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Família Wings

Tradução : Asli
Revisão : Mika
Leitura: Aurora
Formatação : Aurora

12/2021
AVISO

A tradução foi efetuada pelo grupo Wings Traduções (WT), de


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A Série

Costa Family
Sinopse

O Primo Esposito me tirou das ruas em uma estratégia para


trazer a tão almejada paz entre as famílias.
Sua proposta era simples.
Eu, minha vida, meu futuro.
Em troca de um cessar-fogo.
Se eu dissesse não, significaria a morte imediata de meus
amigos, de toda a minha família.
Nunca houve escolha.
Então me vi concordando em me casar com o mais notório,
o mais implacável, o mais violento de todos os chefes das Cinco
Famílias. Um homem tão mau, tão frio, que nenhuma mulher
poderia amá-lo.
Muito menos aquela que foi forçado a se casar com ele.
À medida que os dias se transformavam em semanas e as
semanas em meses, não havia como negar um tipo de atração
primitiva, um tipo de afeto inesperado e irracional.
Mas inimigos podem ser encontrados em cada esquina,
aqueles que ameaçam roubar exatamente o que eu aleguei que
nunca quis, o coração e o amor de um homem que eu nunca vi
chegar, um que eu nunca quis perder...
CAPÍTULO UM

Isabella

Derramei o azeite de oliva enquanto preparava o almoço.


Gerações de mulheres antes de mim teriam visto isso como um
mau presságio. Eu, no entanto, apenas vi isso como um pequeno
inconveniente a ser limpado enquanto eu já estava atrasada para
o trabalho.
Eu deveria estar atenta à advertência, pedido licença do
trabalho, pedido meio litro de gelato de caramelo salgado, vestido
meu pijama confortável e passado o dia assistindo a filmes.
Quero dizer, quem poderia afirmar que exatamente o
mesmo destino ainda não teria me encontrado? No meu quarto.
Na minha cama. Isso poderia ser ainda mais traumatizante, ter
minha zona de conforto invadida.
Eu provavelmente nunca teria pensado duas vezes no azeite
de oliva se o dia tivesse passado como deveria. Trabalho, uma
curta caminhada até o café e depois o metrô de volta para casa.
Foi a primeira coisa que pensei, quando as mãos surgiram
do nada, uma tampando a minha boca e a outra em volta da
minha cintura, me levantando e me deixando com os pés
balançando no ar durante um momento horrível que quase parou
a minha alma, antes de ser empurrada em direção a uma van
preta que esperava. Do tipo sem janelas. E, eu percebi com horror
quando fui empurrada para dentro dela, acolchoamento colado
nas paredes. Para abafar os sons dos gritos. Para evitar que
alguém bata freneticamente no metal para chamar a atenção.
Quantas mulheres eles haviam sequestrado na rua para
exigir que equipassem seu veículo para sequestro?
— Apenas entre com ela, — gritou um homem do banco da
frente. Para mim, ele não passava de uma toca de lã preto e uma
jaqueta acolchoada. — Eles irão te ver, — acrescentou. — Se você
nos custar este trabalho, juro por Deus... — ele continuou
enquanto o homem pulava para dentro comigo e fechava a porta.
Ele disse “custar”.
Mas saiu como “cawstar”.
Cawstar.
Aquilo era mais Bronx do que Manhattan.
Por que diabos dois caras do Bronx viriam a Manhattan
para sequestrar uma mulher? Eles tinham muitas mulheres em
seu próprio território.
A menos que…
Não.
Não.
Eu não ia deixar minha mente ir por aí.
Eu passei muitas horas da minha vida me preocupando
desnecessariamente com o fato da minha família, com os
negócios da Família acabariam me prejudicando de alguma
forma. E isso nunca aconteceu. Portanto, não havia razão para
acreditar que aconteceria agora.
Além disso, a máfia não negociava com mulheres. Eles nos
deixaram fora disso.
Ou, pelo menos, sempre o fizeram no passado.
— Porra, merda, — o homem atrás de mim rosnou,
afastando por pouco o salto do meu sapato quando eu esticava
minhas pernas.
Eu deveria ter ouvido meus primos quando eles me
encorajaram a fazer artes marciais em vez de dançar. O que
diabos a dança fez de bom por mim? Certamente não me ajudou
a lutar contra um sequestrador, isso era certo.
O cara que estava atrás de mim era absolutamente normal
no departamento de aparência. Cabelo escuro, olhos escuros,
com um queixo um tanto suave e um pouco de barba. Eu o
coloquei em torno de 1,70 e magro, mas ainda muito mais forte
do que eu.
— Vadia, — ele rosnou quando minha mão disparou,
minhas unhas arranhando seu rosto.
— Basta amarrá-la, porra, ou algo assim, — exigiu o homem
da frente. — Nós temos uma viagem de malditos quarenta
minutos de carro. Ela vai arrancar seus olhos nesse ritmo.
— Pelo menos ela não... — o homem comigo começou a
dizer assim que eu respirei fundo, canalizei minha garota de filme
de terror interior e gritei com todo o ar de meus malditos
pulmões. — Merda, — ele murmurou, o corpo indo junto ao meu,
sentando no meu peito e batendo a mão na minha boca,
esmagando os dedos. — Cale a boca, porra — ele grunhiu em um
tom que sugeria que não entendia por que eu estava fazendo um
barulho tão grande.
— Espera. Acho que tenho fita adesiva, cara, — disse o
motorista, estendendo a mão para vasculhar o porta-luvas,
depois jogando para trás um rolo gigante de fita adesiva prateada.
Não queria saber por que um homem precisava dirigir por
aí com fita adesiva no porta-luvas. Tudo que eu sabia era que não
poderia ser bom, certo?
O homem em cima de mim deixou cair a fita ao lado da
minha cabeça antes de levantar um joelho, usando-o para
prender um dos meus braços. E então o próximo. Até que eu
estava impotente para fazer qualquer coisa, exceto tentar me
contorcer como um peixe puxado de um anzol e jogado no cais.
— Diga-me quando, — o homem atrás de mim exigiu ao
motorista que havia desacelerado até parar.
— Espere. Deixe-me virar na rua lateral, — gritou o
motorista. — Ok, — ele disse um momento depois. — Faça isso,
— acrescentou ele.
E assim, a mão saiu da minha boca.
Mas antes que eu pudesse respirar para gritar novamente,
uma fita adesiva estava sendo colocada em minha boca.
— Pronto. Já está feito.
— Prenda os braços dela, cara. Então você poderia vir aqui
comigo.
— Sim, — disse o cara em cima de mim, afastando para
trás, em seguida, jogando-me de bruços. A dor atingiu minha
bochecha quando meu rosto bateu no chão duro.
— Calma, cara, — o motorista grunhiu. — Nós a levamos
toda fodida, e o chefe vai ficar puto.
Mas ele já havia torcido meu braço para trás e para cima
para envolver uma camada de fita, a viscosidade irritando minha
pele. Seu peso mudou, puxando meu outro braço, em seguida,
prendendo-o ao outro.
Então, de repente, o peso foi levantado quando o homem
saiu de cima de mim e se moveu entre os dois assentos dianteiros
para sentar no do passageiro com um gemido.
— Ela fodeu com o meu rosto, — ele rosnou.
— Você era feio antes, você é feio agora, — disse o motorista,
com um tom leve e provocador. — Não vejo o problema.
— Otário, — o outro cara resmungou enquanto eu me
jogava de costas.
— Ligue a música ou algo assim, caso ela comece a bater
por aí, — disse o motorista.
Eu estava pensando em chutar as paredes ou portas.
Mas, claramente, eles tinham pensado em tudo.
A música começou a sair pelos alto-falantes, tornando
impossível ouvir meus sequestradores, embora eu estivesse
vagamente ciente do timbre de suas vozes.
Amordaçada e amarrada, não tive nada a fazer a não ser
pensar.
Por vários momentos horríveis, pensei sobre todas as coisas
típicas que as mulheres pensam em situações como essa. Sobre
todas as maneiras como um homem pode machucar uma
mulher.
Não demorou muito, porém, até que me lembrei de que não
era uma mulher comum.
O que significava que eu tinha que olhar para toda essa
situação como mais do que um sequestro e um possível estupro
por homens estranhos aleatórios.
Veja, eles disseram algo sobre seu chefe.
Seu chefe.
Do Bronx.
Um gemido baixo e doloroso me escapou quando o nome
passou pela minha mente.
Não poderia ser ele.
Mas, também, não poderia ser mais ninguém, não é?
Primo Esposito.
O chefe da família Esposito.
Um homem que, como diz a lenda, cortou a garganta de seu
pai durante uma reunião da Família, limpou a faca em um
guardanapo e sentou-se para terminar de cortar seu bife, com
ela.
Ele era um maníaco homicida brutal, de sangue frio.
Dizia-se que toda a Família Esposito era perversa e
imprevisível.
Era por isso que o novo Capo dei Capi de todas as famílias
do crime organizado da cidade de Nova York vinha tentando
passar desapercebidos ao seu redor. Sempre que meu irmão
Emilio ia aos jantares de domingo, ficava reclamando com os
primos que os Espositos não respeitavam a Família Costa, não
pagavam suas dívidas, não seguiam as regras.
Mas, até onde eu conseguia me lembrar, nunca houve
nenhuma palavra sobre Primo ou seus homens sequestrando
mulheres. Dito isso, meu irmão e o restante da Família Costa
tentaram manter as mulheres fora dos negócios o máximo
possível, para que nenhuma de nós tivesse problemas com a
polícia.
Pelo que eu sabia, Primo Esposito sequestrava e abusava de
mulheres o tempo todo.
Um grito baixo e patético me escapou, abafado pela fita
adesiva.
Lágrimas de frustração queimaram meus olhos.
Porque não havia nada que eu pudesse fazer.
Estava amordaçada e amarrada. Havia dois deles. E se eu
sabia alguma coisa sobre os soldados da máfia, era que eles
estavam sempre armados.
Não havia como escapar disso.
Exceto, talvez, quando a van parasse. Talvez eu pudesse
fugir. A dança pelo menos me deu um pouco de resistência. E de
alguma forma eu duvidava que esses caras fossem do tipo que
“passam horas intermináveis na academia fazendo ginástica”.
Além disso, eu não teria que correr muito. Só o suficiente para
passar as pessoas, e entrar em uma loja ou qualquer lugar que
alguém possa me ajudar.
Ninguém iria ficar parado e deixar uma mulher amarrada e
amordaçada ser arrastada por sequestradores. As pessoas eram
melhores do que isso.
Com tudo planejado, passei a viagem inteira tentando
manter minha respiração lenta e uniforme, tentando não deixar
minha mente dispersa. Não me faria bem ficar preocupada com
as possibilidades do que poderia acontecer se eu não fugisse. Isso
apenas iria me desanimar, me fazendo duvidar dos meus
instintos.
Pareceu uma eternidade pulando dentro da van antes que
ela finalmente parasse, o motor desligou, a música apagada e
saiu o passageiro.
Só ele.
Isso era bom, certo?
Eu tinha uma chance melhor de fugir apenas com dele. E o
motorista demoraria para sair do carro e começar a perseguição.
Eu poderia realmente fazer isso.
Respirando fundo, deixei o passageiro abrir a porta. Até
deixei que ele me puxasse em direção a ele, porque não queria
que o motorista suspeitasse de nada antes que realmente
acontecesse.
Os sons das pessoas chegaram ao meu ouvido e eu senti
uma onda de alívio tão forte que quase gritei.
Mas então meus pés bateram no chão do lado de fora da
van.
Acho que meu sequestrador não esperava que eu tentasse
correr porque a mão que ele tinha no meu braço era fraca, fácil
de escapar. E foi exatamente isso que eu fiz.
Dei um puxão e corri.
E havia pessoas.
E elas me viram.
Eu até observei olhos arregalados, surpresos e
preocupados.
Mas ninguém ajudou.
Ninguém ajudou.
Eles viraram as costas.
Eles entraram nos edifícios.
Com o coração batendo forte no peito, gritei contra a
mordaça de fita adesiva enquanto corria até um jovem que estava
levando o lixo da delicatessen para a rua.
Seu corpo enrijeceu.
Suas mãos até começaram a se levantar.
Até que um homem mais velho de dentro da delicatessen
saiu correndo, agarrou-o e puxou-o de volta para dentro da loja,
trancando a porta.
Não.
Não, não, não.
As pessoas eram boas, caramba.
Elas não ficavam paradas enquanto mulheres inocentes
eram perseguidas por gângsteres.
Com um soluço preso na garganta, me virei para correr
novamente.
E bati direto em uma parede de tijolos com força suficiente
para me deixar sem ar.
Eu gritei, pensando que era um dos meus sequestradores.
Mas quando levantei o meu olhar, percebi que era muito,
muito pior do que isso.
Eu nunca o tinha visto antes. Ele era evasivo por natureza.
E eu não era exatamente parte da Família em si, apenas parente
de sangue com ela. Então, eu não conhecia todos os integrantes.
Dito isso, você reconhecia um chefe quando o via. Eles se
portavam de maneira diferente. Tudo sobre eles exigia atenção e
respeito.
Este era Primo Esposito.
Chefe da família do crime Esposito.
Não sei o que esperava dele. Os chefes vinham em todas as
formas, tamanhos e idades. Mas pelo que todos disseram sobre
sua natureza, acho que minha mente preencheu as lacunas para
torná-lo baixo e robusto, um pouco calvo e olhos negros
malignos.
Eu estava completamente errada em três pontos e meio
errado no quarto.
Primo Esposito devia ter cerca de um metro e oitenta de
altura e uma constituição forte, mas firme, como a de um
nadador. Ele a cabeça cheia de cabelos pretos como tinta e o tipo
de estrutura óssea que você vê em Hollywood, não estando em
uma esquina no Bronx usando um terno preto com um colar de
cruz de ouro discreto.
Os olhos, porém, eram onde eu estava parcialmente certa.
Eles não eram pretos, mas sim de um castanho chocolate
profundo e emoldurados com cílios grossos.
Mas eles eram malignos.
Aqueles eram uns malditos olhos malignos, se é que já tinha
visto algum.
— Você vê isso, cordeirinho? — Ele perguntou enquanto sua
mão forte agarrou meu braço, usando a outra mão para acenar
para a rua onde todos tinham desaparecido. — Ninguém se
importa com você sendo levada para o matadouro.
CAPÍTULO DOIS

Primo

Dois sequestros em vinte e quatro horas.


Foi um recorde.
Eu não gostava de sequestrar mulheres na rua. Mas a
Família Costa impossibilitou a negociação de outra forma.
Eu sabia que iria acontecer algo assim quando o Capo dei
Capi anterior morreu e foi imediatamente substituído por seu
filho. Eu não poderia dizer que senti qualquer perda quando o
antigo chefe morreu, mas depois de anos de negociações e
renegociações, conseguimos chegar a um acordo com o qual
nossas famílias estavam satisfeitas.
Mas então Lorenzo Costa conseguiu o cargo e desfez todas
as coisas que seu pai e eu havíamos resolvido anos antes.
Lorenzo era um chefe melhor do que seu pai? Provavelmente. Seu
velho era um narcisista com um ego frágil que mantinha os seus
homens à sua disposição, em vez de contar com pessoas
imparciais por perto para dizer a ele quando as coisas não
estavam dando certo.
Isso não significava que eu seria intimidado para chegar a
um acordo que não funcionava para meus homens ou para mim.
Talvez Costa tenha conseguido que as famílias Morelli e
D'Onofrio se recuperassem, mas os Espositos não eram a puta
de ninguém. Eu conseguiria o negócio que queria por todos os
meios necessários.
O que, no momento, significava pegar a mulher que
pertencia ao irmão de Lorenzo, Santi. Para atraí-los para minha
zona, para ter uma reunião há muito esperada.
Também significou sequestrar Isabella Costa.
Não para atrair os Costas em si, mas para finalmente pôr
fim à rivalidade.
Era um plano de duas partes.
Era primitivo e abominável?
Provavelmente.
Mas ninguém nunca me acusou de ser um bom homem.
Não contei isso aos meus homens, mas escolhi Isabella
Costa por mais que sua conexão com Emilio, seu irmão, que
ocupava um alto escalão na hierarquia da Família Costa. Havia
muitas outras mulheres Costa.
Mas eu vi Isabella saindo da casa de sua mãe depois do
jantar de domingo uma vez. E a decisão estava tomada.
Isabella Costa era uma linda mulher. Pequena, magra, mas
quando eu a vi, ela estava colocando seu irmão em seu lugar por
causa de alguma desavença, colocando o dedo em seu rosto e
apunhalando-o em seu peito até que ele se afastasse dela e
levantasse as mãos em um gesto defensivo.
Se uma mulher iria sobreviver dentro do meu mundo, ela
tinha que ser forte.
Pelo jeito, Isabella Costa era isso.
Ela também era linda, com seu rosto suave e redondo e
feminino com lábios carnudos, olhos castanhos claros profundos
e cabelo preto longo e ondulado.
Eu poderia estar fazendo um acordo para trazer a paz entre
Famílias rivais.
Mas não iria me acorrentar a uma esposa que não achasse
atraente no processo.
Eu tinha acabado de sair do meu carro na frente do
armazém quando vi a van com dois dos meus soldados
estacionando.
Poderia dizer que fiquei agradavelmente surpreso ao ver a
pequena mulher se libertar de seus braços e tentar fugir para
salvar sua vida.
Ela provavelmente pensava que as pessoas eram
naturalmente boas.
Esse foi o seu erro.
Ninguém iria salvá-la.
Ninguém iria entrar no meio dos meus negócios.
Ela estava no meu território.
O que significava que ela estava completamente à minha
mercê.
Ela era ainda menor de perto e em pessoa. Seu braço
parecia um pouco frágil quando minha mão se fechou em torno
dele para arrastá-la de volta para o armazém, dando aos meus
homens um olhar duro que os fez se encolherem, provavelmente
preocupados com as repercussões de me fazer terminar um
trabalho que eu os contratei para realizar.
Teria que puni-los.
Eu não era o tipo de homem que dirigia sua organização
com base na confiança e na compreensão dos erros.
Reinava com regras e consequências implacáveis.
Então, embora soubesse que minha vizinhança não ia foder
ou se meter nos meus negócios, não importando o que sua
bússola moral estivesse dizendo, eu também não podia ignorar
quando alguns dos meus homens expuseram meu negócio como
se fosse roupa suja.
Levei a mulher ao redor do armazém em direção à entrada
de serviço dos fundos, levando-a até o terceiro andar, onde ficava
a sala de reuniões e os escritórios. Se este dia corresse como
planejei, ela acabaria no último andar. Um andar onde apenas
amigos íntimos e homens de alto escalão da minha família
tinham permissão para ir.
Minha casa.
Onde planejei mantê-la.
Indefinidamente.
Talvez com relutância no início. Mas, com o tempo, de boa
vontade.
Mas até que o negócio fosse fechado e os votos trocados, ela
não era uma esposa, ela era uma prisioneira. O que significava
que ela foi jogada no depósito vazio que servia como uma cela
quando necessário.
— Aqui está, — disse eu, abrindo a porta de um quarto que
tinha uma pequena cama, uma garrafa de água e nada mais.
Quando seus pés se recusaram a avançar, agarrei seu outro
braço, empurrando-a para o pequeno espaço.
— Vou tirar isso, — eu disse a ela, alcançando o final da fita
adesiva. — Você pode gritar o quanto quiser aqui. Ninguém vai te
ouvir. E se ouvirem, eles não vão salvá-la, — eu disse, assumindo
um nível incomum de gentileza ao remover a fita de seus lábios.
Esses eram os lábios com os quais eu precisaria dar um primeiro
beijo quando ou se o plano estivesse em andamento. Eu preferia
que eles não estivessem todos machucados. — Podemos fazer
melhor do que isso, — acrescentei, apontando para seus pulsos
com fita adesiva.
Observei quando seus olhos se arregalaram quando
coloquei a mão no bolso em busca de um conjunto de algemas
que quase sempre mantinha comigo. A experiência me disse que
você nunca sabe quando pode precisar de um conjunto.
Prendi as algemas em seus pulsos antes de remover a fita
adesiva. Se ela lutasse contra a fita, ela poderia ferir seus pulsos.
E esse negócio não aconteceria se a família dela pensasse que eu
a estava machucando.
Terminado, dei um passo para trás.
— Fique quieta. Temos uma reunião que comparecer em
algumas horas, — disse eu, caminhando até a porta.
— Por favor, não faça isso, — ela implorou, a voz
embargada, como se estivesse matando-a. Mas havia algo dentro
que era mais forte do que seu orgulho. — Por favor, não me deixe
aqui. Não vou tentar escapar de novo. Por favor, — ela chorou, a
voz assumindo um tom que sugeria lágrimas.
Eu não era um homem gentil.
Mas eu senti o desejo desconhecido de voltar atrás na minha
palavra, de tirá-la do quarto, para impedi-la de continuar a entrar
em pânico como ela claramente estava.
Era exatamente por isso que eu não podia fazê-lo.
— Tudo ficará claro em algumas horas, — eu disse a ela,
então fechei e tranquei a porta. — Você, — chamei, sinalizando
um dos meus soldados que estava por perto. — Você vigia esta
porta. Ninguém entra, ou responderá a mim, — eu disse a ele, a
ameaça clara em meu tom. — E ela não sai, a menos que seja
esclarecido comigo primeiro.
— Entendi, chefe, — o soldado concordou, balançando a
cabeça como se sua vida dependesse de me provar que ele poderia
lidar com o trabalho.
Assim era.
Muito bem.
Uma prisioneira a menos.
Agora era a próxima. E, sem dúvida, a muito mais difícil.
Embora, felizmente, ela estivesse por perto apenas
temporariamente. Ela era apenas a isca para atrair os lobos para
o meu território.
Alessa Morelli não era a típica irmã da máfia, filha e prima.
O que significa que ela não ficava em casa, cozinhava e criava os
filhos, ou apenas vivia uma vida normal de trabalho. Não. Ela
estava realmente na Família. O que era surpreendentemente
progressivo para os Morellis. Embora eles não lhe dessem
oficialmente qualquer tipo de posição; eles apenas a contrataram
para fazer trabalhos. Ela fez o trabalho sem nenhuma
consideração. Combinava com o que eu sentia atualmente em
relação aos homens Morelli.
Os homens que fizeram meu irmão desaparecer.
Eu não era um idiota.
Os homens em nosso negócio não desaparecem
simplesmente.
Eles eram mortos.
E seus corpos eliminados.
Neste caso, meu irmão, Due, foi morto pelo irmão de Alessa
Morelli, que estava escondido desde então. Razão pela qual eu
precisava de Alessa além de Isabella Costa.
Com Isabella, eu conseguiria seu irmão, Emilio, e o Capo
dei Capi, Lorenzo. Mas para levar os Morellis à reunião também,
eu precisava de algo deles.
Alessa era tudo que eu tinha para trabalhar.
E ela era uma maldita fera. Treinada e capaz com uma boca
suja.
Gostava do espírito dela.
Mesmo quando ela estava tentando me cortar com uma faca
enquanto eu a tirava do meu escritório, pegando uma de suas
algemas e prendendo-a no meu próprio pulso, arrastando-a
comigo enquanto eu trabalhava, não tenho certeza se confiava
em qualquer um dos meus homens totalmente com ela.
Os homens em nossos negócios tendem a subestimar as
mulheres.
Eu não.
Eu sabia que não havia nada mais feroz do que uma mulher
em uma indústria dominada por homens. De qualquer tipo. Elas
não deveriam ser subestimadas. Elas cortariam sua garganta e
então pisariam em seu corpo sangrando para subir um degrau
na organização.
Dei a essa ambição o tipo de deferência que ela merecia.
Então, eu a mantive ao meu lado.
Mesmo quando ela me repreendeu por ser um neandertal
por meu plano de formar uma aliança entre as famílias com um
casamento arranjado.
Era antiquado?
Sim.
Mas funcionava.
A história o havia mostrado repetidas vezes.
Eles não viriam até mim porque eu tinha um de seus entes
queridos em meu poder. E eu teria a paz de espírito sabendo que
tinha Isabella como moeda de troca.
— Eles nunca vão concordar, — disse Alessa Morelli
enquanto eu a arrastava pela sala de reuniões.
Não demoraria muito.
Logo um de meus vigias nos avisaria que os Morellis e
Costas estavam vindo buscar Alessa.
Eles ainda não sabiam sobre Isabella. Essa era a parte que
eu seguiria em frente e guardaria para mim mesmo até o
momento certo. Até resolvermos as coisas com a família de
Alessa.
— Eu ouvi você nas primeiras cinco vezes, querida, — eu
disse, virando meu pescoço. — Acho que você superestima como
os homens da sua família e os Costas são bons.
— Melhor do que você, — Alessa respondeu de volta, cheia
de fogo e saliva. Quando fizemos a vídeo chamada para seus
entes queridos, ela tentou cortar minha garganta. Eu tinha que
dar crédito a ela pela tentativa, mesmo que ela tenha falhado.
— Sim, bem, nem é preciso dizer, — concordei.
Da minha posição perto das janelas que davam para a rua,
mal consegui distinguir o primeiro apito. Então o segundo.
Depois o terceiro. Eu tive que assistir enquanto meu soldado na
frente alcançava seu telefone apenas um momento antes que o
meu zumbisse no meu bolso.
— Apenas os Morellis e Costas, — eu o lembrei.
Eles não viriam sozinhos. Mas seus homens tiveram que
ficar na rua com a maioria dos meus.
Alessa e eu observamos enquanto os carros pararam, os
homens saíram e as regras foram estabelecidas.
No final, foi o pai de Alessa e seus irmãos que tiveram
permissão para entrar. Em seguida, havia o Costa Capo dei Capi,
Lorenzo, seu irmão (e homem de Alessa) Santiago, bem como o
irmão de Isabella (no depósito), Emilio. Então, é claro, porque
essa equipe nunca ia a lugar nenhum sem seu cachorro raivoso,
havia um homem chamado Brio. Brio era o tipo frio e cruel que
às vezes me fazia pensar. Eu nunca tinha visto um torturador ou
assassino mais capaz. Na minha opinião, ele nasceu na Família
errada. Ele teria sido um grande Esposito.
— Solte-a!
Essas foram as primeiras palavras ditas durante este
importante encontro. Elas foram faladas pelo irmão de Alessa,
Ricco. O mesmo homem que assassinou meu irmão.
— Talvez, — eu disse, acenando em direção à mesa de
reuniões. — Já veremos. — Eu assisti enquanto todos eles se
sentaram antes de tomar o meu lugar. — Quer se sentar,
querida? — Perguntei a Alessa, acenando para o meu colo. Sério,
eu só queria enfurecer a família dela com o comentário. E eu
consegui.
— Nem se você fosse o último homem na Terra, Primo, —
disse Alessa, me fazendo dar um pequeno sorriso. Eu tinha que
apreciar seu caráter.
— Você não precisava pegar Alessa, — disse Lorenzo, o novo
Capo dei Capo das Cinco Famílias, alguns momentos depois,
após alguns cumprimentos tensos. — E atirar no meu homem no
processo, — acrescentou.
Sim, bem, as coisas ficaram um pouco mais complicadas
quando pegaram Alessa do que quando pegaram Isabella.
— Relaxe. Salvatore vai viver. E eu precisava pegar Alessa
se quisesse fazer Ricco aparecer, — eu disse, o olhar deslizando
em direção ao homem que atirou em seu irmão.
— Todos os canais adequados foram seguidos para ordenar
o ataque a Due, — disse Lorenzo, referindo-se a uma missão com
toda a Comissão. Exceto que não era toda a Comissão, já que eu
não estava presente. E se eu soubesse alguma coisa sobre a
Família Lombardi, eles também não estiveram presentes na
reunião, já que estavam tendo tantos problemas com a nova
liderança quanto eu. Se não pior. — Se não me engano, seu pai
tinha passado pelos mesmos canais em seus dias para que um
membro da minha Família fosse atingido, — acrescentou.
Apenas a menção do meu pai fez meu sangue ferver e minha
espinha se endireitar.
— Não me compare com meu pai, — eu exigi, a voz um
sussurro áspero.
— Estou simplesmente provando que este sistema funciona
a favor de todas as Famílias com preocupações legítimas. As suas
incluídas. Isso não foi feito de forma obscura ou injusta.
— Era meu irmão, Lorenzo, — insisti. Uma coisa era fazer
com que um homem ao azar fosse eliminado. Mas irmão de um
chefe? Esse problema era sério. Eu estava levando isso a sério.
— E você sabe que a Comissão só aprova o assassinato de
homens de alto escalão na hierarquia se houver uma causa justa.
— Que justa causa você poderia ter? — Eu perguntei.
— Ricco, — disse Lorenzo, acenando com a cabeça em
direção ao irmão de Alessa, que tirou uma pasta enrolada de seu
colete à prova de balas, abrindo-a sobre a mesa e puxando
páginas individuais, em seguida, passando-as sobre a mesa em
minha direção.
Eu podia sentir que estava me endireitando ao pegar a
pasta. Porque se havia documentos ou fotos de qualquer tipo, era
perfeitamente possível que eu me enganasse sobre a situação. A
Comissão pode muito bem ter tido as suas razões.
Eu nunca poderia ter previsto esses motivos, no entanto.
Um músculo no meu maxilar se contraiu quando eu o
apertei com força o suficiente para que a dor subisse pela minha
boca e pelas têmporas enquanto eu olhava para as fotos na
minha frente, sem ter certeza se queria acreditar nelas, mas não
sendo capaz de negá-las tampouco.
— Seu irmão foi pego aliciando menores, — explicou Ricco,
fazendo meu estômago embrulhar, mesmo enquanto olhava para
a prova disso diante de mim. — Online, como você pode ver pelas
mensagens, — continuou ele. — Mas também pessoalmente.
Recebemos notícias de alguém em sua comunidade cujo filho
disse que Due tentou fazê-lo entrar em seu carro e voltar para
sua casa para tomar sorvete. Ele tinha nove anos, — concluiu
Ricco.
Raiva, uma velha e conhecida amiga, ardeu pelo meu corpo,
um fogo que acendeu e se espalhou até me engolir inteiramente.
Meu olhar se ergueu.
— E você simplesmente disparou na nuca dele? — Eu
perguntei.
— Ele era um pedófilo do caralho, — rebateu Ricco.
— Deixe-me reformular, — disse eu. — Você só atirou na
nuca dele? — Eu perguntei. — Homens assim deveriam ser
desmembrados parte por parte, — acrescentei, mal conseguindo
pronunciar as palavras, meu queixo estava tão tenso. — Não
importa quem sejam. Se você não tivesse estômago para isso, —
continuei, — você deveria ter trazido isso até mim. Eu o teria feito.
Eu não estava fazendo algum tipo de show para eles.
Disse isso a sério.
Disse isso muito a sério.
Sim, eu acreditava na família.
Mas não acreditava que seu sangue deva ser protegido a
todo custo, não importando o que aconteça.
Se acreditasse nisso, meu pai ainda estaria vivo e
comandando a Família Esposito.
Com um grunhido, coloquei a mão no bolso para pegar uma
chave da algema, libertando Alessa, cuja família eu não tinha
mais problemas.
— Foi divertido, querida, mas volte para o seu homem, —
eu disse, e ela nem parou.
— Isso não acabou, — disse ela ao chegar até ele. — Ele tem
um plano, — acrescentou ela.
— Não, não, — eu disse, acenando com o dedo para ela. —
Sem spoilers.
— Spoilers para quê, Primo? — Lorenzo perguntou. — Nós
resolvemos o problema.
— Nós resolvemos um problema, — disse eu. — Ainda
temos muitos que enfrentar. E todos eles voltam para a total falta
de confiança entre nossas famílias.
— Eu não discordo, — disse Lorenzo, balançando a cabeça.
— É por isso que reuniões abertas e honestas são importantes.
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Estamos
além de uma conversa. Você e eu sabemos que nunca seria o
suficiente.
— O que então você propõe? — Lorenzo perguntou,
lançando-me um olhar duvidoso.
Para isso, levantei a mão no ar, uma dica para meu homem
bater na porta. E para o homem dentro trazer Isabella.
— Que porra é essa? — Lorenzo perguntou, o corpo ficando
mais tenso do que nunca.
— Minha proposta, — eu disse, encolhendo os ombros. —
Podemos começar com esta guerra. Cada um de nós pode perder
dezenas de homens e milhões de dólares. Ou podemos acabar
com tudo agora. Com um ato de boa fé.
— Com a porra de um sacrifício, — Alessa retrucou,
praticamente vibrando de raiva.
— Alessa aqui não aprova meu plano, — eu disse, dando
um sorriso malicioso. — Ela chamou de Idade Média, se bem me
lembro, — eu disse a eles.
— Não, — Emilio, irmão de Isabella, disse, mais rápido do
que eu para descobrir o que estava acontecendo.
— Eu entendo sua hesitação, — eu concordei, balançando
a cabeça. — Ela é sua irmã mais nova, afinal, — eu disse,
acenando para o guarda e sua irmã se aproximarem.
— Eu disse não, Primo, — Emilio grunhiu, seu olhar indo
para sua irmã. — Se você a machucar... — ele adicionou, a voz
firme.
— Ela não está machucada, — insisti. Fui claro com minhas
instruções. Ela não serviria de nada se estivesse coberta de
hematomas. Eles nunca acreditariam que eu tinha boas
intenções com meu plano.
— Ela esteve chorando, — insistiu Emilio.
Meu olhar mudou para sua irmã. Ela estava implorando
para que eu não a trancasse no quarto da última vez que a vi.
Naquele ponto, porém, ela não esteve chorando.
Ela claramente chorou desde que eu a deixei. Fios de rímel
negro estavam secos em seu lindo rosto. Suas pálpebras estavam
inchadas e seus olhos e bochechas vermelhos por causa das
lágrimas.
— Imagino que foi impactante ser arrancada da rua, —
disse, dando de ombros. Afinal, as mulheres tinham muito a
temer de homens estranhos.
— Bell... — Emilio disse, a voz se desculpando enquanto
olhava para a irmã.
Para isso, Isabella apenas deu de ombros. Ela nasceu em
uma família mafiosa. Em algum nível, ela sabia que coisas como
essa aconteciam, não importa o quanto sua família
provavelmente tentasse protegê-la da realidade.
— Não, — disse Emilio novamente.
— Então guerra, — eu disse, movendo-me para ficar de pé.
— Podemos começar agora? — Eu perguntei, pegando minha
arma quando meus homens surgiram de suas posições
escondidas, cercando a mesa, bem como os homens reunidos lá.
Eu não queria um massacre.
Eu entendi como isso tornaria a máfia instável não apenas
na cidade, mas em todo os Estados Unidos. Mas estava cansado
de ser tratado como uma merda pela atual administração. Estava
disposto a lutar para voltar ao topo com meus punhos e dentes,
se necessário.
— Não! — Isabella gritou de repente, um som estridente e
feroz que fez todos pararem. Seu olhar foi para seu irmão, então
o resto dos homens, bem como Alessa, avaliando e entendendo o
dano que poderia ser feito com uma palavra minha. — Não, — ela
repetiu, olhando para o irmão, depois voltando sua atenção para
mim. Ela lutou para segurar meu olhar, mas eu tinha que dar
crédito a ela por fazer isso. — Eu vou fazer isso, — anunciou ela,
mesmo que seu lábio inferior tremesse ao fazê-lo.
— Isso é ridículo pra caralho, — disse Alessa, ficando de pé.
— Sempre foi uma forma de garantir alianças entre clãs
rivais, — eu disse, encolhendo os ombros, mantendo meu olhar
em Isabella enquanto o tremor se movia de apenas seus lábios
para todo o seu corpo.
— Sim, mas não somos clãs em guerra na idade média.
Somos uma porra de uma sociedade moderna progressiva, —
Alessa insistiu.
— De criminosos, — eu disse. — Todos nós acreditamos que
não podemos confiar uns nos outros. Se um dos seus estivesse
na minha organização, isso forçaria a confiança.
— Então me leve, — disse Emilio. — Aceite-me. Vou
trabalhar para você.
— Não. — De que diabos iria servir-me?
— Você não vai levar minha irmã, — Emilio insistiu, seu
corpo ficando rígido ao som de armas sendo engatilhadas
enquanto meus homens se preparavam para a violência.
— Está tudo bem. Está tudo bem, Milo, — Isabella insistiu,
tentando ser corajosa, disposta a ser um sacrifício para manter a
paz. Como uma parte minha sabia que ela faria. As mulheres
costumavam ser melhores nisso do que os homens. Ser
altruístas. Tomar o fardo sobre si mesmas.
— Não está tudo bem. Você não vai se casar com essa porra
de monstro, — Emilio grunhiu. E, para ser justo, não era uma
descrição imprecisa.
— Para salvar a sua vida, e a vida de todos aqui, — disse
Isabella, levantando a mão como se dissesse que não havia
escolha real no assunto.
— Você ao menos entende o que está dizendo? — Emilio
disse. — Você teria que viver com ele. Para o maldito sempre. E
outras coisas, — acrescentou ele, o rosto se contorcendo de
desgosto com a ideia de sua irmã na cama comigo.
O olhar cauteloso de Isabella deslizou para mim, cautelosa,
mas precisando de respostas.
— Eu quero um herdeiro, — confirmei. — Não é negociável.
— Não, — disse Emilio novamente.
— Está... está tudo bem, — disse Isabella, embora nada
sobre ela dissesse que estava. — Se você prometer que não será
o motivo de qualquer dano à minha Família, — acrescentou ela,
olhando para mim, erguendo o queixo.
— Prometo, — eu concordei. Aquele foi o ponto principal.
— Vou cortar sua garganta durante o sono se você voltar
atrás com sua palavra, — ela me disse, a voz trêmula, mas
ameaçando de qualquer maneira. Eu gostei daquilo. Mas o
guarda a segurando, bem, ele a puxou com força, fazendo-a
estremecer.
— Não toque nela. — Eu rebati, fazendo o homem se
encolher e as sobrancelhas de Isabella franziram. — A minha
esposa estará protegida e não lhe faltará nada, — eu disse,
olhando para Emilio. — Ela não sofrerá nenhum dano pela minha
mão, ou por ninguém nesta Família. É a decisão certa, —
acrescentei, olhando para Lorenzo.
— Você não pode estar considerando isso, — Alessa insistiu,
atirando adagas em Lorenzo Costa, nosso Capo dei Capi.
— Não parece que a decisão seja minha, — disse Lorenzo,
lançando um olhar de desculpas a Emilio.
— Você pode parar com isso, — Emilio insistiu enquanto
olhava para seu chefe e amigo de longa data, em tom
desesperado.
— Milo, — disse Isabella, chamando a atenção do irmão com
o apelido. Assim que a teve, ela acenou com os braços para as
dezenas de guardas armados ao redor. — Esta é a única maneira
de você sair daqui vivo hoje, — ela o lembrou.
— Então você tem que perder sua vida? — Emilio
perguntou, a voz ficando áspera.
— Eu vou viver, Milo. E eu vou te ver. Certo? — Ela
perguntou, olhando para mim, olhar desesperado.
Para isso, eu encolhi os ombros. — Depois de alguns meses
para ter certeza de que estão cumprindo a trégua, sim.
— Então está resolvido, — disse ela, endireitando os
ombros um pouco.
— Você...
— Você a ouviu, — eu disse. — Está resolvido. Agora vá
embora.
— Não podemos ir. Não posso simplesmente deixá-la aqui
com você, — disse Emilio. Entendi sua atitude protetora. Mas
estava tudo acabado. Estava resolvido. Ela concordou. Eles não
podiam dizer que a estava forçando por si só. Não importava se
ela gostava das escolhas, ela tinha tomado uma decisão.
— Isso é exatamente o que você vai fazer, — eu insisti
enquanto meus homens se aproximavam deles.
Acenei para Isabella, minha futura esposa, esperando que
ela se aproximasse, em seguida, estendendo a mão para retirar
suas algemas.
Ela evitou meu olhar, mas ficou ao meu lado enquanto
observava seus entes queridos caminharem em direção à porta,
não tendo mais nada a dizer sobre o assunto.
Embora o olhar de Emilio dissesse que ele faria o que fosse
necessário para ver sua irmã longe de mim.
— Eu, ah e agora? — Isabella perguntou, o olhar abatido.
— Você está perguntando aos seus sapatos ou a mim? —
Eu perguntei, esperando ela reunir coragem para me olhar.
— Você, — ela disse, a voz firme.
— Agora, nós nos casaremos, — eu disse a ela, encolhendo
os ombros e acenando para um dos meus homens que se
aproximou, fazendo-a gritar e se afastar.
— Não. Por favor. Não. Não me coloque de volta naquele
quarto, por favor, — ela implorou, olhos marejados e derramando
lágrimas antes que ela pudesse tentar salvar seu orgulho e piscar
para afastá-los. — Eu não vou tentar fugir. Eu não vou. Disse
que vou ficar. E vou. Só não me tranque ali, — gritou ela,
pressionando a mão na garganta, fazendo-me perceber duas
coisas ao mesmo tempo.
Um, ela claramente tinha problemas com claustrofobia.
Dois, ela não entendeu totalmente o acordo que tinha
acabado de fazer.
— Eu não sou seu carcereiro, Isabella, — eu disse,
observando enquanto ela piscava para mim com os olhos
lacrimejantes. — Sou seu noivo, — acrescentei, colocando a mão
no bolso para pegar o anel.
CAPÍTULO TRES

Isabella

Ele era meu carcereiro, não era?


