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Noções introdutórias
Fontes, regras e sistema:
1º - Estudo do Direito triologia
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Introdução ao Estudo do Direito I
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Introdução ao Estudo do Direito I
As regras podem ser
violadas, ainda que com
consequências, no dever ser
Título I: Delimitação da ordem jurídica Ex: não ultrapassar o limite
na autoestrada
Ordem social e normatividade factos independentemente da sua veracidade Dever / Ought
Ter / must
Querer: Alguém Ser – é descrito; linguagem descritiva; pertence ao domínio da razão teórica, que é a
tem que querer razão que orienta o conhecimento; função cognitiva; questão de facto; é existente;
o dever ser para
que se construa.
verdade ou falsidade; não pode falar-se de observância ou de violação: a prescrição de
Ex: A um estado de coisas não se destina a impor um dever ser, dessa descrição só se pode
assembleia dizer que é verdadeira ou falsa Dever ser/
quando provado
pode criar uma vigência/
lei validade/
Não há Dever ser – é prescrito; linguagem prescritiva; âmbito da razão prática, razão que
imperativo sem orienta a ação; função comunicativa; questão de Direito; é vigente (porque vigora no invalidade/
imperador violação/
âmbito de uma determinada ordem normativa); valores; validade ou invalidade; pode ser dever
O querer tem
limites observado ou violado pelos seus destinatários, que podem respeitar o que é obrigatório
A invalidação do direito não despesa o facto
ou proibido ou agir contra o que é obrigatório ou proibido Ex: quando um tribunal julga um homicídio, verifica-se o facto se alguém matou
alguém
Ex: a maioridade atinge-se aos 18 anos porem outrora atingia-se aos 21. Ambas são validas independentemente contra a sua
veracidade
Mandar calar não é verdadeira ou falsa, mas sim valida ou não
Verdade – ser; enquanto se descreve o ser, pode falar-se de verdade ou falsidade
Validade – o dever ser não pode ser considerado verdadeiro ou falso; só pode falar-se
de validade ou invalidade
• É possível conjugar a verdade (da descrição) com a invalidade (do dever ser) –
a verdade da descrição de um dever ser é independente da validade do dever
: depende da autoridade
ser descrito Ex: Os cães voam: falso
Regra: os cães devem ser vacinados contra a covid 19: pode não fazer sentido, mas não podem dizer que é uma afirmação falsa
Ex: automutilação. o direito condena apesar da aceitação religiosa moral e direito não se confundem
Introdução ao Estudo do Direito I
Negócios usurários: invalidade do negócio jurídico devido a moral
social (decoro, decência da pessoa); moral social pode ser relevante para a
ordem jurídica (ex: ofensa aos bons costumes, art. 280º/1 do CC)
• Ordem do trato social – resulta dos convencionalismos sociais (ex: boa
educação, cortesia); é uma ordem intersubjetiva na qual podem ter expressão
sanções baseadas na reprovação social não necessariamente regras escritas
• Ordem jurídica – ordem constituída por regras jurídicas; ordem intersubjetiva entre as
que é, nas sociedades modernas, a mais relevante ordem normativa da ordem pessoas
social, dado que é a única cuja violação determina a aplicação de sanções que
podem ser impostas pela força
Necessidade do Direito
Características do Direito
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Introdução ao Estudo do Direito I
Normatividade do Direito
• Ordem do dever ser: o Direito é uma ordem normativa distinta da ordem do ser
• Leis do ser (Müssen) – fornecem uma descrição do mundo real; e leis do dever
ser (Sollen) – desenham o projeto de construção de um mundo melhor
• Exceção das correntes realistas. Legal realism norte-americano e realismo
escandinavo da Escola de Uppsala – reconduzem o Direito a um facto empírico,
equiparam a Ciência do Direito a qualquer ciência natural, as regras jurídicas
podem ser explicadas sem nenhuma referência ao dever ser (ideia de causa-
efeito)
o Crítica: há uma relação de dever ser entre um facto jurídico e um efeito
jurídico
o Sem a consideração do dever ser como elemento do Direito, não é
possível realizar nenhuma valoração sobre a adequação do efeito
jurídico
Delimitação da normatividade
Normatividade e natureza
