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Trata-se de definir e caracterizar esta teoria de gestão apresentar seus percursores suas
ferramentas de trabalho vantagens, criticas e, por fim enfatizar em que medida pode se
inscrever numa perspectiva de gestão estratégica
A preocupação com a qualidade dentro das organizações existe desde o início do século
XX, no entanto, as diversas formas pelas quais as empresas planeiam, definem, obtêm,
controlam, melhoram continuamente e demonstram a qualidade, tem sofrido grandes
evoluções ao longo dos últimos tempos, respondendo a mudanças políticas, económicas
e sociais.
A partir da década de 50, “surge uma nova filosofia de gestão com base no
desenvolvimento e na aplicação de conceitos, métodos e técnicas adequados a uma nova
realidade” (Mendes, 2007, p. 13). Nesta fase, denominada Gestão pela Qualidade Total,
o conceito de qualidade incorpora não só as especificidades do produto, como também
as necessidades do mercado e dos consumidores. A gestão de topo deve exercer forte
liderança apelando para o envolvimento de todos os colaboradores da organização
(Martins & Costa, 1998, p. 302).
A gestão da qualidade total como modelo de gestão teve origem no Japão e foi adoptado
posteriormente por empresas norte-americanas e europeias. Autores como Deming,
Juran, Crosby, Feigenbaun, Taguchi, Ishikawa, entre outros, são considerados os
grandes mestres da gestão da qualidade e descreveram em seus trabalhos alguns
princípios fundamentais para a implementação deste novo modelo (Mendes, 2007, p.
14).
Percursores
Quanto aos factores humanos, Deming dá importância aos factores que inibem o
trabalhador de orgulhar-se de seu trabalho e afirma que a maioria dos problemas de uma
empresa é causada pelo sistema e não pelos operadores. A base do trabalho de Deming é
o controlo de processos através do uso de ferramentas e técnicas estatísticas. Além do
enfoque no controlo de processo, Deming apresenta um programa composto de 14
pontos voltados para a melhoria do gerenciamento da qualidade.
Os 14 pontos para Gestão descrevem o caminho para a qualidade total, o qual deve ser
continuamente aperfeiçoado. São eles (Deming, 1990:18):
Ponto 2: Adoptar a nova filosofia. Vivemos numa nova era económica. A administração
ocidental deve despertar para o desafio, conscientizar-se de suas responsabilidades e
assumir a liderança em direcção à transformação.
Ponto 11: Eliminar padrões artificiais (cotas numéricas) para o chão de fábrica, a
administração por objectivos (APO) e a administração através de números e metas
numéricas.
Ponto 14: Colocar toda a empresa para trabalhar de modo a realizar a transformação. A
transformação é tarefa de todos.
Os catorze princípios de Deming fornecem-nos um conjunto de critérios que permitem
medir o desempenho da gestão (Deming, 2000, p. 18), sendo aplicáveis a qualquer
organização, a qualquer indústria e qualquer departamento.
Os princípios de Deming, continuam válidos até aos dias de hoje e remetem-nos para a
importância da motivação dos trabalhadores e responsabilidade da gestão como factores
essenciais e críticos para a verificação de melhorias efetivas nos sistemas de qualidade
(Gomes, 2004, p. 10).
As fases que este ciclo engloba são as seguintes (Silva, 2009, p. 20):
Outro autor, Joseph Juran, deu também a sua contribuição apresentando em 1951 um
modelo de custos da qualidade.
Este modelo, que divide os custos em quatro categorias: custos de falhas internas, custos
de falhas externas, custos de avaliação e custos de prevenção (Juran, 1951, p. 8.4), é
uma ferramenta de gestão que permite justificar investimentos em programas de
melhoria da qualidade (Gomes, 2004, p. 11).
Em sua obra Juran (1991) propõe uma estrutura organizacional para organizar a função
qualidade. Quanto aos recursos humanos, enfatiza a importância do treinamento e da
participação, para a qual propõe meios como: círculos de controle de qualidade, equipes
de projeto e autocontrole.
Juran conduziu vários seminários no Japão com forte ingrediente gerencial. A partir
deste momento “o controle de qualidade foi enfocado como um instrumento de gestão
da empresa”. Assim como Deming, as idéias de Juran tiveram papel importante em
fornecer base teórica para o TQC japonês.
