ao meu encontro assim que deixo o
escritório do meu pai — Como foi?
— Eu vou ser pai.
Ele se engasga com a fumaça do cigarro e eu dou alguns
tapas em suas costas.
— Como disse? Algumas daquelas putas...
— Com Giuliana.
— Ham? Que parte dessa merda eu perdi? Quando viu sua
esposa e fodeu com ela?
— Ainda não fiz isso Marco. Mas precisamos ter um filho —
escoro na parede, tentando absorver essa nova informação — A
mamma está doente. Gravemente doente e o papà, como também a
família de Giuliana estão nos pressionando.
— Não. Mas... — ele abaixa o tom de voz — Daqui a dois
anos vocês vão se divorciar. Foi o que prometeu a ela.
— Os planos mudaram.
— Cara, você não vê e nem fala com a garota há três anos.
Acha mesmo que do nada ela vai aceitar trepar com você?
— Essa não é a única maneira de termos um filho.
— Porra Salvattore — Marco se apoia na parede ao meu
lado — Você tem cada ideia. Isso não vai funcionar. Mas você não
vai me ouvir, não é?
Tinha que funcionar. Embora eu e Giuliana agíssemos por
todos esses três anos como se o nosso casamento nunca existiu, ele
era real e agora estamos presos em mais uma nova obrigação.
Termos um filho.
Pego o meu telefone e faço a ligação que não fiz nos
últimos três anos.
— Giuliana?
— Salvattore?
A surpresa é inegável em sua voz.
Assim como o meu coração batendo forte pela primeira vez,
depois de tanto tempo.
CAPÍTULO 31

Um dos meus passatempo preferidos na casa e é ficar


brincando com Mia enquanto Chiara se encarrega da cozinha. Como
eu previ nossa amizade apenas cresceu com o decorrer dos anos e
eu sou completamente apaixonada pela garotinha.
— Ela qué toma banho tia, Gia.
Mia me estende uma das suas bonecas, a maioria delas fui
eu que dei para ela, novamente contrariando os pedidos de Chiara
para que não a mimasse tanto.
— O que acha desse vestido?
Estamos no chão da sala com várias das bonecas,
roupinhas e outros brinquedos espalhados pelo carpete.
— Ela qué o rosa.
Não sei exatamente de qual dos vestidos rosas Mia está
falando. Estou prestes a pegar um deles quando o telefone toca.
Quando vejo o nome no visor o meu sangue gela. Tenho
gravado no aparelho o número de Salvattore e de Marco, para uma
questão de emergência, mas nunca contatei nenhum deles que
também jamais me procuraram.
Trocava algumas mensagens com Marco sempre que havia
algum compromisso que eu devesse ir como esposa de Salvattore,
ou para visitar os meus sogros. Fora isso nunca nos encontramos
nesses três anos que estou aqui.
— Pronto.[18]
— Giuliana?
É a voz que a muito tempo não escuto. Ela parece mais
grave agora.
— Nós precisamos conversar.
Foi tudo o que Salvattore me disse antes de encerrar a
ligação.
Depois de tantos anos ele só me dizia três palavras e
desaparecia de novo.
— Vai al diavolo[19]! — Grito ao telefone como se ainda
estive falando com ele.
— Gia?
Vejo Chiara surgir preocupada. Olha para Mia e passo
suavemente mão em seu rostinho redondo para acalmar o seu
medo.
— Você está bem.
Deixo a menina continuar em seu mundo de fantasias com
a boneca e me levanto indo até a mãe dela.
— Salvattore acabou de ligar. Ele disse que precisamos
conversar.
— E?
— Nada. Ele apenas disse temos que conversar e encerrou
a ligação. Não disse quando ou que era.
Começo a andar de um lado a outro, cada vez mais aflita e
ansiosa.
— O que Salvattore quer comigo?
— Talvez queira antecipar o divórcio.
Levou quase um ano para eu contar a Chiara como
realmente era o meu casamento. Nada mais que um acordo entre
mim e Salvattore. Até porque ficava mais fácil justificar a ela o fato
dele nunca vir para casa. Ela é única que sabe sobre isso e devido
ao seu próprio casamento arranjado, me entende.
— Pelo que soube do meu pai, nesses últimos três anos o
seu marido vem tendo sucessos admiráveis.
O pai da Chiara é um membro de primeira elite no clã De
Lucca.
Também fiquei sabendo dos feitos do meu marido através
dos meu pai e irmãos, cuja admiração por ele cresceu e mais
algumas coisas que li nos jornais.
— Acha que pode ser isso?
Ao mesmo tempo que fico feliz em saber que Salvattore
pode finalmente dar a minha liberdade, sinto uma pontada estranha
no peito.
Por todo esse tempo, mantive enterrada tudo o que
Salvattore me fez sentir, com seus beijos, toques, carícias. Mantive
em uma comporta fechada do esquecimento. A possibilidade de
revê-lo faz todas essas lembranças voltarem.
— Os Conti não são mais um problema — diz Chiara.
— Por enquanto. Mas eles sempre serão os nossos
inimigos.
— Mas o Sr. De Lucca sabe lidar com eles.
— Talvez você esteja certa, Chiara — sorrio para ela —
Salvattore vai cumprir a promessa que me fez.
E vou recomeçar a minha vida bem longe daqui. Com
Chiara e Mia. Planejamos ao decorrer desses dois últimos anos
irmos para os Estados Unidos. Onde nenhuma de nossas famiglia e
a organização teriam influência e poder sobre nós.
— Me ajuda a cuidar da mala?
Com certeza Salvattore irá enviar instruções de quando e
com quem devo ir a Acino, já que ele nunca esteve aqui e não viria
agora.
— Logo após nós almoçarmos.

***

Apesar de me agarrar a sugestões de Chiara, que


Salvattore queria me ver apenas para falar do divorcio, eu não
consegui acalmar o meu coração. Chame de sexto sentido ou o que
for, mas algo me diz que alguma coisa está errada.
— Não gostou da pasta, Gia?
Largo o talher onde estive mexendo a massa nos últimos
minutos e encaro Chiara.
— Está excelente. Eu apenas estou nervosa.
— Por que não vai com a Mia para o jardim? Você gosta de
ver o pôr do sol de lá. Talvez isso te acalme um pouco.
— Tem razão. Acho que estou sendo mais dramática do que
devia. Pode guardar meu prato para mais tarde? A pasta está
realmente boa, eu só não consigo comer agora.
Ir para o jardim com Mia foi uma excelente sugestão. A
garotinha é animada, muito falante e adora borboletas.
O único problema é que tenho que ficar correndo atrás dela,
que corre atrás dos insetos. Mas é divertido e logo estamos rindo
muito.
— Giuliana.
Ninguém fala o meu nome como ele. Com uma espécie de
maciez na voz e sensualidade.
Por alguns segundos fico paralisada como uma estátua de
sal.
— Gia?
Começo a me virar lentamente para Salvattore.
Oh, meu Deus!
Como ele conseguiu ficar ainda mais bonito?
Sei que eu mudei muito nos últimos três anos, mas
Salvattore, ele sempre foi lindo, mas agora há um ar ainda mais
maduro nele, tanto na forma que se veste, se porta, como na
aparência. Um homem com todas as letras em maiúsculo.
— O que faz aqui? — Consigo finalmente dizer firme,
apesar de que por dentro estou como gelatina.
Seu olhar fixou em minhas pernas que a saia do vestido mal
conseguia cobrir, depois foi subindo lentamente por meu corpo. Senti
um formigamento quando gastou um pouco mais de tempo
admirando o decote discreto em meu busto.
— Eu disse que nós precisamos conversar.
E eu não imaginei que ele fosse vir até aqui, ainda hoje.
— Mia!
Vejo tanto Chiara quanto Marco surgirem atrás de
Salvattore.
— Vem comigo querida.
O desespero de minha amiga para levar a filha e a
insistência da garotinha em não querer acabar com sua diversão,
nos deixa por um instante concentrados na dupla. Somente quando
Chiara foge para dentro de casa e Marco a segue que toda a
atenção de Salvattore vem para mim.
— Podemos entrar para conversar?
— Aqui está bom — indico um dos vários bancos
espalhados no jardim, embora eu não queira ir para nenhum deles,
mal consigo respirar com Salvattore a minha frente.
Ficar em um ambiente fechado com ele, nem pensar.
— Muito bem — ele leva as mãos aos bolsos da calça e me
encara com uma intensidade ainda mais impactante que antes.
Por que esse homem me abalava tanto apenas com um
olhar?
— O nosso casamento... — ele inicia calmamente.
— Acordo, você quer dizer. Vai antecipar o divórcio?
De novo aquele incômodo no peito, mas dessa vez com
Salvattore em frente a mim, ele é mais intenso.
— Vamos ter que fazer uma adaptação.
Prendo a respiração até que o meu peito comece a arder.
— O que quer dizer com isso? — Indago soltando o ar
pesadamente.
— Nossas famílias estão achando estranhos nunca
estarmos juntos.
— Isso nós já esperávamos. Por isso evito ir, o máximo
possível, em eventos e reuniões.
Mas aniversários e outras datas importantes sempre me
colocavam em saia justa. Eu tive que ter muito jogo de cintura e
frieza para fazer todos acreditarem que meu casamento estava bem
e que Salvattore só era um Capo muito ocupado. E como uma boa
esposa e apoiadora do meu marido era minha obrigação fazer as
presenças sociais em nome dele.
— Não foi tão fácil como imaginei, Gia.
— Sério? — Cruzo os meus braços porque preciso fazer
alguma coisa com as minhas mãos trêmulas.
— Agora eles, nossas famiglias, andam inquietos sobre os
nossos filhos.
Levo um tempo para absorver o que Salvattore me diz,
principalmente o final.
— Não temos filhos.
— É esse o ponto. O meu pai... — ele tira a mão do bolso
aperta a base do nariz — Os nossos pais desejam isso.
— Eles já tiveram o que queriam. Nos casamos. Vamos nos
divorciar e você se casa de novo e tenha dez filhos com outra.
Pensar nisso, imaginar Salvattore com outra mulher,
exibindo-a por aí e enchendo a mansão De Lucca com os filhos dele
me deixa atordoada.
— Eu poderia fazer isso, mas e você? Seus pais também
esperam herdeiros.
— Eles têm Alessandro, Mattia e Tommaso. O nome da
minha família não vai desaparecer por minha causa como você.
— Não é só por isso, Giuliana — diferente da frieza que ele
chegou aqui, vejo angústia em seu olhar — A minha mamma está
doente. Câncer.
A notícia me desmonta. Apesar de conviver menos com
Matilde do que ela gostaria, sempre que vou a Acino fico hospedada
com ela e temos grandes momentos juntas. Ela também já veio me
visitar algumas vezes. Aprendi a amá-la como uma mamma.
— Sinto muito. Salvattore... — encurto a distância entre nós
e coloco a minha mão na dele — Eu sei que ela vai ficar bem.
— O papà disse que o médico acredita que ela tenha
chances, mas nunca se sabe — as mãos dele vem para o meu pulso
e seus dedos começam a descerem pelos meus braços — É um
pedido dela, Giuliana. Ver um neto nascer antes de partir.
Tive uma tia que morreu dessa doença. A irmã mais velha
de minha mãe. Eu tinha nove anos na época e lembro que minha
mãe sofreu muito tanto no tratamento da irmã, como na morte dela.
É muito triste pensar em Matilde enfrentando algo tão difícil.
— Eu amo a sua mãe, Salvattore — murmuro, emocionada,
porque isso é realmente verdade — Mas tem ideia da insanidade que
está sugerindo? Não podemos fazer isso. Nem fizemos desse
casamento real.
— Ouviu o que eu te disse, Giuliana? — Salvattore fechou
os olhos e quando voltou a abri-los, a frieza tomando seu rosto me
deixou apreensiva — Só pensa em você e na sua maldita liberdade?
Isso não é verdade. Eu tinha me casado com ele para
proteger a minha família e manter a aliança com a dele intacta.
— Você não quis esse casamento. Eu também não. E nem
ser o Capo ou ter que vingar a morte de Romano. Mas eu cumpri
com todas as minhas obrigações.
OK. Preciso admitir. Nós dois fizemos coisas que não
escolhemos.
— A única vez que não fiz o que deveria — ele segura mais
firme o meu braço e os nossos rostos se aproximam mais —
Chegamos a isso. Acho que está na hora de mudar.
Com isso, Salvatore segura firme o meu rosto e sua boca
cobre a minha.
O meu primeiro pensamento é resistir ao beijo, lutar,
mordendo os lábios dele, mas assim que abro a minha boca,
Salvattore enfia sua língua dentro da minha boca e o beijo torna-se
quente e cheio de luxuria.
Eu não deveria me derreter em seus braços, mas é
justamente isso que estou fazendo.
É como se todas essas horas, dias, meses e anos, nunca
tivessem passado e nós voltássemos àquele momento que nos
beijamos pela última vez.
— Gia... — ele esfrega o nariz pelo meu rosto e o carinho
me deixa ainda mais zonza e embriagada por ele — Você ainda tem
cheiro de rosas.
A voz suave e rouca de Salvattore, suas mãos prendendo
firme a minha bunda enquanto me puxam mais para si, o calor da
sua respiração e o perfume que nunca fui capaz de esquecer me
desnorteiam.
— Vai dar certo, tesoro mio.
A declaração carinhosa em vez de me amansar como
Salvattore espera, me desperta para a realidade.
— Confie em mim.
Confiar?
— Você me deu a sua palavra e está quebrando. Como me
pede para confiar outra vez?
Empurro-o para longe de mim.
Nenhum de Lucca é digno de confiança.
— Pense que é só uma mudança nos planos, cara mia. Um
filho vai deixar nossas famiglias calmas mesmo após o divórcio que
você tanto quer.
— E depois? E se eu tiver uma menina? Será outro filho e
outro...
E nunca estarei livre. Acho que nunca fui. Apenas me iludi
com essa ideia. Salvattore me manteve aqui, apenas até precisar dar
o próximo passo.
— Os meus pais tiveram dois meninos. E os seus três antes
de você.
O que ele não sabe é que minha mãe perdeu dois bebês
até conseguir me gerar e a famiglia poder cumprir o acordo com a
dele.
— De qualquer forma não importa o sexo da criança.
Importa, sim. Um menino possivelmente vai ocupar o lugar
dele como Capo no futuro, mas uma menina seria usada como
moeda de troca. Como eu fui.
— Vamos ter um filho e você vai me deixar ir embora com
ele?
A frieza que Salvattore me dá a resposta que eu preciso.
— A criança fica comigo.
Em que mundo ele acredita que abandonaria o meu bebê
sem olhar para trás?
— Não. Nós não vamos ter um filho, Salvattore.
Nos enfrentamos com o olhar. É insanidade enfrentar e
desafiar a pessoa mais importante na máfia, mas eu não tenho mais
nada a perder.
— Achei que Romano fosse a pior pessoa que eu conheci.
Mas pelo menos, ele era honesto nas suas intenções.
O meu desabafo furioso, principalmente citar o irmão dele,
faz Salvattore virar uma fera.
— Se eu fosse como ele... — seus dedos cravam firme em
meus ombros — A levaria para o quarto e só sairia de lá com o meu
filho em seu ventre.
Porque Romano tomava o que ele queria, não importava
como.
Eu sei bem disso.
— Mas não é assim que eu ajo. Eu não preciso forçar uma
mulher.
Os seus dedos agora fazem pequenas carícias em minha
pele.
— A sua boceta é minha, Gia — ele diz isso com um sorriso
predatório.
Como podemos ficar nessa montanha russa de brigas e
sedução de um segundo a outro?
— Maas você virá a mim, Giuliana. Por vontade própria — a
certeza com que ele diz isso, quando encosta seus lábios em minha
orelha, me faz estremecer — E vai implorar para eu foder a sua
boceta até você desmaiar.
O meu coração dispara e sinto uma inquietação entre as
minhas pernas. Mas não vou me render.
— Nunca. Nosso casamento vai durar eternamente De
Lucca. Mas nunca vou te implorar por nada.
Ele sorri. De um jeito convencido e arrogante.
— Veremos.
Observo-o se afastar e quando some em direção a casa,
busco o banco mais próximo para sustentar as minhas pernas
trêmulas.
Salvattore está de volta a minha vida, colocando em ruína o
meu mundo perfeito.
Só me resta uma coisa a fazer agora.
Porque eu nunca vou implorar que ele me toque. Nunca vou
ter um filho dele.
Eu preciso fugir.
CAPÍTULO 32

Nada saiu como eu havia imaginado.


Eu estava convicto que Giuliana entenderia a nova situação,
que ouviria a minha nova proposta que beneficiária novamente a nós
dois.
Termos um filho para acalmar nossas famiglias, e, nem
precisava ser da forma natural. Até estava disposto sugerir
dividirmos a guarda após o divórcio.
Só que assim que cheguei no jardim, que vi Giuliana tão
solta, feliz e linda, brincando com a garotinha. Que percebi que a
tímida garota havia se transformado em uma mulher deslumbrante,
todos os planos foram para o espaço.
Eu não quero um filho em laboratório. Desejo ter Giuliana
em minha cama e fazermos isso de forma natural.
Ela é minha esposa, na igreja e perante a lei. Já está na
hora de reivindicar o que é meu.
Não vai ser fácil fazer a cabeça dura enxergar que tornar
real nosso casamento é o melhor acordo entre nós. Não foi apenas
fisicamente que Giuliana mudou. Antes ela já tinha um pouco de
coragem e agora tem confiança. E para o meu espanto isso me
excita. Uma italiana de sangue quente.
Há muito tempo que não tenho isso. A conquista. E apesar
da raiva que Gia me causou, começo a ficar mais empolgado.
Por que, sim. Ainda temos a atração que nos faz pegar fogo
e minha esposa vai implorar para me ter entre as suas pernas,
gozando e gritando o meu nome.
Tenho que ajeitar algumas coisas e preciso da ajuda de
Marco para isso.
Vou a procura dele na casa. Uma conversa tensa vinda da
cozinha me faz ir para lá.
— Devolve a minha filha.
A cena é interessante. De um lado a governanta com uma
faca na mão apontada para Marco. E ele do outro lado da mesa,
mantendo a filha dela no colo. A garotinha parece não ter noção
alguma da guerra acontecendo em volta dela. Está mais interessada
em cutucar com os dedos uma das várias tatuagens do meu primo.
— Abaixa isso — ele diz calmamente — Ninguém aqui quer
se machucar.
Embora a mulher esteja segurando uma faca enorme,
Marco é especialista em manuseá-las. Enquanto eu ando armado,
ele tem apenas duas adagas afiadas, uma na cintura e outra no
coturno preto.
— Já disse para soltar ela! — A jovem exige outra vez e
vejo que está prestes a derramar as lágrimas.
— Foi a garota que veio até mim.
Eu tenho mais a me preocupar, do que seja lá o que Marco
esteja fazendo com a governanta.
— Larga a menina, Marco.
A atenção dos dois vem até mim.
O meu primo me encara. Por um segundo penso que essa
será a primeira vez que ele irá me enfrentar, desobedecendo uma
ordem.
Que merda está havendo com ele?
— Vai lá pequena — ele finalmente coloca a menina no
chão que abre um sorriso enorme para ele — Vá com a mamma.
Parece que a criança não tem um pingo de medo do
tamanho dele, músculos e nem as tatuagens cobrindo quase todo o
seu corpo.
— Temos que conversar — aviso e faço um sinal para que
ele me siga para fora — Por que está atormentando a governanta?
— Eu não estava fazendo isso. Já disse que a menina veio
até mim.
— Nunca te vi com crianças. Por que agora?
Apesar de nunca ter vindo aqui antes, sei onde ficam todos
os cômodos que existem na casa e guio Marco para um escritório.
— Você vai ter um filho.
— Justamente, eu. E vai ser muito mais difícil conseguir
isso do que pensei. Portanto, para de provocar a empregada.
— Isso vai ser difícil.
Ele abre um daqueles sorrisos encapetados de quando
éramos crianças prestes a aprontar alguma coisa.
Eu não tenho tempo para Marco e suas idiotices.
— Como foi com Giuliana?
Ele entra no assunto que realmente me importa.
— Ela não lidou bem.
— Falei que isso não iria funcionar. O que vai fazer agora?
— A única coisa que me resta, Marco. Seduzir a minha
esposa.
CAPÍTULO 33

Pelo visto eu não sou a única pessoa fora de mim nessa


casa, por causa das visitas inesperadas. Quando chego a cozinha
encontro Chiara possessa, batendo as gavetas e portas dos armários
de onde ela não tira nada.
— Sei una busta di piscio[20]! — Ela bate uma outra porta e
Mia usa uma das gavetas para dançar.
Crianças italianas aprendem a viver com o caos desde
muito cedo. Não é à toa que somos conhecidos por um dos povos
mais barulhentos. Nós falamos com a boca e com as mãos também.
— Porca miséria![21]
— Chiara?
Sua guerra particular finalmente abranda quando ela me vê
entrar na cozinha.
— Gia. Que bom. Falou com o Sr. De Lucca, certo? Quando
vamos poder ir embora?
Caminho desanimada até uma das banquetas altas no
balcão de mármore.
— Não vamos. Pelo menos não como planejamos.
— O que quer dizer?
— Salvattore não veio me dar o divórcio. Quebrou a palavra
dele. Ele quer um filho.
— Bastardo! — Ela vem até mim e pega a minha mão em
apoio — Nenhum homem é digno de confiança. Todos mentem. O
que vai fazer agora, Gia?
Olho para os lados. Não vejo sinais de que Salvattore esteja
pela casa, mas não posso me arriscar.
— Vamos até o meu quarto.
Quando chegamos, tenho o cuidado de trancar a porta.
Assim que Chiara se acomoda na cama com Mia, vou até o closet e
tiro uma caixa de couro de dentro dele.
Ao me juntar a elas, espalho algumas das joias sobre a
cama.
— Toda vez que fui a Acino. Exigi que Salvattore me desse
uma joia nova.
Também tiro um envelope gordo de dentro da caixa com
maços de dinheiro.
— Já vendi algumas. Eu me preparei, Chiara.
— Caramba, Giuliana — Ela pega um dos colares e Mia
ataca os brincos para brincar — Você tem essa carinha, mas de
sonsa não tem nada.
— Cresci com quatro homens. Nenhuma mulher consegue
ser sonsa assim.
Embora nesse momento, eu me sinta muito idiota por ter
acreditado em Salvattore.
— Eu vou fugir Chiara.
— Fugir? Gia, ninguém deixa a organização. Só com a
morte...
Mordo o meu lábio. Eu sei que não será algo fácil. Serão
duas famiglias de mafiosos me caçando para castigar, os De Lucca e
os Ricci.
— Está ouvindo o que estou dizendo? Ninguém saí da
máfia vivo. Ou morre de alguma forma ou é morto.
— Vou para os Estados Unidos. Salvattore ou a famiglia não
vão poder fazer nada de lá.
— Você realmente conhece o mundo que vivemos? Temos
gente nossa em todos os lugares. Inclusive nos Estados Unidos, há
membros cuidando dos negócios de lá. Você seria facilmente
achada.
— Bom, eu posso mudar de nome. Tenho dinheiro para
isso. Entendo que não queira ir comigo — olho carinhosamente para
a filha dela — Por causa da Mia.
Eu tenho tanto amor por essa criança, que é como se fosse
minha filha. Então, entendo Chiara não cogitar colocar a vida dela
em risco.
— Mas se algum dia mudar de ideia, vou receber vocês
onde eu estiver.
— Gia — ela me encara angustiada — Isso não vai dar
certo.
— Preciso tentar, Chiara. Salvattore quebrou a promessa
uma vez. Como posso ter certeza de que não fará isso de novo? E
se tivermos um filho? Se for uma menina? Ela terá o mesmo destino
que nós duas? Não posso permitir isso.
Olhamos para Mia. Nós juramos que a garotinha nunca teria
que passar pelo que nós duas passamos.

