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DIREITO ROMANO LITERATURA JURÍDICA

Obras e coletâneas pré-justinianeias

- séc. IV → especial necessidade de textos jurídicos


FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA SE VERIFICAR UMA ESPECIAL NECESSIDADE DE
TEXTOS JURÍDICOS:
1. raridade e insuficiência da literatura clássica (os textos clássicos eram poucos e, além
disso, não tinham a maior parte das normas que resolviam as várias situações sociais,
agora tão diferentes das da época clássica)
2. novas exigências de textos jurídicos (as escolas, os tribunais e a administração , em
virtude de novas condições sociais, exigiam um número avultado de textos jurídicos)
3. incerteza do Direito (era necessário elaborar textos jurídicos que estabelecessem a
coordenação entre o ​ius novum e o ​ius vetus​, pois não se sabia bem o que estava vigente
e o que tinha sido revogado).

- Carácter geral de novos textos


São resumos de obras jurídicas, ou coletâneas de ​leges​, ou compilações de ​ius ​e de ​leges. ​Tudo
feito sem originalidade, porque os juristas (escoliastas dos séc.s IV e V) não têm valor;
encondem-se em anonimato. Há, por isso, simples ​coletâneas​, ​agrupando certas normas de
uso mais frequente na prática​, por serem as mais invocadas pelos advogados.

1. Coletâneas de ​leges
As principais são:
- o Código Gregoriano
autor: Gregorius/Gregorianus
elaborado no Oriente, cerca de 292
coletânea privada, de rescritos imperiais desde Adriano a Diocleciano
livros 1 a 13: matéria do ​Edictum​ / livro 14: ​crimina
- o Código Hermogeniano
autor: Hermogenianus
elaborado no Oriente, em 295 (?)
coletânea rica em ​subscriptiones
sofreu alterações e acrescentamentos, teve três edições
é, de certo modo, um complemento do Código Gregoriano
estava dividido em títulos e não em livros
continha sobretudo rescritos de Diocleciano, dos anos 293 e 294

- o Código Teodosiano​ → necessidade de um novo código


Os dois códigos já existentes não bastavam: continham quase só rescritos e eram de índole
privada; não se impunham. Havia necessidade de uma grande coletânea, com duas características: ​1)
conter o essencial da legislação imperial; ​2)​ ser de carácter oficial, para se impor a todos.
O imperador do Oriente, Teodósio II, viu a ​grande necessidade de proceder a uma reforma
do Direito​. Primeiro, reformou o programa dos estudos jurídicos; só depois, reformaria a legislação.
→ Escola de Constantinopla (ensino jurídico confiado a dois professores de direito)

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→ 426 - promulgada a ​LEI DAS CITAÇÕES (não por Teodósio), que estabelecia definitivamente
uma certa ​‘’hierarquização’’ do ​ius
● LEI DAS CITAÇÕES (Tribunal dos Mortos)
promulgada por Valentiniano III em Ravena, pela constituição de 7 de novembro de
426
- veio restringir a massa jurídica jurisprudencial quanto ao seu valor judicial:
dispunha que ​só podiam ser citadas em tribunal, ​vinculando os juízes, ​as
obras dos cinco juristas clássicos - PAPINIANUS, PAULUS, ULPIANUS,
MODESTINUS, GAIUS​; quanto aos restantes juristas, as suas obras só podiam
ser invocadas em tribunal e com carácter vinculativo para os juízes ​se a sua
autoridade fosse reconhecida, pelo menos, por um dos cinco​; ​se a citação
pudesse ser comprovada através dum documento fidedigno (a verificação
simultânea desta condições tornava-se muito difícil, sendo praticamente apenas
citados em tribunal os cinco juristas)
- se havia acordo dos cinco, era obrigatório seguir essa opinião​; se não havia
acordo de todos, mas apenas uma maioria, seguia-se a maioria; se havia empate
e num lados estava a ​opinião de PAPINIANUS, seguia-se esta​; mas ​se
PAPINIANUS não tratava do problema, o juiz ficava com plena liberdade
para decidir a questão ​- FATORES DE PONDERAÇÃO
- contribui para o ​afunilamento da jurisprudência​: desaparecimento da
jurisprudência como atividade criativa - cristaliza a atividade do jurisprudente;
esgotamento do processo criativo associado à atividade jurisprudencial

