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A reação, ou processo inflamatório (inflamação, do Latim, inflammo, pp.

- atus, de in, em + flamma, chama),


é desencadeada nos tecidos vascularizados sempre que há dano celular, e está intimamente associada com o
processo de reparo tecidual. Usualmente os agentes flogógenos desencadeadores de lesão celular promovem
os fenômenos irritativos nos tecidos, por meio da liberação, nos mesmos, de moléculas sinalizadoras de
agressão (alarminas), provenientes do agente flogógeno e próprias do tecido, que, por seu lado, levam ao
surgimento dos fenômenos alterativos, que, em sentido amplo, compreendem as alterações teciduais
vasculares e exsudativas (fenômenos vasculares e exsudativos), as degenerações e as necroses, e os fenômenos
produtivos, resolutivos e reparativos. Em determinadas condições a reação inflamatória pode intensificar os
danos teciduais, deixando sequelas, ou levar à morte, pelo grave comprometimento da função de órgãos vitais
(encéfalo, coração, pulmões, rins) ou pelas repercussões sistêmicas, como o estado de choque, caracterizado
pela insuficiência circulatória sistêmica aguda em manter a pressão arterial suficiente para a perfusão
sanguínea dos órgãos vitais, levando à hipóxia generalizada.

As Características da Inflamação Aguda


1. Curta duração (minutos, horas, poucos dias).

2. Exsudação de fluido e proteínas do plasma (>3g%) para o interstício tissular.

3. Emigração leucocitária dos vasos para o interstício.

4. Predomínio de neutrófilos na fase inicial, nas primeiras 24 horas, nas inflamações desencadeadas pela
maioria dos agentes flogógenos*, pela ação de citocinas e quimiocinas liberadas por macrófagos e
células dendríticas residentes, ativadas, nos tecidos com lesão. Depois das 48 horas, os monócitos,
ativados como macrófagos M1 (pró-inflamatórios), passam a ser os dominantes no sítio inflamatório.
Nas inflamações decorrentes de infecções virais ou por micobactérias, por exemplo, predominam os
linfócitos, plasmócitos, monócitos e macrófagos. Os neutrófilos também podem estar presentes nas
inflamações crônicas de longa duração como, por exemplo, na osteomielite bacteriana crônica, em
pneumonites crônicas, etc. Nas inflamações relacionadas com reações de hipersensibilidade
predominam os eosinófilos, mastócitos e basófilos, como, por exemplo, na asma brônquica, dermatite
atópica, dermatite de contato alérgica, reações de anafilaxia, etc. Os eosinófilos estão também
presentes em parasitoses (helmintíases) e os basófilos nos sítios de picada na pele por ácaros. Nos
tecidos com necrose, após cerca de 48 horas, o infiltrado infamatório com neutrófilos é substituído por
monócitos e macrófagos.

*O flogógeno ou agente inflamatório age sobre os tecidos e induz a liberação de mediadores químicos que ao agirem
nos receptores existentes nas células da micro-circulação e nos leucócitos, produzem alterações hemodinâmicas,
exsudação de plasma e de células sangüíneas para o interstício.

Os Eventos da Inflamação Aguda


• Vasoconstrição arteriolar passageira.

• Vasodilatações arteriolar e capilar, associadas com o aumento da velocidade do fluxo sanguíneo regional.

• Aumento da permeabilidade vascular, que, em conjunto com a redução da velocidade do fluxo sanguíneo,
favorecem, respectivamente, a exsudação e a estas
e, promovendo o edema intersticial e a redução acentuada ou a parada do fluxo sanguíneo local.
• Marginação leucocitária, onde os leucócitos ativados entrando em contato com o endotélio, também ativado,
são estimulados a saírem da luz vascular para o interstício tecidual, caracterizando a diapedese
(predominantemente na região venular).

Os Cinco Sinais Clássicos, Cardinais, da Inflamação Aguda


• Tumor = Edema & Infiltração leucocitária +

• Rubor = Vasodilatação +

• Calor = Aumento da velocidade do fluxo sanguíneo +

• Dor = Mediadores químicos


____________________________________________

• = Comprometimento da função = Fenômenos alterativos + Repercussões fisiopatológicas, teciduais, locais

Os Fenômenos da Inflamação

Fenômenos Irritativos
São o conjunto de modificações desencadeadas no organismo pelo agente inflamatório, flogógeno (infeccioso,
parasitário, físico, químico, etc), com a participação de inúmeras moléculas sinalizadoras de agressão, as
alarminas, e a ativação do sistema proteolítico de contato (proteases do plasma dos sitemas da coagulação,
da fibrinólise/plasminogênio, das cininas e do complemento), resultando na liberação de mediadores químicos
responsáveis pelos eventos, fenômenos, do processo da inflamação. O organismo possui em seus tecidos,
inervação, microcirculação, células parenquimais e estromais, que, agredidos, reagem com a liberação de
mediadores químicos de ação imediata, surgindo modificações locais adaptativas, que desencadeiam o início
dos fenômenos vasculares e exsudativos. Os mediadores químicos tardios atuam mantendo os fenômenos
vasculares e exsudativos, e contribuem para os fenômenos produtivos, resolutivos e reparativos subsequentes.

As Moléculas Sinalizadoras de Agressão (1)

Alarminas derivadas de patógenos:


1. Vírus (RNA, DNA);
2. Bactérias (lipopeptídeos, porinas, peptidoglicanas, glicolipídeos, lipopolissacarídeos, flagelina);
3. Fungos (poliglicanas; beta-glicana, polissacarídeo de monômeros de D-glicose unidos por ligações β
glicosídicas);
4. Protozoários (glicoproteínas de membrana);
5. Larvas de helmintos (proteases);
6. Ácaros (alergenos);

Alarminas derivadas de dano tecidual:


1. Adenosina Trifosfato, ATP, (ativa genes pró-inflamatórios);
2. ADP e Adenosina (ativam genes anti-inflamatórios);
3. Uratos e fosfatos (ativação da caspase 1; síntese de IL-1, IL-18);
4. HMGB1; Anfoterina [proteína nuclear não-histona liberada por necrose ou excreção: ativação de genes pró-
inflamatórios (TNFα, IL-1, IL-6, IL-18) e ação de quimiotaxia];
5. Defensinas e catelicidinas (neutrófilos, células de Paneth, epitélios em geral: ação microbicida /
quimiotática)
6. Proteases (trombina, plasmina, triptase: mediadores pró-inflamatórios; dor);
7. Calgranulinas (proteína S100) (macrófagos, endotélio = aumento permeabilidade / coagulação);
8. Proteínas de choque térmico (proteínas de estresse: pró-inflamatórias, antiapoptose);
9. Lipocortina A1 (anexina A1) (inibe a fosfolipase A2, não sendo liberado o ácido araquidônico do
fosfolipídeo de membrana; ação anti-inflamatória);
10. Produtos de quebra de componentes da Matriz Extracelular (MEC) (ação pró-inflamatória).
HMGB1 = High mobility group box 1. Proteína nuclear que interage com os nucleossomos e o DNA,
regulando a transcrição. É secretada por monócitos, macrófagos e células dendríticas, atuando como citocina
mediadora da inflamação. Está também presente na membrana citoplasmática de fibras musculares lisas e
neurônios. É também chamada anfoterina.

