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FACO – FACULDADE DE TECNOLOGIA DE CRUZEIRO DO OESTE

A HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO BRASIL

Cruzeiro do Oeste – PR
2018
A HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO BRASIL

Orientador: Prof.ª.............

Monografia apresentada como


exigência parcial para conclusão do
Curso de Pós Graduação em
Letramento e Alfabetização –
Faculdade de Tecnologia de Cruzeiro
do Oeste -FACO.

Cruzeiro do Oeste – PR
2018
RESUMO:

Alfabetizar é dar condições ao sujeito de ser capaz de ler, (decodificar) e escrever


(codificar) bem como fazer uso adequado da língua escrita, significa orientar a
criança para o domínio da tecnologia da escrita. No Brasil, a história da
alfabetização tem sua face mais visível na história dos métodos de alfabetização, em
torno dos quais, especialmente desde o final do século XIX, vêm-se gerando tensas
disputas relacionadas com "antigas" e "novas" explicações para um mesmo
problema: a dificuldade das crianças em aprender a ler e a escrever. O termo
letramento surgiu no Brasil na década de 80 e segundo GRANDO (2012), surgiu a
partir da necessidade de denominar o estado ou condição daqueles que não mais
pertenciam ao grupo dos analfabetos. A história da Alfabetização pode ser dividida
em 4 grandes grupos o primeiro inclui a Antiguidade e a Idade Média o segundo teve
início pela reação contra o método da soletração terceiro período, marcado pelo
questionamento e refutação da necessidade de se associar os sinais gráficos da
escrita aos sons da fala para aprender a ler. Foram utilizados vários métodos, como
o método de Paulo Freire, Cartilhas e o método adotado pelos JesuítasO principal
intuito desse trabalho é o de contribuir com reflexões na compreensão da história do
processo de alfabetização brasileiro. Entendendo que ao tratar de questões
relacionadas àmemória nacionalos conhecimentos sobre a alfabetização e
letramento no Brasil resgatam a ideia desta como um bem cultural imprescindível a
todas as pessoas.

Palavras-chave: História; Alfabetização; Letramento; Brasil.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................5
1. LETRAMENTO: CONCEITOS E DEFINIÇÕES......................................................................................6
2. Panorama Métodos de Alfabetização.............................................................................................8
2.1 - Método da Cartilha...................................................................................................................10
2.2 - Método Paulo Freire.................................................................................................................11
2.3 - A Companhia de Jesus e a Instrução Brasileira.........................................................................12
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................................14
4. REFERÊNCIAS................................................................................................................................16
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INTRODUÇÃO

O termo letramento por vezes é considerado bastante atual no campo da


educação brasileira. Segundo Soares (2009), esse termo parece ter sido usado pela
primeira vez no país por Mary Kato, no livro “No mundo da escrita: uma perspectiva
psicolinguística no ano de 1986”.
Segundo pensamento de Mortatti (2010) a alfabetização e letramento é
entendida como processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita em língua
materna, na fase inicial de escolarização de crianças – é um processo complexo e
multifacetado que envolve ações especificamente humanas e, portanto, políticas,
caracterizando-se como dever do Estado e direito constitucional do cidadão.
Alfabetização e Letramento se somam. Alfabetizar é dar condições ao sujeito
de ser capaz de ler, (decodificar) e escrever (codificar) bem como fazer uso
adequado da língua escrita, significa orientar a criança para o domínio da tecnologia
da escrita. Alfabetizar letrando é uma abordagem bastante atual no cenário da
educação, e ainda distante no conhecimento da maioria dos professores
(LAZZAROTTO, 2010).
Para Freire (1983) a alfabetização é um ato criador, no qual o analfabeto
apreende criticamente a necessidade de aprender a ler e a escrever, preparando-se
para ser o agente desta aprendizagem. E consegue fazê-lo na medida em que a
alfabetização é mais que o simples domínio mecânico de técnicas para escrever e
ler.
Mortatti (2010) ainda relata que antes da proclamação da república não se
tinha tanta preocupação com a alfabetização, porém a partir daí foi tomando forma,
conforme abaixo:

Nas décadas que antecederam a Proclamação da República


brasileira, o ensino e a aprendizagem iniciais da leitura e escrita
começaram a se tornar objeto de preocupação de administradores
públicos e intelectuais da Corte e de algumas províncias brasileiras,
especialmente São Paulo. Entretanto, foi somente a partir da primeira
década republicana, com as reformas da instrução pública,
especialmente a paulista, que as práticas sociais de leitura e a
escrita se tornaram práticas escolarizadas, ou seja, ensinadas e
aprendidas em espaço público e submetidas à organização
metódica, sistemática e intencional, porque consideradas
estratégicas para a formação do cidadão.
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No Brasil, a história da alfabetização tem sua face mais visível na história dos
métodos de alfabetização, em torno dos quais, especialmente desde o final do
século XIX, vêm-se gerando tensas disputas relacionadas com "antigas" e "novas"
explicações para um mesmo problema: a dificuldade das crianças em aprender a ler
e a escrever (MORTATTI, 2006).
Decorrente da complexidade e multifacetação do processo escolar envolvido,
a história da alfabetização no Brasil se caracteriza, portanto, como um movimento
também complexo, marcado pela recorrência discursiva da mudança, indicativa da
tensão constante entre permanências e rupturas, diretamente relacionadas a
disputas pela hegemonia de projetos políticos e educacionais e de um sentido
moderno para a alfabetização (MORTATTI, 2010).
Desse modo, esse trabalho tem por objetivo discorrer os principais pontos e
passagens que caracterizam a história da alfabetização e letramento no Brasil.

1. LETRAMENTO: CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Mortatti (2004), afirma que “[...] até por ser uma palavra recente, nem sempre
são idênticos os significados que lhe vêm sendo atribuídos [...].
Em relação à origem, o termo letramento surgiu no Brasil na década de 80 e
segundo GRANDO (2012), surgiu a partir da necessidade de denominar o estado ou
condição daqueles que não mais pertenciam ao grupo dos analfabetos e que
utilizavam a escrita e a leitura em seus contextos.
Pensar em Alfabetização e letramento é remeter-se a diversas fronteiras as
quais sedelineiam conceitos recentes que chega ao Brasil na década de 80 de
acordo conforme Soares (2003).
Para Paulo Freire (1983, p.49) o ato de “[...] alfabetizar-se é adquirir uma
línguaescrita através de um processo de construção do conhecimento com uma
visão crítica da realidade”. Associando a apropriação à conquista da cidadania.
Soares (2009) afirma que a palavra letramento é uma tradução do termo
inglês literacy, que, por sua vez, tem origem do latinlittera, que se refere à letra. A
palavra literacypoderia ser decomposta da seguinte maneira: littera(letra) +
cy(estado de). Para Soares esta definição se dá da seguinte forma: “[...] literacyé a
condição de ser letrado – dando à palavra letrado sentido diferente daquele que vem
tendo em português (2009)”.
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Então o sentido à que Soares se referia está intimamente ligado à ideia de


pessoa erudita, ou pessoa versada em letras podendo o seu antônimo ser apenas
definido como pessoa que não possuia conhecimentos literários. Mas ao se referir
ao termo descrito por Soares o termo mais correto seria o atribuidoà ele na lingua
inglesa: literate, que por sua vez significa pessoa educada e que possui habilidade
de ler e escrever.

Soares (1998) define que:

Alfabetização é dar acesso ao mundo da leitura. Alfabetizar é dar


condições para que o indivíduo- criança ou adulto - tenha acesso ao
mundo da escrita, tornando-se capaz não só de ler e escrever,
enquanto habilidades de decodificação e codificação do sistema da
escrita, mas, e, sobretudo, de fazer uso real e adequado da escrita
com todas as funções que ela tem em nossa sociedade e também
como instrumento na luta pela conquista da cidadania plena.

A alfabetização, portanto, é um processo de aquisição da “tecnologia da


escrita”, isto é, conjunto de técnicas procedimentos, habilidades necessárias para a
prática da leitura e da escrita (LAZZAROTTO, 2010).
Já para Mortatti (2004, p. 98), o conceito de letramento se liga às funções da
língua escrita em sociedades letradas. Conforme é citado abaixo:

Letramento está diretamente relacionado com a língua escrita e seu


lugar, suas funções e seus usos nas sociedades letradas, ou, mais
especificamente, grafocêntricas, isto é, sociedades organizadas em
torno de um sistema de escrita e em que esta, sobretudo por meio do
texto escrito e impresso, assume importância central na vida das
pessoas e em suas relações com os outros e com o mundo em que
vivem.

