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4. Predomínio de neutrófilos na fase inicial, nas primeiras 24 horas, nas inflamações desencadeadas pela
maioria dos agentes flogógenos*, pela ação de citocinas e quimiocinas liberadas por macrófagos e
células dendríticas residentes, ativadas, nos tecidos com lesão. Depois das 48 horas, os monócitos,
ativados como macrófagos M1 (pró-inflamatórios), passam a ser os dominantes no sítio inflamatório.
Nas inflamações decorrentes de infecções virais ou por micobactérias, por exemplo, predominam os
linfócitos, plasmócitos, monócitos e macrófagos. Os neutrófilos também podem estar presentes nas
inflamações crônicas de longa duração como, por exemplo, na osteomielite bacteriana crônica, em
pneumonites crônicas, etc. Nas inflamações relacionadas com reações de hipersensibilidade
predominam os eosinófilos, mastócitos e basófilos, como, por exemplo, na asma brônquica, dermatite
atópica, dermatite de contato alérgica, reações de anafilaxia, etc. Os eosinófilos estão também
presentes em parasitoses (helmintíases) e os basófilos nos sítios de picada na pele por ácaros. Nos
tecidos com necrose, após cerca de 48 horas, o infiltrado infamatório com neutrófilos é substituído por
monócitos e macrófagos.
*O flogógeno ou agente inflamatório age sobre os tecidos e induz a liberação de mediadores químicos que ao agirem
nos receptores existentes nas células da micro-circulação e nos leucócitos, produzem alterações hemodinâmicas,
exsudação de plasma e de células sangüíneas para o interstício.
• Vasodilatações arteriolar e capilar, associadas com o aumento da velocidade do fluxo sanguíneo regional.
• Aumento da permeabilidade vascular, que, em conjunto com a redução da velocidade do fluxo sanguíneo,
favorecem, respectivamente, a exsudação e a estas
e, promovendo o edema intersticial e a redução acentuada ou a parada do fluxo sanguíneo local.
• Marginação leucocitária, onde os leucócitos ativados entrando em contato com o endotélio, também ativado,
são estimulados a saírem da luz vascular para o interstício tecidual, caracterizando a diapedese
(predominantemente na região venular).
• Rubor = Vasodilatação +
Os Fenômenos da Inflamação
Fenômenos Irritativos
São o conjunto de modificações desencadeadas no organismo pelo agente inflamatório, flogógeno (infeccioso,
parasitário, físico, químico, etc), com a participação de inúmeras moléculas sinalizadoras de agressão, as
alarminas, e a ativação do sistema proteolítico de contato (proteases do plasma dos sitemas da coagulação,
da fibrinólise/plasminogênio, das cininas e do complemento), resultando na liberação de mediadores químicos
responsáveis pelos eventos, fenômenos, do processo da inflamação. O organismo possui em seus tecidos,
inervação, microcirculação, células parenquimais e estromais, que, agredidos, reagem com a liberação de
mediadores químicos de ação imediata, surgindo modificações locais adaptativas, que desencadeiam o início
dos fenômenos vasculares e exsudativos. Os mediadores químicos tardios atuam mantendo os fenômenos
vasculares e exsudativos, e contribuem para os fenômenos produtivos, resolutivos e reparativos subsequentes.
Fenômenos Vasculares
São modificações hemodinâmicas e reológicas (relacionadas com as propriedades físicas, mecânicas, do fluxo
do sangue nos vasos) na microcirculação desencadeadas pelos mediadores químicos liberados no curso dos
fenômenos irritativos e, menos frequentemente, por ação direta do agente flogógeno. Compreendem:
Fenômenos Exsudativos
Caracterizam-se por:
1. Exsudação plasmática por aumento da permeabilidade vascular, predominantemente nas vênulas,
levando ao edema inflamatório. As proteínas plasmáticas exsudadas promovem aumento da pressão
oncótica (coloidosmótica) intersticial, o que favorece o edema inflamatório;
2. Exsudação de leucócitos, que realizam a fagocitose e liberam produtos, mediadores químicos, que
modulam e amplificam a reação inflamatória e, ou com ação citotóxica.
Fenômenos Produtivos
Usualmente estão relacionados com os processos inflamatórios crônicos, devido à não eliminação do agente
flogógeno. Associam-se com a persistência dos fenômenos vasculares e exsudativos ao lado dos reparativos.