Fenômenos Vasculares
São modificações hemodinâmicas e reológicas (relacionadas com as propriedades físicas, mecânicas, do fluxo
do sangue nos vasos) na microcirculação desencadeadas pelos mediadores químicos liberados no curso dos
fenômenos irritativos e, menos frequentemente, por ação direta do agente flogógeno. Compreendem:

1. Vasoconstrição arteriolar passageira, imediata, pela ação de fibras nervosas vasoconstritoras.


2. Vasodilatação arteriolar, promovendo hiperemia ativa e fluxo sanguíneo rápido, transitórios.
3. Vasodilatação de vênulas menores e pouca vasoconstrição das maiores, favorecendo o aumento da pressão
hidrostática na microcirculação.
4. Aumento da permeabilidade vascular, promovendo exsudação e hemoconcentração, associada com
hiperemia passiva (congestão) e fluxo sanguíneo alentecido, até estase local, a qual favorece dano endotelial
e trombose.

Fenômenos Exsudativos
Caracterizam-se por:
1. Exsudação plasmática por aumento da permeabilidade vascular, predominantemente nas vênulas,
levando ao edema inflamatório. As proteínas plasmáticas exsudadas promovem aumento da pressão
oncótica (coloidosmótica) intersticial, o que favorece o edema inflamatório;
2. Exsudação de leucócitos, que realizam a fagocitose e liberam produtos, mediadores químicos, que
modulam e amplificam a reação inflamatória e, ou com ação citotóxica.

Importante = Os fenômenos vasculares e exsudativos são essenciais, primordiais, centrais, no processo


inflamatório.
Fenômenos Alterativos
Como dito, em sentido amplo, compreendem as alterações vasculares, exsudativas, as degenerações e necroses
teciduais desencadeadas, direta- ou indiretamente, pelo agente inflamatório, os quais influenciam nos
fenômenos produtivos, resolutivos e reparativos. As degenerações e necroses constituem os fenômenos
alterativos de modo mais específico e surgem no início ou durante o processo inflamatório, como consequência
da ação das células inflamatórias e de mediadores químicos, associados ou não com as respostas imunológicas,
humoral e celular. Os fenômenos alterativos teciduais, mais especificamente, podem ser exemplificados por
vários padrões morfológicos, a saber:

• Seroso (e.g., dermatite vesicular herpética);


• Fibrinoso / Fibrinopurulento (e.g., pericardite fibrinosa / apendicite aguda fibrinopurulenta);
• Purulento / Supurado (e.g.,meningite purulenta); Abscedido (abscesso) (e.g.,broncopneumonia com
abscessos; fleimão);
• Pseudomembranoso (em mucosas) (e.g., bronquite diftérica; colite pseudomembranosa);
• Ulcerado (na pele e mucosas) (e.g. gastrite aguda ulcerada; estomatite herpética);
• Necrosante (e.g., necrose lítica hepática amebiana; bronquiolite necrosante);
• Outros, mistos (serofibrinoso, sero-hemorrágico, etc).

Fenômenos Produtivos
Usualmente estão relacionados com os processos inflamatórios crônicos, devido à não eliminação do agente
flogógeno. Associam-se com a persistência dos fenômenos vasculares e exsudativos ao lado dos reparativos.
Constituem o conjunto de modificações morfológicas e funcionais das células inflamatórias (linfócitos;
monócitos e macrófagos; células dendríticas; mastócitos; eosinófilos; células endoteliais, etc).

Fenômenos Resolutivos
Envolvem complexos mecanismos anti-inflamatórios, como:
1. Aumento da expressão de receptores indutores de sinais anti-inflamatórios nas células (inibição de adesão,
quimiotaxia, migração, ações citoprotetora, e de antiapoptose das células parenquimais e estromais),
2. Síntese e liberação de mediadores anti-inflamatórios (lipoxinas, resolvinas, protetinas, PGJ2, IL-10, IL-4,
TGF-β),
3. Modificações funcionais de fagócitos e linfócitos (ação supressora),
4. Remoção de células do exsudato: promoção de apoptose dos leucócitos e fagocitose pelos macrófagos,
5. Ação sistêmica no fígado (proteínas de fase aguda), no Sistema Nervoso Central, no Sistema Endócrino
(eixo hipotálamo-hipófise-adrenal-tireoide) e no Sistema Nervoso Autônomo (Simpático e Parassimpático),
com manifestações clínicas ou subclínicas, por meio de sinais (objetivos) e sintomas (subjetivos).

Fenômenos Reparativos
Estão relacionados com o declínio do processo inflamatório agudo (ou a cessação do crônico) na medida em
que o agente flogógeno vai sendo eliminado. Há reabsorção do exsudato, que depende da apoptose e da
fagocitose das células inflamatórias, e do retorno de alguns fagócitos para as circulações linfática e sanguínea.
Simultaneamente inicia-se o processo de reparo tecidual por regeneração, ou por cicatrização, a qual envolve
a neoformação conjuntivo-vascular. Participam quimiocinas, citocinas e fatores de crescimento liberados pelas
células inflamatórias. Leia abaixo sobre Reparo Tecidual.

Os Mediadores Químicos da Inflamação


• Aminas vasoativas: Histamina e Serotonina
• Proteases do plasma: Sistemas do Complemento, da Coagulação / Fibrinolítico e das Cininas
• Metabólitos do ácido araquidônico: Prostaglandinas, Leucotrienos e Lipoxinas
• Fator ativador de plaquetas (PAF)
• Citocinas e quimiocinas
• Óxido nítrico
• Produtos lisossomais leucocitários
• Metabólitos derivados do oxigênio e do óxido nítrico
• Neuropeptídeos: Substância P, Neurocininas A e B, Peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, etc.
• Etc.

A Histamina: Presente nos mastócitos, basófilos e plaquetas.


Liberada após:
• trauma, exposição ao frio ou calor;
• interações de IgE ou de C3a e C5a (anafilatoxinas) com os mastócitos;
• proteínas liberadoras de histamina derivadas de leucócitos;
• neuropeptídeos (substância P);
• citocinas (IL-1 e IL-8).
Promove: vasodilatação arteriolar e aumento da permeabilidade de vênulas.