• Ordem é algo natural em qualquer sociedade, o que não significa que é regida
por leis naturais
• Significa que há uma ordem social assente em ordens normativas que são
respeitadas pela generalidade dos membros da sociedade
• Enquanto as leis das ordens normativas são prescritivas, as leis da natureza são
descritivas
• A “ordem natural” é uma ordem de necessidade, regida por leis naturais (ideia
de causa-efeito), que são: gerais, universais, invioláveis
• Em contrapartida, a ordem social é uma ordem de liberdade: só em sociedade
o homem é livre, porque a liberdade é sempre uma liberdade perante outrem;
deixa sempre ao agente uma opção entre o cumprimento da regra ou a sua
violação (embora haja sanções)
• “Ter a obrigação de” é próprio de uma ordem normativa, porque o sujeito
obrigado tem a liberdade de escolher cumprir ou não a obrigação
• As ordens normativas atribuem sempre ao agente a escolha entre observar ou
violar os seus comandos
Normatividade e técnica
• As ordens normativas orientam condutas humanas mas o mesmo pode ser dito
da técnica: através desta sabe-se que se se pretende resolver um determinado
problema ou alcançar determinado resultado, tem de se escolher uma certa
técnica ou estratégia; a técnica impõe um silogismos ou uma “inferência prática”
cuja conclusão é uma ação ou omissão
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Introdução ao Estudo do Direito I
• O Direito não deve ser produzido e não pode ser aplicado fora do ambiente social
em que se insere, pois deve responder às exigências que são colocadas pela
sociedade
• O Direito não pertence à ordem do ser, mas isso não significa que não deva
tomar em consideração a realidade ou a “natureza das coisas”
• O Direito tem de respeitar realidades preexistentes como aspetos físicos
(espaço, tempo), biológicos (vida, morte), psicológicos (vontade, sentimentos),
sociais (grau de desenvolvimento e tradições culturais da sociedade) e
económicos (leis da economia)
Subsidiariedade do Direito
• O Direito é necessário em toda e qualquer sociedade, mas isso não implica que
todas as relações sociais devam ser reguladas pelo Direito
• Princípio da Subsidiariedade – o Direito só deve intervir nas outras ordens
normativas caso seja estritamente necessário – justificação:
o Se a regulação de uma conduta por uma ordem normativa não jurídica
for eficaz em termos sociais, não tem justificação procurar regular essa
conduta em termos jurídicos
o Se o Direito pretender regular todas as condutas, corre-se o risco de
concorrer mais para a desintegração social do que para a coesão e
harmonia sociais
• Nas sociedades modernas, no entanto, verifica-se cada vez mais uma crescente
“juridificação”
• O Direito justifica-se apenas na medida em que as suas funções não sejam
realizáveis por nenhuma outra ordem normativa
• No entanto, relacionando com a prevalência do Direito, na área na qual o Direito
seja necessário, ele tem de prevalecer sobre qualquer outra ordem normativa
• O Direito deve limitar-se a proteger os bens jurídicos (tudo o que proteja as
pessoas, as coisas e as situações); os bens jurídicos são, desde logo, aqueles
que satisfazem necessidades básicas como a sobrevivência da pessoa e a sua
realização nos mais variados campos (pessoal, familiar, profissional, etc.)
• Há um espaço livre de Direito, uma área que não é abrangida pela norma
jurídica, pelo Direito (tudo o que é indiferente ou irrelevante para o Direito ou que
determine a aplicação de sanções não jurídicas); representa um valor em si
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Introdução ao Estudo do Direito I
mesmo pelo que também há que defendê-lo perante o Direito; o Direito não deve
regular tudo: há uma zona da vida social e da vida privada que não pode por ele
ser invadida
Favor libertatis
II – Funções do Direito
IV – Direito e justiça
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Modalidades da justiça
Aristóteles:
V – Direito e democracia
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Introdução ao Estudo do Direito I
VI – Direito e Estado
• Observância das regras jurídicas pode ser mecânica (ex: regras de trânsito) ou
intencional (ex: contrato)
• O que sucede quando o dever ser imposto pela ordem jurídica não é observado?
