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RESENHA CRÍTICA

Gabriela Rodrigues Botelho

Esta resenha tem como objetivo expor as principais ideias discutidas no artigo “Políticas
públicas para inclusão digital nas escolas”, de autoria da professora doutora Maria Helena
Bonilla que atualmente atua na Universidade Federal da Bahia e é líder do grupo de pesquisa
Educação, Comunicação e Tecnologia (GEC). Pretendemos também contrastar os pontos
principais do artigo citado com algumas ideias específicas de outros dois artigos a saber:
“Letramento digital e ensino” do professor titular da Universidade Federal de Pernambuco
Antonio Carlos dos Santos Xavier e “Uma reflexão sobre a inclusão digital como forma de
transformação e capacitação dos indivíduos” que tem como autoras Fabiana Martendal e Sandra
Mara Stocker Lago ambas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
A professora Bonilla divide seu texto em duas partes além da introdução onde contextualiza o
processo de inclusão digital das escolas partindo da publicação do livro verde do Programa
Sociedade da Informação no Brasil, lançado no ano 2000, quando iniciaram as discussões sobre
inclusão digital no país. Ela ressalta que somente em 2007 foi iniciado o Programa Proinfo
considerado um marco da política pública na área digital. Apesar dos vários programas lançados
após o Proinfo, no momento de publicação do artigo (2010) e ainda hoje (2018), observamos
que o avanço nessa área é bastante lento seja em termos de estrutura (equipamentos, salas
adaptadas, manutenção, conexão, cabeamento) ou em termos de qualificação pedagógica.
A respeito dessa observação é que a autora tece sua crítica pois, fica nítido a dificuldade do
governo brasileiro em gerir o complexo sistema de inclusão digital. A autora aponta como
exemplo a falta de comunicação entre os órgãos públicos e os controversos objetivos de
diferentes secretarias resultando na ineficiência dos programas.
A dificuldade de gestão é abordada nos dois subtópicos do artigo. No primeiro são apresentadas
algumas contradições dos programas de inclusão digital das escolas, pois, embora os programas
queiram aumentar a qualidade do ensino através de ferramentas digitais, na prática apenas
garantem o acesso do aluno ao computador e a internet, no entanto as questões pedagógicas
para apropriação dessa nova ferramenta são pouco consideradas. As atividades desenvolvidas
em sala ainda visam a pesquisa e a utilização técnica do computador sem explorar seu potencial
agregador e realmente incluir o aluno no mundo digital da cibercultura.
Uma das causas desse problema é que os equipamentos oferecidos são bloqueados para acessos
que fogem do contexto educativo como redes sociais entre outras comunidades virtuais. Esse
procedimento é totalmente compreensível, porém reduz o computador a uma ferramenta de
ensino em vez educar o aluno para saber se portar ou mesmo utilizar o ciberespaço a seu favor.
Já na segunda parte do artigo a autora detalha algumas ações realizadas pelo governo para
promover o acesso das escolas ao meio digital e consequentemente a inclusão de alunos e
professores a esse novo contexto de ensino. Entre essas ações se destacam: o Programa Proinfo
que ao longo dos anos se desdobrou em Proinfo Urbano e Rural; O Programa UCA (Um
Computador por Aluno); Banda Larga para Todos que também se desdobrou até o contexto
rural, entre outras iniciativas que tinham como objetivo desenvolver infraestrutura para
possibilitar o acesso das escolas a equipamentos modernos e a internet.
Esse conjunto de políticas públicas não cumpriram eficazmente seu objetivo, como podemos
observar no artigo. Os alunos que receberam o leptop, por exemplo, podem utilizar o
equipamento na escola (com as devias restrições) porém não conseguem utilizá-lo em casa, já
que, em muitos lugares a população não tem condições de pagar a internet ou o acesso é muito
precário comprometendo o uso. Isso é uma falha do programa pois a intensão inicial era
aproveitar a distribuição do leptop para que a tecnologia chegasse ás famílias e não somente ao
aluno. Outra questão destacada pela a autora é em relação a formação de professores. Bonilla
(2010) explica que em muitas comunidades pelo país nem mesmo as professoras tem acesso ao
computador e a internet, no entanto, os cursos de capacitação para a inclusão digital são feitos
a distância. Ou seja, mesmo que a professora faça essa capacitação utilizando o computador da
escola seu desenvolvimento fica bastante limitado por já não ter tido alguém para lhe auxiliar
no início de sua formação. Compreendemos que a falta de familiaridade com a máquina pode
gerar dificuldades na aprendizagem do próprio professor o que resulta em uma formação
deficiente e que consequentemente não alcançará bons resultados na prática docente.
Essa constatação fica clara, pois a própria autora relata que infelizmente o que acontece com
frequência é a transferência de conteúdo e plataforma de ensino para o computador, no entanto,
os objetivos de ensino e as formas de conduzir as atividades continuam tradicionais, “Apesar
dos objetivos serem amplos as estratégias sempre foram limitadas” Bonilla (2010 p. 45).
Nesse sentido, podemos constatar que os esforços do governo para alcançar a inclusão digital
esbarram principalmente na insistente lentidão do processo e nas práticas pedagógicas falhas.
Por isso concordamos com a autora quando afirma que a alfabetização, o letramento e a inclusão
digital caminham juntos pois, é preciso unir essas três premissas para que o aluno tenha
condições de assimilar o letramento digital. Nesse sentido, ressaltamos que incluir digitalmente
não é apenas dar acesso à internet e ao computador, mas sim proporcionar que o aluno seja um
agente social reflexivo e ativo em este meio. As reflexões do professor Xavier (2002) colaboram
com essa ideia ao defender que o letramento digital está condicionado ao letramento alfabético
e que para alcançar essas duas etapas de ensino é importante ter foco nas seguintes
características: educação centrada no aluno, dinâmica, colaborativa, que tenha o professor como
um articulador, o aluno com papel ativo e que ensine a aprender.
A partir da leitura do artigo (BONILLA, 2010) podemos avaliar que as questões pedagógicas
ainda são um problema crucial na ineficácia do ensino híbrido no país. A deficiência de
conhecimento dos professores em utilizar o computador e seus inúmeros programas educativos
ou não, mas, que possam ser explorados em sala, ainda parece muito grande e por consequência
seguem padrões tradicionais de ensino ou não utilizam a ferramenta. Em consequência disso o
mínimo de estrutura ofertada pelo governo se perde no desuso ou no mal-uso.
A pesquisa realizada pelas autoras Lago e Martendal (2015) também vão de acordo com essas
informações. Segundo dados publicados, existe uma preocupação tanto da iniciativa pública
quanto da iniciativa privada em promover a inclusão digital através de programas que
proporcionam o acesso ao computador e internet. No entanto, na maioria dos casos a inclusão
se limita realmente ao acesso aos equipamentos e como máximo a utilização de alguns
programas mais urgentes para a convivência em sociedade.
Podemos concluir por fim que nos três textos lidos suas constatações são complementárias:
existe interesse em promover a inclusão digital, porém as barreiras pedagógicas e de gestão
ainda limitam esse processo. Consideramos que as dificuldades para isso além de tudo que foi
apresentado pelos autores reside também no fato de que há sempre uma tendência do ser
humano em manter-se com o tradicional, com o que já sabemos utilizar e dominamos seu
conhecimento e na escola não é diferente. Assim sendo, com base nos textos lidos, podemos
afirmar que eficácia de todos esses projetos governamentais só acontece quando alguma
professora com mais habilidade pessoal para o manejo de novas tecnologias ou mesmo aquelas
mais insistentes que não querem se prender a práticas ultrapassadas se dispõem a vencer as
dificuldades e se arriscar em uma proposta pedagógica que contemple as tecnologias digitais.
Infelizmente esse processo depende da habilidade e disposição de cada professor pois ainda não
está devidamente institucionalizado de forma que todos possam se adequar a estrutura e
treinamentos ofertados. Sabemos que mesmo os professores que tem acesso a computador e
internet são pouco estimulados a explorar seu potencial educativo. Utilizar o computador ou
celular em sala é ainda impensável no Brasil, compreendo que realmente é uma tarefa
complicada para o professor pois além de conhecimentos pedagógicos e técnicos é preciso lidar
com a indisciplina dos alunos. Acredito que aos poucos poderemos incluir as ferramentas
digitais no ensino, como já está acontecendo, e consequentemente poder lidar com questões de
letramento digital. Discordamos com a citação encontrada em Bonilla (2010, p.43 apud
CÂMARA DOS DEPUTADOS 2008):