A Serotonina: Presente em plaquetas, células enterocromafins (neuroendócrinas) e mastócitos.


• Liberada de plaquetas agregadas e estimuladas por colágeno, ADP, trombina, complexos Ag-Ac, PAF, etc.
• Ação: vasodilatadora semelhante à da histamina.

As Proteases do Plasma (Sistema Proteolítico de Contato)

O Sistema do Complemento:
Constituído por proteínas do plasma identificadas como C1 a C9, cujos vários de seus produtos de clivagem,
em suas ativações, promovem:
1. aumento da permeabilidade vascular,
2. vasodilatação,
3. quimiotaxia e recrutamento de leucóctios,
4. opsonização (C3b cobrindo a parede celular de micro-organismos e ligando-se a receptores de membrana
em leucócitos, facilita a fagocitose) e
5. reações de anafilaxia (hipersensibilidade imediata) (anafilatoxinas: C5a e C3a).
Assim, seus produtos são mediadores nas respostas inflamatória e imunológicas, humoral e celular. Desses
modos, participam na identificação, processamento, transporte e retenção de antígenos. Promovem a ativação
celular e a indução da liberação de moléculas coestimuladoras, citocinas, e outros mediadores da resposta
imunológica. Favorecem a morte ou eliminação de agentes infecciosos, via opsonização, e lise celulares
(formação do complexo de ataque à membrana-MAC). Auxiliam na remoção de antígenos pela formação de
complexos antígeno-anticorpo.

O Sistema Complemento é ativado pelas vias:


1) clássica, dependente de complexos Ag-Ac;
2) alternativa, na presença de micro-organismos (vírus, bactérias e protozoários) pela formação de C3
convertase a partir de C3 e do Fator B no sangue;
3) das lectinas pela ligação de uma proteína ligadora de manose (lectina) a resíduos de manose, presentes
na superfície de micro-organismos, e a associação da lectina com uma serina-protease, levando à ativação
dos fatores C4 e C2, gerando-se a C3 convertase, que ativa o fator C3. As três vias convergem para C3, a
partir do qual continua a reação de ativação, em cascata, de C5 a C9, até forma-se o complexo de ataque à
membrana (MAC), que leva ao dano osmótico celular.

O Sistema das Cininas:


Peptídeos vasoativos gerados a partir de proteínas plasmáticas (cininogênios) pela ação de proteases
específicas (calicreínas). As calicreínas dos tecidos atuam sobre o cininogênio de baixo peso molecular e
geram lisilbradicinina e calidina • Bradicinina e calidina promovem aumento da permeabilidade vascular,
relaxamento da musculatura lisa (vasodilatação arteriolar) e dor. A calicreína é também potente ativador do
fator XII (Hageman) do Sistema da Coagulação, tem atividade quimiotática e converte C5 em C5a
(anafilatoxina). A α2-macroglobulina e a alfa-1-antitripsina são inibidores da geração das cininas.

Os Sistemas da Coagulação e Fibrinolítico (fibrinólise) (plasminogênio/plasmina)


Além da hemostasia secundária, as proteínas da coagulação, em conjunto com as da fibrinólise, têm
participação na ativação do complemento, cininas e do endotélio, modulando e amplificando os fenômenos
vasculares e exsudativos da inflamação. Com a lesão vascular o trombo formado é também importante
como matriz extracelular provisória no processo de reparo tecidual, servindo de substrato ativo para a
migração de fibroblastos, células endoteliais e leucócitos, entre outras células.

Os Metabólitos Derivados do Ácido Araquidônico


O ácido araquidônico é um ácido graxo derivado da hidrólise de fosfolipídeo da membrana citoplasmática
pela ação da fosfolipase (A, B, C). Por seu lado, sofrendo a ação das cicloxigenases do citoplasma, o ácido
araquidônico dá origem a mediadores químicos do grupo das Prostaglandinas (PGD2, Prostaciclina-PGI2,
PGE1, PGE2, PGF2, PGJ2 e Tromboxano -TXA2), e pela ação das lipoxigenases dá origem
aos Leucotrienos (LTA4, LTB4, LTC4, LTD4 e LTE4) e às Lipoxinas, sendo que estas últimas têm as suas
sínteses com a participação, no sangue, de neutrófilos e plaquetas, e nas mucosas, de células epiteliais e
neutrófilos, etc. As ações desses mediadores envolve:
1. Vasoconstrição (Tromboxano A2; Leucotrienos C4, D4, E4),
2. Vasodilatação (PGI2, PGE1, PGE2, PGD2),
3. Aumento da permeabilidade vascular (Leucotrienos C4, D4, E4),
5. Quimiotaxia e adesão leucocitárias (Leucotrieno B4; HETE - ácido hidroxieicosatetraenoico; Lipoxinas),
6. Inibição da agregação plaquetária (PGI2),
7. Estimulo da agregação plaquetária (Tromboxano A2),
8. Broncoespasmo (Leucotrienos C4, D4, E4),
9. Ação anti-inflamatória (Lipoxinas, PGJ2),
10. Dor (PGE2).

Ações Pró- e Anti-Inflamatórias das Lipoxinas:


• Inibem a quimiotaxia e a adesão de neutrófilos.
• Estimulam a adesão de monócitos.
• Estimulam a vasodilatação.
• Atenuam a ação vasoconstritora do LTC4.
• Parecem regular endógena- e negativamente a ação dos leucotrienos.
• As plaquetas produzem LXA4 e LXB4 pela ação da 12-lipoxigenase sobre LTC4 proveniente de neutrófilos.

O Fator Ativador de Plaquetas (PAF)


O Fator Ativador de Plaquetas deriva de fosfolipídeos da membrana celular.
Fontes: mastócitos e basófilos; neutrófilos; monócitos e macrófagos; endotélio; plaquetas; etc.
Ações: • aumento da permeabilidade vascular e vasodilatação (em baixas concentrações); • ativação e
agregação plaquetárias; • aderência leucocitária; • vasoconstrição e • broncoconstrição.

As Citocinas e Quimiocinas
As citocinas são proteínas produzidas por células do sistema imunológico, parenquimais, endoteliais e
estromais, que regulam as respostas imunológicas [inata e adaptativa (humoral e celular)], modulam as
funções de inúmeras células, com ações pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, etc.
As quimiocinas são peptídeos de baixo peso molecular, que promovem a ativação e a diferenciação celulares
e controlam o tráfego das células (quimiotaxia), exercendo atração celular. São caracterizadas por quatro
grandes grupos, segundo os resíduos de cisteína na extremidade N (NH2, aminoterminal) do peptídeo, a saber:
CXC (com duas cisteínas separadas por um outro aminoácido qualquer);
CC (com duas cisteínas contíguas);
C(γ) (com uma cisteína) e
C3XC(δ) (com duas cisteínas separadas por 3 outros quaisquer aminoácidos).