O letramento para Kleiman (2008) também é compreendido como um


fenômeno muito mais amplo e que ultrapassa os domínios da escola. Segundo ela
esse conceito dá ênfase ao lado social e prático do letramento, “[...] podemos definir
hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, como
sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para objetivos
específicos”.
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2. Panorama Métodos de Alfabetização

Para Mendonça (2011), pode-se compreender os estágios pelos quais passou


o processo de alfabetização paralelamente às transformações econômicas, sociais,
políticas e educacionais.
A história da Alfabetização pode ser dividida em 4 grandes grupos conforme
relatou Araújo, (1996).
Segundo Araújo (1996), o primeiro inclui a Antiguidade e a Idade Média,
quando predominou o método da soletração; o segundo teve início pela reação
contra o método da soletração, entre os séculos XVI e XVIII, e se estendeu até a
década de 1960, caracterizando-se pela criação de novos métodos sintéticos e
analíticos; e o terceiro período, marcado pelo questionamento e refutação da
necessidade de se associar os sinais gráficos da escrita aos sons da fala para
aprender a ler, iniciou em meados da década de 1980 com a divulgação da teoria da
Psicogênese da língua escrita.
Mendonça (2011),relata que surgiu a partir de então o quarto período o
chamado“reinvenção da alfabetização”, onde nesse contexto, uma nova
metodologia, fundamentada na sociolinguística e na psicolinguística, propõe a
organização do trabalho docente e a sistematização da alfabetização cujo objetivo é
o de alfabetizar letrando. Sugere um trabalho que partindo da realidade do aluno
desenvolva e valorize sua oralidade por meio do diálogo, que trabalhe conteúdos
específicos da alfabetização e utilize estratégias adequadas às hipóteses dos níveis
descritos na psicogênese da língua escrita.
Conforme Braslavsky (1971), em 1655, Comenius, em sua OrbisPictus,
caracterizou o método da soletração como a “maior tortura do espírito” e lançou o
método iconográfico, que associava uma imagem a uma palavra-chave, para que a
criança pudesse estabelecer uma relação entre a grafia e sua representação icônica.
A partir do século XVI, pensadores começam a manifestar-se contra o método
da soletração, em função da sua dificuldade. Na Alemanha, Valentin Ickelsamer
apresenta um método com base no som das letras de palavras conhecidas pelos
alunos (MENDONÇA, 2011).
Conforme Marrou (1969), a alfabetização ocorria por um processo lento e
complexo. Iniciava-se pela aprendizagem das 24 letras do alfabeto grego e as
crianças tinham que decorar os nomes das letras (alfa, beta, gama etc.), primeiro na
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ordem alfabética, depois em sentido inverso. Somente depois de decorar os nomes


é que era apresentada a forma gráfica. A tarefa seguinte era associar o valor sonoro
(antes memorizado) à respectiva representação gráfica (escrita). As primeiras letras
apresentadas eram as maiúsculas, distribuídas em colunas, depois vinham as
minúsculas. Quando os aprendizes haviam memorizado a associação das letras às
formas, processo semelhante era feito com as famílias silábicas, iniciando-se pelas
sílabas simples (beta-alfa = ba; beta – é = bé; beta – eta = bê), decoradas em
ordem, até se esgotarem todas as possibilidades combinatórias. Mais tarde, vinha o
estudo das sílabas trilíteras e assim por diante. Concluído o estudo da sílaba,
vinham os monossílabos, depois os dissílabos, trissílabos e assim sucessivamente,
como fazem as cartilhas. Segundo Platão (MARROU, 1969, p. 248) através desse
método, quatro anos não era demais para se aprender a ler.
Sendo assim, Mendonça (2011) resume o método da seguinte maneira:
soletração, o fônico e o silábico são de origem sintética, pois parte da unidade
menor rumo à maior, isto é, apresentam a letra, depois unindo letras se obtém a
sílaba, unindo sílabas compõem-se palavras, unindo palavras formam-se sentenças
e juntando sentenças formam-se textos. Há um percurso que caminha da menor
unidade (letra) para a maior (texto).
Os métodos da palavração, sentenciação ou os textuais são de origem
analítica, pois partem de uma unidade que possui significado, para então fazer sua
análise (segmentação) em unidades menores. Por exemplo: toma-se a palavra
(BOLA), que é analisada em sílabas (BO-LA), desenvolve-se a família silábica da
primeira sílaba que a compõe (BA-BE-BI-BO-BU) e, omitindo a segunda família (LA-
LE-LI-LO-LU), chega-se às letras (B-O-L-A) (MENDONÇA, 2011).
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Segundo Mortatti, 2006 até o final do Império brasileiro, o ensino carecia de


