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DIREITO PENAL – PARTE GERAL

Princípios VI
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PRINCÍPIOS VI

• Princípio da Insignificância

Requisito subjetivo (análise do perfil do autor)

1) Criminoso habitual

O crime em que mais se aplica o princípio da insignificância é o furto, pela sua qualidade
de não ter violência e grave ameaça.
Ex: O agente vai todo dia no mercado e furta algo, como xampu, sabonete, pães, mar-
garina. O agente está cometendo pequenos furtos, que se fossem analisados isoladamente
poderia ser aplicado o princípio da insignificância. Contudo, o princípio da insignificância não
será um salvo conduto para o criminoso habitual.
É preciso diferenciar o princípio da insignificância do estado de necessidade. O furto
famélico é outra situação.
Ex: O agente entra no supermercado e começa a furtar carnes, produtos alimentícios,
porque está passando fome, está prestes a morrer. Ainda que esse agente pratique o furto que
não seja considerado insignificante, ou seja, um furto que deveria responder, que há tipicidade
formal e material, ele poderá ter sua ilicitude excluída em razão do estado de necessidade.
Ao criminoso habitual não poderá se beneficiar do princípio da insignificância.
Ex: O agente subtraiu cerca de R$60 em uma farmácia e, em seguida, entrou em um
supermercado e escondeu uma bebida que custava cerca de R$50/R$60. Foi imputado a
esse agente o crime de furto, pois é um criminoso habitual.
5m

2) Militar, Delegados de Polícia, Policiais, Juiz, Promotor

Pode ser aplicado o princípio da insignificância a depender do caso, mas, em regra, não,
pois a reprovabilidade do comportamento desses agentes é alta.
É possível a aplicação do P. da Insignificância a reincidentes?
Já houve jurisprudência dispondo que o princípio da insignificância não se aplica a rein-
cidente e há teoria que defende que não deve ser aplicada a um reincidente. Atualmente,
prevalece que o princípio da insignificância é possível de ser aplicado a um reincidente.
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1ª Corrente) NÃO admite.

2ª Corrente) ADMITE.

A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal
da conduta, à luz dos elementos do caso concreto (Informativo 793 do STF, HC 123108, jul-
gado em 03/08/2015 e STF - HC 155.920/MG – 27/04/2018)

O Delegado de Polícia pode aplicar o P. da Insignificância diante de uma situação


flagrancial?

Há uma grande polêmica em relação a esse assunto. As duas correntes são fortes e ainda
não há uma definição em relação a qual corrente deve ser adotada em uma prova objetiva.
1ª Corrente) NÃO.
2ª Corrente) SIM.

• Aplicação do Princípio da Insignificância

FURTO

Aplica-se a insignificância. Entretanto, é importante observar:


1) Não se leva em consideração somente o valor da res furtiva. Deve ser analisado o
caso concreto.
O valor da res furtiva é o valor do bem material.
2) STJ tem negado a aplicação do P. da Insignificância quando o valor do bem subtraído
é superior a 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos. Se for abaixo desse valor,
analisa-se o caso concreto (STJ, AgRg no Resp 1.558.547/MG, 19/11/2015)
10m
3) Furto com ingresso na residência da vítima – não aplicação em razão da violação da
intimidade (STF, HC 106.045, 19/06/2012)
O furto no interior de residência geralmente será um furto qualificado, pelo arrombamento
ou destruição de obstáculo.
Ex: A casa da vítima está aberta e o agente entra e furta os bens que estão no interior da
residência. Nesse caso, o agente praticou furto simples.
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Ex: O agente furta uma torradeira que custa R$50 de uma residência. O STF dispõe que
não se aplica o princípio da insignificância a este agente, pois quando o agente entrou na
residência da vítima, além da subtração, houve uma violação da intimidade das pessoas.
FURTO NOTURNO (art. 155, § 1º, CP)
Em regra, não se aplica o princípio da insignificância – STJ, AgRG no AREsp 463.487/
MT, 01/04/2014.
Eventualmente pode ser aplicado, dependendo da análise do caso concreto.

RESTITUIÇÃO DE BENS FURTADOS À VÍTIMA

Não gera, por si só, a aplicação do princípio da insignificância (STJ, HC 213.943/MT, 05/12/2013).
O agente, porém, terá a pena diminuída em razão do arrependimento posterior (art. 16, CP)
Ex: O agente subtrai um celular, se arrepende, procura a vítima e devolve o celular. Não
é possível aplicar o princípio da insignificância, pois a restituição da coisa à vítima não tem
nada a ver com o princípio da insignificância. Ao agente será aplicado um outro instituto, que
é o arrependimento posterior.