Constituem o conjunto de modificações morfológicas e funcionais das células inflamatórias (linfócitos;
monócitos e macrófagos; células dendríticas; mastócitos; eosinófilos; células endoteliais, etc).
Fenômenos Resolutivos
Envolvem complexos mecanismos anti-inflamatórios, como:
1. Aumento da expressão de receptores indutores de sinais anti-inflamatórios nas células (inibição de adesão,
quimiotaxia, migração, ações citoprotetora, e de antiapoptose das células parenquimais e estromais),
2. Síntese e liberação de mediadores anti-inflamatórios (lipoxinas, resolvinas, protetinas, PGJ2, IL-10, IL-4,
TGF-β),
3. Modificações funcionais de fagócitos e linfócitos (ação supressora),
4. Remoção de células do exsudato: promoção de apoptose dos leucócitos e fagocitose pelos macrófagos,
5. Ação sistêmica no fígado (proteínas de fase aguda), no Sistema Nervoso Central, no Sistema Endócrino
(eixo hipotálamo-hipófise-adrenal-tireoide) e no Sistema Nervoso Autônomo (Simpático e Parassimpático),
com manifestações clínicas ou subclínicas, por meio de sinais (objetivos) e sintomas (subjetivos).
Fenômenos Reparativos
Estão relacionados com o declínio do processo inflamatório agudo (ou a cessação do crônico) na medida em
que o agente flogógeno vai sendo eliminado. Há reabsorção do exsudato, que depende da apoptose e da
fagocitose das células inflamatórias, e do retorno de alguns fagócitos para as circulações linfática e sanguínea.
Simultaneamente inicia-se o processo de reparo tecidual por regeneração, ou por cicatrização, a qual envolve
a neoformação conjuntivo-vascular. Participam quimiocinas, citocinas e fatores de crescimento liberados pelas
células inflamatórias. Leia abaixo sobre Reparo Tecidual.
O Sistema do Complemento:
Constituído por proteínas do plasma identificadas como C1 a C9, cujos vários de seus produtos de clivagem,
em suas ativações, promovem:
1. aumento da permeabilidade vascular,
2. vasodilatação,
3. quimiotaxia e recrutamento de leucóctios,
4. opsonização (C3b cobrindo a parede celular de micro-organismos e ligando-se a receptores de membrana
em leucócitos, facilita a fagocitose) e
5. reações de anafilaxia (hipersensibilidade imediata) (anafilatoxinas: C5a e C3a).
Assim, seus produtos são mediadores nas respostas inflamatória e imunológicas, humoral e celular. Desses
modos, participam na identificação, processamento, transporte e retenção de antígenos. Promovem a ativação
celular e a indução da liberação de moléculas coestimuladoras, citocinas, e outros mediadores da resposta
imunológica. Favorecem a morte ou eliminação de agentes infecciosos, via opsonização, e lise celulares
(formação do complexo de ataque à membrana-MAC). Auxiliam na remoção de antígenos pela formação de
complexos antígeno-anticorpo.
As Citocinas e Quimiocinas
As citocinas são proteínas produzidas por células do sistema imunológico, parenquimais, endoteliais e
estromais, que regulam as respostas imunológicas [inata e adaptativa (humoral e celular)], modulam as
funções de inúmeras células, com ações pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, etc.
As quimiocinas são peptídeos de baixo peso molecular, que promovem a ativação e a diferenciação celulares
e controlam o tráfego das células (quimiotaxia), exercendo atração celular. São caracterizadas por quatro
grandes grupos, segundo os resíduos de cisteína na extremidade N (NH2, aminoterminal) do peptídeo, a saber:
CXC (com duas cisteínas separadas por um outro aminoácido qualquer);
CC (com duas cisteínas contíguas);
C(γ) (com uma cisteína) e
C3XC(δ) (com duas cisteínas separadas por 3 outros quaisquer aminoácidos).
As quimiocinas podem ser induzidas ao serem secretadas após agressões, promovendo a ativação, a
diferenciação e o tráfego dos leucócitos na inflamação e, ou ter função homeostática, ao regularem a migração
das células nos órgãos linfoides. Também atuam na migração e diferenciação celulares durante a
embriogênese, na quimiotaxia e diferenciação de células neoplásicas malignas, e na regulação da angiogênese.