Porque eu não podia sair. Não sem ele procurar e massacrar
todos que eu amava. Nunca poderia deixar isso acontecer.
Na verdade, me senti um pouco machucada com a coisa
toda. Não ajudou o fato de estar trancada naquele quarto
minúsculo, sem janela ou a esperança de escapar. Cada
momento lá dentro fazia com que as paredes se fechassem cada
vez mais, até que parecia que todo o ar tinha sido sugado, fazendo
meu peito ficar pesado e minha garganta apertar.
Foi quando finalmente desabei e perdi a batalha contra as
lágrimas. Não queria derramá-las. Não queria ser tão fraca. Mas
eu tive problemas com pequenos espaços desde que fiquei presa
dentro de um galpão na fazenda da minha tia-avó uma vez. Fiquei
presa lá por quase doze horas e quase estava enlouquecida de
medo quando a família me encontrou.
Isso tinha sido um problema desde então.
Na verdade, sentia que estava sufocando um pouco quando
tinha que entrar no meu armário para encontrar algo no canto.
Portanto, ficar naquele quartinho por horas elevou minha
ansiedade às alturas. Em seguida, ser arrastada para ver minha
família lá, ouvir que eu estava sendo usada como uma espécie de
bandeira branca em sua guerra e perceber que se eu não me
deixasse ser usada dessa forma, meus entes queridos morreriam,
bem, sim, não era de admirar que literalmente me sentisse um
pouco instável em meus próprios pés. E quanto à minha cabeça,
bem, ela continuou disparando em uma dúzia de direções
diferentes a cada segundo.
Eu precisava me concentrar.
E enquanto pensava, o que vi foi um anel.
E, Deus, que anel.
Eu não queria gostar. Era uma versão mais extravagante da
algema que ele tirou do meu pulso. Era um símbolo de minha
prisão, de sua propriedade sobre mim.
Mas uma parte minha que sempre amou joias exclusivas
estremeceu um pouco com o que o homem que seria meu marido
havia escolhido.
Era um grande quartzo preto rutilado em formato de pipa
no que parecia ser um anel de platina. Em cada lado da pedra
principal havia um trio de pedras pretas que, segundo meu
instinto, eram diamantes negros.
Era estranhamente adequado.
Para um homem tão escuro quanto ele.
Era um símbolo dessa escuridão.
E da minha ligação com ele.
Para sempre.
Meu estômago embrulhou com essa percepção,
imediatamente estragando meu prazer com o anel em si. Como
poderia gostar, sabendo o que é simboliza? Uma vida com um
monstro vestido de homem. A perda de todas as minhas
esperanças e sonhos para o meu futuro. Tendo que suportar a
atenção conjugal de um homem que me arrancou da minha vida
como a porra do Hades tirando a pobre Perséfone de um campo
de flores e puxando-a para o seu submundo e forçando-a a
governar com ele.
No entanto, Perséfone acabou se apaixonando por Hades.
Eu não poderia me apaixonar por Primo Esposito.
Mesmo que ele fosse, objetivamente, atraente.
Sombriamente atraente, se isso fosse alguma coisa.
Ele era um psicopata que usava sua posição, poder e
dinheiro para submeter as pessoas à sua vontade. Eu não tinha
absolutamente nenhuma dúvida de que o motivo pelo qual
ninguém me ajudou na rua foi porque ele dirigia seu território
com mão de ferro. Ele mantinha cidadãos bons e normais com
medo dele e do que ele poderia fazer com eles se entrassem em
seu negócio.
Esse era o tipo de bastardo malvado com quem me casaria.
O tipo com quem eu precisaria dividir a cama.
— Isabella, — a voz de Primo soou, o som como um chicote
estalando no espaço enorme e silencioso, fazendo minha cabeça
girar para encontrá-lo olhando para mim, aqueles olhos escuros
ilegíveis.
— O que?
— Sua mão, — disse ele, o tom impaciente.
— Você está sendo ríspido comigo? — Eu perguntei, mas
levantei minha mão. — Este era o seu plano, — eu o lembrei.
— Sim, — ele concordou enquanto sua mão agarrou a
minha.
E não, absolutamente não fez uma estranha faísca disparar
em minhas terminações nervosas. Se disparou, era porque estava
revoltada com o fato de ele estar me tocando. Essa foi a única
explicação lógica.
— Mas é você que está sendo difícil, — ele me disse
enquanto deslizava o anel em meu dedo.
— Justo as palavras que uma mulher quer ouvir enquanto
ganha um anel de noivado, — eu resmunguei, tentando não me
perguntar como o maldito anel se encaixava perfeitamente no
meu dedo.
— Se você estava esperando romance de um homem como
eu, Isabella, você estava muito enganada.
— Eu não quero romance de você, — eu insisti, puxando
minha mão de volta, cruzando-a sobre meu peito, colocando a
mão sob meu outro braço, escondendo o anel.
— Bem. Então você não ficará decepcionada.
— Toda essa situação é decepcionante, — eu o corrigi,
sentindo meu queixo estremecer.
Eu tinha um temperamento forte. Todo mundo sabia. Mas
quase sempre acabava chorando quando estava com raiva. Era
frustrante e embaraçoso e algo sobre o qual meu irmão me
provocava muito quando éramos crianças. Mesmo bem na idade
adulta, porém, não era algo que eu pudesse desfazer.
A boca de Primo se abriu como se ele fosse me responder
antes de fechá-la novamente, pensando por um momento.
Quando ele falou, sua voz era calma, até paciente.
— Você vai aprender que há benefícios em estar comigo.
— Sua provável morte prematura, você quer dizer? — Eu
perguntei, observando quando uma de suas sobrancelhas
escuras se ergueu. Eu não conseguia decidir se ele estava
surpreso ou irritado. Ou talvez ambos. — Estou apostando nisso.
Imagino que haja pelo menos uma dúzia de homens que querem
você morto.
— Mil ou mais, — disse ele, encolhendo os ombros.
— Então, vou apenas esperar.
— Talvez você deva esperar até que o casamento seja oficial
e os papéis sejam assinados antes de esperar pela minha morte,
Cordeirinho. Pelo menos então você teria direito a tudo.
— Eu não quero nada de você, — sussurrei, envolvendo
meus braços em volta do meu corpo com mais força.
— Uma esposa barata. Que inesperado, — ele disse,
pegando seu telefone enquanto ele soava, levando um segundo
para verificar a tela. — Eu tenho alguns negócios para tratar.
Terzo vai acompanhá-la ao meu apartamento. Você tem algumas
horas para se arrumar para o casamento.
Tão rápido?
Acho que ele não queria que houvesse nenhuma chance de
eu escapar do negócio. Ou para minha família descobrir como me
tirar dessa.
— Terzo? — Eu perguntei, enrijecendo, não querendo um
daqueles caras que me sequestraram perto de mim novamente.
— Meu irmão, — disse Primo, acenando para o lado da sala
onde outro homem alto, mas não tão alto, moreno e bonito com
uma semelhança inconfundível com Primo, mas mais jovem por
uns bons oito ou mais anos. — Terzo. Você conhece o
cronograma? — Ele perguntou, sem olhar seu irmão enquanto
enviava uma mensagem.
— Sim.
— Bom. Ela fica no apartamento até que eu diga para você
trazê-la.
— Oh, mas eu não sou uma prisioneira nem nada, certo,
carcereiro? — Eu reclamei, fazendo seu olhar levantar, sua
sobrancelha se erguendo novamente.
— Apenas faça o que lhe foi dito, Isabella.
— Se você pensou que esse era o tipo de esposa que iria
arranjar, escolheu a mulher errada, Primo. — Falei seu nome
como se fosse azedo na minha língua. Ele continuou usando o
meu, então eu queria usar o dele. Mesmo se u dissesse como se
fosse uma maldição.
— Você só vai tornar as coisas mais difíceis para você com
essa atitude, — disse Primo, encolhendo os ombros. — Mas o que
quer que coloque fogo em sua calcinha, baby.
— Não fale sobre minha calcinha, — eu rebati, com a
mandíbula tensa.
Isso chamou sua atenção total, no entanto. E soube pela
maneira como ele lentamente guardou seu telefone e caminhou
em minha direção, inclinando-se enquanto segurava meu olhar,
algo escuro e perverso em seus olhos, que eu tinha fodido tudo.
— Eu vou falar sobre sua calcinha sempre que quiser,
Isabella. Ou você se esqueceu de que será minha esposa de todas
as maneiras que uma mulher é uma esposa? — Ele perguntou.
Aquela reviravolta no meu estômago foi absolutamente
nojenta. Certo?
Foi um momento de pura insanidade que me fez atacar. E
quero dizer atacar. Eu inclinei meu braço para trás e dei um tapa
no rosto dele. Forte o suficiente para que o som ricocheteasse
pela sala vazia.
Oh, eu tinha fodido tudo daquela vez.
Porque todos os homens na sala se enrijeceram e pegaram
suas armas.
— Um, Cordeirinho, — disse ele, passando a ponta dos
dedos pela marca vermelha em sua bochecha. — Você conseguiu
um desses. Agora leve sua bunda para o apartamento antes que
eu mesmo te arraste até lá. Terzo, — ele chamou, mantendo um
contato visual enervante o tempo todo que levou para seu irmão
se mover até mim.
— Pronta? — Terzo perguntou, tom mais leve, como se
estivesse tentando acalmar a situação.
— Sim, — eu concordei, afastando o olhar de Primo,
olhando para seu irmão mais novo, que parecia um rosto mais
amigável naquele momento. — Claro, — acrescentei,
acompanhando-o enquanto ele me levava para longe do chefe do
crime Família Esposito.
Meu futuro marido.
— Por que estamos subindo? — Eu perguntei quando
entramos no elevador enorme no armazém.
— Primo mora aqui, — disse Terzo, encolhendo os ombros.
— Ele mora em um armazém?
— O último andar, — confirmou Terzo. — O piso inferior é
para os caminhões entrarem e os trabalhadores entrarem e
saírem. O segundo andar é o centro de processamento e
embalagem de carnes. Estamos saindo do terceiro andar. E o
último andar é a casa de Primo.
— Ele mora em cima de uma instalação de embalagem de
carne? — Eu perguntei, enrugando o nariz.
— Primo gosta de estar perto do trabalho se ou quando algo
está acontecendo, — disse Terzo quando o elevador parou.
As portas se abriram para uma, bem, caixa de metal.
Meu estômago imediatamente apertou com o espaço
fechado.
— Parede de aço de um centímetro e meio, uma camada de
Kevlar, depois outra parede de aço de um centímetro e meio, —
explicou Terzo. — É à prova de balas, — ele me disse quando não
respondi. Não porque eu não estivesse interessada, mas porque
senti que o ar de repente ficou muito denso no pequeno espaço
quando as portas atrás de nós se fecharam.
Terzo apertou um botão na parede, fazendo uma gaveta se
abrir. Ele pressionou o dedo em uma tela ali, em seguida, passou
as pontas dos dedos sobre um teclado numérico, digitando uma
senha.
Então, finalmente, o que pareceu uma vida inteira depois, o
elevador se abriu e eu senti que poderia respirar direito
novamente.
Não sei como pensei que seria a casa de um homem como
Primo Esposito. Mas definitivamente não era isso.
Era, bem, aconchegante.
Acho que imaginei que um homem frio como ele teria aquele
aspecto horrível e industrial.
Mas não.
Todo o espaço era cálido e convidativo, embora um pouco
masculino, mas não de uma forma opressora. As paredes eram
de tijolo vermelho à vista, o piso de madeira escura e os tetos
eram vigas de madeira pintadas para combinar com o chão.
Exceto em uma área onde havia um loft fechado. O quarto,
imaginei. E havia apenas um.
Tentei não me concentrar nisso. Não me faria nenhum bem.
Em vez disso, concentrei-me no espaço.
Era enorme.
Eu tinha visto o armazém de fora, mas estava um pouco
ocupada demais correndo para ver o tamanho. Mas deve ter sido
um grande armazém para fazer um espaço tão espaçoso.
Janelas cobriam toda a frente do prédio, deixando entrar
uma boa quantidade de luz, mas havia algum tipo de filme nelas
que não deixava entrar completamente.
No centro estava a sala de estar com uma lareira gigante de
tijolos que parecia separar a sala de estar com sua tela plana
emoldurada, sofás de couro marrom e uma mesa longa e baixa
atrás dos sofás cheia com o que parecia ser uma enorme coleção
de discos com o reprodutor em cima.
Quando dei alguns passos para o lado, vi mais tijolos
expostos e janelas, mas também uma cozinha toda preta. Os
armários, a bancada e todos os eletrodomésticos pareciam ser de
aço inoxidável preto. Era uma cozinha grande também, mas com
todos os padrões, não apenas os da cidade de Nova York.
Eu amo cozinhar.
Mas estaria condenada se eu alguma vez cozinhasse para
ele.
— Você está livre para andar por aí, — disse Terzo,
caminhando em direção aos sofás e sentando, pegando o telefone.
— Agora é seu também, — acrescentou ele, e suas palavras foram
como um chute no estômago.
Era meu agora.
Porque eu nunca veria meu próprio apartamento
novamente.
Ok, admito que este era muito mais agradável do que o meu,
mas o meu estava cheio do amor que coloquei nele. Era meu
espaço seguro. Era o único lugar no mundo para onde eu tinha
que ir quando tudo parecia que estava desmoronando, e eu
poderia me enfiar embaixo das cobertas e me recuperar.
Eu nunca mais teria isso.
Esta seria minha casa.
Este apartamento era de propriedade de um homem que me
forçou a concordar em me casar com ele.
Um gemido patético subiu pela minha garganta.
Meu olhar disparou em direção a Terzo, não querendo que
ele ouvisse se eu estava prestes a ter outro momento emocional
de fraqueza. Eu abri minha boca para dizer algo a ele sobre
explorar o nível superior antes de me lembrar de suas palavras.
Isso era meu agora.
Eu não precisava me explicar para ele.
Endireitando meus ombros e levantando meu queixo,
mesmo que o meu interior estivesse tremendo, eu caminhei pelo
apartamento em direção à escada que levava para cima.
Não era que eu quisesse estar no quarto de Primo. Na
verdade, era o último lugar que eu queria estar. Mas foi o único
lugar que pude ver que poderia escapar por um tempo.
Eu precisava me recompor.
Poderia estar presa em uma situação impossível, mas não
ia deixar Primo ver que estava levando o melhor de mim. Eu
precisava lavar meu rosto. Precisava dar a mim mesma uma
conversa estimulante. E então eu precisava colocar o escudo de
indiferença fria.
Era a única maneira de sobreviver a essa farsa de
casamento.
E o que quer que venha depois.
O quarto de Primo era, essencialmente, uma caixa com
paredes de tijolos. Sem janelas. Mas a ansiedade não aumentou
enquanto eu caminhava em direção à porta que parecia
suspeitamente com o mesmo material da caixa de metal em que
entramos no elevador. Porque o quarto se estendia por toda a
largura do armazém e cerca de um terço do comprimento.
Houve um momento de hesitação quando alcancei a
maçaneta, uma parte minha preocupada que não fosse abrir sem
um código, e uma parte orgulhosa de mim não querendo ter que
pedir a Terzo Esposito para me dar o código.
A maçaneta preta fosca girou na minha mão, e eu senti uma
pulsação no meu coração ao abri-la. Alguma profundidade
distorcida em minha mente me fez imaginar se isso iria se
transformar em algum filme de ficção erótica extravagante, e eu
iria entrar em uma masmorra de sexo completa com chicotes e
correntes. Afinal, ele já carregava algemas.
Mas eu simplesmente entrei em um quarto.
Como o andar de baixo, as paredes eram de tijolos à vista.
Havia o mesmo piso de madeira escura e o mesmo teto com vigas
de madeira expostas. A cama era enorme. Uma super king,
talvez? Era impossível saber, já que qualquer apartamento em
que já estive tinha sorte se pudesse conter uma queen, muito
menos qualquer uma maior. Tinha uma moldura de madeira
resistente pintada da mesma cor do chão e roupa de cama toda
preta. Duas mesinhas de cabeceira flanqueavam em uma cor
preta fosca. Cada um tinha um abajur.
Estava claro que Primo dormia do lado mais próximo da
porta, a julgar pela xícara de café descartada na mesa de
cabeceira e um par de abotoaduras deixadas perto o suficiente
da beirada para cair.
Tive o desejo estúpido de ir até lá e empurrá-los para trás
para que não caíssem. O que eu me importaria se ele perdesse
uma de suas abotoaduras extravagantes? Eu não deveria estar
ajudando o homem que me tirou das ruas e da minha antiga vida.
Inferno, eu deveria estar andando pela casa, quebrando todos os
seus espelhos e derramando todo o seu azeite, na esperança de
trazer um pouco de má sorte para sua vida. O tipo de azar que
me faria uma jovem viúva e livre para voltar à minha antiga vida.
Eu respirei lenta e profundamente, então soltei um suspiro.
Provavelmente era um sonho irreal.
A realidade era que provavelmente eu estava presa a esse
homem para sempre.
— Pelo menos minha prisão é bonita, — murmurei para
mim mesma enquanto passava pela cama para a parede oposta
onde Primo tinha outra menor prateleira de discos montada com
um toca-discos de madeira em cima com uma tampa de plástico
transparente.
O homem claramente gostava de música.
Em frente à cama havia uma cômoda. Acima estava uma
obra de arte emoldurada em vermelho e preto que me fez sentir
imediatamente inquieta ao olhar para ela, então não gastei muito
tempo com isso.
Terminado o quarto, fui até o banheiro principal.
Soltei um gemido baixo. Porque era o banheiro dos meus
sonhos, com box de vidro com várias duchas e um chuveiro com
efeito de chuva. O azulejo era um negro que dava uma aparência
sexy que eu só tinha visto em filmes. A grande banheira ao lado
do espaço era da mesma cor preta. Assim como os lavabos da pia
dupla. Até as próprias pias e o banheiro eram negros.
Deveria ser opressivo, mas parecia elegante, sexy e muito
convidativo.
Acho que era bom eu ter gostado, já que usaria todos os
dias. E era com certeza uma melhoria em relação à minha caixa
de sapatos, o banheiro desatualizado do meu apartamento.
Curiosa, fui até a penteadeira que parecia que Primo usava,
peguei o pequeno frasco preto de colônia que estava ali e cheirei.
— Maldito seja, — resmunguei enquanto meu corpo
respondia ao cheiro picante.
Foi então que finalmente me vi no espelho redondo acima
da penteadeira.
Não era bom.
Eu imaginei que devia ter um aspecto desagradável, mas a
realidade era pior do que o esperado. O rímel seco agarrou-se às
minhas bochechas. Meus olhos estavam inchados do meu ataque
de pânico ao chorar. E a pele do meu rosto estava em carne viva
com as lágrimas.
Não deveria ter importado. Eu não queria estar bonita para
ele. Mas alguma vaidade interna mostrou sua cara feia, fazendo
me agarrar uma das toalhas preta, e achei que era seguro
presumir que era a cor favorita de Primo e molhei-a e comecei a
limpar meu rosto com água fria até que conseguisse tirar toda a
minha maquiagem borrada, deixando-me com uma aparência
mais jovem do que antes.
Estendendo a mão, puxei o laço do meu cabelo, sacudindo
os longos fios sobre meus ombros enquanto respirava
profundamente.
Afinal, era inútil surtar. Isso não mudaria meu destino.
Eu deveria estar me concentrando em como tirar vantagem
dessa situação. Tinha que haver uma maneira, mesmo que nada
estivesse me ocorrido, ainda.
Largando a toalha no... sim, cesto preto... eu me movi em
direção à única outra porta, abri-a e me encontrei em um mini
corredor que dava em ambas as direções.
Armários gigantes para homem e mulher.
O lado esquerdo estava preenchido com o guarda-roupa de
Primo, que parecia consistir em nada além de preto. O homem
não tinha uma única peça de roupa branca. O da direita, porém,
estava vazio, exceto pelas estantes embutidas. Era um armário
no qual eu não teria um ataque de pânico ao entrar.
Pequenas vitórias.
Tinha que contá-las.
Podem ser que sejam raras.
Afastei-me do armário e do banheiro para ficar de pé no
quarto, sem saber o que fazer comigo por quanto tempo Primo
demoraria para voltar e me arrastar para o meu destino.
Eu me encontrei andando pelo quarto por alguns momentos
inúteis, precisando gastar minha energia nervosa. Uma vez que
foi embora, eu me vi caindo na beirada da cama. Por dois minutos
antes que imagens indesejadas passassem pela minha mente.
De mim naquela cama.
De Primo também.
Ele queria um herdeiro.
Não era negociável.
O que significava que eu precisaria suportar o sexo com ele.
Ele aceitaria se eu não estivesse disposta?
Claro que sim. Porque eu nunca estaria disposta.
Com um ruído de animal morrendo sufocado, saí da cama,
caindo no chão perto de seu toca-discos, recostando-me na
parede, fechando os olhos e tentando escapar do armazém em
minha mente.
Minha mente foi para onde sempre ia.
Para a minha família.
Emilio se culparia. E eu não tinha como estender a mão
para lembrá-lo de que era minha escolha, que eu faria qualquer
coisa para salvá-lo e todos os nossos entes queridos. Minha mãe.
Deus, minha mãe estaria arrasada. Uma destruição absoluta. O
mesmo acontecia com meus outros irmãos, meus primos.
Especialmente porque levaria semanas ou meses antes que Primo
me deixasse entrar em contato com eles para que soubessem que
eu estava bem.
— Tem uma cama bem ali, — disse a voz alta, suave e
profunda, fazendo todo o meu corpo estremecer quando meus
olhos se abriram, encontrando Primo parado perto da porta.
— Sua cama, — eu disse, a voz áspera.
Essa maldita sobrancelha se ergueu novamente e eu decidi
que era um movimento condescendente. E eu o odiei ainda mais
por isso.
— Sua cama agora também, — disse ele, encolhendo os
ombros.
— Prefiro dormir no chão, — resmunguei.
Primo ignorou.
— Você vai se vestir ou o quê? — Ele perguntou, fazendo
minhas sobrancelhas franzirem.
— Isso é tudo que tenho agora, — eu disse, acenando para
minha roupa de trabalho, calça e uma blusa. Nada especial. E
mais do que um pouco enrugado e sujo pelos acontecimentos do
dia.
— O vestido no armário. Estou supondo que você
inspecionou minuciosamente o espaço.
— Não havia nada no armário, — eu disse, levantando o
queixo.
— Há um vestido. E sapatos, — disse ele.
— Não há, — rebati.
— Há.
— Vá ver por si mesmo se você tem tanta certeza, —
convidei, acenando em direção ao armário.
Primo se virou e caminhou pelo quarto até o banheiro.
E porque eu sabia que estava certa e era apenas um
pouquinho competitivo desse jeito, eu me levantei para segui-lo,
parado na porta com meus braços cruzados.
— Viu? — Eu disse, levantando meu queixo quando ele se
virou para me encarar.
— Não. É aqui, — Primo insistiu, movendo-se para o
armário que seria meu.
— Mesmo? Onde? Existe um compartimento secreto na
parede? — Eu perguntei, com um tom seco e recebendo um olhar
dele, mas não consegui ler o que encontrei em seus olhos.
— Ela deve ter colocado no meu armário, — ele resmungou,
passando por mim e entrando em seu próprio armário,
demorando um momento para encontrar uma sacola de roupas e
uma caixa de sapatos.
— Ela? — Eu perguntei, observando enquanto ele se movia
para o meu lado do armário, pendurando a bolsa e colocando a
caixa de sapatos no chão.
— A governanta.
— Você tem uma governanta?
— Você acha que eu tenho tempo para lavar meus próprios
pratos?
— Bem, ela deixou a xícara de café na sua mesa de
cabeceira, — eu disse a ele. — O que? — Eu perguntei, vendo algo
brilhar em seu olhar.
— Ela estava distraída, — disse Primo, saindo do armário.
Havia algo em seu tom.
— Distraída como? — Eu pressionei.
Eu me arrependi quando ele virou, me dando um sorriso
diabólico.
— Você está fodendo sua governanta? — Eu perguntei,
apenas percebendo que eu poderia não apenas ter que dormir
com este homem, mas também suportar sua traição implacável.
Deus, meu orgulho. Estaria em pedaços.
Eu não tolerava a traição. Jamais. Era uma causa imediata
para se livrar de um cara.
Não apenas porque eles me traíram e minha confiança e o
relacionamento que começamos a construir, mas porque ele
também me fez passar por idiota.
Isso, bem, isso não daria certo.
Mas que escolha eu teria aqui?
Nenhuma.
Eu não teria nenhuma.
— Eu fodo quem eu quiser, — ele disse, encolhendo os
ombros. — Mas se você quer saber, eu não fodo com ela. Ela
apenas chupa o meu pau de vez em quando.
Que nojo.
— Isso não vai acontecer de novo, — eu o informei,
levantando o queixo, endireitando as costas, esperando que
pudesse pelo menos fingir a força que não estava sentindo.
— É mesmo? — Ele perguntou, me olhando.
— Você me fez de idiota o suficiente, — disse eu, esperando
que meu queixo não parecesse tão trêmulo quanto parecia. — Eu
não vou permitir que você faça isso comigo também.
— Você acha que pode me dizer o que fazer? — Ele
perguntou, avançando, elevando-se sobre mim, fazendo-me
precisar erguer a cabeça para manter o contato visual. — Quem
você pensa que é? — Ele perguntou, tom baixo, ameaçador.
Mas se eu recuasse agora, estaria recuando minha vida
inteira. Eu prefiro não viver do que viver assim. Curvando-se e
prostrando-se diante desse homem monstruoso.
— Sua esposa, — eu disse, cerrando os dentes para evitar
que meus lábios tremessem.
Sua mão se ergueu ao meu lado e foi preciso muita força
para não estremecer, para me afastar.
Mas ele não iria me bater.
Não.
Em vez disso, ele agarrou minha nuca, as pontas dos dedos
apertando.
— Isso mesmo, — ele concordou, balançando a cabeça. Foi
uma pressão dolorosa no limite, e o gesto era inconfundivelmente
possessivo. O que eu não queria. De jeito nenhum. Mas houve
um aperto estranho entre as minhas pernas com a sensação de
qualquer maneira. — Agora vista-se, para que possamos
oficializar.
CAPÍTULO QUATRO

Primo

Eu não era o mais moral dos homens. Qualquer um te diria


isso. Meus pecados eram uma sombra tão negra quanto
apareciam. Mas eu tinha algumas crenças na vida, coisas que
considerava sagradas.
Como família.
Como a Família.
Como cuidar do meu bairro.
E a santidade do casamento.
Eu não tinha ilusões quando se tratava da situação. O
consentimento de Isabella para o casamento foi coagido. Ela
realmente não tinha escolha no assunto. Nenhuma pessoa
decente se salvaria sacrificando dez ou doze outras pessoas. Não
era assim que as coisas funcionavam.
Também significava que ela não tinha exatamente
concordado em me foder também.
E eu posso ser um bastardo em muitos de muitas formas,
mas eu não era um violador. Esse era um lugar onde tracei uma
linha.
Eu não iria me forçar a Isabella.
Confiava que com o tempo ela aprenderia a sentir uma
conexão comigo. E a parte física do relacionamento começaria.
Mas porque eu acreditava na santidade do casamento, no
voto que você faz não apenas ao seu parceiro, mas a Deus, isso
significava que eu não poderia mais foder por aí.
Eu tinha a sensação de que minhas bolas iam ficar azuis
antes de conseguir qualquer alívio.
Mas essa foi a escolha que fiz.
Foi também por isso que fui em frente e deixei a governanta
chupar meu pau naquela manhã, antes que o plano estivesse
oficialmente em movimento. Era o último orgasmo que eu teria
por um tempo que não foi dado por minhas próprias mãos.
Aquela merda que eu disse a Isabella foi apenas para ver
como ela reagiria.
Não fiquei desapontado.
Claro, as motivações podem ter sido egoístas, não querer
que outras pessoas pensassem que ela não era digna do respeito
do marido, mas gostei de ouvir a possessão em seu tom.
Mesmo que não tivesse nada a ver comigo.
Achei que um dia poderia ser.
— São as flores? — Eu perguntei, descendo as escadas para
ver Terzo parado na cozinha com uma caixa no balcão.
— Eu não abri ainda, — disse ele enquanto eu caminhava
para o espaço. — Por que você está se preocupando com flores,
afinal? — Ele perguntou.
Jovem.
E, portanto, um pouco estúpido.
— Porque ela será minha esposa, — eu disse, tirando a
tampa da caixa para revelar o buquê de peônia pêssego que eu
pedi. Porque ao observar Isabella enquanto planejava toda a
situação, percebi que ela só pegava peônias pêssego para manter
em seu apartamento.
— Mas não é um casamento de verdade.
— Será um casamento de verdade, — respondi. — Pode não
ser tradicional, mas é real. E porque é real, ela terá pelo menos o
menor dos gestos que mostram o como eu levo a sério a
instituição. Então minha esposa terá um buquê. Assim como ela
tem um vestido, sapatos e um anel.
— Eu não vou me casar, — disse Terzo, balançando a
cabeça.
— É exatamente assim que você deveria estar pensando na
sua idade, — concordei. — Até que você esteja maduro o
suficiente para dar ao casamento a consideração que ele merece.
Nossos irmãos estão quase prontos? — Eu perguntei.
— Eles estão esperando lá embaixo.
— Bom. E a igreja está pronta? — Eu confirmei.
— O padre está esperando.
— Bom, — eu disse, repassando a lista na minha cabeça,
não querendo perder nada. — Você está com a outra caixa? — Eu
perguntei, observando enquanto meu irmão balançava a cabeça
enquanto colocava a mão no bolso da camisa para tirar a caixa
de joias preta. — Eu poderia conseguir outro padrinho se você
tiver um problema, — eu o lembrei. — Não me falta irmãos para
escolher.
Além de Terzo. E Due.
Que eu esperava, estava sendo sodomizado com cactos no
inferno.
Amor e lealdade nunca foram dados cegamente. Sempre
houve regras. Não existia nada incondicional neste mundo. E não
deveria haver. Tudo deve vir com condições. Todos devem ter
limites que os outros não podem cruzar.
Não me importo se você é meu soldado, meu melhor amigo,
meu irmão ou meu filho. Se você mexer com crianças, eu te
estriparia sem hesitar. Estava genuinamente chateado por não
ter tido a chance de confrontar eu mesmo a Due por causa de
suas ações. Isso foi algo que nunca deveria ter sido apresentado
à Comissão. Eu mesmo teria cuidado disso com prazer se eles
tivessem me abordado com suas informações.
Esse era todo o objetivo desta aliança. Eles se sentiriam à
vontade para vir até mim com problemas, agora que eu tinha um
deles na minha vida e no mundo. Toda essa merda de movimento
pelas costas um do outro, iria parar.
— Que porra está demorando tanto? — Eu resmunguei,
checando meu relógio quando pareceu que uma hora se passou.
Ela só tinha vestido e sapatos para calçar. Não é como se ela
tivesse que colocar maquiagem ou algo assim.
Na verdade, decidi que gostava ainda mais dela sem. Ela
apagou todas as evidências de antes. O que fez seu rosto parecer
mais aberto. Mais, não sei, vulnerável e legível.
Eu iria em frente e não mencionaria isso para ela. Se o
fizesse, ela provavelmente usaria maquiagem dia e noite, até para
dormir, só para me irritar.
Eu não tinha ilusões sobre como ela se sentia sobre o acordo
e sobre mim.
Ela conseguiu suprimir o estremecimento quando eu me
aproximei, mas não havia como confundir o medo que cruzou
seus olhos. Eu já tinha visto isso muitas vezes em um número
incontável de rostos. Não havia dúvida.
— Lá vamos nós, — disse Terzo quando, com certeza, houve
o som de saltos na plataforma fora do quarto. — Droga, — ele
disse antes mesmo que eu tivesse a chance de me virar.
Entretanto, precisava de muito para impressionar meu
irmão perspicaz, então eu me virei imediatamente, observando
enquanto Isabella descia as escadas em seu vestido de noiva.
Era um vestido comum, não um vestido de festa.
Tive a impressão de que, embora ela gostasse da moda,
parecia preferir estilos simples e elegantes, designs atemporais.
Então, escolhi um vestido simples de seda cor de pérola com
uma bainha que quase fazia seus sapatos desaparecerem
completamente. Parecia que subestimei como ela era baixa. O
corpete do vestido era recatado, mas não pudico, e as alças eram
finas, deixando seus ombros bronzeados nus.
Ela havia arrumado o cabelo também, que caía em ondas
suaves pelas costas.
Seu queixo estava para cima.
Como uma rainha caminhando para a guilhotina. Ciente de
seu destino, mas recusando-se a se reduzir a caminho dele.
Eu escolhi bem.
Não faltaram mulheres na Família Costa para selecionar,
mas algo em Isabella simplesmente me chamou a atenção. Como
se algo dentro de mim reconhecesse que ela era quem poderia
navegar neste futuro comigo. Gostasse ou não.
Antes que eu pudesse abrir minha boca para cumprimentá-
la, ela parou e deixou cair a saia do vestido que havia segurado
nas mãos, deixando-o cair e esparramar no chão.
— Isso é muito longo, — ela me disse. Nem um
agradecimento pelo vestido. Nem comentário sobre o estilo. Uma
reclamação sobre como ficava.
Eu gostei disso mais do que deveria.
— Vou anotar suas medidas para referência futura, — eu
disse, segurando a caixa.
— O que é isso? — Ela perguntou, imediatamente
desconfiada.
— Com o que se parece?
— Eu não quero isso.
— Que pena, — eu disse, abrindo a tampa. — Você vai usar
isso, — eu disse a ela enquanto ela olhava para ele, seu olhar
baixo, então era impossível ler seus sentimentos.
Tinha trinta e nove diamantes negros de corte redondo,
cada um deles incrustado em um anel de diamantes normais. Um
total de cento e vinte quilates com uma faixa de ouro branco.
— Eu disse que não queria, — disse ela, ainda olhando para
baixo.
— Isso é quinze mil... — Terzo começou a dizer, sendo
cortado por um gesto antes que eu arrancasse o colar da caixa,
abrisse e me movesse para trás de Isabella para colocá-lo sobre
sua pele.
— Eu disse que não quero.
— E eu disse que é uma pena, porra, — respondi,
prendendo-o no lugar. — Você também vai ser um pé no saco
com o buquê? — Eu perguntei, pegando-o do balcão.
— São peônias cor pêssego? — Ela perguntou, o olhar
disparando para mim.
— Sim.
— Como é que... — ela começou, em seguida, parou quando
ela entendeu. — Você esteve me perseguindo? — Ela perguntou,
o rosto torcido numa careta.
— Estava decidindo qual mulher Costa escolher, — eu
disse, encolhendo os ombros.
— Isso é realmente assustador. Só para você saber.
Espreitando nas sombras como algum incel1 que mora no porão.

1 Incel (palavra-valise inglesa a partir de involuntary celibates — "celibatários

involuntários") é uma referência a membros de uma subcultura virtual que se definem como
incapazes de encontrar um parceiro romântico ou sexual, apesar de desejarem ter, um
estado que descrevem como inceldom.
— Essas palavras de amor no dia do nosso casamento, —
eu disse, empurrando o buquê em sua direção. — Vamos lá. O
padre está esperando, — eu disse, acenando em direção à porta.
Notei que, quando entramos no elevador, ela respirou lenta
e profundamente várias vezes, confirmando ainda mais minhas
suspeitas sobre seus problemas com espaços pequenos.
Ela ficou em silêncio durante a descida e enquanto nos
aproximávamos com meus outros irmãos.
— Isabella, estes são Dawson e Dulles.
— Dawson e Dulles, — Isabella repetiu, franzindo as
sobrancelhas. — Primo, Due e Terzo. Primeiro, segundo e
terceiro, — disse ela, deixando claro que tinha pelo menos um
conhecimento superficial de italiano.
— Dawson e Dulles tiveram uma mãe diferente, — eu disse
a ela, deixando de fora os detalhes feios e sangrentos que
cercavam essa verdade.
Eles pareciam diferentes de mim e de Terzo também. Eles
eram altos, mas onde Terzo e eu éramos mais esguios, eles eram
naturalmente mais robustos, e muitas horas no ginásio os
deixavam ainda mais fornidos. Onde meu cabelo e o de Terzo
eram pretos, o deles era um tom escuro de castanho. E onde
nossos olhos eram castanhos, os deles eram de um tom verde
brilhante, quase anormal. Eles eram gêmeos idênticos, mas uma
juventude nas ruas, deixou-os com cicatrizes que ajudaram a
diferenciá-los.
— Tudo limpo? — Eu perguntei, olhando para eles,
retransmitindo a pergunta silenciosa.
Os Costas não apareceram para impedir isso, não é?
— Está tudo pronto.
— Vamos então, — eu disse, acenando com a cabeça em
direção à porta que dava para a saída.
— Onde está o carro? — Isabella perguntou ao perceber o
beco vazio ao lado do prédio.
— Estamos caminhando.
— Estamos caminhando? — Ela retrucou. — Está trinta
graus lá fora. Estou usando um maldito lençol de seda, —
acrescentou ela, acenando para si mesma.
— É do outro lado da rua, querida, — eu disse, balançando
minha cabeça, pressionando a mão na parte inferior de suas
costas e empurrando-a para fora.
— Fácil para você falar com seu terno, — ela resmungou,
encolhendo-se enquanto o frio batia em sua pele.
Achei que tinha pensado em tudo.
Eu tinha esquecido da jaqueta, do cachecol ou do xale.
Ou talvez uma parte minha o tenha omitido
propositalmente. Porque eu queria que a vizinhança a visse em
seu vestido de noiva, caminhando ao meu lado de boa vontade.
Não haveria dúvidas de quem ela era, qual era sua conexão
comigo.
Eram três minutos de exposição ao frio.
Seu ódio deveria mantê-la aquecida o suficiente. E não se
engane, ela estava furiosa enquanto levantava as saias e tentava
acompanhar meu ritmo enquanto a conduzia pelo beco, para a
rua e depois por ela.
Eu podia sentir minha vizinhança encostada nas janelas
para assistir. Os que estavam na rua pararam para me oferecer
sorrisos tensos e acenos de cabeça, felicitações silenciosas pelo
meu casamento.
A igreja era um prédio antigo e familiar que serviu de
consolo para mim quando menino, quando minha vida em casa
se tornou insuportável. Algo sobre a pedra cortada e desgastada
pelas adversidades do clima para um cinza suave e neutro, os
vitrais, os detalhes em vermelho no interior, fazia que o mundo
desaparecer quando eu entrava.
— O que? — Eu perguntei quando Isabella parou do lado de
fora das portas redondas de madeira com seus emblemas de cruz.
Ela estava tremendo de frio e eu mal me contive para não
tirar minha jaqueta e colocá-la sobre seus ombros.
— Tenho medo de explodir em chamas se entrar em uma
igreja com você, — disse ela.
Olhando para frente, ela perdeu o sorriso que curvou meus
lábios.
— Venha, — eu disse, me aproximando para pegar a mão
dela, sentindo todo o seu corpo enrijecer com o contato. —
Precisamos tornar isso oficial.
CAPÍTULO CINCO

Isabella

Eu sonhei com o dia do meu casamento, inúmeras vezes na


minha vida.
Minha família costumava me provocar, quando menina e
até adolescente, eu comprava revistas de casamento e recortava
meus vestidos, arranjos de flores ou bolos favoritos.
Tudo sempre foi muito claro para mim.
Um grande casamento na igreja com minha família e
amigos, seguido por uma recepção em uma sala ampla em algum
lugar. Algo lindo, mas discreto. Sem exageros.
Imaginei minha mãe ficando bêbada no open bar e entrando
na pista de dança para fazer memórias que seriam colocadas em
filmes das quais ela se arrependeria mais tarde. Imaginei o menu,
a banda, os sorrisos nos rostos dos meus entes queridos.
Mas eu nunca imaginei o homem.
Achei que ficaria claro para mim quando ele finalmente
cruzasse meu caminho. Eu nunca quis arruinar meus sonhos
com meu casamento com os rostos dos caras com quem eu
realmente namorei. Uma lista de homens que nunca significaram
nada de importante para mim.
Eu era uma romântica, no entanto. E acreditava que ele me
encontraria se eu lhe desse tempo suficiente.
Eu deveria ter me conformado com um dos outros caras
aleatórios com quem namorei. Isso teria me salvado desse
destino.
Se eu tivesse feito isso, porém, seria uma de minhas
parentes no meu lugar? Eu não conseguia imaginar nenhuma
delas sendo condenada a esse destino. Talvez fosse melhor que
fosse eu.
Em todas as vezes que imaginei o dia do meu casamento,
porém, nunca imaginei sendo arrastada para o frio congelante no
que não passava de um erro. Sem minha mãe. Ou meu irmão.
Com absolutamente ninguém que me amava por perto.
Com esse pensamento, senti o ardor em meus olhos
novamente, precisando piscar para conter as lágrimas enquanto
Primo continuava me conduzindo pelo corredor dos bancos e
subindo em direção ao altar onde a forma encolhida do padre
estava esperando por nós. Esperando para selar meu destino.
Ele parecia não saber que eu fui forçada a entrar nessa
situação, pelo menos. Ele me deu um sorriso tenso que se abriu
quando olhou para Primo.
Estranho.
Mas tudo bem.
A partir daí as coisas ficaram um pouco confusas.
Palavras foram lidas na Bíblia.
Então Primo foi levado a recitar seus votos.
Observei enquanto ele exibia a aliança de casamento que foi
claramente projetada para combinar com a minha aliança de
noivado. Era feita de diamantes negros em uma forma que a
colocava em forma de concha na ponta mais curta da pedra em
forma de pipa em meu dedo.
Eu estava mais distraída com as mãos quentes de Primo nas
minhas geladas enquanto ele dizia seus votos. Talvez ele me
olhou. Eu não sabia. Eu tinha meu olhar abaixado, uma parte
minha tão dissociada que o padre precisou me alertar duas vezes
para começar a repetir depois dele.
E então chegamos às palavras.
Essas duas palavras.
Aqueles que selariam todo este negócio.
— Senhorita? — O padre perguntou novamente, fazendo-me
balançar a cabeça, saindo do meu estupor.
— Eu... aceito. — Eu mal consegui soltar as palavras.
Mas elas saíram e foram ouvidas.
E estava tudo acabado.
— Eu os declaro marido e mulher. Você pode beijar a noiva,
— o padre falou.
Meu estômago se revirou com as palavras.
Mas antes que eu pudesse sequer pensar em responder a
elas, a mão de Primo estava agarrando minha nuca com a mesma
pressão e possessão que ele havia feito em seu apartamento.
Desta vez, porém, ele estava me arrastando para frente até que
meu peito esmagasse o dele. Eu tive um breve momento para
sentir seu corpo duro antes de seus lábios baterem nos meus.
Com força.
Não havia nada suave ou doce ou mesmo formal sobre esse
beijo.
Foi áspero e primitivo, quase doloroso.
Antes que eu pudesse contar até cinco, porém, acabou, e
Primo estava agradecendo ao padre, dizendo que o veria em
breve, depois se virando para descer o corredor novamente.
— Você vem? — Ele perguntou, voltando-se para mim,
sobrancelha levantada. — Sra. Esposito? — Ele acrescentou, e o
título foi como um chute no estômago, me deixando sem ar.
— Isso não é... isso não é oficial, — eu disse, olhando para
ele.
— Aos olhos de Deus, é.
— Sim, bem, o estado de Nova York pesa sobre essas
questões também. E se não estou enganada, para que isso seja
realmente oficial, seria necessária uma licença de casamento.
— Existe uma, — ele disse, encolhendo os ombros.
— Não pode haver.
— E, no entanto, existe.
— Eu precisaria estar presente. Não há licenças de
representação.
— Há muitas coisas que você pode conseguir neste mundo
se seus bolsos forem fundos o suficiente, — disse ele, fazendo um
arrepio percorrer meu corpo.
Primo confundiu o tremor com um frio externo, em vez de
interno. E assim, ele estava tirando o paletó e se movendo em
minha direção para colocá-lo sobre meus ombros.
O material ainda estava quente de seu corpo, esquentando
minha pele fria, mesmo quando eu podia sentir o cheiro da
maldita colônia inebriante pegada ao tecido.
— Você está pronta?
— Pronta para que? — Eu perguntei, ouvindo a derrota em
minha própria voz.
— Para voltar para o apartamento, — disse ele.
Eu estava orgulhosa de mim mesmo por me segurar até
aquele momento. Tirando a bagunça de todo o depósito, o que
teria acontecido independentemente das circunstâncias. Mas eu
não desmoronei por causa do meu destino.
Mas naquele momento, parada no meio de uma igreja com
uma aliança no dedo, sozinha com o homem que agora era meu
marido, que agora iria querer... coisas de marido e mulher, eu
estava perdendo o controle. E rápido.
Lágrimas inundaram meus olhos antes que eu pudesse
tentar afastá-las. Como se isso não fosse ruim o suficiente, um
soluço escapou, um som que fez a cabeça de Primo sacudir um
pouco para trás.
— O que? — Ele perguntou, dando um passo mais perto
enquanto seus irmãos se estavam a vários metros abrindo as
portas, deixando entrar o frio.
Minha mão se ergueu, fechando-se sobre a boca para conter
outro gemido humilhante. E falhando.
— Isabella, o quê? — Primo rosnou, dando mais um passo
em minha direção, elevando-se sobre mim, roubando todo o ar.
— Eu não quero, — eu engasguei, piscando outra enxurrada
de lágrimas pelo meu rosto.
— Não quer fazer o quê? — Ele perguntou, tom afiado,
impaciente.
Deus, eu nem queria dizer isso.
— Eu não quero dormir com você esta noite, — disse a ele,
o lábio inferior tremendo, e nunca me senti mais patética do que
agora.
— Entendo, — disse Primo, com o maxilar rígido
E eu realmente, realmente não queria irritar um homem que
esperava consumar seu casamento. As repercussões disso...
— Eu sei o acordo que fiz. Eu sei, — eu disse, as lágrimas
fluindo livremente. — Não vou voltar atrás nisso, — acrescentei,
fungando. — Só... não me obrigue esta noite, — implorei,
odiando-me um pouco por ter que implorar.
— Você sabe o que está dizendo, o que está insinuando? —
Ele esclareceu.
— O que? — Eu perguntei.
— O que é sexo sem consentimento? — Ele perguntou.
— Es... estupro, — respondi, porque era a única maneira de
descrever.
— Você sabe o que fazemos aos estupradores nesta
comunidade? — Ele perguntou, a voz sombria.
— Não.
— Nós os matamos, Isabella, — disse ele, e não havia
nenhuma dúvida em minha mente de que ele estava dizendo a
verdade com o quão feroz sua voz soou. — Eu não tolero
estupradores. E também não tolero ser chamado como um.
Vamos, — ele retrucou, agarrando meu pulso e quase me
arrastando pela igreja, me deixando tropeçar nas minhas saias
já que eu estava tentando segurar a jaqueta nos meus ombros.
Antes que eu pudesse pensar em torno do que tínhamos
acabado de discutir, estávamos do outro lado da rua e no
elevador no caminho de volta para o apartamento.
Nosso apartamento.
Isso levaria algum ajuste.
Terzo, Dawson e Dulles caminhavam de volta conosco e me
senti estranhamente confortado com a presença deles. Isso
significava, pelo menos, que eu não estaria sozinha com Primo.
Por um tempo, pelo menos. Com o tempo, isso era algo com que
eu precisaria chegar a um acordo. Mas até então, havia outras
pessoas em quem ele deveria prestar atenção.
Ninguém falou comigo enquanto caminhávamos para o
apartamento. Os homens caminharam em direção à cozinha e vi
Dawson fazendo café.
Deus, eu gostaria de uma xícara. Foi o dia mais longo da
minha vida. Física e emocionalmente. O café sempre foi uma
bebida reconfortante para mim, em vez de um estimulante. Eu
bebia para relaxar depois do trabalho.
Eu poderia precisar de um pouco de relaxamento.
Mas eu não queria ter que pedir uma xícara.
Em vez disso, voltei a subir as escadas para o quarto,
entrando no armário para tirar os saltos que, embora muito
caros, a julgar por seu solado vermelha, apertava os meus dedos
dos pés.
Sem saber o que mais eu poderia fazer, fui até a porta do
banheiro, fechei-a e fui até a banheira.
Se eu não pudesse relaxar com um pouco de café, poderia
pelo menos relaxar com um banho.
Uma parte minha estava com medo de ficar nua em uma
casa cheia de mafiosos. Mas algo na firmeza da voz de Primo me
fez acreditar que ele não era um homem que me tocaria sem o
meu consentimento.
Havia isso, pelo menos.
Então, tirei meu vestido de noiva. Peguei uma toalha de
banho fofa que mais parecia um cobertor e pendurei ao lado da
banheira antes de entrar.
Não sei quanto tempo fiquei lá. Mas quando finalmente sai,
a água estava gelada e meus dedos estavam completamente
enrugados.
Eu me sequei, mas não tinha nada para vestir a não ser
minhas roupas sujas de trabalho ou o vestido de noiva que usei
por meia hora. Decisão tomada, eu voltei a vesti-lo, então fui em
direção à porta, abri-a e quase tropecei na xicara de café colocada
no chão.
Ele me trouxe café?
Não.
Isso não parecia algo que um homem como Primo faria.
Talvez um de seus irmãos.
Dawson e Dulles pareciam um pouco mais amigáveis do que
Primo e Terzo.
Não era o café com leite chique que eu poderia ter comprado,
mas tinha leite e açúcar que o tornavam completamente bebível.
Eu bebi enquanto folheava os discos de Primo, sem
encontrar nenhuma rima ou razão real para sua coleção. Ele
tinha de tudo, de Sinatra a alguma banda de pop-punk que me
lembrou de alguns amigos meus que gostavam no colégio.
Descobrindo-me muito interessada nisso, deixei o vinil em
paz e desci as escadas. Os homens ainda estavam na cozinha,
mas desta vez, havia cheiros. Cheiros celestiais.
Comida.
Deus, eu estava com tanta fome.
Eu nem sabia que horas eram, mas parecia que não comia
há dias.
— Isabella, — Primo chamou, me fazendo estremecer, sem
pensar que ele poderia me ver de sua posição. — Você precisa
comer, — acrescentou ele quando não respondi.
— O que você pediu? — Eu perguntei, embora realmente
não importasse o que ele tinha pedido. Eu comeria uma de suas
gravatas se estivesse sufocada em molho vermelho.
— Pedir? Não, — ele disse enquanto eu me movia para a
cozinha, encontrando-o parado lá com as mangas arregaçadas,
revelando antebraços fortes e bronzeados e um relógio de
aparência muito cara.
Mas o que era mais desagradável do que vê-lo parecendo
casual era o fato de que parecia estar tirando algo de uma panela.
Uma panela.
Como se ele tivesse cozinhado.
Não.
Isso não era possível.
Eu tinha certeza de que nenhum dos meus parentes do sexo
masculino sabia como ligar um fogão. As mulheres se
certificaram disso. Vim de uma família tradicional italiana dessa
forma. As mulheres mostraram seu amor com a comida.
Montanhas de comida para homens e crianças. Eu fazia ravióli
com minha mãe desde os três anos de idade, de pé em uma
cadeira ao lado dela e colocando a mistura de ricota no centro de
suas fileiras de massa enrolada.
— Sente-se, — ele exigiu, acenando em direção à mesa da
sala de jantar em direção ao lado da cozinha.
Acho que fiquei chocada demais para me opor a
compartilhar uma refeição com eles. Minhas pernas
simplesmente me levaram até a mesa e me colocaram em uma
cadeira.
Nem dois minutos depois, Primo estava empurrando um
prato na minha frente.
— Vodca penne com pancetta e ricota frita, — disse Primo,
do jeito autoconfiante e ensaiado de alguém que preparava e
servia comida com frequência aos convidados. O que não se
encaixava na imagem que eu tinha dele em minha cabeça. —
Haveria pão de alho se meus irmãos pudessem ser responsáveis
o suficiente para retirá-lo antes que queimasse, — disse Primo,
lançando um olhar duro para os irmãos. — Branco ou tinto? —
Ele perguntou, me fazendo olhar para cima para encontrá-lo
segurando garrafas de vinho.
Pisquei lentamente para ele por um momento antes de
encontrar minha voz. E foi puro atrevimento que saiu da minha
boca.
— Você não sabe a resposta depois de toda a perseguição
que você me fez? — Eu perguntei, recebendo uma risadinha de
um de seus irmãos. Dulles, eu acho. Aquele com uma cicatriz
dividindo o lábio inferior.
A sobrancelha insuportável de Primo se ergueu com o
comentário. — Você bebe indistintamente, — ele me informou. —
E muitas vezes incorretamente, — disse ele, pegando um saca-
rolhas e abrindo o tinto.
— Incorretamente, — eu repeti enquanto ele pegava uma
taca com haste longa.
— Você almoçou com seu irmão há uma semana. Você
pediu massa com molho vermelho e bebeu vinho branco, — ele
me informou enquanto colocava o vinho tinto na frente do meu
prato. — Pinot Noir teria casado melhor, — ele me disse,
apontando para a taça que havia deixado.
Reconheço que não era muito versada em vinhos. Eu só
sabia que gostava. Branco, rosé, tinto. Não importa. E como
minha família sempre foi mais casual sobre esse tipo de coisa, eu
nunca realmente aprendi sobre o que combinava com o quê.
Bebemos tudo o que tínhamos para jantares de família.
— Coma, — Primo exigiu, caminhando de volta para a
cozinha para preparar pratos para seus irmãos. Cada qual
lentamente se juntou a mim na mesa enquanto eu seguia em
frente e abaixava a cabeça quando comecei a comer.
Talvez eu não devesse ter sido antissocial. Esses homens,
quer eu gostasse ou não, eram meus parentes agora. Eu teria que
aprender a interagir com eles ou a vida seria muito tensa. Mas
eu simplesmente não sabia o que dizer naquele momento.
Inferno, não havia nem mesmo uma voz na minha cabeça falando
como sempre fazia no dia a dia. Eu apenas me senti em branco.
Felizmente, os homens continuaram falando sem mim,
discutindo coisas desde esportes até algo sobre peru orgânico que
eu nem comecei a entender.
A comida, porém, Deus, a comida estava impecável. Na
verdade, fiquei com um pouco de ciúme porque Primo sabia
cozinhar tão bem. De repente, senti como se todos os pratos que
fiz fossem uma porcaria.
Terzo foi quem tirou a mesa.
E então, de repente, todos se foram.
Incluindo meu marido.
Eu não tinha ideia de para onde eles foram. E eu
honestamente não me importei. Eu estava exausta demais para
ficar curiosa sobre como eles funcionavam.
Sozinha, fui para a sala, ligando a TV porque o silêncio no
apartamento era ensurdecedor, então me enrolei no sofá.
Eu desmaiei antes que o programa pudesse ir para seu
primeiro intervalo comercial.
Não sei quanto tempo dormi, mas sei o que me acordou.
Braços fortes deslizando sob minhas costas e joelhos, então
me levantando do sofá.
Meu corpo inteiro estremeceu com força. Desorientada, um
pouco lenta para entender os detalhes, meu instinto imediato foi
fugir.
— Shh, — uma voz masculina disse quando me vi puxada
contra um peito forte. Com uma colônia picante recentemente
familiar agarrada ao tecido de sua camisa preta. — Estamos indo
para a cama, — acrescentou ele, enquanto começava a andar pelo
apartamento em direção às escadas.
— Quero dormir no sofá, — insisti.
— Não.
Isso foi tudo.
Não.
E seu tom não admitia discussão.
Que pena para ele que eu sempre estava pronta para uma.
— Sim. Eu estava confortável, — eu insisti, mesmo que
estivesse me perguntando como tirar a cãibra do meu pescoço.
— Você não vai dormir no sofá.
— Por que não? — Eu perguntei enquanto os braços de
Primo me seguravam com mais força quando ele começou a subir
as escadas.
E não me senti nem um pouco bem.
Repito: não me senti bem.
Mas se assim fosse, era apenas porque fazia muito, muito
tempo que eu não sentia os braços de um homem forte ao meu
redor.
— Você é minha esposa. Você vai dormir na minha cama.
— Por quê? Ninguém está aqui para me ver dormindo no
sofá.
— Meus homens vêm e vão sempre que precisam de mim.
— Então, você se preocupa com as aparências? — Eu
perguntei, revirando meus olhos para ele. — Isso é patético.
— Nesta vida, Isabella, — ele retrucou, e eu tentei não notar
a maneira única como ele disse meu nome... Issa-bella, em vez
de Is-abella, — as aparências importam. É por isso que nos
vestimos bem. É por isso que temos códigos e regras. Sempre que
você se afasta das aparências que os estranhos esperam de você,
você se abre para a especulação e se torna mais fraco. Um homem
cuja esposa não compartilha sua cama fica mais fraco se outros
homens descobrirem. E este quarto é resistente a balas, — ele
acrescentou enquanto me abaixava para o que seria o meu lado
da cama.
— Espere, não, — eu disse, sentando-me na cama,
observando enquanto ele caminhava ao redor do pé da cama. —
Você não pode simplesmente lançar frases como essa e não
esperar perguntas.
— Que perguntas você poderia ter, querida? Como funciona
a proteção contra balas?
— Eu não sou uma idiota. E Terzo explicou a coisa do aço
e do kevlar.
— Então qual é a pergunta? — Ele perguntou, tirando o
relógio enquanto ficava de pé ao lado da cama. Em seguida,
vieram as abotoaduras. E eu estava fingindo não perceber que
era uma coisa muito íntima ver um homem cumprindo sua rotina
noturna.
— Por que eu precisaria dormir atrás de uma parede à prova
de balas? — Eu perguntei.
— Porque, você goste da situação ou não, você agora é uma
esposa da máfia. Não, mais do que isso. Esposa de um chefe.
Uma rainha da máfia. Você é um alvo de alto valor para qualquer
pessoa que queira foder com minha família.
— Puxa, isso é apenas o que uma garota quer ouvir antes
de dormir, — eu disse, balançando a cabeça.
— Você perguntou, — ele me lembrou, pegando seu cinto.
— O que você está fazendo?
— O que parece que estou fazendo? — Ele perguntou,
removendo o cinto, em seguida, enrolando-o na mão e
prendendo-o antes de colocá-lo na cômoda.
Então, ah, então, ele começou a desabotoar a camisa.
E eu não conseguia desviar o olhar quando ele tirou o tecido
preto e expôs as costas fortes por baixo.
As costas fortes entrecruzadas de cicatrizes. Cicatrizes
antigas, desbotadas quase ao tom da pele com a idade.
O que diabos aconteceu com ele?
Havia uma tatuagem em seu braço que eu localizei quando
ele começou a se virar, mas eu não conseguia descobrir o que
era.
Então, bem, então havia todo seu torso para ver.
Eu sabia que ele era forte graças a ser puxada contra ele
para o nosso beijo de casamento e, em seguida, carregada contra
seu peito. Mas eu não acho que estava totalmente preparada para
como ele era bem construído sob aquele seu terno preto. Ele tinha
uma constituição esguia, mas oito gominhos eram algo que
poderia fazer uma mulher chorar. E aquele cinto de Adonis,
aquele V profundamente gravado que desaparecia no cós da
calça, era o tipo de coisa que enfeitava as capas das revistas de
fitness masculinas.
Eu não queria ficar impressionada com seu corpo.
Mas não havia como confundir a perfeição absoluta disso.
— Gosta do que vê, querida? — Primo perguntou, fazendo
meu estômago embrulhar por ser pego boquiaberta.
— O que é essa tatuagem? — Eu perguntei, tentando soar
casual, indiferente.
O outro braço de Primo se ergueu, esfregando a tatuagem.
— Um brasão.
— Brasão da família, — eu repeti. — Mas você não matou,
o seu pai com uma faca para cortar carne? — Eu perguntei, não
entendendo a ideia de ter um símbolo de orgulho familiar em seu
braço se você sair por aí matando membros dessa família.
— Cortarei a garganta de qualquer pessoa que não seja
digna de carregar o nome da família, — disse ele, calmo, casual.
O único tipo de pessoa que poderia fazer isso eram
psicopatas.
E eu estava casada com um.
Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, porém, ele
estava tirando as calças e deixando-as cair pelas pernas,
deixando-o com nada além de uma cueca boxer preta justa.
Meu olhar se desviou, não querendo ser pego olhando para
aquela parte específica de seu corpo. Ele poderia ter uma ideia
errada. Eu não queria pressioná-lo a testar sua crença em ser o
tipo de homem que não se impõe às mulheres.
Ele desapareceu no banheiro por um momento, escovando
os dentes, me deixando muito ciente do fato de que eu não tinha
nada.
— O que? — Ele perguntou quando voltou para o quarto.
Acho que meu olhar estava nele, mas minha mente estava longe.
— Eu não tenho nada, — eu disse a ele.
— Nada, — ele falou, ficando ao lado da cama.
— Roupas, itens de higiene pessoal, qualquer coisa. Eu não
tenho nada.
— Meus homens vão pegar suas coisas antigas depois, —
ele disse, encolhendo os ombros. — Mas você pode fazer compras
amanhã. Dawson e Dulles vão levá-la.
— Achei que não era mais uma prisioneira.
— Você não é. Você é minha esposa. O que significa que
você precisa de guardas, — ele me informou.
— Oh. OK.
— Eles a levarão a qualquer lugar que você precise ir. Você
pode comprar o que precisar. E então você vai me encontrar para
jantar.
— Para o jantar, — eu repeti.
— Sim. Comida. Comer…
— Eu sei o que jantar significa, — eu disse, revirando meus
olhos.
— Então por que você está repetindo o termo como se não
fizesse sentido?
— Não sabia que passaríamos tanto tempo juntos.
— Uma hora do seu dia é tanto tempo? — Ele perguntou,
puxando os cobertores do seu lado. — A comunidade precisa ver
você, reconhecer você.
— Por quê?
— Para que saibam que você é minha, — disse ele, deitando
e se cobrindo com as cobertas. — Você terminou as perguntas?
— Ele perguntou.
Meu olhar se moveu para frente, olhando para a pintura
horrível em frente à cama.
— Mais uma.
— Estou à espera.
— Posso comprar arte? — Eu perguntei.
— Arte? — Ele perguntou, virando a cabeça no travesseiro
para olhar para mim.
— Eu realmente odeio isso, — eu disse a ele, acenando para
a monstruosidade em frente à cama.
E, com isso, recebi um ruído baixo e retumbante que pode
ter sido a versão de Primo de uma risada.
— O que? — Eu perguntei quando ele alcançou a mesa de
cabeceira, pegando algo.
— Não é arte, — disse ele, fazendo-me perceber que pegou
um controle remoto quando clicou no botão e fez o protetor de
tela vermelho feio desaparecer. — Você pode mudar a imagem se
você a odeia tanto. Mas, para responder à sua pergunta, você
pode comprar o que quiser.
E com isso, ele apagou a luz e parecia que a conversa havia
acabado esta noite.
Ele parecia estar dormindo.
Fiquei acordada por um tempo, clicando nas imagens na TV
antes de encontrar uma que me lembrasse muito da fazenda da
minha tia de quando eu era uma menina.
Você pode comprar o que quiser.
Essas palavras voltaram para mim quando eu estava
começando a cair no sono.
Bom.
Isso certamente me deu uma ideia, não foi?
Claro, eu posso ter sido forçado a este casamento. Perdi
contato com todos que eram próximos e queridos para mim.
Ele tirou tudo disso e eu não consegui absolutamente nada.
Exceto um convite aberto para gastar tanto de seu dinheiro
quanto eu quisesse.
E de repente eu queria gastar um barco cheio dele.
CAPÍTULO SEIS

