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A lei no 2º período da História do Direito Português
O primeiro período é pluralista: há uma pluralidade de fontes do direito e de regras
aplicáveis até início do século XV (Descobrimentos).
A lei passará, neste período, a ser definida essencialmente como norma ou regra
obrigatória imposta pela vontade do superior - preceito autoritário. Não é a generalidade e
abstração que a caracteriza, antes a expressão da vontade do rei. É fonte primacial face às
demais, o que não significa que a vontade do rei seja arbitrária, visto que a lei está sujeita a
requisitos.
Esta identificação entre a lei e a vontade do príncipe (que vai ser concebido como
cabeça ou membro principal do corpo político ou do Estado - conceito que começa a emergir
no Renascimento) não deve, levar à conclusão apressada de que a lei, como emanação da
vontade do governante, é um ato arbitrário.
Espécies de leis
Sob a designação de lei, podem cair preceitos jurídicos de diversa espécie. A vontade
imperativa do superior assume pela origem, pela matéria ou pelo modo como é reduzida a
escrito aspetos diversos. Todas expressam vontade do rei. Por isso, traduzem lei.
★ quanto à redação: cartas, alvarás, provisões, decretos, cartas régias, resoluções, avisos
e portarias
→
- decretos: não tem o nome do rei, nem o seu título; dirigem-se a alguns ministros ou a
algum tribunal, no final
- cartas régias: em regra, começam pelo nome da pessoa a quem o rei as dirigia;
dirige-se a uma pessoa certa e determinada (expressa a vontade do rei e, por isso, pode
traduzir uma lei)
- provisões: não tem o rei como autor; tem origem nos tribunais; vem expressa uma
resolução/ decreto do monarca; essas provisões são expedidas em consequência de
decreto ou de resolução do rei
- resoluções do rei: determinação de um monarca a uma questão que lhe era
submetida; expressa a sua vontade, ainda que sem a solenidade
- portarias: avisos dos secretários de Estado expedidos em nome do soberano
Elaboração da lei
A elaboração das leis devia revestir a maior cautela e em particular entendia-se que
ela devia obedecer a vários requisitos.
1. observância do bem comum: indispensável para a justiça da norma. A lei
injusta não tinha valor, pelo que não coagia em consciência e se lhe podia
resistir.
Para ser válida, a lei deveria obedecer a certos requisitos, cuja enumeração varia
segundo os autores. Mas havia um consenso doutrinador comum. Se a lei não cumprir estes
requisitos, estamos perante lei injusta.
- Diogo Lopes de Rebelo (século XV)
- Diogo de Sá (século XVI)
- Dom Rodrigo
★ matéria: a lei não pode preceituar o vício e proibir a virtude; tem de ser conforme ao
direito divino e ao direito natural.
★ fim: conforme bem comum, não pode impor o bem próprio arbitrário; a lei deve
ordenar-se para o bem comum.
★ agente: deve ser emanada de autoridade competente (rei); não pode esceder a
autoridade do legislador.
★ forma: proporcionada; terá de fazer-se de modo a que na concessão das honras e na
imposição dos encargos a lei guarde aquela proporção que se observa nos súbditos em
ordem à república.
→ Luís Cerqueiro: pode deduzir-se o modo como o povo se há de haver com a lei dos
tiranos. Distinção clássica de tirano quod titulum (1) e tirano quod dominum - tirano pelo
exercício (2).
(1)
Na hipótese de as leis serem ditadas por um tirado quod titulum, apesar de justas no restante,
não obrigam em consciência, a não ser, alguma vez, por acaso, em razão do escândalo ou
detrimento da república.
- ascende ao poder, sem ter a ele direito: usurpa o poder
- as leis nunca obrigam em consciência
- mesmo que a lei venha de um tirano pelo título, ainda que não obriga em consciência
porque o rei é usurpador, se ela for mais bondosa e se a sua observância causar menos
perturbação, melhor fora suportar essa lei
(2)
Se as leis forem ordenadas pelo tirano neste sentido e, todavia, forem justas, obrigam de si
em consciência, do mesmo modo que as de um bom príncipe.