organização, e as poucasescolas existentes eram, na verdade, salas adaptadas, que
abrigavam alunos de todas as“séries” e funcionavam em prédios pouco apropriados
para esse fim; eram as “aulas régias”, e pode ser melhor percebido no trecho
descrito por Mortatti:

Em decorrência das precárias condições de funcionamento,


nessetipo de escola o ensino dependia muito mais do empenho de
professor e alunos para subsistir. E o material de que se dispunha
para o ensino da leitura era também precário, embora, na segunda
metade do século XIX, houvesse aqui algum material impresso sob a
forma de livros para fins de ensino de leitura, editados ou produzidos
na Europa. Habitualmente, porém, iniciava-se o ensino da leitura com
as chamadas “cartas de ABC" e depois se liam e se copiavam
documentos manuscritos.

2.1 - Método da Cartilha

As primeiras cartilhas brasileiras, produzidas no final do século XIX,


sobretudopor professores fluminenses e paulistas a partir de sua experiência
didática, baseavam-senos métodos de marcha sintética (de soletração, fônico e de
silabação) e circularam emvárias províncias/estados do país e por muitas décadas
(MORTATTI, 2004).

Segundo Mendonça (2011) a cartilha surgiu da necessidade de material para


se ensinar crianças a ler e a escrever. Até então, elas aprendiam em livros que eram
levados de casa, quando tinham algum livro em casa. No século XVI, surge o
silabário, a primeira versão do que seria a cartilha. As cartilhas brasileiras tiveram
origem em Portugal (que chegou a enviar exemplares para a alfabetização, em suas
colônias). De autoria de João de Barros, a Cartinha para Aprender a Ler é uma das
cartilhas mais antigas para ensinar português. Sua primeira versão foi impressa em
Lisboa, em 1539. Outras cartilhas foram utilizadas no Brasil, além daquela. Em
Lisboa, Antonio Feliciano de Castilho elaborou o Método Castilho para o Ensino
Rápido e Aprazível do Ler Impresso, Manuscrito e Numeração do Escrever (1850),
que continha abecedário, silabário e textos de leitura.

A partir de 1930, cresceu consideravelmente o número de cartilhas


publicadas, pois isso passou a ser um grande negócio. Por volta de 1944, surge o
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Manual do Professor, cuja função é orientar o professor quanto ao correto uso do


material. E o mercado das cartilhas continuou a crescer (MENDONÇA, 2011).
Com a evolução dos conhecimentos sobre a alfabetização, mesmo que durante
décadas, a escola tenha alfabetizado por meio da cartilha pode-se observar que tal
metodologia se tornou insuficiente para atender às exigências da sociedade, sendo
necessário saber se comunicar, conforme relata Mendonça, (2011):

Hoje, não basta o aluno saber apenas codificar e decodificar sinais.


Não é suficiente conseguir produzir um pequeno texto, há a
necessidade de que saiba se comunicar plenamente, por meio da
escrita, utilizando os diversos tipos de discurso.

2.2 - Método Paulo Freire

Quando começou a pensar na alfabetização, em 1962, Paulo Freire trazia


mais de 15 anos de experiências no campo da Educação de Adultos, nas áreas
pobres urbanas e rurais de Pernambuco. No momento em que formulou sua
proposta, tinha mais de 20 anos como professor de português e havia participado
ativamente do Movimento de Cultura Popular, onde começou a desenvolver a sua
metodologia de alfabetização (BARRETO, 2014).
Para Feitosa (1999) Freire não desenvolveu uma pedagogia da alfabetização.
Ele contribuiu com a criação de uma pedagogia que privilegia odesenvolvimento da
consciência crítica e estabeleceu uma nova relação entre professor - aluno criando
com isso bases para o desenvolvimento de uma pedagogiacrítica e libertadora,
Mendonça (2011) relata que Paulo Freire ficou conhecido mundialmente por
ter criado um “método” de alfabetização de adultos que partia do diálogo e da
conscientização. Diferencia-se dos demais quando, em seus dois primeiros passos,
“codificação” e “descodificação”, busca transformar a consciência ingênua do
alfabetizando em consciência crítica, por meio da “leitura do mundo”.
O Método Paulo Freire foi pouco divulgado e estudado, no Brasil; quando
usado pelo Mobral, foi descaracterizado, porque teve seus passos da “codificação” e
“descodificação” excluídos do processo de alfabetização, sendo transformado em
mero método das cartilhas, impedindo os alfabetizadores e alfabetizandos de fazer a
“leitura de mundo” (MENDONÇA, 2011).
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Paulo contou com a colaboração de Elza, sua mulher e experiente professora