o Desvalor do ato anti-jurídico
o Aplicação de uma sanção àquele que violou o Direito
Coação e coercibilidade
• Cominação de uma sanção a quem violar uma regra jurídica – a ordem jurídica
é uma ordem coativa
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Desvalores jurídicos
1. Desvalor de condutas
• Ilicitude – desconformidade de uma conduta com uma regra jurídica
quando o agente atua de forma voluntária; subjaz à responsabilidade
civil, disciplinar, contraordenacional e penal (é um dos elementos da
responsabilidade jurídica)
2. Desvalores de atos
• Ilegalidade – contrariedade de um ato jurídico à lei; todo o ato que viola
a lei é um ato ilegal; modalidades principais:
o Inexistência – forma mais grave de ilegalidade; ato ilegal torna-
se inexistente; o vício que afeta o ato é considerado pelo Direito
tão grave que, juridicamente, se considera que nada existe (ex:
falta da assinatura do PR num documento que a requer,
casamento celebrado perante quem não tem competência para o
ato)
o Invalidade – desconformidade do ato com o Direito menos grave
do que a inexistência; modalidades:
✓ Nulidade – decorre da violação dos interesses mais
relevantes; é invocável a todo o tempo e pode ser
conhecida oficiosamente pelo tribunal
✓ Anulabilidade – decorre da violação de interesses menos
relevantes; tem de ser arguida pelos interessados num
determinado prazo e é sanável (remediável) pelos
mesmos mediante confirmação ou ratificação
o Ineficácia – ato jurídico é meramente ineficaz, não tem qualquer
eficácia; surge, na maior parte dos casos, através de uma
situação de inoponibilidade de um ato (existente e válido) a certas
pessoas (ex: ato normativo não publicado); tudo se passa como
se esses atos não tivessem sido praticados
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Sanções jurídicas
• São, em conjunto com os desvalores dos atos jurídicos, um dos meios a que o
Direito recorre para impor o cumprimento ou evitar o incumprimento de uma
regra jurídica (pode ser a imposição de uma desvantagem ao infrator da regra
ou a atribuição de uma vantagem a quem tiver observado a regra); para a ordem
jurídica não é indiferente que as regras sejam observadas ou violadas, pretende
que o agente atue em conformidade com o Direito
Fins das sanções:
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Introdução ao Estudo do Direito I
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• Visa reagir sobre uma agressão alheia, tanto sobre uma pessoa como sobre um
património; pode ser usada para defender qualquer direito pessoal ou
patrimonial
• No plano civil: considera-se justificado (lícito) o ato destinado a afastar qualquer
agressão atual e contrária à lei contra a pessoa ou o património do agente ou de
terceiro, desde que não seja possível fazê-lo pelos meios normais e o prejuízo
causado pelo ato não seja manifestamente superior ao que pode resultar da
agressão
• Está subordinada a um princípio de proporcionalidade – não pode ser
desproporcionada em relação ao bem que é atingido pela ofensa – nesse caso
há excesso de legítima defesa e a reação torna-se ilícita (o ato é, no entanto,
justificado, quando for devido a perturbação ou medo não culposo do agente)
• Âmbito pena: causa de exclusão de culpa – exclusão da culpa do agente; se o
agente atuar na convicção errónea de que estão preenchidos os elementos do
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Introdução ao Estudo do Direito I
• Modalidade da legítima defesa que atribui a uma pessoa quer o direito a resistir
a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias (resistência
passiva), quer o direito de repelir pela força qualquer agressão contra esses
direitos, liberdades e garantias, quando não seja possível recorrer à autoridade
pública (resistência ativa)
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IV – Sistema muçulmano
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• Simples e complexas
o Simples – provêm de um único facto normativo
o Complexas – são constituídas por um facto originário e por um
facto posterior à produção da fonte (ex: facto originário + novação
da fonte ou modificação da fonte por interpretação autêntica, por
exemplo)
II – Delimitação negativa
Doutrina
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• A lei pode ser eficaz ou ineficaz, o costume só pode ser eficaz – quando não é
observado é uma impossibilidade: deixa necessariamente de ser vigente
• Modalidades do costume (de acordo com a sua relação com a lei):
✓ Costume secundum legem – regra consuetudinária coincide com a
regra legal