***

Algumas horas depois

Faz uns cinco minutos que Marco esteve no meu quarto


pela terceira vez, avisando que Salvattore me espera para o jantar.
A minha resposta foi a mesma. Prefiro ingerir veneno a
jantar com o meu marido.
Só que não fui inteligente o suficiente ao tomar essa
decisão, sem ter trazido para o quarto alguma bobagem para
beliscar. Eu não tinha almoçado direito e comido nada desde que
Salvattore chegou, o meu estômago está queimando de fome.
Agora teria que esperar até a madrugada para roubar
alguma coisa na cozinha.
Maldito Salvattore!
— Giuliana!
A porta é aberta com um estrondo, que me faz saltar na
cama.
— Sai do meu quarto, Salvattore.
— Estou esperando você para o jantar tem uns vinte
minutos.
E ninguém faz o capo esperar.
— Você não sabe o que é um, não? Posso falar em três
línguas diferentes para você entender.
Ele respira fundo e esfrega o rosto com a mão. Salvattore
está no limite.
— Ainda tem dezessete anos por acaso? Desça,
imediatamente!
— Eu não vou! — digo, rispidamente.
Salvattore pode pensar que é o meu dono, mas não é.
— Você pediu isso.
Chocada, o vejo invadir o quarto e vir apressadamente até
mim. Tento escapar deslizando pela cama para chegar do outro lado,
mas Salvattore consegue agarrar os meus tornozelos e ele me puxa
como se eu não pesasse mais do que um travesseiro.
— Salvattore! — Sacudo as minhas pernas e bato as costas
dele quando sou jogada em seus ombros — Me coloca no chão.
Ele ignora todos os meus pedidos e segue me levando para
fora do quarto. Nessa posição só consigo ver seus sapatos, pernas
grossas e que ele tem um bumbum bem redondo.
Droga!
Eu tenho que ficar furiosa com ele e não admirar a sua
bunda.
Que é linda, por sinal.
— Cesso!
Continuo a xingar, mas nada abala o todo poderoso Capo.
Quando chegamos a sala de jantar, finalmente estou
calada.
Salvattore me coloca no chão e indica uma cadeira.
Permaneço como uma estátua de sal no lugar.
— Senta! — Ele ordena colocando as mãos na cintura.
Há algo perigoso em seu olhar. Tanta autoridade que me faz
ir até a cadeira.
Pego esse momento que nos acomodamos para olhar em
volta.
Em vez da iluminação normal, a maior parte da sala está
clareada por velas, tanto na mesa como em alguns outros pontos
estratégicos.
Também tem um lindo vaso com rosas vermelhas. E há um
balde com champanhe e gelo.
Um jantar romântico, sem dúvida.
Chiara surge logo depois. Ela trás um carrinho com a
refeição e silenciosamente começa a nos servir. Noto também que
ela evita o meu olhar.
Estou como um vulcão prestes a entrar em erupção. Minha
vontade é jogar a comida e o prato na cara de Salvattore.
— Sua amiga teve a gentiliza de preparar um excelente
jantar para nós dois.
— Não tenho fome.
Para provar a minha mentira, o meu estômago traidor
escolhe esse momento para se manifestar.
Salvattore sorri. Odiosamente é um sorriso que o deixa
ainda mais lindo.
— Coma Giuliana.
Outra ordem.
Agarro o garfo e a faca com fúria. Na primeira garfada e que
provo o risoto de Chiara, minha birra desaparece. Eu começo a
atacar a comida como se tivesse passado semanas sem comer. Já
nem me importa Salvattore e o fato de mais uma vez ele ter
conseguido o que queria.
Comi e bebi tanto que não achei que haveria espaço para a
sobremesa, mas assim que o doce chega, não consigo resistir pegar
pelo menos um pequeno pedaço.
Quando finalizo, olho para Salvattore que não esconde que
esteve me observando e se divertindo com isso.
Sinto o meu rosto ficar vermelho. Para um jantar romântico
eu parecia uma andarilha que ele havia pegado na rua e oferecido
uma ceia de Natal.
Não importa. Eu não queria parecer sexy e nem participar
do seu jogo ridículo de sedução.
— Já terminei — aviso limpando a minha boca com o
guardanapo e dou mais um gole no vinho antes de ficar em pé —
Boa noite, Salvattore.
Antes que eu contorne a mesa, ele vem até mim.
— Ainda não Gia.
— Já disse que é Giuliana.
Salvattore ignora a minha observação e busca a minha
mão, me conduzindo para a outra sala.
Tem uma música tocando.
Eu desconfio o que Salvattore pretende e quando ele coloca
suas mãos em minha cintura, puxando-me para ele, não consigo
resistir.
Giorgia é uma das minhas cantoras preferidas e Como
Saprei é um clássico. Ouvindo a letra, penso em como ela combina
tanto com Salvattore.
Pensando nisso, me deixo envolver pela canção e por estar
em seus braços.
Ele me encaixa melhor em seu corpo. A minha cabeça fica
entre seu queixo e pescoço.
O seu perfume é tão bom.
Droga! Deve ser culpa do vinho. Eu não deveria ter bebido
mais do que uma taça.
Solto um suspiro involuntário quando Salvattore começa a
passar a mão pelas minhas costas. E quando ele a pousa em minha
bunda, fazendo uma leve carícia, estremeço.
Sinto o volume entre nós e levanto a cabeça para encontrar
o olhar de Salvattore.
— Amore mio[22] — Salvattore sussurra com uma doçura no
olhar, que nunca tinha visto nele antes.
Ele passa gentilmente a ponta dos dedos em minha
bochecha e o carinho me faz fechar os olhos.
Ele não toma a minha boca de imediato. Primeiro desliza
um lado do seu rosto pelo meu. Inspira fundo para absorver o meu
perfume, depois esfrega os seus lábios nos meus.
— Salvattore... agarro a camisa dele porque preciso de
apoio para os meus joelhos fracos.
— Diga, amore mio — ele sussurra em meus lábios
entreabertos — Peça, Gia.
Eu não quero dizer e provar mais uma vez que Salvattore
estava certo. Contudo, todo o meu corpo grita por isso. É como se eu
não fosse dona das minhas vontades.
— Me beija logo.
CAPÍTULO 34

É claro que Giuliana não iria pedir pelo beijo da forma


esperada, mas já era um bom começo. Até porque se ela não tivesse
feito isso, logo, eu que estaria de joelhos implorando por isso.
Os lábios de Giuliana são doces como mel e macios como
um travesseiro de plumas. Mas o corpo dela, esse sim faz o meu
corpo inteiro pegar fogo.
O nosso beijo é ardente como na maioria das vezes.
Rapidamente tenho as minhas mãos querendo e explorando cada
pedacinho do seu corpo cheio de curvas.
Gia me deixa maluco!
Nenhuma outra mulher já teve tanto poder sobre mim como
ela tem. Talvez seja o fato que sempre estamos nessa corda bamba,
indo ao limite sem chegarmos as vidas de fato.
Porra. Isso está me enlouquecendo.
Mas preciso ir com calma. Não é apenas o meu anseio
louco de afundar o meu pau em sua boceta virgem. Eu tenho que
conquistar Giuliana. Fazer com que ela confie em mim e
principalmente, assim como o beijo, que ela me peça para fodê-la.
Não quero choro, nem arrependimentos no dia seguinte.
Quando eu trepar com ela, precisa desejar tanto quanto eu. E
implorar por mais.
— Salvattore...
Ela estremece em meus braços quando amasso o seio dela
e brinco com o mamilo, deixando-o duro.
Beijo o seu queixo, pescoço, pressiono mais a minha mão
em sua bunda, fazendo-a notar como está me deixando excitado.
Busco sua boca outra vez com mais paixão.
— Você sabe o que quer — esfrego meu quadril contra o
dela — Peça, Gia.
Não há nada em mim que não denuncie o quanto eu a
desejo. Desde o meu olhar faminto até minhas mãos a tocando.
Parte disso a excita, mas vejo que a outra a deixa
assustada. Pelo que ela sente. O que eu provoco e que fica cada vez
mais difícil nós dois lutarmos contra essa atração.
— Não!
Não há realmente firmeza em sua voz, mas quando
Giuliana tenta me afastar, eu permito.
Quando planejei o jantar romântico, algo que nunca fiz por
qualquer garota, sabia que não seria fácil. Apesar de Giuliana dar os
primeiros passos para quebrar suas resistências.
Vale a pena lutar por ela. Posso passar a minha vida inteira
fazendo isso.
— Não vai funcionar Salvattore.
— Exatamente o quê? — Sorrio, levando a minha mão ao
bolso, quando na verdade desejo puxá-la de volta para os meus
braços.
— Seus joguinhos. Eu não vou cair nisso.
É uma questão de tempo. Gia me deseja tanto quanto eu
estou ardendo por ela. Mas já puxei demais a corda por hoje. Quero
atraí-la e não criar um campo de guerra entre nós.
— Continue dizendo isso, Gia — provoco enquanto a vejo ir
em direção a escada — Mas nunca vai conseguir se convencer.
Deixo que ela suba e vou até o bar pegar uma bebida mais
forte que o vinho que tomamos. Se o inferno não for algo que vivo
nesse momento, então não imagino como deve ser.
Depois de tomar a dose da bebida com apenas dois goles,
também subo para o quarto. Fui instalado ao lado do de Gia e assim
visto o meu robe, penso no absurdo dessa situação.
Pego o kit de barbear e a escova dentes no banheiro e sigo
para a suíte ao lado. As roupas mandarei que mudem de quarto no
dia seguinte.
A porta não está trancada.
Tolice de Giuliana ou ela deixou aberta de maneira
inconsciente.
Há um livro na cama indicando que ela pretende ler antes
de dormir e eu ouço o som do chuveiro no quarto.
Gosto do lado esquerdo, então deixo o lado direito da cama
para ela, exatamente onde o livro está.
— Salvattore?
— Amore, mio.
Avalio seu corpo escultural enrolado na toalha branca sem
nenhum um pingo de pudor.
Porra, como ela é gostosa.
— O que faz aqui?
— É o quarto da minha esposa.
— Exatamente. O meu quarto.
— Nosso, daqui por diante.
— Você não pode dormir aqui.
Apenas me estico na cama e levo um dos braços atrás da
cabeça como resposta. Não me passa despercebido o olhar
cobiçador de Giuliana ao ver o meu peito nu.
— Se você não sair, eu saio.
— Então vou ser obrigado a arrastá-la de volta como fiz no
jantar.
Ela me encara com fúria e sabe que não estou blefando
sobre isso.
— Do que tem medo, Giuliana? De mim ou de você? Eu
aposto que é a segunda opção.
— Você é patético.
Ela pega a escova de cabelo e o robe em cima da poltrona
e retorna marchando até o banheiro.
Respiro fundo. Achei que seria uma guerra mais acalorada.
Giuliana vai ceder. E o meu pau já duro, apenas com a
visão dela na toalha branca, anseia por isso.
Folheio o livro dela quando ela retorna.
— Por que as mulheres gostam disso?
Acho que primeiramente ele pretende me ignorar. Suas
bochechas ficando rosadas indicam que a deixei tímida.
— Sonhamos com o que não podemos ter.
Olho tanto para capa, como para a sinopse que estive
lendo.
— E você quer um fazendeiro rico que a faça ter noites
quentes de paixão?
Tanto a minha pergunta como meu sorriso provocativo a faz
ficar lívida comigo.
— Idiota!
Gia arranca o livro das minhas mãos e joga na mesinha ao
seu lado da cama. Depois ela apaga a luz, deita-se de lado, dando
as costas para mim e desliga o abajur.
Minha vinda até aqui, foi claramente para provocar Giuliana.
Bom, o feitiço virou contra o feiticeiro. Porque não está sendo nada
fácil ouvi-la se remexer na cama, sentir o seu perfume gostoso e
saber que está tão perto de mim e não posso tocá-la.
Porra. O meu pau está tão duro que ele pode rachar.
São três anos fantasiando com Giuliana, buscando em
outras o que só sinto por ela. Talvez no final disso tudo, seja eu que
acabe enlouquecendo.
— Salvattore?
Afasto mais as cobertas e busco sua silhueta no escuro.
— O que está fazendo? — A pergunta sussurrada faz o
movimento das minhas mão aumentarem.
— Tenho que dar um jeito nisso, Gia — murmuro de volta
com rouquidão — Sono follemente innamorato.[23]
Desde a primeira vez que a vi. Eu não consigo tirá-la do
meu sistema.
Apenas escuto sua respiração acelerando e os meus dedos
esfregam mais rápido o meu pau. Giuliana me leva a coisas que
nunca imaginei.
Ela bagunça completamente o meu mundo.
— Gia...
Tê-la junto comigo dessa vez, ouvindo sua respiração mais
pesada, sentir o calor do seu corpo chegando ao meu e seu perfume
que sempre me inebria, torna muito mais intenso do que todas as
vezes que apenas fantasie com ela.
— Porra! — Solto um grunhido quando a minha porra jorra
em jatos quentes.
Esse foi o melhor sexo com ela, sem ela, que já tive.
Então vejo o movimento na cama. Giuliana abrir e bater a
porta atrás ela dela antes de fugir do quarto.
Que droga!
CAPÍTULO 35

Eu não consigo acreditar que Salvattore teve a ousadia de


fazer aquilo bem na minha frente. Mesmo com a luz apagada, tendo
apenas algumas frestas de iluminação vindo da janela, era
impossível ignorar os movimentos dele na cama e seus gemidos.
Mas isso não foi o pior. O problema é que vislumbrar
Salvattore se masturbando, dizendo o meu nome, me deixou com
calor.
Quando ele gozou gritando por mim, foi o limite. Tive que
sair do quarto. O meu corpo ainda está em chamas.
Maldito Salvattore!
Ele quer me enlouquecer.
— Bastardo! — Enfureço, abrindo a geladeira com força.
A garrafa de água não é suficiente para me acalmar. Então
pego uma pedra de gelo. Eu passo por minha testa, nariz, nos meus
lábios formigando, desço pelo meu pescoço, chego no vão entre os
meus seios.
Em cada segundo imagino que eram os dedos de Salvattore
em minha pele. Isso me causa uma sensação gostosa e estranha
entre as minhas pernas.
— Porra, Giuliana!
A voz furiosa de Salvattore me faz abrir os meus olhos.
Ele está bem na minha frente. Os seus olhos passeiam do
gelo derretendo em meus dedos para o meu corpo e eu apoio braço
no peito para esconder os mamilos ficando duros.
Salvattore me faz pensar que eu sou o cordeirinho perdido
na floresta e ele o lobo querendo me devorar.
— Eu estava com calor.
Há tensão entre nós.
Um tanto ousada, deixo que o gelo escorregue para dentro
do decote da camisola. Salvatore tem uma expressão de tortura.
Ele dá dois longos passos até mim. Segura os meus braços
com firmeza e me pressiona contra a porta fria da geladeira. Com o
movimento brusco, o gelo escorrega mais por dentro da camisola e
eu solto um gemido.
Os lábios de Salvattore agora estão a milímetros dos meus.
—Você gosta de me provocar? — A voz dele é rouca e
muito sexy.
— Não fui eu que comecei esse jogo, Salvattore.
Ele abre um sorriso predatório que me faz estremecer.
Depois ele se afasta, apenas o suficiente para pegar um dos gelos
que eu havia separado e coloca na boca.
Quando Salvattore retorna a mim, suas intenções são bem
claras.
Eu quero fugir.
Devo fugir.
Mas não faço isso.
Então ele afasta os meus cabelos caindo nos meus ombros
e se inclina para começar a deslizar com a boca, a pedra de gelo em
minha pele.
E enquanto ele me tortura com o gelo, suas mãos passeiam
pelo meu corpo.
Fogo e gelo.
É isso que Salvattore faz comigo.
Em uma tortura gostosa e tão cheia de sensualidade, que
não leva muito tempo para estar me contorcendo e gemendo em
seus braços.
Atordoada, vejo-o se ajoelhar. Ele mastiga o pequeno
pedaço de gelo, sem desviar o olhar de mim. A forma como seus
lábios se movimenta e que ele passa a língua por eles depois, é
muito sexy.
Então ele afasta as minhas pernas. Faz um dos meus
joelhos dobrarem e o coloca em seu ombro. Ele afasta mais a saia
da camisola até ter a minha calcinha rendada descoberta.
Salvattore estica o seu braço para pegar outra pedra de
gelo e começa a deslizá-la por minha coxa.
Fecho os meus olhos deliciada. A minha respiração está
pesada e só consigo ficar aqui, entregue. Para Salvattore fazer o que
quiser comigo. E tudo o que ele faz é muito bom.
A tortura deliciosa com o gelo segue até tocar a minha
calcinha. Então Salvatore para e me faz abrir os olhos.
— Quer que eu pare, Gia?
Há provocação no seu sorriso.
Que pergunta idiota. Mas ele não vai continuar sem uma
resposta.
— Não — custo a dizer isso, mas me aflige mais dizer o
contrário.
O gelo passa novamente por cima da calcinha e a água
gelada toca a minha pele, fazendo a minha boceta se contrair.
— Então fale.
Salvattore prometeu que me faria implorar por isso, eu só
não tinha ideia de que seria tão rápido.
— Fale Gia.
Não sinto que seja uma ordem. É como se Salvattore
também implorasse para que eu dissesse o que ele precisa ouvir e
isso me deixa mais confiante.
— Continua, por favor.
Posso estar pedindo, mas ele está ansioso para me dar o
que eu quero.
Após um grunhido vejo-o agarrar a minha calcinha com as
duas mãos e o barulho delas sendo rasgada une-se ao som das
nossas respirações pesadas.
— Ah! — gemo alto quando Salvattore passa o gelo por
toda a minha vulva e depois de deixá-la molhada, cobre-a com sua
boca.
O que é isso, meu senhor!
Sua boca grande e má, me devora, faminta. Ele me chupa e
lambe. Os seus dentes mordem o nervo ficando duro da minha
boceta e isso me causa um prazer de enfraquecer minhas pernas.
— Salvattore!
O que ele faz comigo?
Ele continua a me chupar e levo a minha mão à sua cabeça.
O prazer vai crescendo tanto que movo o meu quadril junto com o
rosto dele e Salvattore segura firma a minha bunda.
Suas lambidas são tão implacáveis que alguns segundos
depois, a minha mente parece explodir de prazer, fazendo a minha
boceta pulsar ainda mais forte e todo o meu corpo estremece.
O orgasmo, o primeiro da minha vida, me faz perder as
forças, um instante antes desabar no chão, Salvattore me pega.
Languida, eu não consigo me mexer.
Foi a experiência mais incrível e satisfatória da minha vida,
admito a mim mesma com um sorriso satisfeito.
Um carinho em minha bochecha me faz abrir os olhos e me
deparo com o olhar intenso de Salvattore.
Ele me confunde.
Eu busco todos os motivos do mundo para odiar Salvattore.
Aguardo por sua tirania, brutalidade e rispidez, mas ele sempre me
dá o oposto. Paciência, carinho e paixão.
Isso me confunde. Ele é mesmo desprezível como me fiz
acreditar por todos esses três anos ou só estive idealizando isso
para construir um muro entre nós dois?
— Salvattore...
Ele me beija com carinho, depois ergue nós dois do chão.
— Você precisa descansar, Gia. Já foi emoção suficiente.
O quê? Ele não vai se aproveitar de me ver fraca e
impotente para tomar vantagem?
Estou confusa demais com o que aconteceu para discutir
com ele, assim, apenas deixo Salvattore me levar de volta para o
quarto em seu colo, mantendo a minha cabeça no peito dele por todo
o caminho.
Ele me coloca na cama com cuidado. E depois de me
admirar por um longo tempo, apaga a luz e deita-se ao meu lado.
Dessa vez não me permite ficar de costas para ele. Sou puxada
novamente para os seus braços. As nossas pernas se cruzam e
Salvattore me abraça.
É tão bom sentir o braço dele envolta de mim. De encostar
o meu rosto no seu peito largo. Me sentir protegida. É refletindo
sobre isso que pego no sono.

***

Não é o canto dos passarinhos ou os raios de sol vindos da


janela que me desperta, mas sim o movimento debaixo do lençol,
especificamente entre as minhas pernas.
Olho ainda um pouco atordoada para baixo e vejo os
cabelos de Salvattore.
A primeira lambida em minha boceta me faz revirar os
olhos.
Ele vai fazer isso de novo!
Sim. Eu estou pronta.
— Ah... — gemo e me contorço quando Salvattore intercala
entre lambidas e chupadas.
Ele massageia o meu clítoris com a ponta do dedo e meu
prazer fica mais intenso.
Eu vou chegar lá...
Está vindo.
Então Salvattore para.
Abro os meus olhos e o encaro desesperada.
— Bom dia — ele sorri diabolicamente ao erguer a cabeça,
deslizando para fora da cama.
Isso é brincadeira?
— Acabou? — A minha pergunta soa num tom de choro e
frustração.
Em vez de responder Salvattore gruda os dedos na calça do
pijama e empurra-a até os tornozelos, ficando completamente nu
diante de mim.
— Queria alguma coisa Giuliana?
Patife. Salvattore fez isso de proposito.
— Stupido! — Esbravejo, saltando da cama — Vá se foder
Salvattore.
Saio marchando em direção ao banheiro e vou direto para
box ligar o chuveiro.
Babaca idiota! Por que ele tinha começado algo se não iria
terminar?
Porque Salvattore quer me ver rendida. O que não vai
demorar muito a acontecer.
Talvez eu devesse parar de lutar. Se a gente fizesse sexo
logo, essa curiosidade e fogo entre nós iria perder a força.
Mal me coloco debaixo do jato de água e a porta do box é
novamente aberta com um estrondo.
Salvattore é como uma fera faminta e fora de si.
— Prefiro foder você, Giuliana — entra e nossos corpos
ficando molhados se unem — Mas primeiro vai ter que implorar.
— Nunca — desafio, sabendo que estou mentindo para mim
mesma.
Ele sorri. Um sorriso sexy e cheio de confiança. Salvattore
sabe que estou apenas tentando me enganar. Eu havia perdido essa
guerra há três anos quando o vi pela primeira vez pela janela da
minha casa.
Quando ele me beija com paixão, toda a minha resistência
de desfaz como fumaça.
Nos beijamos e nos acariciamos com desespero. Salvattore
leva a minha mão ao seu membro enorme e duro. Ele movimenta os
meus dedos, mostrando como quer que eu o toque e eu não sinto
vergonha nisso. Gosto de observar como seu rosto se contorce e ele
chega ao prazer pelo que faço com ele.
Salvattore retribui a minha dedicação, fazendo-me gozar
novamente em sua boca.
Depois eu deixo que ele me ensaboe, seque e me ajude a
colocar o robe.
— Vou pedir que tragam as minhas coisas — ele avisa,
apontando o closet.
Posso ter tudo o que quiser, mas não tenho um número
exagerado de roupas. Para fugir eu não levaria muitas coisas.
Pensar nisso me faz lembrar que esse é o meu plano.
Salvattore me faz esquecer do mundo e suas complicações. Fico o
tempo todo pensando e lutando para resistir a ele, que deixo de lado
o mais importante. Escapar dessa prisão.
— Não vai dizer nada, Giuliana?
— Adiantaria?
Ele fica quieto, mas antes de sair do quarto, me puxa para
um beijo.
Fico parada no meio do quarto, vendo a porta se fechar e
quando olho meu reflexo no espelho, noto que tenho um sorriso
bobo.
Uma rápida olhada pela minha casa e vejo que a segurança
está triplicada. Enquanto Salvattore estiver aqui comigo, esse lugar
será uma completa fortaleza.
— Bom dia, Chiara.
Encontro-a na cozinha atrelada aos seus afazeres.
— Bom dia — ela me analisa com muita atenção — Você
parece ótima. Dormiu bem?
Eu sinto as minhas bochechas queimarem e brinco com um
saleiro para desviar a atenção disso.
— Salvattore passou a noite comigo.
Espero por ela dizer alguma coisa, mas Chiara apenas
encosta a cintura no balcão da pia e me encara com muita atenção.
— E disse que vai ficar lá agora. Comigo.
— Ele esteve aqui a pouco e pediu que as suas coisas
fossem enviadas ao quarto do casal.
— Não é o quarto do casal. É o meu quarto — aviso, irritada
— Ou era.
Chiara vem até mim e se inclina na mesa para pegar a
minha mão.
— Está tudo bem sobre isso, Gia? — Ela está
desconfortável em tocar no assunto, mas mais preocupada comigo
— Eu sei que a primeira vez...
— Nós não fizemos sexo — aviso, envergonhada — Quer
dizer, não completamente.
— Eu não entendo.
— Fizemos coisas. Mas não aquela coisa.
— Hum — ela tenta segurar um risinho e isso só me deixa
mais envergonhada — Essas, coisas, foram legais?
Eu nunca tive oportunidade de ter esse tipo de conversa
com amigas, primeiro porque não tinha amigas e nem direito de
qualquer experiência com garotos que gerassem esse tipo de
assunto.
— Foi. Muito bom. Eu... Não sabia que era desse jeito.
Bom... — mordo o meu lábio — O Salvattore já me fez sentir muitas
coisas... Não sei como explicar, entende. Mas foi muito bom.
— Então. Está tudo certo entre vocês agora.
— Não. Uma coisa não tem nada a ver com a outra Chiara.
Isso é só sexo.
— Amiga. Eu já fui casada e posso afirmar que não é só
sexo, Gia. Você gosta dele.
— Não gosto, não!
Sinto atração, admito.
— Não posso amar o Salvattore — aviso, horrorizada.
— Eu não disse amar.
Filha da mãe!
— Chiara. Os planos continuam de pé — olho em volta,
aflita — Admito que tenho atração por ele. E que cada dia é mais
difícil resistir a isso. Por isso tenho que colocar o meu plano em
prática logo.
— Como vai fazer isso, Gia? Já tinha seguranças na casa
antes dele chegar. Agora parece que tem um exército. E aquele
troglodita...
— Troglodita? Você fala do Marco.
— Viu algum outro troglodita por aqui?
— Você não gostou dele, né? Vi isso desde o dia que eu
cheguei aqui.
— Para mim, ele não fede e nem cheira.
— Realmente, o Marco não fede.
— Podemos voltar ao seu plano maluco?
Ela tem razão. Eu não tenho tempo a perder.
— Como você disse a casa está cheia dos soldados de
Salvattore. Então vou precisar da sua ajuda.
— Gia...
Eu sei que pedir para ela me ajudar, é colocar sua vida em
risco, mas eu não tenho outra saída.
— Só preciso que entregue uma carta para uma pessoa na
cidade.
É com a ajuda desse homem que vou conseguir
documentos novos, que vão me ajudar a ir para os Estados Unidos.
— E o seu marido? Se ele desconfiar de alguma coisa?
— Eu vou manter Salvattore ocupado.
Fazendo o mesmo jogo que ele.
CAPÍTULO 36

Não tem como passar dessa noite.


