Você está na página 1de 7

II

ALUNOS LEITORES E REDATORES: O JORNAL MURAL EM SALA DE AULA –


PIBID/LETRAS 1

COSTA, Juliana Melo da; GONÇALVES, Luana Iensen 2; RANGEL, Eliane de Fátima
Manenti3
1
Trabalho financiado pela CAPES via o Programa Institucional de bolsa de Iniciação à Docência –
PIBID/UNIFRA – Curso de Letras
2
Autoras. Licenciadas em Letras Português/UNIFRA. Ex-bolsistas PIBID.
3
Professora Mestre do Curso de Letras da UNIFRA. Coordenado do projeto PIBID/Letras da UNIFRA
e orientadora do trabalho
E-mail: j.u.07@hotmail.com luana_iensen@yahoo.com.br efmrangel@hotmail.com

Resumo: Partindo do pressuposto que “a comunicação verbal só é possível por algum gênero
textual” (MARCUSCHI, 2008, p.154), realizamos com os alunos do 2° ano do ensino médio da EEEM
Dr. Walter Jobim, durante o projeto PIBID, o Jornal Mural. Neste trabalho, apresentamos os
resultados obtidos com tal atividade. A metodologia consistiu em oficinas semanais de leitura e
produção textual de gêneros jornalísticos, os quais foram, posteriormente, publicados no Jornal
Mural. Como resultado, percebemos uma melhoria no desenvolvimento argumentativo dos alunos,
tantos nas produções escritas, como nas orais, em conversas e debates de planejamento da
publicação em sala de aula. Também acreditamos ter instigado o gosto pela informação e a
compreensão da sociedade em que vivemos através da leitura do jornal.

Palavras-chave: Gêneros Jornalísticos. Jornal mural. Leitura. Produção Textual.

1.INTRODUÇÃO

Sabemos que a sociedade tem o direito ao desenvolvimento à cidadania por meio do


conhecimento, ou seja, aprender a ler e compreender o que lê. Mesmo assim, há muitos
obstáculos a serem vencidos pelos alunos brasileiros, uma vez que a maioria deles não lê
significamente de modo a inferir o que está nas entrelinhas e que o acesso à leitura ainda é
difícil a muitos indivíduos em nosso país. Pensando nisso, notamos que a mídia impressa,
mais especificamente, o jornal é o acesso mais imediato à leitura de nossos alunos, porém
muitos não realizam essa prática por não entenderem os gêneros jornalísticos devido à falta
de conhecimento, o que só o estudo e a familiaridade proporcionam. Assim, apresentamos a
proposta, aos envolvidos no projeto, do Jornal Mural em sala de aula.
O desenvolvimento das atividades relacionadas ao “Jornal Mural na sala de aula”
ocorreu paralelamente ao Programa Institucional de bolsa de Iniciação à Docência,
PIBID/Letras/UNIFRA na EEEM Dr. Walter Jobim, com os alunos do 2º ano do ensino
médio, no formato de oficinas de leitura e produção textual. O PIBID é uma parceira entre
universidade e escolas a fim de promover o aprendizado prático dos acadêmicos em
formação e a troca de experiências com os profissionais em atuação. O subprojeto do curso
de Letras tem como título Formação de leitores: ações formativas para o desenvolvimento
II

de habilidades de leitura e escrita, o qual já sugere seu objetivo principal: desenvolver


práticas leitoras e escritas com alunos do ensino médio.
O trabalho foi desenvolvido na Escola Walter Jobim através de oficinas semanais de
leitura e produção textual. No segundo semestre de 2011, as oficinas voltaram-se
especificamente para a produção de gêneros jornalísticos de modo a produzirmos o Jornal
Mural da turma.
Dessa forma, objetivamos com este artigo, divulgarmos os resultados obtidos com a
produção do Jornal Mural intitulado Democráticos, da turma de 2º ano do ensino médio,
durante as oficinas do PIBID Letras. Justificamos a realização do trabalho, uma vez que o
aprendizado com gêneros jornalísticos permite aos alunos ter maior consciência da
realidade em que estão inseridos, de modo a se tornarem capaz de questionar a
interpretação dos meios de comunicação da realidade. Assim, a compreensão da realidade
propicia aos alunos a ampliação de competências comunicativas e cognitivas.
A organização do presente trabalho consta de uma breve apresentação do projeto
PIBID, a seção de Introdução, um levantamento teórico acerca dos temas que sustentaram
nosso trabalho, a metodologia empregada, os resultados verificados durante o período de
nossa permanência no projeto, as considerações finais e as referências bibliográficas.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Pesquisadores como Antunes (2003), Kleiman (2002), Maracuschi (2008) e outros,