→ 1: ​coligir todas as ​leges generales promulgadas desde Constantino, quer estivessem ou não em vigor;
os textos seriam agrupados por ordem cronológica e eram proibidas interpolações (a obra
destinar-se-ia aos estudiosos do direito e teria carácter preparatório)
→ 2: deveria realizar-se uma ​obra de carácter prático - uma grande compilação de ​ius e de ​leges,​ que
reunisse todo o direito vigente - e que deveria ser promulgada como CÓDIGO OFICIAL do Império

Este código tem ​valor oficial​, pois é um imperador que opera na ​génese de iniciativa,
pretendendo criar uma compilação de doutrina (​iura)​. Apesar de ser bastante relevante para o
Ocidente, vigora pouco tempo no lado oriental.
90 anos após a sua promulgação, ​é substituído pelo primeiro ​Codex​ de Justiniano​, de 529.

Corpus iuris civilis

corpus iuris civilis


grande coletânea de ​ius (fragmentos de obras de juristas clássicos) e de ​leges (excertos de constituições
importantes; é considerado o ​maior monumento jurídico de todos os tempos e foi a obra que imortalizou o
imperador Justiniano

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À morte do seu tio Justino I, em 527, Justiniano ficou no poder - procurou dar realização à sua
‘’velha’’ ideia e ​nomeou uma comissão formada por 10 membros​. A esta comissão confiava o
mandato de organizar um novo código​, utilizando as constituições diretamente dos três códigos
precedentes (Gregoriano, Hermogeniano e Teodosiano) e as constituições posteriores até às próprias
de Justiniano. Seria um ​conjunto de legislação imperial​.

● CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS
São definidas como ​leges em que se manifesta diretamente a ​vontade unilateral do
imperador​. Tornam-se fonte única do Direito Romano, porque, no plano político, foi
possível vencer as resistências do ​ius​, num processo que burocratiza magistrados e
jurisprudentes e concentra das mãos do ​princeps​ a ​totalidade dos poderes políticos.
- a vontade do ​princeps expressa nas constituições imperiais era seguida​,
porque se tratava de uma determinação do imperador, logo tinha valor jurídico
mas meramente prático
- no século II passou a ser acatada por se tratar de uma fonte mediata de Direito,
com valor equiparado às leis, mas ainda não como lei
- na constituição política do Principado, o ​princeps não tinha poder legislativo;
mas a evolução política determinou uma deslocação dos poderes legislativos do
Senado para o ​princeps;​ logo, a constante aceitação pelo Senado das propostas
legislativas do imperador levou a um ​processo de substituição​; ​passou a ser
aceite pelos romanos que o texto da proposta do imperador ao Senado
(​oratio princeps​) valesse como ​lei​, prescindindo-se da sua votação e
aprovação pelos senadores.
As constituições imperiais tinham três partes:
1) iuscriptio - contém o nome do imperador ou dos autores da Constituição e da pessoa a quem
ela é dirigida
2) corpus​ - corpo normativo da constituição, parte dispositiva
3) subscriptio​ - contém a data e a indicação do lugar em que foi escrita

As constituições imperiais podem ser de quatro espécies:


- edictum​: ato normativo produtor de normas de carácter genérico, que representa a
transposição para o imperador do ​ius edicendi do magistrado republicano; eram os atos
mais frequentes do ​princeps,​ emanando do seu ​imperium proconsulare maius,​ e sua
jurisdição abarcava uma ou mais províncias ou municípios; tinham sistematização de
regras vigentes e de práticas já observadas
- decretum​: decisão judicial do ​princeps com valor preceptivo - sentenças do imperador;
tinham inovações normativas, resultantes da forma como as regras eram interpretadas
e aplicadas, bem como pela forma e fundamento das exceções invocadas: resultam do
poder jurisdicional do imperador, atuando enquanto juiz
- rescriptum​: resposta dada pelo imperador por escrito a questões jurídicas
controversas a ele dirigidas, sob a forma de pareceres (​leges speciales)​ ; tem a sua
eficácia limitada ao caso a que responde, não podendo ser aplicado a casos diferentes
daquele em que foi proferido; só vinculava o juiz que o solicitasse
- epistulae

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- subscriptiones
- mandatum:​ instrução dada aos governadores das províncias e ao funcionários; depois,
como regulamentos gerais que afetavam a vida dos cidadãos, visavam a obediência
administrativa dos funcionários ao imperador; o ​princeps ​emanava estas instruções
baseando-se no seu ​imperium proconsular