Eu estou explodindo de tesão pela Gia.
Mas por ela ainda ser virgem, tenho tentado ser gentil,
paciente, cuidadoso para esse momento. Atiçando-a, sem ir muito
além, mas essa merda está acabando comigo.
— Qual o problema Salvattore? — Marco questiona quando
me vê entrando irritado no escritório — Ou melhor. O que sua esposa
fez dessa vez? A noite não foi como esperava?
Como Marco é intrometido.
— Cara, eu não vou falar da minha vida íntima com você.
Nós nunca tivemos problema com isso antes, mas dessa
vez é diferente.
— Homem, eu já te vi trepar com três mulheres ao mesmo
tempo. Acho que nada vai me chocar.
— Estamos falando da minha esposa, Marco.
Ele me encara sério, depois um sorriso idiota surge,
tornando-o, ao me ver, mais idiota ainda.
— Ah, entendi.
— Entendeu o quê?
— Eu não acho que você esteja pronto para essa conversa.
— De que porra você está falando, Marco?
— Dessa vez vou deixar você descobrir sozinho, Salvattore.
Até porque é mais divertido observar. Quem diria — ele começa a
andar despreocupado e só aumenta a minha irritação.
Ele tem sorte de ser o meu primo e que eu o amo como se
fosse meu irmão.
— Temos trabalho a fazer.
Pelas próximas horas quero ocupar a minha mente disso.
— Então você concorda comigo que pode ser um negócio
vantajoso?
— Até o momento os irlandeses têm se mostrado confiáveis
— ele destaca.
Mas sabemos que nesse negócio nunca fechamos
completamente os olhos.
— Vou deixar que você cuide disso, Alessandro.
Se teve algo realmente bom com o meu casamento com
Giuliana, é que eu e o irmão dela pudemos nos conhecer melhor e
trabalhar juntos tornou-se uma parceria inteligente. Enquanto faço o
lado De Lucca ganhar ainda mais respeito e prosperar nos negócios,
Alessandro tem feito mudanças importantes para destacar sua
organização. Juntos nos tornamos muito poderosos e isso nem
mesmo os Conti podem negar.
— Você está em Vergini com a Gia?
— Como sabe disso?
Eu nem havia contado ao meu pai que estava vindo para
cá.
— Porque acabei de ver minha irmã passar de biquini pela
sua janela.
O que Alessandro diz faz tanto a mim quanto Marco
olharmos para fora. A janela da sala que escolhi trabalhar dá de
frente para a piscina e para minha tortura, como o meu cunhado
avisou, Giuliana estava mesmo em um minúsculo biquini amarelo,
indo para uma das espreguiçadeiras.
— Eu falo com você depois, Alessandro.
Deixo que Marco encerre a chamada de vídeo e saio
apressado da sala.
É claro que os meus olhos fazem festa em ver o corpo
escultural de Giuliana na peça tão sexy. O problema é que não sou o
único que pode admirá-la.
— O que está fazendo, Giuliana?
Paro a frente dela cobrindo-a da luz solar e levo as minhas
mãos à cintura.
— Aproveitando a minha prisão, não está vendo?
Ninguém além de Giuliana se atrevia a falar comigo dessa
forma. A garota me leva ao limite o tempo todo.
— Você tem que comunicar quando for fazer algo como
isso. Há muitos homens aqui.
— A culpa é sua. Por que trazê-los?
— Olha a sua volta — ela faz o que peço, observando os
seguranças parados em vários pontos estratégicos — Algum atirador
poderia estar em qualquer lugar.
Vejo um ar de medo em seu rosto, mas ela o desfaz
rapidamente.
— Não exagere Salvattore. Pelo que sei você tem mantidos
seus inimigos controlados.
Tudo bem. Não foi só por causa de alguma ameaça vinda
dos Conti ou qualquer outra pessoa que eu tivesse irritado. Mesmo
sabendo que os meus homens não se atreveriam a encarar Giuliana
com cobiça, me faz perder a cabeça ela desfilar no biquini sexy.
E uma coisa preciso admitir, ela havia se transformado em
uma mulher linda.
— Você está provocando, não é? — Indago ocupando uma
parte da cadeira aos pés dela.
É isso que Gia está fazendo comigo, me colocando aos
seus pés e eu imagino quando ela me fará ficar de joelhos.
— Nem tudo é sobre você Salvattore. Está um dia bonito —
vejo-a pegar um frasco de protetor solar e começar passar acima dos
seios — Pensei em tomar sol. Você prefere com ou sem marquinha
de biquini?
Com a pergunta impertinente ela leva os dedos ao fecho do
sutiã, deixando claro a sua ideia de topless.
Nem por cima do meu cadáver.
— Você pediu isso! — Aviso como se uma fera estivesse
rugindo dentro de mim.
Eu já tinha chegado ao meu limite.
— Salvattore! — Ela esperneia quando a jogo em meu
ombro — Me coloca não chão!
Ignoro todos os seus pedidos como os socos que não
causam incomodo algum em minhas costas.
— Seu bruto!
Ela tenta me atacar quando a jogo na cama e nosso
enfrentamento corporal só nos leva ao inevitável, um beijo quente e
apaixonado.
Quando eu a deito na cama e cubro o seu corpo com o
meu, Giuliana para de serpentear, tornando-se mais receptiva e
entregue as minhas carícias.
Nós estamos em brasa, mas mudo os beijos de luxuriosos
para mais carinhosos.
Beijo sua testa, a ponta do nariz e deslizo os meus lábios
até a curva do seu pescoço delgado. Quando afasto o tecido do
biquini e cubro o seio de Gia com a minha boca, ela se contorce,
levando a cabeça para trás.
Os seios delas são duas peras suculentas que eu me farto.
Gosto da maciez, de como são redondos e bonitos. Dedico-me a um
até ver o mamilo endurecer, depois vou para o outro.
— Salvattore... — ela me encara com seus olhos inebriados
de prazer.
Deslizo sobre o seu corpo e a beijo de forma intensa.
As mãos ansiosas de Gia agarram o meu terno,
arrancando-o de mim. Ela faz o mesmo com a minha camisa que se
junta ao meu terno no chão.
Afasto-me um pouco, ficando de joelhos na cama para me
esbaldar com seu corpo escultural.
Gia é perfeita.
A dona das minhas fantasias mais secretas e que hoje se
tornarão realidade.
— Ti penso sempre[24].
Não é uma confissão apenas para quebrar o que ainda
existir de sua resistência. Eu nunca deixei de pensar na Gia durante
todos esses anos longe.
— Sei nei miei pensieri [25]— ela confessa baixinho.
E saber que também estive na mente de Gia me coloca
louco.
Volto a cobrir o seu corpo com o meu e quando ficamos
sem ar com os beijos ardentes e ininterruptos, eu começo a
acariciar com os meus lábios e língua.
Abro suas pernas com um movimento firme e me coloco
entre elas. Arranco a parte de cima de seu biquini e a visão dos
seus seios perfeitos me faz gemer.
Timidamente ela tenta se cobrir, mas eu afasto suas mãos,
unindo os seus pulsos acima de sua cabeça.
— Não, Gia. Você é perfeita — massageio seus seios e ela
fecha os olhos de prazer — Bellissima.
Eu a ajudo a tirar a parte de baixo do biquini e quando
tenho a visão de sua boceta rosada e úmida, o meu pau pulsa
dentro da calça.
Faço o que desejei desde que sai do escritório, furioso.
Caio de boca em Giuliana. Devorando sua boceta como se eu
tivesse nascido para isso.
Os seus gemidos e choramingos de prazer reverberam
pelo quarto. Eu a levo ao limite quando eu mesmo já estou prestes a
perder o controle.
— Salvattore — Ela me chama aflita — Por favor...
Sorrio, dessa vez de satisfação.
— O que você quer Gia?
Dou uma lambida lenta e molhada em sua boceta em
chamas.
Então ergo a cabeça para ouvir sua resposta. Quero estar
olhando em seus olhos quando ela admitir isso.
— Você — ela passa sensualmente a língua entre os lábios
e é erótico pra cacete — Eu quero você, Salvattore.
Caralho!
Giuliana tem mais poder sobre mim do que ela poderia
imaginar.
Cubro-a para um beijo intenso, depois me afasto para tirar
o coldre com minha arma e depois a calça em seguida.
Gia me observa com um olhar fascinado e ansioso quando
também me livro da cueca e meu pau salta para fora. Duro e
ansioso para fodê-la até que ela perca os sentidos.
Nos beijamos outras vezes. Eu trabalho com os meus
dedos em sua boceta para deixá-la ainda mais molhada e pronta
para me receber.
Quando Gia está novamente a beira da insanidade,
implorando por mim, abro mais as suas coxas e deslizo o meu pau
em sua boceta molhada. Primeiro fico apenas nessa ficção que nos
faz delirar de prazer.
— Salvattore! — Ela crava as unhas em minhas costas e
me abraça com uma das pernas me puxando mais para ela — Eu
quero... você.
Gia não precisa mais implorar. Eu mesmo sinto que posso
morrer se não me afundar dentro dela.
Assim que o faço, penetrando-a lentamente, é como se
fogos explodissem em minha cabeça. Ela é apertada o que me
exige ter mais cuidado ainda.
Quando a sinto ficar rígida ao me receber um pouco mais,
paro e dou um beijo carinhoso em sua testa.
— Vai passar, amore mio.
Eu vejo a dor em suas feições e continuo a me afundar
dentro dela bem devagar.
Sinto a resistência ceder. Gia solta um choramingo de dor,
mas agora estou completamente dentro dela.
Porra, que gostoso!
Volto a me mover lentamente, sempre atento as
expressões de Giuliana. A dor pouco a pouco vai dando lugar ao
seu rosto contorcendo de prazer.
Quero ir mais rápido. Fodê-la como se fosse parti-la ao
meio, mas é a primeira vez da Gia. Me contenho e concentro-me em
dar a ela o máximo de prazer possível.
Os seus gemidos e as unhas cravando em minhas costas
são sinais de que está tão alucinada quanto eu. E a sua boceta
quente pulsa apertando ainda mais o meu pau.
É bom pra cacete!
— Gia... — cada centímetro que me movo, me leva mais
perto de um orgasmo brutal.
Não vou conseguir aguentar muito. Sua boceta apertadinha
está acabando comigo.
Então levo a minha mão entre suas pernas e massageio o
seu clitóris inchado.
Gia grita e eu aumento o ritmo das minhas estocadas.
— Salvattore! — Suas costas curvam, Gia se contorce
embaixo de mim e depois se entrega ao orgasmo que a faz gritar
novamente o meu nome.
Eu não tenho mais controle sobre mim.
Enquanto ela choraminga de prazer deixo a minha porra
quente jorrar dentro dela.
Nunca senti tanto prazer como agora. Parecia que nunca ia
acabar e quando a última gota sai de mim, fazendo-me estremecer,
caio sobre Giuliana.
Precisamos de tempo para acalmar as nossas respirações
e corações batendo acelerado.
O que foi isso?
Eu tinha certeza de que o sexo entre nós seria quente. Mas
nada me preparou para isso.
O que me dá a certeza de uma coisa.
Com bebê ou sem ele, não posso deixar Giuliana sair da
minha vida.
CAPÍTULO 37

Apesar de ter permanecido virgem até agora. Não era burra.


Sei muito bem como funciona o sexo e desde que conheci Salvattore
tive mais curiosidade para pensar no assunto.
O que, nada dos livros e matérias que li disse, é como podia
ser a experiência mais incrível das nossas vidas.
Bom, comigo em relação a Salvattore era.
Mas eu deveria ter imaginado. Sempre tivemos muita
atração um pelo outro e claro que sexo seria de outro mundo.
— Você está bem? — Com a pergunta ele desliza de cima
de mim e se estica na cama ao meu lado.
— Estou tentando assimilar tudo.
— Foi bom ou ruim? — O sorriso torto indica que ele já
sabe a resposta.
— Não vou deixar você mais convencido do que já é
Salvattore.
O que eu falo o faz rir. Gargalhar, na verdade e eu sorrio
também.
Como posso ficar tão confortável com alguém que jurei
detestar. O pior, ir para cama com ele e ter achado maravilhoso.
— Vai ficar melhor — ele alisa meu rosto com carinho — A
primeira vez de uma garota é sempre mais difícil.
— Melhor do que isso? — Arregalo os meus olhos e o
sorriso dele alarga mais.
Salvattore tira o meu fôlego apenas em existir.
— Muito melhor Gia.
Nos encaramos em silêncio e eu vejo seu rosto ficar
contemplativo. Depois ele toca a minha barriga e eu acompanho o
seu olhar em meu ventre.
— Talvez ele já esteja aqui — o que Salvattore diz me deixa
em choque — Mas se ainda não estiver vamos continuar tentando.
Afasto sua mão e tento fazer o mesmo comigo, mas
Salvattore me impede com seu corpo.
— Foi por isso? — As lágrimas queimam em meus olhos —
Tudo isso era para...
— Não, Giuliana. Não foi para ter um bebê. Eu desejo isso
desde que a vi há três anos naquela janela.
Ele se lembrava?
— Quando era a noiva do meu irmão e completamente
proibida para mim. Eu passei esses três anos fantasiando com isso
— sua mão trêmula toca o meu rosto, eu também estou muito
abalada — Um filho será um presente, mas não era nisso que estava
pensando quando estava dentro de você. A ideia só veio agora
porque não nos protegemos.
Eu podia acreditar nele?
Quero confiar em Salvattore, mas ainda há uma parte em
meu coração que tem medo.
— Esquece essa bobagem — ele esfrega o corpo no meu e
suas caricias começam a me fazer relaxar — Vamos deixar o destino
ditar o que acontece.
Mesmo que Salvattore tenha vindo aqui com a intenção
declarada de produzir seu herdeiro, preciso admitir que muito antes
nos sentimos atraídos.
Então eu jogo essa insegurança, as dúvidas e receios de
lado, de que ele só estivesse me usando de novo e me concentro em
seus beijos e carícias que me fazem novamente esquecer de tudo e
só me concentrar em nós dois.
***

Vejo pela janela que já anoiteceu.


Foi uma tarde bastante agitada e por Salvattore dormindo
ao meu lado, para ele não foi diferente.
Tomo todo o cuidado para me desprender dele e sair da
cama.
Pego uma calcinha na gaveta, depois um vestido. Visto-me
fazendo o mínimo de barulho para não o acordar e saio do quarto
nas pontas dos pés.
— Senhora?
Um segurança vem até mim assim que coloco os pés para
fora de casa.
— Vou ver a Chiara — aviso apontando a casa dela.
Há outros homens circulando pela residência e eu não iria a
lugar algum sem que algum deles me vissem, então ele me deixa
passar.
Estou alguns metros da casa dela quando vejo Marco sair,
batendo a porta.
Encontro-me em uma parte pouco iluminada e ele não me
vê. De qualquer forma parece irritado demais para notar qualquer
pessoa.
Ele tira sua carteira de cigarros do terno e pega um deles,
mas antes de levar o cigarro à boca, fala algo consigo mesmo e joga
o cigarro inteiro no chão.
Depois ele sai em uma direção completamente oposta à
minha.
Estranho.
A porta da Chiara está entreaberta, então eu resolvo entrar.
Encontro a minha amiga está sentada no braço do sofá,
olhando Mia dormir.
— Chiara?
Leva algum tempo para ela perceber que estou aqui.
Parecia que estava em um mundo de distância.
— Oi, Gia. Acabei chegando tarde para o jantar, mas eu
posso...
— Não se preocupe. Tinha muita coisa na geladeira. E
Salvattore ainda está dormindo.
— Dormindo?
Odeio como Chiara sabe me observar muito bem e pegar
informações nas entrelinhas.
— Aconteceu, não foi?
— Como você sabe, Chiara?
— Não sei, acho que a gente fica diferente.
Eu me sinto diferente. Mais mulher. Sei lá, é complicado
explicar.
— Por falar em diferente. Foi o Marco que vi saindo daqui?
Ela fica vermelha.
— Não é nada do que você está pensando.
— Eu não estou pensando nada — aviso em um tom
provocativo, depois fico séria — O Marco não é um cara para você
se envolver, Chiara.
Ela respira fundo e coça o pescoço.
— Seu conselho vem tarde demais.
— O que você quer dizer?
— Eu já o conhecia, Giuliana. O meu falecido marido
trabalhou para os De Lucca.
Eu sabia que tinha sido Salvattore que enviou Chiara para
trabalhar comigo, mas não tinha ideia que ela já conhecia o primo
dele.
— Por que você nunca me disse nada?
— Ele só esteve aqui uma vez. E depois você jurou que seu
marido e o primo dele nunca viriam aqui.
— Foi o que eu pensei. E o que Salvattore me disse. O que
Marco fez a você?
— Por que a pergunta?
— Você parece sempre estar querendo matá-lo.
— Porque ele é irritante!
— Se Marco for metade como Salvattore, não tenho como
contestar isso
— Esquece aquele imbecil. Preciso falar que não consegui
fazer o que me pediu. Encontrar aquele homem. Quando Marco me
viu saindo de casa com a Mia, insistiu em nos levar. Na verdade, ele
decretou isso.
Ele é mesmo muito parecido com Salvatore.
— Mas tudo bem. Agora você se acertou com o seu marido.
— Não exatamente, Chiara. Salvattore disse que já posso
estar grávida.
— É isso que pode acontecer quando um homem e uma
mulher fazem sexo sem proteção.
Ela olha para a filha.
Gosto de crianças e amo muito a Mia. Seria maravilhoso ter
um filho ou uma filha. Mas quando penso que ela pode ter o mesmo
destino que eu, fico apavorada.
— Eu não posso ficar grávida, Chiara.
— Então é só vocês não transarem.
— Não posso fazer isso também.
Eu sei. Sou um poço de contradição. Mas não há nada que
eu possa fazer no momento. Tenho que fugir, mas também não
consigo resistir a Salvattore.
Ele disse para confiar no destino.
O problema é que quando se trata dele, nem em mim
mesma eu consigo confiar.

***

Quando retorno ao quarto Salvattore não está na cama,


mas eu escuto o barulho do chuveiro. Tiro toda a minha roupa e
quando chego ao banheiro, os seus olhos famintos passeiam pelo
meu corpo nu.
A vida inteira fui privada de liberdade e diversão.
Por que eu não podia tirar proveito agora antes de partir?
— Tudo bem, Giuliana? — Ele me encara desconfiado.
— Tudo ótimo — entro no box e me agarro a ele — Mas
você pode fazer ficar melhor?
Ele faz tudo ficar ótimp. Tanto no chuveiro como quando
retornamos ao quarto e nos amamos novamente.
Estamos na cama, abraçados e eu olho as nossas roupas
espalhadas pelo chão e o coldre com a arma de Salvattore na
poltrona.
O Capo tem os soldados para fazer o trabalho pesado para
ele, mas nunca anda desarmado.
— Está sempre com ela?
— É necessário, Giuliana. Nunca sabemos quando o
inimigo pode atacar e tivemos anos um tanto complicados.
— Como você consegue, Salvattore? Não se assusta ou
irrita viver sempre nessa tensão?
— Temos um mundo violento e sangrento. Mas a realidade
lá fora não é muito diferente da nossa.
— Eu não conheço nada diferente. Nada do mundo lá fora.
— A gente não teve uma lua de mel. Preciso corrigir isso.
E se fosse tarde demais.
— Sabe usar uma? — Ele pergunta quando continuo a olhar
para ela.
— Não gosto de armas.
— Poderia tentar as facas, então. Marco só anda com elas.
Não me surpreende. Ele parece ser o tipo de pessoa que
vai contrário a todo mundo.
— Ele não tem uma arma?
— Tem várias, mas prefere as facas e os estragos que elas
fazem. Acho que meu primo é um tanto teatral.
— Sabia que ele e Chiara já se conheciam?
— Sim. Eles devem ter se cruzado algumas vezes por
causa de Romano
— Acha que tem alguma coisa entre eles? Chiara e o
Marco?
— O Marco não tem nada com ninguém. E ao mesmo
tempo tem uma fila de mulheres caindo na cama dele.
Talvez sejam só coisas da minha cabeça.
— Como você.
Ele fica tenso, depois se vira, pegando o meu rosto.
— Nunca menti sobre isso, Giuliana. Só que elas não
significavam nada.
— Você é um idiota, Salvattore — declaro, enfurecida e dou
as costas para ele.
Ele foi realmente honesto comigo quando fez a proposta de
casamento. Mas isso não ameniza o fato de que fiquei aqui como
uma tola, guardada na jaula de ouro, esperando que ele me notasse.
— Gia... — ele toca o meu ombro — Ajuda dizer que
sempre fodi com elas pensando em você.
— Ahhh!
Empurro-o até fazê-lo cair da cama.
— Não se atreva a voltar!
— Caramba, Giulina! A gente nem tinha um casamento de...
— Cala boca!
Eu estava mesmo dizendo isso ao Capo?
Não é só isso que Salvattore significa para mim. Na
verdade, na maior parte do tempo eu nem me lembro disso.
Cubro a cabeça com o lençol e juro a mim mesma ignorá-lo
a noite inteira.
Promessa que só durou até eu pegar no sono e o trapaceiro
se aproveitar da minha guarda baixa e se enfiar debaixo das
cobertas comigo.
Mas o meu sono ficava muito melhor com Salvattore me
abraçando.
E eu não podia me acostumar a isso.
CAPÍTULO 38

Dias depois

Eu sempre achei que a vida de casado seria aborrecida,


tediosa e que não funcionária para mim. Até Giuliana aparecer em
minha vida.
Nada com ela consegue ser sem graça. Mesmo quando ela
me irrita, ou se irrita comigo, transforma o momento em uma grande
empolgação.
Eu vejo que perdi três anos preciosos, fugindo do inevitável,
lutando contra sentimentos que não tenho controle e perdido
momentos maravilhosos com ela.
— Onde você pensa que vai, Giuliana?
Pego-a bem no pulo esgueirando-se para o seu carro.
— Que susto Salvattore. Vai ficar me vigiando agora?
Não. Tem homens suficiente para fazer o serviço. Eu só não
consigo ficar na mesma casa, mais do que uma hora longe dela. Até
tenho que aguentar as piadas de Marco, de novo.
— Responda a minha pergunta?
— Vou a cidade. Preciso comprar algumas coisas para
Chiara.
— Algum dos homens pode fazer isso.
— Eu sei que podem. Mas desde que você chegou estou
trancada aqui. Preciso de ar.
Ela tem razão. Já faz quase quatro semanas que estou aqui
e quando não estou preso no escritório tratando de assuntos de
trabalho com Marco, estou caçando Giuliana em algum canto da
casa para transarmos até a exaustão. Ela não tem muito o que fazer
quando não posso ficar com ela, além, de ficar com sua amiga e a
filhinha dela.
— Eu também preciso ver alguma coisa diferente. Vou com
você. Me dê a chave do carro.
— Não — ela afasta as chaves para longe de mim.
— Não?
— O carro é meu Salvattore. Pode vir comigo, mas eu dirijo.
As únicas pessoas que permito dirigir para mim são os
seguranças, por questões de segurança. Mas a determinação da Gia
me faz perceber que poderemos ficar o dia todo aqui nesse pé de
guerra e estou mais interessado em passar alguns minutos com ela
longe de qualquer clima que lembre a sexo.
Um dia esse fogo entre nós vai acabar e preciso como
conseguimos lidar com a presença um do outro. Esses dois minutos
com ela me enfrentando sem ter noção do perigo que diz isso, revela
muita coisa.
Eu realmente gosto de estar casado.
— Tudo bem. Mas os homens vão vir logo atrás de nós.
Eles são treinados para manter a segurança, mas ainda
assim manter uma distância segura para não chamar a atenção das
pessoas.
— Coloca o cinto — ela me avisa, abrindo um sorriso
maroto.
Não sei se é para me provocar ou ela está acostumada a
viver no perigo, mas Giuliana pisa com gosto no acelerador.
— Vá com calma, Giuliana. Você quer nos matar.
— Onde está seu senso de aventura, Salvattore? — Ela
pisa mais no acelerador e eu seguro nas laterais do banco quando
ela faz uma curva fechada sem diminuir a velocidade, mas com
perfeição.
— Junto com a minha vontade de viver — murmuro, tenso.
Gia é uma verdadeira caixinha de surpresas. E deixaria
muitos dos homens que trabalham comigo de queixo caído.