- ascende ao poder de acordo com a regras de sucessão, mas transforma-se tirano pelo
exercício
- se a lei for materialmente justa, ela deve ser acatada
- ela obriga como se fosse boa lei
Com o aparecimento da imprensa, muitas normas passaram a ser difundidas por tal
meio.
Vigência da lei
O sistema era o da efetividade em todo o país decorridos três meses sobre a
publicação na Chancelaria da Corte e independentemente da publicação nas comarcas. Foi
o que se dispôs no alvará de 10 de dezembro de 1516, de D. Manuel.
Na Corte, essas leis entravam em vigor 8 dias após a referida publicação.
Dispensa da lei
Se a lei é uma manifestação de vontade do rei com força vinculante, este,
naturalmente, pode isentar ou dispensar do seu cumprimento certa ou certas pessoas. De
facto, quem pode revogar totalmente a lei, pode evidentemente derrogá-la ou limitá-la.
- dispensa: possibilidade que o autor da lei - rei - tem de isentar alguém da observância
dos preceitos de uma determinada disciplina legal; legítima desde que existisse uma
justa causa - não pode ser por simpatia; a justa causa ra um requisito necessário, que
Compilações de leis
O rei vai legislando cada vez com mais abundância. Criam-se compilações de leis para tornar
mais fácil o seu conhecimento pelos destinatários.
● 1º período
○ primeira compilação de lei anterior: 1415, Livro de Leis e Posturas
○ D. Duarte (1433 - 1438) - Ordenações de D. Duarte (esforço compilatório; faz
juntar a esta compilação os requisitos que um rei deveria ter - estatuto de um
bom julgador)
Ordenações Afonsinas
São um exercício compilatório com um relevo especial.
Elaboração
(Ideia de realização de um grande e novo esforço de sistematização.)
D. João I encarregou da ordenação das leis o corregedor de Cortes João Mendes.
Falecido João Mendes no reinado de D. Duarte, incumbiu este da prossecução dos trabalhos o
Doutor Rui Fernandes, que veio a concluir a obra em Julho de 1446, sendo regente do
reino o infante D. Pedro.
Torna-se hoje difícil determinar a parte da Ordenação que coube a João Mendes da
que competiu ao Doutor Rui Fernandes. Atendendo à diferença da redação, certos autores têm
defendido que a João Mendes cabe a redação do Livro 1. De facto, este acha-se redigido em
estilo direto e decretório. O mesmo já não sucede com os demais, em que as leis anteriores
são referidas como tal, transcritas na íntegra e seguidas de uma especificação quanto à sua
vigência, alteração, revogação ou derrogação.
Sistematização
As Ordenações Afonsinas estão repartidas por cinco livros que se subdividem em
títulos, os quais geralmente se desdobram em parágrafos.
● 1º Livro: ocupa-se dos cargos públicos
● 2º Livro: ocupa-se do que concerne à Igreja, clérigos, direitos do rei, fisco,
donatarias, nobreza, judeus e mouros (direito público)
● 3º Livro: dedica-se ao processo civil
● 4º Livro: aborda o direito civil
● 5º Livro: integra o direito penal
Fontes subsidiárias
(as que devem ser aplicadas caso não tenha lugar às fontes primárias, caso fontes primárias
não ofereçam solução)
O grosso direito subsidiário era constituído pelo direito canónico e pelo direito
romano, os quais, por vezes, lograram mesmo impor-se com postergação um prejuízo do
direito pátrio.
A partir de D. João I, o sistema de fontes subsidiário vai sofrer todo um processo de
redefinição que começa pela valorização da opinião de Bártolo.
O direito foraleiro não está previsto, mas permanece como direito aplicável deste
período.
Não há qualquer alusão a direito foraleiro.