refletem sobre o texto e afirmam que é preciso eleger os gêneros textuais como objeto de
ensino-aprendizagem, em uma perspectiva mais ampla de ação e circulação. A partir disso,
entendemos como uma alternativa possível no ensino, priorizar a leitura, a compreensão e a
produção de texto. Foi com esse apoio teórico que iniciamos o planejamento das oficinas
ministradas durante o desenvolvimento do PIBID.
Tendo o texto como base das oficinas, diferenciamos, juntamente aos alunos,
questões referentes à tipologia textual e gênero textual. Isso, de modo que os alunos
percebessem que os gêneros fazem parte da vida cotidiana deles e que todos os gêneros
abarcam algum tipo textual ou mais de um. Desse modo, a leitura e a produção escrita de
diferentes gêneros tornaram-se uma alternativa para o desenvolvimento da leitura,
compreensão e interpretação, além da produção de textos em diferentes linguagens e
formatos. Percebemos que os gêneros textuais apresentam-se em diversos formatos, a fim
de desempenhar várias funções sociais, isso porque, segundo Marcuschi (2008, p. 150)
“cada gênero textual tem um propósito bastante claro que o determina e lhe dá uma esfera
de circulação”. Reforçamos, portanto, suas propriedades sociocomunicativas de
II

intencionalidade e de funcionalidade. Notamos, com a definição de Marcuschi, a importância


do ato de ler, pois o leitor necessita de uma compreensão correta do texto (gênero) para
entender seus objetivos e intenções.
Quanto à diferença de gênero e tipo textual, recorremos novamente a Marcuschi
(2008). Para o linguista, o tipo textual caracteriza-se como uma sequência linguística
(narração, argumentação, exposição, descrição, injunção). Já o gênero textual é
compreendido como a materialização do texto em situações comunicativas recorrentes,
sendo estes infinitos, orais ou escritos. Compreendemos assim, a importância do estudo da
linguagem/comunicação por meio dos gêneros textuais na sociedade letrada, pois “a
comunicação verbal só é possível por algum gênero textual” (MARCUSCHI, 2008, p.154).
A partir do exposto acima, considera-se que o ensino de língua(gem) deve visar ao
desenvolvimento da capacidade produtiva e comunicativa do aluno, explorando sua
capacidade e conscientizando-o de que a língua é um instrumento social. Assim uma forma
de realizar uma atividade linguística e também social, optamos, em conjunto com as
opiniões dos alunos, por elaborar um Jornal Mural.

2.1 A produção de um Jornal Mural


A leitura diária de um jornal, seja impresso, online ou em mural, desenvolve a
capacidade interpretativa do aluno em diferentes gêneros sociais e também, de certa forma,
sua inserção na sociedade em que vive. Isso, porque a partir da leitura de, charges,
reportagens, notícias e artigos a respeito de acontecimentos de seu bairro na sua cidade, o
aluno adquire informações, argumentos e conhecimento sobre tais fatos e é capaz de criar
sua própria opinião sobre eles. Desse modo, aprende a ser crítico diante desses
acontecimentos, podendo argumentar com relevância e conhecimento perante diferentes
situações comunicativas.
Desenvolver a produção de um jornal na escola, com textos de gêneros jornalísticos,
reais, colabora com essa construção de opinião e leitura crítica do aluno, pois, seus textos
terão leitores “reais” que, certamente, desejam ler algo pertinente e atrativo.
De acordo com Faria e Zanchetta (2002, p.142), com a produção de um jornal na
escola, “os alunos terão no jornal escolar um espaço para a comunicação e a expressão dos
assuntos que os interessam”, despertando assim suas curiosidades, senso de opinião e a
liberação de sua palavra. A respeito do jornal mural, os autores afirmam que ele só receberá
prestígio por parte dos alunos se
(a) efetivamente for um espaço de produção e circulação de textos e
interesse comum; (b) estiver garantindo o espaço na sala de aula para a
discussão e opção dos grupos, transformando-se tais opções em subsídio
para o trabalho pedagógico do professor; (c) tiver como avaliadores não
II

apenas o professor, mas também os leitores para os quais o JM foi


produzido (FARIA; ZANCHETTA, 2002, p.154).