***

A cidade que Giuliana falou, não passa mais do que uma


vila cheia de casas charmosas em um comércio pequeno.
Ela cumprimenta algumas pessoas locais, demonstrando
que vem bastante aqui. E quando noto alguns olhares masculinos,
bastante interessado em nós dois, entrelaço a mão dela na mia.
Se algum babaca tiver olhado com alguma intenção com
ela...
— Que tal a gente se separar e dividir as coisas da lista?
Assim, poupamos tempo e voltamos logo para casa.
— Nem pensar, Giuliana. Eu vou aonde você for.
— Você não é meu cachorrinho Salvattore.
Apesar da provocação, sinto que ela está mais tensa que o
normal.
— Qual o problema? Está tentando se livrar de mim?
— Nã-a-não! Eu só. Só acho mais lógico.
— A lógica nem sempre está certa. E você queria passear.
Então não há pressa em voltar para casa. Me mostre a cidade.
— Você tem que dar ordem em tudo?
— E você tem que contrariar tudo?
Para as duas perguntas a resposta é positiva.
— Então vamos começar pela feira da cidade — ela se dá
por vencida e eu sorrio ao acompanhá-la.
Definitivamente a vida com ela não vai ser nada chata.
E nem as horas seguintes que passamos juntos.
Apesar de ter algumas lojas de artigos de luxo. Gia prefere
entrar e comprar nas pequenas lojinhas e barraquinhas de peças
artesanais. O tour pela feira também foi interessante e me senti
voltando a infância quando viajava com os meus pais pelo interior do
país.
Nós almoçamos em um restaurante muito charmoso. Além
da pasta deliciosa, fomos servidos com um vinho de uma excelente
safra local.
Tenho escutado com bastante interesse como tem sido a
vida de Giuliana nos últimos anos quando vejo seu telefone tocar. Ela
pega rapidamente e encerra a chamada sem atender.
— Não vai ver quem era?
— Algum dos meus irmãos. Provavelmente o Tommaso
falando de algum carro novo.
O mais novo dos três irmãos dela é o que tenho menos
contato, mas sei que é bem unido a Giuliana.
O clima fica um pouco estranho.
— Preciso ir ao banheiro — ela avisa e quando se levanta
pega o telefone na mesa.
— E tem levar o celular?
Há algo errado. Seus ombros estão tensos sem nenhuma
explicação.
— Para o caso de algum dos meus irmãos ligarem.
Eu sabia quando Gia estava em casa, quando saia. Em que
lojas, quanto tempo passava dentro delas. Fora isso nunca exigi
relatórios mais detalhados como grampear seu telefone ou baixar
suas mensagens enviadas ou recebida.
Nós tínhamos um acordo e ela estava cumprindo à risca.
Mas será que eu deveria ter ficado mais atento?
Observo-a seguir para o toalete em silêncio. Eu não quero
sufocar Giuliana, temos nos dado muito bem nesses últimos dias,
mas sinto que ela me esconde algo e não gosto disso.
Depois que ela retorna do banheiro parece mais tranquila e
o clima descontraído entre nós retorna.
Tirando o ocorrido com a ligação que ela não atendeu,
tivemos um dia maravilhoso juntos, até mesmo romântico.
— Deixa que os homens levem as coisas para dentro —
aviso assim que saímos do carro — Tenho outros planos para as
próximas horas.
E envolvem nós dois sem roupas e muito sexo.
CAPÍTULO 39

Acordo com o telefone na minha mesa de cabeceira


tocando. Atendo rápido para não acordar Giuliana.
— Pronto.
— Salvattore, precisamos fazer uma reunião — avisa
Alessandro — Estou indo para Acino ainda hoje. Você pode ir para
lá?
É apenas uma hora de viagem de carro. O problema é que
não quero deixar Gia, então ela terá que ir comigo.
Já é o tempo de todos verem que o nosso casamento está
mais vivo que nunca.
— Chego até a tarde.
Não preciso de explicações e nem perder tempo com isso.
Se Alessandro está ligando é porque é extremamente importante.
Assim que desligamos, curvo-me sobre Giuliana e começo
a acordá-la com beijos em seus ombros.
— Amore mio.
— Salvattore me deixa dormir — ela reclama acreditando
que vou novamente despertá-la para sexo.
— Gia — beijo sua testa após afastar os cabelos do seu
rosto — Temos que ir para Acino. Acorda.
— Por quê? — Ela finalmente desperta e me encara com ar
de preguiça, a nossa noite foi bem agitada — É a sua mãe?
Aconteceu alguma coisa?
— Alessandro precisa falar comigo. Mas também podemos
aproveitar a viagem para visitar os meus pais.
Tenho falado com a mamma todos os dias por telefone, mas
agora que seu tratamento médico iniciou, talvez seja melhor estar
mais perto dela.
— Quanto tempo vamos ficar?
— Ainda não sei Giuliana. Mas você sabe que meu lugar é
em Acino.
Logo, o dela é comigo onde eu estiver.
— Vou arrumar a minha mala. Quer que faça a sua.
Ela não tem ideia de que fazer essa pergunta nos torna um
casal em todos os sentidos. Mesmo sem perceber, Giuliana está
aceitando a nova realidade do nosso casamento.
— Não. Deixa as coisas aqui para quando pudermos voltar.
Vou para o banho enquanto ela cuida das coisas delas,
depois a deixo ir para cozinha para o café da manhã e vou em busca
de Marco.
Encontro-o nos fundo casa tragando um dos seus cigarros.
— O que está fazendo aqui fora, Marco?
Já estamos tendo sinais de que o inverno esse ano será
rigoroso.
— A megera me proibiu de fumar dentro da casa — diz ele
com toda tranquilidade — Por causa da criança.
Eu acho que ele fala de Chiara. Pelo visto os dois
continuam em pé de guerra.
— A minha mãe sempre o proibiu de fazer isso em casa e
você nunca ligou.
— Sua mamma não é uma criança. E ela me mimava,
diferente dessa outra. Acho que se pudesse arrancava as minhas
bolas a unhas.
Desisto de tentar entender a lógica dele, muito menos seu
relacionamento estranho com a governanta. O que sei é que Gia
gosta de Chiara e é bom Marco não ficar criando problemas.
— Temos que voltar a Acino. Alessandro acabou de me ligar
—Vou avisar aos homens.
Marco não faz perguntas. Ele tem opiniões e conselhos
muito importantes como meu consigliere, mas ele é um homem mais
de ação.
Uma hora depois já estamos no carro a caminho de Acino.
Até mesmo Chiara e a filha dela nos seguem no carro de trás.
Eu espero pelo bem da criança que a amiga da minha
esposa e meu primo não estejam se matando.
— Eu não sabia que você tinha uma casa aqui — Gia avisa
assim que entramos.
— Comprei depois que nos casamos. Ainda tenho o meu
primeiro apartamento, mas não o uso mais.
O seu olhar de sobrancelha erguida me revela que ela
imagina no que meu antigo apartamento de solteiro servia. Eu não
quero entrar nesse tema com ela porque da última vez que falamos
sobre o meu passado fui arremessado para fora da cama.
— Chiara. A Sra. Giordano vai mostrar o seu quarto lá em
cima.
— Eu não vou ficar com os empregados? — Ela indaga,
surpresa.
— Claro que, não! — Gia e eu respondemos juntos.
A relação das duas vai além de patroa e empregada.
— Tenho que ir na empresa. Quer ir comigo?
— No seu trabalho? — Ela me pergunta chocada.
— Sim, na empresa Giuliana — sorrio do espanto dela —
Sua mãe não ia no trabalho do seu pai?
— Nunca. Ele diz que não é lugar para as mulheres e com
quatro filhos ela tinha muita coisa para fazer em casa.
Não foi diferente com os meus pais. Mas eu não penso em
algo assim entre nós. É claro que Gia não vai ficar a frente dos
negócios e nem opinar como as coisas devem ser conduzidas, mas o
mundo está mudando e seria bom ela ver melhor como funciona o
meu trabalho.
— Então, quer ir? Depois vamos à casa dos meus pais.
— Tudo bem. Vou só pegar a minha bolsa.
Giuliana parece uma jovenzinha chegando ao campus da
faculdade. Ela olha cada canto do prédio com admiração. Quando
chegamos ao andar que leva a minha sala, ela está ainda mais
admirada.
— Tudo isso é seu, Salvattore?
— Gia. Você age como se não tivesse dinheiro.
A família dela é tão rica quanto a minha.
— Mas eu cresci numa fazenda — ela cochicha quando
passamos pela mesa onde duas secretárias estão trabalhando.
— Agora entendo por que sonha com noites ardentes com
um cowboy.
Em resposta recebo um merecido beliscão em meu braço
que me faz rir.
Risada que esmorece quando vejo Alessandro, Mattia,
Tommaso e alguns membros de cada um dos nossos clãs reunidos.
— Gia! — Tommaso quebra toda a formalidade do momento
para ir abraçar a irmã.
Ele tem menos idade do que eu tinha quando conheci Gia e
entendo por que se dão tão bem. São os mais novos da famiglia
Ricci.
— Alessandro — cumprimento o meu cunhado antes de
seguir para a minha mesa com Giuliana ao meu lado.
Ele acena e estuda as nossas mão unidas com atenção. Em
três anos, essa é a primeira vez que todos nos veem juntos.
É natural essa curiosidade que só vai aumentar quando eles
observam eu me sentar e manter Gia ao meu lado.
Agora, sim, o nosso casamento começou.
CAPÍTULO 40

Alguns homens não estavam felizes de me ver aqui. Acho


que os únicos que não se importavam eram os meus irmãos e
Salvattore.
— Por que ela está aqui? — Um homem fala rispidamente,
me encarando com desprezo — Não é um lugar para uma mulher.
Salvattore enfrenta o seu olhar com dureza.
— Ela é a minha esposa — Ele diz isso enquanto passa
tranquilamente a mão em minha cintura — É mais do que uma
mulher.
— E Giuliana é a minha irmã — acrescenta Alessandro,
fazendo com que os meus outros irmãos tomem uma posição
defensiva.
O homem é mais velho e acostumado a tradições mais
antigas, mas inteligente para entender que não está falando de e
com qualquer pessoa. Além de esposa do capo do Norte e Leste, eu
sou a única irmã do grande capo do Sul.
— E nós temos assuntos mais importantes a tratar do que a
presença da Sra. De Lucca na reunião — atenta Mattia, fazendo
todos olharem para ele — Precisamos falar sobre a Bratva.
— Chegou aos nossos ouvidos que eles romperam com os
Conti.
Eu sei muito pouco sobre os nossos oponentes. Em como
eles atacam e como se defendem. O pouco que era falado a nós,
mulheres acontecia em mesa de jantar ou conversas entre os
homens para vangloriarem suas conquistam. Mas como eu e
Salvattore passamos três anos longe e todo o contato que tive com
os meus irmãos eu evitava o assunto, não sei a fundo como anda
essa guerra.
— O que pode ter dado errado? — indaga Salvattore, agora
toda a sua atenção está na conversa com Alessandro — A Bratva
não é desleal.
— Mas os Conti são — alerta Tommaso e eu fico
impressionada que o mais novo entre os meus irmãos já esteja tão
inteirado dos negócios da famiglia.
— Acredita que possa descobrir um pouco mais Mattia?
Vejo o meu irmão dar apenas um meio sorriso em resposta
e isso me causa um calafrio de preocupação. Mattia não tem medo
do perigo como ama entrar em confusão. E quando ele se enfia em
alguma é difícil tirá-lo de lá.
O restante da reunião prossegue com assuntos que eu não
entendo. E apesar de achar algumas questões interessantes e
principalmente as observações inteligentes de Salvattore e
Alessandro, é bem difícil me manter concentrada quando ele tinha
escorregado a sua mão da minha cintura para a minha bunda, que
ele alisa descaradamente como se não tivesse tantas pessoas
podendo nos observar.
Quase duas horas depois a reunião finalmente acaba. Troco
algumas palavras com os meus irmãos, mas eles já estão no modo
focado. É interessante ver como eles mudam e ganham um ar
perigoso, na pele de um homem da máfia. Por muito tempo apenas
os vi como os meus irmão chatos e superprotetores.
— Gia — Tommaso vem até mim enquanto da porta
Salvattore, Alessandro e Mattia conversam sobre algo — Eu não
esperava ver você aqui.
— Eu acho que Salvattore tem uma ideia diferente do papel
de uma mulher dentro da organização.
— Você quer entrar para o negócio?
— Eu nunca tinha pensado sobre isso. Fui treinada para ser
uma esposa perfeita Tommaso.
— Mas você gostaria.
— Não sei se entrar para o negócio. Mas gostei de vê-los
aqui hoje.
Nos olhamos com carinho. Eu acredito que não importa o
quanto Tommaso mergulhe dentro dos negócios da famiglia, nossa
ligação sempre será muito forte.
— Eu fico feliz que as coisas entre vocês estejam dando
certo — Ele aponta Salvattore com o olhar que parece ter se sentido
atraído pelo meu.
E quando abre um sorriso discreto o meu coração bate forte
no peito.
— Teve algumas vezes que pensei...
Volto a olhar para Tommaso com interesse. Eu fiz o possível
para esconder a verdade sobre o meu casamento para as nossas
famílias.
— O que você pensou?
— Não importa agora, Gia. Ele é diferente e percebi isso
desde que se conheceram aquela noite.
O jantar de noivado com Romano, que Tommaso havia me
salvado de uma grande confusão.
— O importante é que vocês estão bem e espero que logo o
papà pare de importunar perguntando quando vocês vão ter um filho.
— Um bebê, como o casamento, não deveria ser uma
obrigação para agradar os nossos pais.
— Você não deseja ter filhos? — A surpresa é evidente em
sua expressão chocada.
Olho para Salvattore que está vindo em nossa direção.
Se o nosso casamento tivesse acontecido por motivos
certos, porque nos apaixonamos, eu seria a mulher mais feliz desse
mundo em dar um filho a ele. Mas há tantas coisas que me deixam
com medo, como, Salvattore perderia o interesse por mim assim que
seu desejado filho nascesse? E se eu só conseguisse dar meninas a
ele? Qual seria o futuro delas dentro da organização? Eu poderia
protegê-las de terem um destino como o meu?
— Tesoro mio — Salvattore me abraça e a sensação que
me traz é de paz — Podemos ir?
Da empresa vamos direto para a casa dos pais dele.
Eu gosto de assistir a interação de Salvattore com a mãe
dele. Há uma crença que saberemos se um homem será um bom
marido e pai, na forma que ele trata a mãe e irmãs.
O pai de Salvattore também é uma surpresa para mim.
Apesar do casamento dele ter acontecido exatamente como o nosso,
é possível enxergar que ele ama a esposa. Um amor que nasceu
com o tempo ou o fato dela estar doente agora, o fez ver a grande
mulher que esteve ao lado dele todo esses anos?
— Você está muito pensativa, Gia. O que a preocupa?
Mesmo após Salvattore e o pai terem saído para nos deixar
a vontade no que ele disse para uma “conversa de mulheres”, essas
questões ficaram povoando a minha cabeça.
— Nada importante. Eu não quero encher sua cabeça com
as minhas besteiras.
Ela me observa por alguns segundos. Embora a minha vida
esteja uma verdadeira confusão, não quero mesmo encher a cabeça
da minha sogra com ela. Matilde deve se preocupar com o seu
tratamento.
— É sobre o bebê, não é?
Faço um esforço gigantesco para não me aborrecer com
isso. Por que todo mundo só falava nesse assunto agora?
— Há algum problema, querida? — Ele se arruma melhor
na cama para pegar a minha mão — Não tenha vergonha de falar
sobre isso. Quando tentei engravidar no começo foi muito difícil. Não
é vergonha precisar de ajuda médica.
Até onde sei não é o meu caso, mas não posso contestar o
que ela pensa sem revelar que durante todo esse tempo, eu e
Salvattore estivemos mentindo para todos.
— Não é isso. A gente só não tinha pensado nisso ainda.
— Ah... ela abre um sorriso encabulado — Ainda estão na
fase da paixão e encantamento.
Encantamento não sei, mas a paixão estamos começando
apenas agora. Três anos atrás foi apenas um prelúdio de tudo que
estaria por vir.
CAPÍTULO 41

Algumas semanas depois

Eu vivia em conflito. Quanto mais as minhas barreiras


construídas para manter o meu coração protegido de Salvattore
ruíam, maias fraco ficava o meu desejo em fugir.
Embora tenha muita segurança em Acino, também existiam
mais oportunidades de enganar os seguranças.
Eu já tinha as joias, o dinheiro e agora só faltava o meu
encontro final com o falsificador de documentos, para deixar tudo o
que conheço para trás.
O problema é que pensar em nunca mais ver o Salvattore,
começa a me angustiar tanto quanto perder o contato para sempre
com a minha família.
Esse dias aqui, fazendo companhia a Matilde e tendo a
experiência de um casamento real fez muitas das minhas crenças
mudarem.
Eu tive tanto medo do meu casamento com Romano antes
mesmo de ser enviada para casar-me com ele, que igualei Salvattore
a ele e os dois não podiam ser mais diferentes.
Mas se eu estivesse apenas me deixando levar pela
emoção? E se eu apenas estivesse tentando acreditar em uma
fantasia?
Porque quando estamos juntos ele é atencioso, intenso e
apaixonado. Salvattore me faz sentir segura e confiante ao lado dele.
Faz os meus sentimentos crescerem por ele de forma assustadora.
O que só me deixa mais confusa. Ser prisioneira de um homem
poderoso da máfia é assustador para qualquer mulher, mas ser
escrava dos sentimentos que o meu marido me desperta é muito
mais perigoso.
— Pronta para o exame senhora De Lucca? — A enfermeira
pergunta à Matilde quando entra no quarto.
Até o momento dos preparativos para ser feito a coleta de
sangue e o que a mulher fura o braço de Matilde, tudo estava
tranquilo para mim, mas assim que vi o líquido vermelho escuro
preencher um dos cilindros e algumas gotas mancharem a pele dela,
uma vertigem inesperada me pega e tudo a minha volta começa a
ficar escuro.
O cheiro de álcool ou alguma coisa similar começa a me
fazer despertar. Ainda me sinto um pouco tonta e enjoada quando
abro os meus olhos.
Estou na cama de Matilde. Tenho ela e a enfermeira me
encarando preocupada.
— Como se sente, Gia? — A minha sogra questiona, aflita.
Tento me lembrar do que aconteceu e recordo que foi ver o
sangue que me fez perder os sentidos. E isso é muito estranho.
— Desculpe. Eu nunca passei mal vendo sangue antes.
Quando se cresce com três meninos cheios de energia,
sangue e ossos quebrados é algo que acontece muito.
Vejo a minha sogra e enfermeira trocarem uma mensagem
com o olhar.
— Oh, querida. Não será um bebê?
— Como?
— Grávida. Talvez você já esteja esperando um bebê.
Um bebê?
Levo a minha mão a barriga e fico pensando nessa
possibilidade.
Se formos levar em conta o tanto que eu e Salvattore
fazemos sexo, principalmente nos primeiros dia em Vergini, essa é
uma possibilidade muito grande.
— Temos que chamar um médico da famiglia. Sei que vai
querer alguém mais jovem, então se quiser, o sobrinho do doutor que
cuidou das minhas duas gestações também é um excelente médico.
Enquanto a minha sogra tagarela animada, o pânico toma
conta de mim. Se eu estiver mesmo grávida, muda tudo.
— A senhora pode não falar nada para o Salvattore ainda?
Eu quero ter certeza para não o decepcionar.
— Claro, eu entendo. Isso vai me fazer tão feliz, Giuliana. E
muito mais focada para fazer esse tratamento. Quero ter muitos anos
ainda com o meu neto ou minha neta.
O que Matilde diz com tanta animação, me dá uma enorme
pontada no peito, porque se isso for verdade o desejo dela não vai
se realizar.

***

A resposta para a minha dúvida chega no dia seguinte e


estou tão nervosa que peço a Chiara para ler.
— Então?
— Primeiro me diz se ficaria feliz ou chateada se desse
positivo?
— Se desse? — Indago e sento na cama, sentindo-me
surpreendentemente triste.
Passei a tarde e uma parte da noite quando Salvattore
finalmente pegou no sono, depois de me deixar exausta, pensando
na possibilidade de já ter um filho dele no ventre. E cada vez que eu
pensava no assunto, mais empolgada eu começava a ficar. Mesmo
com todas as dúvidas me deixando dividida.
— Pela sua cara se tivesse dado negativo, ficaria muito
triste.
— Chiara! Será que pode parar de enrolação? Pedi que
visse o resultado justamente para não passar pelo drama.
— Desculpa. Só queria saber como dar a resposta.
— Dizendo de uma vez qual é o resultado.
— Positivo — o sorriso dela se alarga e eu agradeço o fato
de já estar sentada.
— Quer dizer que estou grávida — balbucio mais para mim
mesma.
O peso da realidade caí sobre mim como uma bola de
guindaste. A menos que eu fuja como estive planejando, estarei
presa a esse casamento para sempre. Mesmo que Salvattore me
desse a liberdade como prometeu, eu não poderia ir embora sem o
meu bebê.
Toco o meu ventre e agora que essa criança é uma
realidade para mim, começo a sentir um amor que não sei de onde
vem.
O que eu faria agora?
CAPÍTULO 42

Normalmente problemas familiares são resolvidos na


própria família, mas quando há conflitos calorosos, como capo a
minha opinião é levada em conta ou decisão é acatada.
Dessa vez é uma briga sobre um casamento. Uma das
primas de Marco, pelo seu lado materno foi prometida a um dos
nossos importantes membros afiliados, mas a garota jura estar
apaixonada por outro.
Eu decidi ouvir os pais dela e garota para uma decisão mais
justa.
— O problema não é Donatella desistir do compromisso que
fizemos por ela — avisa o pai dela — Mas o homem que a seduziu
não é uma boa pessoa. Ele só está interessado no dinheiro dela. É
um vagabundo.
— Nós já a vimos machucada. Donatella nega que foi ele —
sua mãe choraminga — Morelli é um homem bom. Conhecemos sua
família há anos e ele pertence ao clã.
Normalmente preferimos que os nossos se casem com os
nossos. Dificilmente alguém de fora conseguia entender e ficar em
nosso mundo.
— Eu vou levar tudo o que me disseram em consideração.
Peçam a sua filha que entre.
Assim que o casal sai, encaro o meu primo.
— O que você acha?
— Investiguei sobre o cara e não gostei do que encontrei.
A conversa com a garota é um pouco mais tensa porque ela
mal havia saído da adolescência. Donatella me faz lembrar da Gia e
como deve ter sido assustador para ela unir-se a alguém como
Romano e depois ser obrigada a se casar comigo, o irmão do
homem que quase a violentou.
Só que diferente de Giuliana, a prima de Marco está
completamente cega por uma ideia de romance e amor, que impede
que qualquer outra pessoa a alerte sobre o caráter do homem por
quem acredita estar apaixonada.
— Eu imploro Don Lucca — ela vira para mim quando
chegamos a porta — Deixe que eu me vá. Aqui nunca foi o meu
lugar.
Mesmo que permitir que Donatella vá embora não quebre
uma das nossas leis mais importantes, ninguém deixa a organização
vivo, ela é só uma menina encantada com a ideia de estar
apaixonada.
Eu posso pensar em uma saída alternativa. Deixar que ela
passe algum tempo estudando fora e só quando retornar decidir se
quer aceitar o compromisso dos pais, ou encontrar alguém da
escolha dela que seja correto.
— Donatella... — seguro o ombro dela para tentar afastá-la
de mim.
— Por favor, Salvattore — ela insiste e dessa vez toca o
meu rosto.
A menina precisa de instruções melhores de como deve se
dirigir a mim, embora eu entenda que só está se deixando levar
demais pelas emoções.
Afasto o olhar dela para pedir que Marco a leve para os pais
quando avisto Giuliana parada em frente a sala.
— Gia... — chamo por ela, mas ela corre apressada em
direção ao elevador — Espere Giuliana!
Lanço a menina chorosa para os braços de Marco, mas
infelizmente só alcanço o elevador quando a porta é fecha.
O elevador ao lado parece levar uma eternidade para
chegar. Chego a garagem do prédio no momento que vejo um dos
seguranças abrir a porta do carro para Giuliana.
— Esperem.
Corro até onde estão e invado o carro, sentando-me ao lado
dela.
— Droga, Gia. Por que saiu daquela forma?
Ela está com o rosto voltado para a janela e se recusa a
olhar para mim.
— Não é o que está pensando, amore mio.
— Como você pode saber o que eu estou pensando
Salvattore?
Dessa vez ela me olha furiosa. Eu não sei o que me
incomoda mais, a ira de Gia ou seus olhos marejados.
Para quem não esteve presenciando a conversa e todo o
drama exagerado de Donatella, poderia considerar nossa interação
final equivocadamente errado.
— Por Deus, Gia! A Donatella é prima de Marco e só tem
dezesseis anos. Eu nunca me envolveria com uma garota tão jovem.
— Eu tinha dezessete quando nos conhecemos — ela
ressalta erguendo o queixo em sinal de desafio — E noiva do seu
irmão.
— Quase dezoito e é diferente.
Nos sentimos atraídos no primeiro olhar. Ainda assim eu já
era um homem de vinte oito anos.
Droga.
Tudo entre a gente começou de forma errada, mas de
alguma forma, fez nos encontramos.
— Por que Salvattore? Por que era diferente?
Ti amo più della mia vita.[26]
Da mesma forma que as nossas mulheres são criadas para
se tornarem as esposas perfeitas e submissas as nossas vontades,
nós somos treinados desde meninos a escondermos os nossos
sentimentos.
Só que eu não posso mais negar a mim mesmo os meus
sentimentos por Gia. Mas ela estaria pronta para ouvir isso de mim?
— Você sabe como as coisas aconteceram.
É decepção que vejo cobrir seu rosto antes de Giuliana
desvia-lo?
— O que havia com a garota, então?
— Donatella está apaixonada, mas foi prometido pelos pais
dela a outro homem no clã.
— Exatamente como aconteceu comigo — ela balbucia e
volta a olhar para mim.
— Ambos vieram me consultar como juiz. Ela me pedia para
deixá-la ir.
— E você vai deixar?
As coisas não são tão pretas no branco como Gia imagina.
Qualquer decisão minha, principalmente que envolva nossas regras
e lei, afeta todo o clã.
— Sabe que não posso fazer isso, Giuliana.
— Claro que não pode — os olhos dela lacrimejam mais e
ela cruza suas mãos sobre o ventre — Vocês nunca podem.
— Donatella não tem idade para saber o que é bom para
ela, mas...
— Não importa, Salvattore. O grande Capo tomou uma
decisão. Eu não quero mais falar sobre isso.
Eu sinto que precisamos. Mas forçar Giuliana entender que
permitir que Donatella parta com um homem que não é digno dela,
apenas a lançará em uma vida longe de todos que a amam,
condenando-a ao sofrimento e privações que ela nunca conheceu.
— Pode me deixar ir embora agora?
A minha ideia era voltar para casa com ela, mas se Giuliana
quer espaço, vou dar isso a ela. Tenho certeza de que até a noite ela
estará mais calma e eu possa explicar a solução que pensei para
Donatella.
— Te vejo a noite — viro o seu rosto para mim e cubro sua
boca com os meus lábios.
Num primeiro momento ela quer ser resistente, mas leva só
alguns segundos para Gia agarrar o meu terno e corresponder
apaixonadamente ao beijo.
Quando nos separamos sinto ter visto algo diferente em seu
olhar, mas depois deduzo que são coisas da minha cabeça.
O meu primo demonstra surpresa ao me ver retornar à sala.
— Quer um conselho, Marco. Nunca se apaixone e nem se
case.
— Então você já admite que ama a sua esposa.
— Quando notou isso?
— Em Vergini, mas se for analisar, acho que desde que
conheceu a Gia.
Ele não estava errado.
— Já disse a ela?
— Não é o momento certo ainda.
A verdade é que estou receoso. E a única coisa que liga
Giuliana a mim for a atração que sente?
Mas que droga!
Eu, um homem que teve uma imensa fila de mulheres
caindo em minha cama, agora sentia medo da própria mulher não o
amar de volta.
CAPÍTULO 43

Fui de coração aberto contar a Salvattore sobre o nosso


bebê, mas fui novamente surpreendida pela nossa dura realidade.
Nada na organização vai mudar. As mulheres vão continuar sem ter
uma voz e direito de escolha.
Aconteceu com a minha mãe, com a de Salvattore, comigo
e agora Donatella.. O mesmo destino aguardará esse bebê que
carrego, se for uma menina. E eu não posso fazer parte disso.
Eu me apaixonei por Salvattore como nunca imaginei amar
alguém, mas o meu amor de mãe já tomava conta de mim como uma
leoa.
Preciso proteger essa criança.
Assim que chego em casa, uso um telefone secreto que
tenho para mandar uma mensagem ao falsificador de documentos.
Eu tenho que fugir.
Não vai ser algo fácil e vou ter que usar a confiança de
alguém que eu gosto muito e sentirá o peso da minha traição.
— Gia? — Chiara surge em meu quarto quando estava
saindo do banheiro em lágrimas — O que foi? Salvattore não gostou
de saber sobre a gravidez?
— Não contei a ele, Chiara. Não falei sobre o nosso bebê —
soluço e caminho trôpega até a cama — Agora mais do que nunca
sei que preciso ir embora.
Não posso permanecer na máfia e nem ir embora deixando
o meu filho para trás. Já iria destruir o meu coração ter que
abandonar Salvattore.