Ordenações Manuelinas
A invenção da imprensa constituiu meio de comunicação das leis de extraordinária
importância. Por isso, era natural que fosse utilizada para difusão das leis, nomeadamente das
Ordenações. Por isso, reconheceu-se a necessidade de revisão da compilação afonsina: D.
Manuel confiou, em 1505, a vários jurisconsultos o encargo de as reformar e ampliar.
Esforço compilatório de aperfeiçoamento das primeiras Ordenações.
No ano de 1514, foram estampados por João Paulo de Bonhomini todos os cinco
livros. Discute-se qual a articulação dos exemplares de 1512 - 1513, se houve uma edição
integral antes de 1514, não tendo chegado até hoje exemplares dos livros terceiro, quarto e
quinto dessa primeira edição, ou se a edição de 1512 - 1513 foi parcial e os livros terceiro,
quarto e quinto viram a luz pela primeira vez em 1514.
De qualquer forma, os textos de 1512 - 1513 e de 1514 ficaram a desejar e D. Manuel
ordenou uma revisão definitiva que foi impressa em 1521, mandando que se destruíssem os
exemplares da impressam velha.
Persistiram até hoje exemplares das edições anteriores, as pretensões do rei não foram
seguidas. Não será a última edição, já que em 1538, houve outra revisão.
Autores das Ordenações Manuelinas: Rui Boto, Rui da Grã e Cristovão Esteves
Colaboradores: João de Faria, João Cotrim e Pedro Jorge
5 livros:
1º: cargos públicos
2º: direito público
3º: processo civil
4º: direito civil
5º: direito penal
Ordenações Filipinas
Durante o reinado de D. Filipe I verificou-se uma larga atividade renovadora no
campo do Direito, de que são símbolos a criação da Relação do Porto (a que foi outorgado
regimento por este monarca), a lei da reformação da Justiça e a reforma das Ordenações.
Desta última tarefa, incumbiram-se vários juristas: Jorge Cabedo, Afonso Vaz
Tenreiro e Duarte Nunes de Leão.
As Ordenações estavam terminadas em 1595, pois uma lei desse ano (5 de junho)
manda observá-las. A lei de referência não chegou a vigorar e já só com Filipe II de Portugal
em 1603 se iniciou a vigência das Ordenações Filipinas (lei de 11 de janeiro), que
mandavam cessar todas as leis extravagantes, com exceção das Ordenações da Fazenda e dos
Artigos dos Sisas, bem como das leis que se encontrassem transcritas em livro da Casa da
Suplicação.
Fontes subsidiárias
As Ordenações Filipinas conservaram na íntegra o sistema de fontes de direito
subsidiário estabelecido nas Ordenações anteriores, embora deslocando a matéria para outra
sede. Passa da parte consagrada às relações da Igreja com o Estado e aos privilégios
eclesiásticos, onde se inseria, para o livro dedicado ao direito processual.
Leis extravagantes
Antecedendo esta coleção oficial, há uma outra manuscrita - não oficial -, que se
chamará I Compilação (designação atribuída por José Anastácio de Figueiredo) - 1566, para a
distinguir da II Compilação (impressa).
Duarte Nunes de Leão procedeu inicialmente a uma recolha de textos segundo certa
ordem e só mais tarde realizou o trabalho de abreviatura das leis.
Outras coleções
Ainda no século XVI se encontram outras compilações de leis extravagantes.
- Sistema ou Coleção dos Regimentos Régios, de que há duas edições: uma de
Manescal (1718 a 1724), outra de Monteiro de Campos (1783 a 1791)
- Coleção da Legislação Antiga e Moderna do Reino de Portugal por resolução de
Sua Magestade de 2 de setembro de 1786 (1790)
- Coleção de Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações,
por António Delgado da Silva (1830)
- …
No séc XV, foi-se agravando, pedido aos reis em cortes, a natureza desatualizada
dos forais.
D. João II foi sensível à reivindicação dos povos e respondeu, em 1481, de forma
favorável aos agravos que lhe foram feitos no sentido de mandar recolher os forais à corte
para que esse direito local pudesse ser atualizado. Mas os forais não chegaram à corte.
