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Anatomia Interna das cavidades pulpares O assoalho da câmara pulpar (presente somente

em dentes multirradiculados), que se situa no nível


• Cavidade pulpar e morfologia radicular da junção amelocementária, tem convexidade
Composta pela câmara pulpar, relacionada com a voltada para a face oclusal e apresenta dentina
coroa, e pelo canal radicular, associado à raiz. mais escura que a das paredes circundantes.

Dentes unirradiculados não há limite entre câmara As entradas dos canais radiculares, em geral,
pulpar e canal radicular. Nos multirradiculados, a localizam-se nos encontros entre as paredes
separação ocorre a partir do assoalho da câmara proximais (mesial e distal) e a vestibular, palatina
pulpar ou lingual da câmara pulpar.

As quatro paredes da câmara pulpar acompanham No assoalho da câmara pulpar, destaca-se a


em linhas gerais a forma e as inclinações das faces presença de um sulco de coloração mais escura
externas correspondentes. O teto da câmara tem que se estende de um canal ao outro – o rostrum
convexidade para o seu interior. Em suas canali –, importante auxiliar na localização das
extremidades, localizam-se pequenas projeções entradas dos canais.
dentinárias voltadas para os ângulos incisais ou
pontas de cúspide. Essas áreas, denominadas
divertículos pulpares, são ocupadas pelos cornos
pulpares.

Cavidade pulpar (vermelho). A. Dente unirradiculado.


B. Dente multirradiculado.

Durante o preparo cavitário, os cornos pulpares


podem ser expostos criando comunicações entre a
câmara pulpar e o meio externo (exposições
pulpares). Cornos pulpares podem ser
confundidos com entradas de canais radiculares.

Câmara pulpar: parede (A), teto (B), corno pulpar (C),


assoalho (D), embocadura ou entrada dos canais (E) e
rostrum canali (F).
As entradas dos canais radiculares convergem para qual não são visualizadas radiograficamente. Isso
o centro da câmara pulpar e não é incomum haver pode levar à ocorrência de degraus e perfurações,
pequenas projeções de dentina recobrindo-as. dificultando a conclusão e/ou comprometendo o
Essas projeções precisam ser removidas para prognóstico do tratamento endodôntico.
facilitar a localização das entradas e a
Profissionais devem ter conhecimento sobre a
instrumentação dos canais (desgaste
proximidade dos dentes com estruturas
compensatório).
anatômicas relevantes, como: seio maxilar
Em relação aos canais, além do principal, é preciso
ter em mente a existência de ramificações e istmos
(principalmente em dentes com raízes achatadas).
Cuidado especial deve ser dedicado à limpeza
dessas áreas.

Istmo (característica frequentemente encontrada em


raízes achatadas).

Posicionamento das entradas dos canais radiculares


(A) e projeção dentinária na raiz mesial (B). O desgaste
compensatório deve ser realizado nessa área.

Canais achatados no sentido mesiodistal tendem a


Curvaturas radiculares em diferentes dentes: no
ser mais amplos no sentido contrário
sentido mesiodistal – visualizadas radiograficamente
(vestibulolingual/palatino). Estratégias de limpeza
(A) – e no sentido vestibulopalatino/lingual –
ainda mais efetivas devem ser consideradas
dificuldade ou impossibilidade de visualização
durante a realização do tratamento endodôntico radiográfica (B).
de dentes que apresentam canais com essas
características Características morfológicas e anatômicas
Curvaturas radiculares podem estar presentes em
internas nos diferentes grupos dentais
qualquer dente e, em muitas vezes, ocorrem no • Incisivos superiores
sentido vestibulolingual/palatino, motivo pelo
São dentes anatomicamente simples. Por esse na região cervical. Ainda, incisivos laterais
motivo são considerados fáceis diante da superiores, em virtude de sua maior inclinação
necessidade de realização do tratamento palatina no arco e menor volume da câmara
endodôntico. pulpar, são frequentemente acometidos por
perfurações durante a abertura coronária.
Os canais são circulares ou levemente achatados
no sentido mesiodistal. Quando ocorre, esse
achatamento é maior nos laterais, que também
apresentam canais menos volumosos.
As raízes de incisivos centrais superiores são retas
na maioria das vezes. Nos laterais, apresentam
leve curvatura apical para distal

Dens in dente: aspectos anatômico (A),


radiográfico (B) e histológico (C).
Incisivos superiores também podem apresentar o
sulco palatogengival, o qual se estende desde a
coroa até o ápice radicular pela face palatina. Sua
presença pode predispor a uma comunicação
endoperiodontal contínua, nem sempre
solucionada a partir dos tratamentos endodôntico
e periodontal realizados isoladamente.