***

Foi muito difícil nos dias seguintes fingir a Salvattore que


não havia nada de errado entre nós. Cada abraço, beijo e carícias
que ele me fazia, eu sabia que eram as últimas. Em cada momento
que ele me amou, entreguei-me sem reservas, dando tudo de mim.
Nunca haveria outro em minha vida e cama além de
Salvattore, então eu queria que cada um dos nossos momentos se
eternizassem em minhas memórias.
— O que acha jantarmos fora e depois irmos ao teatro essa
noite? — Sugere Salvattore assim que o carro para em frente a casa
dos pais dele.
— Algum encontro de negócios?
É comum ou se tornaria acompanhá-lo a compromissos
como esses para fechar de forma menos formal grandes transações
de negócios.
— Não Gia — ele pega a minha mão e leva aos seus lábios,
seu toque gentil me faz estremecer — Por nós dois. Para que você
se divirta um pouco.
— Será maravilhoso — respondo dando a ele um sorriso,
quando por dentro o meu coração está sangrando.
Não haverá jantar e agora é a última vez que nos vemos.
— Gia? — Ele toca o meu rosto com carinho — Há algum
problema?
— Não. Eu... a sua mãe. Fico sempre emotiva quando estou
com ela.
É suficiente para convencê-lo e não o alertar das minhas
verdadeiras intenções.
— Obrigado por fazer isso por ela. A mamma fica mais a
vontade quando está com ela.
Tento segurar um soluço com o que ele me diz, mas não
consigo. Sinto-me uma pessoa horrível por usar Matilde e seu
tratamento médico como parte do meu plano.
— Ela vai ficar bem Gia. O tratamento está indo muito bem.
Essa é a única coisa que me dá paz. Saber que a mãe de
Salvattore está reagindo bem ao tratamento e que as chances de
cura ficam maiores a cada sessão.
— Eu sei que vai — toco o rosto dele e amor dentro de mim
brilha como um farol —Salvattore... Não mude.
Pelo menos no meio que vivemos, nunca conheci alguém
como ele. Que pode ser duro quando precisa, mas gentil quando
necessário, pelo menos comigo.
— Todos mudamos Gia... — ele encosta a testa na minha
— Você me trouxe muitas mudanças. E eu prometo que todas as
outras serão melhores.
Como posso dizer adeus a ele, quando o meu coração grita
para eu ficar?
— Essa noite... — ele alisa o meu rosto com carinho — Eu
vou esperar ansioso.
Ele me beija. Não quero que esse beijo termine. O fim dele
significa o fim para nós.
O gosto da despedida é amargo e dolorido.
Com o coração em pedaços vejo Salvattore fechar a porta
do carro depois que eu saio, mas me observa pela janela até nosso
contato visual ser quebrado.
Caminho para o interior da mansão sentido como se o peso
do mundo tivesse sido colocado em minhas costas.
Assim como o filho, Matilde mostra muita gratidão por eu a
acompanhá-la a clínica.
Quando chegamos, aviso que eu ficarei em uma das
cadeiras no lado de fora da sala de tratamento, lendo um livro e ela
fica feliz por eu ter pensado nisso.
Há dois seguranças nos corredores atentos a qualquer
perigo que possa nos rondar, mas como se trata de um ambiente
hospitalar, eles não são tão rígidos na vigilância, basta apenas
saberem onde estou.
Eu preciso fazer apenas um se afastar e enganar ao outro
dizendo precisar ir ao banheiro. É um plano simples que tem muita
chance de não dar certo, mas se der, é a minha passagem para a
liberdade ou caminho a ruína e um futuro de sofrimento.

***

Algumas horas depois

Mal consigo acreditar que eu tenha conseguido mesmo,


enganar os seguranças. Mas assim que chego no estacionamento
subterrâneo e vejo os faróis piscarem, tenho a comprovação que
sim.
— Obrigada, Chiara — entro no carro apressadamente —
Teve algum problema até aqui?
— Deixei o troglodita com a Mia e a Sra. Giordano.
Arregalo os meus olhos com o que ela me diz.
— Deixou o Marco com a Mia?
Chiara sempre parece ter um surto quando vê a menina
correr para Marco, em busca de um pouco de atenção.
— Não sei por que — ela suspira — mas a Mia gosta dele.
Não. A filha dela tem verdadeiro encantamento pelo primo
do meu marido.
Eu queria ir mais profundo nessa história, mas não tenho
tempo para isso. Quando mais nós duas demorássemos, mais difícil
seria para Chiara provar que não me ajudou, embora eu tenha
deixado em meu quarto uma carta para Salvattore, isentando-a de
tudo.
Também deixei outras que deveriam ser entregues aos
meus pais e irmãos.
Acho que Tommaso, mesmo que tenha se aproximado
muito de Salvattore, iria me compreender. O restante nunca
conseguiria me perdoar pelo que fiz. Italianos, pelo menos os da
famiglia são cabeças duras e rancorosos.
— Quero que fique com esse telefone — entrego o aparelho
a ela — Guarde-o bem. E não deixe que ninguém descubra. Em três
dias vou entrar em contato e avisar que cheguei bem aos Estados
Unidos.
— Gia... — Chiara começa a chorar e eu desabo com ela
quando nos abraçamos.
Nesses três anos nos tornamos mais que amigas. Sinto
como se ela fosse a irmã que nunca tive e muitas vezes desejei.
— Não é um adeus definitivo. Sabe que pode me procurar
quando estiver pronta ou quiser.
— Se cuida, Gia — ela me pede quando chegamos no local
onde ela precisa descer.
É um ponto onde não há câmeras de segurança gravando.
E antes disso eu havia deixado o meu carro em um estacionamento
para que Chiara pudesse dirigi-lo sem ser flagrada pelas câmeras da
casa de Salvattore.
— Se cuida também. E cuida da Mia.
Nos abraçamos outra vez. Não consigo continuar a olhar
para ela quando Chiara desce do carro para ir em busca de um taxi.
Durante todos os minutos seguintes que saio dirigindo,
tenho meus olhos turvos pelas lágrimas que derramo.
Vou em direção ao Oeste. É a Zona dos Conti e último lugar
que Salvattore e minha família cogitariam que eu pudesse seguir.
Já está anoitecendo quando paro para descansar em um
pequeno hotel.
Visto-me com simplicidade para me encontrar com o Sr.
Caputo.
— Sra. De Lucca — ele cumprimenta respeitosamente
quando me vê surgir no restaurante.
Um homem como ele, que trabalha com o que ele faz, sabe
bem o que o nome De Lucca significa, mas aqui estamos no território
inimigo.
— Apenas Giuliana — alerto-o, olhando a nossa volta
Há apenas dois homens em uma mesa próxima que
poderiam tê-lo ouvido dizer o meu nome de casada, mas eles
parecem entretidos avaliando o menu.
— Ou melhor, Ava Johson, agora. Você trouxe os papeis.
— Tem certeza de que isso não irá me colocar em
confusão?
— Se o seu trabalho for mesmo tão incrível como me
prometeu. O meu marido nunca irá me achar, então sua cabeça vai
continuar no lugar — pego o envelope dentro da minha bolsa — Aqui
o seu dinheiro.
Ele não olha e nem conta as notas dentro do pacote.
Preciso confiar que ele vai me entregar o pedido que fiz a ele, já que
estou dando cada centavo do que foi combinado.
O meu retorno ao hotel é tranquilo e somente na segurança
do quarto que confiro os documentos falsos.
Quando tiro os sapatos e olho a noite escura pela janela,
penso no que possa estar acontecendo em casa. A essas alturas
Salvattore já foi comunicado do meu desaparecimento e se dado
conta de que fugi.
O que ele sentiria mais? Raiva ou ódio pelo que fiz?
Algum dia conseguiria me perdoar?
Toco em meu ventre e tenho a resposta que faz o meu
coração já machucado, se partir em mil pedaços.
Fugi levando o nosso filho em meu ventre.
Salvattore nunca iria conseguir me perdoar por isso.

***

Os poucos minutos que consegui pegar no sono, fui


invadida por sonhos terríveis, que me faziam acordar assustada.
Perto das cinco da manhã, decido que não adiantava insistir e
quanto mais cedo eu deixasse a área controlada pelos Conti, seria
melhor.
É minha última parada em um café antes de chegar ao
aeroporto na próxima cidade.
Peço um capuccino e um pedaço de torta. Quando me dirijo
a uma das mesas, vejo que um grupo com quatro homens olham
insistentemente para mim.
Desconfortável, concluo apenas que são um grupo
procurando por aventuras e decido não olhar mais para eles para
não mandar respostas erradas.
Infelizmente situações como essa podem acontecer muitas
vezes no futuro e esse é um dos momento em que me arrependo de
ter reclamado tanto da proteção que sempre recebi do meu pai,
irmão e Salvattore.
Como estariam?
Não consigo parar de pensar nele e refletir sobre a grande
besteira que estou fazendo. E principalmente injustiça que estou
fazendo com Salvattore. Eu nunca dei oportunidade para ele se
defender das minhas desconfianças e acusações.
Salvattore não é, e nunca foi, como o seu falecido irmão,
Romano. Mesmo quando fica zangado comigo, ele nunca é
agressivo. Salvattore só me entregou carinho e paciência.
Que merda eu fiz?
Fugir não é a solução. Dentro da organização eu tenho mais
poder do que fora. E talvez nesse momento eu não possa ajudar a
prima de Marco, mas posso tentar mudar algumas coisas para as
próximas gerações, inclusive para o bebê em meu ventre se for
menina.
Além disso, é injusto deixar que nosso filho cresça longe do
pai e que Salvattore ignore a existência dele. Eu tive pais e irmãos
amorosos. Não posso negar a famiglia a esse bebê.
Tenho que voltar para casa. Mesmo que Salvattore decida
me castigar, que nunca vá me perdoar e exija o divorcio, preciso
fazer o que é certo. Esse é o meu mundo. É tudo o que conheço e eu
amo a maior parte do que tenho.
Seco as minhas lágrimas, dessa vez de alívio e felicidade e
deixo o meu pedido intocado sobre a mesa.
Quero voltar às pessoas que eu amo o mais rápido
possível.

***
Mas parece que o destino não está a meu favor como eu
gostaria. Eu mal tinha dirigido quinze minutos quando meu carro
parou na estrada.
Olho angustiada para o capô aberto. Não entendo nada de
mecânica e não sei o que possa ter acontecido. Fiz uma checagem
geral no carro antes de seguir para essa viagem. Eu deveria ter
prestado mais atenção quando via Tommaso mexer no carro dele.
— Está com problema senhora?
Para o meu desespero ficar ainda maior, vejo um carro
parar ao lado do meu. Reconheço os quatro homens estranhos que
estavam no café.
— Não se preocupem. Eu vou chamar o serviço de estrada.
Um deles desse do carro, ignorando completamente a
minha recusa.
— E deixar uma senhora sozinha em uma estrada como
essa? — O homem fala abrindo um sorriso e cheia de pânico vejo os
outros descerem.
— O que Salvattore De Lucca pensaria de nós ao saber que
permitimos que sua esposa ficasse desamparada na estrada? —
Pergunta o quarto homem ao descer.
— O que disse?
Eles começam a se mover de maneira que façam um
círculo ao meu redor.
— Don Conti pediu que cuidássemos muito bem da senhora
— o motorista abre um sorriso desprezível e faz sinal para um dos
seus companheiros que agora eu vejo carregar uma corda — E nós
não queremos irritar o capo.
— Não se aproximem de mim — aviso, tentando fazer com
que a minha voz soe firme — Salvattore e meu irmão irão arrancar
suas peles se souberem que tocaram em mim.
Eles riem. O excesso de confiança não permite que vejam a
idiotice que estão fazendo.
— Se me deixarem ir, prometo que não conto nada. Digam
a seu chefe que consegui fugir.
Encaro cada um deles com desespero.
— Isso vai começar uma guerra novamente.
— Senhora, essa guerra nunca terminou.
Quando um deles agarra os meus braços e o outro coloca
um pano em meu rosto, o desespero me faz tentar lutar contra eles.
Quando levo um golpe no rosto e outro na cabeça,
Salvattore e nosso bebê são as últimas coisas que penso.
Eu coloquei nosso filho em risco, como toda a famiglia
também.
CAPÍTULO 44

Desde que deixei Giuliana na casa dos meus pais que algo
está me incomodando.
Eu a senti diferente, mas julguei que fosse devido a
acompanhar a mamma em mais uma rotina do tratamento dela.
Algo não está certo e isso não me deixa concentrar no
trabalho.
— Assinou no lugar errado novamente Sr. Salvattore — a
secretária avisa após ter entregado o documento a ela.
— Desculpe. Traga a última folha novamente.
Assim que ela se retira esfrego o meu rosto e pego o meu
celular em cima da mesa. Já tinha pensado enviar uma mensagem
para Gia, conferindo se tudo estava bem, mas agora decido ligar.
Ouvir a voz dela vai me deixar mais calmo do que qualquer
mensagem de texto.
O telefone chama algumas vezes antes de cair na caixa de
mensagem. Penso em ligar para a minha mãe, talvez o telefone de
Giuliana estivesse descarregado. Mas quando vou discar o número é
o meu telefone que toca.
— Sr. Salvattore?
— Luigi?
Sinto os pelos da minha nuca arrepiarem e antes mesmo de
me erguer da cadeira e ouvir o que o segurança tem a dizer, sei que
algo aconteceu.
— Perdão senhor, mas a Sra. De Lucca desapareceu.
— Qual delas? — Pergunto friamente, embora por dentro eu
me sinta como um vulcão prestes a explodir.
— A sua esposa senhor.
A minha vista fica turva e eu preciso me segurar na mesa.
— Não deixe ninguém entrar ou sair do prédio.
Não importa quanta confusão isso poderia causar. Enquanto
eu não soubesse o que realmente aconteceu com Giuliana, o lugar
ficaria sob o meu domínio.
Chego o mais rápido possível ao hospital e encontro com
minha mamma, além de debilitada por causa do tratamento,
desesperada pelo que possa ter acontecido a Giuliana.
Depois da morte do meu irmão, ela ficou ainda mais
apegada a mim e a minha esposa.
— Salvattore! Você tem que encontrá-la. É tudo culpa
minha. Alguém a levou. Sei disso.
— Calma mamma. Vamos achar a Gia. Eu prometo.
Quando a deixo um pouco mais tranquila, peço que um dos
homens a leve para casa. Ela precisa descansar um pouco.
Se for mesmo verdade que alguém conseguiu invadir a
minha segurança e levou minha esposa, é bom que o infeliz comece
a pensar como se entender com o diabo, porque ele irá direto para o
inferno quando eu o encontrar.
— Salvattore?
Marco surge alguns minutos depois que enviei uma
mensagem a ele.
— Falou com Chiara? Ela disse alguma coisa?
— Não. Chiara tinha saído para comprar algumas coisas
para Mia.
Isso não é um bom sinal.
— Onde ela está? — Soco a parede a minha frente e não
dou importância aos nós dos meus dedos ficando doloridos — Onde
está a minha esposa, Marco?
Os minutos seguintes são os mais atordoantes da minha
vida.
— Desculpe, senhor — O chefe dos soldados vem ao meu
encontro — Viramos o lugar de cima a baixo. A Sra. De Lucca não
está aqui.
— Procurem de novo! — Exijo com a voz exaltada.
— Salvattore — Marco me puxa pelo braço — Isso é perda
de tempo. Vamos nos concentrar em procurar nos lugares certos e...
Ele se cala e vejo que tem algo importante a dizer.
— Já pensou se ela foi embora por vontade própria?
— O que quer dizer?
— Talvez ela tenha fugido.
Gia fugindo?
De mim?
Ela mencionou isso muitas vezes, mas foi antes de termos
começado a nos acertar. Tudo estava bem entre nós e essa noite eu
confessaria a ela os meus sentimentos.
Por que ela fugiria?
— Senhor? — Viro para Luigi que esteve conversando com
um dos seus homens — Uma das câmeras de segurança indicaram
a Sra. De Lucca indo para o estacionamento, depois entrando em um
carro.
— Eu quero ver as imagens.
Não tinha como negar, mesmo usando um disfarce de
enfermeira, reconheceria Gia de olhos fechados. As imagens
provavam que Marco estava certo. Ninguém havia levado Giuliana
contra a vontade dela.
Ela havia fugido.
De mim.
CAPÍTULO 45

Eu deveria me apegar a dor e desespero em saber que


Giuliana havia ido embora, me abandonado, mas não.
Tudo o que desejo é encontrá-la e exigir que ela diga
olhando nos meus olhos que realmente não sente nada por mim.
Porque todas essas semanas e quase três meses juntos, só me
provaram o contrário.
O que havia assustado Gia. A intensidade que me mostrava
apaixonado por ela?
Sermos tão insaciáveis na cama?
Ou a ideia de ter um bebê agora.
Porra, tirando o fato de que sou completamente apaixonado
por elas, todas as outras coisas poderiam ser resolvidas. Posso
tentar ser um pouco menos passional no sexo e a questão do bebê
pode ser adiada até que ela se sentisse pronta.
— Os Ricci já estão aqui — avisa Marco vindo ao meu
encontro no bar.
— Apenas os irmãos de Giuliana?
— Alessandro, Mattia e Tommaso como me pediu.
Eu não quero que os pais dela se envolvam nessa história.
E pedi ao meu que ficasse em silêncio e me deixasse resolver tudo.
A fuga de Giuliana seria considerado por todos como alta
traição. A execução dela seria o único castigo aceitável. E eu não
posso permitir que ninguém toque nela.
Mas eu preciso colher informações de quem conhece a
minha esposa muito bem. Ninguém é melhor do que seus irmãos.
— Salvattore? — Como mais velho Alessandro é o primeiro
a se dirigir a mim.
— O que você fez a Gia? — Tommaso vem logo depois e é
paralisado pelo irmão mais velho de me atacar.
— Deixe ele nos dizer Tommaso — avisa Mattia, enquanto
esfrega uma mão na outra e me entrega um olhar brilhando a
confusão — Dessa vez vou deixar que falem primeiro antes de
atacar.
Olho para os dois sem muita paciência. Será que tinham
alguma noção de com quem estão falando?
— Fiquem calmos os dois — ordena Alessandro — Eu sei
que Salvattore tem uma boa explicação para o sumiço da Gia.
Eu não tenho. Eu nem consigo entender por que ela fez
isso.
— Primeiro eu tenho que dizer uma coisa importante sobre
mim e a irmã de vocês. Nós estivemos mentindo por todos esses
anos.
Conto a eles como foi desde o meu primeiro contato com
Giuliana, o acordo para o casamento, até nosso reencontro em
Vergini.
— Agora tudo faz mais sentido — declara Alessandro.
— Eu sabia que alguma coisa estava errada — acrescenta
Mattia.
— Você disse que a amava? — A pergunta de Tommaso me
pega de surpresa.
— Nós parecíamos bem. Eu não entendo por que Gia fugiu.
— Então você não disse que a amava? — Tommaso reforça
a pergunta — Porque você a ama, não é?
Não é para eles que queria assumir isso.
— Sim. Eu amo a irmã de vocês.
Tommaso respira, aliviado.
— Eu conheço a Gia. Antes de vir para o casamento dela
com Romano. Eu propus a ela que fugisse.
— Então você... começo a me erguer, irritado.
Que Gia tivesse se deixado levar pelas emoções, posso
perdoar, mas a traição de Tommaso não.
— Não a ajudei agora. Eu juro.
Pela preocupação que o vi chegar, acredito nele.
— Voltando ao assunto. Eu organizei para que Gia fugisse
um dia antes da viagem.
— Tommaso! — Os irmãos o repreendem.
— Qual é? Todos nós sabemos como Romano era — ele
olha para mim — Era seu irmão, mas não valia nada. Não conseguia
aceitar a ideia de entregar minha irmãzinha a ele.
Não posso julgar, no lugar dele faria o mesmo. Aliás foi por
muito pouco que eu mesmo não dei fim ao Romano pelo que tentou
fazer com a Gia.
— Mas ela não quis. Mesmo tendo a oportunidade a Gia
ficou por nós, pela famiglia. E Salvattore, acho que mesmo sua
proposta tendo sido tentadora para ela, a minha irmã se casou com
você também para continuar nos protegendo. Então só há dois
motivos para ela ter ido embora agora.
— Quais Tommaso?
— Ou foi a ideia de ter um filho com você que a deixou
assustada. Ou ela também descobriu que te ama. Eu aposto na
segunda opção. Acho que Gia não acredita que sente o mesmo por
ela e isso a fez ficar com medo.
Giuliana me ama?
Ao mesmo tempo que a felicidade invade meu peito com
essa incrível possibilidade, o medo também abocanha o meu
coração.
— Temos que encontrá-la — aviso firme e com
determinação — Nem que precisemos colocar esse país inteiro de
cabeça para baixo, precisamos encontrar a ninha esposa e vou até o
inferno e enfrento o próprio diabo se for preciso.

***
Cinco dias depois

Naquela mesma tarde da chegada dos Ricci, descobri que


Giuliana havia deixado uma carta para os pais dela e para cada um
de nós.
Não consegui abrir a minha ainda. Fazer isso seria assumir
a minha derrota e a possibilidade que ela não fosse voltar. E eu não
posso aceitar isso.
Só que todos esses dias de angústia e procura sem
nenhum resultado do paradeiro da minha esposa, está me matando.
— Marco? Olharam no aeroporto novamente? Talvez ela
tenha usado uma identidade falsa para sair do país.
Depois que descobrimos que Giuliana fugiu, o caminho
mais fácil era seguir através das câmeras das ruas e prédios por
onde ela passava, que rota estava seguindo. Foi desesperador ver
que Gia havia entrado na área dos Conti e que o sinal dela havia
sumido ao entrar em uma estrada mais deserta sem captação de
imagens.
— Tenho quinze homens assistindo pela terceira vez todas
as imagens das gravações que conseguimos. Ela não entrou no
aeroporto, nem mesmo disfarçada.
Giuliana não seguiu para o aeroporto como também o carro
dela havia desaparecido. Isso me leva a uma ideia que aterroriza o
meu coração.
— Sr. Salvattore?
Demoro uns três chamados baixinhos para eu notar que
Chiara está pedindo a minha atenção. Ela tem os olhos vermelhos e
inchados, comprovando que havia chorado. Sei que suas lágrimas
são por Giuliana, as duas se tornaram muito amigas.
Eu só não peguei pesado com ela no interrogatório porque
ao que ela disse, só sabia mesmo do desejo de Giuliana fugir e
porque Marco não me deixou ser mais duro.
O homem passou semanas deixando claro como Chiara o
irritava, mas quando decido ser mais rígido com ela, simplesmente
vem em sua defesa.
— Tem algo muito importante que não contei.
Assim que ela diz isso, vejo Marco saindo do meu lado para
ir para o dela. O que ela não percebe devido ao seu estado de
tensão.
— Fale de uma vez Chiara. Qualquer coisa pode nos ajudar
a encontrá-la.
— A Gia me deu esse telefone — ela estende um aparelho
— E disse que ligaria em três dias quando chegasse aos Estados
Unidos.
Uma grande ira começa a me tomar.
— Então você sabia... — dou um passo até ela, mas Marco
se coloca na frente — Sabia o que Gia estava planejando o tempo
todo.
— Ela é a minha amiga!
— E você ainda a protege, Marco.
— Fique calmo, Salvattore. Você ouviu o que Chiara disse.
Ela é amiga da Gia.
— Isso não justifica.
Quero esganar Chiara e só não faço isso nesse exato
momento porque Marco está na frente dela agindo como escudo.
Mas eu posso dar um belo soco na cara do meu primo. Ele nunca se
colocou contra mim como agora.
— Não me faça machucar você, Salvattore.
Agora ele me ameaça? Por uma garota que ele nem mesmo
gosta?
— Quero ver você tentar — aviso friamente.
Nós dois somos bons de briga e eu estou mesmo
precisando eliminar a tensão em algum lugar.
— Parem com isso! — Chiara consegue passar por de trás
de Marco e se coloca entre nós — Tenho algo mais importante para
falar.
Ela olha para mim com o medo evidente no rosto.
— A Gia... — ela soluça, mas consegue conter o choro — A
Gia... Ela... ela está grávida, Salvattore. Ela devia ter entrado em
contato e não ligou. Estou preocupada.
Fico completamente imóvel.
— O que disse?
— Faz alguns dias que Gia fez o exame e descobriu que
está grávida. Vocês vão ter um filho. Agora os dois podem estar em
perigo. E se teve um acidente ou...
Um filho. Giuliana fugiu, levando o nosso bebê em seu
ventre.
Eu sou invadido por tantos sentimentos, que nem consigo
descrever, mas me apego a um absurdamente forte, a raiva.
— Tire-a daqui Marco — aviso com uma voz
ameaçadoramente calma — Tire-a da minha frente ou nem mesmo
você irá conseguir salvar a pele dela nesse momento.
Chiara começa a chorar copiosamente e Marco a tira da
sala. Pego a primeira coisa que encontro, um vaso, e jogo-o contra a
parede. Disso para outros objetos e móveis da casa receberem os
meus ataques é questão de segundos.
Em poucos minutos a sala inteira é colocada abaixo e a
fúria ainda me domina.
Onde está Giuliana e meu filho?
Agora mais do que nunca preciso encontrar os dois.
— Salvattore?
Olho para entrada e vejo Mattia surgir, logo após ele seus
dois irmãos. Todos estamos concentrados em encontrar Giuliana.
— Ela está grávida — solto num fio de voz e meus joelhos
perdem a força e eu caio no chão.
Nem mesmo um deles receber um corte pelos cacos de
vidro de alguma coisa que quebrei me incomoda.
— Gia fugiu com o meu filho.
As lágrimas ardem em meus olhos e eu pouco estou ligando
de os irmãos dela estão vendo a maior fraqueza que já demonstrei
até hoje.
— Você não pode perder a cabeça, Salvattore — avisa
Alessandro, desviando-se da grande bagunça que causei para vir até
mim — Mattia descobriu algo importante.
— Encontraram o carro de Gia abandonado dentro da mata.
— Ela...
Não tenho forças para perguntar.
— Sem sinal do corpo, de acidente ou de violência.
Podem ter inúmeras suposições para responder o que havia
acontecido, mas a resposta chega quase uma hora depois com uma
ligação anônima em meu telefone.
— De Lucca? Aqui é Jacopo Conti...
Antes mesmo que ele continue, já sei o que ele está prestes
a falar.
— É bom que não tenham tocado em único fio de cabelo
dela — ameaço apertando o telefone — Ou juro que eu mesmo vou
fatiar a sua pele, com você ainda vivo.
Eu tinha jurado que caçaria Giuliana até mesmo no inferno
e que enfrentaria o próprio diabo para tê-la de volta.
Esse momento havia chegado.
CAPÍTULO 46