1497: D. Manuel I vai responder de forma favorável aos agravos e manda recolher os
forais. Encomenda esse trabalho reformatório a um corpo de juristas: Rui Boto, João
Façanha, Fernão de Pina, João Pires.
Os forais servem não os direitos dos povos, mas também o rei. O rei retirava dos
forais matéria que já estava prevista em lei geral.
1502 - 1504: os forais quando reformados, foram associados a legislação relevante
1520: foram devolvidos às terras os textos reformados - forais novos / forais antigos - forais
objeto de revisão
Depois de 1520, temos notícia da outorga de novos forais em municípios, que são
conhecidos como forais novíssimos.
Conteúdo que resulta de reforma dos forais (1497 - 1520): o rei utilizou como
pretexto para fortalecimento do seu poder - centralização. O que se mantém: as prestações,
os serviços a que estava sujeita a comunidade perante o rei e perante os senhores; transcrição
de algumas leis gerais relevantes para as localidades (lei da vizinhança - quem pode ter
estatuto de vizinho); expressam a liberdade das povoações (os seus direitos face ao rei e face
ao que era a lei geral - que não derroga a lei especial).
2. Assentos
Especial interesse no quadro das fontes do direito deste período têm os assentos. Os
monarcas, assim como tinham o direito de legislar, possuíam o direito de interpretar
as suas leis. Faziam-no, muitas vezes, em Relação dos tribunais superiores - Casa da
Suplicação e a Casa do Cível.
O papel dos assentos, de acordo com lei pombalina, era meramente interpretativo e,
por isso, não constituiam via adequada para resolução dos casos omissos, que deviam
ser levados ao conhecimento soberano, para este os integrar.
Conforme os assentos tivessem por objeto:
→ a decisão particular de dúvida em certa causa, sem dele se originar regra autêntica
para outras causas - ASSENTOS DOS AUTOS
→ os seus efeitos passassem a ser genéricos - ASSENTOS LEGAIS
No Livro de Posses da Casa do Cível, como anota João Pedro Ribeiro, acham-se 12
assentos assinados pelo rei e no Livrinho da Casa da Suplicação, aparecem assentos tomados
na presença do Regente do Reino Infante D. Pedro, bem como de D. Afonso V e monarcas
posteriores.
De 1488, aparece um assento tomado sem a presença do monarca. Foi D. Manuel,
todavia, quem pela lei de 10 de dezembro de 1518 delegou na Casa da Suplicação o poder
de resolver por assento e com autoridade legal os casos duvidosos.
Porém, o valor dos assentos é restrito ao processo em que a dúvida se suscita.
Com a extinção da Casa do Cível e a criação substitutiva de uma Relação do Porto
(1502) as dúvidas passaram também a ser competência desta. E o estabelecimento de
Relações Ultramarinas (duas no Brasil e uma no Oriente) deu origem a que estas se
arrogassem, por igual, a faculdade de produzir assentos.
Contudo, dos assentos das Relações ditas subalternas (Porto e Ultramar) cabia, no
domínio da Lei da Boa Razão, recurso para a Casa da Suplicação. No caso dos assentos da
Suplicação ficava sempre aberto o recurso para o monarca.
3. Estilos da corte
Nas Ordenações Afonsinas, como nas Ordenações Manuelinas e nas Filipinas
menciona-se, entre outras fontes do direito, o estilo da corte.
Tratava-se um costume de origem judiciária - aparecido em tribunal.
Não estavam os autores de acordo quanto à sua génese (costume derivado da prática
de um ou de mais de um juiz?) como quanto à matéria.
mesmo valor; logo, as opiniões deveriam ser hierarquizadas e deveria fazer-se
prevalecer a qualidade sobre a quantidade → critério da qualidade
- critério misto (devem hierarquizar os autores que têm maior auctoritas e depois
proceder a uma contagem)
Reforma filipina
Nova reforma do Direito: atribuição de estatutos (regras que ditam o funcionamento
a universidade).