Considerando-se o processo inflamatório e a resposta imunológica, citamos, a seguir, algumas citocinas e
quimiocinas:
- Estimulam a hematopoese
Neuropeptídeos
Os neuropeptídeos são secretados por terminações nervosas e leucócitos, iniciando e regulando a resposta
inflamatória. Como exemplos, a substância P promove vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e
dor. As neurocininas A e B, promovem vasodilatação e broncoconstrição. O peptídeo relacionado ao gene da
calcitonina exerce efeitos contrários aos da substância P e da histamina e induz os mastócitos a produzirem a
IL-10, etc.
2. Transcitose endotelial
3. Lesão direta das células endoteliais (necrose ou destacamento endotelial)
A Evolução da Inflamação
Os processos inflamatórios agudos, especialmente nos tecidos lábeis e estáveis, quando os agentes
flogógenos, desencadeadores de lesão tecidual foram eliminados, não tendo ocorrido muita lesão, evoluem
para cura, com resolução completa, com regeneração e pouca fibrose, ou o processo de reparo, cura, pode
associar-se com a formação de tecido conjuntivo fibroso (cicatriz), cistos, calcificações, etc, devido à
ocorrência de complicações locais, como abscessos, necroses e degenerações. Porém, quando o agente,
endógeno ou exógeno, que desencadeia a lesão celular nos tecidos não pôde ser eliminado, a reação
inflamatória persiste, tornando-se crônica, até que a causa da inflamação seja eliminada, permitindo o
estabelecimento do reparo tecidual, ou seja, a cura.
A reação inflamatória crônica é reação tecidual complexa com duração prolongada (semanas, meses), onde
inflamação ativa, processo de reparo e a destruição tissulares estão presentes.
Pode ser desencadeada por: 1. Infecções e parasitoses persistentes. 2. Exposição prolongada a agentes tóxicos
exógenos e endógenos (estresse metabólico). 3. Autoimunidade. 4. Corpos estranhos, etc.
Os Macrófagos
Os monócitos estimulados por GM-CSF, LPS, IFNγ e produtos bacterianos diferenciam-se em Macrófagos
M1, que têm ações pró-inflamatórias com a liberação de IL-1 (3+), IL-12 (3+), IL-23 (3+), TNF (3+), IL-10
(+/-), CXCL-9 (quimiocina), radicais livres do NO e O2, metaloproteinases, etc, e os estimulados por M-CSF,
IL-4, IL-10, IL-13, IL-21, lipoxinas, resolvinas, corticosteroides, PGE2, vitamina D3 e CCR4, etc,
diferenciam-se em Macrófagos M2, que liberam citocinas anti-inflamatórias, fazem a remoção de restos
apoptóticos e celulares, e estímulam o reparo e a angiogênese por meio da liberação de citocinas, quimiocinas
e fatores de crescimento.
As Células Dendríticas
Originam-se de precursores na medula óssea e realizam a fagocitose, o processamento e a apresentação de
antígenos (micro-organismos e outros) aos linfóctios TCD4+, via Complexo Principal de
Histocompatibilidade (MHC) de classe II e aos linfócitos T CD8+, via MHC de classe I, nos órgãos linfoides
regionais, para onde migraram a partir de seus sítios de origem na pele, mucosas, e no interstício dos tecidos
de muitos órgãos. Nos folículos linfoides as células dendríticas também apresentam antígenos aos linfócitos
B, favorecendo maior afinidade dos anticorpos produzidos com os antígenos apresentados. Possuem
receptores para a porção Fc de IgG e para C3b, podendo, assim, capturar antígenos ligados com anticorpos e
proteínas do complemento. Na pele foram descritas as células dendríticas de Langerhans presentes na
epiderme.
O Reparo Tecidual
O reparo dos tecidos depende da reação inflamatória, sendo caraterizado por regeneração das estruturas
celulares e extracelulares, ou por cicatrização, sendo substituídos os tecidos lesados por tecido conjuntivo
fibroso. Leia abaixo sobre Reparo Tecidual.