Não sei quantas horas e dias estou nesse cativeiro. Em


todo o momento o meu rosto permaneceu coberto por um capuz e só
erguiam um pouco para me darem alguns goles de água e me
alimentar.
Perdi as contas de quantas vezes pedi para me libertarem,
que chorei, tentei escapar e fui duramente contida.
Tenho medo por mim, pelo bebê em meu ventre, mas
principalmente por Salvattore e meus irmãos. Quando fosse dada a
notícia que os Conti haviam me sequestrado, eles seriam capazes de
qualquer coisa para me resgatar, inclusive fazerem algo irracional.
Tudo isso por minha culpa. Se não tivesse agido como uma
garotinha cheia de paranoias, fugindo de Salvattore, nada disso teria
acontecido.
Fui eu que coloquei todos nós em perigo e agora poderia
acontecer uma tragédia.
— Falamos com o seu marido — ouço a voz vinda de algum
lugar — Ele não está muito feliz em saber que é nossa hóspede.
Embora ele declare assim, as circunstância como também o
pouco que consegui avaliar o lugar onde eu estou, me dá todos os
sinais de que não foi para uma das mansões dos Conti que fui
levada.
Esse é um lugar úmido e eu sinto forte cheiro de maresia e
de peixe, o que me indica que estamos próximo a zona portuária.
O negócio dos peixes no leste é dominado pela famiglia
Conti.
— O que deixaria seu esposo ainda mais enlouquecido?
Cortar um dos seus dedos? E seu irmão Alessandro?
— Não toquem em mim! — Esperneio em pânico quando
um dos homens se coloca as minhas costas e segura os meus
ombros para que eu não me mexesse.
O capuz é levantado e um homem gordo e careca abre um
sorriso desprezível para mim.
— Algum dos seus dentes? Ou a sua língua talvez.
Um dos seus soldado entrega uma tesoura de jardineiro a
ele, enquanto um terceiro enfia seus dedos em meu rosto. Lágrimas
de desespero e medo escorrem dos meus olhos.
— Não vai doer querida. É só você ficar parada.
Começo a gritar quando o vejo se aproximar mais, mas os
dedos afundando em minhas bochechas impedem que a minha
súplica saia de forma compreensível.
Salvattore! Chamo por ele em pensamento e o medo de que
o pior aconteça me faz chorar com mais desespero.
CAPÍTULO 47

Agora que temos a confirmação que Don Conti está mesmo


com Gia e meu filho, estamos correndo contra o tempo para achar o
lugar onde os desgraçados os mantém em cativeiro e planejar o
resgate.
Desde a ligação de Jacopo, exigindo que eu mesmo e
sozinho fosse buscar a minha esposa, passou um pouco mais de
vinte quatro horas.
O meu desejo é fazer exatamente o que ele pede, mas
racionalmente sei que isso não passa de uma armadilha para me
atrair ou a Alessandro. Precisamos ser mais frios e inteligentes,
embora saber que minha esposa e filho ainda não nascido estão nas
mãos do meu maior inimigo me causa arrepios.
— É em alguns desses pontos na área na zona portuária —
avisa Mattia apontado no mapa sobre a mesa.
— Você tem certeza Mattia? — Questiono, ansioso — Não
podemos dar um tiro em falso.
Quando saíssemos para enfrentar os Conti, não
poderíamos deixar uma alma viva pelo caminho, além de Gia e meu
filho. Atacar o lugar errado poderia alimentar ainda mais a fúria dos
Conti, levando-os fazer algum mal a ela.
— A minha fonte é segura, como falei dos russos.
— Como você pode ter certeza? E se esse tempo todo
tiverem usado e engando você?
Vejo a sua expressão endurecer.
— Ela não me usou.
A fonte ou ela significava uma mulher?
— Salvattore? — Tommaso surge.
Ele está pálido e carrega um pacote pardo.
— Isso acabou de chegar.
Por segurança qualquer encomenda enviada a mim que não
venha de fontes seguras, precisa ser aberta antes, então o jovem já
sabe o que é.
Quando abro, acabo desabando sem forças na cadeira.
— É uma mecha do cabelo da Gia — balbucio e entrego a
Alessandro — Aquele desgraçado...
Salto da cadeira e Tommaso se coloca entre mim e a porta.
— É isso que ele quer Salvattore — avisa Alessandro —
Fazer você perder a cabeça.
— Então ele está conseguindo! — Fecho os meus punhos
com força — Eu avisei que acabaria com ele se tocasse em Giuliana
— Alessandro tem razão Salvattore — Marco diz a mim —
Jacopo poderia ter feito coisa pior se fosse a intenção dele. Está
tentando ganhar tempo e te desestabilizar.
Sei que preciso continuar tentando manter a cabeça fria.
— E o que vamos fazer? Agora foi um fio de cabelo. Qual
outra parte de Gia ele vai tirar?
Todos nós nos olhamos em silêncio. Eu não conseguia se
quer imaginar o pior. Já me bastava saber que nesse momento a
minha esposa deve estar apavorada.

***

Depois de algumas horas e uma investigação mais


profunda, tivemos a confirmação de que Gia está mesmo sendo
mantida em um antigo galpão na zona portuária.
O lugar está protegido com muitos soldados, mas unindo
todos os que consegui convocar, os de Alessandro e alguns
enviados por nossos aliados irlandeses, temos um número tanto de
pessoas como de armamento muito superior.
O problema é atacar o lugar, sem que Giuliana seja
atingida.
— Esse é o Slayer — Alessandro surge na sala na
companhia de um homem alto e musculoso.
Mas não é isso que chama atenção nele, todos aqui cuidam
muito bem do físico. O homem está vestido de preto da cabeça aos
pés e tem uma cicatriz que começa na sobrancelha direita e desse
até o seu pescoço.
— Ele é o melhor, o mais letal, o assassino mais silencioso
que você terá a oportunidade de conhecer. Slayer nunca falhou em
uma missão.
A expressão dura também pode ser bastante intimidante até
para os meus soldados mais experientes. E indica que o assassino
não vai errar agora.
— Enquanto atacamos esse ponto, esse e esse — Mattia
indica os lugares marcados com um X no mapa — Slayer e eu
entramos por aqui...
— Eu vou com ele — comunico com firmeza.
Se alguém tem que estar próximo a Gia quando o cativeiro
for estourado, serei eu.
— Salvattore, nem você ou Alessandro devem se colocar
como alvo — relembra Tommaso.
O garoto tem razão, mas eu estou me fodendo para isso.
— Eu vou.
— Nesse caso também vou — avisa Marco.
Os três irmãos se encaram e acho que chegam à conclusão
que não vão me convencer a mudar de ideia.
Ok. Então Salvattore, Marco e Slayer vão por aqui para
resgatar Gia e o todo restante atacamos nesses outros pontos.
— Quando vamos ir? — Pergunto, ansioso.
— Os homens só estão terminando de serem equipados.
Vai ser um banho de sangue impossível de manter
escondido e vai custar uma grande fortuna para encobrir e mascarar
parte da história, mas tudo o que me importa é recuperar Giuliana e
nosso filho, sem nenhum arranhão.

***

A viagem inicia pela tarde para chegarmos ao Leste durante


a noite.
Fomos divididos em grupos de carros diferentes, vindo de
várias regiões para não chamar atenção.
Quando finalmente chegamos à área portuária e
começamos a nos reunir, sinto a adrenalina correr pelas minhas
veias. Vamos pegar os Conti de surpresa e eles vão levar muito
tempo para se recuperarem de quem os derrubou.
— Daqui vocês três seguem sozinhos — avisa Mattia
quando nos aproximamos de contêineres abandonados que nos
servem como proteção — Slayer vai conseguir colocá-los para
dentro. Lembre que o primeiro passo da missão é encontrar a Gia e
nos dar sinal para atacar. Quando for seguro para ela, tirem-a do
galpão.
Não me deixa feliz ter que seguir cegamente o assassino
preferido de Alessandro, mas esse é o nosso melhor plano e a vida
de Gia e do meu filho depende disso.
Meu cunhado tinha razão quando avisou que seu soldado
agia silenciosamente. Em cada caminho que vai abrindo para nós,
corpos vão se acumulando pelo chão sem que nenhum suspiro fosse
emitido.
Isso deixa tanto a mim quanto Marco impressionados.
Ao chegarmos no ponto do galpão que Mattia havia
indicado nas fotos aéreas, Slayer faz um sinal que devemos nos
manter no lugar e em silêncio. Estava perto de mandá-lo ir ao inferno
e que eu mesmo iria entrar para procurar Gia, quando Marco me
impede.
Respiro fundo e obrigo-me a manter a calma. Não posso
colocar a vida de Giuliana em risco, apenas para bancar o herói.
Esperamos por algum sinal de Slayer que leva uma eternidade para
voltar.
Seguimos nos esgueirando por dentro. Vejo um soldado
armado vindo na direção onde o meu primo está agachado,
escondido.
Tenho um silenciador na minha arma e tudo que preciso
fazer é dar a volta em alguns barris e pegar o homem de surpresa.
Movimento-me o mais rápido que consigo e me esgueiro entre as
sombras. Quando o homem estaca ao ver Marco agachado e reflete
em como vai agir, coloco a minha arma na nuca dele e disparo.
O seu corpo pesado tomba em minha direção e só o
sustento para não causar barulho quando ele caísse morto no chão.
Marco me encara agradecido e Slayer me dá uma olhar
quase de admiração.
Não sou um idiota, queria dizer a ele, mas esse não era o
momento brigarmos feito pavões.
Trabalhando juntos, conseguimos eliminar mais alguns
soldados dos Conti e quando avançamos mais para dentro vejo Gia
mantida presa em uma cadeira e com um capuz cobrindo a sua
cabeça.
O meu coração se enche de um sentimento profundo ao vê-
la e só não corro até ela porque o perigo ainda está presente.
— Já mandei o sinal a Mattia — avisa Marco.
Os sons incessantes de tiros levam a maior parte dos
soldados vigiando Gia para fora e nós conseguimos pegar
desprevenidos os que sobraram. Na verdade, Slayer dá cabo da
maioria deles em uma velocidade espantosa. Ele usa tanto facas
como Marco, quanto pistolas e movimentos de lutas para fazer
homem a homem caírem aos seus pés.
A pancadaria continua lá fora, mas aqui dentro
aparentemente a área está limpa.
— O que está acontecendo? — Os gritos desesperados de
Gia me levam ao estremo da angústia e preocupação — Alguém
está aqui? Me soltem!
— Gia! — Dessa vez corro até ela.
— Salvattore? É você? Você está aqui?
Enquanto ela faz as perguntas e chora ao mesmo tempo,
arranco o capuz de sua cabeça. Nos primeiros segundos ela pisca os
olhos por causa da privação da luz que teve esse tempo todo.
Não é apenas as lágrimas molhando seu rosto que percebo,
mas ela tem uma mancha na bochecha esquerda. Maldito Conti. Ele
vai pagar por isso.
— Amore mio — tomo todo cuidado para não a machucar
mais quando começo a desatar os nós da corda em seus pulsos.
— Você veio — Gia sorri e chora ao mesmo tempo e me
encara como se não conseguisse acreditar — Veio nos salvar,
Salvattore.
— Eu iria até o inferno para te encontrar Gia — trago-a para
os meus braços quando finalmente a deixo livre — Ti amo con tutto il
cuore.
Declaro o que já deveria ter dito a ela a muito tempo.
A incredulidade em seu rosto me faz sorrir.
— Você não me odeia? — Novas lágrimas começam a
escorrer pelo seu rosto.
— Tesoro mio — aliso sua bochecha com carinho — Como
eu poderia te odiar. Quase enlouqueci quando você foi embora Gia.
— Me perdoe Salvattore. Eu estava voltando para casa.
Para você, mas eles me pegaram e...
— Não se exalte. Isso não é bom para o bebê.
— Você já sabe? — Ela me encara com medo.
É a última coisa que desejo que Gia sinta por mim.
Medo.
— Chiara me contou. Quando você não mandou notícias
como prometeu ela ficou preocupada.
Ainda quero castigar a amiga de Gia por ter participado de
toda essa insanidade, mas não posso pensar nisso agora.
— É melhor sairmos — avisa Marco e Slayer concorda com
a cabeça
— Teremos todo o tempo do mundo para conversar, amore
mio. Agora temos que ir — levo a minha mão carinhosamente ao
ventre dela — Preciso colocar vocês dois em segurança.
Com Gia agarrada a mim, seguimos Slayer e Marco para a
saída.
— De Lucca?
O chamado as minhas costas, me coloca em um estado de
alerta e antes de me virar na direção que veio a voz, levo Gia para
atrás de mim.
Jacopo tem uma arma apontada em nossa direção.
— Eu sabia que viria — ele diz com um sorriso
enlouquecido — Não importa quantos homens eu tenha perdido essa
noite. A sua morte me valerá a pena.
Eu só me importo em manter Gia segura.
O que o Don Conti não contava era que eu não estava
sozinho. Ele fica extremamente surpreso quando vê Marco e Slayer
saírem das sombras. Enquanto Jacopo aponto a arma para o
assassino que fica cada vez mais perto dele, Marco saca sua faca e
lança em direção a ele.
Os olhos do homem esbugalham quando a faca do meu
primo atravessa sua garganta. O sangue começa a jorrar para todos
os lugares. Jacopo chega a levar sua mão ao pescoço, mas não há
nada que ele possa fazer, em poucos segundos ele cai sem vida em
frente a nós.
O ruido de algo caindo nos faz olhar para o outro lado do
galpão e conseguimos ver um dos filhos de Don Conti olhar com ódio
para nós, mas principalmente para Marco, antes de fugir pelas
sombras.
— Sou grato pelo que fez — digo ao meu primo — Mas
agra você sabe que colocou um alvo na sua cabeça, não é Marco?
Ele não se abala com o que eu afirmo.
— Esteve comigo desde o dia que nasci.
É assim para quem nasce na máfia como nós.
Temos sempre a mira apontada em nossas cabeças.
CAPÍTULO 48

Não sei até que ponto estou encrencada, mas quando


entramos no carro para irmos embora, é muito bom me ver
novamente em segurança e com Salvattore.
Também me encheu de alívio e felicidade ver que os meus
irmãos passaram por tudo isso, sem ferimentos graves. Apenas
Mattia, e isso não é nenhuma surpresa para mim, havia levado um
tiro de raspão no ombro ao se colocar na linha de combate quando
foi dado o sinal para atacar.
Perdemos alguns soldados, infelizmente, mas os Conti
perderam muito mais.
— Salvattore... — início, vacilante quando ele termina de
verificar o cinto de segurança em mim — Eu sinto muito.
Encaro-o com os meus olhos marejados, mas não quero
chorar e nem me vitimizar.
— Toda essa confusão foi culpa minha.
— Não importa de quem foi a culpa Gia — ele passa a mão
em meu rosto e me olha como se não acreditasse que estou mesmo
aqui, com ele — E sim que recuperei vocês dois.
Sua declaração me faz soluçar e as lágrimas vencem a
guerra contra mim quando Salvattore toca o meu ventre.
— Você estava indo embora sem me contar sobre o meu
filho, Gia. Eu não sabia que me desprezava tanto assim.
Sinto a dor em sua voz e isso me quebra ainda mais.
— Tive medo, Salvattore.
— De mim? O que fiz para que tivesse tanto medo de mim,
Gia?
De fato? Absolutamente, nada.
— Você só me tratou com paciência e carinho, Salvattore.
Tivemos as nossas discussões e divergências de opiniões,
como em qualquer relacionamento. Mas Salvattore mesmo não
concordando em alguns pontos, respeitava o que eu pensava.
— Eu tive medo, a minha vida inteira, sobre o casamento —
ele pega a minha mão colocando-a em seu colo e entrelaça os
nossos dedos — Principalmente depois que algumas coisas ruins
sobre o seu irmão chegavam a mim. Em como ele era cruel e frio.
— E quando o conheceu pode comprovar que era tudo
verdade. Meu Deus, você só era uma menina assustada, Gia — ele
diz em um tom furioso e eu sei que sua raiva não é comigo — Queria
ter te protegido melhor dele, amore mio.
— Eu não era sua responsabilidade na época Salvattore.
— Pois eu sentia que era. Você se tornou minha desde o
dia que a vi naquela janela.
— Sinto o mesmo. Fiquei dias sem conseguir tirá-lo da
minha cabeça. Quando cheguei a casa do seus pais e descobri que
era o irmão do meu noivo, fiquei sem chão.
— Eu sabia que você era proibida, mas quanto mais tentava
me manter distante, mais eu a queria, amore mio.
Eu simplesmente fico encantada quanto Salvattore me
chama de meu amor.
— Voltando ao ponto principal da sua pergunta. Eu já tinha
muito medo do que esperar do casamento e depois que Romano me
levou a força para o quarto dele…
Não consigo continuar. Sempre que penso naquele dia sinto
falta de ar. Salvattore passa a mão em meu rosto com excessivo
carinho.
— Sei que era o seu irmão e você provavelmente o
amava…
— Não sei exatamente o que sentia pelo Romano. Nós
nunca fomos próximos. Não como sou de Março. Eu vejo mais ele
como meu irmão do que Romano a vida inteira.
— É horrível dizer isso, mas senti apenas alívio quando ele
morreu.
— Não, Gia. Você tinha todo o direito de se sentir assim.
Fico muito emocionada que ele me entenda.
— Achei que estava livre. Que poderia voltar para casa.
Então você disse que precisávamos nos casar.
— Foi uma decisão dos nossos papàs. Eu não queria
obrigá-la a se casar comigo. Mas eu também sabia que seu pai cedo
ou tarde ofereceria você a alguém talvez igual ou pior que Romano.
— Então outra vez quis me proteger.
Ele sorri. Um sorriso de fazer o meu coração bater mais
forte no peito.
— Pensando bem agora — ele ganha um ar tímido que
difere muito do homem confiante que Salvattore sempre apresentou
a mim — Foi uma maneira inconsciente de não te perder.
— Mas você ficou longe três anos, Salvattore.
— Porque você era só uma menina, Gia. Por mais que
correspondesse às minhas investidas com paixão, ainda não estava
pronta para mim.
Eu sei que me enveredar por esse ponto, não vai nos levar
a nada, mas não consigo evitar. O ciúme me corrói.
— E você ficou se divertindo com todas as mulheres que
conseguia encontrar.
Tento me afastar dele, mas em vez de permitir isso,
Salvattore me puxa para o seu colo.
— Ciúme, amore mio? — Seu sorriso cínico me deixa ainda
mais possessa.
— Pode rir, mas isso só me fez perder ainda mais a
confiança em você e alimentar todas as minhas inseguranças.
O rosto dele fica sério como se eu tivesse dado um belo
soco nele.
— Não tem como eu justificar isso, Gia. Eu tinha na minha
cabeça ou queria manter que em cinco anos você estaria livre de
mim. Acho que buscava nelas o que tentava fugir de você.
Meu sorriso descrente o faz ficar ainda mais zangado.
— Estou falando sério. Os homens são uns grandes
babacas. Ou eu sou um grande babaca. Mas foi como aconteceu.
Não teve uma única vez que estive com alguma delas, que não
tivesse pensado em você.
Apesar disso ainda me incomodar. Acredito nele. Eu
também lutei muito com o que sentia por Salvattore.
— A vida na máfia não é justa para as mulheres. Pelo
menos as que são usadas pelas famiglias para fazerem bons
negócios. Quando você voltou e disse que nosso acordo estava
desfeito e que precisávamos ter um filho…
— Atualizado, Giuliana.
— De uma forma que só beneficiaria você? Em que planeta
acha que eu iria embora e deixaria o meu filho?
— Nosso filho — ele acaricia a minha barriga de novo — E
você foi embora levando o bebê em seu ventre, sem ao menos me
dizer que estava grávida. Isso quase me enlouqueceu quando soube
Gia. Se não fosse seus irmãos e Marco me mantendo com a cabeça
fria, nem sei o que teria feito.
— Me desculpe. Fiquei assustada quando confirmei que
estava grávida. Pensei na possibilidade de ser uma menina. Que ela
teria o mesmo destino que o meu. Ainda assim, quis te dar um voto
de confiança e fui à empresa aquele dia contar sobre a gravidez.
— Então viu a Donatella e tirou as conclusões erradas.
— Erradas? Era uma jovem apaixonada, querendo um
futuro diferente do que foi planejado para ela. Parecia uma cópia de
mim.
— Não vou ajudar os pais dela a obrigarem a se casar.
— Mas também não vai deixá-lá ficar com o homem que ela
ama.
— Ele não é decente. Temos provas que foi abusivo com a
garota. Você não sabia de todos os detalhes dessa história, Gia. E
nem me deixou explicar. Se quebrasse uma das nossas maiores leis,
os pais de Donatella iriam deserdá-la e tudo o que aquele homem
estava buscando era uma herdeira para enganar. Ela acabaria
sozinha e sem a possibilidade de voltar para casa.
— O que decidiu para ela, então?
— Vai estudar fora por um tempo. Novos ares farão com
que ela cure o coração partido.
Isso era um meio termo aceitável. Salvattore conseguiu ser
justo com a garota e os pais dela. Se existia alguém que poderia
trazer mais modernidade para a organização e fazer com que as
vozes das mulheres fossem mais ouvidas, era Salvattore.
O que me faz ver que o meu plano em fugir foi realmente
muito estúpido.
— Tudo teria se resolvido se tivéssemos conversado e te
escutado antes.
— Não. Teria sido evitado se eu tivesse tido coragem para
dizer que te amo, Gia.
— Você me ama?
Não consigo definir se estou mais surpresa ou feliz com a
sua declaração cheia de emoção.
— Se a amo, amore mio? Estou de quatro por você. Iria
declarar o que sinto no dia que você fugiu.
— Por isso o jantar?
— Não a cortejei. Achei que deveria ser um momento
romântico.
Eu não me aguento de emoção e cubro a boca dele com os
meus lábios.
Ficamos um longo tempo perdidos nesse beijo.
— Preciso dizer que mudei de ideia — aviso assim que
encostamos nossas testas para acalmarmos as nossas respirações
— Que eu percebi que não estava sendo justa com você. Eu estava
voltando para casa quando os soldados de Don Conti me levaram.
Vejo sua expressão mudar para uma forma que assustaria
os mais corajosos dos homens.
— Infelizmente, Marco precisou agir. Eu tinha planos muito
específicos do que fazer com Don Conti quando o pegasse. A morte
foi pouco pelo que fez a você.
Salvattore toca o meu rosto onde fui agredida. É
impressionante como ele pode ser cruel com qualquer pessoa que
tente me machucar, mas comigo é só carinho e cuidado.
— Você disse que Marco pode estar com problema por ter
matado Don Conti?
— Se o filho dele conseguiu fugir. Isso é possível. A guerra
não acaba com a morte do capo.
É como as coisas são e como será ainda por muitos anos.
— Chega de falar sobre isso, Gia. Precisamos voltar a falar
sobre nós.
Ele me olha cheio de determinação.
— Quero que saiba que mesmo antes de saber sobre o
bebê, eu estava obstinado em te levar de volta para casa. Eu iria
fazer todo o impossível para conquistar o seu amor.
— Você não tem que conquistar o meu amor, Salvattore —
poder finalmente declarar isso é libertador — Já o tem.
— Eu não vou deixar que fuja de mim de novo — ele segura
os dois lados do meu rosto — Qualquer problema que venhamos a
ter no futuro, devemos resolver juntos.
— Não vou mais fugir — seguro o rosto dele com carinho,
exatamente como ele faz comigo — Prometo.
Eu não consigo mais ver a minha vida sem Salvattore.
E quando ele me beija cheio de desejo, compreendo que
achei o meu lugar no mundo, ao lado dele.
Não demora muito para nossos beijos luxuriosos e carícias
nos fazerem arder de desejo.
Salvattore me vira de frente a ele e beija o meu pescoço,
causando arrepios gostosos em minha pele.
Ele esmaga os meus seios com as suas mãos firmes e isso
me faz estremecer em seu colo.
Com os meus dedos trêmulos brigo para abrir os botões de
sua camisa e quando os corro pelo peito de Salvattore, ele solta um
gemido de prazer.
Ele me ergue para baixar a minha calça e a calcinha.
— Salvattore!
Vibro de tesão quando ele começa a massagear a minha
boceta, fazendo com que eu fique cada vez mais molhada.
Eu abro o seu cinto e enfio a minha mão dentro da sua
cueca.
— Gia! — Ele prende o ar e empurra o corpo para frente.
Seguimos dando prazer um ao outro até que o tesão fique
forte demais para conseguirmos suportar.
Salvattore agarra firme a minha cintura e ergue o meu
quadril.
Estremeço de prazer quando ele começa a afundar para
dentro de mim.
Ele segura o meu rosto e me faz manter o olhar em seu
rosto, que está contorcido de prazer tanto quanto o meu.
Salvattore me ajuda a cavalgar sobre ele. E seu quadril se
movimenta com força e velocidade.
Todo o momento traumatizante que vivi nos últimos dias, é
esquecido enquanto Salvattore me fode no carro.
A cada estocada que dá, o prazer se intensifica e com uma
mais dura, me faz gozar e convulsionar em seus braços.
Ele me fode mais algumas vezes antes de gozar dentro de
mim.
Saciada de prazer, eu desabo sobre ele.
— Machuquei você?
Sua nova dose de atenção e cuidado comigo, me deixa
emocionada.
— Amor não machuca, amore mio.
Pelo menos não o de Salvattore.
Agora eu sei disso.
— Ti amo con tutto il cuore[27] — ele sussurra em meus
lábios quando me ajeita carinhosamente em seu colo.
— Mi sono innamorata di te[28]— murmuro de volta com um
sorriso apaixonado resplandecendo em meu roto — Amore della mia
vita[29].
Sem que eu tivesse percebido, Salvattore havia me
conquistado completamente e se tornado o grande amor da minha
vida.
CAPÍTULO 49

Se fosse seguir apenas o meu desejo, eu me trancaria em


um quarto com Gia e não sairíamos de lá por pelo menos um mês, e
eu a foderia de todas as maneiras que tenho desejado desde que a
trouxe para a segurança dos meus braços.
Mas ela está cansada, tanto pelos momentos traumáticos
que viveu, como pela viagem que fizemos de volta ao Norte.
Eu só me vi tranquilo quando avistamos a nossa casa e tive
a certeza de que agora ela e nosso filho estarão seguros.
— Gia!
Vejo Chiara se afastar de Marco e vir correndo até a amiga,
que está agarrada a mim.
— O que ela faz aqui? — Indago, furioso ao meu primo.
Não esqueci que Chiara havia ajudado Gia nesse plano
maluco de fuga e que isso quase me fez perder minha mulher e meu
filho.
— Salvattore! — Gia me encara com repreensão — Não
fale assim com a Chiara. Ela não teve culpa de nada.
Eu não concordo com isso e vai levar muito tempo para que
eu apenas consiga pensar em perdoá-la.
— Ouviu o que sua esposa disse, Salvattore — diz Marco.
— Está do lado dela agora, primo? — Questiono, apontando
Chiara.
— Eu não preciso que ninguém me defenda — Chiara eleva
a sua voz, enfrentando a nós dois — Sei que errei com você, Sr. De
Lucca. Mas sempre vou ajudar Gia quando ela precisar de mim.
— Mesmo que isso a leve a algo muito perigoso?
Vejo a aflição nos olhos dela e isso me faz acalmar um
pouco. Chiara se preocupa com Gia, apesar de tudo, e nunca faria
mal a ela propositalmente.
— Eu vou avaliar melhor da próxima vez.
— Então vou pensar se você merece clemência.
— Salvattore! — Gia me repreende de novo.
Sei que por causa dela e que vai me implorar por sua
amiga, não poderei dar o castigo que Chiara merece. Mas terei a
minha chance no momento certo.
— Você não ganhou nenhum ponto com a megera —
provoco Marco quando as duas se afastam para que Gia possa ir
para o nosso quarto.
— Não fale assim da Chiara — ele resmunga.
— Por que não? Você a chama assim o tempo todo.
— Porque eu posso.
— Hum — tento segurar a minha risada, mas Marco
percebe.
— O que foi esse resmungo?
— Nada.
— Salvattore?
Estou prestes a dizer a ele o que penso, quando a garotinha
entra correndo na sala.
— Maco!
Ela vai direto para o colo dele, que não faz cerimonia em
pegá-la e jogar no ar algumas vezes, fazendo Mia rir alto.
Estudo os dois por alguns segundos. É interessante ver
como meu primo, um homem sempre sério e invocado, se derrete
completamente pela criança.
Outra coisa que noto é a...
— Desculpe, Sr. De Lucca — A Sra. Giordano surge
afobada, quebrando o rumo dos meus pensamentos — Me distrai um
segundo na cozinha e essa sapequinha saiu correndo.
Ela faz um sinal para pegar Mia do colo de Marco, mas a
garotinha dá as costas à mulher e gruda ainda mais no pescoço dele,
se recusando a sair.
— Pode deixar, Sra. Giordano — avisa Marco — Eu levo a
Mia para a mãe dela.
A mulher fica em dúvida. Com certeza já viu que os dois
vivem em pé de guerra, mas eu faço um sinal à minha governanta de
que está tudo bem.
Pois bem, talvez esteja aí, a maneira que vou me vingar de
Chiara.