✓ Costume praeter legem – complementa a lei (integrando eventuais
lacunas), vai além do que a lei dispõe, sem a contrariar
✓ Costume contra legem – contraria a lei; relação de oposição; implica a
cessação de vigência da lei
• Quanto maior for a relevância concedida à lei, menor é a importância reservada
ao costume, e vice-versa
• Atualmente é indiscutível o predomínio da lei sobre o costume
• O combate da lei contra o costume é tão antigo como a própria lei – da tensão
entre o costume e a lei podem resultar diferentes situações:
✓ Lei extingue ou faz cessar o costume ou proíbe o costume
✓ Lei reconhece o costume e fornece-lhe um título legal
✓ Costume sobrepõe-se à lei e, apesar de contrariado pela lei, continua a
vigorar como costume contra legem
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Introdução ao Estudo do Direito I
• Invalidade:
✓ Nulidade – vício mais grave; impede a produção de quaisquer
efeitos pela lei; pode ser apreciada e declarada por qualquer
órgão de aplicação do Direito (ex: inconstitucionalidade ou
ilegalidade da lei ou que viole direitos, liberdades e garantias)
✓ Anulabilidade – vício menos grave; só impede a produção de
efeitos depois da anulação do ato e pode ser sanada através de
confirmação ou de ratificação do ato (ex: regulamento elaborado
com base numa delegação de poderes que afinal não existe)
• Ineficácia – decorre de uma irregularidade verificada no seu processo de
formação; o ato ineficaz é existente e válido, mas não produz quaisquer efeitos
(ex: falta de publicação do ato normativo)
• A declaração de retificação tem uma eficácia retroativa, dado que tudo se passa
como se a lei retificada tivesse sido sempre o conteúdo que lhe foi fornecido por
aquela declaração
Consequências da retificação – duas situações:
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• A entrada em vigor dos atos normativos nunca pode ser anterior à data da sua
publicação
• O momento de entrada em vigor da lei pode ser aquele que a própria lei fixar ou
aquele que for determinado por legislação especial (L 74/98)
Vacatio legis – é o tempo que decorre entre a data de publicação e a data da entrada
em vigor da lei; prazo supletivo de vacatio legis – utilizado quando nada se dispuser
sobre o momento da entrada em vigor da lei – também são admitidos prazos ad hoc
(fixados pelo legislador para cada lei)
• Prazo supletivo de vacatio legis: a lei entra em vigor, em todo o território nacional
e no estrangeiro, no quinto dia após a sua publicação no Diário da República
• O legislador pode fixar um prazo maior ou menor que este
Contagem do prazo:
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Vigência imediata – o início da vigência da lei não pode ocorrer no próprio dia da sua
publicação (exceção: estado de sítio, estado de emergência, declaração de guerra ou
paz)
Proteção de interesses – garantia do conhecimento: princípio de que a lei nunca pode
ser obrigatória antes da disponibilização ao público
• Temporária
• Indefinida
Cessação da vigência – causas:
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Revogação da lei – cessação da vigência determina por outra lei; verifica-se a entrada
em vigor de uma lei (lei revogatória) e a cessação de vigência de outra (lei revogada)
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II – Hierarquia dinâmica
• Direito Internacional
• Direito Europeu
Fontes internas
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Introdução ao Estudo do Direito I
✓ Comando (O)
✓ Proibição (F)
✓ Permissão (P) – pode ser não alternativa ou forte (alternativa)
o Objeto – aquilo que é definido pelo operador deôntico; pode ser uma
conduta, um poder ou um efeito jurídico
• Regras de conduta e regras de poder são duas categorias de regras que podem
decompor uma mesma realidade segundo perspetivas diferentes; regras de
poder são constituídas pela modalidade de regras de produção jurídica (implicam
regras de competência e regras de procedimento)
III – Caráter hipotético
1. Regras hipotéticas
2. Categorias de factos
3. Legal defeasibility
4. Regras categóricas
IV – Análise do imperativismo
1. Orientações imperativistas
2. Apreciação do imperativismo
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Introdução ao Estudo do Direito I
3. Critérios da qualificação
IV – Critério da vinculação
1. Regras de resultado
2. Regras técnicas
V – Espécies de regras
1. Regras definitórias
2. Regras de remissão
3. Regras de presunção
4. Ficções legais
5. Regras de conflitos
6. Regras autorreferenciais
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