Incisivo central superior: vista frontal (A), vista


proximal (B) e secções axiais dos terços cervical,
médio e apical, respectivamente (C-E). Incisivo lateral Sulco palatogengival (setas) em incisivos
superior: vista frontal (F), vista proximal (G) e secções superiores.
axiais dos terços cervical, médio e apical, nessa ordem
(H-J)

Incisivos superiores (principalmente laterais)


podem exibir o dens in dente, uma invaginação de
parte da coroa para o interior da cavidade pulpar.
Clinicamente, o dens in dente se caracteriza pela
maior dimensão da coroa, no sentido mesiodistal,
predispor à ocorrência de dois canais, um
vestibular e um lingual, nem sempre detectados a
partir de radiografias convencionais. Em razão de
sua raiz ser inclinada para lingual e a câmara pulpar
apresentar pequeno volume, incisivos inferiores
também são bastante suscetíveis a perfurações
durante a abertura coronária.

Incisivo central inferior: vista frontal (A), vista proximal


(B) e secções axiais dos terços cervical, médio e apical,
respectivamente (C-E). Incisivo lateral inferior: vista
frontal (F), vista proximal (G) e secções axiais dos
• Incisivos inferiores terços cervical, médio e apical, respectivamente (H-J).

Normalmente, apresentam raízes e canais


achatados no sentido mesiodistal, retos ou
levemente curvos para distal no terço apical
Em virtude do achatamento no sentido
mesiodistal, canais de incisivos inferiores tendem
a ser mais amplos na direção contrária
(vestibulolingual). Por esse motivo, a
instrumentação não consegue contemplar todas
as suas paredes, o que resulta em canais
deficientemente instrumentados, limpos e
obturados. Ainda, esse achatamento pode
canal único (A) e bifurcações (B-D)

• Caninos superiores
São os dentes mais longos do arco dental,
destacando-se entre suas características
principais: canal circular, comprimento (maior que
o inferior), ápice afilado, possível curvatura em
baioneta (dupla curvatura) e embolsamento
cervical (ampliação do canal no sentido
vestibulopalatino na região cervical)
Os canais principais eram amplos e circulares, na
• Caninos inferiores
maioria das vezes.
Assim como os incisivos do mesmo arco,
apresentam raiz achatada no sentido mesiodistal e
ampla na direção oposta (vestibulolingual). Em
linhas gerais, os canais também apresentam essas
características. Esse achatamento mesiodistal
favorece a ocorrência de dois canais ou duas
raízes, uma vestibular e uma lingual
Em incisivos e caninos inferiores, quando houver
suspeita de dois canais, é importante realizar
radiografias periapicais aplicando os conceitos da
técnica de Clark. Mudanças na angulação
horizontal podem auxiliar no diagnóstico. Ainda, é
importante salientar que, nesses casos, o canal
mais facilmente encontrado é quase sempre o
vestibular
Canino inferior: vista frontal (A), vista proximal (B),
secções axiais dos terços cervical, médio e apical,
respectivamente (C-E).

• Pré-molares superiores
São os dentes que mais apresentam variações
anatômicas considerando o número de raízes e
canais e a localização de bifurcações (terço
Caninos inferiores com duas raízes. cervical, médio ou apical), as quais são mais
comuns nos primeiros. Quando da presença de
duas raízes/canais, uma será vestibular e a outra
palatina. No caso de três raízes/canais, estes serão:
mesiovestibular, distovestibular e palatino(a).
Quanto mais apical a bi/trifurcação, mais difícil a
localização dos canais. Se o dente apresentar uma
raiz, o canal tende a ser amplo no sentido
vestibulopalatino e estreito na direção oposta
(mesiodistal). Nesses casos, especial atenção deve
ser dada à instrumentação, procurando tocar ao
máximo todas as paredes. Pré-molares superiores
também podem conter istmos.
Primeiros pré-molares superiores com uma (A), duas
(B) e três raízes (C).
Istmo em pré-molar superior (característica frequente
em dentes com raízes achatadas no sentido
mesiodistal)

Quando há duas raízes, normalmente existem


pequenas curvaturas apicais. A porção apical da
raiz vestibular é voltada para a palatina e a porção
apical da raiz palatina, voltada para a vestibular.
Em muitas situações, essas curvaturas não são
visualizadas radiograficamente. Considerando-se
esse fato e o pequeno volume da raiz vestibular em
nível apical, amplitudes de instrumentação
exageradas podem provocar perfurações em
forma de canaleta.
Pré-molares superiores com raiz única e dois
canais poderão apresentar um ou dois forames,
fato este associado à forma dos ápices: se o ápice
é afilado, os canais tendem a terminar no mesmo
forame; se amplo, os canais provavelmente terão
Primeiros pré-molares superiores. Bifurcações em forames apicais distintos.
diferentes níveis.
Assim como nos incisivos e caninos inferiores,
quando se introduz um instrumento em um canal
de um pré-molar inferior com dois canais, a
tendência é que esse seja o vestibular. Desgastes
adicionais devem ser realizados para localização
do canal lingual.