de alfabetização. Foi a professora Elza quem sugeriu a escolha de palavras
seguindo o caminho da palavração, que naquela época era uma novidade. Segundo
Barreto (2014) Paulo aceitou a sugestão e agregou mais palavras advindas da
realidade do alfabetizando, acabou por definir essas palavras como, palavras
geradoras e mais tarde passou a se chamar, temas geradores. Por fim Paulo propôs
a criação de um quadro contendo o mesmo conjunto silábico relacionado a palavra
estudada, batizando o mesmo de ficha da descoberta.
Para Feitosa (1999) o estudo da Teoria Pedagógica de Paulo Freire vem
ocupa nesse cenário, tanto nacional como internacionalmente, um papel de relevada
importância uma vez que propõe um educador autônomo, capaz de refletir
criticamente e uma educação igualmente libertadora e crítica.

2.3 - A Companhia de Jesus e a Instrução Brasileira

Os pesquisadores de modo geral insistem em abordar a questão da


alfabetização no Brasil a partir do século XIX em diante, mais especificamente, a
partir da década de 1930 (ARAÚJO, 1996). No entanto é sabido que a história da
educação brasileira é bem anterior e “investigar suas particularidades, seus critérios,
seu perfil e seus resultados, como história e como memória” (BONTEMPI, 1995, p.
12), auxilia então a compreender o processo educacional ao longo dos tempos.
Segundo Araújo(1996) os pesquisadores de um modo geralcostumam
abordar a questão da alfabetização no Brasil como um acontecimento que se deu a
partir do século XIX em diante, mais especificamente, a partir da década de 1930.
Porém a história da educação brasileira é bem anterior

Pode-se perceber a importância da palavra escrita e também de seus efeitos


de produção no trabalho de Araujo (1999). Este autor contribuiu de maneira
essencial tanto no entendimento como também na disseminação cultural e porque
não literária brasileira, pois em suas obras o Araujo sempre tratou de questões
relacionadas à nossa memória, tornando possível a disseminação e divulgação da
produção nacional de conhecimento sobre os livros e leituras durante o período do
Brasil colônia e suas influências na elite intelectual brasileira do período, isso
corroborou para difundir a ideia da leitura como um bem fundamental a todos e que
mesmo não disponível em quantidade havia o intercâmbio dos mesmos, por vezes
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essa troca de dava até mesmo entre localidades e países distantes. Isso tudo
favoreceu a diversificação e a criação de um repertório cultural e intelectual das
pessoas que viviam naquele período.

Ainda segundo Araújo (1999), em 500 a ideia que se tinha de leitor era ínfima,
quase inexistente, podiam ser considerados leitores os próprios Jesuítas e mesmo
assim eles possuíam poucos livros.

Com base nos estudos realizados por Araújo (1999), pode-se afirmar que com
a chegada da expedição do primeiro Governador Geral do Brasil, Tomé de Sousa
em 1549 a história da educação no Brasil inicia-se juntamente com o auxilio dos
padres da Companhia de Jesus trazidos por ele eque tiveram grande parcela de
contribuição na instrução pública brasileira.

Azevedo (1963 p. 501) confirma os estudos de Araújo (1999) quando diz:

[...] a vinda dos padres jesuítas, em 1549, não só marca o início da


história da educação no Brasil, mas inaugura a primeira fase, a mais
longa dessa história, e, certamente, a mais importante pelo vulto da
obra realizada e, sobretudo pelas consequências que dela resultaram
para nossa cultura e civilização.