inclusão digital ora aparece como objetivo principal de programas de disseminação


das TICs nas escolas, ora como um subproduto da fluência que as crianças ganham ao
usar computador e Internet. A meta é a qualidade do processo de ensino-
aprendizagem, sendo o letramento digital decorrência natural da utilização frequente
dessas tecnologias. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2008, p.52)

O letramento digital ou não é um reflexo sim da forma de ensino mas precisa também ser o foco
de ensino pois não acontece naturalmente. Portanto concordamos com Bonilla (2010, p. 43),
pois: “Como podemos perceber, a cultura digital não é considerada como parte integrante dos
processos pedagógicos e das aprendizagens dos alunos. Continua a desarticulação entre escola
e sociedade e a supervalorização da perspectiva conteudista da escola”.
Concluímos as leituras considerando que embora o governo tenha “tentado” cumprir seu papel
investindo em estrutura, equipamento e preparação dos professores, a gestão desse investimento
ainda é bastante falha. Nesse caso o que falta aparentemente são especialistas nas respectivas
áreas para aperfeiçoar essa transição. Em relação a formação de professores sabemos que há
interesse de muitas instituições formadoras como demonstra Bonilla (2010) e esse problema
em parte parece estar diminuído. No entanto, ainda há uma grande parcela de professores que
não tem acesso a essas instituições formadoras ficando à mercê da preparação a distância,
aparentemente esta seria a demanda mais urgente em ser resolvida.
Outra questão que nos parece crucial é a própria concepção de ensino da escola pública que
ainda não conseguiu alinhar a teoria de seus documentos normativos com a prática de ensino.
Nesse sentido[,] é preciso repensar, por exemplo, como adequar o uso de equipamentos como
tablet ou celular na sala de aula de maneira didática, contribuindo para o desenvolvimento do
aluno e sem causar transtorno aos professores. Esses são apenas alguns dos desafios que a escola
pública quanto professores, alunos, governo e sociedade precisam superar.
Referências:

BONILLA, M. H. S. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA INCLUSÃO DIGITAL NAS


ESCOLAS. Motrivivência Ano XXII, Nº 34, P. 40-60 Jun./2010.

LAGO, S. M. S.; MARTENDAL, F. Uma reflexão sobre a Inclusão digital como forma de
transformação e capacitação dos indivíduos. I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão
de Negócios 2015.
Disponível:http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/uma_reflexao_sobre_a_inclusao
_digital_como_forma_de_transformacao_e_capacitacao_dos_individuos.pdf

XAVIER, A. C. Letramento digital e ensino. In: SANTOS, C. F.; MENDONÇA, M. (Org.).


Alfabetização e letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p.133- 148.
Disponible en <http://www.nehte.com.br/artigos/Letramento-Digital-Xavier.pdf>

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