Isabella

Acordei em cima dele.


Não havia nenhuma maneira legal de colocar isso.
Eu estava esparramada sobre ele como se ele fosse o próprio
colchão.
Perna sobre o quadril, cabeça no peito, braço apoiado em
seu ombro.
Seu corpo estava quente embaixo de mim, seu peito forte
subindo e descendo ritmicamente o suficiente para que eu
percebesse que ele ainda estava dormindo, que eu poderia lenta
e cuidadosamente me afastar antes que ele percebesse que o
tinha escalado como uma maldita árvore durante o sono.
— Confortável, Cordeirinho? — A voz de Primo encontrou
meu ouvido no segundo, no segundo absoluto que tentei levantar
minha cabeça.
Droga.
— Este é o meu lado da cama, — eu disse quando minha
perna mudou e fiquei intimamente ciente do pau de Primo
pressionando contra mim. Duro. E, bem, grande. E meu corpo
absolutamente não respondeu a isso. Não. De jeito nenhum.
— É o meu lado da cama, — esclareceu Primo. — Eu posso
não me importar em compartilhar, — ele acrescentou, sua mão
deslizando pelas minhas costas. E por causa do tecido de seda
quase imperceptível do meu vestido, ele poderia muito bem estar
acariciando minha pele nua. Um tremor percorreu minhas
entranhas com o toque suave, me lembrando de quanto tempo
fazia desde que eu senti isso de um homem.
— Bem, era o meu lado da cama no meu antigo
apartamento, — eu disse a ele.
— E a parte de subir em cima de mim? — Ele perguntou
quando eu me afastei, indo o mais longe possível para o outro
lado da cama.
— Eu, ah, eu tinha um travesseiro para o corpo, — eu disse,
deixando de fora a parte que eu realmente dei o nome a maldita
coisa. — É assim que eu durmo... no travesseiro, — acrescentei.
— Terei que adicioná-lo à lista de coisas para pegar hoje, —
acrescentei.
— Não.
— Não? — Eu perguntei, olhando quando ele saiu da cama.
— Você me ouviu. Não, — ele disse enquanto se levantava e
caminhava em direção ao banheiro.
Sozinha, levei um segundo para tentar me recompor antes
de me levantar para vasculhar sua cômoda, encontrando uma
camiseta preta simples. Com os olhos fixos na porta, rapidamente
tirei meu vestido de noiva e coloquei a camisa. Assim que ele
saísse do banheiro, eu colocaria minhas calças com as quais fui
sequestrada e amarraria a camisa na frente. Não seria alta moda,
mas serviria até que eu pudesse comprar algo mais adequado
para vestir.
Sentindo-me impaciente para sair do quarto e para longe da
cama onde tinha feito papel de boba, corri para fora, descendo
até a cozinha para fazer um bule de café, em seguida, olhei nos
armários e na geladeira, encontrando ovos, mozzarella e
espinafre, e fazendo uma omelete para mim.
Isso vai soar absurdo, dado que eu não era exatamente um
membro voluntário desse casamento, mas quando ouvi Primo
descendo as escadas após seu banho, na verdade senti uma onda
de culpa por fazer comida apenas para mim. Eu não pude evitar.
Foi assim que fui criada. Você nunca, jamais, cozinhava só para
si mesma se outra pessoa estivesse por perto. Inferno, minha mãe
nunca cozinhava só para ela, mesmo sendo ela a única pessoa
por perto. Ela sempre fazia um extra e guardava na geladeira para
o caso de alguém aparecer. Se não aparecessem, ela iria embalá-
lo e entregar a um sem-teto.
O olhar de Primo passou por mim em pé em sua cozinha,
seus olhos demorando-se nas minhas pernas nuas por um
momento. Ele observou enquanto eu levava minha omelete e café
para a mesa da sala de jantar, mas não disse nada enquanto fazia
seu próprio café com ovos.
— Dawson e Dulles estarão aqui dentro de uma hora para
levá-la a quem você precisar ir.
— OK.
— E então você vai me encontrar para o jantar.
— Eu lembro. Onde? —Eu perguntei. — Preciso saber o que
vestir, — acrescentei.
— Duvido que você conheça algum dos restaurantes do
Bronx, — disse ele, e não estava exatamente errado. — Um
vestido está bom.
Um vestido sempre estava bem. Para literalmente quase
todas as atividades ou locais. Mas havia diferentes tipos de
vestidos.
— Muito formal?
— Não formal.
Eu não disse nada a isso, simplesmente me concentrei na
minha comida.
Por sua vez, Primo também.
Na verdade, não dissemos mais nada enquanto comíamos,
então nos revezamos colocando nossos pratos na máquina de
lavar louça.
Não foi até que seus irmãos apareceram, os três e sem bater
e houve barulho no apartamento novamente.
— Você recebeu a mensagem que eu... — Terzo começou
parando completamente ao me ver lá, como se tivesse esquecido
completamente sobre o sequestro, encontro e casamento forçado
no dia anterior.
Em seguida, seu olhar deslizou para baixo, observando
minhas pernas nuas da mesma forma que seu irmão mais velho
tinha feito.
— Ei, — Primo chamou, a voz como um chicote estalando
no espaço, fazendo Terzo se endireitar e virar. — Não olhe para
ela assim, — disse ele. — Isabella, é hora de se vestir, —
acrescentou ele. — Você precisa ir andando, — concluiu.
E porque de repente eu estava muito ciente da minha semi
nudez, não pensei duas vezes sobre a ordem. Eu apenas corri
pelo apartamento. Estava no meio da escada antes de me lembrar
de me preocupar com seus olhares em mim enquanto subia os
degraus sem nada além de uma calcinha por baixo da camisa.
Mas quando olhei, Terzo, Dawson e Dulles estavam olhando
para Primo.
Apenas o olhar de Primo estava em mim.
Aquela sensação estranha de reviravolta na minha barriga
tinha a ver com você sabe, a ansiedade de levar a cabo meu plano
de gastar uma tonelada de seu dinheiro sem verificar com ele
sobre isso. Não fazia sentido que pudesse ser outra coisa.
Quando desci, Primo e Terzo tinham ido embora e Dawson
e Dulles estavam esperando pacientemente no balcão da cozinha.
— Espero que vocês dois estejam usando sapatos
confortáveis, — eu disse, arrancando um sorriso malicioso de
Dulles.
— Isso soa como uma ameaça, mulher, — ele disse, aqueles
olhos verdes brilhando.
— É, — eu confirmei, sentindo meus lábios se contorcerem
com sua risada.
— Estamos à sua disposição, — disse Dulles, acenando com
o braço.
— Você tem uma jaqueta? — Dawson perguntou, olhando
para a minha roupa de manga curta.
— Eu não tive exatamente a chance de fazer as malas, — eu
os lembrei, em seguida, acenei para minha roupa. — Isso é tudo
que eu tenho. A menos que eu queira usar meu vestido de noiva.
— Deixe-me ver se Primo tem alguma coisa, — Dawson
sugeriu.
— Qualquer coisa que se encaixe naquele homem seria um
vestido longo para mim. Está bem. Vou pegar uma jaqueta na
primeira parada, — eu disse.
— Qual é a primeira parada? — Dulles perguntou enquanto
caminhávamos para o elevador.
— Qual é a loja mais próxima, mas mais cara? — Eu
perguntei, arrancando uma risada de Dulles.
— Oh, você está se preparando para causar algum dano,
hein? — Ele perguntou, compartilhando um olhar estranho com
seu irmão.
— Estou descobrindo que meu marido merece, — eu disse,
dando-lhes um longo olhar.
— Você pode estar certa, — concordou Dulles, com um tom
estranhamente firme.
Depois disso, o dia foi um borrão. Meus pés, com os caros
sapatos baixos que comprei na primeira loja, junto com meu
casaco longo preto e quente com forro vermelho brilhante que me
fez sentir elegante e chique.
Tudo que eu sabia era que no momento em que paramos
para almoçar, o grande porta-malas do SUV estava positivamente
cheio. E isso só com roupas, roupas íntimas e sapatos. Ainda não
tínhamos chegado aos itens de cuidados básicos, como xampus,
sabonetes, loções, maquiagem ou perfume.
— Melhor? — Eu perguntei enquanto os homens que me
acompanhavam lentamente se animavam enquanto comiam.
Realmente, eles eram soldados. Não houve um único
resmungo alto o suficiente para eu ouvir. Mas eu observei
enquanto, como flores deixadas sem água por muito tempo, elas
lentamente começaram a encolher e murchar sobre mim.
— Sim, — Dawson concordou com a boca cheia de
sanduíche de almôndega com parmesão.
— Você poderia tornar as compras um esporte, mulher, —
disse Dulles, sacudindo a cabeça.
— Em minha defesa, na verdade nunca faço compras assim.
Porque, eu normalmente tenho todos os meus itens de cuidados
básicos e guarda-roupa e estou apenas adicionando uma ou duas
coisas.
Apesar de tudo, decidi que gostava dos gêmeos. Talvez fosse
porque eles tinham uma mãe diferente de Primo e Terzo, mas
eram mais fáceis de conviver. Principalmente Dulles, que tinha
um charme infantil e um ótimo senso de humor. Mesmo sendo
obrigada a carregar três sacolas cheias de meus sutiãs e
calcinhas.
Dawson era um pouco mais quieto do que Dulles, mas
também era um companheiro de compras decente.
— Sim, eu entendo, — disse Dawson, balançando a cabeça.
— Eu prometo que só precisamos de talvez mais duas lojas.
Uma loja do tipo mercado onde posso conseguir apenas coisas
básicas, como uma escova de dentes e tal. E depois uma ida mais
rápida a uma loja de maquiagem.
— Primo disse que você fica melhor sem ela, — disse
Dawson, e observei enquanto os olhos de Dulles se fechavam e
sua cabeça balançava. Porque ele sabia o que estava por vir.
— Ele disse isso? — Eu perguntei, um sorriso puxando
meus lábios. — Acho que terei que ter certeza de obter algum
spray fixador.
— Spray fixador? — Dawson repetiu.
— Como um casaco de foca, — disse Dulles, me fazendo rir.
— Para que essa merda nunca saia.
— Eu estraguei tudo, hein? — Dawson perguntou, me
lançando um olhar envergonhado.
— De jeito nenhum. Você provou ser muito valioso.
— Merda, — disse Dawson, fechando os olhos.
— Há mais alguma coisa sobre mim que Primo goste? — Eu
perguntei, alcançando minha cabeça. — Meu cabelo, talvez?
— Não. Não. Na verdade, ele disse que gostaria mais de você
careca, — brincou Dawson e eu não pude deixar de rir disso
também.
— Sabem... vocês não são tão ruins, — eu disse, balançando
a cabeça.
— Oh, meu coração, — disse Dulles, pressionando a mão
sobre ele. — Não é tão ruim. Que elogio.
— Bem, em comparação com Primo e Terzo, você é
praticamente o Sr. Simpatia.
— Não fomos criados com os três, — admitiu Dawson. —
Só nos tornamos parte da família quando éramos adolescentes.
— Então, todo esse bem que vocês têm é de sua mãe.
— Sim, — disse Dawson, mas seu humor e rosto estavam
sombrios. O mesmo aconteceu com o de Dulles.
Eu disse algo errado. Não sabia exatamente o quê. Acho que
talvez eles tenham perdido a mãe. Nesse caso, meu coração
estava com eles. Eu não sabia o que faria sem minha mãe.
Bem, acho que estava prestes a descobrir, já que não teria
permissão para contatá-la.
E assim mesmo, qualquer traço de bom humor também me
abandonou.
Éramos um trio solene pelo resto da viagem de compras. Eu
nem mesmo fiquei emocionada quando gastei alguns mil dólares
desnecessariamente nos balcões de maquiagem e perfume.
No momento em que chegamos à loja para comprar meus
outros itens essenciais, de condicionador e lâminas de barbear a
absorventes internos e uma escova de dentes, eu havia terminado
pelo dia.
Eu só queria voltar para o apartamento e tomar um longo
banho antes de dormir.
Eu não deveria estar tão cansada. Em comparação com
minha vida normal, que incluía trabalho e, muitas vezes, pelo
menos uma função familiar de algum tipo, este foi um dia
tranquilo. Mas me senti fisicamente e emocionalmente esgotada
enquanto ajudava os caras a carregar minhas sacolas para
dentro do apartamento.
Guardei algumas das minhas coisas básicas, mas deixei
tudo o mais na sala de estar principal para Primo ver quando ele
chegasse em casa. Esperançosamente, isso o faria verificar o
extrato do cartão de crédito para que pudesse ver a marca que
coloquei em sua conta bancária.
Porém, agora que quase todo o dia havia acabado, a emoção
sobre sua reação havia diminuído.
Eu só queria dormir.
Eu só queria fugir de volta para um mundo onde pudesse
ver minha família novamente, já que eles sempre tendiam a
aparecer em meus sonhos.
Dawson e Dulles se retiraram para a sala de estar para ver
a TV enquanto eu subia para tomar aquele banho que eu queria
antes de me preparar para o jantar.
Eu coloquei maquiagem completa no rosto?
Com certeza sim.
E coloquei um vestido preto simples que custou quase mil
dólares, coloquei sapatos que custavam quase o mesmo e borrifei
um pouco do meu perfume favorito. Eu havia debatido a
possibilidade de comprar um dos frascos que custam mais de
quinhentos dólares. Eles até tinham um cheiro divino. Mas, no
final, escolhi o perfume que usava desde meu aniversário de
dezesseis anos, quando minha mãe me trouxe à Macy's e me
disse que era uma parte importante da vida de uma mulher
escolher seu perfume característico, e que eu deveria demorar o
tempo que precisasse para descobrir qual era o meu. Eu achei
naquela tarde. Eu usei o mesmo perfume desde então. Era um
conforto. E isso me fez sentir ligada à minha mãe.
— Ei, Izzy, querida, — Dulles chamou através da porta do
quarto, — Eu entendo que você está fazendo toda aquela coisa de
fazê-lo esperar, mas você simplesmente não vai querer forçar.
Primo odeia esperar, — acrescentou.
— E o que você acha que ele poderia fazer comigo se eu o
fizesse esperar, isso é pior do que me forçar a casar com ele? —
Eu perguntei, caminhando pelo quarto, pegando uma bolsa que
estava vazia exceto pelo batom e delineador, já que eu
literalmente não tinha mais nada. Sem celular, sem dinheiro,
sem identidade, sem cartões de crédito. Me pareceu certo.
— Uau, — ele disse enquanto eu abria a porta. — Você está
bonita, mulher, — disse ele, balançando a cabeça. — Meu irmão
é um homem de sorte.
— Seu irmão é um bastardo cruel.
— É por isso que ele tem sorte de ter alguém como você, —
disse Dulles, os olhos um pouco mais escuros do que o normal
antes de eu começar a segui-lo escada abaixo.
— Isso é outra coisa de andar até o restaurante? — Eu
perguntei, já sentindo meus sapatos começarem a apertar. Eles
eram, como minha mãe os chamava, “sapatos para sentar”. Eu
deveria ter tentado esticá-los antes de calçá-los.
— Não é longe, mas vamos levá-la de carro e deixá-la na
porta, — disse Dulles.
— Finalmente de folga, hein? Você deve odiar ter que
brincar de babá.
— É melhor que outros trabalhos, — disse Dawson,
estendendo minha jaqueta.
E com isso, ele estava de volta fora do apartamento. Nunca
pensei que preferiria ficar na casa do meu sequestrador, mas em
apenas um dia, estava preferindo isso a sair.
O restaurante que Primo escolheu era íntimo e parecia algo
entre casual e formal, o que fez meu vestido funcionar
perfeitamente.
Eu tirei meu casaco para pendurá-lo na porta, sabendo que
era muito longo para dobrar nas costas da minha cadeira, então
ofereci um sorriso à anfitriã.
— Eu vim encontrar...
— Sim, Sra. Esposito, — disse a anfitriã, dando-me um
sorriso de serviço. — Seu marido está... — ela começou, se
virando.
— Oh, eu o vejo, — eu disse, mesmo que eu ainda estivesse
me recuperando de ser chamada de Sra. Esposito e ter uma
estranha se referindo a Primo como meu marido. Isso levaria um
tempo de adaptação.
O olhar de Primo me encontrou naquele momento, seus
olhos me examinando lentamente antes que ele se levantasse. Eu
juro que ele fez isso em câmera lenta. Sua mão se ergueu para
prender o botão do paletó. Foi um gesto tão antiquado que fiquei
encantado com ele, apesar de tudo.
Ele não se aproximou.
Claro que não.
Ele queria que eu fosse até ele.
Para o bem das aparências.
E eu não tive escolha senão fazer isso.
Eu estava descendo o corredor em direção a ele quando
senti.
Uma mão passando na minha bunda.
E, honestamente, eu simplesmente seguiria em frente. Eu
confrontei homens habilidosos no passado e as coisas tendem a
ficar bem assustadoras quando você se defende. Eu não era
grande ou forte o suficiente para enfrentar um homem adulto,
então aprendi a morder minha língua e suportar a indignidade.
Veja, a coisa era, eu realmente não pertencia mais a mim
mesma, certo? Eu pertencia, de certa forma, a Primo. E Primo era
grande e forte. E ele não tolerava o desrespeito.
Eu cheguei à mesa apenas para ouvi-lo me dizer para sentar
enquanto ele começava a marchar pelo corredor.
Realmente, imaginei que ele daria ao homem algumas
palavras duras, usando sua estatura intimidante contra o
estranho. Talvez até dizer o tipo de coisa “você sabe quem eu
sou?”
Então, sentei-me inicialmente.
Por cinco segundos.
Antes, havia o som de mulheres gritando e pratos batendo,
e algo batendo com força.
Meu coração saltou na minha garganta quando me virei
para ver a mão de Primo agarrando a nuca do homem, puxando
seu rosto da mesa apenas para jogá-lo no chão novamente.
As pessoas entraram em pânico e fugiram de suas mesas
enquanto a equipe ficava para trás em estado de choque, sem
fazer nada. Mas é claro que eles não fariam nada. Esta era a
mesma comunidade que também não salvou uma mulher
sequestrada.
Eu sabia o suficiente sobre o mundo em que nasci, e agora
me casei, para saber que a máfia ainda controlava suas
comunidades. Se eles obtiveram essa atitude de cuidar de tudo
por medo ou respeito, ninguém sabe. Mas qualquer um era
igualmente eficaz.
E a julgar pela exibição psicótica que Primo estava dando,
eu tinha que imaginar que ele governava com medo, não com
respeito.
Eu assisti com um estômago embrulhado quando ele bateu
com a cabeça do homem pela terceira vez. Ele não mostrou sinais
de abrandamento.
Ele ia matar o homem.
Bem ali, em público, na frente de dezenas de testemunhas.
Uma parte minha deveria estar emocionada. Ele iria para a
prisão e eu estaria livre. Mas eu não podia simplesmente deixá-
lo assassinar um homem por um toque. Chamar sua atenção?
Certo. Mas isso foi demais.
— Pare, — eu exigi, ficando de pé.
Meu batimento cardíaco estava martelando no meu peito,
meu pulso vibrando na minha garganta e têmporas. Eu não era
a mais corajosa das mulheres. E certamente não era corajosa
diante da violência terrível. Mas todos os outros pareciam ainda
mais apavorados do que eu. Então, eu tinha que intervir.
— Pare! — Eu gritei mais alto enquanto dava um passo à
frente. — Chega. Isso é o suficiente, — eu exigi, mas Primo estava
em sua própria cabeça torcida. Ele não estava me ouvindo.
O sangue respingou na toalha de mesa.
Eu não conseguia olhar para o rosto do homem. Eu sabia
que não seria bonito. E eu não tinha o tipo de estômago que
aguentava esse tipo de coisa.
— Pare, — eu tentei novamente. — Primo, pare! — Eu exigi,
pressionando a mão no centro de seu peito.
E aquele toque quase imperceptível conseguiu penetrar em
sua raiva onde minhas palavras não conseguiram. Sua mão
segurou a cabeça do homem contra a mesa enquanto seu olhar
deslizou para mim.
— Isso é o suficiente, — eu disse a ele, a voz calma, mesmo
que minhas entranhas parecessem estar tremendo. Porque
quando eu disse que você podia ver o mal nos olhos daquele
homem, não estava exagerando.
Seu peito estava pesado, mas eu observei enquanto ele
relaxava seu maxilar, e voltava para uma versão mais racional de
si mesmo.
— Não exatamente, — ele disse.
E antes que eu pudesse reagir, ele estava agarrando a mão
do homem com as suas, a mesma com que ele me agarrou, e a
jogou contra a borda da mesa com um estalo horrível seguido
pelo uivo do homem.
— Ninguém toca o que é meu, — anunciou ele, alto o
suficiente para que qualquer um que estivesse ouvindo, ou seja,
todos no restaurante, pudesse ouvir. Seu olhar de volta para mim
então, ilegível, enquanto ele enxugava as mãos nas laterais do
estômago. — Venha, sente-se, — disse ele, acenando em direção
à mesa.
— Você espera que eu me sente a uma mesa e compartilhe
uma refeição com você depois disso? — Eu rebati, a voz um
sussurro que só ele podia ouvir.
— Isso é exatamente o que você vai fazer, — ele disse, uma
mão se movendo em minha direção.
— Não me toque, — sussurrei para ele novamente,
observando enquanto sua sobrancelha se arqueava.
Ele não puxou a mão, mas sim a pairou sobre minhas
costas enquanto eu me virava e marchava de volta para a nossa
mesa, uma vez que não parecia exatamente que eu tinha muita
escolha no assunto.
De volta à cena, eu não sabia exatamente o que estava
acontecendo atrás de mim, mas ouvi vozes e confusão enquanto,
imaginei, os companheiros do homem o agarraram e o tiraram do
restaurante.
— Isso foi demais, — eu o repreendi enquanto ele se
sentava.
— Discordo.
— Porque você é um monstro, — eu disse a ele. — Você não
bate nos homens até virar uma polpa sangrenta no meio de um
restaurante lotado.
— Por que não?
— Porque você simplesmente não faz.
— Aquele homem colocou a mão na sua bunda sem sua
permissão, — disse Primo, descansando um braço no topo da
mesa e minha mente voltou a pensar nele quebrando a mão do
cara, fazendo meu estômago torcer novamente. — Ou eu estava
enganado, você deu a ele permissão para agarrar sua bunda?
— Claro que não, — eu disse, levantando o queixo. — Mas
essa foi uma reação exagerada.
— Foi? Antigamente, ele teria perdido a mão por isso.
— Isso é bárbaro.
— Essa é a vida, Isabella. Você não nasceu e foi criado nela?
— Acho que minha família é apenas mais civilizada do que
a sua.
— Esta é a sua família agora, Cordeirinho, — ele me
lembrou.
— Sim, obrigada pelo lembrete, — eu resmunguei.
— Então, devo supor que você nunca teve sua bunda
agarrada antes. Uma bunda perfeita como essa, simplesmente
não foi agarrada em toda sua vida? — Ele perguntou.
— Não, — eu disse, balançando minha cabeça. — Os
homens sempre se consideram com direito ao corpo de uma
mulher quando gostam.
— E seus irmãos, seus primos, ninguém nunca os fez pagar
por isso? — Primo perguntou, parecendo indignado com o
conceito.
— Eles nunca estavam por perto quando isso aconteceu.
— Mas quando você contou a eles, — Primo perguntou.
— Eu não disse a eles.
— E por que seria isso, Isabella? — Ele perguntou,
inclinando-se um pouco. — Por que você sabia que eles
reagiriam? Sua antiga família não é mais civilizada do que a nova.
Você simplesmente não deu a eles a chance de mostrar como
conduzem seus negócios.
— Bem, eu preferia não ter que testemunhar como você
conduz seus negócios, — eu disse a ele quando uma garçonete
corajosa finalmente começou a se aproximar da mesa.
Suas mãos tremiam ao nos mostrar o vinho.
— Isso é bom, sim, — disse Primo, balançando a cabeça,
mal olhando para ela.
— Obrigada, — acrescentei, dando-lhe um sorriso suave
que ela não teve coragem de retribuir. — Viu? Essa pobre garota
está com medo de você, — eu disse a ele enquanto ela corria para
longe.
— O medo é bom, — disse Primo, pegando o vinho para me
servir uma taça, depois uma para si mesmo. — Você deveria olhar
o seu menu.
— De repente, não estou com muita fome, — respondi, com
um tom um pouco petulante, mas não era uma mentira. O
sangue ainda me deixava um pouco enjoada.
— Você vai comer, — ele me informou.
— Você pode estar acostumado a conseguir o que quer, mas
nem mesmo você pode ordenar que meu estômago não se sinta
enjoado, — eu disse a ele, observando enquanto seu olhar
deslizava para mim.
— Enjoado? — Ele repetiu.
— Eu não gosto de sangue, — disse a ele.
— Sangue, pequenos espaços, quaisquer outros medos
irracionais que eu deva saber?
— Eles não são irracionais.
— Eles são.
— Só porque você não tem os mesmos medos não torna
meus medos irracionais, — retruquei, pegando meu vinho porque
meus nervos estavam em frangalhos e sabia que o álcool ajudaria
pelo menos um pouco.
— Não, a irracionalidade de seus medos é o que os torna
irracionais, — ele me informou, tão presunçoso quando disse isso
também.
— Tenho minhas razões para ter medo de espaços
pequenos.
— Não, você provavelmente teve uma experiência com
pequenos espaços que desencadeou uma resposta de ansiedade
irracional na qual você nunca trabalhou desde então.
— Então, o quê, você é um chefe e psiquiatra agora? Onde
você se formou, Dr. Esposito?
— Cuidado, — disse Primo, em tom baixo. Se eu não
estivesse tão irritada, poderia ter chamado de assustador.
— Ou o que? — Eu rebati, revirando meus olhos. — Você
vai bater minha cabeça contra a mesa e quebrar minha mão
também? — Eu perguntei.
— Eu disse que não faria mal a você, — disse ele, quase
parecendo ofendido.
— Você disse que não iria me estuprar, — eu o lembrei. —
Existem outras maneiras de me machucar.
— Eu não vou bater em você. Achei que nem precisava
dizer.
— Puxa, eu me sinto muito melhor, — eu disse lentamente.
— Tenho que dividir a cama com um psicopata violento, mas pelo
menos ele não vai me bater.
— Você é sempre tão difícil? — Ele perguntou, suspirando.
— Sim. Talvez você devesse ter me perseguido um pouco
mais e aprendido isso sobre mim antes de decidir me forçar a
casar com você, — eu sugeri, dando um sorriso meloso.
Ele murmurou algo baixinho naquele momento. Estava
muito baixo para decifrar. Mas parecia frustrado e irritado. E eu
senti um pouco de emoção por levar a melhor sobre alguém como
ele. Mesmo de uma forma tão pequena.
— Quer saber, — anunciei, principalmente para mim
mesma, enquanto pegava o menu. — Acho que acabei de
recuperar o apetite.
CAPÍTULO SETE

Primo

Parecia que ela tinha aberto uma loja de departamentos no


meu apartamento. E a julgar pelos nomes nas bolsas, ela gastou
uma pequena fortuna adquirindo tudo. Quase não quis verificar
meus extratos.
Não que o dinheiro importasse.
Quando você ganhava milhões a cada mês, mesmo que a
maratona de compras custasse algumas centenas de mil dólares,
isso não afetaria seus resultados financeiros.
Eu subestimei Isabella.
Era algo novo para mim.
Eu normalmente era um bom juiz de caráter.
Mas eu não esperava tanto desafio quanto recebi de minha
nova esposa. E não se engane, isso é o que era a onda de gastos.
Desafio. Porque, enquanto ela continuava me acusando, eu a
observei por um tempo enquanto tomava minha decisão sobre
qual mulher escolher. E ao fazer isso, eu vi suas compras. Mas
nunca em qualquer uma das lojas cujas bolsas estavam
espalhadas pela minha sala de estar. Então ela ia às lojas de grife
apenas para me provocar.
Porém, havia uma falha em seu plano.
Eu gostei que ela estava disposta a fazer isso. Apreciei seu
espírito. Eu até admirei sua coragem em fazer algo que ninguém
mais se sentiria seguro em fazer.
Inferno, tudo valeu a pena cada centavo quando ela entrou
naquele restaurante com aquele vestidinho preto que abraçava
suas curvas suaves na medida certa.
Era masoquista da minha parte deleitar com a visão como
fiz quando sabia que não seria capaz de tocá-la. Mas eu me
deleitei.
E o mesmo aconteceu com todos os outros homens no
restaurante.
O que estava bom.
Não me importava se eles olhassem, se admirassem o que
era meu, se me invejassem.
Mas eles não chegariam a tocar.
Nunca.
A raiva foi imediata. Era familiar de uma maneira. Eu
sempre tive um mau temperamento. Mas também era estranho
em alguns aspectos. Porque nunca me senti tão possessivo como
naquele momento.
Eu teria matado aquele homem.
E seria uma boa morte para ele.
Mas nunca estive tão fora de controle.
Ele absolutamente teria perdido a vida se Isabella não
tivesse agido certo quando o fez.
Então, essa mulher teve a audácia de ficar com raiva de mim
por defendê-la. Por punir um homem por tocá-la sem permissão.
Eu não consegui entendê-la.
Mas, ainda assim, fiquei impressionado com sua coragem.
Porque muitos homens na maldita máfia não iriam me enfrentar
como ela fez, nem teriam falado comigo como ela fez. Foi
impressionante. E apesar de toda a sua atitude e comentários
sobre como ela pensava que eu tinha feito a escolha errada, eu
sabia no fundo que tinha feito a escolha certa.
Ela era a mulher certa para ser minha esposa.
Ela tinha o que era preciso para viver no meu mundo.
Quer ela já tivesse aceitado isso ou não.
— Qual é a notícia? — Eu perguntei depois que voltamos
para casa e meus irmãos apareceram.
Isabella havia subido correndo as escadas assim que
entramos pela porta. A julgar pelo som de água espirrando no
chão de ladrilhos, ela estava tomando banho. Foi preciso muito
autocontrole para não a imaginar lá em cima, tirando aquele
vestido, o sutiã, tirando a calcinha e entrando no chuveiro.
Porra.
Aparentemente, era preciso mais autocontrole do que eu
possuía.
Seria mais difícil do que percebi esperar que ela chegasse a
um ponto em que estivesse disposta a dormir comigo.
Talvez eu não devesse ter me casado com alguém por quem
me sentia tão atraído. Quero dizer, a mulher me deixou duro e
desesperado como um adolescente quando ela subiu em mim
enquanto dormia. Eu me senti pronto para gozar quando ela
acordou e percebeu o que tinha acontecido.
Eu não sei o que me levou a ser tão determinado em ver
meus votos como sagrados. Inferno, eu não gostava de muitas
outras coisas que a Bíblia dizia para eu não fazer
Acho que isso talvez tenha resultado em assistir meu velho
trair implacavelmente minha mãe, e vê-la desaparecer pouco a
pouco a cada vez até que não houvesse mais nada dela.
Tanto quanto possível, eu queria fazer as coisas de maneira
diferente do que meu velho fazia. Então, quando se tratava de me
estabelecer, casar e começar uma família, isso significava que eu
tinha que ser leal à minha esposa, independentemente de nossa
vida sexual existir ou não.
Isso significava que eu não gritaria ou bateria nela. E
embora, é claro, minha mãe nunca tenha contado a seus filhos
sobre esse tipo de abuso, eu não tinha dúvidas de que meu pai
era o tipo de pessoa que forçava a minha mãe também.
Eu iria quebrar esse ciclo.
Entre outros.
Mas isso viria mais longe no futuro.
— Ninguém foi à polícia, — disse Terzo. E era isso que eu
esperava. Era por isso que eu normalmente ficava no meu bairro.
Onde todos sabiam quem eu era e ninguém queria ficar do meu
lado ruim.
Ajudou o fato de eu ter pagado as refeições de todos e ter
dado ao próprio restaurante uma boa quantidade de dinheiro
pelo inconveniente. E para apagar qualquer uma das imagens da
câmera.
As coisas estão ficando cada vez mais difíceis nos dias de
hoje. Com as pessoas e o uso ininterrupto de seus telefones e a
tendência de gravar e postar qualquer coisa que encontrem
online para o mundo “e a polícia” ver.
Felizmente, empregava muitos meninos de rua. Então, eles
mantiveram seus telefones em seus bolsos.
— Bom, — eu disse, pegando uma xícara de café.
— Onde estava meu guarda? — Eu perguntei, olhando para
meus irmãos.
Normalmente, um deles estaria comigo para atuar como
vigia. E para me controlar se eu perdesse o controle. Dawson e
Dulles estiveram com Isabella o dia todo, então eu os mandei
para casa. Mas se Terzo tinha algo com que lidar, ele deveria ter
se substituído por alguém.
— Minha culpa, — disse Terzo, balançando a cabeça. — Eu
recebi uma chamada.
— De quem?
— Vissi.
— Vissi, — eu repeti, me virando. — Ele está na Itália. Teria
sido...
— Uma da manhã lá, — Terzo concordou. — Mas ele não
estava na Itália.
— Onde ele estava?
— No JFK.
— O que? Por quê?
Vissi era nosso primo distante. Ele tinha se metido em
alguma merda mais ou menos um ano atrás, o que me levou a
mandá-lo de volta para o velho país para ficar com seus parentes
até que o problema passasse.
— Ele disse que estava na hora. Reclamou que sua avó o fez
ganhar alguns quilos e estava tentando casá-lo. Eu não o queria
preso no aeroporto. Deveria ter enviado outra pessoa, — disse
Terzo. — Não vai acontecer de novo.
— Onde está Vissi agora?
— Ele foi ver sua mãe. Você sabe como ela é. — Eu sabia.
Ela era a forte mãe italiana que minha mãe não teve a chance de
ser. E ela quebraria uma espátula de madeira na cabeça de Vissi
se ele viesse me ver e trabalhar antes de ver sua mãe. — Ele disse
que estaria aqui pela manhã para tomar um café e conversar.
— Bom. Faz muito tempo.
Vissi pode ser um primo, mas ele era mais como um melhor
amigo para mim. Ele era mais próximo da minha idade do que
Due e Terzo eram na época, na época em que a diferença entre
doze, treze e dezesseis poderia muito bem ser uma década. Então,
Vissi e eu brincamos e tivemos problemas juntos enquanto Due
e Terzo ficavam em casa.
Talvez fosse por isso que Due tinha ficado tão maluco. E
porque Terzo estava tão mal-humorado.
Eu deveria estar por perto para protegê-los mais.
Em retrospectiva, era evidente.
— Ele vai querer uma festa, — disse Terzo, revirando os
olhos. — Você sabe como é Vissi.
Eu sabia. Ele gostava de ser o centro das atenções quase
tanto quanto gostava de comida, amigos, bebidas e foder.
— Tudo bem. Organize.
— Quando? — Perguntou Dulles.
— Amanhã à noite.
— Onde?
— Aqui. Ainda não temos certeza de quão seguro é para
Vissi. Melhor prevenir do que remediar.
— Ele vai ficar chocado ao conhecer sua... esposa, — disse
Terzo, e eu não gostei daquela pausa. Era uma situação não
tradicional? Sim. Mas ela era minha esposa.
— Você disse a ele? — Eu perguntei.
— Não. Achei que era sua função explicar.
— Provavelmente é o melhor, — eu concordei. Vissi não
aceitaria abertamente toda a situação. Especialmente se ele
conseguiu a informação de alguém que não sabia como explicar.
— Tudo bem. Quero que avise aos capos sobre ficar de olho em
qualquer movimento suspeito do cartel. Eles vão descobrir que
Vissi está de volta a qualquer momento. Quero que avisemos se
eles decidirem que querem tentar nos atacar.
— Entendi, — disse Terzo, balançando a cabeça.
— E o que você quer dizer sobre a festa? — Perguntou
Dawson.
— Capos e esposas, namoradas ou amigas com benefícios.
Sem crianças. — Não que não gostasse de crianças. Mas já seria
tarde. E festas noturnas e crianças significavam apenas choros e
gritos.
— Você não acha que deveria, sabe, verificar com a esposa
antes de planejar uma festa inteira? — Dulles perguntou.
— Ela vai ficar bem com isso.
— Tudo bem, então, — disse Dulles, mas havia algo em seu
sorriso que dizia que ele discordava de mim.
Acontece que meu irmão conhecia minha esposa melhor do
que eu.
— Isso vai ser um não para mim, — Isabella me disse mais
tarde, quando fui para o quarto depois que meus irmãos tinham
saído para dormir.
— O que? Por quê? — Eu perguntei, parando no caminho
para o banheiro para tomar um banho.
— Por uma série de razões, — disse Isabella enquanto
esfregava uma loção suave com cheiro feminino enquanto se
sentava ao lado da cama, de costas para mim.
Eu não sabia o que esperar dela quando se tratava de suas
roupas de dormir. Eu só a tinha visto indo para o trabalho ou
para ver a família ou ir se encontrar com amigos antes. E seu
estilo era moderno, mas atemporal.
O que essa mulher escolheu para vestir para dormir?
Um maldito vestido.
Quero dizer, era uma daquelas camisolas de seda que iam
até o chão, mas poderia muito bem ser um vestido com suas
costas elegantes de renda e a maneira sexy que deslizava sobre
seu corpo. Algo sobre a cor vermelho vinho combinava muito bem
com seu cabelo escuro e pele bronzeada.
— Diga um, — perguntei, encostando-me no marco da porta
do banheiro.
— OK. Você não discutiu isso comigo primeiro.
— Porra, Dulles, — resmunguei.
— O que é que foi isso? — Ela perguntou, virando-se para
me encarar, as sobrancelhas levantadas, desafiando-me a
repetir.
— Nada. Não serei o tipo de marido que cuida de cada
pequeno detalhe de sua esposa.
— E eu não vou ser uma esposa que tolera um marido que
não a respeita o suficiente para perguntar se ela quer um bando
de estranhos em sua... casa.
Essa palavra foi difícil para ela.
Achei que ficaria mais fácil com o passar do tempo.
— Eles não são estranhos. Eles são família.
— Eles são a sua família, — ela rebateu.
— Eles também são seus agora. Goste você ou não.
— Estou ficando realmente enjoada dessa frase. Se você
queria alguém que simplesmente pegaria qualquer merda que
você jogasse nela e lhe agradecesse por isso, você se casou com
a mulher errada. Você poderia ter encomendado uma esposa de
outro país que ficaria feliz em morar em seu apartamento luxuoso
e gastar seu dinheiro. Mas você me escolheu. E eu não serei um
capacho para você pisar, Primo.
— Entendo que você é um idiota egoísta e talvez vá me
custar algumas vezes deixar clara a minha posição... então isso
é tudo o que vou dizer. Não vou ser exibida em torno da porra da
sua família como um troféu do seu negócio astuto para superar
a Família Costa. Divirta seus convidados sozinho.
Com isso, ela levantou os cobertores, subiu e apagou a luz.
Ela não estava errada.
Eu a escolhi por seu espírito.
E não poderia exatamente estar chateado quando ela jogou
toda aquela conversa atrevida em mim, não é?
Eu fui para o chuveiro, ainda cheio de vapor e cheirando a
cheiros doces de mulher. E minha bunda patética respirou fundo
e senti meu pau endurecer novamente ao pensar nela correndo a
esponja ensaboada para cima e para baixo em seus braços, suas
pernas, sobre seus seios, sua barriga, mais abaixo.
Com um suspiro, estendi a mão para pegar meu pau, me
masturbando com a ideia de minha esposa que estava a apenas
um quarto de distância. Mas poderia muito bem ter sido do outro
lado do país ou do mundo, já que ela preferia rolar nua em um
cacto a ter minhas mãos sobre ela.
Seria uma porra de um longo casamento.
E agora eu tinha que descobrir como dizer a todos que me
conheciam e me respeitavam porque minha nova esposa não
compareceria a um evento social comigo.
Toda aquela coisa de noiva por correspondência estava
começando a soar cada vez melhor.
Mas era tarde demais.
Estava preso com Isabella.
E em algum momento no meio da noite, quando ela rolou
para cima de mim com um suave som de sono murmurando, em
seguida, soltou um pequeno suspiro enquanto se mexia no lugar,
gostando mais de mim dormindo do que acordada, percebi que
enquanto ela não estava feliz com a situação, e apesar da
frustração que já estava causando, eu estava satisfeito com
minha escolha.
Algum dia, ela seria minha esposa em todos os aspectos
importantes.
Eu só tinha que ser paciente.
Admito, porém, que não era uma característica pela qual eu
era conhecido.
CAPÍTULO OITO

Isabella

Eu estava sendo obstinada.