A partir desses três itens elencados na citação acima, organizamos o trabalho, para
que o seu desenvolvimento fosse pleno e sólido. Além disso, Faria (1996, p.11) salienta que
a leitura do jornal, quando bem conduzida, presta o serviço para formação do cidadão, “ela
prepara leitores experientes e críticos para desempenhar bem seu papel na sociedade” e na
formação geral do estudante “aumenta sua cultura e desenvolve suas capacidades
intelectuais”.

2.1 Letramento midiático

Com base em um trabalho envolvendo a leitura e produção de gêneros textuais


jornalísticos, sejam tais textos on line ou impressos, tendo como objetivo incentivar uma
interpretação e compreensão reflexiva e crítica da realidade, ocorre o letramento midiático.
Segundo Amelia Hamze “letramento é descobrir a si mesmo pela leitura e pela escrita, é
entender quem a gente é e descobrir quem podemos ser”.
Essa situação é possível porque o letramento permite uma relação diferenciada do
indivíduo com a sociedade, permitindo-lhe uma conexão mais profunda com seu próprio
contexto sócio-cultural. Com isso, entendemos que letrado é aquele que além de saber ler e
escrever responde às demandas sociais da leitura e da escrita. E letramento midiático tem
como base gêneros textuais publicados na mídias, ou seja, em meios de comunicação, o
jornal, por exemplo.
Soares (1998, p. 47) explica que o letramento é o “estado ou condição de quem não
apenas sabe ler ou escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que visam a escrita”.
Isso significa, que o indíviduo deve ser preparado para aprender a ler, interpretar e dialogar
com o texto, a utilizá-lo em sua vida, como, por exemplo, assitir a um notíciario, fazer uma
lista de compras, responder a um msn, pôr em prática uma receita culinária que está numa
revista, etc..
Nesse sentido, vale ressaltar a importância de aliar a leitura de vários gêneros
textuais veiculados nos jornais e, posteriormente, solicitar aos discentes produções textuais
com base no que foi lido e estudado, para que a prática de letramento seja efetiva.

3. METODOLOGIA

Objetivamos com a atividade de produzir o jornal mural aprimorar a leitura e a escrita


de diferentes gêneros textuais jornalísticos; desenvolver a criatividade, o conhecimento e o
II

senso crítico; além de divulgar o trabalho dos alunos atendidos pelo PIBID para toda escola
e comunidade.
Dessa forma, a metodologia da atividade consistiu basicamente em três etapas:
primeiramente, uma pesquisa exploratória, com o reconhecimento das partes de um jornal e
as características dos gêneros textuais expostos nele; em um segundo momento, a
produção de textos para publicar no jornal (com fatos verídicos da comunidade escolar, do
bairro ou da cidade); e por fim, a publicação dos textos dos alunos no jornal mural no hall da
escola. Com o jornal mural afixado na parede de entrada da escola, tornaram-se leitores
dele, os professores, funcionários, alunos, enfim, toda comunidade escolar. Assim,
entendemos o trabalho, como uma pesquisa-ação, pois tivemos a participação dos alunos e
professores envolvidos na pesquisa, trabalhando efetivamente como pesquisadores e
depois, a ação de construção conjunta do jornal mural.
Na primeira parte da atividade, levamos aos alunos três jornais de maior circulação
da cidade para leitura, análise, conhecimento, distinção e pesquisa, para que, no decorrer
das oficinas, eles se tornassem os ‘redatores’ do Jornal Mural.
Na sequência, em cada oficina, desenvolvemos uma discussão teórica sobre um
gênero textual presente no jornal, caracterizando-o, explicando sua função social, num
entendimento conjunto com os alunos. Após essa etapa, eles produziam o texto. Alguns
gêneros foram produzidos em sala de aula, outros que exigiram mais tempo e pesquisa,
como a reportagem, foram elaborados fora do período escolar e finalizados durante a oficina
seguinte, com a supervisão dos pibidianos.
Os gêneros estudados e produzidos pelos alunos foram: crônica, classificados,
charge, carta do leitor, reportagem, entrevista (junto à reportagem), artigo de opinião,
horóscopo e notícia (em anexo alguns dos textos). Todos os gêneros produzidos nas
oficinas foram publicados no jornal quinzenalmente.