Esta comissão tinha poderes para ​eliminar repetições e contradições​, suprimir o que
estivesse ab-rogado/em desuso, modificar,... Ao fim do espaço de 14 meses, a comissão terminada os
seus trabalhos.
O novo código foi publicado pela constituição ​Summa reipublicae de 7 de abril de 529,
entrando em vigor no dia 16 do mesmo mês, ​proibindo o recurso aos velhos códigos e a todas as
novelas post-Teodosianas e continuando vigente a Lei das Citações​.
Este código só esteve em vigor durante 5 anos. Em 534 é substituído por um novo código
(‘’segunda leitura’’) - ​Codex do Corpus Iuris Civilis.

Concluído e publicado o novo ​Codex de 529, Justiniano deu-se conta: da rapidez da feitura
desse código, da grande competência dos membros da comissão redatora e da facilidade com que era
executado na prática o novo código (devido ao grau elevado em que se encontravam as Escolas de
Direito - de Beirute e de Constantinopla, que davam uma boa formação jurídica aos alunos, agora
juízes, advogados ou magistrados).
A estas ​circunstâncias favoráveis para realizar o plano concebido mas fracassado por
Teodósio II, aliadas à ​forte personalidade de Justiniano (que pretendia ​restaurar o esplendor da
velha grandeza de Roma criando um só Império​) e à ​vasta cultura dos jurisprudentes verificava-se a
necessidade e forte desejo de elaborar uma grande coletânea de ​ius​, que se refundisse e
atualizasse o ​codex vetus​.

1. NECESSIDADE E FORTE DESEJO DE UMA COMPILAÇÃO OFICIAL DE ​IUS​ E DE ​LEGES


Apesar da Lei das Citações, após a publicação do Código de 529, via-se mais claramente
a necessidade duma coletânea oficial de ​ius​, para acabar com as incertezas e
controvérsias a respeito das obras dos juristas clássicos e ​para haver um direito
uniforme, apto a poder aplicar-se à prática.
Só Justiniano conseguiu realizar a obra jurídica mais grandiosa de todos os tempos - chamada de
Corpus Iuris Civilis​, desde o séc. XVI.
2. FATORES QUE CONCORRERAM PARA A REALIZAÇÃO DO ​CORPUS IURIS CIVILIS
-​escolas (o grau elevado de cultura jurídica a que tinham chegado as Escolas de Direito
do oriente desde o séc. V, sobretudo a de Beirute e a de Constantinopla era notável;
com elas, surgiram jurisconsultos importantes)
-juristas de valor (sem juristas de envergadura não pode efetuar-se uma reforma
legislativa)
-personalidade de Justiniano (extraordinária qualidade de chefe, classicista, legislador
do seu tempo, entusiasta apaixonado da tradição latina, defensor do ​Ius Romanum)​
3. FINALIDADE DA COMPILAÇÃO JUSTINIANEIA - LEGISLATIVA E DIDÁTICA

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Justiniano esforçou-se por criar uma legislação própria para resolver os problemas da sua
época, utilizando ao máximo a literatura jurídica clássica. A finalidade ​legislativa e ​didática do ​Corpus
Iuris Civilis prende-se com: servir a exposição autorizada, com força de lei, de todo o ​Ius Romanum​; ser
texto único, que devia estudar-se nas escolas.

A codificação justinianeia substituiu todos os antigos livros de direito, tanto na


literatura como na legislação. Justiniano esperava ​tornar o direito uniforme em todo o Império​,
fazendo desaparecer a massa dispersa de material jurídico, que havia causado tanta confusão.

Partes do C
​ orpus Iuris Civilis

Assente a ideia de mandar elaborar uma grande coletânea de ​ius​, Justiniano julgou necessário e
conveniente:
a) dirimir o maior número possível das inúmeras controvérsias agitadas entre os
comentadores da literatura jurídica clássica
b) optar por uma, entre as diversas opiniões
Assim, o ​ius​ ficaria certo, uniforme e apto a ser aplicado e codificado.

Essas determinações de Justiniano, publicadas em 530, destinavam-se: a ​resolver


legislativamente velhas questões doutrinárias​, a ​revogar expressamente antigas normas já
caducadas​, a ​estabelecer novos critérios ​e a ​fixar determinadas orientações para a solução de
vários problemas jurídicos​.