Reconheci isso em toda a situação.
Poderia muito bem ter cruzado os braços e brigado sobre
isso quando ele me contou.
Havia até uma chance de que ele não fosse um idiota
completo e absoluto, que simplesmente não percebeu que você
deveria falar com sua parceira sobre coisas como funções,
especialmente porque está também deveria ser sua casa.
Eu não conseguia afastar a sensação, no entanto, de que ele
estava fazendo isso para me exibir. E não gostei disso. Não gostei
do que dizia sobre como ele me valorizava ou do que dizia sobre
minha família.
Além de tudo isso, teria sido incrivelmente desconfortável
para mim. Todos no evento saberiam que fui, para todos os
efeitos, forçada ao casamento, que Primo me enganou. Eu não
queria que eles zombassem de mim, ou me desprezassem, ou
mesmo que tivessem pena de mim.
Eu só não queria interagir com eles de forma alguma.
Pelo menos não tão cedo.
Fiquei surpresa, no entanto, que ele não mencionou
novamente de manhã, enquanto cada um de nós preparava seu
café da manhã separado, embora ambos acabássemos fazendo
quase exatamente a mesma coisa.
Ele mencionou que seus irmãos apareceriam às seis com os
suprimentos para o bar, então imaginei que a festa começaria por
volta das sete ou oito.
Deu-me o dia inteiro para levar minhas malas para cima,
arrumando tudo onde eu queria no meu armário e nos armários
do banheiro.
Foi um dia quase meditativo, especialmente depois que
encontrei um disco de que gostei e coloquei no aparelho. Se não
pensasse muito, quase parecia um dia normal na minha vida.
Lentamente, mas com segurança, eu me vi mais no espaço
também.
Minha mesa de cabeceira se encheu com minha loção,
alguns cadernos, livros e um pequeno estoque de doces para a
pequena melhora de humor que isso proporcionaria.
Meu robe estava pendurado no banheiro, meus produtos
estavam no chuveiro, e eu até pendurei uma tela que peguei em
minhas compras no dia anterior. Era uma cópia barata de
Manhattan para turistas, mas era uma pequena lembrança de
casa para mim.
— Tudo bem, — eu disse, pegando meu café, então me
movendo em direção às escadas. — Divirtam-se, — disse a
Dawson e Dulles porque, apesar de tudo, eu gostava deles e
realmente esperava que se divertissem.
— Ah, vamos, Bells, — disse Dulles, acenando com o braço
para o apartamento. — Você não vai ficar e se divertir um pouco
com a gente? Você poderia aproveitar um pouco, não acha? —
Ele adicionou.
— Não é realmente a minha ideia de diversão ele me exibir
para seus amigos, para que possam rir sobre como fui forçada a
casar com ele, Dulles, — eu disse a ele, ouvindo um indício de
algo em minha voz que parecia só um pouco como tristeza.
— Ah, vamos, não é assim, — Dulles insistiu, balançando a
cabeça.
— Não é? — Eu respondi, estremecendo com a amargura
em minha voz, interiormente me perguntando se eu sempre me
sentiria o alvo de alguma piada entre a Família Esposito por
causa de como vim fazer parte dela.
— A festa nem é sobre você, — disse Dawson, chamando
minha atenção, me fazendo perceber que eu nem havia
perguntado sobre o que era a festa. Acho que imaginei que fosse
uma festa de casamento atrasado, alguma forma de Primo me
exibir como fazia no caminho para a igreja e mesmo quando
saíamos para jantar.
— Sobre o que é então? — Eu perguntei.
— Vissi, — disse Dawson, encolhendo os ombros enquanto
alinhava várias garrafas de vinho tinto.
Eles trouxeram várias mesas. De onde, eu não tinha ideia.
Mas lá estavam elas, espalhados. Eram mesas de bar, feitas para
ficar em pé ou para descansar uma bebida ou um pequeno prato,
mas também para estimular a convivência, ao contrário das
mesas normais com cadeiras.
— Vissi? — Eu perguntei.
— Um primo, — forneceu Dawson. — Ele acabou de voltar
da Itália ontem à noite. Ele gosta de uma boa festa. E como ele
está ausente por um tempo, Primo decidiu organizar algo.
— Ele não poderia ter feito um evento em um bar ou algo
assim? — Eu estava criticando e sabia disso. Eu até me odiei um
pouco por causa disso.
— Percebo sua desconfiança em meu irmão, — disse Dulles,
encolhendo os ombros. — Mas acho que você está enganada se
acha que ele tem alguma intenção de que alguém zombe de você.
Ele não é assim.
Droga, acho que uma parte minha realmente acreditava
nisso.
E eu estava com raiva disso.
— Então, ele é apenas um sequestrador e arranjador de
casamentos forçados, não um cara que tira sarro das mulheres.
É um grande alívio, — eu disse, subindo as escadas.
Sim, emburrada.
Foi exatamente isso que senti quando ouvi Primo chegar em
casa, ligar um pouco de música e, pelo cheiro das coisas, começar
a cozinhar.
Essa foi a verdadeira falha do meu plano.
Eu não tinha jantado. Eu acho que achei que o café e minha
gaveta de doces iria ser suficiente. E talvez fossem, eu tive muitas
jantas assim ao longo dos anos, se os cheiros de comida não
chegassem até o loft e por baixo da porta. Me provocando. Eles
estavam me provocando, tenho certeza.
Em pouco tempo, meu estômago não estava apenas
resmungando, mas torcendo e doendo tanto que eu realmente me
enrolei de lado para tentar aliviar as dores.
Não adiantou.
Eu experimentei o gostinho da comida de Primo.
E agora meu corpo queria mais.
Foi o puro orgulho que me manteve em meu quarto
enquanto o som das pessoas ficava cada vez mais alto abaixo de
mim.
Mas a certa altura, por volta das nove da noite, até meu
orgulho estava se curvando diante da fome. Me deixando saindo
da cama e caminhando até o banheiro, e me olhando no espelho.
Eu não estava preparada para a festa.
Eu ainda tinha vestígios da minha maquiagem, mas eu
estava vestindo jeans preto simples e uma blusa listrada preta e
cinza com nó na frente.
Um vestido teria sido mais adequado para um tipo de
situação de jantar. Mas eu não estava prestes a me vestir para
chamar ainda mais atenção.
Na verdade, meu plano era tentar descer, pegar um prato e
voltar sem que Primo percebesse.
Era um plano falido desde o início? Claro. Mas achei que
valia a pena tentar. E como eu não sabia se eles eram o tipo de
pessoa “terminar as coisas às dez” ou “festejar até o amanhecer”,
não queria correr o risco de passar fome a noite toda.
Respirando fundo, espiei pela porta.
Não vendo Primo em nenhum lugar à minha frente, desci as
escadas correndo, tentando evitar chamar a atenção para mim.
Não era muitas pessoas. Talvez vinte pessoas ou mais, ao todo.
Mas eu era claramente um estranha e olhares curiosos viraram
em minha direção.
Primo dirigia uma organização relativamente jovem,
percebi.
Quando você pensava na máfia, tendia a pensar nos
programas de TV que assistia, em sua maioria, homens de meia-
idade com barrigas redondas e esposas irritantes em casa. Mas
Primo mudou esse estereótipo de cabeça para baixo. Porque se
esses fossem seus capos, não parecia haver ninguém com mais
de trinta e cinco anos. E, de alguma forma, quase todos eles eram
atraentes.
Abaixei minha cabeça, não querendo fazer contato visual
com ninguém e ser convidada para uma conversa. Eu só queria
comida. Então, para voltar à relativa segurança do quarto.
— E quem é você? — Uma voz perguntou, me fazendo parar,
meu estômago embrulhando.
Eu mal consegui suprimir o resmungo que cresceu dentro
de mim quando minha cabeça levantou.
E havia outro daqueles caras estupidamente atraentes.
Homem alto, em forma, de cabelos escuros, pele bronzeada,
com um queixo bonito e pontudo, tatuagens que subiam pelo
pescoço e cobriam as mãos, cabelo preto e olhos azuis
tempestuosos.
— Ninguém, — eu disse, tentando passar por ele, mas ele
deu um passo para o lado bem na minha frente.
— Oh, vamos lá. Você não parece ninguém para mim.
— Estranho, porque isso é exatamente o que eu sou, — eu
disse, fintando para a esquerda para que pudesse passar
correndo por sua direita.
— Ei, Primo, — o homem chamou, me fazendo perceber que
eu estava caminhando bem em sua direção enquanto um cara
aleatório passou correndo por mim para confrontar meu...
marido. — Vou precisar que você me apresente a esta linda
senhora aqui, — ele exigiu.
Eu nem pensei que Primo tinha me visto.
Mas de repente seu braço voou, agarrando-me pela cintura
e me puxando para o seu lado, me segurando.
— Eu não estou vestida para isso, — eu murmurei em um
sussurro para ele para que ninguém mais pudesse ouvir. Mas
Primo foi em frente e me ignorou.
— Vissi, — disse ele, dirigindo-se ao homem que estava me
perseguindo, bem como ao casal que já estava lá, — Anthony,
Claudia, esta é Isabella, minha esposa, — acrescentou.
Observei enquanto o casal assentia e me dava sorrisos
calorosos, claramente já tendo ouvido a notícia.
Mas Vissi, quem quer que fosse, estava claramente fora do
circuito. Eu juro que ele ficou boquiaberto como se Primo tivesse
acabado de dizer a ele que eu era um alienígena que pousei
minha espaçonave em seu telhado e o enredou com minha boceta
especial de ficção científica.
— O que? — Vissi perguntou, balançando a cabeça.
— Prazer em conhecê-la, Isabella, — Claudia disse
enquanto seu marido a virava para sair, sentindo que Vissi e
Primo precisavam de um momento privado.
— Sim, acho que vou dar a vocês dois um momento
também, — eu disse, tentando me afastar, mas isso só fez Primo
me abraçar com mais força, me deixando esmagada contra ele.
Sua outra mão alcançou meu pulso puxando-o para
mostrar a Vissi meus anéis.
— Minha esposa, — disse Primo, enquanto o olhar de Vissi
deslizou para o meu dedo, parecendo não menos confuso com a
evidência de nosso casamento situada ali.
— Quem é você? — Ele perguntou, o tom acusador quando
seus olhos azuis tempestuosos encontraram os meus novamente.
— Isabella… Costa, — acrescentei.
— Esposito. Isabella Esposito, — Primo insistiu, seus dedos
afundando em meu quadril um pouco, e o gesto pareceu
possessivo mais uma vez.
— Sim, acho que ele entendeu essa parte, — eu disse,
revirando os olhos. — Não era isso que ele estava perguntando.
— Você se casou com uma maldita Costa? — Vissi
perguntou, o tom sugerindo que éramos praticamente arautos da
peste viral. — E você se casou com um Esposito? — Ele
perguntou.
— Não somos exatamente Romeu e Julieta aqui. Eu não tive
escolha no assunto, — eu disse, levantando o queixo.
— Você não... o quê? — Ele perguntou, olhando para Primo.
— Vissi está na Itália há muito tempo. Ele não sabe o que
está acontecendo com nossas famílias.
— Oh, como você sequestrando Alessa e eu?
— Alessa Morelli? Que merda está acontecendo desde que
fui embora?
— O irmão de Alessa acabou sendo aquele que matou Due.
Foi aprovado pela Comissão. E, como se viu, merecia. Mas o
casamento foi uma forma de acabar com a desconfiança e as
brigas entre nós e os Costas, Morellis e D'Onofrios.
— E quanto aos Lombardis? — Perguntou Vissi. — Eles
concordam com isso?
— Quem sabe o que aqueles idiotas loucos pensam sobre
qualquer coisa, — Primo disse, chamando minha atenção.
— Quão louco alguém tem que ser para que sua bunda
psicótica os chame assim? — Eu resmunguei, arrancando uma
risada surpresa de Vissi. E parecia uma contração labial quase
indetectável de Primo. Se eu não estivesse tão perto, teria
perdido.
— Louco. Você vai ficar longe deles, porra, — Primo me
disse, tom sério.
— Todas as mulheres Costa são tão bonitas quanto você? —
Vissi perguntou, claramente do tipo playboy.
— Não. Elas são todos terrivelmente feias, cobertas de
verrugas, dentes salientes, com problemas glandulares e higiene
péssima.
— Ah, vamos, querida, você não quer me apresentar às
suas irmãs ou primas?
— Eu não deixaria outro de vocês tocar outro de nós com
uma vara de três metros, — eu disse a ele.
— Oh, não somos todos tão maus quanto o chefe aqui, —
Vissi insistiu.
— Não, você está certo. Dawson e Dulles não são tão ruins,
— eu disse, arrancando um sorriso encantador de Vissi.
— Há quanto tempo vocês dois estão casados?
— Muito tempo, — eu resmunguei ao mesmo tempo que
Primo disse a ele cerca de três dias.
— Bem, feliz casamento, — declarou Vissi, levando a mão
ao coração. — Mesmo que eu esteja bastante chateado por você
não me ter como padrinho. Espero ser o padrinho das crianças
quando chegar a hora.
— Não fique animado, — eu disse, fingindo não notar a
maneira como o olhar de Primo olhou para mim com aquela
maldita sobrancelha levantada novamente.
Eu sabia o acordo que fiz.
Não ia voltar atrás.
Não por causa dele em si, mas porque eu sempre quis ser
mãe. E agora essa seria a minha única maneira.
Achei que quando estivesse mentalmente e emocionalmente
pronta, seguiria minha fertilidade por um tempo, ficaria muito
bêbada e o deixaria fazer o trabalho.
Não era romântico, mas era a única maneira de acontecer.
E eu simplesmente iria ignorar completamente a estranha
vibração entre minhas coxas com a ideia dele acima de mim,
dentro de mim.
Isso era apenas sinais de cansaço e fome sendo mal
direcionados ou algo assim.
Essa foi a única explicação lógica.
— Só desci para comer, — admiti. — Eu não comi, —
acrescentei. — Só quero pegar um prato e voltar lá para cima
antes que alguém tire sarro de mim.
— Ninguém vai tirar sarro de você, — disse Primo, a voz
feroz.
— Toda a minha existência aqui é você tirando sarro de
mim, — eu o lembrei.
Algo sobre minhas palavras deve tê-lo pego desprevenido,
porque seu braço se afrouxou o suficiente para que eu pudesse
escapar. E escapei. Então corri para a cozinha, coloquei várias
coisas em um prato sem realmente prestar atenção ao que estava
fazendo, então voltei para o espaço com minha cabeça baixa, nem
mesmo me importando que parecesse uma covarde. Para
começar, não era como se eu tivesse uma grande reputação com
qualquer uma dessas pessoas.
Eu tinha acabado de voltar ao quarto para sentar na cama
quando alguém bateu na porta. E lá estava Vissi.
— Eu não estava tirando sarro de você, — ele me disse,
entrando com uma garrafa de água. — Eu quero deixar isso claro.
Fui pego de surpresa. Primo é meu melhor amigo. Ele não
compartilhou nada sobre isso comigo.
— Você deveria ter amigos melhores, — eu disse, aceitando
a garrafa quando ele a entregou para mim.
Ele se afastou para a porta que abriu e parou na soleira. —
Ele parece pior no início do que realmente é.
— Ele estava disposto a forçar uma mulher a se casar com
ele para encerrar o conflito, em vez de chegar a um acordo
comercial.
— Não estou dizendo que o homem não seja parte
neandertal, — disse Vissi, arrancando uma pequena risada de
mim. — Estou dizendo que ele não fez isso para zombar de você
ou te envergonhar de qualquer forma. Ele não é assim. Por
alguma razão, ele realmente acreditava que essa era a melhor
solução para a situação. Entendo que você ainda não acredite
que ele é um bom homem, mas ele é.
— Bons homens não sequestram mulheres. Ponto final.
Não há maneira de contornar isso.
— Tudo bem, — disse Vissi, respirando fundo e suspirando.
— Entendo. Eu só queria dar uma opinião. Eu realmente espero
que você possa encontrar algum tipo de felicidade nesta nova
vida. Não são apenas Dawson e Dulles que não são ruins.
Com isso, ele se foi e fui deixada sozinha para refletir sobre
o que ele disse.
Quer dizer, de fora, imaginei que a Família Esposito via os
Costas de uma forma semelhante a que nós os víamos. Quando
cada lado queria coisas diferentes ou operava de maneiras
diferentes, era fácil transformá-los em vilão. Principalmente seus
líderes.
O que significava que era possível que Primo não fosse a
pessoa horrível que me disseram que ele era. Claramente, sua
família e amigos o amavam e respeitavam.
Quer dizer, eu testemunhei o homem quase espancar um
estranho até a morte por causa de uma indiscrição relativamente
pequena.
E então havia todo o negócio de sequestro e casamento
forçado.
Ele não era um cara bom.
Mas talvez ele não fosse um homem totalmente mau
também.
— E ele sabe cozinhar, — murmurei para mim mesma
enquanto enchia minha boca com uma mistura de coisas que ele
havia feito. Bruschetta, cogumelos recheados, espetos de
antepasto e xícaras de presunto recheado. — Ele não pode ser
tão mal se sabe cozinhar. — Quer dizer, eu não conseguia pensar
em um único vilão de filme que pudesse fazer comida melhor do
que minha mãe.
Depois do jantar, sem saber o que mais fazer comigo
mesma, fui para o banheiro para mais uma longa e demorada
imersão na banheira com a qual eu já tinha um relacionamento
muito sério.
Abaixo de mim, os sons da festa diminuíram até que eu tive
certeza de que ninguém havia sobrado.
Exceto meu marido, que subiu as escadas alguns minutos
depois, entrando no quarto. Achei que ele iria parar por aí.
Mas então a porta do banheiro se abriu.
— Ei, estou aqui, — chamei, com o braço batendo no peito.
— Estou vendo, — disse Primo, tirando as abotoaduras,
depois o relógio e o cinto.
— O que você está fazendo? — Eu perguntei, fingindo que
era pura preocupação que deixou minha boca tão seca quando
ele tirou a jaqueta e puxou a camisa para fora da calça.
— O que parece que estou fazendo? — Ele perguntou,
abrindo rapidamente os botões e, em seguida, tirando a camisa.
— Você pode esperar sua vez, — eu disse a ele.
— Foi um longo dia, Isabella, — ele me disse enquanto suas
mãos foram para sua braguilha.
Estava tudo bem
Realmente, não era grande coisa.
Eu já tinha visto o homem se despir antes.
Porque ele sentiu a necessidade de fazer isso bem na minha
frente estava completamente além de mim, mas não era grande
coisa.
Exceto que o estranho latejar do meu pulso dizia que talvez
fosse um pouco importante.
A calça de Primo caiu de seus pés, deixando-o em outra
cueca boxer pretas, mas desta vez me dando uma visão deles por
trás.
Eu não era o tipo de mulher que olhava a bunda de um
homem. Nunca foi minha praia. Eu gostava de braços, mãos,
tórax e costas, mas não de bundas.
Dito isso, a bunda de Primo?
Era boa, ok.
Alto, firme, arredondado, uma prova do tempo que ele deve
ter passado na academia, embora eu não o tivesse visto se
levantar cedo para fazer isso antes de ele tomar banho e se vestir
para o dia.
Achei que ele iria seguir em frente e passar fio dental e
escovar, para que pudesse dormir.
Não esperava que ele enfiasse os dedos nas cuecas boxer e
começasse a descê-las.
Eu queria chamar de pânico o que inundou meu corpo
naquele momento, mesmo que uma vozinha no fundo da minha
cabeça soubesse que não era isso.
— Primo, saia, — eu exigi.
— Há um banheiro completo neste apartamento, Isabella. E
você está dentro, — ele me disse enquanto a cueca boxer caía no
chão, dando-me uma visão de sua bunda perfeita sem o tecido
cobrindo-a.
— Então vá e eu vou sair dessa, — eu disse.
— Não, — ele respondeu.
E então ele se virou.
Repito... o homem se virou.
E tive uma visão lateral completa de seu corpo nu.
Eu queria dizer que não olhei. Se alguém perguntasse, diria
que não. Mas olhei. Certamente olhei.
Havia todas as linhas firmes que conheci quando ele se
despiu antes. Mas havia uma parte dele que eu não tinha visto.
Senti, quando acordei em cima dele? Sim. Mas nunca vi.
Mesmo não estando duro, ele era impressionante em
tamanho.
E me dei conta do vazio dentro de mim, e da maneira como
ele o preencheria perfeitamente.
O que?
Não.
Droga.
Meu olhar baixou quando Primo entrou no box do chuveiro,
ligando a água com força total, então entrando no jato antes
mesmo de ter a chance de aquecer.
Que tipo de animal faz isso?
Então, bem, eu não tinha nada para fazer. Eu não
conseguia sair dali. Não sem ele que visse completamente, já que
minha toalha exigiria que eu me levantasse para alcançá-la.
Então, eu simplesmente tive que ficar lá.
O que posso dizer?
Minha curiosidade ganhou naquele momento.
E minha cabeça levantou um pouco; e eu ergui o meu olhar.
E lá estava ele.
Em toda a sua glória nua.
Ele ficou sob o chuveiro, uma mão apoiada na parede,
deixando a cascata de água cair em seu pescoço e corpo.
Delicadas bolhas de sabão brancas desceram por sua pele,
pescoço, ombros, costas, estômago, bunda e pernas.
Mas nada disso realmente prendeu minha atenção.
Porque algo mais a estava exigindo.
Ou seja, o fato de que seu pau se endureceu enquanto ele
estava lá, tocando-se, impossivelmente longo e grosso, apenas
implorando pelo orgasmo.
Eu não fiquei exatamente surpresa com a pulsação entre
minhas coxas naquele momento. Foi uma resposta normal e
saudável do corpo de uma mulher olhando para o corpo nu de
um homem. Não tinha nada a ver com ele pessoalmente.
O que me chocou, porém, foi o fato de que, com um suspiro
sofrido, o outro braço de Primo se ergueu e sua mão se fechou
em torno de seu pau rígido.
Eu podia ouvir minha própria respiração presa de surpresa,
e fiquei imóvel por um longo momento, preocupada que ele
tivesse ouvido também, que ele talvez tivesse olhado, que sabia
que eu tinha visto.
Não era como se ele estivesse escondendo o que estava
fazendo. Eu estava bem à vista do chuveiro. Mas não queria que
ele soubesse que estava assistindo. Isso minaria minha
insistência de que não queria absolutamente nada com ele.
Simplesmente não havia raciocínio com uma reação
biológica, no entanto.
Raramente fazia algum sentido.
Foi por isso que eu desejei tanto meu namorado bad boy do
colégio que me tratou como uma merda, mas então só tinha
sentimentos mornos pelo cara que eu namorei depois, que me
tratava como se fosse de ouro, não importava o quanto quisesse
desejá-lo. Você simplesmente não poderia discutir com sua
biologia.
E alguma parte da mulher das cavernas em mim respondia
ao homem no box à minha frente.
Fazia sentido se você pensasse nisso. Ele era,
objetivamente, um espécime masculino praticamente perfeito.
Ele era alto, de ombros largos, em forma, com traços
classicamente bonitos, um comportamento áspero e masculino,
e, você sabe... o grande pau.
Disse a mim mesmo que não correria o risco de olhar
novamente.
Mas o som de sua respiração ao sair fazia o calor inflamar
meu corpo, fazendo minha pele ficar vermelha e excessivamente
sensível. A pulsação ficou pior e pior até que eu não parecia ter
nenhum tipo de controle enquanto meus olhos erguiam por baixo
dos cílios.
Seus músculos estavam tensos e firmes, enquanto ele se
masturbava para cima e para baixo em seu longo pau.
Sua outra mão se fechou em um punho na parede enquanto
sua respiração ficava cada vez mais irregular.
Eu pressionei minhas coxas com mais força, tentando
acalmar o caos entre a dor latejante e insistente que meu corpo
estava implorando para que eu aliviasse.
Minha respiração ficou presa, fazendo meu peito apertar
enquanto observava Primo se aproximar cada vez mais, cada vez
mais perto daquela borda.
Em seguida, empurrando-se para o lado.
Seu punho bateu contra o ladrilho, enquanto um gemido
baixo, quase áspero escapou dele quando ele gozou.
Meu olhar se desviou então, sabendo que ele estaria menos
distraído e mais propenso a me pegar olhando, mesmo sob meus
cílios.
Mesmo com a minha cabeça baixa, porém, a insistente dor
entre as minhas pernas não diminuiu. Na verdade, pareceu ficar
ainda mais insistente, me fazendo perceber que, depois que ele
fosse embora, eu precisaria fazer algo a respeito se quisesse
adormecer.
A água cortou um minuto depois, e eu juro que estava tão
consciente de tudo naquele momento que pude ouvi-lo se
secando antes de seguir em minha direção.
Em direção aos armários, não a mim.
Exceto, não, ele não estava indo para os armários.
Ele estava caminhando em minha direção, então parando.
Eu podia sentir seu olhar em mim e juro que minha pele
ficou quente em todos os lugares que seus olhos percorriam.
Eu sabia que precisava dizer a ele para se foder, para ficar
longe de mim, mas não conseguia colocar os pensamentos na
minha boca. E nem tinha certeza de que estaria falando sério.
Quero dizer, é claro que estaria falando sério em um nível
lógico, mas não naquele primitivo e animalesco que fazia minha
boceta pulsar junto com meus batimentos cardíacos enquanto
ele se erguia sobre mim por um momento.
E então sua mão estava se estendendo, seu dedo agarrando
meu queixo, forçando-o para que ele pudesse olhar para meu
rosto. Eu não precisava me ver para saber o que ele viu quando
olhou para mim naquele momento. Eu podia sentir minhas
bochechas coradas e minhas pálpebras pesadas.
— Você gosta de assistir, hein, querida? — Ele perguntou,
a voz suave e profunda, um som que tomou conta de mim.
Meus lábios se separaram e algum som saiu, o início de uma
objeção, com certeza. Mas não saiu completamente.
O polegar de Primo se moveu, acariciando meu lábio inferior
por um segundo antes de me soltar.
— Eu gosto mais de tocar, — ele me respondeu.
E assim, seu braço estava mergulhando na água, e sua
grande mão estava deslizando entre minhas coxas, acariciando
minha boceta molhada e dolorida.
Eu sabia que precisava afastá-lo, que esse tipo de coisa só
iria complicar tudo, tornar mais difícil para mim definir limites
tão necessários.
Mas meu corpo não me escutava.
Minhas coxas se separaram para ele, descansando contra
os lados frios da banheira quando seu dedo começou a acariciar
minha boceta, provocando ao redor da borda do meu clitóris, mas
sem tocá-lo.
— Você viu como me deixou duro? — Ele perguntou, a ponta
de seu dedo descendo com suas palavras, fazendo uma rápida
passada sobre o meu clitóris, mas movendo-se imediatamente,
mesmo quando minha respiração ficou presa com o indício de
prazer.
— Você sabe como isso é difícil, — ele começou fazendo
carícias leves sobre meu clitóris, — acordar com você ao redor de
mim pela manhã? — Ele perguntou enquanto minha respiração
ficava mais rápida e superficial. — Como tenho que manter
minhas mãos quietas mesmo quando o que quero fazer é
arrancar sua calcinha e estar dentro de você, — ele me disse. —
Assim, — ele acrescentou quando dois de seus dedos me
penetraram, me fazendo soltar um gemido de surpresa. Meus
músculos se contraíram em torno dele, fazendo ele soltar um
gemido baixo. — Um dia, você vai apertar meu pau assim, — ele
me disse um pouco antes de seus dedos começarem a empurrar.
Não foi lento, doce ou exploratório.
Ele me fodeu com os dedos até que meus quadris estivessem
se contorcendo contra seu toque, até que meus choramingos se
tornaram gemidos altos, até que minha mão deslizou para baixo,
pressionando sua palma contra minha boceta, envolvendo meu
clitóris com seus movimentos.
Seus dedos ficaram com movimentos mais duros e exigentes
conforme eu chegava cada vez mais perto, minhas paredes
apertando em torno dele enquanto ele me empurrava em direção
a essa borda que, com mais um pequeno empurrão, me enviaria
em queda livre para o esquecimento.
— Não, — disse ele, tirando seus dedos. — Se você quiser
gozar, Isabella, você vai gozar em torno do meu pau, — ele me
disse, dando um sorriso diabólico enquanto puxava a mão para
fora da água, em seguida, voltou para o quarto.
Sozinha, e constrangida soltei um gemido fraco e patético
quando minhas mãos se levantaram, cobrindo meu rosto, sem
saber como diabos eu seria capaz de enfrentar o homem
novamente depois disso.
Já teria sido ruim o suficiente se eu tivesse um orgasmo.
Mas foi de alguma forma muito pior que ele me negou.
— Droga, droga, droga, — resmunguei para mim mesma,
abrindo o ralo e me sentando lá até que a banheira se esvaziasse
completamente enquanto me chamava de uma série de coisas,
mas todas elas tendo a ver com ser uma completa idiota.
Com frio e frustrada, eu me enxuguei. Então demorei muito
para passar loção, escovar e trançar meu cabelo, fazer minha
rotina de pele e, finalmente, me vestir para dormir.
Já havia passado tempo suficiente para que eu percebesse
que não havia como o homem ainda estar acordado. Abri a porta
e escutei, ouvindo a respiração firme e profunda que dizia que eu
estava certa.
Então eu saí correndo de lá e desci as escadas para me
enroscar no sofá.
Restos da festa estavam por toda parte. As mesas estavam
todas arrumadas. As garrafas de bebida, cheias e vazias, ainda
estavam no bar improvisado que eles montaram. Os copos
estavam alinhados ao lado da pia e os pratos estavam dentro,
mas imaginei que eles ficariam assim até que a governanta de
Primo aparecesse para cuidar disso.
A governanta que chupou o pau dele no dia do nosso
casamento.
Eu não tinha o direito de me sentir tão irritada com isso
quanto me senti quando peguei minha jaqueta do cabide para
usar como um cobertor improvisado.
Tentei dizer a mim mesma que era apenas uma questão de
tato. Como diabos eu, a esposa, deveria existir no mesmo espaço
que ela, a governanta chupadora do pau do meu marido? Isso
criava uma dinâmica estranha. Eu não estava ansiosa para
pensar sobre isso.
Talvez encontrasse alguma desculpa para sair de casa no
dia seguinte antes que ela aparecesse. Eu teria alguém em meu
turno de guarda. Eles poderiam me levar a algum lugar.
A ideia de fazer mais compras me deixou um pouco enjoada,
mas esta era a cidade. Nunca faltaram lugares para ir ou coisas
para fazer. Eu poderia, não sei, fazer uma aula ou ir para a
academia, algo que me daria um motivo para sair de casa com
mais frequência, senão começaria a ficar louca, pois parece que
Primo não quer que eu trabalhe. E, francamente, por que
deveria? Foi ele quem me obrigou a entrar em toda essa confusão.
Ele poderia ser o único a financiar ter uma esposa.
Decisão tomada, liguei a TV para abafar as vozes em minha
cabeça, então me enrolei e fui dormir.
Mas o que eu fiz?
Sonhei com ele, é claro.
O tipo de sonho suado também.
Porque meu corpo precisava mais disso.
Logo antes de chegarmos à parte realmente quente do
sonho, senti mãos me agarrando, acordei ofegante ao me
encontrar sendo levantada nos braços de Primo mais uma vez.
— Teimosa pra caralho, — ele murmurou enquanto me
embalava em seu peito.
— Ponha-me no chão, Primo, — eu exigi, a voz aguda.
— Não.
— Ponha-me. No. Chão, — eu exigi, enfatizando cada
palavra com uma sacudida do meu corpo, esperando que ele
ficasse irritado e me colocasse de pé novamente. Mas não. É
sobre Primo que estávamos falando. Em seus braços gigantes, eu
poderia muito bem ser uma criança agitada.
— Você dorme na minha cama. Já falamos sobre isso, — ele
disse, caminhando em direção às escadas. — Eu não dou a
mínima se o seu ego está machucado, você dorme ao meu lado.
— Meu ego não está machucado, — resmunguei,
inclinando-me o mais longe possível de seu peito com a força que
ele estava me segurando, mesmo que uma pequena parte minha
quisesse se inclinar e respirar fundo o sabonete, que cheirava
exatamente como sua colônia que estava agarrada a sua pele.
— Bem. Então você está de mau humor porque eu não
deixei você gozar. Ou como você queira dizer.
— Não se iluda, Primo. Eu não preciso que você me ajude
a gozar, — eu disse, a amargura saindo com minhas palavras. —
Eu me saí bem sem você no passado, — acrescentei enquanto
subíamos as escadas. — Sozinha... e não.
— Não faça isso, — ele retrucou, parando e dando uma
pequena sacudida no meu corpo. — Não fale comigo sobre outros
homens com quem você esteve.
— Primo, se você queria uma virgem de olhos brilhantes
que erroneamente acreditaria que seu pau é o melhor em todo o
mundo, você escolheu errado, — eu respondi, apreciando a forma
como a raiva fazia um músculo em seu maxilar pulsar. Talvez
não fosse inteligente cutucar um urso como ele, mas me
confortou um pouco sabendo que poderia irritá-lo, que ele não
era o único que exercia um pouco de poder neste relacionamento.
— Aposto que você estaria cantando uma música diferente
se eu arrancasse sua calcinha e começasse a te foder.
— Sim, isso não vai acontecer, — eu disse, lançando um
sorriso meloso.
— Aposto que se eu enfiasse meus dedos em sua boceta
agora, você estaria encharcada para mim.
— Sinta-se à vontade para imaginar qualquer tipo de
situação absurda que você quiser, Primo. Mas se há uma coisa
da qual tenho certeza agora, é que a única maneira de você me
foder é se eu estiver praticamente bêbada, quase desmaiada. Eu
não quero absolutamente nada com você fisicamente, — eu disse,
o tom fervente. Foi um som desagradável o suficiente para que
ele parecesse surpreso.
Bom.
Eu esperava que ele estivesse preocupado.
Esperava que ele estivesse se perguntando como diabos ele
conseguiria um herdeiro se sua esposa não queria que a tocasse.
— Já veremos, — disse Primo, me deixando cair na cama,
em seguida, dando a volta para subir em seu lado.
Demos as costas um ao outro.
E enquanto eu estava lá, sem dormir, me perguntei se nosso
casamento sempre seria assim.
Raiva e ressentimento, e tentar superar o outro em uma
batalha de vontades e comentários mordazes.
Seria uma vida longa se fosse esse o caso.
Mas eu não conseguia ver nenhuma maneira de contornar
a situação.
Porque tinha certeza de que o odiava mais do que quando
ele ameaçou matar minha família na minha frente se eu não
concordasse em me casar com ele.
Não acho que havia uma maneira de voltar atrás disso.
CAPÍTULO NOVE

Primo

Morar com Isabella me ensinou que, se algum dia eu


precisasse de alguém com gelo nas veias para fazer um trabalho,
provavelmente deveria procurar uma mulher.
Naquela primeira manhã depois do banho e da banheira,
acordei sem ela esparramada sobre mim. O que parecia estranho,
já que ela tinha feito isso involuntariamente no passado. Não foi
até que ela se levantou da cama e eu subi as escadas para pegar
meu relógio que percebi que ela se manteve do seu lado da cama,
colocando uma fila de livros entre nós, para que se ela rolasse até
eles, ela iria acordar e voltar para o lado dela na cama.
Eu provavelmente deveria ter deixado a mulher gozar.
Eu calculei mal quando pensei que isso só faria ela me
querer mais.
Foi meu erro, esquecendo por um momento que uma grande
parte dela estava determinada a me desprezar por causa das
circunstâncias de nosso casamento. Quando a peguei em um
momento suave, deveria estar aproveitando ao máximo, não
brincando com ela. Essa era a única maneira que eu iria, talvez,
suavizá-la para a ideia de realmente ser uma esposa de verdade,
não a fachada que colocamos para os outros enquanto ela me
odiava em particular.
Isso levaria tempo.
O problema é que eu não era exatamente um homem
paciente.
Eu tinha que me lembrar de que isso era para a vida toda,
então, se ela precisasse perder uma ou duas semanas me dando
as costas, eu poderia aceitar.
Mesmo que minhas bolas parecessem prestes a explodir.
Especialmente agora sabendo que mesmo que sua cabeça não
quisesse estar nisso, seu corpo respondeu absolutamente. Eu
estaria melhor se não soubesse disso ainda.
Era pouco depois das sete da noite de uma sexta-feira, uma
semana depois da situação do banho. Eu planejava chegar em
casa e convidá-la para jantar. Uma espécie de oferta de paz, já
que eu tinha sido tão teimoso quanto ela desde então, me
recusando a romper o silêncio primeiro. Achei que, se saíssemos
do apartamento juntos, talvez ela se relaxasse um pouco,
conversasse comigo e pudéssemos seguir em frente.
Eu entrei nos cheiros de comida no meu apartamento.
Ao entrar, pude ver Isabella na cozinha, ocupada no
trabalho.
Ela nunca era totalmente casual, mas isso foi o mais
próximo que ela conseguiu, usando jeans de corte escuro e um
suéter simples leve cor caramelo. Seu cabelo sedoso estava preso
em uma trança solta pelas costas, provavelmente para mantê-lo
longe de seu rosto enquanto ela cozinhava.
Eu não sabia o que ela estava preparando.
Mas sabia de uma coisa.
Ela não prepararia o suficiente para mim.
Ela nunca fez.
Na verdade, foi impressionante ela ter conseguido lutar
contra o que devia ser uma vida inteira de mães italianas
treinando para ser uma boa futura anfitriã, alguém que sempre
preparava mais do que o suficiente para todos ao seu redor.
Mas eu tinha que dar crédito a ela, ela com certeza
conseguiu.
Todas as manhãs, eu descia e a via preparando o café da
manhã apenas para ela. Normalmente, eu não chegava em casa
cedo o suficiente para vê-la fazendo o jantar, mas também nunca
havia sobras na geladeira para mim.
No entanto, era curioso que ela aparentemente cozinhou
para Dulles e Dawson quando eles faziam turnos de guarda. Eu
sabia por que eles elogiavam sobre as habilidades culinárias de
minha esposa e eu precisava mudar rapidamente de assunto
para evitar ter que admitir que ela me desprezava tanto que
preferia me deixar morrer de fome a me alimentar.
Suspirando, tirei minha jaqueta, colocando-a nas costas do
sofá, em seguida, tirei minhas abotoaduras e as coloquei na mesa
de centro. Arregaçando as mangas, fui até a cozinha, vendo a
massa na panela e as ervas frescas e queijos espalhados pelo
balcão.
Lasanha.
A mulher estava fazendo uma espécie de lasanha.
E parecia incrível pra caralho.
Mas não havia nenhuma maneira de começar a fazer o meu
próprio àquela hora.
Peguei um pouco de massa filo congelada, carreguei com
queijo feta, azeite, mozarela, manjericão e salsa e joguei minha
pizza improvisada no forno. O tempo todo, Isabella dançou ao
meu redor como se eu não existisse. Eu posso muito bem ter sido
um maldito fantasma na minha própria cozinha do jeito que ela
ignorou completamente a minha presença. Mesmo quando eu
tentei atrapalhar, ou enfiar minha mão no mesmo recipiente de
especiarias cortadas que ela estava pegando, ela conseguiu se
mover ao meu redor e puxar sua mão de volta antes que pudesse
haver qualquer prova de que eu realmente estava lá.
Eu tinha que encontrar uma maneira de ficar bem com ela.
Porque, embora fosse originalmente engraçado e talvez até
um pouco fofo que ela pudesse agir como se eu não existisse na
minha maldita própria casa, isso estava ficando chato rápido.
Uma semana era suficiente.
O problema era que eu não tinha ideia do que poderia fazer
para consertar as coisas.
No entanto, tive sorte no dia seguinte.
Eu tinha acabado de descer para pegar um café e sair
quando Terzo entrou correndo no apartamento, com olhos bem
aberto.
— Temos um problema, — disse ele, — olhando para
Isabella que estava sentada à mesa da sala de jantar com seu
café e anotando o que provavelmente era uma lista de compras,
já que estávamos com pouca coisa.
— Ok, — eu concordei, deixando o café, e o seguindo,
mantendo minha boca fechada até que estivéssemos no elevador.
— Onde estamos indo?
— O beco, — disse ele, fazendo minhas sobrancelhas
franzirem. — Você precisa ver por si mesmo, — disse ele,
balançando a cabeça para mim.
O interesse aumentou, eu o segui até o andar térreo e saí
para o beco.
Onde encontrei Vissi segurando o braço coberto com uma
jaqueta de couro de uma mulher.
— Juro por Deus, se você não soltar meu braço, vou cortar
cada um de seus dedos com uma tesoura sem corte, — ela
grunhiu para Vissi, olhando para ele com punhais nos olhos.
Feroz o suficiente para que eu tivesse certeza de que ela era
realmente capaz.
Ela tinha uma cor diferente de Isabella, parecendo mais com
seu irmão Emilio com seu cabelo castanho médio na altura dos
ombros e os olhos azuis que vinham do lado materno da família.
Mas não havia como confundir a forma suave e feminina do
rosto, os olhos fundos e os lábios carnudos.
— Mirabella, — eu a cumprimentei, observando enquanto
sua cabeça girava, as sobrancelhas levantadas, surpresa por eu
saber quem ela era. Como se a semelhança familiar não fosse
quase dolorosamente óbvia.
— Mira — corrigiu ela, erguendo o queixo em um movimento
tão parecido com o de sua irmã que senti meus lábios se
contorcerem.
— Mira, — eu disse, balançando a cabeça. — Você sabe que
não deveria estar aqui.
— Por quê? Por que não deveria estar aqui? Por que você
está fazendo uma merda horrível com minha irmã e não quer que
as famílias saibam? É por isso?
— Como disse ao seu irmão e Lorenzo, Isabella não sofrerá
nenhum dano da minha família ou de mim.
— Sim, claro, porque eu apenas devo aceitar a palavra de
um fodido psicopata, certo? — “Oh, nenhum mal vai acontecer a
ela. Exceto, sabe, a coisa do sequestro e casamento forçado”, seu
maldito lunático.
— Não estou vendo a semelhança da família com a sua doce
esposa, — disse Vissi, balançando a cabeça enquanto Mira o
olhava carrancuda.
— Só porque você ainda não irritou Isabella, — eu disse,
bufando.
— Então você admite. Você a está irritando.
— Eu a irrito por existir, Mira, — eu disse, encolhendo os
ombros. — Mas não coloco minhas mãos sobre ela.
— Apenas a mantém presa em uma torre como a porra da
Rapunzel. Coisa totalmente normal para fazer com sua suposta
esposa.
— Ela é livre para sair.
— Com babás, — Mira retrucou.
— Com guardas. Para sua própria segurança, — eu corrigi.
— Oh, então ela está livre para vir me ver, certo? Excelente.
Mande-a descer.
— Eu não posso fazer isso.
— Claro. Porque ela não é sua esposa. Ela é a porra da sua
prisioneira.
— Como eu disse ao seu irmão, assim que Isabella se
estabelecer em sua vida aqui, ela será capaz de entrar em contato
com todos vocês novamente.
— Oh, quando ela sofre uma lavagem cerebral por causa
da sua cara estúpida e sua energia-de-pau-grande que ela vai
esquecer que está aqui contra sua vontade, você quer dizer?
— Minha cara estúpida, — eu repeti, os lábios se
contraindo.
— Você prefere que eu chame de “que merece um soco”?
Porque é isso também.
— Você não sabe que não deve ameaçar um chefe? — Terzo
resmungou.
— Oh, por favor. E o que você acha que vai fazer comigo? —
Ela perguntou, revirando os olhos. — Um fio de cabelo da minha
cabeça sai do lugar enquanto estou aqui e meu irmão vai mandar
Brio atrás de você tão rápido que você não conseguirá pegar sua
arma antes que ele arranque cada um de seus dentes com um
alicate.
Ela não estava exatamente errada sobre isso.
Ela pode ter me chamado de psicopata, mas o título disso
com certeza era para Brio, que era um membro da Família Costa.
Eu nunca vi ninguém que gostasse de sangue, dor e morte tanto
quanto ele.
— Mira, você tem minha palavra de que Isabella a verá
novamente em um futuro próximo.
— Esse futuro próximo é agora, — Mira declarou, o olhar
fixo o meu.
Eu conheci mafiosos ao longo da vida, assassinos
profissionais, que não ousariam falar comigo ou olhar para mim
do jeito que ela estava naquele momento.
Você tinha que admirar sua coragem.
— E se eu tiver hematomas, seu desgraçado, — disse ela,
olhando para Vissi novamente depois de tentar soltar o braço, —
vou descobrir onde você mora, entrar e derramar azeite quente
em todo o seu pauzinho e nas bolinhas, — ela disse, e havia algo
um pouco assustador em seus olhos quando ela o ameaçou, algo
que me fez pensar que ela era completamente capaz de fazer
exatamente isso.
Vissi pareceu perceber também por que ele afrouxou um
pouco sua mão.
— Deixe-me ver a porra da minha irmã, seu monstro.
Ela disse isso também com um sorriso.
Eu não sabia nada sobre Mirabella Costa, mas parecia que
eu precisava que alguns dos caras a investigassem. Eu imaginei
que as irmãs de Emilio que foram criadas à distância dos
negócios da Família, todas seriam mais suaves e doces. Mas Mira
tinha uma dureza sobre ela que dizia que ela convivia com Capos
e chefes, e conseguia se safar perto deles também.
Ela não estava intimidada.
Nós dois sabíamos que ela não tinha nenhum apoio ao que
queria, que sua irmã e as famílias concordaram com este plano.
Ela gostasse ou não.
O motivo pelo qual não disse imediatamente a Vissi para
arrastá-la de volta para fora do meu bairro não tinha nada a ver
com ela.
E tudo a ver com o fato de que eu tinha uma mulher a
alguns andares de distância que poderia parar de me dar o
tratamento do silêncio se eu deixasse sua irmã a visitar.
— Vou te dizer uma coisa, — eu disse. — Se Isabella
concordar, você pode vê-la um pouco, — eu disse, ignorando o
olhar de Terzo em meu perfil. — Mas você terá a visita aqui, —
eu disse a ela.
— Bem. Que seja. Eu só preciso vê-la, — Mira disse,
encolhendo os ombros.
— Dê-me cinco e leve-a para cima, — disse a Vissi, depois
me virei e subi as escadas.
— Dulles, você acha que podemos ir para... oh, — ela disse,
seu sorriso se apagando quando seu olhar pousou em mim.
— Eu tenho uma proposta para você, — eu disse,
observando enquanto ela me cortava com seu olhar frio. Sua
sobrancelha subiu lentamente quando eu não continuei
imediatamente. — Estou disposto a permitir que você tenha algo
pelo qual provavelmente está realmente desesperada agora, se
parar de agir como se eu fosse um fantasma na porra da minha
própria casa.
— Eu não estou desesperada por um maldito orgasmo,
Primo, — ela grunhiu. Grunhiu. A mulher grunhiu para mim.
— Eu não estava falando sobre sua boceta, embora esteja
sempre pronto para isso, — disse eu, observando com diversão
quando seus olhos se entrecerravam.
— Do que você estava falando então? — Ela perguntou,
cruzando os braços.
Não eram nem oito da manhã e essa mulher estava pronta
para brigar.
Eu gostava disso nela.
— Concorde em parar de dançar ao meu redor, — eu exigi,
ouvindo o elevador.
— Só se o que você tem a oferecer for bom o suficiente, —
disse ela, erguendo o queixo.
— Oh, é bom o suficiente. Mas você aceita o acordo agora.
Chega de tratamento silencioso. Você tem um problema comigo,
você fala.
— Quando se trata de você, Primo, sempre tenho um
problema, — disse ela. Se olhares matassem, eu estaria cheio de
balas naquele momento.
— Você diz a ele! — A voz de Mira gritou atrás de mim, e eu
pude observar quando os olhos de Isabella ficaram enormes.
— Essa é... — ela disse, a voz soando como se estivesse
tremendo, fazendo-me sentir mais horrível do que nunca. Isso era
puro desespero em seu olhar naquele momento.
— É, — eu disse, balançando a cabeça. — Preciso que você
concorde primeiro, — eu a lembrei, vendo seus olhos ficarem
vidrados.
— Eu concordo. Eu concordo. Só me deixe ver minha irmã,
— ela exigiu enquanto uma lágrima escorregou por sua
bochecha. — Por favor, — acrescentou ela, fungando.
Eu não era um homem gentil.
Mas tive uma necessidade quase irresistível de ir até ela,
enxugar as lágrimas de seu rosto, puxá-la em meus braços e
assegurar-lhe que tudo ficaria bem.
Apenas, não poderia fazer nada disso.
Então, dei um passo para trás e acenei para Vissi, que
soltou o braço de Mira.
E ela correu pelo espaço, batendo o braço em mim com força
ao passar e, em seguida, se jogando nos braços de sua irmã.
— Foi a jogada certa, — disse Vissi, aproximando-se de
mim. — No caso de você precisar de alguém para te dizer isso,
este foi o movimento certo. Isso é o que faria um homem com as
intenções certas. Os Costas verão isso. Isso vai aliviar as tensões.
Ele estava certo.
Mas eu não dava a mínima para os Costas naquele
momento.
Porque meu olhar estava fixo em minha esposa. Que estava
chorando nos braços de sua irmã, seu corpo inteiro torturado
com os soluços que escapavam dela.
Eu nunca me senti realmente pequeno em minha vida.
Mas me senti infinitesimal naquele momento.
— E no caso de você não conseguir ver por si mesmo, isso
vai ajudar as tensões entre você e sua esposa.
Eu poderia ter esperança.
CAPÍTULO DEZ

Isabella

Primo não era o tipo de homem que voltava em sua palavra.