Feigenbaum é conhecido pela introdução do termo “Total Quality Control”, no seu livro
publicado com o mesmo nome em 1961, onde a qualidade deixa de ser responsabilidade
de um departamento e passa a ser responsabilidade de todas as áreas. O autor afirma
“qualidade é trabalho de todos”.
Para Feigenbaum “qualidade quer dizer o melhor para certas condições do cliente. Estas
condições são: o verdadeiro uso e o preço de venda do produto”. Este autor dá um passo
à frente na definição de valor para o cliente. Neste contexto a qualidade é determinada
pelo consumidor e não por outras áreas da empresa, como produção e principalmente
marketing.
Com relação aos recursos humanos, Feigenbaum considera que a responsabilidade pelo
controle de qualidade é distribuída entre os vários componentes da organização,
ressaltando a necessidade da participação e comprometimento das pessoas. Para isto
propõe programas de educação e treinamento dos funcionários e formas de participação,
tais como: CCQ, qualidade de vida no trabalho, conselhos da qualidade etc.
A qualidade para Crosby é vista como “conformidade com os requisitos”, a qual teria
um enfoque na fabricação. Portanto, de acordo com esta definição, quanto maior a
qualidade, menores serão os custos, pois menores serão os retrabalhos e desperdícios.
Além disso, a qualidade é facilmente mensurável. A não conformidade detectada é falta
de qualidade, e Crosby sugere medir a qualidade pelo custo da não conformidade, ou “o
custo de fazer as coisas erradas”.
O trabalho de Philipe Crosby defende que a qualidade não tem custos, é grátis (Crosby,
1979, p. 3). A solução que este autor vem propor baseia-se nas seguintes regras (Crosby,
1979, p. 131):
A partir desta visão da qualidade, Crosby criou a filosofia do “zero defeito”, segundo a
qual as pessoas devem esforçar-se para “fazer certo logo da primeira vez”. A principal
crítica a esta abordagem é que deixa a responsabilidade pela qualidade aos
trabalhadores. Desta forma, não considera outros aspectos que afetam a qualidade e
estão fora do controle dos operários, como: problemas de matéria-prima, erros de
projeto, falhas nos equipamentos etc, além disso, não oferece métodos de solução de
problemas.
O sistema da qualidade proposto por Crosby está constituído pelo forte envolvimento da
gerência e pessoal da empresa em torno do cumprimento das metas de qualidade. O
custo da qualidade é o elemento que mede o avanço conforme o planejado e as metas da
empresa e identifica áreas problemáticas que requerem esforços concentrados.
Com relação aos recursos humanos, Crosby enfatiza o uso de campanhas motivacionais,
educação e treinamento, buscando o comprometimento do indivíduo com o zero defeito
e redução de custos. O reconhecimento é efetuado através de prêmios. O autor propõe
também um forte uso de campanhas pela qualidade, slogans, mensagens dirigidas às
pessoas colocadas em todos os lugares da empresa, caixas de sugestões, competições
etc.
A obra de Ishikawa serviu de arcabouço teórico para o TQC japonês, modelo difundido
no Brasil por Campos e que hoje ainda é uma metodologia muito utilizada pelas
empresas brasileiras para a implantação de programas de qualidade. Ishikawa foi
fortemente influenciado pelas visitas ao Japão de Deming em 1950 e de Juran em 1954.
- Fatores Humanos: Para Ishikawa, o TQC deve ser participativo, delegando autoridade
e propiciando o desenvolvimento do potencial dos funcionários. O autor enfatiza o
papel dos Círculos de Controle de Qualidade para isto;
- Alta Direção: Desempenha um papel fundamental para o sucesso do TQC. Entre suas
funções principais tem-se: estabelecer diretrizes para a adoção da qualidade; assumir a
liderança, verificar os resultados e coordená-la globalmente; promover a educação
adequada para a realização do TQC; efetivar a filosofia de que o próximo processo é seu
cliente;
- Gerência de linha: Para o autor, o gerente deve ser um chefe capaz de educar e treinar
seus subordinados para que, mesmo na sua ausência física e sem verificações de rotina,
o trabalho flua normalmente. Além disso, o autor afirma que o gerente deve atuar em
comitês interfuncionais para melhorar a coordenação e entendimento das funções de
linha;
Definição da qualidade
Segundo Silva (2009, p. 11), qualidade deriva da palavra latina qualitate e “é sinónimo
da procura contínua de melhoria em todas as vertentes, desde a política e estratégia da
organização até aos indicadores financeiros mais relevantes, passando pelos níveis de
satisfação de todos os stakeholders”.