As quimiocinas podem ser induzidas ao serem secretadas após agressões, promovendo a ativação, a
diferenciação e o tráfego dos leucócitos na inflamação e, ou ter função homeostática, ao regularem a migração
das células nos órgãos linfoides. Também atuam na migração e diferenciação celulares durante a
embriogênese, na quimiotaxia e diferenciação de células neoplásicas malignas, e na regulação da angiogênese.
Considerando-se o processo inflamatório e a resposta imunológica, citamos, a seguir, algumas citocinas e
quimiocinas:

• Citocinas (monocinas, linfocinas, fatores estimuladores de colônias, interleucinas):

- Regulam a função linfocitária


(e.g., IL-2, IL-4, IL-10, TGF-β)

- Envolvidas na imunidade natural


(e.g., TNF-α, IL-1β, IFN-α, IFN-β, IL-6)

- Ativam células inflamatórias (imunidade celular)


(e.g. IFN-γ, TNF-α, TNF-β, IL-5, IL-10, IL-12)

- Estimulam a hematopoese

(e.g., IL-3, IL-7, c-kit, GM-CSF, M-CSF, G-CSF)

• Quimiocinas: citocinas que promovem a ativação e a quimioatração de leucócitos.


(e.g., IL-8, Fator Plaquetário-4, RANTES, MIP-1α, MIP-1β, MCP-4)

e.g. (exempli gratia = por exemplo)


IFN = Interferon
TNF = Tumor Necrosis Factor (Fator de Necrose de Tumor)
TGF = Transforming Growth Factor (Fator de Transformação do Crescimento)
IL = Interleucina
c-kit = Mast/Stem cell growth factor receptor, CD117, receptor da tirosina-quinase na membrana de células-
tronco hematopoéticas e em muitas outras células.
GM-CSF = Granulocyte-Macrophage Colony-Stimulating Factor
M-CSF = Macrophage Colony-Stimulating Factor
G-CSF = Granulocyte Colony-Stimulating Factor
RANTES = Regulated on Activation Normal T cell Expressed and Secreted = CCL-5 (C-C motif chemokine
ligand 5)
MIP = Macrophage Inflammatory Protein
MCP = Monocyte Chemotactic Protein

O Óxido Nítrico e as Espécies Reativas do Óxigênio


O óxido nítrico tem ação microbicida, relaxa a musculatura lisa e promove a vasodilatação. As espécies
reativas e os radicais livres derivados do óxido nítrico e do oxigênio atacam, danificando, as proteínas, lipídeos
e ácidos nucléicos de micro-organismos e das células com infecção. Por exemplo, os neutrófilos ativados e
realizando a fagocitose, produzem radicais livres do oxigênio pela ação rápida de oxidases, promovendo uma
explosão respiratória, dentro dos lisossomos e fagolisossomos, destruindo os micro-organismos e outras
células ingeridas. Porém, esses radicais livres e espécies reativas podem ser liberados no interstício pela ação
de quimiocinas, complexos antígeno-anticorpo, etc, promovendo mais lesão tecidual na reação inflamatória.

Os Produtos Lisossomais Leucocitários


Os leucócitos ativados, ao reconhecerem micro-organismos e células mortas, e realizando fagocitose,
produzem substâncias microbicidas (espécies reativas do oxigênio e do nitrogênio, e enzimas lisossomais),
que são liberadas em seus fagolisossomos (fusão do lisossomo com o vacúolo fagocítico) e também no meio
extracelular, lesando as células normais, o endotélio, assim como a matriz extracelular, incluindo a membrana
basal. Por exemplo, os neutrófilos têm em seus grânulos menores (lisossomos) ou específicos: lisozima,
colagenase, gelatinase, lactoferrina, ativador de plasminogênio, histaminase e fosfatase alcalina. Em seus
grânulos maiores (lisossomos), ou azurófilos, apresentam: mieloperoxidase, lisozima, defensinas, hidrolases
ácidas, elastase, catepsina G, colagenases, proteinase 3, etc). A liberação dos produtos lisossomais no espaço
extracelular, em geral, é devido à incapacidade dos leucócitos em fagocitar as substâncias, materiais, que não
podem ser facilmente digeridos.

Neuropeptídeos
Os neuropeptídeos são secretados por terminações nervosas e leucócitos, iniciando e regulando a resposta
inflamatória. Como exemplos, a substância P promove vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e
dor. As neurocininas A e B, promovem vasodilatação e broncoconstrição. O peptídeo relacionado ao gene da
calcitonina exerce efeitos contrários aos da substância P e da histamina e induz os mastócitos a produzirem a
IL-10, etc.

As Etapas do Processo de Emigração Leucocitária da Circulação Sanguínea


para o Interstício

Sítio da Inflamação (onde há microcirculação)


(microcirculação = rede de arteríolas + capilares + vênulas + vasos coletores e capilares linfáticos):

➢ Marginação leucocitária (ativação endotelial = leucocitária)


➢ “Rolamento” (selectinas)
➢ Ativações leucocitária e endotelial (ativação das integrinas por quimiocinas)
➢ Adesão (integrinas)
➢ Transmigração leucocitária venular (diapedese) (CD31 = PECAM1 = molécula de adesão celular
endotelial plaquetária)
➢ Quimiotaxia leucocitária (produtos bacterianos, complemento, leucotrienos, citocinas, etc, no
interstício)

A Transmigração Leucocitária (Diapedese) Ocorre Segundo:


1. Intervalos entre as células endoteliais

2. Transcitose endotelial
3. Lesão direta das células endoteliais (necrose ou destacamento endotelial)

4. Através de vasos neoformados

A Evolução da Inflamação
Os processos inflamatórios agudos, especialmente nos tecidos lábeis e estáveis, quando os agentes
flogógenos, desencadeadores de lesão tecidual foram eliminados, não tendo ocorrido muita lesão, evoluem
para cura, com resolução completa, com regeneração e pouca fibrose, ou o processo de reparo, cura, pode
associar-se com a formação de tecido conjuntivo fibroso (cicatriz), cistos, calcificações, etc, devido à
ocorrência de complicações locais, como abscessos, necroses e degenerações. Porém, quando o agente,
endógeno ou exógeno, que desencadeia a lesão celular nos tecidos não pôde ser eliminado, a reação
inflamatória persiste, tornando-se crônica, até que a causa da inflamação seja eliminada, permitindo o
estabelecimento do reparo tecidual, ou seja, a cura.

