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Ei, garotinha, preto e branco, certo e errado.

Só vivem
dentro de uma canção, que eu cantarei para você. Você
não precisa se sentir só. Você nunca perderá nenhuma
lágrima. Você não precisa se sentir triste1

Depois de conter as chamas ali perto do batalhão que


alguns adolescentes idiotas fumando maconha causaram,
peguei meu celular, e vi a mensagem.
A mãe de Emma está na porta do seu apartamento, por
favor venha logo. Emma está nervosa.
Meu coração parou e toda a minha alegria foi drenada do
meu corpo.
Corri na hora para a sala de Duke e lhe mostrei a
mensagem.
— Poxa, eu estava tão perto, porque ela voltou agora! —
Falei frustrado.
— Mason, acalme-se. — Disse Duke. — Perder a calma
agora não é uma boa.
— Minha vontade é de matá-la. — Disse com raiva.
— E passar o resto da sua vida na cadeia enquanto sua
filha é enviada para alguma instituição do governo? Seja
racional e se acalme, só vou deixar você sair daqui se se
acalmar. — Frustrado bufei.

1
My Little girl – Jack Johnson
— Você sabe que não pode me prender aqui.
— Eu sei. Mas use a razão. E de jeito algum a deixe levar
Emma embora.
— Eu nunca cogitei deixa-la levar Emma de mim, se
fosse a um tempo atrás até poderia chegar a isso, mas não
agora.
— Então vá até lá, sua filha deve estar com medo. Ela
precisa que você esteja calmo, seja uma rocha para ela
Mason.
Assenti e ao entrar no carro peguei meu velho maço de
cigarros no porta luvas e acendi um. Havia prometido a mim
mesmo não fumar mais, pois Emma não gostava do meu
vício, mas naquele momento de tensão, pedi perdão a Emma
mentalmente e traguei com vontade.
Ao chegar no apartamento encontrei Allison plantada
diante da porta furiosa, ela me encarou no momento que subi
as escadas.
Eu havia cometido dois pecados, pois fumei dois
cigarros, mas aquilo ainda assim não me acalmou.
— Tem uma vagabunda no seu apartamento que não me
deixa entrar. — Disse ela e senti vontade de acertar um tapa
em sua cara, mas não batia em mulheres, por mais que Allison
merecesse uns bons tabefes.
— A única vagabunda que vejo aqui é você. — Peguei o
celular e liguei para Brooke que atendeu em dois toques.
— Onde você está? — Ela perguntou.
— Como está Emma? — Perguntei.
— Está bem, ela adormeceu depois que lhe contei uma
história.
— Vou sair com Allison para conversar, volto quando
resolver isso.
— Tudo bem. — Disse Brooke.
— Obrigado, por tudo.
— Não precisa me agradecer. — Disse ela.
— Eu volto assim que isso for resolvido.
— Tudo bem. — Desliguei o celular e peguei Allison
pelo braço.
— Venha comigo.
— Gosto quando você é mandão assim. — Disse ela
rindo. Senti asco, como pude um dia me envolver com uma
mulher assim? Bem, pelo menos algo de bom ela havia feito,
ela havia me dado Emma.
Chegamos em um café há duas quadras do meu
apartamento e logo pedi café forte e puro e ela pediu um café
irlandês2, era óbvio que ela já ia beber.
— O que você quer Allison? — Perguntei diretamente.
— Eu senti saudades de vocês dois e vim visitar, agora
quem é aquela vadia que...
— Eu que faço as perguntas aqui. — Falei e ela sorriu.
— Sim, senhor.
— Você não estava bem em Vegas? Porque apareceu de
repente.
— Saudades da família é claro.
— Não me venha com esse papinho, você abandonou sua
filha com um homem que você nem conhece direito, com um
caso de uma noite e nem sequer se despediu ou se preocupou
em como ela estava.
— Você é o pai dela.
— Tem homens que não nasceram para ser pai, e se eu
fosse um pedófilo ou algo do tipo.
— A menina iria aprender mais cedo o que é ser mulher.
— Disse ela e deu de ombros.
Eu cravei as unhas nas palmas das mãos, eu estava com
muita raiva daquela mulher e Deus imaginei minhas mãos em
sua garganta e vendo a vida ir embora dos seus olhos.