Evidente que o trabalho dos jesuítas esteve relacionado a um movimento


maior, em favor da ideologia da “contrarreforma”, contribuindo para que a educação
no período colonial ocupasse um lugar secundário no cotidiano da colônia e nos
interesses político-administrativos da Coroa portuguesa, pois a mesma não tinha
interesse em formar na colônia uma massa pensante (ARAUJO, 1996). Até porque a
educação é “definida como o lugar da transmissão das tradições ou das
consciências coletivas, o lugar da ação coercitiva que molda os indivíduos a imagem
da sociedade” (TOLEDO, 1995, p. 115).

Ainda segundo Araujo (1996), em muitos momentos da história do período


colonial, os Jesuítas contrariaram o pacto colonial, incentivando a fundação de
colégios, missões e escolas em diversas partes do território brasileiro, fato esse
confirmado pelo que diz Toledo (1995)“o momento histórico se revela, na medida em
que vai se tecendo a identidade do grupo perante cada um dos temas, e a forma
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pela qual age para impor seu próprio projeto, a cada novo desafio que lhe é posto,
conforme os novos acontecimentos”.

Araujo (1996) ainda relata que apesar das críticas exacerbadas relacionadas
às práticas pedagógicas e missionárias dos padres Jesuítas no Brasil, esta foi
primordial para o desenvolvimento da colônia. Evidenciando ainda outra ação
importante:

Os Jesuítas tinham também a responsabilidade de além de fundar


missões, manter escolas elementares e escolas secundárias com as
devidas adaptações à realidade local. (ARAÚJO, 1996).

Segundo Araújo (1999, p. 32), “foram os padres da companhia que nos


trouxeram o alfabeto, o latim, a gramática e a literatura de fundo místico e ascético”.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história da alfabetização é uma forma de valorizar a escola pela qual os


ancestrais permaneceram no período escolar, assim como as memórias, ashistórias
de vida pessoal e profissional e os processos pelos quais as
professorasalfabetizadoras traçaram as suas trajetórias de vida.
Em se tratando da escassez de fontes referente a este período especifico não
se pode precisar o nascimento da história do processo de alfabetização e
letramento, talvez por isso a maioria das revisões bibliográficas e pesquisadores
abordem a questão da alfabetização no Brasil a partir do século XIX especificamente
após a década de 1930.
Há ainda dois posicionamentos por parte dos autores ao decorrer da história
da alfabetização e letramento, um deles é o que se discute a validade de sociedades
pobres se preocuparem com o letramento visto que ainda não se deram conta do
processo de alfabetização, e usando ainda somente o termo alfabetização por
entenderem que o conceito de letramento está contido em alfabetização. A outra
vertente é a de que reconhece alfabetização como um processo individual de
aquisição de leitura e letramento como um processo mais amplo, relacionado ao uso
da leitura e da escrita em um grupo de indivíduos, ou seja, dois processos distintos.
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Cabe então a cada indivíduo refletir ainda, sobre a necessidade da


compreensão das regras as quais se produz o conhecimento histórico, para que não
confunda história e memória.
Nesse sentidoo processo de alfabetização pode ser levado em consideração
por sua capacidade de criação e também da utilização dos métodos envolvidos,
desde o período dos jesuítas, cartilhas ou outro qualquer.
O principal intuito desse trabalho é o de contribuir com reflexões na
compreensão da história do processo de alfabetização brasileiro. Entendendo que
ao tratar de questões relacionadas àmemória nacional, os conhecimentos sobre a
alfabetização no Brasil se resgata a ideia desta como um bem cultural imprescindível
a todas as pessoas.
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4. REFERÊNCIAS

ARAÚJO, J. S. Perfil do Leitor Colonial. Salvador: UFBA, Ilhéus: UESC, 1999.

ARAÚJO, A. S.História da alfabetização: Reflexões sobre as contribuições da


companhia de Jesus. Universidade Federal de Sergipe – UFS - Núcleo de Pós-
Graduação em educação – NPGED. 1996

ARAÚJO, M. C. C. S. Perspectiva histórica da alfabetização. Viçosa: Universidade


Federal de Viçosa, 1996.

AZEVEDO, F. O sentido da educação colonial. In: A cultura brasileira. Parte III. 4


ed. Brasília: Editora da UNB, 1963.

BARRETO, L. V. Q. Paulo Freire e a alfabetização.Disponível em


<http://www.nre.seed.pr.gov.br/umuarama/arquivos/File/texto_03.PDF> Acessado
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17

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