Pré-molares inferiores com duas (A) e três raízes (B).

Pré-molares inferiores com canal único (A) e


bifurcações (B-D).

• Pré-molares inferiores
Assim como os superiores, apresentam variações
frequentes quanto ao número de raízes e canais.
Em caso de duas raízes/canais, um(a) é vestibular
e o(a) outro(a) lingual. Quando há três
raízes/canais, estaes (as) serão: mesiovestibular,
distovestibular e lingual.
Bi/trifurcações acontecem mais frequentemente
no terço apical. Tais variações são mais comuns
nos primeiros pré-molares inferiores.
Quando apresentam três raízes, a mesiovestibular
é ampla no sentido vestibulopalatino e achatada
na direção oposta (mesiodistal), o que predispõe a
ocorrência de dois canais – o mesiovestibular ou
MV e o mesiovestibulopalatino, mesiopalatino ou
MV. O canal mesiovestibulopalatino encontra-se
próximo do mesiovestibular e, pelo fato de
apresentar uma projeção de dentina sobre sua
entrada, pode não ser localizado. Após a
identificação das entradas dos canais
mesiovestibular, distovestibular e palatino,
desgasta-se parte dessa projeção para a sua
localização.
O canal distovestibular apresenta forma circular e,
em geral, é reto. Contudo, a própria forma da
coroa, que apresenta a cúspide distovestibular
mais deslocada para a palatina, faz com que a
entrada desse canal também esteja mais
posicionada para essa região.

O canal palatino constitui o mais amplo dos três e


seu acesso é relativamente fácil, embora a raiz
palatina apresente curvatura apical para a
vestibular, o que predispõe à incidência de degraus
e perfurações durante a instrumentação.
Segundos molares superiores são bastante
semelhantes aos primeiros, porém apresentam
menor volume.
Outra característica importante que pode ocorrer
em molares superiores é a união de duas ou mais
raízes

• Molares superiores
Com frequência, primeiros molares superiores
apresentam acometimento pulpar e periapical,
pois surgem na boca na mesma época que os
dentes decíduos (dentição mista), sendo muitas
vezes confundidos com eles. Negligências em seu
tratamento levam a alterações inflamatórias
irreversíveis ou à necrose da polpa.
Consequentemente, a necessidade de realização
de tratamentos endodônticos nesses dentes é
elevada.
Nesses casos, os canais podem ser independentes
ou apresentar a forma de um sulco, determinando
o canal em forma de C, característica anatômica
mais frequentemente encontrada nos segundos
em comparação com os primeiros molares
superiores

Localização do canal distovestibular em molares superiores


em função da cúspide distovestibular.

Características anatômicas internas. Primeiro molar


superior. P: raiz palatina; MV: raiz mesiovestibular; DV: raiz
distovestibular; • secção transversal do terço médio; ••
secção transversal do terço apical.

A. Raízes separadas. B. União entre as raízes


mesiovestibular (MV) e palatina (P). C. União entre
as raízes distovestibular (DV) e palatina. D. União
entre as raízes
B. mesiovestibular e distovestibular. E. União entre
todas as raízes (mesiovestibular, distovestibular e
palatina).

Disposição das entradas dos canais em um primeiro molar


superior. MV: canal mesiovestibular; MVP: canal
mesiovestibulopalatino; DV: canal distovestibular; P: canal
palatino.
Canal em forma de C em um molar superior após
seccionamento coronal. Vista frontal vestibular (A) e
vista oclusal (B).

O molar em forma de C (C-shaped) compreende


uma variação anatômica que merece destaque por
suas características peculiares, ensejando
meticulosa atenção operatória durante o
tratamento endodôntico. A etiologia desses canais
reside na falha durante a formação das raízes pela
bainha epitelial de Hertwig, causando fusão
radicular. O diagnóstico radiográfico do C-shaped é
difícil, sendo seu reconhecimento clínico
estabelecido definitivamente por meio do acesso à
câmara pulpar. No entanto, radiografias pré-
operatórias podem evidenciar características
comuns, como fusão e/ou proximidade radicular.
A complexidade anatômica do canal em C impõe
maiores dificuldades tanto para a limpeza quanto
para a obturação, sobretudo pela ausência de um
padrão anatômico em relação ao número e à
forma dos canais radiculares. Pode-se encontrar
um único canal em forma de C, desde a câmara
pulpar até o segmento apical, ou mesmo dois, três
ou quatro canais que se interligam através de um
istmo.