FURTO QUALIFICADO

Em regra, não será aplicado o princípio da insignificância.


Já houve entendimento em prova passada dispondo que se está diante de um furto qualifi-
cado não se aplica o princípio da insignificância. Eventualmente, excepcionalmente, a depen-
der do caso concreto, é possível aplicar o princípio da insignificância ao furto qualificado.
Entretanto, é possível sua aplicação a depender do caso concreto. (Info. 793 do STF, HC
123108, julgado em 03/08/2015 e STF - HC 155.920/MG – 27/04/2018)
Não se aplica o P. da Insignificância aos seguintes crimes:
1) Roubo, extorsão e demais crimes cometidos com violência ou grave ameaça.
Não será aplicado em razão da periculosidade social da ação.
2) Crimes previstos na lei de drogas (Lei n.º 11.343/06) – STJ, HC 240.258/SP, 06/08/2013
Ex: O agente estava com um cigarro de maconha. O agente não responde pelo tráfico de
drogas, e sim pelo art. 28, que dispõe sobre o porte para uso de drogas.
Ex: O agente comercializou 1 grama de pó de cocaína. O agente será imputado por trá-
fico de drogas (art. 33 da Lei n. 11.343).
15m
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3) Crimes contra a fé pública (ex.: moeda falsa e falsidade documental) – STJ, AgRG no
AREsp 558.790 e STF, HC 117638.
Ex: O sujeito falsifica uma nota de R$5. Ao sujeito será imputado crime de moeda falsa.
Os crimes contra a fé pública não visam proteger o patrimônio, o valor do bem material,
mas sim a confiança do público depositada no Estado.
4) Crime de contrabando (art. 334-A, CP) – STJ, AgRG no Resp 1472745/PR, 01/09/2015
O crime de contrabando visa proteger não somente os impostos, mas a saúde pública e
segurança pública.
Ex: O agente importa sem autorização cigarros. Ele pratica crime de contrabando.
Há uma exceção: no crime de contrabando se a pessoa entra no país com uma caixa
de remédio sem autorização, mas é em pouca quantidade, para uso pessoal, o princípio da
insignificância pode ser aplicado.

Não se aplica o P. da Insignificância aos seguintes crimes:

5) Estelionato contra o INSS e o FGTS – STF HC 111918 e HC 110845


Há acentuado grau de reprovabilidade do comportamento e também a jurisprudência
fundamenta no risco de quebra desses programas. São programas deficitários, principal-
mente o INSS.
6) Crimes relacionados a violência doméstica (Lei Maria da Penha, n.º 11.340/06)
Súmula 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contraven-
ções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.”
7) Crimes contra a Administração Pública
Súmula 599 – STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a admi-
nistração pública. (Aprovada em 20/11/2017)
Exceção: Crime de descaminho (art. 334, CP)
Se há um crime contra a administração pública, como peculato, corrupção passiva, não
será aplicado o princípio da insignificância.
Ex: O agente subtraiu de dentro de seu departamento, em razão das facilidades propor-
cionadas pelo seu cargo, 100 folhas de papel A4. O agente vai responder por crime de pecu-
lato, pois o STJ definiu que não se aplica o princípio da insignificância aos crimes contra a
administração pública.
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O STF entende que, a depender da situação, é possível aplicar o princípio da insignificân-


cia aos crimes contra a administração pública.

DIRETO DO CONCURSO
1. (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/STJ/2018) É possível a aplicação do princípio da in-
significância nos crimes contra a administração pública, desde que o prejuízo seja em
valor inferior a um salário mínimo.

COMENTÁRIO
20m
A Súmula 599 do STJ dispõe que o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes
contra a administração pública.

• Aplicação do Princípio da Insignificância

Aplica-se o P. da Insignificância aos seguintes crimes:


1) Crimes contra a ordem tributária (Lei 8.137/90) e descaminho (art. 334, CP) – valor
pacífico no STJ e STF: Até R$ 20.000,00
Até um tempo atrás, o STF e o STJ entendiam que esse valor devia ser de R$10.000.
Depois, o STF passou a entender que o valor devia ser de R$20.000. Hoje, isso está pacificado.
O Ministério da Fazenda junto com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional tem uma
portaria que determina que só se ingressa com ação fiscal quando houver um débito em
dívida ativa com valor superior a R$20.000.
Se a PGFN e o Ministério da Fazenda não tem interesse em ingressar com uma ação
fiscal, não deve o Direito Penal se preocupar em haver a persecução penal contra o agente.
2) Apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária – STJ,
AgRg no Resp 1348074/SP, 19/08/2014
3) Crimes ambientais – A doutrina é contrária, mas a jurisprudência admite a aplicação
deste princípio, após uma rigorosa análise. STJ, AgRg no AREsp 654.321/SC, 09/06/2015 e
STF HC 112563/SC, 21/08/2012.
Ex: O sujeito, na época da Piracema, que é proibida a pesca, pega seu barco e vai
pescar. A Polícia Ambiental descobre e o sujeito responde por crime ambiental.
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É admissível o princípio da insignificância aos crimes ambientais. Deve ser feita a análise
do caso concreto.
25m