- Estatutos Velhos - 1591; foram publicados em 1593, objeto de ligeira revisão em
1597, voltam a entrar em vigor em 1598 → influência marcante de Bártolo
Humanismo jurídico
século XVI
Em Portugal foi um efémero momento.
O movimento humanista teve, como era natural, também a sua projeção no campo do
Direito. Traduziu-se numa contestação de metodologia medieval, nomeadamente da lição
de Bártolo e da escola por ele encabeçada, em nome de critérios de filologia.
O latim que se escreve na Idade Média não é o mesmo do século XVI. É preciso fazer
uma tábua rasa de todos os ensinamentos dos juristas medieves sobre o Direito Romano; é
preciso regressar ao Direito Romano na sua pureza.
Não nos devemos basear no dogma da opinião. O jurista deve afastar as opiniões
que deturpam os textos latinos, os textos romanos e recuperar esses mesmos textos.
→ novo movimento de recuperação do velho Direito clássico, do Direito Romano
Pretende-se terminar com o trabalho das escolas prudenciais. O que importa é que os
juristas no século XVI retornem à Antiguidade Clássica e interpretem, de acordo com a sua
Razão, livremente os textos. → forma de pensar o Direito completamente nova
É preciso demolir o saber do Direito, deixar de considerar a opinião comum.
O Humanismo teve, desde cedo, reflexo nos juristas portugueses. Foi um movimento
de crítica a todo o ensinamento do direito efetuado pelas escolas medievais, designadamente
pelas escola dos comentadores. O principal alvo foi Bártolo.
Como expoente desta renovação intelectual costuma ser apontado o nome de Verney,
cuja crítica ao ensino do Direito em Portugal, para além de repetir todo o receituário de
acusações dos humanistas contra Bártolo e a opinião comum, contra a silogística jurídica,
revela o novo ideário do Racionalismo e do Iluminismo.
18 de agosto de 1769
devida ao Rei D. José I, sob o consulado de Marquês de Pombal
Percebeu-se, com a Lei da Boa Razão, que não se poderia alterar as mentalidades,
nomeadamente relativamente à aplicação do Direito. Tem como objeto disciplinar as fontes
de Direito, revogando o preceito do livro III das Ordenações Filipinas. José Homem Correia
Teles (quantidade de vezes que aparece ‘’boa razão’’)
2. O estilo permanece como fonte de Direito à luz da Lei da Boa Razão, mas, para ter
essa natureza de fonte de direito, tem de ser confirmado pelos Assentos da Casa da
Suplicação. [*restringido*]
2.1. Assentos: fontes de interpretação das leis (serviam para interpretar, dando sequência ao
que já vinha dos finais do século XV, a lei em casos duvidosos), mas não de integração. Não
deviam integrar lacunas. Deveriam ser presentes ao monarca, para que ele as pudesse
integrar. Poderia haver recurso para a Casa da Suplicação, se fossem produzidos pela Relação
do Porto. Os que fossem produzidos pela Casa da Suplicação, poderiam ter recurso para o
monarca.
1448: aparece um assento sem a presença do rei (quem interpretou a lei foram os
juízes sem a presença do monarca)
5. O direito canónico deve ser relegado estritamente para as questões do foro espiritual.
Desaplicável nos tribunais civis. [*restringido*]
Passa a poder ser aplicado em quatro situações limitadas:
- se a lei do rei remetesse para ele;
- nos casos em que os seus preceitos fossem aplicáveis pelo uso das nações civilizadas
em correção do direito romano;
- nos casos em que os ministros tenham necessidade de conhecer o direito canónico
para evitar os abusos dos tribunais eclesiásticos;
- quando não há lugar ao critério do pecado.