A reação inflamatória crônica é reação tecidual complexa com duração prolongada (semanas, meses), onde
inflamação ativa, processo de reparo e a destruição tissulares estão presentes.
Pode ser desencadeada por: 1. Infecções e parasitoses persistentes. 2. Exposição prolongada a agentes tóxicos
exógenos e endógenos (estresse metabólico). 3. Autoimunidade. 4. Corpos estranhos, etc.

As Características Morfológicas da Inflamação Crônica

• Macrófagos M1 (pró-inflamatório) e M2 (anti-inflamatório)


• Células Dendríticas
• Linfócitos T, B, Natural Killer
• Plasmócitos
• Mastócitos
• Eosinófilos
• Destruição tissular
• Reparo com fibrose e angiogênese
• Tipos: não granulomatosa e granulomatosa

Os Macrófagos
Os monócitos estimulados por GM-CSF, LPS, IFNγ e produtos bacterianos diferenciam-se em Macrófagos
M1, que têm ações pró-inflamatórias com a liberação de IL-1 (3+), IL-12 (3+), IL-23 (3+), TNF (3+), IL-10
(+/-), CXCL-9 (quimiocina), radicais livres do NO e O2, metaloproteinases, etc, e os estimulados por M-CSF,
IL-4, IL-10, IL-13, IL-21, lipoxinas, resolvinas, corticosteroides, PGE2, vitamina D3 e CCR4, etc,
diferenciam-se em Macrófagos M2, que liberam citocinas anti-inflamatórias, fazem a remoção de restos
apoptóticos e celulares, e estímulam o reparo e a angiogênese por meio da liberação de citocinas, quimiocinas
e fatores de crescimento.
As Células Dendríticas
Originam-se de precursores na medula óssea e realizam a fagocitose, o processamento e a apresentação de
antígenos (micro-organismos e outros) aos linfóctios TCD4+, via Complexo Principal de
Histocompatibilidade (MHC) de classe II e aos linfócitos T CD8+, via MHC de classe I, nos órgãos linfoides
regionais, para onde migraram a partir de seus sítios de origem na pele, mucosas, e no interstício dos tecidos
de muitos órgãos. Nos folículos linfoides as células dendríticas também apresentam antígenos aos linfócitos
B, favorecendo maior afinidade dos anticorpos produzidos com os antígenos apresentados. Possuem
receptores para a porção Fc de IgG e para C3b, podendo, assim, capturar antígenos ligados com anticorpos e
proteínas do complemento. Na pele foram descritas as células dendríticas de Langerhans presentes na
epiderme.

Os Linfócitos, Plasmócitos, e as Células Natural Killer


Os Linfócitos TCD4+(H0) (auxiliares, virgens) estimulados por IL-12, IL-1, TNF-α, IFN-γ, diferenciam-se
em Linfócitos TCD4+(H1), que liberam IL-2, IL-3, TNF-α, TNF-β, IFN-γ, GM-CSF, ativando macrófagos,
recrutam Linfócitos TCD8+ citotóxicos, e estimulam Linfócitos B na produção de IgG como Plasmócitos,
etc, tendo uma atuação, predominantemente, na imunidade mediada por células. Se estimulados por IL-4, IL-
10, PGE2, diferenciam-se em Linfócitos TCD4+(H2), que liberam IL-3, IL-4, IL-5, IL-10, IL-13, recrutando
mastócitos, eosinófilos, e estimulam a produção de anticorpos IgM, IgG e IgE, ao interagirem com Linfócito
B, que diferenciam-se em Plasmócitos, tendo, assim, importante ação na imunidade humoral, na resposta
imediata antiparasitária e nas reações de hipersensibilidade (alergias). Os linfócitos Natural Killer têm ação
citotóxica dependente de anticorpos, por possuírem receptor (CD16) para a porção Fc da IgG. Matam células
infectadas com vírus, neoplásicas, por exemplo.

Os Mastócitos e Eosinófilos e Basófilos


Os mastócitos distribuem-se nos tecidos conjuntivos dos órgãos em geral, incluindo a pele e as mucosas.
Participam nas reações de hipersensbilidade imediata por apresentarem receptores para a porção Fc da IgE,
liberando histamina, prostaglandinas e vários outros mediadores químicos, e nas reações inflamatórias aguda
e crônica. Liberam quimiocinas que atraem neutrófilos, mediadores químicos pró-inflamatórios, citocinas
imunorregulatórias de linfócitos B e linfócitos TH1 e TH2; realizam o processamento e a apresentação de
antígenos bacterianos para linfócitos T e macrófagos, e participam dos processos de reparo teciduais
promovendo a proliferação de fibroblastos, a síntese de colágeno, a neoformação de vasos sanguíneos e a
proliferação epitelial, entre outros.
Os eosinófilos são leucócitos polimorfonucleares que estão envolvidos nas reações imunológicas mediadas
por IgE, sendo recrutados para os tecidos onde há reação de hipersensibilidade imediata, por meio de
quimiocinas liberadas pelas células epiteliais, linfócitos TH2 e mastócitos. Estão também presentes nos
tecidos nas infecções parasitárias, de um modo geral, envolvendo helmintos (trematódeos, cestódeos e
nematódeos) e protozoários (Giardia spp, Entamoeba spp, Leishmania spp, Cryptosporidium spp, etc).
Os basófilos são leucócitos polimorfonucleares envolvidos em reações de hipersensibilidade imediata,
mediada por IgE, são estimulados por anafilatoxinas como os fatores do Complemento C3a e C5a, produzem
histamina, leucotrieno C4, IL-4, IL-13, etc, e participam de processos alérgicos como, por exemplo, na asma
brônquica, na rinite alérgica, na dermatite atópica, etc, e em parasitoses envolvendo ácaros e filárias, entre
outros.
A Destruição Tissular
No processo inflamatório os fenômenos alterativos, caracterizados por necrose e degeneração, podem ser
promovidos pela ação direta de agentes desencadeadores da inflamação (bactérias, protozoários, agentes
físicos e químicos, etc), assim como pela ação de enzimas liberadas das células mortas, causando a autólise,
ou de leucócitos, promovendo a heterólise, e, ou pela ação citotóxica realizada pelos leucócitos. Igualmente,
os fenômenos vasculares como a vasodilatação, o aumento da permeabilidade vascular, o alentecimento da
velocidade do fluxo sanguíneo e o dano endotelial, podem promover a trombose local e causar isquemia
tecidual, com necrose do tecido.

O Reparo Tecidual
O reparo dos tecidos depende da reação inflamatória, sendo caraterizado por regeneração das estruturas
celulares e extracelulares, ou por cicatrização, sendo substituídos os tecidos lesados por tecido conjuntivo
fibroso. Leia abaixo sobre Reparo Tecidual.