***

Não levou muito tempo para a casa ficar cheia. Os meus


pais, os da Gia e os irmãos dela vem para cá.
Todos estão felizes que ela esteja bem e ainda mais
radiantes com a notícia de que teremos mais um membro entre as
nossas famiglias em breve.
— Alessandro — puxo o meu cunhado para um canto
menos barulhento — Quero agradecer a ajuda para trazer Gia de
volta.
— Não tem que me agradecer isso. Giuliana é a minha
irmã. Daria a minha vida por ela.
Pela forma que Mattia entrou na zona de fogo, eu não
duvido que nenhum deles seriam capazes disso.
— E pela ajuda de Slayer. O soldado é incrível. Como o
conheceu?
— Isso é uma longa história — ele diz muito sério — Um dia
eu conto.
Alessandro tem razão, hoje é um dia de festa.
Procuro Gia pela sala e encontro-a com a minha mãe. As
duas mulheres mais importantes da minha vida e em breve poderão
ser tornar três.
— Tudo bem? — Junto-me a ela, abraçando a sua cintura.
Faço um carinho em seu ventre e isso faz o rosto de Gia se
iluminar.
Ainda não consigo acreditar que vamos ter um filho. Eu
nunca imaginei que pudesse ser tão feliz.
— Perfeito, amore mio — ela me diz com carinho.
Sou o amor dela, assim como Gia é amor da minha vida.

***

Três meses depois

Essa não é apenas mais uma consulta pré-natal. Hoje


vamos saber finalmente o sexo do bebê. Das duas últimas vezes que
tentamos o garotinho ou garotinha esteve com as pernas fechadas.
— Então papais? — O médico surge na sala após uma
enfermeira ter preparado Gia. Estão prontos?
Gia me olha antes de respondermos.
A gravidez vem deixando-a cada vez mais linda. E eu me
torno cada dia mais apaixonado por ela.
— Estamos — respondemos juntos.
— Vamos ver se dessa vez esse bebê colabora com a
gente.
— Ele ou ela deve ter puxado toda a teimosia da Gia —
provoco alisando a bochecha dela com carinho.
— Olha só quem fala — ela finge estar zangada comigo —
Você é tão ou mais teimoso que eu.
Não posso contrariar. Nós dois temos personalidade forte.
— Aqui está — O medico aponta para a tela que
inicialmente só vejo borrões, mas depois começo a notar as formas
do bebê — É uma garotinha.
Gia olha petrificada para a tela enquanto aperta firme os
meus dedos.
— Uma menina? — Ela balbucia emocionada.
Eu sinto como se o meu coração alargasse mais. Em alguns
meses terei uma cópia da Gia em meus braços e em alguns anos me
chamando de pai.
Ainda não vi seu rosto e nem a peguei em meu colo, mas
tenho a certeza de algo importante, ninguém vai magoar a minha
pequena. E Gia não precisa ter medo sobre o futuro da nossa
menininha dentro da organização. Jamais vou obrigar nossa filha a
um casamento que não seja escolha dela.
— Está feliz, amore mio? — Pergunto e ela direciona seu
rosto cheio de emoção para mim.
— Você está, Salvattore? Por ser uma menina?
— Amor, eu só ficaria mais feliz se fossem duas meninas.
Ela sorri e dá um leve tapa em meu peito.
— Não brinca com isso.
Eu a abraço e juntos nós ficamos observando a nossa linda
garotinha na tela.
— Estou muito ansioso para vê-la, Gia.
— Eu também estou.
O fruto do nosso amor. De que fomos feitos um para o
outro.
CAPÍTULO 50

Agora que sabemos que o bebê é uma menina, decorar o


quarto, comprar as roupinhas e providenciar tudo o que a nossa
principessa precisa, se tornou muito mais fácil.
Salvattore é completamente exagerado em relação a tudo e
eu preciso me policiar ao falar algo a ele. Uma vez passamos em
frente a uma loja de bebê e fiquei encanada com um macacão
amarelo e no dia seguinte toda a coleção da pequena loja foi
entregue em nossa casa. A dona fez questão de pessoalmente me
entregar tudo e pelo bem do negócio dela não tive coragem de
recusar nada, avisando que era um exagero do meu marido.
Ele também se tornou muito mais atencioso e amoroso
comigo. Sempre que possível me leva à empresa e me ensina coisas
novas e interessantes sobre o negócio. Aos pouquinhos sei que
posso fazer com que a minha presença não cause mais tanto
estranhamento e receio, para que num futuro breve eu possa ser a
voz de todas as mulheres. Principalmente pela minha filha.
— O que é isso Chiara? — Olho incrédula para a
quantidade de caixas que os entregadores estão deixando na sala.
— Ainda não sei, mas é coisa do Salvattore para o bebê.
— Se continuar assim, em vez da reforma para aumentar o
quarto da nossa filha, vamos ter que comprar uma casa para ela.
— Ai Gia... — entre o sorriso dela, vejo um olhar
melancólico — Sinta-se feliz por ter Salvattore tão amoroso e
cuidadoso nesse momento tão especial para você. Nem todas nós
temos essa sorte.
Sim. Sou muito grata pelo marido e homem que ele é.
Decido ser menos ingrata e aproveitar toda sorte que tenho.
— Veja. Essas caixas aqui são para Mia. Aposto que foi
Marco que comprou.
A minha amiga vem correndo em minha direção e vejo seu
semblante iluminar.
— Que vestido lindo de fada — ela murmura emocionada —
A Mia vai amar.
— Qualquer coisa que Marco faça a Mia ama.
Ambas rimos dessa verdade e continuamos a abrir as
caixas que não param de chegar.

***

Dois meses depois

Olho para Salvattore deitado ao meu lado e tento fazer o


mínimo ruido possível para não o acordar. Perdi as contas de
quantas vezes transamos na cama, na poltrona, com ele me
pressionando contra a parede e na banheira.
Quando o assunto é sexo o meu marido é insaciável e nem
a minha enorme barriga de gestante apaga o fogo que ele tem. Pelo
contrário, ver os meus seios maiores e mais pesados de leite, as
minhas curvas mais acentuadas, o deixa com muito tesão. E
Salvattore consegue encontrar as posições mais variadas para não
me deixar cansada, mas sim, tendo um orgasmo atrás do outro.
É preciso ter muito fôlego e energia para acompanhá-lo.
— Chiara? — Encontro-a no quarto dela observando alguns
desenhos que sua filha fazia — Você ainda tem aquela pomada da
Mia para assadura?
— Gia!
Ela me encara entre chocada e com vontade de rir.
— O assunto é sério. Não ria — abaixo o meu tom de voz
— O homem tem uma energia difícil de acompanhar. Eu estou toda
assada.
— Pede para ele te dar um tempo, amiga.
— Eu não consigo — respondo, envergonhada.
Basta Salvattore me olhar com segundas intenções, que já
me deixa de calcinha molhada.
— Você é um caso perdido.
Fico um tempo com elas no quarto até Salvattore surgir com
um olhar sonolento e me arrastar de volta para o quarto.
Que homem meu Deus!
CAPÍTULO 51

Pensei que quando Gia foi sequestrada tinha sido o pior


momento da minha vida, mas assim que ela me acordou de
madrugada, avisando que a bolsa havia estourado e o bebê iria
nascer, entrei em pânico.
Vela passar pelas dores do parto e sofrer com isso, está
acabando comigo.
— Só mais um pouco Sra. Salvattore — incentiva o médico
dela.
Impotente e querendo fazer mais do que a sustentar em
mim, dando palavras de encorajamento, massageio suas costas para
ver se alivia a dor.
Gia dá um grito alto e empurra outra vez quando a
contração vem.
Por favor, Deus, acabe logo com isso.
Para finalmente acalmar um pouco o meu coração, nossa
filha finalmente desliza para fora e seu choro potente nos faz olhar
emocionados para a bebê.
— Sua linda garotinha — diz o médico, colocando a menina
no peito de Gia, após ela ter recebido todos os cuidados
necessários.
— Veja, Salvattore — ela diz emocionada, passando a
ponta dos dedos na cabeça de nossa filha — Ela tem os seus
cabelos escuros.
— E os seus lindos olhos, amore mio.
A nossa filha é tão linda e perfeita quanto Gia.
— Quer segurá-la?
— Eu posso? — Pergunto em pânico.
— É sua filha, Salvattore.
— Mas não quero machucá-la.
Eu me mataria primeiro antes disso.
— Não vai. Eu te ajudo.
Quando Gia coloca a nossa filhinha em meus braços
trêmulos sou inundando por um amor gigantesco.
— Oi meu amor — murmuro quando os olhinhos atentos
fixam em mim — Sou seu pai. Seu melhor amigo. Guardião e
protetor.
— Que coisa linda, Salvattore.
Olho também emocionado para minha esposa.
— Você nunca terá que temer nada Gia. Eu nunca vou
obrigar nossa filha a nada que não queira.
— Você promete?
— Não — olhou-a seriamente — Eu juro.
E essa promessa eu nunca iria quebrar, nem que a minha
vida custasse isso.
— Que nome vamos dar a ela?
— O que acha de Anna[30]? — Ela me pergunta com um
olhar ansioso.
— É belissimo, amore mio.
EPÍLOGO

Dois anos depois

A chegada da nossa pequena tem deixado a mim e


Salvattore bastante ocupados. Isso porque mesmo tendo babás para
nos auxiliar, queremos estar sempre com ela e participando do seu
desenvolvimento bem de perto.
Nos tornarmos pais não havia diminuído o nosso apetite e
vida sexual, mas eu pedi a Salvattore para esperamos mais um
pouco antes de pensar em termos um novo filho.
Só que conforme nossa filha cresce linda e feliz, passando
da fase de bebê, comecei a sentir saudade disso antes mesmo de
acabar e faz algumas semanas que parei de tomar os remédios.
Salvattore ainda não sabe, mas no jantar dessa noite tenho
uma grande surpresa para revelar a ele.
— A mamma já levou a Anna — ele surge no quarto e se
coloca atrás de mim enquanto coloco um dos meus brincos.
Os meus sogros, principalmente a mãe de Salvattore, são
apaixonados pela nossa menina. O nascimento da nossa filha não
acalmou os nossos pais sobre netos. Pelo menos, não do lado da
minha famiglia. Agora Alessandro, Mattia e Tommaso são os novos
alvos para encher a casa de crianças.
— Isso significa que temos a casa inteirinha só para nós.
Não exatamente. Existem vários soldados fazendo a
segurança.
Desisto da tarefa de colocar o meu brinco porque que se
torna impossível de realizar isso quando Salvattore começa a
distribuir beijos pelo o meu pescoço.
— Amor — murmuro com a respiração intercortada quando
ele enfia sua mão enorme dentro do decote do meu vestido —
Temos um jantar.
Em resposta ele me segura firme e me faz virar de frente a
ele.
— O que eu quero comer já está bem aqui.
Com seu aviso sacana, Salvattore me tira do chão e coloca
sentada na penteadeira.
Depois ele abre as minhas pernas, sobe mais o meu
vestido, arruína a minha calcinha nova e cai de boca em minha
boceta.
— Salvattore! — Me contorço, agarrando os cabelos dele
quando sua boca safada e habilidosa me faz gritar de prazer.
Ele não tem piedade comigo e logo após gozar
intensamente em sua boca, me faz deslizar para o chão, vira de
costas, separa as minha coxas fracas com o seu joelho e soca seu
pau duro e imenso com força dentro de mim.
— Ah, amore mio — gemo alucinada a cada investida dele.
Ter o seu pau entrando e saindo da minha boceta pulsando,
me faz revirar os olhos de tanto prazer e meus gemidos ficam cada
vez mais altos.
— Porra, Gia! Como eu amo a sua boceta.
O seu quadril bate cada vez mais forte e rápido contra a
minha bunda e ele me toma mais profundo.
— O seu pau é tão gostoso, amore mio.
O que digo faz Salvattore ficar ainda mais alucinado.
Ele leva seus dedos para o meu clítoris e quando começa a
massagear, outro orgasmo muito forte me faz choramingar. Ele goza
logo após o meu.
Com as nossas energias exauridas, deslizamos até o chão.
Enquanto me abraça e vamos controlando a nossa
respiração, Salvattore espalha beijos em meus cabelos.
Eu me apaixono por ele cada dia mais.
Alguns minutos depois ele me ajuda a levantar e arrumar o
vestido.
— Fica sem — ele pede quando me observa ir a uma das
gavetas de calcinha.
Tenho uma grande coleção porque muitas delas são
destruídas depois de eu usá-las uma única vez.
É estranho ficar apenas de vestido, mas ao mesmo tempo
torna o momento muito sensual. Saber que a qualquer momento
Salvattore vai me buscar novamente para termos sexo quente.
Comemos e conversamos tranquilamente. Ele me conta
sobre o dia dele e como foi angustiante ter que se concentrar no
trabalho quando passava a maior parte do tempo, pensando em mim
e na Anna.
— E o que você fez, amore mio? Claro que além de cuidar
da nossa filha e organizar esse maravilhoso jantar.
— Aproveitei que precisei ir à cidade e fui buscar o
resultado do meu exame pessoalmente.
A expressão preocupada toma conta do semblante de
Salvattore. Não faz muito tempo que sua mãe se recuperou de uma
doença, então entendo o medo dele.
— O que você tem, minha vida — ele vem até mim e me faz
levantar.
— Por que você mesmo não olha? — Pego o envelope que
deixei sobre a mesa e dou a ele.
Salvattore quase rasga o envelope na pressa de ter sua
resposta.
Conforme ele lê, vejo o seu rosto mudar de angustiado para
completamente chocado.
— Gia, isso é verdade?
— É o que o exame diz — aviso, sorrindo.
— Vamos ter mais um filho? Mas como...
— Parei de tomar o remédio há algumas semanas. Está
chateado?
— Feliz! — Ele me pega no colo e me gira no ar — Muito
feliz, amore mio.
E eu ainda mais.
O nosso casamento não começou do jeito certo. Mas não
existe pessoas no mundo que sejam tão certas um para o outro
como eu e Salvattore.
— Eu te amo — digo a ele com lágrimas emocionadas.
— Io ti amo di più.[31]
Eu não duvido disso porque Salvattore me mostra todos os
dias.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, primeiramente. A minha família, que


sempre me apoia em todos os meus sonhos. A cada leitor que deu
oportunidade de conhecer esse mafioso apaixonante.
Espero que vocês tenham gostado de conhecer Giuliana e
Salvattore. Foi uma aventura maravilhosa mergulhar no mundo da
máfia e contar a história deles para vocês.
Para saber mais sobre os meus livros e próximos
lançamentos, me siga no Instagram: @agathacostaescritora.
Até breve com o próximo mocinho cadelinha, das nossas
mocinhas fortes e determinadas.
Será que voltamos para os Emirados?
Beijos!
OBRAS DA AUTORA
SINOPSE

O sonho da vida de Suzana Weston sempre foi ser mãe.


No dia que enterrou seu marido, ela descobriu que ele a havia
traído, como também teve uma filha fora do casamento, deixando-a
completamente arrasada.
Ao completar 39 anos, Suzana sabe que seu relógio
biológico está correndo. E é em uma viagem de férias para
comemorar seu aniversário de 39 anos, organizada por sua melhor
amiga Lucy, que ela decide ter uma gravidez independente.
O que Suzana não contava era que o homem escolhido,
tratava-se de uma figura muito importante em Sahra.
Uma noite de loucuras entre eles, gerou outras quentes no
deserto, de pura paixão. Ela fica grávida do homem intenso e
misterioso, que a fez conhecer a força da paixão pela primeira vez.
Arrependida de tê-lo enganado, Suzana decide contar a
verdade sobre o bebê deles crescendo em seu ventre, mas Rashid
a rejeita, dizendo que nunca a conheceu e o filho não era dele.
Rashid é um homem de coração gelado, que após uma
implacável decepção amorosa, ao ver a jovem que ele amava se
casar com seu irmão mais velho, decide nunca mais entregar os
seus sentimentos a outra mulher.
Ele só quer ter algumas noites de diversão, até a próxima
amante entrar em sua cama. Mas a estrangeira Suzana Weston
mexe com ele mais do que Rashid poderia ter esperado.
Só que Rashid jurou nunca mais acreditar em olhos
inocentes e sorrisos doces. Nenhuma mulher valia a sua confiança
e, depois de tê-la, ele a arrancaria da sua vida, como se Suzana
nunca tivesse existido.
Rashid seria capaz de permitir que o muro em volta de seu
coração protegido caísse?
Suzana seria capaz de perdoá-lo por ter rejeitado o filho
deles?
Qual seria mais forte?
Ódio ou amor?
CAPÍTULO 1

Connecticut, EUA

Apenas quem já foi traído consegue entender como é


profunda a dor ao descobrirmos que a pessoa que mais achávamos
amar no mundo, fosse capaz de colocar uma estaca em nosso
coração. Não conseguimos acreditar em nossa ingenuidade,
crenças e em como nos portamos como tolos por tanto tempo.
Eu conheci Willian quando eu tinha 31 anos. Eu havia
acabado de perder os meus pais em um acidente de carro horrível.
Foi em uma viagem que fiz à Paris, com minha amiga,
Lucy. Para tentar me recuperar dos longos meses de luto e perda
devastadora, que inesperadamente, conheci aquele homem
atraente.
Ele nos abordou no Rio Sena e pediu que eu tirasse uma
foto dele. Descobrimos, coincidentemente, ao nos reencontrarmos,
naquela tarde que estávamos no mesmo hotel e marcamos de nos
vermos de novo no bar.
Aceitar o convite de Willian para jantar e outros encontros
naquela semana foi algo tão natural quanto empolgante.
Nós nos vimos todos os dias até o fim da minha viagem,
que terminou dois dias antes da dele. Eu descobri que Willian
morava em Boston, enquanto eu vivi a minha vida toda em
Connecticut. São cerca de duas horas de viagem, se pegássemos a
via I-90 W e a I-84. O que no início não achamos ser muito, até
voltarmos para casa e a realidade corrida das nossas rotinas
começar a pesar.
Mas eu acreditei estar tão apaixonada por Willian ou
desesperada desejando ter alguém para amar, que alguns meses
após nosso namoro firme, aceitei sua sugestão de vender a casa
que herdei dos meus pais e me mudar para Boston com ele.
No ano seguinte nos casamos.
Eu queria ter uma família de imediato, já que não me
restava mais ninguém no mundo, além de parentes muito distantes.
Queria no mínimo quatro filhos. E embora não pudesse controlar
isso, planejava em minha mente, e, principalmente, no meu coração,
que seriam dois meninos e duas meninas.
Mas Willian estava no começo de sua carreira militar e
meus trabalhos como artista plástica ainda não me davam muito
retorno.
Assim, adiamos por um ano, que se transformaram em
dois, e após quatro e meio, eu finalmente bati o pé, receando receio
que o fator, idade, viesse complicar o meu desejo de ser mãe. E
assim foi. Por um ano fiz alguns tratamentos rigorosos e quando
finalmente recebi resultados positivos do meu médico, Willian ficou
doente.
O meu imenso desejo de ter um filho teve que ser adiado
novamente, para que dessa vez eu pudesse cuidar do meu marido
enfermo, o que fiz de todo coração e com muito amor. Infelizmente,
o câncer o levou de mim.
Mas essa não foi a única dor que tive que enfrentar.
No velório, poucas horas antes do corpo ser enterrado fui
tomada pela surpresa. A mulher que Willian vinha me traindo em
suas viagens a trabalho e sua filhinha de três, surgiram. A garotinha
era completamente idêntica a ele. Até o sinal no braço, no mesmo
lugar que ele tinha, ela possuía.
Aquele dia enterrei o meu marido, a crença no amor, o
sonho de ser mãe e qualquer esperança de felicidade.
Eu estava completamente sozinha no mundo.
Com a morte de Willian, vendi nosso apartamento em
Boston, dei parte do dinheiro a filha dele e voltei a Connecticut, para
morar próximo a Lucy.
— Terra para Suzana?
O estalo em frente ao meu rosto faz eu desviar a minha
atenção dessas lembranças tristes e me concentrar em Lucy.
Vim encontrá-la em um café próximo a agência de viagens
onde ela trabalha.
— Desculpe, o que dizia?
— O seu aniversário, amiga. É daqui a duas semanas. Nós
temos que comemorar.
Sorrio para a empolgação de Lucy, embora eu não sinta o
mesmo. É graças a ela que ainda levanto da cama, trabalho e,
continuo respirando. Acordo com suas ligações me dizendo para
mover o meu traseiro do lugar e vou dormir com suas promessas
que o dia seguinte será melhor.
Mas, não é. Nunca, é. Minha vida continua triste, vazia e
solitária.
— O que tem para comemorar, Lucy?
— Você fará 39 anos!
E com isso as minhas chances de ter um filho ficavam cada
vez mais distantes.
Eu sinto um vazio tão grande no peito, que todas as noites
enquanto choro no meu travesseiro, sinto que essa dor vai me
sufocar.
— Sim, eu estou ficando velha. E serei como a tia viúva,
dos gatos, mas eu não tenho gatos e nem sobrinhos.
— Ah, Suzana! Você está na melhor idade, amiga. Precisa
sair mais. Ver gente. Já faz um ano que aquele...
Lucy não continua. Embora ela odeie Willian pelo que ele
me fez, suas crenças não permitem que fale mal dos mortos.
— A filha dele fez quatro anos no próximo mês. A mãe de
Willian me convidou para a festinha de aniversário dela.
Isso para mim foi como uma nova apunhalada sendo dada
em meu peito. Willian havia partido, mas diferente de mim, ele tinha
deixado uma parte dele no mundo.
— Que mulher sem noção.
— Não acredito que ela tenha feito por mal. Acho que
pensa que eu ficaria feliz em ver uma parte dele entre nós.
— Ela é louca, isso, sim. E você, bondosa demais para não
ver maldade nisso.
Talvez Lucy tivesse razão, mas eu só enxergava uma mãe
tentando lidar da melhor maneira possível, com a morte do filho,
sem imaginar o quanto isso ainda me fere.
— Mas esqueça isso. Vamos falar do seu aniversário, que
é o único que importa, pelo menos para mim. Eu tenho uma
surpresa para você.
— Eu não gosto de surpresas, Lucy. Sabe que não tenho
recebido nenhuma que tivesse sido agradável nos últimos tempos.
— Mas você irá amar essa — ela ignora completamente a
minha descrença e desamino, e pega sua bolsa na cadeira ao lado
dela — Faz tempo que estou namorando visitar esse país. E agora a
agência conseguiu formar ótimos pacotes.
Junto com os folhetos do hotel, passeios e outros
informativos, Lucy me estende as duas passagens aéreas em nosso
nome.
— Nós vamos para Sahra! — Ela comemora como se
tivéssemos recebido prêmios da loteria — Praia, sol, e quem sabe
você não conhece um sheik lindíssimo e rico.
— Ou uma outra versão, só que árabe de Willian. Sheiks
não costumam ter várias esposas? — murmuro, amargurada.
— Não em Sahra, amiga.
— De qualquer forma, não. Obrigada.
O meu coração já havia sido quebrado uma vez e eu nem
sabia se existia alguma parte dele em meu peito, para ser
enganada, traída e machucada novamente.
— Tudo bem. Esquece o sheik bonitão. Mas nós iremos
viajar, Suzana Weston. E vamos comemorar o seu aniversário.
Lucy tem me dado tanto apoio, muito antes da morte de
Willian, que não posso recusar o seu convite. Seria completamente
ingrato com ela, ainda mais vendo-a tão animada com essa
aventura. E ela também havia acabado um relacionamento faz
pouco tempo. Era minha vez de dar apoio a ela.
— Certo. Eu vou. Mas nada de romance. Você tem que me
prometer, Lucy.
Ela cruza os dedos como fazíamos quando éramos
escoteiras e leva aos lábios, selando o juramento.
— Eu prometo — após isso ela pula da cadeira e vem
saltitante para o meu lado — Vai ser uma viagem incrível, Suzana.
Você vai ver.
Por Lucy, tentaria aproveitar a viagem e esconder da minha
melhor amiga o máximo possível, a constante tristeza me
consumindo.
Talvez o sol de Sahra pudesse trazer um pouco de calor ao
meu peito congelado.
Essa poderia mesmo ser uma boa viagem de férias
inesquecível.
CAPÍTULO 2