• Molares inferiores
Com frequência, os primeiros molares inferiores
são tratados endodonticamente em virtude dos
mesmos motivos expostos para seus homólogos
superiores. Em geral, apresentam duas raízes: uma
mesial – na qual, há dois canais (mesiovestibular e
mesiolingual), geralmente estreitos e com
curvaturas para a distal – e outra distal, em que
comumente existe um único canal, amplo no
sentido vestibulolingual e reto. Segundo molares
inferiores são anatomicamente semelhantes aos
primeiros.
Ainda, molares inferiores podem exibir raízes
adicionais pela vestibular (paramolares) ou lingual
(entomolares). Quando essas raízes não são
identificadas, o conteúdo de seus canais pode
determinar o desenvolvimento ou a perpetuação
de lesões perirradiculares.

Microtomografias computadorizadas de raízes entomolares


(setas).
Primeiro molar inferior: vista frontal (A). Secções axiais dos
terços cervical, médio e apical das raízes mesial (B-D) e
distal (E-G), respectivamente. Segundo molar inferior: vista
frontal (H). Secções axiais dos terços cervical, médio e apical
das raízes mesial (I-K) e distal, nessa ordem.

Ainda, em segundos molares inferiores, é comum


ocorrer a união da raiz mesial com a distal, caso no
qual o canal se estende de um lado a outro, em
forma de sulco – canal em C. Essa forma de C é
voltada para o lado onde o sulco é mais profundo
(vestibular ou lingual).

Canal em C em um molar inferior em função da união de


suas raízes.

Raízes extranumerárias em molares inferiores: pela face


vestibular (paramolares) (A), pela face lingual (entomolares)
(B)

Canal mesiocentral em primeiros molares inferiores (setas).


Imagem laboratorial (A) e imagem clínica (B).
pode ser completa ou incompleta.
Radiograficamente, a fusão verdadeira apresenta
raiz ampla, cavidade pulpar comum e estrutura
dentinária confluente entre os dentes envolvidos.
O tratamento endodôntico, quando indicado, deve
ser realizado acompanhando a anatomia interna
do sistema de canais radiculares, pois os dentes
apresentam canais amplos e irregulares. A
geminação constitui um distúrbio de
desenvolvimento que ocorre durante a
organogênese na tentativa de “criar um dente
extra” e, provavelmente, é um problema
decorrente da segmentação da lâmina dentária.
Microdontia é uma condição em que os dentes são
menores do que o normal. Pode se limitar a um,
dois, um grupo ou todos os dentes (microdontia
generalizada). Incisivos laterais conoides são
exemplos de microdontia.
Macrodontia constitui uma rara anomalia de
forma, frequentemente utilizada para descrever
gigantismo dentário. Caracteriza-se pelo
alargamento excessivo de todas as estruturas do
dente e pode estar relacionada com algumas
síndromes. É causada por complexas interações
multifatoriais, incluindo genéticas e ambientais,
durante o processo de desenvolvimento dental

Alterações morfológicas e anatômicas


internas dentais
As alterações morfológicas e anatômicas internas
dentais mais frequentemente encontradas são:
dens in dente ou dens invaginatus, fusão,
geminação, micro, macro e taurodontia,
calcificações pulpares, reabsorções, dilaceração A. Geminação. B. Fusão (imagens radiográficas). C.
radicular (raiz curva) e canal em forma de C. Fusão (imagem tomográfica)

Fusão e geminação compreendem anomalias de


desenvolvimento dos tecidos duros dentais, as
quais raramente exigem tratamento endodôntico.
A fusão é definida como a união entre a dentina
e/ou esmalte de dois ou mais dentes em
desenvolvimento, e, de acordo com o período da
odontogênese em que o distúrbio se processa,
Imagens em microtomografia computadorizada de terceiros
molares inferiores. Microdontia: morfologia radicular (A),
anatomia interna (B). Dente normal: morfologia radicular
(C), anatomia interna (D).

A taurodontia apresenta como característica


principal o grande volume da câmara pulpar, que
pode alcançar a porção radicular. Uma
consequência dessa alteração refere-se à
existência de canais radiculares curto
Calcificações pulpares existem sob a forma de
nódulos pulpares e formas lineares (agulhas
cálcicas). Nódulos pulpares são facilmente
detectados radiograficamente, uma vez que em
geral, localizam-se na câmara pulpar, podendo
atingir tamanhos consideráveis. Nesses casos,
ocorrem alterações anatômicas significativas e
maior dificuldade para a localização das entradas
dos canais. A presença de nódulos pulpares
significa um sinal clínico-radiográfico de que a
polpa está envelhecendo e/ou sofrendo algum
tipo de agressão. Em determinadas situações,
pode-se detectar radiograficamente a total
obliteração da cavidade pulpar, casos nos quais o
paciente relata com frequência histórico de
trauma

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