Por isso me surpreendi tanto que deixara minha irmã
visitar.
Eu tinha quase certeza de que estava ouvindo vozes quando
Mira me chamou do elevador.
Mas então lá estava ela.
E eu simplesmente... rompi em pedaços.
Fiquei realmente envergonhada depois que as lágrimas
secaram e minha irmã e eu fomos para a cozinha, de quão forte
chorei com ela.
— Acho que me reprimi mais do que imaginava, — admiti
enquanto ia até a máquina de café, já que ninguém que eu
conhecia gostava de cafeína tanto quanto minha irmã.
Tive que admitir para mim mesma que, desde o incidente
da banheira e o espaço que colocou entre Primo e eu, a solidão
realmente começou a se infiltrar. Claro, eu tinha Dawson e Dulles
que estavam cada vez mais se tornando amigos do que apenas
guardas. Mas eu senti que precisava ter muito cuidado com o que
eu dizia a seu redor, já que a lealdade deles seria sempre para o
irmão, para a Família.
Realmente não reconheci o quanto passei a depender da
minha família para a estabilidade emocional até que eu não pude
simplesmente pegar um telefone e ligar para eles ou passar para
vê-los.
Sem eles, me sentia tão incrivelmente sozinha.
— Não é de admirar com aquele monstro de merda com
quem você se casou, — disse Mira, caindo no banquinho na ilha,
batendo as unhas curtas no balcão. Ela sempre teve bastante
energia. Provavelmente de toda a cafeína mencionada acima.
— Estou bem, — disse a ela, passando-lhe a xícara de café
e um pouco de açúcar. — Mesmo. Deixando de lado a exibição de
loucura emocional, estou bem, — insisti, estendendo a mão pela
ilha para apertar a mão dela. — Ele... ele manteve sua palavra.
— E você? — Ela perguntou, o olhar cauteloso. — Você
manteve sua palavra? Ele fez você...
— Não, — eu disse, rápido, rápido demais. Ela
provavelmente suspeitou imediatamente, mas a resposta não
teve nada a ver com nada que eu pudesse dizer a ela. — Não. Ele
não me obrigou a fazer nada, na verdade. Além de dormir na
mesma cama, o que ele alega ser por razões de segurança, caso
houvesse um, não sei, tiroteio ou algo assim.
— Há muitas janelas aqui, — disse ela, acenando com a
cabeça para elas. — Eles têm algum tipo de bloqueio sobre elas.
Você não pode ver dentro. Mesmo com visão noturna.
— Você esteve observado o apartamento com visão
noturna?
— Não. Esta foi a primeira vez que entrei nesta área do
Bronx. Seus pequenos guardas estão por toda parte. E nós nos
parecemos muito. Não havia como eles não saberem quem eu era
e que não pertencia aqui. Mas o garoto que normalmente está
vigiando a rua estava sendo incomodado pelos policiais, então
consegui entrar furtivamente. Mas fui pega por aquele idiota
estupidamente bonito.
— Qual deles? Eles são todos irritantemente atraentes.
— Viggi? Vicci? Eu não sei. Algo ridículo assim.
— Vissi, — respondi. — Ele realmente não é tão ruim.
— Se eu tiver hematomas no braço, tenho que fazer uma
visita a ele.
— Você não os ameaçou, — resmunguei, fechando os olhos,
procurando um pouco de paciência.
— Apenas cortar seus dedos e potencialmente derramar
azeite quente sobre suas regiões inferiores.
— Oh, isso é tudo? — Eu perguntei, impassível, fazendo-a
sorrir.
— Você parece... bem, — disse ela. — Além do choro.
— Senti a sua falta. Eu sinto falta de todos, — eu admiti.
— Acho que fiquei simplesmente emocionada.
— Honestamente, estou meio chocada que ele me deixou
ver você. Pensei que poderia te ver de longe, ou você poderia só
me ouvir, e saber que a amamos e estamos impacientemente
esperando que você possa nos contatar.
— Acho que você o pegou de relativamente bom humor, —
eu disse a ela.
— Se aquilo era um bom humor, então estou realmente
preocupada com você.
— Não fique, — eu exigi, completando meu café frio. —
Sério. Estou bem. Quer dizer, eu sinto tanto a falta de vocês que
mal consigo respirar às vezes. Mas eles não estão me
machucando ou sendo super restritivos ou algo assim. É
apenas…
— Solitário, — Mira interrompeu.
— Sim.
— Você acha que eu agradeceria a pausa das mensagens
implacáveis de todos e as ligações da mamãe dizendo que ela deu
o seu número para o filho do cabeleireiro. Que é gay, lembre-se.
Foi a primeira coisa que ele me disse quando ligou por obrigação
familiar.
— Bem, pelo menos ela pode dizer que uma de suas filhas
é casada agora, — eu disse, balançando minha cabeça.
— Ei, ela não está feliz com isso, Bells. Ela queria que você
se casasse, mas não assim.
— Sabe, poderia ser pior. Quer dizer, não sei como colocar
isso. Mas tipo... eu poderia ter acabado casada com alguém que
eu amava e que pensava que me amava, então descobrir que ele
estava me desrespeitando fodendo tudo que andava enquanto eu
estava em casa criando seus filhos.
— Quero dizer, mas Primo...
— Na verdade, é surpreendentemente um tradicionalista
sobre casamento. Ele não acredita em traição.
— Mesmo se você não estiver dormindo com ele? — Mira
perguntou, duvidosa.
— Mesmo assim, ele afirma.
— Interessante. Mas você vai? — Ela perguntou.
— Dormir com ele? — Eu esclareci.
— Sim.
— Algum dia vou ter que fazer isso, — disse eu. — Eu quero
filhos.
— Quer dizer, eu posso pensar em caras piores para dividir
a cama. Além disso, aquele homem tem o maior EPG que eu já
vi.
— EPG?
— Energia de Pau Grande, — Mira me disse.
— Oh, ah, sim, eu acho. — Quer dizer, ele realmente tem
um pau grande, mas não queria dizer a ela como sabia disso. —
Como estão todos? — Eu perguntei, querendo desviar a conversa
de Primo e nossa vida sexual futura. — Emilio? — Eu perguntei,
estremecendo.
— Emilio está tratando toda a situação como se fosse culpa
dele, — Mira me disse. — Ele está passando por uma situação
um tanto sombria ultimamente, para ser honesta.
Era difícil imaginar Emilio em um lugar escuro. Ele
geralmente era o mais leve de todos nós, nunca levando a vida,
ou mesmo o trabalho, muito a sério. Acho que o irmão mais velho
em uma família grande teve que aprender a adotar uma atitude
tranquila para sobreviver ao caos que seus irmãos mais novos
trouxeram com eles.
— Não é culpa dele. Diga a ele que eu disse isso. Direi a ele
quando puder vê-lo também, mas você diga a ele agora.
— Eu vou, mas você sabe como os homens Costa são.
Teimosos.
Nosso outro irmão, Anthony, perseguiu implacavelmente
um lugar na Família com apenas dezoito anos de idade, quando
Lorenzo assumiu o lugar do pai após sua morte. Apesar de todos
nós termos implorado para ele tirar um tempo, para viver sua
vida, talvez para fazer essa experiência da faculdade. Ele estava
decidido a viver na Família. E foi exatamente isso que ele
conseguiu.
— E a mamãe?
— Mamãe está oscilando entre o otimismo forçado e o
baixo-astral. Acho que ela se sentirá melhor quando ouvir que
pude falar com você e confirmar que você não está sendo abusada
de forma alguma. O que não entendo é, se você está sendo tratada
bem, por que não tem permissão para entrar em contato
conosco?
— Bem, você conhece a famosa teimosia dos homens
Costa?
— Sim.
— Bem, imagine isso dez vezes para os homens Esposito.
— Mira fez um som de nojo que me fez sorrir. — Exatamente.
Acho que ele está preocupado com a possibilidade de eu tentar
traçar um plano para fugir. Mas concordei com isso. E mesmo
que precise de alguns ajustes, estou feliz por poder participar do
fim de todas as rixas entre as famílias.
— Eu deveria ter pensado em trazer escondido um telefone
celular. Sinceramente, não achei que a veria cara a cara ou teria
pensado nisso.
— Talvez se pudermos provar que você não está tentando
me roubar, ou traçar algum plano para derrubar o acordo, Primo
será mais aberto para você visitar de vez em quando. Talvez até
trazendo a mamãe. Emilio e os outros provavelmente serão
difíceis de convencer, mas tenho certeza de que chegaremos lá.
— Então eu tenho que seguir regras, — Mira resmungou.
— Eu sei. É difícil para você, — eu concordei, sorrindo. —
Mas por agora, sim.
— Não vou me desculpar por ameaçar aquele idiota.
— Eu não acho que alguém espera que você faça isso.
Apesar de todas as suas falhas, os homens Esposito não parecem
ser contra as mulheres bocudas e obstinadas. Em todo caso,
Primo fica irritado se não falo com ele. Ele realmente odeia um
tratamento silencioso. Porém, eu tive que concordar em parar de
fazer isso se quisesse ver você.
— Pequeno sacrifício. Então, como foi o casamento?
— Apressado, — eu disse a ela. — Mas ele tinha um vestido,
sapatos e flores, — eu disse, acenando para a mesa da sala de
jantar.
— E elas ainda estão com uma aparência tão boa? — Ela
perguntou, duvidosa, fazendo meu olhar disparar para perceber,
não, claro que não. Ele deve ter mandado substituí-las. E visto
que ele não me parecia um homem que queria flores frescas em
casa para si mesmo, muito menos o meu tipo favorito de flor, ele
claramente o fez por mim.
Isso era muito atencioso, certo?
Mesmo que não as trouxesse pessoalmente, ele pensou em
pedir para outra pessoa. Mesmo quando eu estava dando a ele o
tratamento de silêncio.
— E um anel? — Mira perguntou.
Ao contrário de mim, ela nunca foi louca por casamento. Na
verdade, ela zombava de toda a instituição e partiu o coração de
nossa mãe ao declarar que nunca se casaria.
— Sim, — eu disse, estendendo minha mão.
— Você sabe que eu não sou o tipo de garota que gosta de
joias, mas isso é incrível.
Era, na verdade. Eu me peguei olhando para ele com
frequência, passando o dedo sobre as pedras em momentos de
ansiedade.
— No entanto suas unhas estão horríveis.
— Eu tenho adiado. Já arrastei Dulles e Dawson para
tantas lojas. Eu estava dando a eles um descanso da coisa
feminina.
— Esses são os irmãos, certo?
— Gêmeos. Mas uma mãe diferente de Primo, Due e Terzo.
Eu realmente não descobri mais do que isso.
— Com a coisa toda de não falar com seu marido, — Mira
disse, balançando a cabeça.
— Sim.
— Estou começando a achar que você conseguiu um acordo
legal, no geral, — disse Mira. — Você consegue viver neste
apartamento chique, gastar todo o seu dinheiro, não trabalhar, e
você nem mesmo tem que transar com ele?
— Bem, um dia, irei — eu a lembrei. — Ele quer um
herdeiro.
— Ok, bem, não me odeie, mas seria realmente difícil
transar com ele? Ele é quase irritantemente atraente.
— Eu não sei. Talvez a dinâmica melhore e me sinta
diferente com o tempo. É tudo novo, — acrescentei.
— Sim. E você é jovem. Há tempo. Só espero que você tenha
mais liberdade em breve. O jantar de domingo foi tão estranho
sem você lá.
— E com isso você quer dizer que mamãe está tentando
forçá-la a finalmente aprender a cozinhar, já que não estou lá
para ajudar.
— Escute, era seu trabalho como a primeira filha a
aprender toda essa merda. Agora que você nos abandonou, estou
aprendendo todo tipo de coisas sobre molhos e formatos de
massa que eu nunca realmente quis saber.
— Ei, seria bom ser capaz de se alimentar de vez em
quando, — eu disse, sabendo que ela era uma mulher viciada em
pedidos-de-entrega ou refeição-para-viagens. Eu nunca tinha
visto alguém com mais cardápios do que ela. Os únicos itens em
sua geladeira eram molhos para acompanhar o que quer que ela
pedisse, refrigerante e um pouco de sorvete no freezer. Essa era
minha irmã. E eu estava um pouco triste por não ter podido estar
por perto para ver nossa mãe mandar nela na cozinha enquanto
ela ficava mais e mais exausta a cada segundo.
Quantas coisas assim eu perdi? E continuaria a perder?
Quanto tempo levaria até que Primo me permitisse ter minha
família novamente?
Eu imaginei que o tempo que ele tinha em mente só seria
prolongado pela minha resistência às minhas circunstâncias.
Talvez fosse hora de pelo menos tentar fazer o papel que
concordei em fazer.
Talvez se eu fosse mais gentil e complacente, ele aliviaria as
restrições, e isso pareceria mais uma parceria do que uma prisão
em que eu estava presa.
Eu não diria que seria fácil. Quanto mais o tempo passava,
mais ressentida eu ficava com algumas partes do arranjo. Mas se
pudesse superar isso, fazer o meu papel por um tempo, então
talvez pudesse negociar as coisas que mais queria na minha vida.
Como minha família.
— Ouça, estou bem em não saber como fazer as almôndegas
familiares. É por isso que tenho mamãe e você. Ei, você acha que
vai arrastar Primo para os jantares de domingo no futuro?
— Oh, Deus. Eu nem tinha pensado nisso, — admiti.
Mas, é claro, teria que levar, não é? Eles eram minha
família. E ele era, para todos os efeitos, meu marido. Seria
impróprio para mim dizer que ele não poderia ir comigo.
— O que? — Mira perguntou quando eu soltei uma risada
estranha e sufocada.
— É só... você pode imaginar Primo sentado em frente a
Emilio e Anthony? — Eu perguntei, de alguma forma capaz de
imaginar isso em detalhes vívidos.
— A cara feia, — Mira disse, sorrindo sobre a borda de sua
xícara de café.
— Certo? — Eu concordei.
— Então, você vai me levar para um tour pela casa ou o
quê? — Mira perguntou, acenando ao redor.
Com isso, fiz um tour por ela e acabamos voltando para a
sala, no sofá, conversando sobre ela, nossa família e a Família.
Até ela receber uma ligação.
— É Emilio, — disse ela, mostrando-me a tela. — Quer falar
com ele?
Sim.
Deus, eu queria.
Mas falar com ele seria ultrapassar os limites? Isso me faria
retroceder, e seria menos provável que Primo permitisse a visita
de Mira?
— Ninguém vai saber, — disse ela, entregando-me o
telefone, em seguida, pulando para se certificar de que ninguém
estava por perto bisbilhotando. — Vá em frente.
Qual era aquela frase que eu ouvia meus irmãos dizerem o
tempo todo quando crianças? Algo sobre ser melhor pedir perdão
do que permissão.
Com isso, passei meu dedo pela tela antes que a ligação
pudesse cair.
— Emilio? — Eu disse, voz baixa.
— Bells? — Milo perguntou, parecendo sufocado.
— Sim, sou eu, — eu disse, sentindo as lágrimas nos meus
olhos novamente, sem perceber o quanto eu precisava ouvir sua
voz.
— Você fugiu? Onde você está? Eu irei te buscar.
— Não. Não. Não fugi. Eu estou... estou na minha nova...
casa, — eu disse a ele, estremecendo com as palavras forçadas
soaram. — Mira apareceu aqui hoje, ameaçando quebrar tudo e
derramar azeite quente em outras coisas. Você a conhece, —
acrescentei, os lábios se contraindo um pouco quando ela me
lançou pequenos olhares do outro lado da sala.
— Primo deixou ela ver você? — Emilio perguntou,
duvidoso.
— Eu sei. Eu também fiquei surpresa. Acho... acho que ele
está tentando, Emilio.
— Tentando fazer o quê?
— Não ser um idiota completo, — eu disse, encolhendo os
ombros.
— É tarde demais para isso, — rebateu Milo.
Eu nunca considerei meu irmão uma pessoa raivosa. Esse
era todo o departamento de Mira. Emilio sempre foi descontraído
e meio despreocupado. Claro, ele conseguiu fazer um trabalho
para a Família Costa, mas não era um empreendedor ou alguém
que fazia muito trabalho sujo.
Era estranho ouvi-lo zangado.
Não apenas com raiva.
Enfurecido.
— Eu concordei com isso, Milo, — eu o lembrei. — E,
realmente, está tudo bem. É como ser companheiros de quarto
na maioria das vezes. Ele não está muito por perto.
— Colegas de quarto, — zombou Emilio. — Colegas de
quarto podem sair.
— Eu posso sair, — eu disse a ele. — No dia seguinte ao
casamento, fui às compras o dia todo. Eu simplesmente não
posso deixar a área ainda. E ele tem guardas comigo. Mas ele
deixar Mira subir e me ver hoje foi um passo na direção certa.
Emilio ficou em silêncio, sabendo que não poderia discutir,
mas estava tão decidido a odiar Primo que não queria reivindicar
nada do que fazia.
— Estou com saudades, — disse a ele, sentindo meu
coração apertar.
— Eu também sinto sua falta, — ele me disse. — E sinto
muito. Eu sinto muito mesmo.
— Não é sua culpa. Você precisa parar de se culpar. — Do
meu lado, Mira endureceu e me deu o gesto de fechar, me fazendo
pensar que o elevador estava subindo. — Escute, Emilio, eu
tenho que ir. Mas te amo. E vou falar com você assim que puder,
ok? E estou bem. Você não precisa se preocupar comigo, ok?
Estou bem.
Com isso, desliguei e entreguei a Mira seu telefone para
guardar assim que as portas do elevador soaram quando se
abriram.
— Tudo bem, Raio de Sol, — disse Vissi, dirigindo-se à
minha irmã, que lançou a ele um olhar carrancudo para o apelido
que de forma alguma descrevia sua personalidade, — vamos
colocá-la no seu caminho.
— Raio de Sol? — Mira murmurou, cruzando os braços
sobre o peito.
— Sim. Bonita, mas vai te queimar pra caralho — disse
Vissi, fazendo Mira se contorcer, decidida a não se deixar
encantar por ele. O que não foi fácil. Porque Vissi era muito
charmoso.
— Acabei de chegar aqui, — Mira insistiu.
— Na verdade, você está aqui há algumas horas. Tempo
suficiente para encher sua cabeça com todos os tipos de
maneiras de assassinar seu marido durante o sono, sem dúvida.
— Se você se lembra, eu não disse que mataria você. Apenas
mutilaria você horrivelmente, — Mira disse, encolhendo os
ombros, mas ela parecia sentir que não queria pressioná-los.
Então ela caminhou em minha direção e me deu um abraço que
parecia que ia quebrar meus ossos, prometendo voltar em breve,
em seguida, seguindo Vissi para fora.
E eu, bem, fui ao supermercado com Dulles, que enfiou
duas barras de chocolate gigante no carrinho, então voltei para o
apartamento para preparar o jantar.
Desta vez, para nós dois.
CAPÍTULO ONZE

Isabella

Os aromas picantes de molho vermelho, alho, cebola e


pimentão encheram a cozinha quando Primo chegou por volta
das seis e meia da noite.
— Acho que tomei a decisão certa, — disse ele como forma
de saudação quando olhou para ver que eu havia colocado a mesa
da sala de jantar para dois pela primeira vez.
Obriguei-me a fazer uma pausa, a respirar fundo, tentando
não me irritar com suas palavras. Porque, afinal, não era escolha
dele me dizer quem eu poderia ver ou não. Mas estava tentando
agir a longo prazo aqui.
Minha língua estava pegajosa quando olhei para ele, segurei
seu olhar e forcei as palavras que pareciam tão erradas dizer. —
Obrigada por me deixar ver Mira, — eu disse, não tendo certeza
se meu tom saiu tão agudo quanto parecia aos meus próprios
ouvidos.
No que provavelmente foi uma boa jogada para manter a
paz, Primo não me disse de nada. Em vez disso, ele deu de
ombros e me lançou um sorriso malicioso. — Ela estava, ah,
determinada.
— Vissi ainda estava intacto após a descida do elevador? —
Eu perguntei. — Ele a chamou de “Raio de Sol” quando voltou
para buscá-la.
— Não consigo imaginar que tenha corrido bem, — disse
ele, indo para ilha da cozinha, me observando com aqueles olhos
escuros e ilegíveis dele.
— Não foi, — eu disse, balançando minha cabeça.
— Por que Mira não está na Família? — Primo perguntou,
contornando a ilha para pegar uma xícara de café enquanto eu
brincava com o pão de alho.
— Eu não acho que era, você sabe, uma opção.
— Porque ela é mulher, — concluiu Primo, encostando-se
no balcão, observando-me enquanto eu ia até o fogão para mexer
o macarrão.
— Sim. Quer dizer, acho. Lorenzo Costa não está no poder
há muito tempo. E antes dele, seu pai era, você sabe...
— Um desperdício de carne? — Primo respondeu, fazendo
minhas sobrancelhas franzirem.
— Se você o odiava tanto, por que resistiu tanto a Lorenzo
assumir o controle?
— Minha resistência não era contra o próprio homem, mas
suas políticas que claramente favoreciam as famílias Costa,
Morelli e D'Onofrio enquanto deixava os Espositos e Lombardis
com os piores acordos.
— Por que você não poderia simplesmente explicar isso? —
Eu perguntei.
— Eu expliquei. Muitas vezes. Com detalhe. Mas Lorenzo é
um idiota teimoso. Deve ser um traço Costa, — acrescentou, com
os olhos brilhantes.
— Certo. Porque você é tão flexível, — eu respondi, revirando
meus olhos.
— Não é algo pelo qual sou conhecido, não, — ele
concordou. — Mas estou trabalhando nisso, — acrescentou,
olhando para mim.
— Poderei ver Mira novamente? — Eu perguntei, olhando
para ele, sem perceber o quão perto ele estava enquanto mexia o
molho.
Aquela sensação estranha e quente se espalhando pelo meu
corpo, tinha que ser das panelas fumegantes. Era a única coisa
que fazia sentido.
— Isso depende, — disse Primo, a voz baixa e suave.
— Sobre? — Eu perguntei.
Por que diabos eu parecia tão sem fôlego?
— Ela emprestou a você algum tipo de dispositivo para me
matar? — Ele perguntou, os lábios se contraindo.
— Não seja bobo, — eu disse, pegando a faca gigante que
estava usando para cortar os vegetais e fingindo limpar o lado
com a ponta do dedo. — Tenho certeza de que, se eu quisesse
uma arma para usar contra você, não precisaria de ajuda para
encontrá-la.
E isso?
Isso fez algo que parecia quase impossível.
Isso arrancou uma risada baixa e profunda dele.
— Você percebeu que acabou de ameaçar um chefe, certo?
— Ele perguntou, colocando sua xícara de café na mesa.
— O que você vai fazer? Mandar-me para o oceano com
sapatos de cimento? — Eu perguntei, sorrindo para ele.
— Cuidado com esse atrevimento, Cordeirinho, — ele disse,
a voz ficando áspera.
Por que aquele som enviou um arrepio por dentro de mim?
— Cordeirinho, — eu zombei, mesmo que uma pequena
parte minha apreciasse o apelido. Uma vida inteira de “querida”
me fez desfrutar de qualquer coisa com um pouco mais de
originalidade. Mesmo se ele tivesse dito isso de uma maneira
terrível.
— Você pode zombar o quanto quiser, Isabella, — disse ele,
inclinando-se um pouco mais perto. — Mas você é horrível em
dissimular. Você gosta quando te chamo assim.
— Você é ridículo, — declarei, mas me certifiquei de que
meu foco estivesse na comida e não nele.
— Tente dizer isso de novo, — ele exigiu, agarrando meu
pulso, tirando a colher, logo pousando-a e estendendo a outra
mão para forçar meu queixo para cima e olhar para ele. — Na
minha cara desta vez, — acrescentou ele, a voz pouco mais do
que um sussurro sombrio.
Meu queixo se ergueu um pouco mais alto.
— Você é ridículo, — eu disse a ele, mantendo contato visual
mesmo quando algo em seu olhar me dizia que eu deveria desviar
o olhar.
— Você sabe que existem chefes neste mundo que nunca
diriam algo assim para mim.
— Talvez você devesse ter se casado com um deles, — eu
disse, observando enquanto ele tentava impedir que seu lábio se
contraísse com essas palavras.
Eu tive certeza por um momento de tirar o fôlego que ele iria
me beijar.
Mas então, tão repentinamente quanto ele me agarrou, ele
me soltou.
— O que você está fazendo? — Ele perguntou, gesticulando
ao redor.
— Salsicha, pimentão e cebola no macarrão com pão de alho
e uma salada.
— Está tudo pronto? — Ele perguntou, me fazendo
gesticular em direção aos meus três pontos de preparação ativas.
— Me coloque para trabalhar, então, — ele exigiu, tirando as
abotoaduras e arregaçando as mangas.
Eu o coloquei na salada para que eu pudesse me concentrar
na minha tarefa. Foi uma coisa simples. Mas meu olhar
continuou deslizando para ele enquanto ele cortava alface,
radicchio, tomate, cebola, pimentão Pepperoncini e azeitonas. Eu
disse a mim mesma que era para ter certeza de que ele não estava
bagunçando nada. Mas mal percebi o que ele estava colocando
na tigela porque meu olhar estava focado quase exclusivamente
nas mãos e antebraços do homem, observando a forma como
seus músculos e tendões flexionavam.
Eu não pensei, absolutamente não pensei, sobre como
aquelas mãos e braços ficariam quando eles estivessem fazendo
outro movimento muito distinto entre minhas coxas.
Argh.
O que diabos havia de errado comigo?
— Querida? — Primo chamou, fazendo meu olhar se
levantar.
— Hah?
— Chamei você três vezes, — Primo me disse, os lábios um
pouco curvados para cima.
— Oh, desculpe. Estava, ah, preocupada com seus dedos,
— eu disse a ele, tentando fazer com que soasse um pouco
convincente.
— Como assim?
— Você sabe... porque você corta tão rápido, — eu menti.
— Tem certeza de que estava se preocupando com meus
dedos e não pensando em meus dedos dentro da sua boceta de
novo? — Ele perguntou, fazendo minha boceta apertar com força
com a lembrança.
— Por que... por que eu iria querer pensar sobre isso? — Eu
perguntei, virando-me para o fogão quando disse isso para que
ele não pudesse ver o que eu estava pensando.
Só depois de despejar a massa no escorredor é que percebi
que ele abandonou seu posto de fazer sua salada e cruzou o
espaço para vir atrás de mim.
— Porque, Cordeirinho, — disse ele, pressionando a frente
nas minhas costas enquanto suas mãos agarraram o balcão de
cada lado do meu corpo, prendendo-me, — você pode ter atuado
bem depois, mas eu sei que você ficou pensando em mim fazendo
você gozar todos os dias desde então.
— Não, eu... — comecei, mas perdi minha frase quando
Primo se inclinou ainda mais, seu rosto no meu pescoço, seu
hálito quente na minha pele.
— Não? — Ele perguntou, e podia sentir seus lábios em mim
enquanto falava.
Dessa vez, o arrepio não foi apenas dentro.
Todo o meu corpo tremia.
O que fez uma daquelas risadas baixas e sexy percorrer
Primo novamente.
— Primo, tenho que terminar o jantar, — eu disse a ele,
ouvindo a falta de ar em minha própria voz, sabendo que não
havia como ele perder isso.
— Foda-se o jantar, — disse ele enquanto sua mão deslizava
para fora do balcão e na parte inferior do meu estômago.
Em um movimento, ele abriu o zíper da minha calça e
colocou a mão dentro, seus dedos acariciando minha boceta.
— Já molhada para mim, hm, querida? — Ele perguntou, a
voz um som suave que tomou conta de mim, me deixando
impotente, mas me inclinei para trás nele quando seu polegar
encontrou meu clitóris. — Bom, hm? — Sua voz retumbou
quando minha cabeça caiu para trás em seu peito e um gemido
baixo e gutural me escapou. — Mais? — Ele perguntou enquanto
dois de seus dedos deslizaram para baixo para encontrar a
entrada do meu corpo.
— Sim, — eu gemi enquanto meus quadris balançavam
contra seu toque, exigindo mais.
E assim, seus dedos deslizaram dentro de mim quando um
pequeno som de rosnado vibrou no peito de Primo enquanto
minhas paredes apertavam em torno dele, puxando-o para
dentro.
Seus dedos eram lentos e suaves no início, me provocando,
me deixando louca, sugerindo satisfação, mas deixando claro que
ele iria demorar.
— Aposto que você está pensando no meu pau em...
Eu mal estava ciente do som do bipe. Uma parte minha
estava tão perdida que pensei que provavelmente fosse a salsicha
no forno. Nesse caso, eu estava disposta a deixá-los ficar dentro
e secar se eu conseguisse alívio da necessidade crescente do
orgasmo crescendo dentro de mim.
Mas eu soube no momento em que senti Primo enrijecer e
deslizar os dedos não apenas para fora da minha boceta, mas
também da minha calça como um todo, que não era o forno.
O que deixava... o elevador.
— Lamento dizer isso a você, Izzy, mas eles não tinham
sobremesa... oh, ei, Primo, — disse Dulles, parecendo surpreso
ao ver seu irmão ali. — Estou interrompendo algo? — Ele
perguntou, fazendo Primo se afastar.
— Não, estava dizendo à minha esposa que ela deveria
guardar um pouco da água do macarrão para colocar dentro do
molho, — disse Primo, fazendo-me enrijecer quando me virei, sem
saber se minhas bochechas estavam vermelhas, mas imaginando
que Dulles culparia a raiva ou o calor da cozinha, se estivessem.
— E já ia falar para ele que já coloquei a água do macarrão
no molho. Honestamente, — murmurei para mim mesma, um
pouco irritada, embora soubesse que Primo estava apenas
tentando encobrir, — como se eu não fizesse molho desde que
estava no ensino fundamental, — disse, movendo o macarrão
coado na panela. — Pensar que preciso de conselhos sobre
culinária, — eu resmunguei, enxugando as gotas de água da
peneira do balcão.
— A padaria não tinha Bolo de Amêndoa com Pera, — disse
Dulles, parecendo desconfortável, pensando que estava
interrompendo a tensão entre seu irmão e eu. — Mas, em vez
disso, comprei Bolo de Ricota de Limão com Amêndoas. Achei que
era melhor do que nada, — ele acrescentou, encolhendo os
ombros. — Cheira bem aqui, — ele me disse, fazendo meus lábios
se curvarem.
Porque se havia uma coisa que eu sabia sobre os homens
italianos era que estavam sempre com fome.
— Você quer ficar para o jantar, Dulles? — Eu perguntei,
observando a sobrancelha de Primo levantar. Como se ele não
estivesse feliz por eu não o ter consultado. Mas em todas as
famílias que conheci, as esposas nunca perguntaram aos
maridos se eles poderiam convidar um membro da família
faminto para dividir a mesa para o jantar. Isso foi exatamente o
faziam. Ofereciam comida. Era nossa maneira de demonstrar
amor.
— Eu não comi, — admitiu Dulles.
— Então está resolvido. Você vai ficar. Seu irmão vai colocar
um lugar para você, — acrescentei, observando enquanto os
lábios de Primo se contraíam.
— Oh, eu vou, vou? — Ele perguntou.
— Você vai, — eu disse, balançando a cabeça, arrancando
uma risada dele.
E então este homem, um chefe da máfia, levantou e colocou
um lugar à mesa para seu irmão.
Eu ainda estava meio eufórica, misturado com todos os
elogios que recebi pelo meu jantar, quando Dulles finalmente
saiu.
— Venha se preparar para dormir, — Primo exigiu enquanto
eu lavava o que parecia ser a quinquagésima panela do jantar.
Mas suas palavras, e a insinuação por trás delas, fizeram minha
barriga estremecer de antecipação.
— Não posso ir para a cama com a pia cheia, — admiti. —
Não vou conseguir dormir, — respondi.
— Tudo bem, — disse Primo, encolhendo os ombros e
subindo em direção ao quarto.
Subi 20 minutos depois, indo ao banheiro para encontrá-lo
já parado lá, fazendo a barba.
Parecia estranho passar pela minha rotina noturna no
mesmo banheiro que outra pessoa. Mesmo quando eu tinha
vivido parcialmente com homens no passado, nós sempre nos
revezávamos no banheiro. Provavelmente porque os banheiros de
Nova York geralmente eram minúsculos, suficiente para uma
pessoa se mover, quanto mais duas.
Mas com um banheiro quase tão grande quanto minha
antiga sala de estar, imaginei que não havia razão para perder
tempo quando poderia ter começado o cuidado da pele.
Eu estava na segunda etapa, meu soro de vitamina C,
quando ouvimos.
Uma colisão.
Vidros quebrando.
Abaixo de nós, em algum lugar, mas era impossível dizer a
que distância, se era em nosso apartamento ou em um dos
andares inferiores onde ocorria a operação de trabalho de Primo.
Meu olhar disparou para Primo, cujo maxilar ficou rígido
quando ele imediatamente deixou cair a navalha, pegando sua
arma que tinha pendurado no coldre junto com sua jaqueta em
um gancho atrás da porta.
— Aqui, — disse ele, agarrando-o e voltando para mim.
— Não. Você precisa disso, — eu disse, balançando minha
cabeça.
Eu não poderia dizer que me sentia superconfortável com
armas. Claro, estive com elas durante toda a minha vida, mas
sempre fui muito grata por nunca ter precisado usar uma.
— Isabella, você precisa pegar a arma. Vá para o armário. E
se entrar alguém que não seja eu, você atira, entendeu? — Ele
perguntou, a voz firme, autoritária.
— Eu…
— Você sabe como usar?
— S-sim, — eu disse, balançando a cabeça um pouco
freneticamente, a adrenalina fazendo minhas entranhas
tremerem.
— Bom. Entra no armário. Use-a se precisar. E, querida, se
alguém passar por mim, você atirar, ok?
— Ok, — eu concordei.
— Armário, — ele exigiu, a voz um pouco mais suave do que
o normal, vendo meu pânico. — Agora, Cordeiro, — acrescentou
ele, o tom mais firme. Porque ele sabia que precisava chegar lá,
tinha que ver o que estava acontecendo.
— Tudo bem, — concordei, entrando no armário com as
pernas dormentes, ouvindo-o já fechando a porta do banheiro,
depois vasculhando o quarto, provavelmente pegando outra
arma, já que me deu a sua.
Era o que eu provavelmente deveria ter feito, entrar para o
meu lado do armário e sentar entre as coisas que me pertenciam.
Não.
Por razões que realmente não entendi, entrei no armário de
Primo, caminhando ao longo das fileiras de ternos e subindo no
pequeno espaço entre seu armário de sapatos e a parede, as
longas pernas de sua calça caindo na minha frente como uma
cortina.
Cheirava a ele, como a colônia picante e sabonete líquido
que ele usava. Eu me encontrei respirando fundo, respirando-o,
de alguma forma descobrindo que o cheiro aliviou as batidas
frenéticas do batimento cardíaco no meu peito.
O tempo passa mais lento quando você estava com medo.
Era uma das piadas cruéis da natureza, eu acho.
Isso prolongou o suspense e a incerteza, dando ao seu corpo
a chance de realmente ficar agitado.
E o meu estava.
Veja, eu vivi uma vida relativamente segura, considerando
minha conexão com a Família Costa.
Claro, houve problemas com outras organizações ou mesmo
em guerra às vezes. Mas as mulheres e crianças sempre
estiveram relativamente isoladas de tudo. Especialmente quando
nos mudamos para viver nossas próprias vidas.
De repente, eu estava me chutando por ter passado a última
semana irritada e distante, quando na verdade deveria ter
passado tentando saber mais sobre a Família Esposito, agora que
fazia parte dela.
Meu irmão e meus primos sempre consideraram os
Espositos e Lombardi alguns dos mais voláteis das Cinco
Famílias. Se houvesse surtos de violência, as chances eram de
que envolvesse mais uma das duas Famílias do que as outras
três.
E em vez de saber quais podem ser essas ameaças, com que
frequência elas podem ocorrer e quais eram os riscos para mim
agora que era casada com o chefe, eu estava fazendo compras,
me lamentando e evitando meu marido.
Inteligente.
Realmente inteligente.
E agora pode muito bem haver uma ameaça séria, e eu
estava sentada em um armário como se fosse qualquer tipo de
proteção contra um invasor empenhado em ferir a Família
Esposito. Talvez até me usando para fazer isso.
Quer dizer, claro, eu tinha uma arma.
E estava apavorada o suficiente para usá-la.
Mas mesmo se a usasse, mesmo se eu matasse um cara que
apareceu para me machucar, quais eram as chances de escapar?
Quer dizer, como Primo disse, se alguém aparecesse além
dele, eu precisava atirar para sair. Bem, se eles passaram por
Primo, isso significava que ele estava morto ou capturado. Assim
como seus guardas. Então, mesmo que matasse o único cara que
veio me procurar, haveria outros.
Um gemido baixo me escapou.
Eu me odiava por isso, mas também não conseguia me
conter.
Veja, eu fiquei com medo quando fui raptada, quando mãos
me agarraram da rua e me empurraram em uma van para algum
destino desconhecido. Eu estava com medo da perspectiva de
estar casada com um homem como Primo.
Mas esses medos empalideceram em comparação com o
medo que estava dominando meu corpo enquanto eu me sentava
neste armário com minha mente enlouquecendo.
Se algo acontecesse com Primo e seus rapazes, mesmo que
eu conseguisse fugir dos intrusos, ficaria sozinha em um bairro
do qual nada sabia, sem amigos ou família por perto, sem telefone
celular e sem dinheiro ou cartões, já que os irmãos de Primo
costumavam carregá-los até que, segundo eles, um novo chegaria
com meu nome pelo correio.
Quer dizer, claro, eu poderia tentar encontrar alguém para
me ajudar. Mas eu não tinha muita fé nessa ideia, visto que este
bairro testemunhou meu sequestro inicial e não fez nada para
impedi-lo.
E, sim, o método testado e comprovado é correr para a
delegacia. Mas eu não tinha ideia de onde era. Eu tinha uma vaga
memória de passar por ele enquanto fazia comprar com Dawson
e Dulles, mas não conseguia refazer as ruas em minha cabeça.
Se sobrevivesse a isso, exigiria um mapa e os caras me
mostrariam a área até que eu pudesse memorizar alguns lugares
importantes.
Coloquei a arma no chão bem ao meu lado, secando as
palmas das mãos suadas na minha camisa antes de pegá-la
novamente.
Parecia que estava demorando muito para investigar um
pequeno barulho de algo quebrando.
Mas então, ouvi um som horrível.
Tiros.
O pop-pop-pop constante seguido por um silêncio
assustador.
E então, alguns momentos depois, passos.
Subindo as escadas.
Meu estômago se contorceu em um nó doloroso enquanto
minha respiração parecia tremer no meu peito enquanto eu
puxava minhas pernas cada vez mais apertadas no meu peito,
com medo de ser vista.
Se fosse Primo, ele estaria me chamando, certo? Então, não
atiraria acidentalmente nele quando ele entrasse?
Merda.
Merda, merda, merda.
Os passos subiram as escadas correndo, depois se moveram
pelo quarto.
Eu tinha certeza que meu corpo inteiro estava tremendo
violentamente naquele ponto antes de ouvir o abrir e o fechar de
armários.
Armários?
Eles estavam procurando por algo?
O que diabos Primo guardaria nos armários do banheiro?
Bem, eu acho, era um lugar que a maioria das pessoas não
procuraria, certo? Como um quarto de criança. Ou nos
suprimentos para animais de estimação. Ninguém armazena
objetos de valor lá.
Exceto, talvez Primo guardava. E talvez ele tenha algum tipo
infiltrado na organização, e outra pessoa descobriu sobre isso.
Se eles estavam no banheiro, entretanto, significava que
Primo estava morto ou inconsciente.
E íamos seguir em frente e fingir que pensar nisso não fez
meu estômago torcer dolorosamente, forte o suficiente para que
minha mão livre se movesse até lá, pressionando contra minha
barriga como se eu pudesse esfregar a dor.
Eu não tive tempo para analisar naquele momento. Se algo
aconteceu com Primo e seus irmãos e seus homens, isso estava
fora de minhas mãos.
O que estava em minhas mãos, porém, era minha própria
vida.
E eu faria o que fosse necessário para sair dessa situação.
Se isso significasse usar o nome Costa para amedrontar os
inimigos de Primo ou se significasse atirar para escapar.
Custe o que custar.
Eu já passei por merdas suficientes além da minha vontade.
Preferia mudar meu nome a suportar mais alguma coisa.
Decisão tomada, eu me levantei devagar, silenciosamente, e
segui pelo chão do armário.
Tomando um fôlego lento e profundo que queimou meu
peito, levantei o braço, apontei a arma e entrei na porta do
banheiro.
Para encontrar o maldito Primo parado lá, abrindo a
torneira.
Meu olhar deslizou para aquelas mãos, observando
enquanto o sangue juntava e caia delas e ia para o ralo, diluindo-
se em um rosa antes de escorregar pelo ralo.
Minha cabeça se levantou novamente.
Ele deve ter visto um movimento no espelho, ou
simplesmente me sentido lá, porque sua cabeça se voltou para
mim, olhos escuros, intensos.
— Boa garota, cordeirinho, — disse ele, balançando a
cabeça. — Faça o que tiver que fazer, — acrescentou ele, olhando
para as mãos enquanto esfregava o sangue.
— Você ia apenas me deixar sentada naquele armário com
o estômago embrulhado, pensando que seria estuprada e
assassinada enquanto você lavava as mãos? — Eu perguntei,
baixando a arma para o meu lado, percebendo que de alguma
forma estava tremendo mais forte do que no armário quando
estava com medo pela minha vida.
Primo ignorou isso ao deixar a água aberta, mas levou as
mãos à camisa, abrindo os botões.
Senti um espasmo involuntário de antecipação antes que
ele tirasse a camisa, jogando-a para o lado, e percebi o que era
mais urgente do que me dizer que estava segura.
O buraco aberto em seu lado.
— Oh, meu Deus, — eu engasguei, momentaneamente
congelada enquanto olhava para o buraco de bala em seu quadril
logo acima do cós de sua calça. — OhmeuDeus, — eu murmurei,
meu olhar disparando para seu rosto, encontrando seu olhar em
mim.
— Está bem, Cordeiro. Vá em frente e vá para a cama.
— Está bem? — Eu disse, acenando com a mão em direção
ao seu corpo. — Um buraco em seu corpo está bem? Você precisa
ir para o hospital.
— Hospitais significam perguntas. O que não posso
responder agora.
— Por que não? Alguém tentou invadir sua casa.
— Minha casa, Isabella, onde embalamos carne com drogas
e os enviamos para todo o país. Cometemos crimes federais, —
ele me lembrou.
— Mas... mas... vocês não têm, eu não sei, médicos? — Eu
perguntei, abaixando a arma, me sentindo um pouco enjoada
quando meu olhar deslizou para o ferimento novamente. — Ou
como veterinários ou algo que você chantageia para ajudá-lo?
— Você assistiu a muitos filmes de mafiosos, querida, —
disse ele, balançando a cabeça.
— Como você está tão calmo agora? Você tem um buraco no
corpo, Primo.
— Não é a primeira vez que levou um tiro, — ele me disse,
encolhendo os ombros como se a experiência anterior com dor
significasse que ele não poderia estar com dor atualmente.
— Ainda dói, — insisti.
— Preocupado comigo, Cordeiro? — Ele perguntou com um
sorriso diabólico brincando em seus lábios.
— Mais preocupado do que você estava comigo, —
resmunguei para mim mesma, esquecendo-me de que Primo
tinha a audição de um cachorro.
— Eu levei uma bala protegendo você esta noite, Isabella, —
ele me disse, em voz baixa.
— Você levou uma bala para se proteger, sua família e seu
império das drogas, — respondi, erguendo o queixo.
Eu acho que qualquer controle que ele tinha sobre si mesmo
para ficar tão calmo estourou naquele momento, porque ele
invadiu o espaço entre nós, sem prestar atenção ao buraco em
seu torso que devia o estar matando, vindo direto para mim, e
agarrando minha nuca com força, puxando-me quase contra ele.
— Não se engane, — ele grunhiu em uma voz que não tinha
o direito de ser sexy quando estava claramente nervoso comigo,
mas não havia como negar também, — Eu protejo o que é meu.
— Eu não sou sua poss...
Não consegui terminar essa frase.
Porque de repente eu me encontrei puxada firmemente
contra ele enquanto seus lábios colidiam com os meus. Duro,
parecendo uma punição. Seus lábios machucaram os meus
enquanto seus dedos esmagavam meu crânio.
E o que eu fiz?
Eu coloquei minhas mãos entre nós, empurrei seu peito, ou
mesmo dei um golpe baixo e apertei seu ferimento para fazê-lo
me soltar?
Não.
Não, eu não fiz isso.
Meu corpo estúpido e traidor cantou com o contato.
Um maldito estremecimento passou por mim ao sentir
minhas curvas suaves esmagando contra suas linhas firmes.
Eu soltei um gemido, um som que fez a mão de Primo
amolecer na minha nuca, as pontas dos dedos massageando os
hematomas que ele sem dúvida deixou com o contato áspero.
Seus lábios se suavizaram um pouco também, mas apenas
um pouco, passando de punitivos a apaixonados quando ele
inclinou minha cabeça para trás, lábios inclinados sobre os meus
novamente até que todo o meu corpo inundou de desejo, vibrou
com a necessidade de mais.
Os dentes de Primo beliscaram meu lábio inferior, puxando,
exigindo entrada. Sem escolha, eu concedi a ele, e sua língua
deslizou para dentro para reivindicar a minha.
Reivindicada.
Foi exatamente assim que me senti naquele momento.
Como se cada pedaço do meu desejo, como cada centímetro
do meu corpo, pertencesse a ele.
Meu braço levantou, uma mão subindo por seu antebraço,
braço e ombro antes de deslizar para trás de seu pescoço,
segurando enquanto seus lábios se inclinavam sobre os meus e
sua mão deixou a minha nuca, deslizando pela minha espinha,
em seguida, afundando na minha bunda, suas mãos firmes e
possessivas, enviando uma onda de desejo entre minhas coxas.
Gemi outra vez quando minhas costas arquearam,
pressionando meus seios com mais firmeza contra ele, um
movimento que teve um grunhido rasgando o peito de Primo
quando ele nos virou e me levou para trás até que minhas pernas
bateram no balcão do banheiro.
Suas mãos gananciosas percorreram meu estômago,
agarrando meus seios através da minha camisa. Sentindo os
cumes dos meus seios endurecendo com seu toque, ele os rolou
entre o polegar e o indicador até que eu estava choramingando e
arqueando em suas mãos.
Em um grunhido impaciente, suas mãos me deixaram,
descendo para minha calça e calcinha, e puxando-a para baixo
em minhas pernas.
Eu nem vou fingir que hesitei em sair delas.
Seus lábios se separaram dos meus por tempo suficiente
para ele se inclinar, agarrando a parte de trás dos meus joelhos
e me levantando, deixando minha bunda cair no balcão frio do
banheiro.
Eu mal consegui me ajustar à nova posição antes de sua
mão deslizar entre minhas coxas, passando pela minha boceta,
tocando meu clitóris com a quantidade certa de pressão.
Sem nem mesmo estar ciente de dizer para fazer isso, minha
mão livre se moveu para baixo no centro de seu peito e abdômen,
sentindo os músculos se contraírem com o contato enquanto eu
abria um caminho para baixo.
Meus dedos impacientemente trabalharam seu botão e zíper
antes de deslizar para dentro, correndo minha palma sobre seu
pau duro esticando contra o tecido de sua cueca boxer.
Um ruído estrondoso atravessou o peito de Primo com o
contato, fazendo seus dedos abandonarem meu clitóris e
empurrarem dentro de mim novamente.
Minha boca se separou da dele em um gemido baixo quando
me inclinei para trás, colocando meus braços no balcão atrás de
mim, inclinando-me para olhar para ele.
Seus olhos escuros estavam aquecidos, derretidos e com as
pálpebras pesadas de seu próprio desejo.
Dentro de mim, seus dedos engancharam e acariciaram
contra minha parede superior, envolvendo meu ponto G com
precisão de especialista.
Ao som do meu gemido necessitado, um fantasma de um
sorriso puxou os cantos de sua boca. Ele me deu um pequeno
aceno encorajador quando minha mão começou a se mover em
direção ao cós de sua cueca boxer. Hesitei por um segundo e pude
observar enquanto um músculo impaciente pulsava em seu
maxilar. Incentivada por sua falta de controle, minha mão
deslizou para dentro para fechar em torno de seu pau aveludado
e duro.
Um arrepio me percorreu quando minha mão não se fechou
completamente em torno dele, percebendo o quão perfeitamente
ele me preencheria.
— Pensando em mim em sua boceta apertada, Cordeiro? —
Primo perguntou, sua voz um som suave que infiltrou pelas
minhas terminações nervosas, fazendo outro tremor involuntário
me atravessar. — Assim? — Ele perguntou, empurrando para
dentro e para fora. Lentamente no início, então cada vez mais
rápido enquanto minhas paredes se apertavam em torno de seus
dedos. — Diga-me, — ele exigiu enquanto seus dedos começaram
a se torcer dentro de mim enquanto ele continuava a empurrar.
Meu dedo deslizou sobre a cabeça de seu pau, sentindo a
umidade ali.
— Sim, — eu choraminguei, respirando lenta e
profundamente enquanto ele me levava mais e mais perto dessa
borda.
— Não, Isabella, — ele retumbou, sua mão girando para que
sua palma pressionasse contra meu clitóris enquanto ele
continuava a me foder com os dedos. — Diga-me, — ele exigiu.
Quando olhei para ele com olhos incertos, sua cabeça se inclinou
para o lado, me observando enquanto outro dedo deslizava dentro
de mim, me enchendo um pouco mais. — Diga-me que você quer
que eu foda sua boceta apertada, — ele exigiu enquanto movia
seus dedos em círculos dentro de mim.
— Eu... eu quero que você me foda, — eu disse a ele. Não
havia como negar. Haveria tempo para pensar no que isso
significava, quais seriam as repercussões disso, em outro
momento. Nesse momento, eu precisava dele dentro de mim com
o mesmo tipo de urgência que precisava da minha próxima
respiração.
— Boa garota, — ele murmurou, agarrando meu queixo com
os dedos, puxando minha cabeça para cima enquanto sua cabeça
abaixava, seus lábios selando os meus novamente enquanto ele
começava a empurrar novamente.
Minha mão se moveu para cima e para baixo em seu pau,
querendo que ele estivesse tão excitado como eu.
Não demorou muito para que ele deixasse de me beijar
enquanto sua mão empurrava a minha para longe dele.
Sua mão foi para lá enquanto ele retirou seus dedos da
minha boceta. Ele levantou minha coxa para cima enquanto se
aproximava mais perto de mim.
Ele passou seu pau para cima e para baixo na minha boceta
várias vezes, batendo a cabeça contra o meu clitóris latejante, me
fazendo gemer de desejo.
O som parecia ser sua ruína.
Seu pau se deslizou e entrou na minha boceta, um impulso
forte e profundo, me enchendo completamente, me esticando com
apenas uma pontada de desconforto.
— Merda, — Primo gemeu, seus dedos apertando o meu
quadril enquanto ele congelou dentro de mim, enterrado
incrivelmente fundo.
Ele estava procurando algum tipo de controle.
Mas, naquele momento, eu não queria que ele tivesse isso.
Eu o queria tão desesperado pelo orgasmo quanto eu.
Meus quadris começaram a se mover em círculos
impacientes, tornando-me agudamente ciente de cada polegada
grossa dele.
Primo afastou sua cabeça para trás, me observando com
aqueles olhos de pálpebras pesadas. Eu tive que observar
enquanto seus olhos fechavam um pouco cada vez que meus
quadris rolavam e minhas paredes apertavam em torno dele.
— Primo, por favor, — eu choraminguei, precisando que ele
se movesse, para liberar o desejo dolorido do meu interior. — Por
favor, — eu implorei novamente.
Isso pareceu chegar até ele.
Porque ele passou de completamente parado a me foder no
espaço de uma única respiração.
Não havia nada lento ou doce nisso.
Ele me fodeu.
Forte.
Rápido.
Profundo.
Tomando cada centímetro de mim com cada impulso.
Meus braços subiram, envolvendo em torno de seus
ombros, segurando enquanto ele me fodia cada vez mais forte, os
sons dos meus gemidos, seus gemidos e maldições, e nossos
corpos batendo juntos encheram meus ouvidos.
— Não pare, — gritei, sentindo-me empurrada diretamente
para essa borda e morrendo de vontade de ser empurrada, de
livre arbítrio para o orgasmo. — Por favor, não pare, — implorei
enquanto meu rosto pressionava em seu peito.
— Goze para mim, Cordeiro, — ele exigiu, a voz firme. —
Goze, — ele pediu, bem quando minhas paredes começaram a ter
espasmos, bem quando o prazer tomou conta do meu corpo.
Eu tinha certeza de que era o nome dele que gritei sem parar
quando as primeiras ondas me atingiram, a intensidade da qual
eu nem sabia que existia antes.
— Porra, Isabella, — Primo gemeu, empurrando através do
meu orgasmo, prolongando, fazendo-o durar, antes de finalmente
bater fundo, todo o seu corpo estremecendo forte quando ele
gozou.
Eu não poderia dizer por quanto tempo eu agarrei a ele
enquanto os tremores inesperados sacudiam meu corpo, mas no
momento meu cérebro parecia voltar a funcionar.
Tudo parecia vir para mim de uma vez.
Eu tive sexo com Primo. O que com certeza teria um impacto
em nossa dinâmica. Eu não poderia alegar que não o queria mais.
Eu não poderia continuar jogando esse casamento forçado na
cara dele se eu claramente gostei de estar com ele.
Em segundo lugar, eu simplesmente o deixaria me foder
sem qualquer proteção. Sem proteção. Sempre fui extremamente
cuidadosa com coisas assim. Tomava minha pílula. Usava
camisinha. Sempre. Eu literalmente nunca deixei alguém ter esse
nível de intimidade comigo antes. Isso não foi apenas um grande
problema para mim, mas eu também, você sabe, fui arrancada
da minha vida. O que significava que eu não tinha meus
comprimidos.
Oh, Deus.
Oh, Deus.
Mas, mesmo quando esses pensamentos estavam cruzando
minha mente, outro também passou.
Primo foi baleado.
Ele foi baleado e eu podia sentir o sangue quente e pegajoso
de seu ferimento descendo pelo meu lado.
Minhas mãos pressionaram em seu peito e o empurraram
para trás.
— Você está sangrando, — eu disse a ele, sentindo-me um
pouco exausta e confusa e um pouco, bem, horrorizada.
— E você está pingando do meu sêmen, — disse ele, fazendo
todo o meu corpo estremecer com suas palavras.
— Você é um idiota, — rebati, empurrando-o um passo para
trás para que eu pudesse escorregar para fora do balcão.
— Sim, mas é você que quer me foder, — ele concordou
enquanto eu caminhava como um pinguim em direção ao
chuveiro. Felizmente, Primo estava ocupado colocando seu pau
de volta em sua cueca boxer e calças, então ele não estava
olhando.
Alcançando o box, eu liguei o chuveiro em toda velocidade
antes de arrancar minha camisa e me mover para dentro.
Olhando para baixo, pude ver seu sangue espalhar-se por todo o
meu estômago, quadril e coxa. Parecia uma cena de crime
horrível.
Eu fui direto esfregar o sangue com o sabonete até que todos
os vestígios dele tivessem saído de mim antes mesmo de deixar
meu olhar deslizar de volta para o resto do banheiro.
E lá estava Primo, curvado para a frente, olhando para seu
ferimento. Uma das mãos foi colocada por cima, esticando a pele,
enquanto a outra se estendeu para uma longa pinça e começou
a cavar dentro da ferida.
Meu estômago embrulhou com a imagem, me fazendo
afastar o meu olhar.
Mas mesmo com o meu olhar desviado, a imagem
permaneceu em minha mente, me fazendo precisar respirar lenta
e profundamente, tentando lutar contra a bile que subiu pela
minha garganta.
Estava vagamente ciente, um momento depois, de um leve
tinir, como a bala caindo na pia.
O que só conseguiu fazer outra onda de náusea passar pelo
meu corpo.
Porém, nem mesmo um momento depois, a porta do
chuveiro estava abrindo e eu estava muito ciente de Primo
entrando no espaço. É certo que não era um banho normal;
provavelmente oito pessoas poderiam entrar ali
confortavelmente. Mas eu juro que parecia que ele estava
sugando todo o ar assim que ele entrou.
Ou talvez fosse só porque eu estava começando a me sentir
um pouco tonta de toda a coisa de tirar uma bala para fora do
próprio corpo.
— É o sangue? — Primo perguntou um momento depois,
tom curioso. Para minha surpresa, não parecia haver nem um
sinal de zombaria, embora eu tivesse quase certeza de que todo
o meu rosto estava verde naquele momento.
Engolindo em seco, eu disse a ele: — É a... a pinça... e o...
argh, — resmunguei, pressionando a mão na boca, praticamente
sentindo o gosto da bile.
— Vá, — disse Primo, tom surpreendentemente suave, pelo
menos para ele. — Vá para a cama, — acrescentou.
— Você tem um buraco na barriga.
— Vou mandar Vissi costurar, — Primo me disse.
— Oh, Deus, — eu resmunguei, nem mesmo me
preocupando em desligar o chuveiro sob o qual estava enquanto
corria para fora do compartimento.
Peguei uma toalha e entrei em meu armário por um
momento, tentando me recompor. Assim que tive certeza de que
poderia me mover sem vomitar, vesti um pijama e corri para
passar pelo banheiro para me jogar debaixo das cobertas.
Normalmente, essa seria a minha chance de pensar demais
em fazer sexo com Primo, mas não demorou muito para ouvir
Vissi subir e entrar no banheiro. Onde eu sabia que ele iria
colocar uma agulha e linha na pele de Primo sem você sabe,
agentes anestésicos ou qualquer coisa.
Pensar nisso me manteve ocupado com minha náusea até
que, eventualmente, desmaiei de todos os acontecimentos do dia.
CAPÍTULO DOZE