Palácio de Saha
Um ano antes

Vinte segundos.
Para algumas pessoas esse tempo seria tão insignificante
quanto um piscar de olhos. Para mim, mudou a minha vida inteira.
Por causa deles, o meu irmão gêmeo Hamad havia nascido
na frente e se tornado o filho mais velho e futuro emir [32]de Sahra.
Nosso pequeno, próspero e lidíssimo país, no deserto de Amal.
Nunca houve qualquer tipo de competitividade entre nós.
Até ele ficar comprometido e se casar com a mulher que eu amava.
Apesar de ser o mais velho, Hamed é mais descontraído,
festivo e aventureiro do que eu. Ele estudou na Europa, conheceu
muitas mulheres em suas viagens pelo mundo. Porque o meu irmão
exigiu isso, antes de ser obrigado a assumir como o futuro rei. Poder
viver em liberdade. Enquanto, eu, fiquei aqui, ajudando nosso pai a
cuidar de Sahra, fazendo o nosso país prosperar e crescer cada vez
mais.
Foi fácil para Hamed retornar anos depois e conquistar a
jovem Layla Zahir. Em poucas semanas de corte, ele já tinha o
coração da bela dama em suas mãos.
A nossa tradição exige que o futuro emir tome uma esposa
quando atingisse a idade máxima de quarenta anos, para que ainda
tivesse vigor para produzir herdeiros. Como segundo na linhagem,
eu não era obrigado a isso, a não ser que Hamed fosse impotente
ou morresse.
Agora eu só poderia assistir de longe a família de Hamad e
Layla se formar e crescer dando frutos. Congelar o meu coração e
esconder todos os dias a mágoa em saber que Layla jamais poderia
ser minha.
Ela havia traído nossas juras de amor, em nossas
caminhadas nos jardins, para se tornar a esposa do príncipe
herdeiro e futuro sheik.
Agora devo esquecê-la.
— Salam [33]— digo a Jalal que está me esperando no
pátio, no lado fora do grande salão palácio.
Ele é o meu braço direito e amigo de longa data.
— Salam. Os cavalos estão prontos, Vossa Excelência.
Podemos partir quando quiser.
Eu já havia tolerado os três dias de festa de casamento.
Todos os rituais para os noivos já haviam sido cumpridos e minha
presença no palácio não seria mais exigida.
— Para onde vamos? — Questiona Jalal,
— Passar algumas noites no hotel do meu primo, Omar, na
capital e de lá vamos para o Sul do deserto de Amal.
Pretendo me isolar na minha tenda no deserto o máximo
de tempo que eu puder. Hamed estava de volta e agora é dever dele
cuidar de todas as obrigações reais junto com o nosso país. É hora
dele aprender mais sobre Sahra. E em como as coisas haviam
mudado desde que ele partiu para estudar e se divertir pelo mundo.
Como relembrar algumas das nossas importantes tradições.
Sigo para o meu garanhão negro, um Aswad[34], uma raça
premiada, criada em nosso país, que vale milhões em todo mundo,
devido sua resistência a longa viagens no deserto e velocidade
impressionante.
— Rashid?
Fico tenso ao reconhecer a voz e feminina me chamando.
— Iria embora sem se despedir de mim?
— Vossa Alteza — faço uma reverência a Layla e não ergo
o meu olhar para ela — Apesar de nos tornarmos parentes agora.
De você se tornar minha irmã. Não é certo que fale comigo sem o
seu marido presente.
— Rashid — ela encurta a distância entre nós — Nunca
ligamos para essas tradições tão antigas. E nem creio que Hamed
iria ligar. Você ainda é o meu melhor amigo.
Não, eu não era. Como seria possível ser amigo de quem
temos um amor não correspondido?
Quando olhá-la com outro, sendo o meu próprio irmão,
idêntico a mim, mas tão diferente na personalidade, machuca.
— As coisas mudaram, Layla — dessa vez me atrevo a
olhar rancoroso para ela — Você fez a sua escolha.
— Eu tive que cumprir o pedido do meu pai!
— Você mesmo disse que não éramos tão ligados a
antigas tradições — relembro-a com sarcasmo — O que mudou com
meu irmão?
Apesar de Layla ser a escolhida de Hamed e o pai dela ter
ficado feliz com isso, ela poderia ter recusado a corte dele e seu
pedido de casamento. Sim, causaria um desconforto diplomático por
algum tempo, que seria superado quando nós dois nos casássemos.
Mas Layla queria mais. Ela desejava o trono.
Como pude ser tão cego para não ter visto isso?
— Eu me apaixonei por ele. Aconteceu, Rashid.
— Nós conversamos por meses, Layla. Estava certo
apenas esperarmos Hamed voltar e assumir o seu cargo para eu
pedir sua mão. Idealizamos ficar juntos tantas vezes. Não. Eu
idealize. Agora quer me dizer que em três semanas de cortejo, você
se apaixonou pelo meu irmão?
Não vou confiar em seu olhar triste. Eu precisava acreditar
que Layla era apenas uma garota ambiciosa. Só assim eu
conseguiria lidar com o meu ego e coração ferido.
— Adeus, Layla — falo, secamente, dando às costas a ela.
Não apenas a partiu o meu coração. Mas me enterrou para
o amor. Eu nunca mais entregaria essa parte tão frágil de mim a
ninguém.
CAPÍTULO 3

Connecticut, EUA
No aeroporto

Quando eu digo que odeio surpresas, tenho propriedade


para falar isso.
— Como assim você não vem, Lucy?
Fecho os meus olhos com fora e tento controlar a fúria com
minha amiga. Eu deveria ter imaginado quando ela disse para nos
encontrarmos no aeroporto, que alguma coisa estava errada.
— Abiga — sua voz fanhosa que a faz falar errado, poderia
soar engraçada, se a situação não estivesse me deixando
completamente em pânico — Eu guro que queria ir. Mas nem
consigo lebantar da cama.
Com o que ela diz e um ruidoso espirro que dá, me faz
afastar o telefone do ouvido.
Lucy está mesmo mal, o que nem me permite ficar brava
com ela.
— Mas, Lucy, essa viagem foi ideia sua. Então se não vai...
— Dada disso, abiga! É seu presente de anibersário. Bocê
tem que entrar naquele abião e se dibertir em Sarha por nós duas.
Promete isso, Suz!
Eu nuca quis fazer essa viagem, muito menos sem a Lucy.
— Gastei uma fortuna. Bocê bai! — O grito a faz entrar em
uma crise de tosse seca — Já está aí. Então só aprobeita.
Seria um grande desperdício jogar as duas passagens no
lixo. Além disso, com Lucy doente, não haveria nada que eu
pudesse fazer. Com toda certeza a sua Diana, mulher que a criou
desde bebê, estaria enfurnada na casa dela, tratando-a como o seu
cristal.
— Certo. Eu vou. Mas saiba que vai ficar me devendo
essa.
— Te pago aquele japonês que bocê ama quando boltar.
É claro que eu nunca iria exigir isso dela. A viagem com ou
sem Lucy, já tinha sido um presente de aniversário para mim.
— Eu mando fotos. Aliás... — aviso, mostrando a minha
passagem a funcionária, para passar no embarque — Vou encher
você com fotos de praias, sol, comidas maravilhosas, bebidas
exóticas e homens bonitos.
— Cruel. É assim que me agradece bor ser uma amiga
incrível?
— Você é mesmo incrível — aviso, com amor — Eu te
amo, Lucy.
— Também te amo, Suzana. Banda notícias assim que
chegar lá, ok?
Quando chego ao portão de embarque, o meu voo está
sendo anunciado pela última vez.
— Suzana Weston? — Indaga a comissária no balcão.
— Eu mesma.
— Só faltava você e a Srta... — ela olha o computador,
checando sua lista de passageiros — Golding.
— É minha amiga, Lucy. Está doente e não irá.
— Então entre senhorita — ela sorri, amigavelmente —
Vamos partir imediatamente.
Serão muitas horas de viagem até Sahra, contando com
duas escalas de espera de três horas. Eu desejo que todo esse
empenho para chegar ao país, realmente valha a pena.
O aeroporto de Sahra é impressionante e diferente de tudo
o que já vi em questão de modernidade e beleza. Essa primeira
impressão do país é excelente e até começa a me empolgar.
Um homem com trajes típicos, com as cores de Sahra,
azul, vermelho e preto, com uma placa com meu nome e de Lucy
está me esperando no lado fora do desembarque.
— Srta. Weston? Ou Stra. Golding? — Ele olha atrás de
mim, acho que esperando a minha amiga surgir a qualquer
momento.
— Suzana Weston — apresento-me a ele.
— Bem-vinda a Sahra, senhorita.
O sotaque ao falar minha língua é bastante carregado, mas
não tenho muitas dificuldades em entendê-lo. Explico ao senhor que
Lucy não vem, por ter ficado doente em última hora. E ele demostra
sincera indulgência por ela não ter vindo comigo.
Gostei dele. É muito sorridente e simpático. Em nossas
conversas sobre a viagem, Lucy me disse que os sahrarianos são
conhecidos por sua hospitalidade, alegria e gentileza.
Entramos no jipe dele e do aeroporto magnífico, seguimos
para Fils, a capital de Sahra. Eu fico encantada em como a cidade é
moderna, urbanizada e impressionantemente limpa.
Eu já sinto o peso do calor nos primeiros minutos da
viagem, mas as paisagens por qual passamos são tão lindas, que a
temperatura extrema do Emirado não me incomoda.
— Chegamos, bela senhorita — avisa o Sr. Abdul, o meu
transfer, ao estacionar em frente ao lindo hotel — Zafir vai levar
suas malas.
Ele aponta um jovem igualmente sorridente, que vem ao
nosso encontro.
Ao check-in é feito rapidamente por uma funcionaria
bastante comunicativa e quase sem sotaque ao falar comigo. E em
minutos recebo as chaves do quarto.
Apesar de não ser o mais caro do hotel, é um dos melhores
que já fiquei em minha vida toda, e é de frente para a linda praça de
Fils. A cidade capital não fica próximo ao litoral. A praia mais perto
daqui e de livre acesso é em Dabab[35]. Vai ter uma excursão para lá
no dia seguinte e seria o meu primeiro passeio com Lucy.
Antes mesmo de desfazer as minhas malas, estou ligando
para ela.
— Você não vai acreditar, Lucy — Jogo-me na cama,
olhando para o teto branco — Aqui é mais lindo do que nas fotos. E
faz muito calor também.
É obvio que minha animada amiga me enche de perguntas
curiosas e eu passo os minutos seguintes respondendo e como uma
pequena vingança por ter me deixado embarcar nessa sozinha, a
deixo com muita inveja.
CAPÍTULO 4

Fils, Sahra

Sei transitar muito bem entre o mundo moderno e das


nossas tradições milenares. Fico confortável em me sentar em uma
mesa com dezenas de chefes de estados, tratando de assuntos
importantes e de interesse entre nossas nações, como posso passar
dias, semanas e até mesmo meses, em meu acampamento no
deserto de Amal, em frente a um magnífico oásis Raar-al-Mir,
completamente privativo, que pertence a minha família há mais de
trezentos anos.
Tenho fascinação na junção entre as areias que enformam
linhas horizontais em constantes oscilações. A contraposição das
cores tépidas das dunas com o azul vivo dó céu, refletindo nas
águas serenas do lago.
É um alimento para a minha alma, sentir o frescor da
vegetação, que apesar da agitação da areia, se mantém inabalável.
Aqui é onde eu tenho fugido do mundo nos últimos meses,
desde o casamento do meu irmão, na verdade. Jalal costumar
zombar, dizendo que tenho me escondido, e, ele não está
totalmente errado.
Esse tempo aqui, avaliando a minha vida, serviu como uma
espécie de purificação. A ferida em meu peito está fechada. Nesses
meses revivendo a nossa história, percebi que estive apenas
encantado com a ideia de me apaixonar pela primeira vez, por uma
jovem linda, atraente e ingênua.
A verdade é que foi mais o meu ego e orgulho sendo
feridos, do que realmente o meu coração.
Eu nunca desejei ser o sheik emir, esse destino já estava
traçado para Hamed, e eu aceitava o que tivesse sido escrito a mim.
Por amá-lo e saber das grandes responsabilidades que ele teria no
futuro, aceitei de bom grado me tornar o braço direito do nosso pai,
enquanto ele vivia suas aventuras.
Então foi desapontador, mesmo que ele não tivesse feito
de forma cruel, vê-lo apenas tomar algo que queria e que achei que
fosse meu. Que Layla tão rapidamente tivesse caído encantado por
Hamed, esquecendo as promessas que fizemos ao outro.
Mas isso teve seu lado positivo. Me fez ver o amor como
realmente é, frágil e não confiável. Eu não cairia nessa armadilha
novamente.
Agora era minha vez de aproveitar a vida, as festas e as
mulheres. Como segundo na linha de sucessão, pelo menos até
Hamed ter seus herdeiros, filas de belas garotas seriam feitas a
mim, tanto em Sahra como em todo o resto do mundo.
É minha vez de bancar o playboy da realeza.
Era o que estava em minha mente até Jalal trazer
informações importantes de Fils.
Agora já coroado, Hamed tem carta branca tratar de
assuntos de governo. Só que meu irmão não tem experiência
alguma para lidar com algumas questões que precisam de medidas
mais diplomáticas, do que operacionais.
Há um acordo que que dura mais de cinquenta anos,
garantindo que Alnaas al'ahrar, uma das tribos mais antigas no norte
de Amal, continue a ser independente de Sahra.
Apesar da área ser rica em petróleo e poder gerar muitos
benefícios a eles, a grande parte deseja continuar vivendo da forma
antiga, em suas tendas no deserto, comendo e vestindo do que eles
mesmo produzem.
Normalmente, eles são um povo pacífico, mas a insistência
de Hamed em tomar o lugar novamente para Sahra, tem agitado os
defensores rebeldes, deixando-os furiosos.
— Qual a última notícia que teve em Fils? — Indago a Jalal
quando ocupamos os nossos cavalos.
A pedido de meu pai, em uma missiva enviada a mim há
três dias, preciso ir à cidade capital para acalmar os ânimos de
algumas pessoas, depois que o restaurante onde Hamed e Layla
estavam sofreu um ataque como resposta às suas promessas de
tomar Alnaas al'ahrar.
— O povo ainda anda inquieto e com medo de uma guerra.
Acho que foi um erro ter deixado Hamed lidar com
assuntos tão importantes como esse cedo demais. Mas ele havia
jurado ser capaz de começar a administrar suas funções e tomar
decisões necessárias.
Sahra não era como uma das fraternidades que ele decidia
coisas estúpidas. A vida do nosso povo, o presente e o futuro de
toda uma geração, dependia de nós.
— Acha que vai precisar ficar quanto tempo na capital? —
Estudo os olhos escuros de Jalal, que o turbante preto faz ficar
ainda mais sombrios ao analisar a sua pergunta.
Ele não era apenas o homem responsável pela minha
segurança. Mas um dos soldados mais bem treinados e implacáveis
do país. Eu nunca temia a minha vida ao lado dele.
— O mínimo necessário.
— E pretende ir ao palácio falar com Hamed?
Pelos relatórios que venho recebendo, o meu irmão não
anda muito amigável. Isso porque a essa altura seu primeiro
herdeiro já deveria estar a caminho, mas o ventre de Laila continua
vazio.
Somado a isso, ter tomado algumas estratégias erradas,
tanto políticas quanto econômicas, que cobram suas
consequências, faz Hamed ficar impaciente.
— Ele não quer a minha ajuda, Jalal — aviso, seco.
— Mas vai ajudá-lo mesmo assim.
De um jeito que Hamed não precise saber ou que só
descubra tarde demais. Sermos gêmeos idênticos, algumas vezes
tem suas vantagens.
CAPÍTULO 5

Já é o meu quinto dia aqui em Sahra e ainda tenho mais


dez de férias. Apesar de estar sendo uma aventura incrível
conhecer esse lindo país, sinto saudades de Lucy e esses dias com
ela teriam sido muito mais divertidos.
A minha amiga é bem mais descontraída que eu e faz
amizade fácil com desconhecidos. É ela que sempre me faz sair da
bolha da timidez e falar com a pessoas.
De qualquer forma, conheci lugares maravilhosos como O
Mercado de Fils, com suas lindas pecas de artes, artigos de moda e
comidas maravilhosas. Visitei as deslumbrantes praias de Dabab e
Zahri, que me ajudaram a começar a ter um tom dourado em minha
pele muito clara.
E há muitos passeios e atividades interessantes oferecidas
pelo hotel, mas hoje, em especial, não me sinto animada.
E o dia do meu aniversário e comemorar sozinha em um
país distante, me soa mais solitário e triste do que o normal. Ainda
assim, pela insistência de Lucy, depois de me arrumar toda,
colocando um vestido novo e bonito, desci para o meu jantar.
Tenho reserva no restaurante do hotel, mas não é muito
animador comer sozinha. Então, pulo o jantar e caminho direto para
o bar, assim que a porta do elevador abre. Talvez uma bebida me
animasse a encarar mais uma noite, em que a minha companhia
melancólica será a única que terei hoje.
Eu poderia tentar ir em alguns dos clubes noturnos na
cidade, mas a ideia de chegar sozinha e despertar curiosidade e
pena, desestimula.
Olho em volta do bar. Tudo nesse lugar é atrativo. As
pessoas são bonitas, sorridentes e elegantes, destacando o status
social que elas têm. Lucy teve realmente sorte em conseguir essas
reservas e agora entendo por que praticamente havia me obrigado a
vir.
Já estou ganhando suficientemente bem com as minhas
pinturas e esculturas para não precisar me preocupar
financeiramente. Uma viagem de férias por ano caberia em meu
orçamento, mas acho que nunca mais ficarei em um lugar tão
chique e bonito quanto esse.
— O que gostaria de beber, senhorita? — Indaga o
barman, ele usa uma mistura de roupas típicas da região com o lado
ocidental.
— O que me sugere? — indago, sorrindo, tentando ficar
mais animada.
Afinal, esse era um lugar que onde as pessoas desejam
relaxar e se divertir.
— Normalmente, as damas que nos visitam gostam muito
[36]
de easal . É suave e doce. E tem toques de coco com mel.
— Vou querer isso, por favor.
O homem prepara a bebida em um bonito copo
transparente e bem ornamentado. No final, recebo um drinque
exótico nas cores branco e amarelo.
— Cuidado — Ele me dá o alerta e uma piscada — Apesar
de ser uma bebida de escolha feminina, ela é forte.
Movimento a cabeça concordando e provo o meu drinque.
É realmente muito suave, gostoso, doce, sem ser enjoativo e ao
mesmo tempo refrescante. Levada por essa explosão de sensações
em minha boca, tomo mais dois longos goles, também para aliviar o
calor.
Coloco a minha bolsinha sobre o balcão e viro de costas
para o bar, decidindo observar ao meu redor.
Há muitos homens e mulheres vestindo as roupas da
região, mas outros da mesma forma que eu, revelando que também
são turistas conhecendo o lugar.
Lucy não havia exagerado quando disse que os homens
em Sahra eram lindos. A maior parte são altos, bronzeados, devido
a tanta exposição ao sol, possuem bocas carnudas e
pecaminosamente bem desenhadas, olhos absurdamente claros ou
impressionantemente escuros.
Mas o que mais me impressionou mesmo, é que apesar de
viris, são muito respeitadores também. Sim, eu notei alguns olhares
de cobiça em mim, mas se eu não desse algum tipo de sinal positivo
de interesse, nenhum deles seria desrespeitoso para se aproximar.
Isso é que vem me fazendo a aproveitar a viagem com mais
tranquilidade.
As mulheres também não ficam atrás. Apesar de algumas
delas optarem por usar o xador[37], que deixam a vista apenas seus
rostos bonitos. A maioria delas mantém apenas os belíssimos hijabs
[38], cobrindo seus cabelos. Suas maquiagens são perfeitas, fazendo
uma combinação impressionante com as joias deslumbrantes.
O meu olhar continua a vagar pelo local. Eu estou levando
o copo com meu maravilhoso drinque a boca quando observo um
movimento na entrada. Algo como uma inquietação entre as
pessoas próximas, como se em algum momento, alguém muito
importante estivesse para entrar.
E de fato, surge um homem de expressão muito séria,
olhos escuros e com trajes com cores de Sahra um pouco diferente
da maioria. Ele observa todo o ambiente. Seus olhos caem em mim
por alguns segundos, mas acho que não sou alguém interessante o
suficiente para ele gastar o seu tempo.
Após a minuciosa avaliação, ele dá um passo ao lado,
colocando as mãos atrás das costas e outro homem surge.
Minha nossa!
Como eu poderia descrevê-lo?
Não consigo saber exatamente a cor dos seus cabelos
porque estão cobertos, mas como a maioria dos sahrarianos
possuem tons escuros, acredito que os deles sejam no mínimo
castanhos, mas aposto no preto, devido as grossas e bem
desenhadas sobrancelhas. Os olhos deles são azuis como límpido
céu de Sahra. Ele tem o rosto quadrado de queijo rígido, um nariz
proeminente, apenas o suficiente para dar mais personalidade ao
rosto bonito de tirar o fôlego e, claro, uma boca volumosa de dar
inveja.
Apesar das pessoas o observando e as locais fazerem
sinais de respeito, o homem caminha pelo local com bastante
tranquilidade.
Seria alguém importante que trabalhava no palácio real ou
para a família do sheik?
Minha curiosidade e pensamentos são freados quando o
olhar dele caí sobre mim. Diferente das outras pessoas que ele
olhou de relance, a sua atenção se fixa em mim e ele dá uma
olhada nada discreta em meu vestido até os meus pés nos saltos
vermelhos. E essa avaliação predatória faz a minha pele formigar.
Quando volta ao meu rosto, o sorriso de canto de lábios
deixa muito claro que ele se agrada do que vê.
Um calor incontrolável começa a correr pelo meu corpo. A
minha boca fica seca, mas em vez de levar a bebida que seguro a
ela, passo a ponto da língua entre os meus lábios. O gesto leva o
homem misterioso e perigoso como um leopardo, encarar-me com
mais intensidade.
Senhor!
Que homem é esse?
Ele é completamente diferente de todos os que eu já havia
conhecido a minha vida inteira.
Mais sedutor. Perigoso. E letal.
A forma que mexe comigo, apenas me devorando com seu
olhar, torna essa a experiência mais erótica e sedutora de minha
vida.
Como isso era possível?
[1] Famiglia: Família.
[2] Rosa nera: Rosa negra.
[3] Uccidi e vinci: Matar e vencer.
[4] Cuore Nero: Coração negro.
[5] Onore, casa e famiglia: Honra, casa e família.
[6] Consigliere: Dá conselhos ao chefe e a todos os membros da família; às vezes
pode ser de um até máximo de três, dependendo do tamanho da Família.
[7] Piccolina: Pequena.
[8] Principessa: princesa.
[9]Underboss: Subchefe” ou underboss na ausência do representante, torna-se
automaticamente o regente de todo o clã.
[10] Piccolina: pequena.
[11] Non ci posso credere: Não dá para acreditar.
[12] Zitto: Cala a boca!
[13] Scemo: estúpido.
[14] Tesoro mio: Meu tesouro.
[15] Vendetta: É um insulto que é lavado com sangue. A vingança sangrenta por um
ente querido.
[16] Sposa bagnata, sposa fortunata: Esposa banhada é esposa
com sorte.
[17] Vattene: Cai fora!
[18] Pronto: É assim como os italianos costumam atender o telefone. Como nosso Alô.
[19] Vai al diavolo: Vá para o inferno.
[20] Sei una busta de piscio: Você é um monte de mijo.
[21] Porca miséria: Que droga.
[22] Amore mio: Meu amor.
[23] Sono follemente innamorato: Estou louco por você.
[24] Ti penso sempre: Eu penso sempre em você.
[25] Sei nei miei piensiere: Você está em meus pensamentos.
[26] Ti amo più della mia vita: Eu te amo mais do que a própria vida.
[27] Ti amo con tutto il cuore: Eu te amo de todo o meu coração.
[28] Mi sono innnamorata di te: Você me conquistou.
[29] Amore dell amia vita: Amor da minha vida.
[30] Anna: Significa Graciosa.
[31] Io ti amo di più: Eu te amo mais.
[32] Emir: Lider do país.
[33] Salam: Significa paz, mas também é um cumprimento íntimo.
[34] Aswad: É uma raça de cavalos criadas exclusivamente para esse livro.
[35] Dabab: Também é uma cidade fictícia para o livro.
[36] Easal: bebida criada para o livro, não é proibida e Sahra, mas apenas estrangeiras
costuma tomar em bares, restaurantes e ocasiões de festas.
[37] Chador ou Xador: É uma veste feminina que cobre todo o corpo com exceção do
rosto.
[38] Hijab: Modelo de lenço que as mulheres mulçumanas usam para cobrir os
cabelos.

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