2
É uma bebida á base de café, uísque irlandês, açúcar e chantilly.
— Você é doente. — Falei. — Vá embora, Emma não
quer ver você e ela vai ficar comigo para sempre.
— Quer dizer que você é um bom pai afinal?
— Estou tentando ser, garanto que serei bem melhor que
você e o idiota com quem era casada.
— Ele era um idiota mesmo. — Ela disse gargalhando
alto. — Acreditou que eu estava grávida dele e vivi
confortável por anos, se contar quantos chifres coloquei
naquele paspalho e então ele descobriu que nasceu estéril. E
descobriu tudo, aquela pamonha levou mais de cinco anos
para se dar conta de que Emma não era sua filha. — Ela riu
alto novamente, como se tudo aquilo fosse uma grande piada.
— O que preciso fazer para você sumir das nossas vidas
de uma vez por todas? — Questionei impaciente. — Ou
melhor, quanto você quer?
— Ah, agora você está magoando meus sentimentos,
acha que eu venderia minha filhinha para você.
— Não me venha com falsidades, você não a ama.
— Amo tanto que quero ela de volta para mim. — Meu
coração parou por alguns milésimos de segundo e quase cai
em um poço escuro de dor. — Você precisava ver a sua cara
de apavorado agora. — Allison gargalhou.
— Não brinque comigo. — Eu estava perdendo a
paciência.
Paramos de falar por uns segundos enquanto a garçonete
colocava nossos cafés na nossa frente.
— Você deve ter se apegado a pirralha. — Disse ela
encarando as unhas. — Afinal a gente se apega até mesmo a
um cachorro e...
Bati na mesa com força.
— Fala logo Porra, antes que eu me irrite de verdade com
você. — Alterei minha voz e algumas pessoas nos encararam,
Allison pela primeira vez pareceu levemente assustada. — O
que diabos você quer?
— Tudo bem, preciso de cinco mil dólares. — Ela disse
e bebeu o café. — Acabei jogando no cassino, sabe como é
Vegas, a gente se empolga, cinco mil dólares e sumirei da
vida de vocês.
— Você precisa ir comigo a um advogado, há um cartório
fora da cidade, irei registrar Emma em meu nome, abrirei um
processo no fórum na semana que vem para ter a guarda
definitiva de Emma e vou te mandar os papéis e você vai
assinar.
— Você acha que farei tudo isso só por cinco mil
dólares? — Perguntou ela em tom de deboche.
— Não, conheço seu tipo. Tive uma mãe igual. — Falei.
— Te darei quinze mil dólares, cinco mil agora após ir no
cartório comigo e mais dez mil depois que você assinar o
papel que passa a guarda definitiva de Emma para mim.
— Quinze mil. — Ela bateu palmas. — Eu não imaginava
que a garota valia tanto.
Ela vale muito mais que míseros quinze mil dólares.
Pensei. Ela não tem preço. Mas foi tudo o que consegui juntar
nos últimos cinco anos em que vivi para o trabalho. Na
verdade, tinha vinte mil em minha poupança, mas não
entregaria tudo para aquela mulher, minha filha precisava de
segurança e aquele fundo de reserva que eu tinha era para o
futuro dela.
— Vamos ao advogado. — Eu já havia ligado para
Joshua e implorado para que ele me ajudasse; lhe expliquei a
situação por cima ele na hora aceitou, entrei no carro com
aquela mulher detestável e seguimos para outra cidade em
que o cartório estava aberto.
Lá registrei Emma como minha filha. Na saída lhe
entreguei os cinco mil e peguei seu endereço em Vegas.
Garanti a ela que não controlaria minha raiva, se ela se
aproximasse novamente de mim ou de Emma ela iria morrer.
Quando voltei para a casa já era noite, eu comprei minha
filha? Isso parecia ridículo até mesmo para mim, mas faria
qualquer coisa para garantir que Emma ficasse comigo para
todo o sempre, mesmo que tivesse de pagar para sua mãe.
Quando cheguei em casa, exausto por tudo que aconteceu
no decorrer daquele dia que mais pareceu um completo
pesadelo.
Emma correu para os meus braços no momento em que
entrei em casa.
— Papai, você não vai deixar que me levem né? Eu não
quero ir embora, por favor papai, não deixe que ela me leve
papai, ela me batia e me chamava de inútil, por favor papai
eu nunca mais quero ir com ela, eu te amo papai, por favor
fique comigo, eu serei uma boa filha.
Abracei minha menina e chorei junto dela, Brooke nos
observava com lágrimas nos olhos, em pensar que quase
poderia ter perdido Emma, se fosse outro tipo de mãe teria
levado ela embora, na verdade se fosse outro tipo de mãe nem
a teria abandonado para começo de conversa.
— Eu disse para você. Nunca irei deixar você ir, nunca.
Você é a minha filha e vai viver comigo até se casar um dia.
— Eu nunca irei me casar papai, irei viver para sempre
aqui. — Gargalhei pela primeira vez naquele dia eu ri com
vontade.
— Eu espero que nunca namore também. — Falei.
— Nunca irei namorar também. — Satisfeito com a
promessa da minha filha de nunca namorar e nunca casar, a
abracei feliz.
Deixando-me iludir por aquela promessa. Chamei
Brooke com um aceno e ela se juntou ao abraço. Éramos uma
família em construção. Eu iria ficar com as minhas meninas
para sempre, e tentaria esquecer o passado de vez.

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