Primo

Meu lado doía pra caralho.


Apenas um idiota decidia foder sua esposa enquanto ele
tinha uma bala cravada em seu corpo e um buraco que sangrava
ao redor dela.
Dito isso, valeu a pena.
Porra, valeu a pena.
E, olha, a dor me ajudou a ficar focado quando cada fibra
do meu ser queria penetrá-la profundamente e gozar dentro de
minutos após sentir suas paredes apertadas agarrando meu pau.
Eu não esperava que tudo se desenrolasse quando subi as
escadas para lidar com a bala enfiada na minha lateral. Não foi a
primeira vez e provavelmente não seria a última, então tirar uma
bala não era o grande problema que poderia ter sido para a
maioria das pessoas.
Mas então ela saiu daquele armário, apavorada, mas pronta
para lutar para sair de uma situação ruim, se necessário, e eu
nunca estive realmente mais certo sobre minha escolha como
estava naquele momento.
Até alguns minutos depois, é claro, quando ela estava
implorando para eu transar com ela, quando ela estava me
levando para dentro dela, quando ela estava ordenhando meu
orgasmo junto com o dela.
Eu a fodi sem preservativo.
Eu nunca fiz essa merda.
Nunca.
Primeiro, porque você nunca quis pegar nada. Em segundo
lugar, eu não queria bebês não intencionais. Se fosse ter um,
queria que fosse certo. Com minha esposa.
E, acho, foi por isso que não parei para encontrar um
preservativo.
Porque Isabella era minha esposa, mesmo que ela não
tivesse ficado exatamente emocionada com esse fato.
E, porra, eu achava que sexo era bom antes, mas poder
gozar dentro da minha mulher? Sim, isso era outro nível. Era
uma sensação tão intensa que sempre que passava pela minha
mente depois, eu me sentia começando a ficar duro de novo.
Então eu tive que parar de deixar minha mente ir por aí.
Porque havia trabalho a ser feito.
Como costurar a porra da ferida, o que era tão desagradável
quanto parecia. E então tive que voltar aos meus homens para
uma reunião.
Eu não era um idiota.
Não foi apenas um idiota do bairro que ficou bravo e tentou
me roubar. Francamente, ninguém era tão estúpido por aqui.
O problema era que eu estava agindo por instinto protetor,
sabendo que Isabella estava sentada no armário apavorada, em
vez de usar minha cabeça, e me certificando de que o filho da
puta continuasse vivo para eu obter respostas.
Eu quase cortei a cabeça de seu corpo com a faca que peguei
junto com minha arma. Se não fosse pelos meus irmãos,
provavelmente o teria feito.
Eu não tentaria alegar que era o mais temperamental dos
homens, mas também não era tipicamente alguém que agia com
acessos de violência descontrolada. Para mim, a violência era
uma tática e precisava ser usada, mas com cuidado e sabedoria
para alcançar o resultado que eu queria.
Mas esta foi a segunda vez que fiquei furioso e agi como um
lunático.
E, tinha que ser dito, ambas as vezes foram por causa de
Isabella.
Quando o filho da puta a tocou no restaurante.
E quando alguém ameaçou sua segurança em sua própria
casa.
Eu não poderia dizer com certeza de onde veio essa resposta
esmagadora. Não era como se eu estivesse totalmente apaixonado
por aquela mulher. Nem mesmo acreditava nessa besteira. Mas
ela era minha. E ninguém tocava, ameaçava ou feria o que era
meu.
— Ela vai ficar chateada, — Dulles me disse na manhã
seguinte. Nenhum de nós tinha realmente dormido. Ficamos
acordados até tarde verificando as câmeras de segurança e
tentando descobrir quem era o idiota que tentou entrar no prédio.
Então, é claro, eu tive que ligar para todos os meus homens
individualmente para dizer a eles que a merda estava
acontecendo novamente. E assim que a cidade começou a
acordar, tive que descer e bater um papo com algumas pessoas
do bairro.
O problema era que todos nós chegamos a um beco sem
saída após outro.
Não estávamos mais perto de descobrir quem era o bastardo
ou para quem ele trabalhava já que eu o matei.
Então, precisava bolar um novo plano para garantir que
Isabella ficasse segura enquanto resolvíamos tudo.
Dulles estava certo; ela ia ficar chateada.
— Ela geralmente não dorme até tão tarde, — acrescentou
Dawson, franzindo a testa.
— Primo disse que ela ficou enjoada depois que o viu tirar a
bala de si mesmo, — disse Terzo, encolhendo os ombros.
Eu nunca tinha realmente visto alguém parecer verde antes,
mas ela com certeza estava naquele chuveiro quando eu entrei.
— Sim, disse que não era o sangue, apenas a coisa toda de
retirar a bala, — eu disse, indo fazer uma xícara de café para ela
quando finalmente a ouvi subindo as escadas. Achei que talvez
um pequeno gesto gentil pudesse suavizar o golpe do que eu tinha
a dizer a ela.
Ela desceu alguns minutos depois com o cabelo preso no
topo da cabeça e com o rosto fresco, mas vestida com jeans
skinny azul e um suéter grosso vermelho.
E foda-se se ela não era tão bonita como era em seu vestido
de noiva. Ou quando ela tomava tempo para se arrumar toda.
— Oh, ei, — disse ela, parecendo surpresa ao ver meus
irmãos e Vissi andando por aí ao mesmo tempo. — Vocês
acordaram cedo ou estou atrasada? — Ela perguntou, aceitando
o café, mas tomando cuidado para não deixar nossos dedos
roçarem ou nossos olhares se encontrarem.
— Você está atrasada, — disse Terzo, sempre mal-
humorado. — Precisamos nos mover, — acrescentou ele, olhando
para mim. — Acabar com isso, — ele exigiu, fazendo seu caminho
em direção à porta.
Ninguém falava comigo assim. Nem mesmo Terzo. Mas eu
iria em frente e culparia o fato de ele não ter dormido. E como
eram apenas nossos irmãos e Vissi, que era praticamente um
irmão, por perto, não precisei me preocupar com o que as pessoas
pensavam disso. Todos nós tínhamos permissão para ter um dia
de merda aqui e ali.
— Acabar com o quê? — Isabella perguntou, mas estava
olhando para Dawson e Dulles enquanto o fazia.
Oh, isso realmente não iria correr bem se ela já tivesse
decidido que não estava feliz comigo.
Ah, bem.
Tinha que ser feito.
Gostasse ou não.
— Dar algumas notícias que você não vai gostar, — disse
Dulles, levantando-se e batendo em Dawson no peito. Os dois
começaram a caminhar em direção à porta.
— Covardes, — Vissi murmurou baixinho, lançando-me um
sorriso malicioso.
— De que notícias não vou gostar? — Isabella perguntou,
enrijecendo.
— Não sabemos quem tentou entrar aqui ontem à noite, —
eu disse. — Bem, sabemos quem o fez, mas não sabemos quem
o enviou.
— Oh, ok, — disse ela, franzindo a testa. — É isso? — Ela
perguntou, sentindo que não era só isso.
— Não, não é isso, — eu disse, colocando minha caneca
sobre o balcão, internamente me preparando para a raiva dela.
— Até descobrirmos quem foi e neutralizar a ameaça, você ficará
confinada no loft.
— Eu... o quê? — Ela retrucou, olhos cintilando em fogo em
um piscar.
— Você me ouviu, — eu disse, balançando a cabeça. — Não
é seguro.
— Não é seguro, — ela repetiu. Eu posso não saber tudo
sobre a raiva de uma mulher, mas eu sabia que quando elas
começavam a repetir tudo o que você disse com total homicídio
em seus olhos, aquela merda estava prestes a atingir o ventilador.
— Você tem permissão para sair? — Ela perguntou,
erguendo o queixo.
— Ah, merda. OK. Eu só vou... — Vissi disse, apontando
para a porta, em seguida, correndo naquela direção.
— Claro que posso sair.
— Claro que você pode sair, — Isabella repetiu, erguendo
sua caneca e tomando um gole lento. — E por que isso, Primo?
— Porque tenho negócios a conduzir.
— Certo. E eu sou apenas a dona de casa cativa, certo?
Idiota do caralho, — ela retrucou, batendo sua caneca na ilha
com força suficiente para que eu ficasse surpreso que ela não se
quebrou. — Você não pode me manter prisioneira aqui, — disse
ela, acenando pelo loft.
— Dificilmente é uma cela de prisão do terceiro mundo,
Cordeiro.
— Essa não é a questão! — Ela retrucou.
— Qual é o ponto então?
— Que estou presa aqui, porra, — disse ela, envolvendo os
braços em volta de si mesma. — Neste lugar que não conheço,
perto dessas pessoas que não conheço, não tenho permissão para
ver ou falar com meus entes queridos quando eu quiser. E agora
você está me dizendo que vai restringir meu mundo ainda mais?
— É para sua própria segurança.
— Ainda assim, você consegue andar por aí com um alvo
na cabeça, — ela retrucou, acenando em direção às janelas.
— Eu vou sair e descobrir quem é, para que eu possa lidar
com eles e seu mundo possa se expandir novamente.
— Mas até então, eu sou sua pequena cativa, certo? Não
posso ir a lugar nenhum. Não consigo me afastar de você.
— Parece que me lembro de você gostar de estar perto de
mim, — eu disse, observando como seus olhos se arregalaram
antes de desviar o olhar. — Na verdade, — comecei dando passos
em direção a ela, sabendo que ela era muito teimosa para recuar,
— Eu acho que você gosta de mim tão perto que esteja dentro de
você, — eu a lembrei, vendo como sua respiração ficou rápida e
superficial. Ela podia fingir o quanto quisesse que não gostava de
mim, que não me queria, mas seu corpo a traía todas as vezes.
— Não, — ela disse em um sussurro sufocado.
— Não? — Eu repeti. — Então aquela não foi a sua boceta
molhada apertando meu pau na noite passada? — Eu perguntei.
— Aquela não foi você me implorando para te foder? — Eu
continuei — Aquelas não eram suas coxas, onde meu sêmen
estava escorrendo?
Ela lutou por um momento, lutando contra o desejo que
crescia em seu corpo. No final, porém, sua indignação por não
poder deixar o apartamento venceu, e sua cabeça ergueu-se, seus
olhos atirando punhais em mim.
— Eu espero que você tenha gostado. Porque isso nunca vai
acontecer de novo, — ela me disse, girando nos calcanhares e
fugindo.
Eu queria dizer a ela que com certeza aconteceria de novo.
E frequentemente. Em diferentes locais. De diferentes ângulos.
Eu iria conhecer cada centímetro de seu corpo, iria encontrar
todos os seus pequenos pontos quentes, então eu poderia usá-
los para torturá-la com sua necessidade de liberação.
Mas só iria irritá-la mais dizer isso.
Eu poderia deixá-la sofrer de raiva por um tempo.
Eu imaginei que ela estaria mais excitada ainda se ela
estivesse com raiva de mim.
Afinal eu comprovaria mim mesmo.
Mas primeiro, eu tinha que descobrir quem veio por minha
Família esta semana.
Em seguida, mostrar a eles exatamente por que todos os
rumores sobre eu ser um monstro implacável eram verdadeiros.
CAPÍTULO TREZE

Isabella

— Que piada, — resmunguei, observando enquanto Primo


subia os degraus da igreja do outro lado da rua, entrando para o
culto de domingo como um bom seguidor da Bíblia.
Estávamos no sexto dia de não ter permissão para sair do
apartamento.
Eu nunca entendi verdadeiramente o conceito de
“claustrofobia” antes. Mas estava me familiarizando intimamente
com ele.
Veja, nunca estive verdadeiramente em casa por mais do
que talvez dois dias consecutivos, exceto que uma vez eu tive
gripe e minha febre estava tão alta que estava delirando, então
eu nem percebi a passagem de tempo.
A vida tornava impossível não sair de casa.
Na minha antiga vida, tive que trabalhar. Eu tinha coisas
para fazer. Tinha uma família exigente que queria me ver com
frequência.
Mas não precisava mais trabalhar. As compras foram
entregues pelos irmãos de Primo. E eu não tinha permissão para
ver minha família.
Portanto, não havia motivo para eu deixar o prédio.
Exceto, é claro, o fato de que eu estava ficando
absolutamente louca.
Isso parecia dramático. Quero dizer, seis dias em casa sem
nenhuma responsabilidade não era o sonho da maioria das
pessoas? E aqui estava eu, irritada com isso. Mas a diferença é
que esta não foi uma escolha que eu fiz. Foi algo que me foi
forçado por causa de alguma ideia ridícula que Primo colocou em
sua cabeça sobre eu não estar segura, mesmo que eu nunca fosse
a lugar nenhum sem seus irmãos como guarda-costas.
Enquanto isso, ele despreocupado foi à igreja com o resto
da vizinhança, colocando a máscara de “um dos mocinhos”
enquanto ele mantinha a esposa que havia adquirido à força
trancada no prédio do outro lado da rua.
Sim, ele era um príncipe de verdade.
Felizmente para mim, ele esteve ocupado na semana
passada. Fazendo o quê, eu não tinha ideia. Mas isso não
importa. Tudo o que importava era que ele não estava por perto
me importunando, dizendo coisas que ele não tinha que dizer ao
meu corpo que não tinha exatamente recebido o memorando de
que eu decidi voltar a odiá-lo.
Ah, e para aumentar a coluna de coisas boas, no dia em que
ele me disse que agora eu era uma prisioneira em uma prisão
chique, eu também menstruei. Eu acho que o sexo violento
adiantou. E graças a Deus, porque eu acordei ainda doente do
estômago naquela manhã e tudo que eu podia ouvir era a voz da
minha mãe na minha cabeça quando ela disse que sabia na
manhã seguinte que ela estava grávida de cada um de nós porque
ela ficou nauseada imediatamente nas manhãs.
Mas, sim, essa foi uma crise evitada e acabada. Embora
uma parte minha estivesse se perguntando se talvez não teria
sido bom realmente estar grávida daquela sessão de banheiro,
porque então estaria tudo acabado. Primo teria seu herdeiro. E
eu nunca teria que deixá-lo me tocar novamente.
Além disso, eu seria mãe. Que era algo que eu sempre quis.
Mesmo se eu tivesse que dividir o bebê com Primo.
Pelo menos daria um pouco de propósito à minha vida,
agora que eu não tinha emprego nem família para preencher
meus dias.
Ah, bem.
Era uma oportunidade perdida, de qualquer maneira.
A menstruação tinha vindo, então não havia nenhum bebê
no meu futuro imediato.
O que significava que eu teria que dormir com Primo
novamente no futuro.
Meu corpo estúpido vibrou com a ideia, me fazendo soltar
um gemido enquanto batia minha testa contra a parede ao lado
das janelas para a rua.
Não só estava ficando louca no apartamento, mas também
me sentia como um animal selvagem no cio. Eu sempre achei que
tinha um desejo sexual comum. Mas, de repente, eu literalmente
não conseguia pensar em mais nada.
Tentei me convencer de que era porque não tinha mais nada
acontecendo. Eu não conseguia me enganar completamente, no
entanto. E a dura verdade era que, apesar do que eu sentia por
ele em um nível pessoal, meu corpo estúpido ansiava por Primo.
Especialmente agora que eu tive uma amostra do que ele tinha a
oferecer sexualmente.
— Aham, — uma voz disse, me fazendo estremecer e me
virar.
Porque não era um dos irmãos de Primo.
Não.
Era uma voz feminina.
— Desculpe, não tive a intenção de assustar você, — disse
ela, dando-me um sorriso tenso quando observei a mulher em pé
na sala de estar.
Ela era bonita. Alta, esguia, com cabelos loiros e olhos
azuis, vestindo uma camisa de botões de manga comprida e uma
saia.
— Eu sou Cassidy, — disse, como se isso significasse algo
para mim. Ao meu olhar vazio, ela acrescentou: — A governanta.
Oh.
OK.
Sim, eu sabia que ela aparecia de vez em quando. Mas, no
passado, sempre parecia acontecer quando eu estava com os
irmãos de Primo.
Agora que eu estava presa por sabe-se lá quanto tempo,
acho que toparia com ela de vez em quando. O que parecia muito
estranho. Quem queria ficar parada enquanto outra pessoa
limpava a casa?
— Oh, certo, — eu disse, balançando a cabeça, começando
a sorrir antes que alguns outros pensamentos começassem a se
formar.
Tipo, que tipo de governanta vinha trabalhar de saia?
O tipo que queria foder seu marido, é claro.
Eu já sabia pelo próprio Primo que essa mulher, Cassidy, o
chupava sempre que ele queria um orgasmo. Claramente, porém,
ela queria que fosse mais do que apenas um tempo de joelhos.
Ele era um homem casado.
Não importava que fosse uma farsa de casamento. Não
importava que eu não fosse uma participante voluntária disso. O
que importava era um fato inegável que Primo era meu marido.
E esta cadela ainda pensava que ela colocaria qualquer parte de
seu corpo no dele.
Não gosto de pensar nas mulheres em termos depreciativos.
E na grande maioria das vezes, se o seu homem traía, a
mulher com quem ele traiu provavelmente não tinha ideia de que
você existia. Então você não podia nem ficar com raiva dela.
De vez em quando, porém, havia um caso em que a mulher
sabia. E simplesmente não importava. Não tinha respeito
suficiente para não colocar as mãos em alguém que pertencia a
outra pessoa.
E isso era, bem, uma merda.
Porque ninguém merecia ser traído.
Nem mesmo eu com meu casamento de merda.
— Bem, — eu disse, acenando enquanto pegava minha
xícara de café, — não me deixe atrapalhar. Ah, e os armários
poderiam ser limpos e esfregados.
Meu tom foi definido com bastante firmeza no nível Rainha
do Gelo? Sim. Sim, absolutamente. A julgar pela centelha de raiva
que vi em seus lindos olhos azuis, ela não estava feliz por eu estar
lá. Ou sobre eu fazer exigências a ela. Na minha própria casa.
Onde ela deveria estar trabalhando. E não de joelhos ou de
costas.
Antes que pudesse ficar mais irritada, subi as escadas para
me vestir. Uma parte minha se perguntava por que diabos eu me
preocupava em tirar meu pijama, muito menos colocar
maquiagem e, especialmente, sapatos de salto nos pés. Não
parecia que eu seria capaz de ir a qualquer lugar por um longo
tempo. Talvez fosse bobagem, mas dedicar um tempo para me
arrumar dava aos meus dias pelo menos um pouco de estrutura.
Se me vestisse para o dia, teria que me despir depois, tirar a
maquiagem, colocar um pijama novo. Seria muito fácil cair em
depressão se não colocasse um pouco de esforço.
Fui em frente e admiti para mim mesma que tinha escolhido
um vestido de vermelho vinho apertado que caia um pouco no
corpete, mesmo que a saia estivesse pelo meio das minhas
panturrilhas simplesmente porque eu queria ficar bem na frente
da mulher que estava bem em ser uma destruidora de lares.
Eu também coloquei os caros brincos de ouro que comprei
com dinheiro de Primo. Eu borrifei meu perfume e até coloquei
saltos.
Quando terminei, pude ouvir a voz de Primo no andar de
baixo.
Estendendo a mão, baguncei meu cabelo, dei mais uma
olhada em minha roupa, então saí do quarto, e desci as escadas.
Do patamar superior, pude ver Primo sentado no sofá da
sala. E apesar de todos os utensílios de cozinha estarem
espalhados por toda a ilha na cozinha, sugerindo que ela não
tinha acabado com os armários, onde estava Cassidy?
Inclinando-se para frente sobre a mesa de centro, limpando o pó.
Que, da última vez que eu tirei o pó, não exigiu tanto sacudidela
quanto ela estava fazendo.
Tentei dizer a mim mesmo que não era ciúme ou a
possessividade que estava dominando meu corpo naquele
momento, mas sim a justa indignação por ser desrespeitada em
minha própria casa.
Eu tive que aturar um monte de merda de Primo.
Mas estaria condenada se tolerasse isso de outra pessoa.
O olhar de Primo se ergueu com o som dos meus saltos nos
degraus. Mesmo do outro lado da sala, eu podia ver, inferno, eu
podia sentir seu olhar se movendo sobre mim, um olhar lento e
completo que só voltou ao meu rosto quando cheguei ao patamar
inferior.
Foi então que Cassidy foi em frente e se endireitou para não
tentar tão descaradamente atrair meu marido bem na minha
frente.
— Oh, você está em casa, — eu disse, forçando um sorriso
falso enquanto caminhava até a sala de estar, observando como
as sobrancelhas de Primo franziram em confusão, já que eu não
tinha feito nada além de resmungar e colocar uma carranca para
ele desde que ele me contou sobre minha nova sentença de
prisão. — Estou tão desapontada por não poder ir, mas entendo
que você está tentando me manter segura, — eu disse,
caminhando direto para ele e caindo sentada em seu colo.
— Que porra é essa? — Primo sussurrou, mas seu braço
imediatamente passou ao meu redor, envolvendo em volta das
minhas costas com sua mão estabelecendo-se na parte muito
baixa do meu estômago enquanto eu inclinei meu lado em seu
peito.
— Você sentiu minha falta? — Eu perguntei, em um tom
totalmente sedutor enquanto corria meus dedos para cima e para
baixo em sua gravata enquanto eu realmente agitava meus cílios
para ele.
Eu não vou mentir. Tive mais prazer do que provavelmente
deveria com a confusão no rosto de Primo. O que posso dizer?
Tinha que obter minha diversão em algum lugar. E chocar um
chefe da máfia foi surpreendentemente divertido.
Olhei por cima do ombro de Primo como se estivesse
percebendo a bagunça na cozinha pela primeira vez, então
descansei minha cabeça no ombro de Primo enquanto olhava
para Cassidy.
— Houve algum problema com os armários, Candy? — Eu
perguntei, deliberadamente trocando o nome dela. Porque
garotas como ela odiavam ser esquecidas.
— Oh, ah, não. Eu estava deixando-os secar, — ela afirmou,
parecendo desconfortável. — Mas, ah, eles devem estar secos
agora, — disse ela, virando-se e saindo correndo.
Foi aí que Primo pareceu registrar o que estava
acontecendo.
Um sorriso divertido apareceu em seus lábios.
— Com ciúmes, querida? — Ele perguntou, a sobrancelha
erguendo-se.
— Eu pensei que tínhamos resolvido isso, — eu disse a ele,
o tom gelado novamente. — É melhor não ter sobre o que ter
ciúmes. Ou você não terá que se preocupar com ameaças
externas à sua vida, — eu disse a ele enquanto me sentava, mas
não saí de seu colo porque eu realmente queria mostrar para
Cassidy que Primo era meu e só meu, mesmo se eu não o quisesse
assim. Ou, mais precisamente, não quisesse querê-lo assim.
— Dei minha palavra sobre isso, — ele me disse, a voz firme.
— E ainda assim eu saio e ela está sacudindo os seios para
você, — eu disse, levantando o queixo.
— Eu acho que gosto de possessividade em você,
Cordeirinho, — ele disse, os olhos brilhantes.
— Eu não sou possessiva com você, — zombei. — Não gosto
que ninguém pense que pode me desrespeitar assim em minha
própria casa.
Na cozinha, Cassidy estava dando voltas enquanto colocava
todas as panelas e frigideiras de volta antes que eu pudesse ouvi-
la indo para a pia para, imagino, colocar a máquina de lavar
louça.
— Não pensei assim, — Primo admitiu, balançando a
cabeça. — Ela vai embora amanhã.
Uma parte minha queria insistir que ele não precisava fazer
isso. Eu não gostei exatamente da ideia de ser a razão pela qual
alguém perdeu um emprego que provavelmente estava contando.
Mas, novamente, você também não deve manter um emprego se
estiver sendo inadequado.
Então eu fui em frente e decidi aceitar.
— Bom, — eu disse, balançando a cabeça. — O que você
está fazendo? — Eu perguntei quando os dedos de Primo
começaram a deslizar pela saia do meu vestido até minhas
panturrilhas.
— Está toda arrumada para mim, hein? — Ele perguntou, e
eu tentei fingir que minha barriga não estava vibrando quando
senti suas pontas dos dedos traçando a lateral do meu joelho,
então minha coxa, enquanto ele continuava a mover o tecido para
cima.
— Absolutamente não, — eu disse, esperando que minha
voz não soasse tão sem fôlego quanto eu me sentia.
— Não há ninguém mais aqui para ver você, — ele me disse,
a voz um som baixo e suave que eu juro que senti como se tivesse
passado por mim mesmo quando seus dedos roçaram minha
coxa.
Eu deveria ter dito a ele para parar.
Mas essas palavras se recusaram a passar do meu cérebro
para os meus lábios.
— Eu me visto para mim mesma, não para você, — eu
insisti, tentando segurar um pequeno fragmento de orgulho
enquanto minhas malditas coxas traidoras se abriam um pouco
por seus dedos exploradores.
— Oh, isso mesmo, — disse ele, os olhos quentes. — Você
tira a roupa para mim, — disse ele.
E eu teria feito objeções, levantando, me afastado dele por
causa disso.
Mas no segundo que ele disse isso, seus dedos estavam
pressionando contra minha calcinha.
De repente, nem mesmo meu orgulho importava mais
quando seu polegar procurou e encontrou o meu clitóris através
do material quase imperceptível e começou a trabalhar em
círculos lentos e experientes.
— Você... — eu comecei respirando fundo com a sensação.
— Eu o quê?
— Não pode, — eu engasguei.
— Parece que posso, Cordeirinho, — ele disse, pressionando
um pouco mais firme. — E parece que você gosta, — acrescentou
ele, os lábios perto do meu ouvido. — Sua boceta já está molhada
para mim, e eu mal toquei em você, — ele continuou.
Eu queria negar.
Mas era verdade.
Fosse lógico ou não, meu corpo estava dolorido por seu
toque, latejava com a necessidade de liberação. E seus dedos nem
haviam deslizado sob minha calcinha ainda.
Mesmo enquanto eu pensava nisso, sua mão se moveu sob
o material. Um suspiro suave escapou de mim quando ele traçou
entre meus lábios, circulando ao redor, mas se recusando a tocar
meu clitóris.
Seu olhar estava fixo em mim o tempo todo, escuro e
penetrante, com as pálpebras pesadas com seu próprio desejo
crescente.
— Shh, — ele murmurou quando enfiou dois dedos de
repente dentro de mim e um gemido sufocado me escapou.
Sua outra mão subiu, pressionando minha cabeça em seu
ombro e me segurando com força contra ele para que meus lábios
estivessem em seu pescoço, abafando os sons quando seus dedos
começaram a me foder.
— Faz uma semana que não consigo parar de pensar nessa
boceta, — ele me disse enquanto meus quadris começaram a
balançar contra suas estocadas. — Tenho acordado todas as
manhãs sofrendo pra caralho para estar dentro de você de novo,
— ele continuou.
Não eram palavras de amor.
Nem de perto.
Mas meu maldito coração ainda conseguiu começar a vibrar
no meu peito com elas.
— Você está sentindo falta do meu pau também. — Não foi
uma pergunta. E uma parte minha queria se opor, mas eu sabia
que não sairia nem metade da verdade, já que eu sabia que ele
estava certo. — Você geme meu nome quando está dormindo, —
acrescentou ele, fazendo meu rosto, pescoço e peito ficarem
corados com a ideia. — Precisei de mais autocontrole do que eu
pensei que teria para não te pressionar de costas e acordá-la com
o pau que você estava implorando, — ele acrescentou,
empurrando um pouco mais rápido com os dedos.
Sentindo seu pau pressionando contra mim, eu afastei
minhas pernas para que minha mão pudesse deslizar para baixo
e massagear a cabeça dele através de suas calças.
A respiração ofegante de Primo foi todo o incentivo que eu
precisava enquanto minha mão se movia, liberando seu botão e
zíper, em seguida, alcançando o interior para envolver seu pau,
encontrando-o pesado e se esforçando para ter mais contato.
E, naquele momento, eu não me importava em manter os
fingimentos, em não o deixar saber como estava desesperada por
ele, apesar do meu melhor julgamento.
Então eu o acariciei no ritmo em que seus dedos estavam
me fodendo.
— Eu preciso te foder, — Primo grunhiu enquanto seus
dedos se torciam dentro de mim, acariciando minha parede
superior, a sensação fazendo todo o meu corpo estremecer.
— Não podemos, — eu disse, ainda vagamente ciente de
Cassidy carregando a máquina de lavar louça não muito longe de
nós.
Eu deveria ter ficado horrorizada com a ideia de ser vista
fazendo algo tão íntimo com alguém. Mas uma pequena parte
mesquinha minha quase queria que ela olhasse, queria que ela
visse Primo me fodendo com o dedo, me vendo acariciando-o,
vendo todas as coisas que ela nunca teria a experiência com ele.
— O caralho que não podemos, — Primo respondeu, a voz
firme enquanto meu polegar traçava a cabeça de seu pênis.
— Não até que ela... — comecei a dizer, interrompendo em
um gemido abafado quando seus dedos começaram a bater
contra o meu ponto G.
— Cassidy, termine e vá embora, — Primo falou, e eu tinha
certeza que ele podia sentir o sorriso nos lábios que eu pressionei
em seu pescoço. Minha palma apertou em torno de seu pau,
mesmo enquanto minhas paredes apertavam em torno de seus
dedos, algo que fez um grunhido sair dele. — Na verdade, saia
agora, — ele disse, com tom de desprezo.
Houve uma batida furiosa na cozinha, junto com uma
quantidade considerável de bufos e resmungos em voz baixa
antes de ouvi-la caminhando em direção à porta, em seguida,
batendo com força.
No segundo em que ela se foi, Primo estava puxando seus
dedos da minha boceta, então me agarrando com as duas mãos,
me ajustando em seu colo antes de puxar a saia do meu vestido
e arrancar minha calcinha em um movimento impaciente e
primitivo que tinha minha barriga vibrando.
— Monte-me, — ele exigiu, agarrando seu pau e esfregando-
o rudemente para cima e para baixo entre meus lábios, batendo
contra meu clitóris, em seguida, segurando-o na entrada do meu
corpo. — Porra, monte-me, Isabella, — ele grunhiu, empurrando
para cima enquanto me afundava nele, perdida demais para me
preocupar com as consequências, apenas precisando senti-lo me
preenchendo, me esticando.
Um gemido baixo e longo me escapou quando meus quadris
caíram em seu colo, levando um momento para senti-lo.
Com um grunhido impaciente, as mãos de Primo se
moveram, agarrando o decote já baixo do meu vestido e puxando-
o para baixo, em seguida, puxando-o para baixo em meus braços
para uma boa avaliação, deixando-me apenas vestida na cintura.
Suas mãos foram atrás das minhas costas, soltando os fechos do
meu sutiã, em seguida, tirando-o e jogando-o impacientemente
no chão.
Ele respirou lenta e profundamente, o que fez seu peito
tremer quando seu olhar pousou no meu seio, que de alguma
forma parecia cada vez mais pesado sob sua inspeção.
Eu esperava que suas mãos se estendessem, para apertar e
provocar.
Mas seu braço se fechou em volta das minhas costas,
segurando meu peso enquanto ele me inclinava para trás para
que pudesse se inclinar e chupar um dos meus mamilos em sua
boca.
Eu gemi de surpresa enquanto arqueava em seus lábios que
estavam chupando forte por um momento antes de seus dentes
começarem a mordiscar.
Sua mão livre se moveu para cima, fechando sobre meu
outro seio, traçando meu mamilo, em seguida, rolando-o entre o
polegar e o indicador.
Impaciente, precisando de alívio da dor cortante entre
minhas coxas, meus quadris começaram a mover contra ele. Foi
um movimento pequeno, quase imperceptível, mas seu pau
estava posicionado corretamente para acariciar minha parede
superior, envolvendo meu ponto G enquanto meus quadris se
moviam contra ele.
Um gemido percorreu Primo, vibrando contra meu mamilo
antes que ele o soltasse, passando meu peito para continuar o
tormento.
— Primo, — gemi enquanto a frustração com a falta de
movimento crescia a cada segundo. — Primo, por favor, — eu
disse, as mãos agarrando seus ombros, empurrando até que ele
se sentasse contra as almofadas. — Eu preciso... — eu comecei.
— Isto? — Ele perguntou, começando a empurrar seus
quadris para cima em mim.
Rápido.
Deus, tão rápido.
— Sim, isso, — eu gemi, rolando meus quadris em círculos
enquanto ele continuava a me foder, me levando para o penhasco
mais rápido do que parecia possível. — Eu vou... — Comecei, a
voz travando em um gemido.
— Goze, — ele exigiu. — Goze para mim, — ele continuou.
— Eu preciso sentir você apertar meu pau.
Seus quadris empurraram.
Os meus rolaram.
E eu simplesmente explodi em pedaços, um gemido
interrompido pelo fato de que de repente parecia impossível
respirar enquanto as ondas batiam em meu corpo de novo e de
novo, prolongando-se enquanto Primo continuava empurrando.
— Você é gostosa pra caralho, — Primo rosnou enquanto eu
caí para frente nele, agarrando-me a ele enquanto os últimos
espasmos duros me atravessavam. — Eu não terminei,
Cordeirinho, — disse ele, a voz soando algo como um aviso
enquanto suas mãos me agarraram e me jogaram no sofá.
Ele agarrou meus tornozelos, puxando minhas pernas para
cima para descansar contra seu peito, prendendo-as contra ele
com seu antebraço enquanto ele se movia dentro de mim
novamente.
Com forca.
Foi assim que ele me fodeu.
Nem rápido e frenético.
Com força e controlado, tomando cada centímetro de mim
com cada impulso poderoso.
Sua mão livre se moveu para baixo, pressionando com força
na parte inferior da minha barriga, fazendo-me senti-lo ainda
mais intensamente dentro de mim enquanto me fodia.
— Você vai gozar de novo por mim? — Ele perguntou, a voz
áspera.
— Eu... não posso... — afirmei, mesmo sentindo a
necessidade crescendo novamente.
— Você pode. Você vai, — ele acrescentou enquanto sua
mão deixou minha barriga para pressionar entre minhas coxas,
envolvendo meu clitóris enquanto ele continuava me fodendo.
Ele provou que eu estava errada.
Não só poderia, mas poderia com força, e muito, muito
rápido.
Eu deveria necessitar de mais tempo de recuperação.
Sempre precisei no passado. Mas Primo estava provando que eu
estava errada sobre muitas coisas em que eu acreditava
anteriormente.
— Ainda não terminei, — ele me informou quando eu
finalmente voltei do segundo orgasmo de despedaçar a alma.
— Primo, por favor, — choraminguei, sentindo-me
extremamente esgotada e frágil naquele momento. — Eu não
posso... é demais, — acrescentei, tentando respirar lenta e
profundamente, tentando me recompor.
— Shh, — disse ele, estendendo a mão para mim, puxando-
me para cima enquanto ele sentava, puxando-me sobre ele, mas
com minhas costas contra seu peito, montando em suas pernas
para trás. — Pare de pensar demais, — ele exigiu enquanto
agarrava seu pau e começava a esfregá-lo contra meu clitóris, de
um lado para o outro, mais e mais. — Apenas sinta, — ele
adicionou enquanto seu pau deslizava para baixo e pressionava
dentro de mim.
Lento.
Deus, tão lento.
Senti cada centímetro dele contra minhas paredes
excessivamente sensíveis, uma sensação que era quase dor, mas
não exatamente.
O braço de Primo ancorou em torno do centro do meu peito,
segurando-me contra ele enquanto sua outra mão agarrou meu
queixo, puxando-me, virando-me apenas o suficiente para seus
lábios selarem os meus.
E não havia nada daquela possessividade dura que pensei
que era o que alguma parte primordial minha tinha se sentido
atraída nele.
Não.
Na verdade, esse beijo foi lento, profundo e prolongado.
Foi o beijo de um amante, não de alguém que você estava
apenas fodendo para gozar.
Percebendo isso, me perdendo nestas sensações, um calor
floresceu em meu peito antes de se espalhar até me envolver
como um abraço caloroso.
— Mmm, — Primo retumbou contra meus lábios enquanto
minhas paredes começaram a apertar em torno dele novamente.
Seus lábios se separaram dos meus, seus olhos ardentes. —
Diga-me a quem pertence esta boceta, — ele exigiu, a voz suave
enquanto meus quadris balançavam levemente contra ele. —
Diga-me, — ele exigiu quando a palavra não saiu porque alguma
parte minha ainda queria negar.
Mas, inferno, ele já provou isso duas vezes.
— A você, — eu disse, o som quase nem um sussurro.
— Isso mesmo, — ele concordou. — Esta é a porra da minha
boceta, — ele acrescentou enquanto se levantava, me virando, me
dobrando sobre o braço do sofá e me fodendo por trás.
Forte e rápido desta vez, e não havia nada que eu pudesse
fazer a não ser aguentar, mas sentir meu corpo sendo empurrado
para cima mais uma vez, mesmo que meu cérebro tentasse
convencê-lo de que não era possível.
Sua mão se moveu entre minhas coxas, acariciando meu
clitóris dolorido com o polegar por um longo momento antes de
se afastar.
Sua palma bateu na minha bunda de um lado enquanto a
mão que estava entre minhas coxas deslizou pela minha nádega,
seu polegar pressionando contra minha bunda, em seguida,
deslizando para dentro.
Um grunhido vibrou através dele quando gemi com a
sensação inesperada.
Sua outra mão deixou minha bunda, deslizando para o
cabelo na minha nuca, enrolando, então puxando até que eu não
tive escolha a não ser arquear minha cabeça para trás contra sua
mão para aliviar a dor em meu couro cabeludo.
— Esta bunda é minha também, — disse ele, balançando o
polegar dentro de mim. — Diga, — ele exigiu, a voz áspera
enquanto sua mão puxava meu cabelo.
— É sua também, — eu disse, certa naquele momento que
não negaria nada a ele, pois a necessidade de gozar tinha um
controle mortal sobre meu corpo.
— Não, Cordeirinho, diga. Diga que sua bunda é minha, —
ele grunhiu, empurrando mais forte e mais rápido.
— Minha bunda é sua, — eu disse a ele, perto demais do
esquecimento para dar a mínima para o que eu estava dizendo.
— Você vai me deixar te foder aqui, — ele me disse,
balançando o polegar novamente.
Não adiantava negar que eu queria.
— Sim.
Ele soltou outro grunhido daquele muito sexy.
— Boa garota, — ele elogiou, e então ele terminou de falar
enquanto se concentrava em me foder.
Com força.
Rápido.
Profundo.
Implacável.
Não dando ao meu corpo um segundo para o meu orgasmo
recuar.
— Goze, goze para mim, porra, — Primo grunhiu, a voz
tensa, ele mesmo bem próximo. — Aperte meu pau, — ele exigiu
quando o orgasmo atingiu meu corpo, me fazendo gritar seu
nome. — Porra, sim, querida, — ele grunhiu, empurrando cada
vez mais rápido. — Ordenhe meu sêmen, — ele adicionou
enquanto penetrava fundo, seu corpo sacudindo com forca
quando ele gozou. — Merda, — ele gemeu. — Oh, porra, querida,
— ele grunhiu enquanto se dobrou para frente sobre mim, seu
rosto enterrando-se no meu pescoço enquanto seu corpo se
contraía fortemente mais duas vezes antes de ficar imóvel.
Ficamos assim pelo que pareceu uma eternidade, nós dois
tentando recuperar o fôlego, e meu corpo atormentado por
tremores que tornavam impossível negar quão intenso tinha sido.
E, honestamente, durante todo esse período de
recuperação, nem um único pensamento maluco conseguiu
passar pela minha mente nebulosa.
Assim que consegui respirar adequadamente e meu corpo
parou de tremer, um pensamento muito importante me penetrou.
Eu tinha acabado de foder Primo de novo.
Sem a maldita proteção.
Que diabos havia de errado comigo?
Nas minhas costas, uma risada percorreu Primo enquanto,
eu acho, meu corpo enrijecia.
— Já está se arrependendo de mim, Cordeirinho? — Ele
perguntou, movendo-se para trás e saindo do meu corpo.
— Sempre, — afirmei, mesmo sabendo que era mentira.
Quero dizer, sim, objetivamente, transar com ele era
simplesmente estúpido em muitos níveis. E transar com ele sem
proteção era uma completa loucura. Mas meu corpo, bem, não
tinha nenhum arrependimento.
— Talvez você devesse dizer à sua boceta para parar de ser
tão gananciosa pelo meu pau, — ele disse enquanto eu erguia
meu corpete e descia a saia do meu vestido antes de me virar
para encará-lo, minhas coxas apertadas para me lembrar quão
descuidada tinha sido de novo.
— Você é tão idiota, — sussurrei. — Você pode enganar
todos os fãs da sua vizinhança fazendo-os pensar que você é o
cara bom que vai à igreja. Mas você não pode me enganar. Você
é um homem que força uma mulher ao casamento e, em seguida,
a tranca em uma gaiola dourada.
— Isso pode ser verdade, Cordeirinho, — disse ele,
fechando o zíper das calças e se aproximando de mim,
aproximando-se tanto que tive de esticar o pescoço para manter
o contato visual. — Mas é você que quer foder o diretor dela.
Com isso, e nada mais, ele saiu do apartamento.
Me deixando para me limpar e depois a bagunça que
Cassidy havia deixado.
O que era bom.
Porque eu precisava de algo para me distrair do monólogo
interno que listava todas as várias maneiras que estraguei tudo
na última hora.
Fazer Primo pensar que eu estava sendo possessiva com
ele? Sim.
Deixar ele pensar que me vesti para ele? Sim.
Deixar ele me foder de novo? Foi um sim gigante.
Sem proteção? Sim e sim novamente.
— Argh, — resmunguei, batendo minha testa no armário.
Que diabos havia de errado comigo?
Como poderia odiar tanto um homem, mas não ser capaz de
controlar meu corpo ao redor dele?
E toda vez que o deixo me foder, dou a ele mais poder.
Ele não estava tirando de mim.
Eu estava dando de boa vontade.
Como uma idiota.
Bem, isso não iria acontecer de novo, isso era certo.
CAPÍTULO CATORZE