Inflamação Granulomatosa
A reação inflamatória crônica granulomatosa é secundária aos agentes infecciosos persistentes (granulomas
imunogênicos) e aos não infecciosos particulados inertes ou de difícil degradação (granulomas não
imunogênicos). Mostra predomínio de macrófagos ativados e modificados [células epitelioides, ou
xantomatosas (ricas em lipoproteínas no citoplasma), e células gigantes multinucleadas tipo Corpo Estranho,
com núcleos dispostos aleatoriamente, e tipo Langhans, com núcleos dispostos na periferia da célula,
caracterizando a disposição "em ferradura"], ou de macrófagos não epitelioides, com citoplasma vacuolado,
que se organizam em agregados, associados, variavelmente, com outras células na periferia: linfócitos,
plasmócitos, ou eosinófilos, segundo o agente etiológico. Por exemplo, na Esquistossomose associam-se
muitos eosinófilos; na Paracoccidioidomicose e na Esporotricose os granulomas podem associar-se com
neutrófilos, constituindo microabscessos centrais, o que também é observado na Doença da Arranhadura do
Gato (infecção pela bactéria Gram negativa, Bartonella henselae) e na Doença Granulomatosa Crônica [uma
imunodeficiência primária (autossômica recessiva) caracterizada por infecções graves de repetição produzidas
por bactérias e fungos, com a formação de granulomas, associados à incapacidade dos fagócitos (neutrófilos,
eosinófilos, monócitos e macrófagos) de gerarem compostos reativos do oxigênio, necessários para a morte
intracelular dos microorganismos fagocitados]; na Sífilis terciária, associa-se grande número de plasmócitos;
na Hanseníase Tuberculoide ao granuloma associam-se muitos linfócitos na periferia. As células epitelioides
não realizam fagocitose, porém, têm função secretória e fazem pinocitose e transporte de vesículas endocíticas
no citoplasma. As células gigantes multinucleadas resultam da fusão de macrófagos, com atividade
fagocitária.
Os granulomas podem sofrer necrose secundária dos tipos: caseosa [Tuberculose (infecção pela
bactéria Mycobacterium tuberculosis); Histoplasmose (infecção pelo fungo Histoplasma capsulatum);
Paracoccidioidomicose (infecção pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis) e Tularemia (infecção pela
bactéria Francisella tularensis)], a qual pode evoluir para necrose de liquefação; gomosa (Sífilis terciária,
infecção pela bactéria Treponema pallidum); ou ter aspecto finamente granular e eosinofílico ou
acidófilo (Esquistossomose aguda, parasitose pelo trematódeo Schistosoma mansoni).
Os granulomas imunogênicos costumam apresentar muitos macrófagos modificados em células epitelioides,
e são dependentes de linfócitos T CD4+ auxiliares, com diferenciação TH1 (envolvendo a participação das
citocinas IFN-γ e IL-12 e das quimiocinas do grupo CXC), ou diferenciação TH2 (envolvendo a participação
das citocinas IL-4, IL-10, IL-13 e das quimiocinas do grupo CC), as quais influenciam nos aspectos
morfológicos e evolutivos do granuloma.
Os granulomas não imunogênicos apresentam agregado de macrófagos, com células gigantes multinucleadas,
poucas células epitelioides, menos linfócitos associados, e tendem a evoluir para fibrose cicatricial.
A reação granulomatosa pode ser, por vezes, em lençol, difusa, como, por exemplo, a observada na Hanseníase
Lepromatosa (Virchowiana), infecção pelo Mycobacterium leprae, caracterizada por grande número de
macrófagos vacuolados, cheios de micobactérias no citoplasma, e poucos linfócitos associados, e na
Leishmaniose tegumentar difusa, com macrófagos agrupados e repletos das formas em amastigota do
protozoário Leishmania brasiliensis, ou L. chafasi, L. mexicana, L. amazonensis, entre outras.
Os granulomas são estruturas organoides, inflamatórias, dinâmicas, que apresentam uma evolução, em suas
formas, ou seja, em seus constituintes celulares e da matriz extracelular, com início, meio e fim, terminando
como um nódulo fibrótico, ou calcificado (calcificação distrófica), no caso de sofrer necrose secundária, assim
como, por exemplo, podem dar origem a cavidades durante os processos resolutivos e reparativos, após ocorrer
a fusão de inúmeros granulomas com necrose, que tornando-se confluente e liquefazendo-se, pode ser
absorvida pelo organismo ou ser drenada, como material puriforme, para o exterior (e.g., cavernas pulmonares
na Tuberculose).
Doença de Crohn;
Doença Granulomatosa Crônica;
Sarcoidose;
Cirrose biliar primária;
Outras
Granulomatose de Wegener e outras vasculites;
Doenças
Câncer (Linfoma; Seminoma);
Viroses (Tireoidite granulomatosa de "de
Quervain"); Etc.
REFERÊNCIA:
http://patologia.medicina.ufrj.br/index.php/histopatologia-geral/396-anotacoes-teoricas/anotacoes-sobre-
inflamacao