Digesto
Estabelecidas certas orientações para elaborar uma grande coletânea de ​ius​, o imperador
Justiniano encarregou pessoalmente Triboniano (jurista) de elaborar uma obra do tipo dos ​digesta da
iurisprudentia clássica, e por isso mesmo seria denominada ​Digesta seu Pandecta​. ​Justiniano, nessa
constituição, outorgava a Triboniano plena liberdade e todos os poderes para escolher os
membros ​que formariam a comissão codificadora​. Ele escolheria 16 membros, tanto da Escola de
Constantinopla, como da Escola de Beirute.
A comissão devia:
- coligir os melhores fragmentos das obras dos jurisconsultos que tivessem tido o
ius publici respondendi ex auctoritate principis​, sem estabelecer ordem ou distinção
entre eles, sem preferência pelas doutrinas; indicando sempre o autor, a obra e o livro
donde se extraísse esse fragmento
- suprimir o que fosse supérfulo​ e o que tivesse caído em desuso
- eliminar​ as autonomias, as semelhanças e as ​repetições
- adaptar os fragmentos dos textos às novas circunstâncias sociais​, modificando-os

O ​Digesto f​ oi publicado pela ​Constituição Tanta​, de 533, a qual estabelecia que os ​Digesta
deviam entrar em vigor, com força de lei, em 30 de dezembro do mesmo ano.
CONSTITUIÇÃO TANTA​ - ​PROMOVE A PUBLICAÇÃO DO ​DIGESTO​, QUE ​ENTRA EM VIGOR EM 533

Institutiones

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A intenção de Justiniano de mandar fazer um manual de Direito tinha sido revelada no próprio
ato de ordenar a compilação do ​Digesto​; por isso, não há constituição expressa a ordenar a feitura das
Institutiones.​
RAZÕES JUSTIFICATIVAS DUMAS NOVAS ​INSTITUTIONES​:
- os velhos manuais de Direito já não estavam à altura para servirem a introdução ao
estudo do ​Digesto
- o temperamento de Justiniano a pretender dirigir as inteligências e o seu espírito
classicista a procurar restaurar a cultura jurídica da época clássica
- o desejo do imperador de que fosse redigido um manual de Direito, munindo-o
expressamente de carácter normativo

Eram publicadas em 533 as ​Institutiones​, publicadas por uma constituição dirigida por
Justiniano. ​As ​institutiones​ deveriam ser lecionados no 1º ano das Escolas de Direito​.

As ​Institutiones tiveram um ​valor legislativo - foram publicadas para entrarem em vigor em


conjunto com o ​Digesto.​

Codex
É uma nova edição, devidamente atualizada do ​Codex vetus, ​de 529. ​Depois da promulgação
do ​Digesto​ era necessário um novo código​.
Depois de 529, a atividade legislativa de Justiniano foi intensa.

Depois da promulgação do ​Digesto e das ​Institutiones​, o ​Codex vetus estava completamente


desatualizado. Era preciso um códgo novo:
- que incluísse as constituições de Justiniano promulgadas depois de 529
- que eliminasse as contidas no ​Codex Vetus​ que tivessem sido revogadas ou alteradas
- que estivesse de harmonia com o critério seguido na feitura do ​Digesto e das
Institutiones (em razão do espírito inovador e interpolacionista em face do antigo ​ius;​
em razão da disposição da matéria).

Para realizar este trabalho, ​Justiniano nomeou uma comissão, composta por Triboniano e três
advogados​. O trabalho ficou concluído em menos de um ano. ​Em 534 o ​Codex era publicado​. Entrava
em vigor em dezembro do mesmo ano.

Novellae
Terminada a obra codificadora em 534, ​a atividade legislativa de Justiniano não cessou​, pois o
Direito está sempre em evolução.
De 535 a 565 - ano da morte de Justiniano -, mas sobretudo desde 535 a 546 - data da morte de
Triboniano -, o grande auxiliar do Imperador em matéria jurídica, ​foram promulgadas muitas
constituições. ​Por uma determinação expressa de Justiniano, designaram-se pelo nome de ​Novellae.
Estão redigidas a maior parte em grego, algumas em latim.
​ refatio,​ ​de uma ​parte dispositiva​, dum ​epilogus.​
As novelas constam: dum​ p

A maior parte das ​Novellae ​tratam de direito público, de direito eclesiástico ou são leis sociais.

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