4. RESULTADOS

O Jornal Mural Democráticos ficou exposto no hall de entrada da escola, o que


proporcionou a leitura por parte de todos os professores, funcionários e alunos da escola.
Esse fato resultou na satisfação dos alunos em terem seus textos lidos pela comunidade
escolar, bem como na melhora da produção textual dos gêneros a cada semana de oficina.
Os textos dos alunos eram trocados no mural, a casa duas semanas, a fim de que todos
pudessem publicar. Além disso, existia uma variedade nos temas propostos.
Com a proposta do Jornal mural, notamos a melhora do desenvolvimento
argumentativo dos alunos, tantos nas produções escritas, como nas orais, em debates e em
II

conversas a respeito do planejamento da publicação. Também acreditamos ter instigado o


gosto pela informação e a compreensão da sociedade em que vivemos através da leitura do
jornal. Do mesmo modo, cremos que esses alunos perpassaram essas atividades aos
membros de suas famílias, pois, sempre que se descobre algo bom e envolvente, a reação
é anunciar e propagar.
Enfim, percebemos que atividades com gêneros jornalísticos nas oficinas de leitura e
produção textual do PIBID revelaram-se promissoras, com possibilidades variadas a serem
desenvolvidas com os alunos como, por exemplo: apresentar as diferentes linguagens e
seus níveis, realizar interpretação e produção textual, atividades com gêneros orais,
pesquisa, etc., possibilitando às bolsistas, futuras professoras, trabalharem de forma
interativa com seus alunos. Estes, por apreciar o trabalho, escreveram bons textos e
desenvolveram sua capacidade comunicativa.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no referencial teórico e nos resultados satisfatórios da atividade,


percebemos que é possível realizar um trabalho para desenvolver o letramento midiático, ou
seja, além da possibilidade de uma discussão efetiva dos alunos em relação a assuntos com
textos do cotidiano, essa discussão pode e deve acontecer a partir dos meios de
comunicação, como o jornal, que são formadores de opiniões.
Como vimos, o ensino de linguagem pressupõe leitura e produção textual com base
numa interpretação e posicionamento crítico, num entendimento das funções sociais da vida
em grupo, o que nada mais é do que uma necessidade de nosso tempo, pois “a sociedade
da informação em que vivemos exige uma educação cada vez mais pautada em seus
instrumentos – os meios de comunicação – para a efetiva construção da cidadania”
(Dolabella, s.d., online).
Assim, acreditamos que além de os gêneros jornalísticos estarem muito próximos
dos alunos, tais textos também refletem o momento atual da sociedade, o que faz do
indivíduo, além de aluno, tornar-se cidadão, pois tem conhecimento da realidade e se torna
capaz de opinar sobre. Além disso, esses gêneros apresentam uma diversidade de tipo
textual que faz com que o leitor amplie sua concepção de leitura e consequentemente sua
linguagem oral e escrita.
E, já que a leitura deve ser um processo ativo e interativo, a escolha de trabalhar
com o jornal - mídia impressa - em sala de aula traz diferentes benefícios aos alunos e
possibilita, no decorrer do processo de ensino-aprendizagem, a formação de leitores
questionadores que se tornam responsáveis pela construção de sua cidadania.
II

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo, Ed. Parábola,
2003.
DOLABELLA, Ana rosa Vidigal. Jornal, Leitura e Escola - uma experiência de extensão
em educação para a mídia1.
FARIA, Maria Alice de Oliveira. Como usar o jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto,
1996.
FARIA, Maria Alice; ZANCHETTA, Juvenal. Para ler e fazer o jornal na sala de aula. São
Paulo: Contexto, 2002.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. 9.ed. Campinas-SP: Pontes, 2002.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São
Paulo: Parábola Editorial, 2008.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In:BEZERRA,
Maria Auxiliadora; DIONÍSIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel (orgs). Gêneros
Textuais e ensino. 5.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

1
Este texto foi parcialmente apresentado no XVI COLE – Congresso de Leitura do Brasil em
Campinas/ Unicamp em julho de 2007.

Você também pode gostar