No seu livro Managing Quality, Garvin (1988, p. 40) considera que a qualidade pode ser
definida através de diferentes abordagens, segundo tabela que se segue:
A qualidade é um conceito reconhecido por todos, sendo definido de forma distinta por
diferentes indivíduos, grupos ou camadas da sociedade. Segundo Longo (1996, p.9), a
qualidade total inclui seis atributos ou dimensões básicas que lhe conferem
características de totalidade: qualidade intrínseca, custo, atendimento, moral, segurança
e ética.
Esta filosofia de gestão enfatiza o papel dos recursos humanos nas organizações, o que
implica uma mudança de atitudes e comportamentos buscando a descentralização da
autoridade e um ambiente mais participativo. A criação de um ambiente mais
participativo envolve não apenas colaboradores da própria organização como também
clientes, acionistas, fornecedores e meio envolvente geral (Marques, 2005, p.36). Este
relacionamento favorece a busca de soluções novas e mais eficientes, pois estimula a
criatividade, a procura de inovações e o não conformismo com tarefas rotineiras
(Longo, 1996, p.11).
Segundo Marques (2005, p.36), a busca pela melhoria contínua materializa-se com a
criação de um sistema de autoavaliação permanente, capaz de avaliar a ciclos curtos, as
atividades, o seu desempenho e resultados, tendo em consideração a análise dos
resultados que vêm sendo conseguidos, a verificação da eficácia das atividades e
práticas associadas e a deteção de áreas e oportunidades de melhoria.
A teoria dos recursos, que surge nos anos 80, sugere que a fonte da vantagem
competitiva se encontra primariamente nos recursos e nas competências desenvolvidas e
controladas pelas empresas, em contraposição com as teorias tradicionais da
organização industrial, que se baseiam fortemente na análise da estrutura das indústrias
e seu ambiente competitivo. Estes recursos, que incluem não só recursos físicos e
financeiros, como também recursos intangíveis são vistos como elementos raros, de
imitação e substituição difícil e custosa para a empresa (Barney, 1997, como citado em
Vasconcelos & Cyrino, 2000).
Já foi visto que a qualidade dos produtos e serviços é um dos principais atributos
valorizados pelos clientes e por isso deve ser uma prioridade para a empresa. Tal como
referiu Rosalem e Santos (n.d.), as empresas distinguem-se umas das outras quando
concedem serviços ou criam produtos com elevada qualidade. Sendo assim, a qualidade
e a sua gestão eficaz podem tornar-se recursos valiosos e de difícil imitação numa
empresa, potenciando as vantagens apresentadas nos pontos anteriores.
Por fim, a aquisição de vantagem competitiva por parte das empresas, não ocorre no
abstracto, implica esforços continuados, ou seja, investimento e tempo. Portanto, apesar
dos custos associados à implementação de sistemas de gestão da qualidade, o retorno
pode ser sinónimo de melhores produtos e processos mais eficientes se houver um
verdadeiro comprometimento da gestão e envolvimento dos colaboradores.
Conclusão
Segundo Marques (2005, p.26), “até há pouco uma empresa que certificasse o seu
sistema da qualidade garantia uma diferenciação positiva; hoje, uma qualquer
organização que não se certifique assume, sim, uma diferenciação negativa”. Isto é cada
vez mais evidente nos dias de hoje. A participação em vários concursos públicos para a
execução de projectos é muitas vezes condicionado pelas exigências dos clientes, no
que diz respeito à normas de qualidade.
Bibliografia
Os princípios de Deming (Figura 2) continuam válidos até aos dias de hoje e remetem-
nos para a importância da motivação dos trabalhadores e responsabilidade da gestão
como factores essenciais e críticos para a verificação de melhorias efetivas nos sistemas
de qualidade (Gomes, 2004, p. 10).