6. Usos ou direito das nações civilizadas e polidas da Europa: Marquês de Pombal foi
embaixador na Áustria, São Petersburgo - diplomata, o que o permitiu olhar para o
que, numa experiência comparatística, os outros países estão a fazer - conhecer para
disciplinar (olhar para outros ordenamentos jurídicos e procurar influência nesses
direitos).
A Boa Razão é o que consiste nos primitivos princípios essenciais que a época dos
romano nos legara. O que o direito das gentes nos lega; resulta do direito que está acima do
direito criado pelos Homens - divino e natural.
Não era possível alterar a forma de fazer o direito, se não se alterasse o ensino do
Direito.
Luís António Verney critica o ensino do Direito em Portugal - que estava assente
num método baseado numa orientação silogística. E também havia total e absoluto
conhecimento da história - os textos não eram vistos nos seus contextos; excessiva
dependência do direito romano por parte dos juristas; era preciso reformar o ensino do
Direito.
O Marquês de Pombal percebeu que a crítica vai ser consequente: não era possível
alterar a aplicação à vida de todos os dias do Direito, fazer relevar a lei quanto ao direito
romano, se na universidade se continuasse a estudar direito romano. Estudava-se estritamente
Direito Romano. A faculdade permanece dividida em leis e cânones: na faculdade de leis,
estudava-se só Direito Romano.
A ciência carece de método. A razão era o critério retor. Não era possível mudar sem
monitorização. A reforma pombalina orienta-se pelo jusnaturalismo racionalista, dando
lugar às cadeiras de Direito Natural e das Gentes, ao ensino do direito pátrio, à história
do direito; ostenta a marca do usus modernus pandectarum.
É necessário levantamento rigoroso daquilo que seria o estado do ensino universitário
em Portugal.
D. José I refere no título I do livro II dos estatutos que a preparação anterior daqueles
que iam entrar no esforço do Direito era determinante. Faz crítica ao estado do ensino que
conduzia à universidade, precipitação pela entrada nos cursos jurídicos, falta de preparação.
➢ nos estatutos: estabelecer idade mínima para se ingressar nos estudos jurídicos
(16 anos completos criteriosamente demonstrados)
➢ o que seria necessário para que os candidatos fossem previamente bem instruídos,
considerando que as disciplinas de letras eram necessárias
➢ definição das disciplinas que se deveria ter no curso: diz D. José, nos estatutos de
1762 da universidade de Coimbra, que era necessário cessar os estatutos antigos; era
necessário dimensionar o curso às necessidades: os 8 anos, depois dos estatutos de
1762 sob o consulado de Marquês de Pombal, o curso de Direito passa a ser
lecionado em 5 anos - a reforma pombalina, orientando-se pela concepção
racionalista, dá relevo às cadeiras de direito natural e das gentes; direito pátrio; leis do
rei
→ entre direito romano e direito pátrio, diz o rei nos seus estatutos, prevalece o pátrio; o
romano é subsidiário; era necessário criar uma cadeira dedicada ao direito pátrio; outra
cadeira criada com estes estatutos é a disciplina de História do Direito
A comissão era presidida pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do reino
- Visconde de Vila Nova de Cerveira, D. Tomás Teles da Silva.
● Participação de Melo Freire nos trabalhos da reforma
A comissão não produziu os esperados frutos. Entra em cena Pascoal José de Melo
Freire dos Reis que, por resolução régia de 10 de fevereiro de 1783, passa a integrar
a comissão revisora. Seis anos depois, Melo Freire apresenta os projetos de que fora
incumbido dos Livros II (Direito Público) e V (Direito Criminal) das Ordenações.
Quanto ao papel reservado ao direito romano: ambos estão de acordo, em considerar que o
direito romano não deve ser considerado como direito romano. Ribeiro dos Santos vai mais
longe, criticando o ensino do Direito após a reforma pombalina - entende que o ensino do
direito deveria limitar mais ainda o conceito do direito romano e refere que as próprias
Ordenações estão assentes no direito romano. Entende Melo Freire que o trabalho que se
está a pedir fica aquém das necessidades do novo sistema.