Primo

Meu trabalho sempre trazia riscos.


Eu sabia.
Meus homens sabiam disso.
Corremos esses riscos de boa vontade. E, depois de algum
tempo, sem pensar muito. Claro, fomos cuidadosos. Tínhamos
várias etapas de segurança em vigor. Mas evitar todas as
ameaças nunca foi uma preocupação constante para mim.
Até Isabella.
Eu estava consumido, dia e noite. Foi uma sensação
dolorosa nas minhas entranhas, saber que meu mundo agora
colocava mais do que meus homens e eu em risco. Ela confiava
totalmente em mim para sua segurança.
Acho que uma parte minha tinha imaginado que, como ela
vinha de uma família da máfia, ela também teria se acostumado
com as possíveis ameaças. Mas ela estava apavorada se
escondendo no meu armário, deixando bem claro para mim que
a Família Costa passou por muito menos agitação do que a minha
sempre conheceu.
Isso a deixava ainda mais vulnerável.
Razão pela qual eu me recusei a desistir de sua chamada
“prisão”, mesmo depois de uma outra semana sem quaisquer
novas tentativas de atentados contra mim ou minha organização.
Mesmo que ela me odiasse mais por isso a cada dia que
passava.
Embora, para ser justo, ela também me odiasse porque, em
vez de tentar diminuir a situação depois de termos transado
novamente, e ela estava tendo sentimentos conflitantes sobre
isso, eu havia dobrado e tornado a situação ainda pior,
transformando o que poderia ter sido um ponto de inflexão para
nós, um passo em direção a um relacionamento real, em uma
luta e dez passos atrás para nós.
Ela voltou a me evitar, recusando-se a fazer comida para
mim, mesmo que estivesse cozinhando para si mesma, e teimava
em dormir no sofá, me fazendo carregá-la de volta para a cama
todas as noites. Enquanto ela grunhia, aranhava e exigia que a
colocasse no chão.
— Não é justo, é tudo o que estou dizendo, — Dawson
reclamou enquanto preparava uma xícara de café.
Veja, Isabella tinha deixado seu ressentimento se espalhar,
ficando irritada não só comigo, mas com todos os meus irmãos e
guardas que ela via como cúmplices de sua “prisão”.
Então ela não falava mais com eles.
E, o que estava perturbando Dawson naquele momento, ela
também não cozinharia mais para eles.
Eu realmente não me importava muito com os problemas
de Dawson, mas estava começando a ter algumas preocupações
reais sobre a forma como Isabella estava se isolando ainda mais.
Eu sabia que uma maneira infalível de melhorar seu humor
era deixar sua irmã visitá-la novamente. Mas eu também sabia
que, se deixasse Mira vir, estaria em um mundo de problemas
com os Costas quando soubessem que Isabella estava presa.
Era uma perda dupla para mim.
Portanto, embora fosse bom para minha esposa, e uma
parte cada vez maior minha estivesse constantemente
preocupada com o que tornaria a vida dela melhor, tive de me
conter.
— Ela realmente não vai sair do quarto? — Dulles
perguntou, olhando para cima em direção ao quarto principal.
Eram quase onze horas. Meus irmãos apareceram por volta
das seis, antes que Isabella tivesse a chance de descer para seu
café da manhã.
Ela devia estar morrendo de vontade. E morrendo de fome
também.
Mas ela era teimosa demais para estar de boa vontade com
os meus irmãos ou comigo.
— Realmente não, — disse eu, caminhando até a máquina
de café e fazendo uma xícara para ela.
Talvez ela me odiasse, mas o sentimento não era mútuo. E
embora eu acreditasse firmemente que estava fazendo o que era
melhor para ela, não gostei que ela estivesse tão infeliz.
As mulheres, eu imaginei, apreciavam pequenos gestos.
Mesmo quando elas estavam sendo teimosas.
Então, eu ia levar um pouco de café para ela, já que ainda
estávamos esperando a chegada de Vissi e Terzo, para que
pudéssemos discutir algumas possíveis ameaças.
— Eu já volto, — eu disse, apontando com a caneca.
Para isso, recebi acenos de cabeça enquanto subia as
escadas, surpreso quando não a encontrei na cama.
Curioso, passei pela porta aberta do banheiro.
E imediatamente congelei.
Porque lá estava ela no chuveiro, meio inclinada para a
frente, o rosto entre as mãos, soluçando.
Soluçando.
Eu não era um homem gentil.
Eu não era suave quando se tratava de emoções.
Eu nunca tinha ficado comovido com a visão das lágrimas
de uma mulher antes.
Mas algo sobre a visão dela naquele momento, chorando no
chuveiro para abafar os sons, sim, essa merda me atingiu.
Nem parei para me despir, apenas coloquei a caneca no
balcão, em seguida, fui para o box do chuveiro, agarrando sua
nuca e puxando-a contra meu peito antes que ela pudesse
registrar que eu estava lá.
Ela enrijeceu imediatamente, não querendo aceitar o
conforto de alguém que era a causa de todas as suas lágrimas,
mas eu envolvi meu outro braço em volta de suas costas,
mantendo-a pressionada por mim enquanto ela lutava um pouco
antes de apenas derreter em mim, enterrando o rosto no meu
peito e deixando escapar um soluço sufocado.
— Lamento que você esteja tão infeliz, — murmurei, o braço
apertando ao redor dela enquanto minha outra mão massageava
sua nuca. — Essa nunca foi minha intenção, — acrescentei. Ao
ouvi-la bufar, não pude deixar de sentir meus lábios se
contorcerem. Mesmo chorando em meu peito, ela mostrou que
estava irritada comigo. — Não foi. Eu tentei dar a você uma boa
vida aqui, Isabella. Existem apenas algumas situações que estão
fora do meu controle. E não posso colocar você em risco.
— Deus me livre que sua bandeirinha branca seja morta e
anule seu tratado de paz, — ela resmungou, fungando forte,
tentando se recompor.
— Não é isso.
— Claro que é isso.
— Isabella, não é, — eu insisti, minha mão se movendo da
parte de trás de seu pescoço até o queixo, puxando-o para que
ela tivesse que olhar para mim. — Você é minha esposa.
— É um casamento falso, — ela insistiu com o lábio inferior
trêmulo. Suas pálpebras estavam inchadas e o branco dos olhos
de um vermelho brilhante. Como se ela tivesse chorado por muito
tempo antes de eu a encontrar.
— Não é, — eu insisti.
— Besteira. Você não é um marido de verdade.
— Não sou um marido de verdade, — eu repeti enquanto a
pressionava contra a parede, segurando minha mão em seu
ombro, mantendo-a no lugar. — Eu não cuido de você como um
marido deveria? Não te dou uma casa, comida e qualquer coisa
que queira comprar? Eu não te protejo? — Eu perguntei, sentindo
minha raiva começar a borbulhar com o olhar desafiador em seu
rosto, sabendo que ela diria algo sarcástico, algo que iria me
irritar, então a irritaria, e iria explodir em nossos rostos.
Uma vez mais.
— Eu não satisfaço você como um marido deveria? — Eu
adicionei, minha voz ficando baixa e sugestiva, observando a
surpresa, então a onda de calor encheu seus olhos.
— Você não... — ela começou interrompendo quando de
repente eu caí de joelhos na frente dela, agarrando seu joelho,
puxando-o para cima e prendendo-o na parede enquanto minha
língua traçava sua boceta, sentindo como os músculos de suas
coxas tremeram com o contato inesperado.
Minha cabeça se inclinou para cima, olhos observando-a
enquanto minha língua se movia para traçar seu clitóris. Eu
observei enquanto ela tentava erguer aquelas paredes que ela
queria manter entre nós, mas também quando elas prontamente
caíram quando ela respirou lenta e profundamente, que terminou
em um pequeno gemido enquanto minha língua continuava
trabalhando em seu clitóris.
Sabendo que ela não iria tentar me afastar, eu abaixei
minha cabeça e foquei, lambendo e chupando seu clitóris até que
suas mãos bateram na minha cabeça, me segurando firmemente
contra ela enquanto seus quadris balançavam impacientemente.
Eu pressionei dois dedos dentro de sua boceta apertada,
quente e molhada, tentando manter o foco nela, não a sensação
de estar enterrado dentro dela mais uma vez.
Ela foi rápida. Apenas um momento depois que suas coxas
começaram a tremer e suas paredes apertaram em torno dos
meus dedos, o orgasmo estava batendo em seu corpo, deixando-
a clamando por mim.
Eu não poderia ser o cara bom e altruísta naquele momento.
Inferno, eu mal conseguia tirar meu pau da minha calça em
meu desespero para senti-la ao meu redor novamente.
Seus olhos se abriram quando um suspiro escapou dela,
surpresa e prazer lutando pelo domínio em seu rosto.
— Se você me disser que não gosta da sensação do meu pau
agora, — eu disse, empurrando meus quadris para cima nela, —
eu vou parar, — eu disse. Mesmo se isso fosse me matar, e quase
parecia que iria.
— Eu... eu... — ela começou, a respiração rápida e errática
enquanto pequenos sons suaves escapavam dela.
— Você não pode, pode? — Eu perguntei, empurrando
dentro dela um pouco mais forte. — Você ama como é isso, não
é? — Eu perguntei, minha mão indo ao redor de sua garganta,
sem cortar o ar, apenas segurando lá.
— Eu…
— Diga, — eu exigi.
— Sim, — ela disse enquanto suas unhas afundavam em
meu ombro enquanto ela segurava.
— Não, Cordeirinho, — eu disse, balançando minha cabeça.
— Diga-me que você ama meu pau em sua boceta.
Um som de choramingo escapou dela. — Eu amo seu pau
dentro de mim, — ela admitiu, como se houvesse alguma maneira
que ela pudesse negar quando seus quadris começaram a baixar
a cada uma das minhas estocadas para cima.
— Eu sei, — eu disse, balançando a cabeça. — Por que você
continua negando isso a si mesma? — Eu perguntei. — Sua
boceta dói pensando em mim, admita.
Ela estava perdida demais para sequer tentar pensar em
suas barreiras, nas cautelas, em seu orgulho.
— Sim.
— Então pare de negar a si mesma o que você realmente
quer, — eu disse enquanto minha outra mão se movia entre nós,
trabalhando seu clitóris, levando-a mais e mais rápido, sabendo
que isso não seria uma coisa para o dia todo porque minhas
barreiras estavam gritando com sua necessidade de liberação. Já
fazia muito tempo. Eu precisava muito da sensação dela. Estive
miserável sem ser capaz de tocá-la.
— Você pode ter meu pau sempre que quiser, Cordeirinho,
— eu disse. — Em sua boceta. Na sua bunda, — eu disse,
sabendo que chegaríamos lá um dia, que ela queria tanto quanto
eu. Mas terminei com um desejo mais sombrio meu, um que eu
nem tinha certeza se ela algum dia me daria. — Em sua boca, —
acrescentei, observando como uma centelha de calor cruzou seus
olhos com o pensamento, me dando esperança.
Talvez algum dia.
Se pudéssemos encontrar um meio-termo.
Se pudéssemos parar de nos tornar miseráveis.
Mas hoje não era esse dia.
E sua boceta estava esmagando meu pau, sugerindo seu
orgasmo apenas alguns segundos antes de quebrar seu corpo,
ordenhando o meu ao mesmo tempo, deixando-nos exaustos e
ofegantes depois.
— Eu disse que te agrado como um marido deveria, — eu
disse a ela depois, observando enquanto suas pálpebras pesadas
se abriam.
— Não é o suficiente, Primo, — disse ela, a voz baixa, triste
e muito mais vulnerável do que ela normalmente estava disposta
a me dar. — Não é o suficiente.
— O que seria o suficiente, Cordeirinho? O que você quer
de mim?
— Natal, — disse ela, com os olhos vidrados novamente. —
Eu quero o Natal.
— Você pode ter o Natal. Você pode ter o que quiser no
Natal.
— Quero ver minha família, — disse ela, e tudo estava
começando a fazer sentido, mesmo quando outras lágrimas
escorreram por seu rosto. — Você está roubando o Natal de mim.
Não é justo. Eu só quero um maldito dia. E você é um monstro
demais para me dar isso.
— Isabella, você nem pediu.
— Você não vai me dar isso. Você nunca me deixaria ir.
Você é tão...
— Não, — eu a cortei, balançando minha cabeça. — Não.
Não estamos tendo uma maldita discussão quando ainda estou
dentro de você, — eu disse, sentindo um pouco de prazer quando
sua boceta apertou em torno de mim com as palavras. — Você
pode ter o Natal. Um dia, — eu disse, encolhendo os ombros. —
Mas eu tenho que ir.
— O que? Não. Você odeia minha família. Minha família te
odeia.
— Eu não odeio sua família. E sua família não me conhece.
— Você não pode ir.
— É comigo ou nada, Cordeirinho. Você vai estragar seu
próprio Natal só porque está sendo teimosa?
— Eu te odeio, — ela sibilou.
— Querida, isso fica cada vez menos convincente a cada vez
que você diz isso, — eu disse a ela com um sorriso malicioso
enquanto saia da sua boceta e me afastava.
— Você tem um dia para decidir, — eu disse a ela, saindo
do chuveiro e indo me trocar antes de descer para falar com meus
irmãos.
Fui em frente e configurei o plano de segurança para levá-
la para a casa de sua família.
Porque Isabella era teimosa. Mas de jeito nenhum ela diria
não. Ela queria muito ir.
E eu queria isso para ela.
Mesmo que tudo parecesse um pesadelo.
Era apenas um dia.
Se tudo acontecesse sem nenhuma grande perturbação,
poderia até ser o momento decisivo para nós que eu estava
esperando.
CAPÍTULO QUINZE

Isabella

Eu meio que me resignei com meu primeiro Natal sem


minha família em toda a minha vida. O que foi um pensamento
tão deprimente que fui em frente e disse a mim mesma que não
iria comemorar nada.
Sem decoração ou presentes. Sem assar muitos biscoitos.
Sem canções de Natal. E certamente sem se enroscar no sofá com
chocolate quente e assistir a filmes românticos de Natal feitos
para a TV.
Eu faria um boicote total.
O que, admito, era quase tão deprimente quanto perder o
feriado com minha família.
E foi assim que me encontrei no chuveiro, chorando muito
por algo que estava totalmente fora do meu controle.
Eu esperava ficar sozinha porque, no geral, Primo estava me
dando o espaço que eu claramente queria. Provavelmente porque
se ele me incomodava, eu era rápida para arranjar uma briga. A
única vez que ele se forçou a entrar no meu espaço foi quando
adormeci no sofá e ele desceu e me carregou para a cama. O que,
aparentemente, ele viu como uma questão de segurança. E,
admito, eu entendia.
Se alguém entrasse, eu preferia que atirassem em Primo em
vez de mim.
Eu nunca esperei que ele me visse em um dos meus
momentos mais baixos. E em vez de me provocar ou dizer que eu
estava sendo dramática, ele apenas me abraçou, apenas me
deixou ter meus sentimentos. Então ele me ofereceu uma solução
para eles.
Fiquei emocionada com a ideia de levá-lo para casa para
conhecer minha família? Deus, não. Mas se fosse a única opção,
eu também não iria recusar.
Achava que seria um pesadelo absoluto? Sim,
Provavelmente. Mas era fora do apartamento. E era com minha
família. Eu preferia um pesadelo com minha família sobre a
felicidade em minha gaiola dourada qualquer dia.
Então, com muito pouco aviso, eu comecei a organizar. Eu
saí com Dawson, Dulles, Vissi e até mesmo Terzo fazendo minhas
coisas, comprando presentes e suprimentos, e até mesmo
algumas decorações para o loft, porque de repente eu estava
sentindo o espírito.
Passei horas intermináveis montando a árvore gigante,
arrumando os enfeites da maneira certa, embrulhando presentes
para minha família, assando e ouvindo minhas canções de Natal.
Eu não assisti meus filmes bregas.
Acho que meu coração simplesmente não aguentava, vendo
todos aqueles casais tendo seus romances felizes para sempre,
sabendo com certeza agora que eu nunca teria essa chance.
Mesmo assim, quando chegou a véspera de Natal e estava
quase na hora de ir para a casa da minha mãe, eu estava me
sentindo bastante cheia com o espírito natalino.
— Você pode ficar de olho no meu ziti assado? — Eu
perguntei, e Primo levou um momento para perceber que eu
estava falando com ele.
Sim, raramente eu falava diretamente com ele.
Por suas sobrancelhas franzidas, eu disse: — Preciso me
trocar. — Acenei para minha legging e camiseta com as quais
estava cozinhando e assando. — Mas não quero queimar o ziti
assado. Você pode ficar de olho nisso para mim?
Eu devo ter achado difícil admitir que Primo tinha alguns
traços positivos. Suas habilidades culinárias eram uma delas.
Nunca confiei minha comida em ninguém, mas sabia que ele a
tiraria exatamente na hora certa.
Dawson e Dulles estavam levando os pacotes para o carro.
Eles não iriam.
Aparentemente, todos os irmãos tinham uma tradição de
comprar comida chinesa na véspera de Natal e se reuniam no dia
de Natal para uma refeição. Então, as tradições de minha família
não estavam mexendo com as deles.
Eu não deveria ter me importado.
Mas eu sabia o que era ter suas tradições destruídas. Eu
não queria fazer parte disso para ninguém.
A ceia de Natal na casa da minha mãe era um
acontecimento. Eu precisei pedir um vestido novo porque minha
mãe esperava que nós nos vestíssemos para a ocasião.
Felizmente, não precisei aconselhar Primo, já que o homem vivia
de terno.
Era muito complicado que as roupas do dia a dia de um
homem também pudessem ser consideradas suas roupas
elegantes, quando as mulheres tinham que comprar roupas
novas e desconfortáveis para serem consideradas
apropriadamente vestidas.
Dito isso, estava realmente empolgada para me vestir bem.
Em primeiro lugar, só porque sair do apartamento era
motivo único para colocar um pouco mais de cuidado na minha
aparência. E, é claro, eu queria ficar bonita apenas porque era
esperado. Porém, mais do que tudo isso, uma parte minha queria
projetar para minha família que tudo estava bem, que eu estava
bem. Eu não queria que eles se preocupassem comigo.
Foi por isso também que decidi não contar a eles sobre todos
os problemas em meu “casamento”. Eu não ia contar a eles sobre
como nós brigamos, ou o fato de que ele me manteve dentro do
apartamento, nem mesmo me deixava respirar um pouco de ar
fresco.
Não serviria de nada contar tudo isso.
Então, eu iria apenas evitar os tópicos quando fosse
possível, ou passar por cima deles se não pudesse.
Tirei meu cabelo do grampo que eu coloquei quando ainda
estava úmido para que ele ondulasse, passei um pouco de rímel
e um batom vermelho brilhante, então coloquei o meu vestido.
Era um vestido de veludo vermelho que abraçava meu
corpo. Ele tinha um corpete recortado e, embora fosse longo,
havia uma fenda de um lado até a metade de uma coxa.
Normalmente, minha mãe odiaria.
Você tem que deixar algo para a imaginação de um homem.
Mas algo me disse que ela não se oporia tanto se eu já fosse,
quer alguém gostasse ou não, casada.
Mulheres casadas podiam se safar de muito mais coisas do
que mulheres solteiras, que ela via como constantemente
procurando por seus futuros maridos e, portanto, deveriam
moldar seu comportamento de acordo com isso.
Finalmente, calcei os sapatos de salto alto, borrifei um
pouco de perfume e desci em direção ao primeiro andar.
— Esse é um vestido incrível, Cordeirinho, — disse Primo,
seus olhos famintos vagando por mim.
Meu corpo aqueceu com o seu olhar, com a fome neles, mas
eu guardei tudo.
— Obrigada. O ziti está pronto? Precisamos ir, —
acrescentei, indo pegar meu casaco.
— Pronto, embrulhado e a caminho do carro, — disse Primo,
acenando com a cabeça.
— Por que não vamos então? — Eu perguntei, impaciente
para sair, sabendo que era uma boa viagem de quarenta minutos
de carro da casa de Primo até a casa da minha mãe. E esse era
um dia bom, sem trânsito de feriados.
— Você está esquecendo de algo, — disse Primo, fazendo-
me instintivamente me revistar. Como eu poderia ter feito na
minha antiga vida. Antes de me lembrar, não tinha telefone
celular e nenhum cartão de crédito para verificar.
Meu olhar voltou para o de Primo bem a tempo de encontrá-
lo enfiando a mão no bolso da camisa, tirando uma pequena caixa
de joias preta com um laço vermelho no topo.
— O que é isso? — Eu perguntei, sentindo meu estômago
revirar com a ideia de ele me comprar um presente de Natal.
Especialmente porque eu não tinha comprado nada para ele.
— Abra, — ele exigiu em vez de responder, segurando o
fundo da caixa, enquanto me estendia para abrir a tampa.
Então abri.
E encontrei um lindo conjunto de brincos dentro. Brincos
de ouro em forma de lágrima incrustados com diamantes. Isso
provavelmente custou uma pequena fortuna.
— Isso é demais, — eu disse, mesmo que estivesse exigindo
muito mais autocontrole do que eu esperava não os arrancar de
sua pequena prisão acolchoada e colocar em minhas orelhas.
— Não é, — ele insistiu. — Coloque-os para que possamos
ir.
Eu não precisei ouvir duas vezes.
Então eu coloquei.
E até murmurei um pequeno obrigada por eles, porque,
mesmo que eu estivesse decidida a não gostar do homem, tinha
sido um gesto inesperadamente agradável.
Com isso, estávamos entrando no carro com uma divisória
de vidro negro para nos manter escondidos de qualquer motorista
e guarda ou guardas que tínhamos nos levando do Bronx e de
volta para a casa da minha mãe em Manhattan.
Ficamos sentados em silêncio o tempo todo, mas eu podia
sentir seu olhar em minhas mãos quando me encontrava
aliviando um pouco minha ansiedade rolando meu anel de
noivado em meu dedo.
— Parece movimentado, — disse Primo enquanto nosso
motorista estacionava em fila dupla para que pudéssemos descer.
— Sempre é, — concordei, a excitação borbulhando em meu
corpo, misturada com uma quantidade considerável de
ansiedade com as consequências de trazer Primo Esposito, o
homem que me enganou para casar com ele, para o Natal na casa
de um Costa.
Mas não tive muito tempo para considerar isso enquanto
Primo pegava as sacolas e até mesmo o ziti assado, de alguma
forma conseguindo fazer tudo com uma mão enquanto sua outra
mão se movia, pressionando minha parte inferior das costas para
um pouco de estabilidade adicional enquanto eu subia o caminho
de sal grosso que não estava fazendo muito pelo gelo que se
formou ali.
— Vai ficar tudo bem, — disse Primo enquanto eu estava na
frente da porta, ouvindo os sons dos meus entes queridos lá
dentro, felizes, despreocupados, incertos demais para levantar
minha mão e abrir a porta. Uma parte minha estava
irracionalmente preocupada que minha presença pudesse abafar
seu espírito natalino.
— Com o que você está preocupada? — Ele perguntou
quando eu fiquei ali imobilizada pelos meus próprios medos.
— Que vou estragar o Natal, — admiti, olhando para ele.
— Estragá-lo? — Primo repetiu, franzindo as sobrancelhas.
— Sua família a ama e sente sua falta, Isabella.
— Mas minha presença só vai lembrá-los de que não estou
mais por perto.
— Querida, a falta de sua presença deixou um buraco, —
ele me disse, encolhendo os ombros. — Eles podem não ter dito
isso abertamente, mas todos sentiram. Você está ansiosa sem
motivo.
Primo era um terapeuta suave e doce agora? Não, de forma
alguma. Mas ele conseguiu fazer o trabalho? Ele com certeza fez.
Respirando fundo, alcancei a maçaneta.
— Boa garota, — Primo murmurou, e dane-se se minha
barriga não estremeceu um pouco com suas palavras.
Não houve tempo para analisar minha reação ao que ele
disse, no entanto, porque assim que a porta se abriu e todos
reunidos na sala de estar na frente da casa me viram, foi um
caos.
Houve um segundo de silêncio atordoado. E alguns olhares
preocupados para o homem elevando-se sobre mim.
Mas o choque foi rapidamente substituído por gritos quando
Mira saltou em minha direção em suas sapatilhas de balé e
usando um vestido que eu sabia que ela odiava, mas colocou
porque nossa mãe teria um ataque se ela não o fizesse.
— Meu Deus! Não acredito que você está aqui! Por que você
não contou a ninguém? — Ela perguntou enquanto minha mãe
corria, as lágrimas já arruinando sua maquiagem
cuidadosamente aplicada enquanto seus braços me envolveram,
me abraçando mais forte do que nunca.
— Oh, minha garota. A minha menina. Eu senti tanto sua
falta.
— Eu também senti sua falta, mãe, — assegurei a ela,
piscando com força para as minhas próprias lágrimas.
Foram as mulheres que me cumprimentaram primeiro. E
seu amor foi imediato e fácil.
Mas era com os homens que eu estava mais nervosa.
Em particular, Emilio e Anthony. Mesmo Anthony sendo o
bebê da família, ele havia conseguido entrar na história da
Família Costa. E, como tal, ele odiaria Primo não apenas porque
ele me forçou a casar, mas apenas por princípio por causa da
animosidade entre as Famílias que já existia há anos.
Eles estavam parados perto da escada central, ambos em
ternos pretos combinando. Emilio era mais magro e usava uma
das fivelas de cinto detestáveis de sua marca registrada, e eu não
pude deixar de me perguntar se minha mãe ainda tinha
percebido que era visco impresso, ou o que ele estava insinuando
ali. Anthony era mais jovem, mas tinha uma constituição física
mais robusta, parecendo o jogador de futebol que ele fora no
colégio desde que teve a sorte de frequentar uma escola que
realmente o oferecia.
Eu estava vagamente ciente de que minha família estava
pegando o ziti e as sacolas de Primo e oferecendo-lhe saudações
amigáveis, mas meu foco estava em meus irmãos.
— Vai ficar tudo bem, — Primo disse novamente,
pressionando a mão na parte inferior das minhas costas e
realmente me empurrando para frente quando meus pés se
recusaram a me levar por conta própria.
— Ei. — Isso foi tudo que eu consegui dizer enquanto Primo
me forçava a caminhar até que eu estivesse bem na frente dos
meus irmãos. — Ah, Feliz Natal, — acrescentei, sentindo meu
coração parar.
Deve ter estado no meu rosto também, porque de repente,
entre todas as pessoas, Primo veio em meu socorro.
— Realmente vocês vão deixá-la ficar aqui e sentir que seus
irmãos não ligam mais para ela só porque vocês não gostam da
situação? Que porra de família é essa?
— Eu não sei quem diabos você pensa... — Emilio começou,
a raiva dentro dele era algo que eu nunca tinha visto antes, algo
que não gostei de ver ali. Ele sempre foi o membro descontraído
da Família Costa, o cara tranquilo que ainda conseguia fazer o
trabalho.
— Eu sou o homem que não fica parado vendo sua esposa
ser desrespeitada. Nem mesmo por seus próprios irmãos, —
Primo o interrompeu, a voz baixa e fria.
Então, sim, não tivemos exatamente um ótimo começo.
— Sua esposa, — Anthony zombou.
— Sim, minha esposa, — disse Primo, com voz firme.
— Primo, — eu disse, pressionando a mão em seu estômago,
algo que fez seu olhar se voltar para mim, já que eu normalmente
tentava não o tocar deliberadamente.
Parecendo sentir o apelo em meu rosto ou em minha voz,
seu rosto se relaxou. — Que tal eu pegar uma taça de vinho para
você? — Ele ofereceu.
— Sim, — eu disse, balançando a cabeça, agradecendo
silenciosamente. — Isso seria bom.
— Já volto, — disse ele, apertando meu quadril e depois se
afastando.
— Eu esperava que você ficasse feliz em me ver, — eu disse
assim que Primo saiu, mas percebi que o olhar de Emilio seguiu
Primo até que ele me ouviu falar.
Eu não estava tentando esconder a vulnerabilidade em
minha voz. Eu estava chateada. E não estava acostumada a
esconder isso na minha família.
Não era assim que atuávamos. Dávamos um ao outro
autenticidade pura, mesmo quando era pura e feia.
— Oh, Bells, — Emilio disse, a raiva se apagando, sendo
substituída quase imediatamente por tristeza. — Claro que estou
feliz em ver você, — disse ele, já estendendo a mão para mim. —
Você está bem? — Ele perguntou, me segurando com força contra
ele. — Mira disse que você estava bem. Mas eu não conseguia
acreditar sem ver eu mesmo.
— Estou bem, — disse a ele. — Senti tanto a falta de vocês,
— eu disse, estendendo meu outro braço para puxar Anthony
para o abraço. Ele não costumava me permitir ser afetuosa com
ele. Mas ele me deixou desta vez.
— Senti sua falta também, — ele admitiu, me dando um
aperto antes que os dois se afastassem.
— Se você está procurando hematomas, — comecei vendo a
maneira como o olhar de Emilio verificava meus braços, — você
pode parar. Ele não me bate. Ele nunca me bateria.
— Nunca, — Anthony zombou.
— Nunca, — eu confirmei.
— O pai dele costumava bater na mãe dele, — disse Emilio.
— É por isso que ele não colocou as mãos em mim, — eu
insisti. Eu não sabia tudo sobre as crianças Esposito, mas sabia
que Primo e Terzo amavam sua mãe. E, claramente, odiavam seu
pai, já que você não podia passar um mês sem ouvir a história de
como Primo matou seu pai com sua faca de jantar na mesa,
depois a limpou e sentou-se para terminar de comer.
Eu imaginei que mais do que um pouco desse ódio veio de
como seu pai tratou sua mãe. E, vamos encarar, se seu pai tinha
sido um homem que espancava a esposa, então era quase
garantido que as crianças fossem espancadas também.
Uma pequena parte minha doeu por aquele menino que
Primo foi uma vez. Grande o suficiente para saber que era errado,
que sua mãe estava chorando e implorando para que parasse,
mas pequeno demais para enfrentar seu pai grande e mau.
Deve ter sido fácil crescer para ser frio e implacável quando
você tinha um monstro como pai. E a ternura daquela casa
provavelmente teria sido eliminada de seus filhos.
Embora eu tivesse que admitir, enquanto Primo era
absolutamente frio e implacável, além de ser um idiota arrogante
às vezes, ele devia ter um pouco de sua mãe nele.
Acho que visitar minha família e ter que dizer em voz alta
que Primo não era um homem terrível estava fazendo com que eu
tivesse que admitir a mesma coisa. E tentei tanto não fazer isso,
não encontrar traços positivos sobre ele, porque eu estava tão
determinada a não gostar e me ressentir dele por princípio, e não
por mérito.
— Eu juro, Emilio, — eu disse, balançando a cabeça. — Este
pode não ser o futuro que queria para mim, mas ele não é um
monstro. Quando ele percebeu que eu estava chateada por não
ver vocês no Natal, ele imediatamente traçou um plano para nós
virmos.
— Você está falando como se o homem te amasse, — disse
Anthony, parecendo enojado com a ideia.
— Ele tem ideias muito tradicionais sobre casamento. É
importante para ele. Ele parece querer fazer isso direito.
— Não era isso que eu queria para você, — Emilio insistiu,
a voz triste.
— Um casamento “real” também poderia ter sido miserável.
Todos aqueles sentimentos potencialmente feridos porque um
homem pode não levar os votos tão a sério. Isso é um conto de
fadas? Não. Mas não é...
— Melhor? — Primo perguntou, movendo-se ao meu lado e
me entregando minha taça de vinho. Eu fui em frente e tomei um
grande gole. — Isso é um não? — Ele perguntou, franzindo a testa
para mim.
— É uma coisa do tipo “família é complicada” e “meus
irmãos são idiotas teimosos”, — eu esclareci.
— Bem, eles são Costas, — disse ele, e eu soltei uma risada.
— Eu não sou tão ruim, — insisti, sabendo que era mentira.
— Cordeirinho, os malditos arranha-céus se dobram e se
movem mais do que você.
Isso realmente fez meus dois irmãos rirem, e eu não pude
deixar de pensar que era um passo na direção certa.
Foi então que um novo conjunto de parentes recém-chegado
apareceu e quis me ver e conversar.
E eu fui puxada para lá e para cá tanto que perdi Primo de
vista. Então, fui arrastada para a cozinha para ajudar porque
minha mãe não se importava se eu tivesse sido sequestrada e
mantida como refém por piratas no mar por anos, ela esperava
que as garotas ajudassem quando o jantar estava sendo
preparado.
— Vá chamar seu marido e vocês se sentem perto de mim,
— minha mãe exigiu quando a comida estava sendo colocada nas
travessas para levar para a sala de jantar.
Meu marido.
Isso ainda levaria algum tempo para me acostumar.
— Ok, — concordei antes de voltar para a frente da casa,
olhando ao redor, e pronta para sair para ver se alguns dos
membros da minha família o tinham levado para uma briga ou
algo assim, quando avistei um homem grande, moreno e lindo.
Sentado no chão.
Lendo um exemplar de A Véspera de Natal para uma criança
de rosto redondo.
Quando digo que meus ovários explodiram... eu falo sério.
Acho que sempre considerei ser mãe e ter um filho com
Primo como quase duas coisas separadas em minha mente.
Porque acho que estava tão decidida a não associar nada de
positivo a ele.
Mas, é claro, seríamos pais juntos.
E eu entrava em uma cena exatamente como a que estava
na minha frente.
Mas talvez a criança que ele estava sentado ao lado se
parecesse um pouco mais com ele, ou um pouco mais comigo.
Eu queria isso.
Deus, eu queria isso.
Eu sabia que amaria a maternidade, que colocaria tudo o
que tinha para ser uma boa mãe. E Primo, eu tinha que admitir,
seria um bom pai. Sim, ele era frio e duro. Mas ele era forte e leal
e tinha o que era necessário para superar sua natureza nos
momentos em que alguém em sua família precisava que ele fosse
mais suave, mais carinhoso.
Ele tinha tudo para ser um bom pai.
Mesmo quando o pensamento se formou em minha cabeça,
Primo terminou a história, seu olhar se erguendo e pousando
bem em mim.
Eu juro que havia algo em seus olhos, algo que dizia que
sua mente estava no mesmo tipo de coisa, que ele estava
imaginando um futuro onde ele poderia ler para seu próprio filho,
onde poderia criar tradições e brincar de ser Papai Noel depois
que a criança fosse para a cama, e depois acordar muito cedo na
manhã seguinte para ver a magia se desenrolar.
Não parei para pensar quando a criança, agora entediada,
se levantou e começou a puxar a calça do homem mais próximo,
meu tio-avô Marty. O que significava que o pobre garoto iria fazer
o passeio a cavalo mais acidentado de sua vida, me aproximei de
Primo, estendendo minha mão.
O olhar de Primo deslizou até minha mão, as sobrancelhas
franzidas até que seu olhar pousou no meu anel. Seu anel. O anel
que selou todo este negócio.
E então ele estava estendendo a mão, pegando a minha,
ficando de pé e me deixando levá-lo para a mesa de jantar.
Claro, o jantar estava “começando”. Mas esse era um termo
um tanto vago na minha família. Haveria pelo menos cinco
chamadas gentis ao longo de quinze minutos para levar todos à
mesa antes que minha mãe ficasse nervosa e começasse a
reclamar e falar sobre trabalhar como escrava o dia todo em um
jantar que ninguém parecia interessado em comer. Ela precisaria
ser consolada por mais uns bons dez minutos. E então,
finalmente, uma de minhas tias ou minha irmã tinha um ataque,
gritando, repreendendo e exigindo que todos entrassem na sala
de jantar para comer.
Era um ritual que durava pelo menos uma hora. Razão pela
qual há muito começamos a usar aquecedores nos balcões
laterais da sala de jantar, para que a comida não esfriasse
enquanto acontecia.
Os dedos de Primo se entrelaçaram com os meus enquanto
eu o conduzia em direção à escada abandonada nos fundos, em
seguida, subindo para o segundo andar, pelo corredor e para uma
sala que sempre visitava algumas vezes por ano. O quarto que
minha mãe manteve exatamente o mesmo de quando eu me
mudei com apenas 20 anos de idade.
Primo não disse nada, apenas entrou comigo, observando
enquanto fechava e trancava a porta, mesmo sabendo que
ninguém iria subir. Porque eles nunca o fizeram. Toda a diversão
estava no caos no andar de baixo.
— Cordeirinho, o que... — Primo começou apenas um
segundo antes de eu pressioná-lo de volta contra a porta, agarrar
sua nuca para puxá-lo para baixo e selar meus lábios nos dele.
Não houve nem um segundo de hesitação antes que sua
mão fosse para a base do meu crânio, agarrando, segurando em
mim enquanto ele aprofundava o beijo, seus lábios esmagando
os meus. Seu outro braço envolveu minhas costas, me puxando
com força contra seu corpo.
Claro, ainda havia aquela vozinha desafiadora no fundo da
minha cabeça que me dizia que eu tinha que odiar esse homem
por princípio, que precisava fazê-lo sofrer por tudo que ele roubou
de mim.
Mas aquela voz foi subitamente abafada por outra, menos
amarga. Aquele que entendeu que os melhores casamentos foram
construídos sobre bases estáveis de respeito e determinação para
fazê-lo funcionar. Mesmo que às vezes eu quisesse tirar o
sorrisinho do rosto do homem, tinha que admitir que ele era
alguém que merecia ser respeitado. Se por nada mais, então por
causa de suas crenças tradicionais. Ele também estava
determinado a transformar essa farsa de nosso casamento em
algo que funcionasse. Isso funcionaria necessariamente da
mesma forma que muitos outros casamentos? Não. Mas isso não
significava que deveria ser horrível e miserável o tempo todo, que
eu tinha que trabalhar tanto para ser infeliz.
Primo era, objetivamente, bom para mim.
Ele me deu espaço quando precisei. Esteve lá por mim
quando precisava disso também, mesmo que não fosse algo que
viesse naturalmente para ele. Ele me protegeu. Providenciou o
necessário para mim. Ele não pediu ou exigiu que eu mudasse
por ele.
Não era uma maneira ruim de começar um casamento.
E a química, bem, isso meio que falava por si só. Nunca
precisei esforçar tanto para fingir que não me sentia atraída por
alguém como fiz com Primo.
As mãos de Primo deslizaram pelas minhas costas,
massageando a curva da minha bunda, em seguida, recolhendo
minha saia longa até que ela estava presa na minha cintura. Suas
mãos se moveram para cima, espalmando minha bunda antes de
apertar com força. Com força suficiente para que ele me tirasse
do chão, levantando-me e esperando minhas pernas envolverem
sua cintura.
O que elas fizeram.
Seus dentes mordicaram meu lábio inferior quando ele se
virou e caminhou em direção à minha velha cama, virando-se e
sentando-se comigo montada nele.
Suas mãos estavam famintas, movendo-se sobre a minha
bunda nua, brincando com a pequeno fio da minha calcinha,
deslizando pelos meus lados, fechando sobre as protuberâncias
dos meus seios, em seguida, puxando para baixo meu corpete,
tirando meu sutiã, segurando minha pele exposta e provocando
meus mamilos.
Meu corpo era um inferno completo, mesmo antes dos
lábios de Primo se moverem dos meus, fazendo uma trilha pelo
meu queixo, então meu pescoço, o arranhão de sua barba por
fazer inesperadamente erótico.
Eu o queria dentro de mim e gozar tanto quanto queria
minha próxima respiração.
Mas não tanto quanto queria mostrar a ele que as coisas
eram diferentes agora. Ou, pelo menos, elas estavam começando
a ser diferentes.
E eu poderia fazer isso tomando a iniciativa, dando tanto
quanto recebi no passado.
Então, antes que Primo pudesse continuar seus beijos no
meu peito e em direção aos meus seios, eu me afastei, e sai do
seu colo.
Meu olhar segurou o dele de pálpebras pesadas enquanto
eu caia de joelhos na frente dele.
Minhas mãos pousaram em seus joelhos e subiram pelas
suas coxas, observando enquanto a surpresa e o prazer cruzavam
suas belas feições enquanto meus dedos abriam seu botão e
zíper.
Alcançando dentro, eu puxei seu pau grosso e duro. Então,
com o olhar preso no dele, abri a minha boca, minha língua
provocando a borda dos meus lábios. Um convite literalmente
aberto.
— Merda, Cordeirinho, — ele gemeu, agarrando seu pau
pela base e traçando meu lábio inferior com a cabeça. — Lambe,
— ele exigiu, segurando-o enquanto minha língua se movia para
traçar sua cabeça, provando-o, molhando-o mais enquanto uma
onda surpreendente de prazer enchia meu corpo. — Mais, — ele
exigiu enquanto sua mão livre segurava meu queixo, esperando
meus lábios se separarem mais para acomodá-lo.
— Boa garota, — ele murmurou quando seu pau começou
a entrar em minha boca que esperava. — Foda-se, — ele
sussurrou enquanto meus lábios se fechavam em torno dele.
Sua mão escorregou do meu queixo para pegar meu cabelo
e prendê-lo atrás da minha cabeça quando comecei a chupá-lo,
lento e hesitante no início, mas ganhando velocidade e
entusiasmo quando encontrei o ritmo que funcionava para ele,
como seus assobios entre respiração e seus gemidos baixos me
estimularam.
Sua outra mão deslizou para a parte de trás do meu pescoço
depois de um momento, colocando uma pressão firme até que
comecei a tomá-lo profundamente. — Olhe para mim, — ele
exigiu, e meus olhos se abriram para encontrá-lo me observando
com os olhos mais intensos que eu já vi. — Mais, querida, — ele
gemeu, colocando mais pressão na minha nuca.
Achei que não aguentaria mais.
Eu nunca tinha feito isso antes.
— Você pode, — ele me assegurou, a voz suave, persuasiva.
— Respire fundo e engula, — acrescentou.
Achando que valia a pena tentar, segui suas instruções. E
assim que eu engoli, Primo empurrou seus quadris em minha
boca. A cabeça de seu pau atingiu o fundo da minha garganta. —
Não lute contra isso, Cordeirinho, — ele instruiu, a voz tensa,
claramente apreciando a sensação. — Isso é bom pra caralho, —
ele gemeu, o peito arfando com sua respiração irregular. — Deixe-
me foder sua boca, — ele continuou. — Você pode parar, — disse
ele, pegando minha mão e pressionando-a em sua coxa. — Mas
deixe-me foder sua boca, baby.
Nunca pensei que permitiria que um homem fizesse isso
comigo.
Nunca tinha soado nem remotamente sexy.
Mas quando Primo disse isso?
Ele quase me fez acreditar que eu poderia me divertir
também de alguma forma.
Então eu dei a ele o menor dos acenos que o fez exalar forte
enquanto sua mão segurava minha garganta enquanto a outra
segurava minha nuca.
E então ele fodeu minha boca, seus quadris encostados em
minha garganta enquanto suas mãos guiavam minha cabeça
para cima e para baixo sobre ele.
Impossivelmente, mesmo enquanto as lágrimas escorriam
pelo meu rosto e minha saliva e seu pré sêmen escorriam pelo
meu queixo, eu podia sentir minhas paredes se apertando
fortemente, de alguma forma desfrutando desse tipo selvagem de
altruísmo enquanto a respiração de Primo ficava ainda mais
irregular, enquanto seus gemidos se tornavam pequenos
assobios de prazer.
Eu não ia ceder.
Não quando um homem tão poderoso quanto ele estava
totalmente à minha mercê, seu prazer estava completamente em
minhas mãos.
Então, a mão que ele colocou em sua coxa deslizou entre
nós, massageando suas bolas enquanto ele fodia minha boca
cada vez mais rápido, ficando cada vez mais perto.
— Deixe-me gozar pela sua garganta, Cordeirinho, — ele
sibilou, fazendo minha boceta apertar com força, nunca
realmente percebendo antes como um parceiro que perguntava
poderia ser excitante, como pedir o consentimento não tinha que
ser estranho e desconfortável.
Com a boca cheia, tudo que consegui foi um som —
Mmmmm — que o fez maldizer enquanto seus quadris
empurravam com força uma última vez, a cabeça do seu pau
batendo contra a parte de trás da minha garganta antes que eu
provasse seu sêmen um segundo antes de deslizar pela minha
garganta.
— Foda-se, — Primo gemeu, seu corpo inteiro
convulsionando forte uma vez, depois duas vezes.
E nunca antes me senti tão poderosa quanto agora.
— Porra, Cordeirinho, — disse ele depois de respirar fundo,
puxando-me para trás suavemente pelo meu cabelo. — Venha
aqui, — ele exigiu, puxando novamente até que seu pau deslizou
de meus lábios com um estalo. Seu polegar parou para traçar
meu lábio inferior enquanto eu juro que este homem olhou para
mim com reverência real em seu olhar antes de me puxar para
seu colo novamente e selar seus lábios sobre os meus.
Longo e profundo.
Até meus lábios formigarem.
Ele interrompeu o contato primeiro, pressionando meu
rosto em seu pescoço quando sua mão começou a pentear meu
cabelo enquanto a outra me segurava presa em seu peito.
— Eu queria isso há muito tempo, — admitiu ele, em voz
baixa. — Nunca pensei que fosse conseguir, — acrescentou,
fazendo meus lábios se curvarem em um sorriso.
— Eu queria, — eu admiti. — Eu gostei, — acrescentei,
estremecendo um pouco com a admissão, com a vulnerabilidade
por trás disso.
— Então eu sou um homem de sorte, porra, — disse ele, me
liberando quando eu empurrei.
— Você me bagunçou? — Eu perguntei, enxugando meus
olhos, sabendo como eles estavam lacrimejando.
— Você está linda pra caralho, — ele rebateu, e minha
barriga estremeceu com força com o elogio.
— Obrigada, — eu disse, o olhar escapando dele, um pouco
desconfortável com o quanto suas palavras significavam, e não
tenho certeza se estava pronta para ele ver isso. — Mas não foi
isso que eu quis dizer.
— Suas bochechas estão um pouco vermelhas. Vai
desaparecer, — acrescentou. — Eu posso pensar em uma
maneira de matar o tempo, — ele continuou, uma promessa
sombria em seus olhos enquanto meu olhar se erguia para seu
rosto novamente.
— Você não precisa, — eu disse, balançando a cabeça. —
Não fiz por isso.
— Eu sei. Isso é ainda mais razão para eu querer. Mas,
queria, eu poderia chupar sua boceta em cada porra de refeição
e não me cansar, — ele me disse quando de repente se deitou na
cama. — Agora seja uma boa garota e monte na minha cara, —
ele exigiu, agarrando a parte de trás dos meus joelhos quando eu
não me movi para fazer exatamente isso.
Ele me puxou para perto.
E antes que eu pudesse protestar, seus dedos estavam
puxando minha calcinha para o lado, e sua língua estava
traçando minha boceta para trabalhar meu clitóris.
Então, bem, eu fiz o que ele queria que eu fizesse.
Eu montei seu rosto.
E mal me lembrei de morder meu lábio para não gritar
quando o orgasmo me atingiu, pernas trêmulas e tudo, alguns
momentos depois.
Eu desabei ao lado dele, me recompondo enquanto ele se
levantava, então lentamente saí da cama, para colocar meu
vestido de volta no lugar, então me entregando meu sutiã.
— Eu já volto, — disse ele antes de sair para o corredor.
Aproveitei a chance de prender meus seios no sutiã e
colocar meu vestido em ordem e, em seguida, tentei domar meu
cabelo.
Ele voltou então com uma toalha úmida, vindo em minha
direção, alcançando meu queixo com uma das mãos e, em
seguida, limpando suavemente minhas bochechas e sob meus
olhos com a outra.
— Melhor? — Eu perguntei.
— Eu não diria melhor, não. Melhor é eu poder ver seu rímel
por todo o seu rosto por engasgar com meu pau, Cordeirinho, —
ele disse, as palavras malvadas, mas seus olhos eram realmente
brincalhões, assim como o sorriso brincando em seus lábios. —
Mas este é mais apresentável para o jantar de Natal.
— Oh, Deus, — eu gemi, batendo a mão na minha testa
quando percebi o que tínhamos acabado de fazer com minha
família inteira um andar abaixo.
Uma risada profunda e sexy percorreu Primo.
— Não é engraçado, — resmunguei.
— Você está ficando tão distraída com meu pau e minha
língua que se esqueceu completamente do jantar de Natal,
Cordeirinho? Sim, eu diria que é muito engraçado. Vamos lá,
vamos descer antes que alguém perceba que estamos
desaparecidos. Eles estão ficando silenciosos.
— Porque provavelmente perdemos toda a gritaria, — disse
a ele, aceitando sua mão quando ele a ofereceu para mim, em
seguida, descendo as escadas, onde todos estavam entrando na
sala de jantar.
— Isabella, você está tão corada, — disse uma das minhas
tias, me fazendo enrijecer.
— Está tão quente aqui, — reclamei, abanando-me.
— Eu disse a sua mãe que precisávamos colocar uma
janela, mas não. Agora a filha dela vai desmaiar, — minha tia
continuou, já se afastando para encontrar outra coisa para se
irritar um pouco.
— Cale a boca, — eu soltei em um sussurro baixo quando
senti seu olhar em mim.
— Eu não disse nada.
— Seus olhos estão sendo profanos agora.
Com isso, uma risada percorreu seu corpo enquanto me
conduzia até um assento vazio e puxava minha cadeira, depois
me empurrou para dentro, um movimento que vi Emilio
observando do outro lado da mesa.
Quando ele se sentou, sua mão foi para a minha coxa,
apertando-a, então apenas sentando lá enquanto minha mãe
finalmente conseguia fazer todos ficarem quietos o suficiente
para fazer seu discurso anual e emocional, agradecendo a mais
santos e anjos do que eu imaginava que existissem, antes
declarando que finalmente era hora de comer.
E então este homem que tecnicamente pertencia a mim, ele
fez uma coisa incompreensível.
Ele me disse para ficar onde estava.
E então ele foi buscar um prato para mim.
Eu tinha certeza que encarei suas costas com olhos
esbugalhados enquanto ele se alinhava com todas as mulheres
que estavam fazendo os pratos de seus homens.
— Este é dos bons, — disse uma tia, de sua posição na
cabeceira da mesa em sua cadeira de rodas, provavelmente sendo
cuidada por uma de suas filhas.
— Ele cozinha também, — eu disse, com incredulidade em
minha voz. — Nunca diga isso a ele, mas ele cozinha melhor do
que eu, — eu disse a ela, balançando a cabeça para mim mesma.
— Que bênção, — disse minha tia, acariciando
distraidamente sua aliança de casamento, provavelmente
pensando em seu marido que ela havia perdido uma década
antes. — E não se preocupe, querida, — disse ela, inclinando-se
para mais perto como se estivéssemos compartilhando um
grande segredo. — Eu não vou dizer a ele que você disse isso
sobre ele.
— Falando de mim, senhoras? — Primo perguntou, fazendo
os olhos da minha tia se arregalarem comicamente por ter sido
pega.
— Não se iluda, — eu disse, dando-lhe um sorriso enquanto
ele colocava um prato cheio na minha frente antes de colocar o
seu.
— Um de seus primos me deu uma cotovelada na costela
para pegar o último pãozinho, — disse ele, balançando a cabeça.
— Não se preocupe. Em cerca de... três vírgula cinco
minutos, minha mãe vai aparecer em sua cadeira e suspirar por
ter esquecido os pãezinhos no forno. Então, antes de ir pegá-los,
ela vai repreender todos nós por não a lembrar deles.
Quando cerca de três minutos se passaram e minha mãe
fez exatamente isso, o olhar divertido de Primo deslizou para
mim.
— Eu te disse, — eu falei, balançando a cabeça.
O jantar foi o que o jantar de Natal sempre foi.
Assim como o resto da noite.
Barulhento, exagerado, engraçado e incrível.
E eu tive que admitir para mim mesma que talvez fosse
ainda mais agradável dividir a noite com outra pessoa, alguém
com quem eu compartilharia risos, sorrisos e revirada de olhos.
— Eu disse a você, Cordeirinho, — Primo disse enquanto
colocávamos nossos casacos e caminhávamos para saída da
frente depois de cerca de trinta minutos inteiros de despedidas.
— Você não precisava ficar nervosa.
— Estou preocupada com Emilio, — admiti, passando meu
braço pelo de Primo porque o gelo só tinha piorado graças a uma
chuva congelante que começou em algum momento enquanto
estávamos lá dentro.
— Por quê? — Primo perguntou, parecendo genuinamente
interessado quando nosso carro parou, e Primo me empurrou
antes de entrar ao meu lado.
— Ele parece realmente infeliz, — eu disse, encolhendo os
ombros. — E meu irmão não é assim.
— Isso tudo foi jogado sobre ele, — disse Primo, encolhendo
os ombros. — Ele não teve a chance de pensar. — Da próxima
vez, será melhor.
— Da próxima vez, você quer dizer próximo Natal? — Eu
perguntei, meu coração se encolhendo um pouco com a ideia.
— Eu quis dizer a próxima reunião familiar, — disse ele,
encolhendo os ombros. — Eu imagino que haverá muitas delas.
— Você vai me deixar vir?
— Deixar, — ele repetiu, suspirando com a palavra. —
Deixando de lado a atual situação de isolamento, e vou lembrá-
la de que é para sua própria segurança, não quero que pense
mais nisso como uma prisão, como se eu fosse o carcereiro de
quem você precisa de permissão para ir a algum lugar ou receber
pessoas acabaram. Não é assim que quero que seja.
— Por que a mudança de opinião? — Eu perguntei, e por
algum motivo, meu próprio coração palpitou um pouco com a
ideia de seu coração. Mas íamos prosseguir e chamar isso de
indigestão por causa de toda a comida, porque qualquer outra
coisa era demais para considerar naquele momento.
Para isso, Primo suspirou. — Eu, talvez ingenuamente,
pensei que sua conexão com sua família a impediria de fazer este
casamento funcionar. Isso foi um erro de cálculo. Eu subestimei
você, — ele disse, apertando meu joelho.
— Um homem que admite quando está errado, — disse eu,
pressionando a mão dramaticamente no meu peito. — Agora eu
vi tudo.
Todo o trajeto de volta ao Bronx foi da mesma maneira.
Leve, sociável, sem toda a raiva e ressentimento que havia entre
nós no passado.
Foi um momento decisivo, eu podia sentir.
Bem, você sabe, se ele não fizesse algo completamente idiota
de novo.
— O que? — Primo perguntou quando deixei escapar um
ruído estranho.
Eu meio que virei no meu assento para encará-lo mais,
estendendo a mão, o que o fez franzir as sobrancelhas. — Trégua?
— Eu perguntei.
O fantasma de um sorriso em seus lábios foi
inesperadamente doce.
— Não, cordeirinho, — ele disse, alcançando meu queixo. —
Prefiro fechar o negócio desta forma, — disse ele enquanto seus
lábios pressionavam os meus.
Então ele me beijou pelo resto do caminho para casa, me
deixando doendo por mais.
— Só tenho que entrar, — ele disse, lendo a fome em meus
olhos enquanto se virava para empurrar a porta, estendendo a
mão para estender a mão para mim.
Que eu peguei.
Felizmente.
Sabendo em minha alma que as coisas realmente mudaram
para nós naquela noite.
E isso só iria melhorar a partir daí.
Mas foi então que começaram os disparos.
CAPÍTULO DEZESSEIS