Os Tipos de Reação Inflamatória Crônica

Inflamação não Granulomatosa


A reação inflamatória crônica não granulomatosa, ou inespecífica, caracteriza-se por infiltrado constituído por
linfócitos, plasmócitos, eosinófilos, monócitos, macrófagos, mastócitos, etc, com distribuição ao redor de
vasos e, ou no interstício conjuntivo, associando-se ou não com folículos linfoides.

Inflamação Granulomatosa
A reação inflamatória crônica granulomatosa é secundária aos agentes infecciosos persistentes (granulomas
imunogênicos) e aos não infecciosos particulados inertes ou de difícil degradação (granulomas não
imunogênicos). Mostra predomínio de macrófagos ativados e modificados [células epitelioides, ou
xantomatosas (ricas em lipoproteínas no citoplasma), e células gigantes multinucleadas tipo Corpo Estranho,
com núcleos dispostos aleatoriamente, e tipo Langhans, com núcleos dispostos na periferia da célula,
caracterizando a disposição "em ferradura"], ou de macrófagos não epitelioides, com citoplasma vacuolado,
que se organizam em agregados, associados, variavelmente, com outras células na periferia: linfócitos,
plasmócitos, ou eosinófilos, segundo o agente etiológico. Por exemplo, na Esquistossomose associam-se
muitos eosinófilos; na Paracoccidioidomicose e na Esporotricose os granulomas podem associar-se com
neutrófilos, constituindo microabscessos centrais, o que também é observado na Doença da Arranhadura do
Gato (infecção pela bactéria Gram negativa, Bartonella henselae) e na Doença Granulomatosa Crônica [uma
imunodeficiência primária (autossômica recessiva) caracterizada por infecções graves de repetição produzidas
por bactérias e fungos, com a formação de granulomas, associados à incapacidade dos fagócitos (neutrófilos,
eosinófilos, monócitos e macrófagos) de gerarem compostos reativos do oxigênio, necessários para a morte
intracelular dos microorganismos fagocitados]; na Sífilis terciária, associa-se grande número de plasmócitos;
na Hanseníase Tuberculoide ao granuloma associam-se muitos linfócitos na periferia. As células epitelioides
não realizam fagocitose, porém, têm função secretória e fazem pinocitose e transporte de vesículas endocíticas
no citoplasma. As células gigantes multinucleadas resultam da fusão de macrófagos, com atividade
fagocitária.
Os granulomas podem sofrer necrose secundária dos tipos: caseosa [Tuberculose (infecção pela
bactéria Mycobacterium tuberculosis); Histoplasmose (infecção pelo fungo Histoplasma capsulatum);
Paracoccidioidomicose (infecção pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis) e Tularemia (infecção pela
bactéria Francisella tularensis)], a qual pode evoluir para necrose de liquefação; gomosa (Sífilis terciária,
infecção pela bactéria Treponema pallidum); ou ter aspecto finamente granular e eosinofílico ou
acidófilo (Esquistossomose aguda, parasitose pelo trematódeo Schistosoma mansoni).
Os granulomas imunogênicos costumam apresentar muitos macrófagos modificados em células epitelioides,
e são dependentes de linfócitos T CD4+ auxiliares, com diferenciação TH1 (envolvendo a participação das
citocinas IFN-γ e IL-12 e das quimiocinas do grupo CXC), ou diferenciação TH2 (envolvendo a participação
das citocinas IL-4, IL-10, IL-13 e das quimiocinas do grupo CC), as quais influenciam nos aspectos
morfológicos e evolutivos do granuloma.
Os granulomas não imunogênicos apresentam agregado de macrófagos, com células gigantes multinucleadas,
poucas células epitelioides, menos linfócitos associados, e tendem a evoluir para fibrose cicatricial.
A reação granulomatosa pode ser, por vezes, em lençol, difusa, como, por exemplo, a observada na Hanseníase
Lepromatosa (Virchowiana), infecção pelo Mycobacterium leprae, caracterizada por grande número de
macrófagos vacuolados, cheios de micobactérias no citoplasma, e poucos linfócitos associados, e na
Leishmaniose tegumentar difusa, com macrófagos agrupados e repletos das formas em amastigota do
protozoário Leishmania brasiliensis, ou L. chafasi, L. mexicana, L. amazonensis, entre outras.
Os granulomas são estruturas organoides, inflamatórias, dinâmicas, que apresentam uma evolução, em suas
formas, ou seja, em seus constituintes celulares e da matriz extracelular, com início, meio e fim, terminando
como um nódulo fibrótico, ou calcificado (calcificação distrófica), no caso de sofrer necrose secundária, assim
como, por exemplo, podem dar origem a cavidades durante os processos resolutivos e reparativos, após ocorrer
a fusão de inúmeros granulomas com necrose, que tornando-se confluente e liquefazendo-se, pode ser
absorvida pelo organismo ou ser drenada, como material puriforme, para o exterior (e.g., cavernas pulmonares
na Tuberculose).

A Inflamação Crônica Granulomatosa. Algumas Etiologias (Causas)

Brucella spp (Brucelose);


Treponema pallidum (Sífilis);
Bartonella spp (Bartonelose);
Bartonella henselae (Doença da arranhadura do
gato)
Bactérias
Chlamydia trachomatis (Linfogranuloma venéreo);
Mycobacterium tuberculosis (Tuberculose);
Mycobacterium leprae (Lepra, Hanseníase);
Listeria monocytogenes (Listeriose);
Rickettsia prowazekii (Tifo epidêmico); Etc.

Histoplasma capsulatum (Histoplasmose);


Coccidioides immitis (Coccidioidomicose);
Paracoccidioides
Fungos brasiliensis (Paracoccidioidomicose);
Blastomyces dermatitidis (Blastomicose);
Cryptococcus neoformans (Criptococose);
Sporothrix schenckii (Esporotricose); Etc.
Toxoplasma gondii (Toxoplasmose);
Leishmania spp (Leishmaniose);
Protozoários Acanthamoeba spp (Encefalite granulomatosa
amebiana); Etc.

Schistosoma mansoni (Esquistossomose)


(Trematódeo);
Helmintos Trichinella spiralis (Triquinose) (Nematódeo);
Wuchereria bancrofti (Filariose) (Nematódeo), Etc.

Berílio (Beriliose); Zircônio (Zirconiose);


Asbesto (Asbestose); Sílica (Silicose);
Metais,
Silicone (Siliconose); Talco (Talcose);
Minerais,
Corpo Estranho (Exógeno ou Endógeno);
Outros
Medicamentos (Carbenicilina); Etc.

Doença de Crohn;
Doença Granulomatosa Crônica;
Sarcoidose;
Cirrose biliar primária;
Outras
Granulomatose de Wegener e outras vasculites;
Doenças
Câncer (Linfoma; Seminoma);
Viroses (Tireoidite granulomatosa de "de
Quervain"); Etc.