DIRETO DO CONCURSO
2. (CESPE/2014/CÂMARA DOS DEPUTADOS/ANALISTA LEGISLATIVO/CONSULTOR
LEGISLATIVO ÁREA III) O agente que ilude o pagamento de tributo aduaneiro devido
pela entrada ou pelo consumo de mercadoria pode incidir no crime de descaminho. Na
hipótese de o tributo devido ser inferior ao mínimo exigido para a propositura de uma
execução fiscal, o STF entende que a conduta é penalmente irrelevante, aplicando-se
a ela o princípio da insignificância.

COMENTÁRIO
O mínimo exigido para a propositura de uma execução fiscal é R$20.000. Há a possibilida-
de do princípio da insignificância aos crimes tributários.

A questão da posse e do porte de armas de fogo e munições

1) Não se aplica o princípio da insignificância ao posse ou porte de arma de fogo, seja de


calibre permitido ou restrito e ainda que não acompanhado de munição – Pacífico no STJ e STF
A Lei n. 10.826 dispõe que ao agente que possui ou porta arma de fogo ilegalmente sem
a devida autorização não será aplicado o princípio da insignificância. A Lei n. 10.826 também
incrimina a conduta do agente que possui ou porta munições.
A jurisprudência começou a entender que, em algumas situações, é possível que o agente
tenha munição, mas são poucas e não estão acompanhadas de arma de fogo. Então, em
alguns casos, a jurisprudência admite a aplicação do princípio da insignificância à posse ou
ao porte de munições irregularmente.
2) No que concerne a posse ou porte de munições, desacompanhadas de arma de fogo,
tanto o STF quanto o STJ tem entendido que, a depender do caso concreto e da quantidade
de munições, é possível aplicar o P. da Insignificância.
A favor da aplicação: STJ, REsp 1.735.871/AM, 12/06/2018; AgRg no HC 439.593/MG,
01/02/2019 e STF, RHC 143449, 26/09/2017
Contra a aplicação: STF, HC 131.771/RJ, 19/10/2016.
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É possível a aplicação do princípio da insignificância aos atos infracionais?


O ato infracional é a conduta típica praticada por um menor de idade. O menor de idade
não pratica crime, aquele que tem menos de 18 anos é inimputável e a ele não pode ser apli-
cado um crime.
30m
Ex: Um menor de 18 anos subtrai um pacote de biscoito do supermercado. Nesse caso,
o menor praticou um ato infracional análogo ao crime de furto.
É possível a aplicação do princípio da insignificância aos atos infracionais.

• Infração bagatela imprópria ou princípio da insignificância imprópria

O princípio da insignificância é uma causa excludente de tipicidade material. No princípio


da insignificância não há crime.
No princípio da insignificância imprópria há crime, com fato típico, ilícito e culpável. Há
um fato criminoso que foi praticado, entretanto, em virtude de um acontecimento posterior,
a pena se torna desnecessária, não há interesse do Estado em punir a pessoa. Quando o
Estado perde o interesse em punir a pessoa é chamado de extinção de punibilidade.
A infração bagatela imprópria tem natureza jurídica de causa extintiva da punibilidade.
É a infração que nasce com relevância para o ordenamento jurídico, mas sua punição se
faz desnecessária.
O crime permanece íntegro, mas constata-se a desnecessidade da pena.
Princípio da irrelevância penal do fato.
Natureza jurídica de extinção da punibilidade.
Ex1: pagamento do tributo em crimes tributários materiais.
Se é praticado um crime tributário material, mas depois é efetuado o pagamento do
imposto que foi sonegado, o Estado extingue a punibilidade.
Ex2: reparação do dano no peculato culposo.
O art. 312, § 3º, do Código Penal, dispõe que no crime de peculato culposo, se é efetuado
o pagamento até a sentença irrecorrível, ou seja, se é reparado o dano causado à adminis-
tração pública, será extinta a punibilidade.
35m
Ex3: perdão judicial pelo homicídio culposo do próprio filho.
Foi praticado um crime de homicídio culposo, mas as consequências do crime são tão
graves que a incidência da pena se torna desnecessária.
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GABARITO
1. E
2. C

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Concursos, de acordo com a aula pre-
parada e ministrada pelo professor Érico de Barros Palazzo.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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