As Formas de Cura das Inflamações


Os processos inflamatórios estão intimamente relacionados com os processos de reparo, de modo a se
promover a cura da lesão tecidual. Esta pode ser com a restituição das integridades histológica e
funcional, quando há poucos danos teciduais, associados com a reabsorção do exsudato e dos tecidos com
necrose, de modo completo. Este tipo de cura costuma ocorrer, por exemplo, nas pneumonias não
complicadas; nas inflamações purulentas não extensas em tecidos com alto poder regenerativo, como na pele,
nas mucosas do trato gastrointestinal (não sendo comprometida a túnica muscular), no fígado, etc. A cura com
restituição da integridade não costuma ocorrer no sistema nervoso central; nas musculaturas estriadas cardíaca
e esquelética, e nos rins, salvo se houver discretos comprometimentos do epitélio tubular e do tecido
conjuntivo intersticial renais. Nas situações em que há extensa lesão tecidual a cura costuma ser
por cicatrização, devido à formação de tecido conjuntivo fibroso, que substitui a área lesada. A cicatrização,
por exemplo, é comum nas lesões do miocárdio (infarto); da musculatura estriada esquelética; nas
pneumonites crônicas (com danos difusos dos bronquíolos respiratórios e alvéolos e colapso dos espaços
aéreos distais, ou estes com exsudação não absorvida (tampões), que se torna organizada em tecido
conjuntivo); nas pielonefrites crônicas, cujos danos glomerulares e tubulares são resolvidos com tecido
fibroso; nas enterocolites ulceradas com dano na túnica muscular; nas lesões extensas da pele, com perda
tecidual; assim como nas cavidades serosas (pleural, pericárdica, peritoneal), cujos derrames inflamatórios
tendem a se organizar como tecido conjuntivo, levando às aderências, bridas, sinéquias, ou à fusão das serosas
visceral e parietal (e.g. paquipleuris), que dificultam a mobilidade dos órgãos, etc. Em outras situações, como
nos abscessos, a cura pode dar-se por encistamento, quando a área lesada por necrose relativamente extensa
e o exsudato são absorvidos, deixando cavidade delimitada por tecido conjuntivo fibroso, como uma
pseudocápsula. Por vezes, o tecido necrótico e o exsudato podem ter as suas partes sólidas absorvidas, ficando,
ao final, um cisto com conteúdo líquido seroso, ou o contrário ocorrer, permanecendo a parte sólida, com a
formação de uma massa preenchendo a cavidade (e.g. rim "em argamassa," na tuberculose renal). Em
situações onde o processo inflamatório apresenta necrose tecidual pode haver cura por calcificação distrófica,
como na tuberculose, assim como nas endocardites, pericardites e pleurites crônicas. A calcificação distrófica
é localizada, podendo ocorrer em quaisquer tecidos com necrose, normais ou neoplásicos. Nos sitios com
calcificação distrófica pode, inclusive, ocorrer metaplasia óssea. A calcificação pode ocorrer também,
simultaneamente, em múltiplos órgãos, sem a presença de necrose prévia, devido à hipercalcemia, por
exemplo, associada com o hiperparatireoidismo primário, sendo, assim, chamada de calcificação metastática.
As inflamações crônicas, por vezes, podem ser hipertrofiantes ou hiperplásicas, especialmente as que
ocorrem nas mucosas, ao serem acompanhadas de acentuada proliferação de tecido conjuntivo fibroso
cicatricial ou de hiperplasia do parênquima, com a formação de pólipos, como a observada nas retites, colites
e cistites crônicas poliposas, e na esquistossomose mansônica intestinal, cuja inflamação crônica
granulomatosa pode associar-se com extensa fibrose da parede intestinal, com aspecto pseudotumoral. As
inflamações crônicas podem também ser esclerosantes por extensa fibrose, que subverte a estrutura e a função
do órgão, como a observada, por exemplo, nas pneumonites crônicas devido à radiação ionizante ou por
doenças autoimunes.

Os Efeitos Sistêmicos da Inflamação


As proteínas de fase aguda: a síntese das proteínas de fase aguda (fibrinogênio, proteína amiloide sérico A,
alfa-1-antitripsina, proteína C reativa, ceruloplasmina, haptoglobina, α2-macroglobulina, etc) pelo fígado, é
uma das muitas respostas do hospedeiro à infecção, inflamação ou trauma. Algumas funções de tais proteínas
podem ser citadas, a saber:
A síntese de Proteína C Reativa (PCR) é primariamente estimulada pela IL-6 e, em menor grau, pela IL-1,
e pode ser modificada por vários hormônios e citocinas. Após a liberação da PCR na circulação, a sua
deposição pode ocorrer nos sítios de lesão ou inflamação. A proteína C reativa, ligada ao lipopolissacarídeo
(LPS) bacteriano, ativa C1q do complemento. Juntamente com C3b, atua como opsonina, o que facilita a
fagocitose pelos neutrófilos e macrófagos. A ativação do complemento, mediada pela PCR, não vai além de
C3. A PCR ligada ao fator H (glicoproteína reguladora da via alternativa do complemento), reduz a produção
do complexo de ataque à membrana (MAC).
A alfa-1-antitripsina é uma antiprotease do plasma, que modula a ação das proteases liberadas pelos
fagócitos.
A ceruloplasmina, proteína carreadora de cobre, atua favorecendo a remoção dos radicais livres liberados
pelos fagócitos, tendo uma função antioxidante.
A haptoglobina auxilia na opsonização, ajudando na fagocitose dos restos celulares.
A α2-macroglobulina é uma antiprotease, que inibe a coagulação e a fibrinólise.
A proteína amiloide sérico A tem várias funções como: é uma apolipoproteína que associa-se com as
lipoproteínas de alta densidade (HDL) no sangue, atuando no transporte de colesterol para o fígado; promove
o recrutamento de leucócitos (neutrófilos, monócitos, linfócitos T), mastócitos e outras células para os sítios
de inflamação, ao induzir a síntese de várias citocinas e quimiocinas; favorece a síntese de enzimas
(metaloproteinases) que degradam a matriz extracelular, etc.
O fibrinogênio como precursor da fibrina é importante para a hemostasia secundária pela formação do
trombo, favorecendo a angiogênese e a cicatrização. Além disso, o fibrinogênio em concentrações aumentadas
no plasma, neutraliza as cargas negativas nas superfícies das hemácias, permitindo a agregação das mesmas,
ficando as hemácias empilhadas, o que auxilia na formação do trombo, caracterizado por rede de fibrina que
agrega hemácias, plaquetas, leucócitos e moléculas do plasma.
A reação inflamatória é um processo local, tecidual, onde ocorreu o dano celular. As inúmeras células
envolvidas no processo, liberam citocinas, quimiocinas, e mediadores químicos, que promovem os vários
fenômenos teciduais descritos, os quais pelas vias sanguínea, linfática, e nervosa, levam a repercussões
sistêmicas, pela ativação do sistema neuroimunoendocrinológico, com a manifestação de sinais e sintomas,
subclínicos ou clínicos, dependendo do sítio e da intensidade do processo inflamatório, em função do agente
agressor, flogógeno, e da hipersensibilidade do organismo. Assim, são comuns os linfonodos regionais, que
drenam o sítio da inflamação, sofrerem hiperplasia reativa pela liberação de antígenos do agente flogógeno,
que podem promover a proliferação cortical de folículos linfoides (linfócitos B) e, ou paracortical de linfócitos
T, com a liberação dos linfócitos na circulação, os quais vão para o sítio inflamatório. Igualmente a medula
óssea sofre estímulos por meio de fatores estimuladores de colônias e outras citocinas, para produzir e liberar,
no sangue, maior número de leucócitos e outras células hematopoéticas, ocorrendo a chamada leucocitose. As
teminações nervosas aferentes, nos sítios de inflamação, estimulam o Sistema Nervoso Central, assim como
várias citocinas (IL-1, TNF-α, IL-6, etc) liberadas no sangue, sendo, assim, ativados vários centros nervosos,
como o hipotálamo, e a partir deste, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal-tireoide, com a liberação de ACTH e
TSH, que promovem efeitos hipermetabólicos, pela liberação no sangue de glicocorticoides (adrenal) e
tiroxina (tireoide), favorecendo-se os catabolismos lipídico, glicídico e protéico, os quais preparam o
organismo para responder ao estresse devido à inflamação, aumentando a glicemia (a glicose é importante
substrato para a produção de ATP), além de serem estimulados os centros nervosos de controle da temperatura
corporal, do apetite, e da vigilia, surgindo a febre, a falta de apetite e a sonolência. Também é estimulado o
Sistema Nervoso Autônomo, Simpático e Parassimpático, sendo liberados, respectivamente, a adrenalina e a
acetilcolina. A adrenalina aumenta a frequência e a força de contração cardíacas, o fluxo sanguíneo dos
músculos voluntários dos membros e a glicemia, além de promover a lipólise, o relaxamento intestinal, a
broncodilatação, etc, e ter efeito supressor da resposta imunológica pela ativação dos receptores beta-
adrenérgicos em macrófagos e linfócitos, e estimulador da fagocitose microbicida pelos macrófagos, através
do estímulo dos seus receptores alfa-adrenérgicos. A acetilcolina causa a redução da frequência e da força de
contração cardíacas, o aumento do fluxo sanguíneo no Sistema Digestório, aumento de motilidade intestinal,
dilatação de esfíncteres no trato gastrointestinal, broncoconstrição, sudorese, aumento de salivação, etc, e tem
atividade anti-inflamatória pela ativação dos receptores colinérgicos em macrófagos e linfócitos.
Em determinadas situações devido à infecções, traumatismos, queimaduras, pancreatite, e a ação de agentes
físicos e químicos, etc, a resposta inflamatória local, pela liberação na circulação de muitas moléculas de
alarme de agressão ou pela disseminação de agentes infecciosos, pode estabelecer uma Síndrome de
Resposta Inflamatória Sistêmica [caracterizada por: hipertermia (>38oC) ou hipotermia (<36oC), aumento
da frequência cardíaca (>90 bpm), aumento da frequência respiratória (>20 irpm), paCO2 menor que 32 Torr,
leucócitos com contagem > 12.000/mm3 ou < 4.000/mm3], devido às síntese e liberação sistêmicas de
mediadores químicos da inflamação, com ativação sistêmica endotelial, vasodilatação, aumento da
permeabilidade vascular, edema generalizado, que devido à vasodilatação arteriolar sitêmica promove
hipoperfusão e hipoxemia em muitos órgãos, promovendo necrose e degenerações, com liberação de radicais
livres e enzimas pelas células inflamatórias locais nos pulmões, fígado, rins, encéfalo, e demais órgãos,
favorecendo o metabolismo anaeróbio, com falência de múltiplos órgãos, como por exemplo: • dano difuso
de bronquíolos respiratórios e dos alvéolos, com hiperemia, edema e hemorragia (pulmão de choque), •
necrose tubular aguda e insuficiência renal, • insuficiência contrátil miocárdica, • encefalopatia hipóxico-
isquêmica, etc, caracterizando, no conjunto, as consequências letais do estado de choque.

❖ Processo reativo complexo, secundário ao dano celular;


❖ Que ocorre nos tecidos vascularizados (sítio da microcirculação);
❖ Podendo ser desencadeado por agentes físicos (trauma, calor, frio, radiações ionizante e não-ionizante,
etc), químicos (enzimas, ácidos e bases, radicais livres derivados do O2, etc) e biológicos (infecciosos
e parasitários).
❖ É variável no tempo (aguda X crônica) e no espaço (local X repercussões sistêmicas ↔ choque);
❖ Envolve componentes celulares (leucócitos, plaquetas, endotélio, mastócitos, macrófagos, células
parenquimais e estromais), séricos (imunoglobulinas, complemento, coagulação, cininas, proteínas de
fase aguda, etc) e de matriz extracelular (proteínas colagênicas e não colagênicas (glicoproteínas),
proteoglicanas sulfatadas e não-sulfatadas, ácido hialurônico, sistema elástico), e
❖ Contribui para o reparo (regeneração ou cicatrização), com as recuperações das estrutura/organização
e função dos tecidos e órgãos, ou para o aumento dos danos, comprometendo a estrutura/organização
e a função dos tecidos e órgãos, podendo levar à doença crônica (sequelas) ou à morte.

REFERÊNCIA:
http://patologia.medicina.ufrj.br/index.php/histopatologia-geral/396-anotacoes-teoricas/anotacoes-sobre-
inflamacao

Referências para aprofundar os estudos


1. Brasileiro Filho, G. – Bogliolo Patologia Geral, 6a ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
2. Brasileiro Filho, G. - Bogliolo Patologia, 10a ed.; Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2021.
3. Kumar, V.; Abbas, A.K. & Aster, J.C. - Robbins - Basic Pathology, 10th ed., Philadelphia: Elsevier; 2017.
4. Kumar, V.; Abbas, A.K. & Aster, J.C. - Robbins & Cotran Pathologic Basis of Disease; 10th ed.;
Philadelphia: Elsevier; 2020.
5. Kumar, V.; Abbas, A.K. & Aster, J.C. – Robbins & Cotran Patologia – Bases Patológicas das Doenças,
9a ed., São Paulo: Elsevier, 2016.

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