Isabella

Houve uma fração de segundo de falta de ação, onde o olhar


atordoado nos olhos arregalados de Primo passou para mim.
Mas então ele estava me puxando para baixo atrás da porta
aberta enquanto pegava sua arma, olhando para fora, ouvindo,
tentando descobrir de onde as balas estavam vindo, mesmo
quando seus guardas saíram correndo de trás do prédio que era
seu negócio e nosso casa.
O choque completo e absoluto tomou conta de todo o meu
corpo, limpando minha mente em branco, fazendo meu coração
bater forte e minha respiração ficar baixa e irregular.
Eu estava congelado no local, me sentindo de alguma forma
muito distante no momento, mas também completamente fora de
toda a situação.
Os tiros soaram, alguns deles até mesmo da arma de Primo
de onde ele estava agachado, mas os sons pareciam vir de muito
longe, quase como se eu estivesse debaixo d'água e o mundo
estivesse fortemente distorcido por causa disso.
Isso até que senti mãos me agarrando.
E meu instinto de lutar ou fugir decidiu optar pela luta.
Então eu arranhei e gritei, incapaz de pensar em qualquer
coisa além de que precisava ficar com Primo.
— Leve ela! — Primo gritou, me fazendo perceber que as
mãos eram amigas, não inimigas.
— Não, — gritei, estendendo a mão em direção a Primo
enquanto um braço passou em volta da minha cintura enquanto
outro carro parou na esquina daquele que estávamos ao lado.
— Leve-a para a porra do quarto seguro, — ele gritou para
quem me pegou.
— Não! Primo! — Eu gritei enquanto era puxada para longe.
Seu olhar deslizou para o meu por um minuto, escuro,
intenso, mas mais do que isso, preocupado.
Se Primo estava preocupado, eu precisava estar morta de
medo.
— Porra, agora Vissi! — Primo grunhiu.
E assim, fui levantada do chão quando o tiroteio começou.
Foi só quando estávamos na lateral do prédio que percebi que os
tiros tinham vindo de Primo e seus homens, que eles estavam
encobrindo Vissi e eu enquanto ele me tirava do caos.
— Ponha-me no chão! — Eu gritei, lutando em suas mãos.
— Se eu colocar você no chão, você correrá de volta lá como
uma idiota. Primo não só vai me esfolar vivo, mas a porra de sua
irmã diabólica virá me alimentar com minha pele antes de me
matar.
E com isso, ele me arrastou para dentro do prédio.
Mas não até o último andar para me encolher no armário
como precisei fazer da última vez que fomos atacados.
Não.
Ele me levou para o andar de embalagem de carne e pelo
corredor de congeladores até chegarmos ao penúltimo.
— Entre, — Vissi exigiu depois de abrir a porta.
Dentro havia um freezer, tecnicamente. Uma entrada como
você veria em qualquer restaurante. Com as grossas paredes de
metal.
Mas era mais do que isso também.
Havia uma cadeira dentro, prateleiras de arame cheias de
água e comida, e o que parecia suspeitamente com uma daquelas
coisas de banheiro seco no canto.
Ah, e não vamos esquecer as armas.
Primo o chamara de quarto seguro.
E acho que era.
Mas era o último lugar em que me sentiria segura.
Presa em um pequeno espaço... mais uma vez.
— Não. Não, eu não posso. Leve-me lá para cima, — eu
disse, tentando recuar, apenas para sentir meu pulso preso por
Vissi.
— É seguro, — disse ele. — As paredes são reforçadas com
material à prova de bala. Tem temperatura controlada. Tem
comida e água. E depois de trancado por dentro, ninguém pode
entrar. É o lugar mais seguro em todo o bairro. E há uma câmera
bem aqui, — disse ele, arrastando-me para dentro para me
mostrar a tela ao lado da porta. — Só destranque a porta se você
vir Primo e ele disser que é seguro, ok?
— Eu não posso. Você não pode me colocar... — Comecei,
me afastando, saindo do freezer. No momento em que uma bala
rasgou o vidro do prédio, alojando-se na parede.
Eu dei um pequeno grito quando Vissi se abaixou,
empurrando um ombro na minha barriga e me jogando por cima
dele.
— Você precisa ficar, está me ouvindo? Isso não é bom, —
acrescentou ele, com o rosto tenso. — Fique, — disse ele,
colocando-me de pé. — E tranque essa porta quando eu sair,
entendeu?
Sem saber se eu estava com mais medo de ficar presa no
quarto ou de ser baleada do lado de fora, apenas acenei com a
cabeça enquanto ele saía do freezer e fechava a porta.
Não foi até que ele bateu na porta e disse: — Tranque-a,
Isabella, — que me movi para frente para pressionar o botão
vermelho da fechadura, selando-me no que sempre foi meu maior
medo. Espaços pequenos.
Exceto, talvez, não fosse mais meu maior medo.
Ser claustrofóbica empalidece em comparação com a ideia
de levar um tiro.
E isso de alguma forma empalideceu em comparação a
saber que esses homens que eu conhecia e me importava,
especialmente Primo, estavam lá fora, levando tiros na rua.
O que aconteceria se algo acontecesse com eles enquanto
eu estivesse presa no freezer?
Não.
Não.
Eu não podia deixar minha mente ir lá.
Meu estômago se retorceu com força ao mesmo tempo que
considerava por um segundo.
Porque Primo e eu tínhamos acabado de chegar a uma
trégua, decidimos ambos ser adultos sobre a situação, entrar em
nosso casamento como parceiros e ver o que poderíamos fazer
com isso.
Eu tinha uma leve suspeita de que poderia ser algo
realmente ótimo se eu finalmente desse uma chance.
Um marido bom e leal que proporcionaria e cuidaria à sua
maneira, um filho ou dois pelos quais pudéssemos dar com todo
o nosso amor.
Não foi exatamente como planejei meu feliz para sempre,
mas estava começando a ver que poderia ser uma nova versão.
Uma versão atualizada e madura.
Tremendo da cabeça aos pés e sem ter certeza de que
minhas pernas continuariam me segurando, me afastei e caí na
cadeira, levando minhas mãos ao rosto e respirando lenta e
profundamente.
Eu precisava ficar calma.
Não ia fazer bem a ninguém eu entrar em um completo
ataque de pânico.
Tentar manter a calma em um cenário tão exagerado,
porém, provou ser mais difícil do que eu poderia ter previsto com
o passar das horas. Havia um relógio na pequena tela ao lado da
porta, mas eu estava muito abalada para me levantar e verificar.
E, francamente, eu não tinha certeza se queria saber quanto
tempo havia passado sem que Primo viesse me procurar.
Isso não poderia ser bom, certo?
O freezer era completamente isolado, as paredes grossas
demais para ouvir qualquer coisa de fora, então eu estava presa
lá com nada além de minhas respirações medidas para me fazer
companhia. E me levava pouco a pouco a loucura.
Eu quase respirei completamente entorpecida com todo o
oxigênio extra quando vi uma figura sombria se mover para a
câmera.
Meu coração subiu para a minha garganta quando não veio
direto para a porta, olhou para a câmera e me mostrou o rosto do
homem com quem me casei à força, mas estava escolhendo
ativamente para começar um relacionamento real.
Era outra pessoa?
Vissi? Dawson? Dulles? Terzo?
Não.
Não, não combinava com esse cara de costas para a câmera.
Parecia Primo.
Mas se era Primo, por que ele não veio me dizer que era
seguro sair? Por que ele não estava me levando para cima para
cumprir a promessa que havia feito antes?
Por que eu ainda estava em uma caixa que ele sabia que eu
odiava?
Respirando fundo, me aproximei da câmera, observando,
desejando que a sala fora do freezer estivesse um pouco mais
clara.
Mas então a figura se moveu.
Ele se virou.
E caiu de joelhos.
E um pouco antes de ele levar as mãos para cobrir o rosto,
vi que era ele.
Primo.
E algo estava realmente muito errado.
Minha mão bateu na trava.
Empurrei a porta com força e voei na direção de Primo,
caindo na frente dele. Ambas as minhas mãos se estenderam,
emoldurando seu pescoço.
— Qual é o problema? O que aconteceu? — Eu perguntei,
sentindo a dor emanando dele. — Vissi? — Eu perguntei, o
estômago apertando com a ideia de que o homem que se arriscou
para me proteger pode não ter sobrevivido. — Dawson? Dulles?
— Eu continuei, com o coração esmagado com a ideia de os
homens que foram tão bons comigo desde o início não estarem
mais por perto. — Terzo, — eu disse, de alguma forma sabendo
disso antes mesmo que o nome deixasse meus lábios. — Foi
Terzo? — Eu perguntei, então observei enquanto o corpo de Primo
dobrou. — Oh, Primo, — eu disse, sentindo as lágrimas enchendo
meus olhos.
Eu tinha o mesmo vínculo com Terzo que tinha com Dawson
e Dulles? Não. Mas ainda era o irmão de Primo.
Meus braços alcançaram meu marido, puxando-o contra
mim, segurando-o enquanto ele tentava aceitar a perda.
Um pouco depois, Vissi entrou na sala, ombros baixos, rosto
derrotado, um braço inteiro de sua jaqueta cinza ensanguentada
como se ele próprio tivesse levado uma bala.
— Nós temos que subir, — ele disse, a voz estranhamente
vazia.
— Ok, — eu concordei, acenando para ele, sabendo que
nesta situação, era a minha vez de assumir a liderança, ser o
forte, estar lá para meu parceiro quando ele precisasse de mim.
Eu me levantei, me abaixando para puxar Primo também.
Passei um braço em volta de sua parte inferior das costas e
pressionei a outra em seu peito enquanto o levava de volta para
o elevador.
Vissi acenou com a cabeça, ficando fora da cabine e nos
deixando subir sozinhos, sabendo que Primo precisava de algum
tempo para chorar, processar e não queria se intrometer.
Eu não sabia como confortar alguém que acabara de perder
um irmão. Isso estava tão fora do meu alcance. Mas sabia que o
sangue de Terzo estava em todas as mãos e camisa de Primo. Eu
poderia pelo menos ajudá-lo com isso.
Então eu o conduzi pelo apartamento e subi para o banheiro
principal, abri a água do chuveiro, depois voltei para Primo,
ajudando-o a tirar a roupa enquanto ele apenas ficava lá,
completamente perdido em sua própria dor. Eu nem tinha certeza
se ele realmente registrou minha presença naquele momento.
Mas estava tudo bem.
Não era sobre mim.
Assim que tirei sua roupa, o conduzi em direção ao
chuveiro, com a intenção de voltar e tirar minhas próprias roupas
primeiro, mas sua mão se recusou a me soltar, puxando-me para
dentro e sob o jato de água com ele.
Minhas mãos deslizaram sobre suas costelas, em seguida,
envolveram ao redor dele enquanto eu me movia em seu peito. —
Eu sinto muito, Primo, — eu disse, dando um aperto em seu
corpo grande. — Eu não sei mais o que dizer. Ou o que fazer.
Então, eu simplesmente estarei aqui, ok? — Eu disse, dando-lhe
outro aperto. — Se você precisar de alguma coisa, pode me dizer.
Mas, por enquanto, podemos simplesmente fazer isso, —
acrescentei.
Não sei quanto tempo ficamos ali sob o chuveiro.
Mas eu me certifiquei de que o sangue tinha sumido antes
de finalmente fechar a torneira, quando nós dois começamos a
balançar por tanto tempo de pé.
Tirei minhas roupas encharcadas, depois sequei nós dois
antes de levá-lo para a cama, colocá-lo sob as cobertas e, em
seguida, sentar-me ao lado dele.
Eu não conseguia nem começar a imaginar como foi sua
perda, como me sentiria se algo acontecesse com Emilio ou
Anthony. Mas sabia que se algo, Deus me livre, acontecesse, eu
iria querer alguém ali comigo, me segurando, mas não esperando
nada de mim.
Então foi isso que dei a Primo.
Eu o segurei. Acariciei suas costas. Corri meus dedos por
seu cabelo.
Durante tudo isso, ele parecia em algum lugar fora de
alcance, seus olhos a um milhão de quilômetros de distância.
Eu planejei continuar tocando, acariciando, abraçando.
O problema era que tinha sido um dia e uma noite longa e
louca. E sem qualquer forma de estimulação externa,
eventualmente, desmaiei aconchegada em seu peito.

Acordar sozinha foi desconcertante.


Por um longo momento, parecia que toda a noite anterior
tinha sido um sonho. Um que começou incrível e adorável, mas
terminou com derramamento de sangue, medo e dor tão forte que
abalou um homem tão inabalável como Primo Esposito.
Só quando saí cambaleando da cama e encontrei as roupas
ensanguentadas de Primo da noite anterior no lixo é que tive
certeza de que tudo tinha sido real.
Mas se foi real, onde diabos estava Primo?
Pensando nisso, corri para vestir uma legging e uma
camiseta, então corri para fora do quarto, descendo as escadas
tão rápido que quase caí no chão.
Então lá estava ele, de pé na cozinha com uma xícara de
café no balcão à sua frente e seu telefone nas mãos, digitando.
— Primo? — Eu chamei, a voz hesitante, não tendo certeza
de como ele tinha passado do homem quebrado que segurei no
chuveiro na noite anterior de volta ao seu jeito intimidante de
costume, com terno e tudo, em apenas algumas poucas horas.
— Faça suas malas, — ele ordenou para mim, o som tão
repentino e firme que eu realmente estremeci com ele.
— Como?
— Faça uma mala, Isabella.
Deus, sua voz era fria, até gelada.
Eu não tinha o direito de questionar seu humor nas horas
que se seguiram a tal perda que abalou o mundo, mas ainda levei
um segundo para respirar fundo, então agi por compaixão, não
por orgulho ferido.
— Estamos indo para algum lugar? — Eu perguntei.
— Você está.
— Para onde estou indo? — Eu perguntei, o estômago
girando.
— Com o seu irmão.
— O que? Não.
— Não foi um pedido, — disse Primo no mesmo tom frio e
neutro.
— Eu não vou para a casa do meu irmão. Eu pertenço a este
lugar.
— Você vai. Faça uma mala ou vista as roupas do seu
irmão. Sua escolha.
— Primo, não. Preciso estar aqui. — Para ajudá-lo a aceitar
sua perda de uma forma menos destrutiva.
Isso mostrou o quão longe nós avançamos em tão curto
período de tempo. Porque a mulher que fui há uma semana ou
mais atrás não teria feito uma única pergunta, não teria nem
mesmo precisado fazer uma mala, teria simplesmente saído
correndo porta afora e voltado para minha família.
Mas eu não queria fazer isso.
Não queria deixar Primo sozinho em sua dor. Além disso, eu
simplesmente não queria ir embora. Eu me acostumei com a ideia
de tentarmos de verdade. E agora ele queria acabar isso?
Não.
Já era tarde demais.
— Você vai. Andando com seus próprios pés, ou jogada por
cima do meu ombro, mas você vai.
— Primo, — eu tentei novamente, a voz suave, pegando a
mão que ele estava descansando no balcão, mas ele a puxou e
me deu as costas, voltando a enviar mensagens de texto em seu
telefone.
— Você vai ter que me arrastar, — eu disse, movendo-me
atrás dele. — Não vou deixá-lo voluntariamente agora, —
informei, pressionando meu rosto em suas costas e deixando
meus braços deslizarem ao redor dele.
Ele me deixou fazer isso.
Por alguns longos segundos antes de ele se soltar dos meus
braços.
— Como quiser, — disse ele, encolhendo os ombros.
— Não faça isso, — eu disse, a voz assumindo um tom
derrotado.
— Está tudo pronto.
— Primo, — eu suspirei, agarrando seu braço, forçando-o
a me encarar. — Pare.
— Vá buscar suas coisas, — disse ele, mal me lançando um
olhar. — Você vai sair daqui.
Eu era uma boa pessoa, caramba.
Eu tinha compaixão.
Nunca gritaria com alguém que acabou de ter um ente
querido assassinado.
Bem, sempre fui assim de qualquer maneira.
Não havia como negar, porém, que quando minha boca se
abriu novamente, eu absolutamente gritei.
— Aguentei muita merda sua. Mas ser um idiota completo
comigo quando estou tentando ser legal com você porque alguém
querido seu morreu não vai ser outra dessas coisas. Olhe para
mim, droga, — eu explodi, empurrando a mão em seu peito para
forçar sua atenção. — Seu irmão morreu, — eu disse, baixando
a voz.
— Estou muito ciente disso, Isabella.
— Você precisa se dar uma chance de sofrer.
— Não preciso que me digam o que preciso fazer.
— Claramente, sim. Isso, — eu disse, acenando com a mão
para ele e sua aparência perfeitamente composta, — isso não é
normal, Primo.
— Não é problema seu.
— Você vê isso? — Eu disse, acenando minha mão
esquerda para ele. — Isso diz que é a porra do meu problema,
ok? Você não gosta, é uma pena. Construa uma máquina do
tempo, volte e não me sequestre e case comigo. Eu não sei o que
te dizer. Mas estou aqui agora. Você não vai me afastar.
— Você vai sair daqui.
— Eu não vou, — eu disse, na verdade cruzando os braços
para ele. — Você não vai me afastar.
— Eu estou mantendo você segura, porra, — ele gritou,
qualquer controle que ele tinha sobre suas emoções finalmente
explodindo. E por mais assustador que Primo no modo de raiva
fosse, eu o preferia ao Primo frio e trancado em qualquer maldito
dia da semana. — Não consegui manter Terzo seguro. Eu não vou
perder você também.
Lá estava.
Eu sabia que estava lá embaixo.
Mas eu precisava que ele fosse aberto sobre isso.
— Primo, você não pode se culpar pelo que aconteceu com
seu irmão, — eu disse a ele, avançando, pressionando as duas
mãos contra seu peito.
— Claro que posso, — ele disse, a voz baixa, um som áspero
enquanto seu olhar deslizava para mim. — Quem diabos mais é
o culpado? — Ele acrescentou, seus dedos deslizando pelo meu
quadril por um segundo antes de sua mão cair novamente. — É
meu trabalho manter todos seguros. Eu tenho que mantê-la
segura, Cordeirinho, — ele disse, os olhos torturados.
— Ok, primeiro de tudo, não, você não é o culpado. A única
pessoa culpada é quem estava atirando em vocês. Em segundo,
você é um único homem, Primo. Você não pode proteger a todos
ao mesmo tempo. Isso simplesmente não é possível.
— Ele era meu irmão, — disse Primo, fechando os olhos
com força.
— Eu sei. Mas você não o está honrando, afastando todos
os outros.
— Não estou tentando te afastar. Estou tentando te
proteger, — disse ele, com um braço em volta da minha cintura.
— Você pode me manter aqui, — eu o lembrei. — Eu vou até
entrar na sala do freezer idiota quando você sair, se quiser. Mas
não me faça ir. Quero estar aqui por você. Quer dizer, não sei o
que fazer ou como ajudar. Mas vou descobrir e então ajudar.
Primo respirou profundamente enquanto seu braço se
apertava ao meu redor.
— Você está ajudando, — disse ele, a voz firme.
— Vamos. Vamos voltar para a cama, — eu disse. Claro, eu
pessoalmente não sabia muito sobre o luto, mas sabia que a
maioria das pessoas ia para a cama durante isso.
— Eu não posso. Há muito o que fazer.
— Deixe outra pessoa fazer isso.
— Eles não podem. Eu tenho que fazer. Sou o chefe. E eu
sou o parente mais próximo, — acrescentou ele, fazendo meu
coração quebrar por ele.
Fazer os preparativos para o funeral na manhã de Natal.
— Vai sair hoje? — Eu perguntei, sabendo que eu tinha que
aceitar sua maneira de lidar com tudo.
— Não. Eu tenho que falar com meus... com Dawson e
Dulles. Mas lá embaixo.
— OK. Você comeu? — A isso, recebi um bufo. — Que tal
você se sentar e farei algo para você, ok? — Eu ofereci.
Posso não saber como consolar o luto, mas sabia que as
mulheres da minha família sempre mostraram que se importam
com comida. O que me deu algo para fazer, então não me senti
completamente inútil.
— Ok, — ele concordou, pressionando um beijo no topo da
minha cabeça antes de ir.
A tristeza tornou seus passos mais lentos, seus ombros
mais caídos. E quando ele se sentou, ele caiu, quase como se
suas pernas não fossem mais segurá-lo.
Eu podia ouvi-lo ao telefone enquanto cozinhava e, pelo que
parecia, era com a casa funerária.
Ao final, Vissi foi quem se juntou a mim na cozinha,
parecendo tão destruído e sem sono quanto Primo estava. Na
ausência de Primo na noite anterior, imaginei que o peso da
família pousou nos ombros de Vissi desde que Terzo se foi.
— Como ele está? — Perguntou, aceitando café quando eu
o passei para ele.
— É o Primo. Ele não vai dizer exatamente como ele está.
Mas está... acho que ele está processando. Sem reprimir, mas
lidando à sua maneira.
— Há muitas mortes em nossas vidas, — disse Vissi. —
Muitos homens próximos a ele morreram. Mas acho que todos
nós sempre pensamos que estaríamos isentos disso. Terzo levou
uma bala que era para Primo, — explicou Vissi. — Primo se
abaixou para pegar um carregador que ele deixou cair no exato
segundo em que a bala atingiu Terzo, de um ângulo que dizia que
provavelmente teria atingido Primo em vez de seu irmão se ele
não tivesse se abaixado. Ele provavelmente está se sentindo
culpado por isso também.
— Lá tinha... mais alguém...? — Eu perguntei. Eu já sabia
que Dawson e Dulles estavam bem. E Vissi, já que ele estava bem
na minha frente. E embora eu não conhecesse bem todos os
outros homens, conhecia alguns deles bem o suficiente para ficar
um pouco triste se eles tivessem partido.
— Temos um em estado crítico, mais dois com ferimentos à
bala, mas são menores.
— Você... você sabe quem foi? — Eu perguntei, sabendo
que não deveria fazer perguntas como “você matou algum deles?
Alguém vai pagar por isso?”
Com isso, o maxilar de Vissi apertou.
— Eu lamento.
— Não lamenta tanto quanto quem quer que seja quando
Primo pôr as mãos neles.
Isso era verdade.
— Ele tentou me fazer ir embora.
— Você deveria, — disse Vissi, balançando a cabeça. — Isso
não acabou. Ninguém quer que você corra perigo.
— Eu não vou a lugar nenhum. Este é o meu lugar.
Para isso, a sobrancelha de Vissi se ergueu e o indício de
um sorriso apareceu em seus lábios.
— Então, você não é mais uma prisioneira mantida pelo
carcereiro dela, hein? — Ele perguntou. — O chefe encontrou seu
até-que-a-morte –os-separe afinal?
— Bem, quero dizer, eu realmente prefiro não morrer, — eu
disse, revirando os olhos. — Mas este é o meu lugar. Estou aqui.
Nas horas boas e más.
Eu não sabia então, quão ruim ainda poderia ficar.
CAPÍTULO DEZESSETE

Primo

Passei a manhã de Natal fazendo planos para o funeral do


meu irmão morto enquanto olhava para a árvore que Isabella
tinha tão meticulosamente montado e decorado.
Eu queria que esta manhã fosse algo especial para nós. Esse
era o plano depois que a noite com sua família tinha corrido tão
bem.
Havíamos chegado a um ponto de inflexão e eu queria
continuar dando passos largos na direção certa com ela. Eu
queria acordar cedo e fazer o café da manhã de Natal, sabendo
que ela iria insistir em fazer o jantar. Eu queria sentar com ela
no sofá e assistir a filmes de Natal e discutir como seria bom ter
um filho conosco no ano seguinte.
Eu queria felicidade e novas tradições.
E eu tive morte e tristeza em vez disso.
A noite anterior foi um pouco confusa em minha mente.
Os únicos momentos verdadeiramente claros foram quando
as balas começaram a voar, e eu sabia que precisava deixar
Isabella segura, e ouvi-la gritar por mim enquanto ela era
arrastada para longe.
E então, o momento em que vi uma bala abrir um buraco
na cabeça do meu irmão.
Eu conhecia o luto na minha vida. Tudo começou com tios
e primos sendo mortos a tiros quando eu era criança. Então a
morte da minha mãe. Os amigos que passaram a fazer parte da
Família comigo já se foram.
A morte, a dor e os funerais eram uma parte normal da
minha vida.
Mas era diferente com Terzo.
Um irmão.
E não um idiota como o outro que foi morto.
Terzo era duro e frio, mas ele era um bom homem. Ele era
atencioso, leal e trabalhador. Eu ingenuamente pensei que
sempre o teria ao meu lado.
Esta vida era cruel e curta e ninguém tinha garantia de
segurança contra ela.
Exceto Isabella.
Ela estava fora dos limites.
Não, esta nova geração de criminosos nem sempre respeitou
a santidade da família como no passado. Eles sequestraram,
estupraram e extorquiram para conseguir o que queriam.
Dito isso, eu enviaria uma porra de uma mensagem muito
clara.
Minha esposa, e meus filhos algum dia, estavam fora dos
malditos limites.
Qualquer um que os ameaçasse chamaria a morte de
misericórdia quando eu terminasse com eles.
Eu os faria engasgar com o próprio sangue, implorando para
que eu colocasse uma bala entre seus olhos e acabasse com seu
sofrimento.
Mas eles não encontrariam nenhuma maldita compaixão de
minha parte.
Quando finalmente morressem, lentamente e com tanta dor
quanto o corpo humano pudesse suportar, eu deixaria claro para
qualquer outra pessoa que ameaçasse o que era meu que eles
poderiam esperar exatamente o mesmo fim.
Eu falhei em proteger meu irmão.
Não falharia em proteger minha mulher.
Eu fui direto para ela depois. Depois que os policiais me
tiraram do corpo sem vida de Terzo para me fazer perguntas
fúteis sobre meus negócios, sobre meus inimigos, como se eu
algum dia tivesse deixado a lei cuidar de meus problemas.
Depois de tudo terminou, foi a Isabella a quem recorri.
E foi Isabella quem me abraçou, que limpou o sangue do
meu corpo, que esteve lá para mim mesmo quando não tinha
recebido um monte de razões para dar a mínima para mim e
minha dor.
Foi Isabella quem acordou em pânico, procurando por mim.
E Isabella que bateu o pé e cruzou os braços com a ideia de eu
mandá-la embora.
Foi Isabella quem me preparou o café da manhã enquanto
eu dizia à agência funerária qual caixão eu precisava para meu
irmão e que horas funcionava melhor para o funeral.
Também foi Isabella que se enrolou comigo no sofá mais
tarde, sem fazer nenhuma exigência, apenas sentada comigo,
descansando a cabeça no meu peito, acariciando com sua mão
para cima e para baixo em meu braço ou peito.
Eu não me importava quanto tempo demorava ou quanto
sangue eu tinha para derramar, eu acabaria com todo o cartel
que estava vindo por mim e os meus.
Eu iria pegá-la e mantê-la segura.
— Primo, — disse Vissi, tirando-me dos meus pensamentos
turbulentos, trazendo-me de volta ao momento.
— O que?
— A vizinhança está assustada, — disse, dando de ombros.
As balas haviam passado por algumas janelas. Felizmente,
as únicas vítimas foram uma TV e uma almofada do sofá. Ambos
seriam substituídos assim que as lojas abrissem novamente.
Além disso, os proprietários conseguiram algum dinheiro extra
para suas preocupações.
— Sim, eu aposto, — eu concordei, suspirando.
Como um todo, minha vizinhança era boa. Leal. Eles sabiam
que eu cuidava deles, então eles, por sua vez, viraram suas
cabeças e se preocuparam com meus negócios. Dito isso, eu
nunca tive um maldito tiroteio nas ruas como aquele antes. Eu
entendi que eles estavam com medo. Por si próprios, por seus
filhos.
Minha mente estava nas mesmas coisas.
— E se a vizinhança ficar impaciente o suficiente, —
raciocinou Vissi, odiando ser racional, mas eu não estava
operando no meu auge naquele momento, — eles vão começar a
falar com a lei.
— Eu sei, — eu concordei. — O principal problema na noite
passada foi que os vigias estavam em casa com suas famílias. Eu
estava me sentindo altruísta. Percebi que, já que estava levando
Isabella para casa para ver sua família, não precisava de tantos
guardas na rua como de costume. Essa foi a minha falha. Isso
não aconteceria novamente.
— E acho que muitos deles sabem disso. Uma vez que
muitos dos vigias são da vizinhança, — disse Vissi, dando de
ombros. — E todos correram para ajudar quando ouviram os
tiros. É apenas uma bagunça. As pessoas estão particularmente
chateadas porque é Natal.
— Podemos usar o Natal como desculpa para dar algum
dinheiro a todos, — disse eu, encolhendo os ombros.
Eu não morava na melhor área.
Escolhi ela de propósito.
Primeiro, porque em áreas ruins, as pessoas tendem a
fechar os olhos para a atividade criminosa de baixo nível, desde
que não as afete.
Havia também muitos jovens com fome de ganhar a vida e
ter um nome para si próprios. Razão pela qual consegui ter tantos
vigias desde o princípio.
Também mantive o crime predatório fora da área. Os
traficantes de drogas cruéis, os cafetões abusivos, as gangues
que poderiam sugar seus filhos e cuspi-los no complexo
industrial da prisão em poucos anos, cumprindo penas de prisão
perpétua porque não havia saída depois que você entrava.
Além disso, eles apreciavam qualquer pessoa que entrasse
e retribuísse à comunidade. A igreja permaneceu aberta graças
quase só às minhas doações. A despensa de comida estava cheia
de meus homens deixando suprimentos. Eu fazia entregas de
brinquedos todo Natal e cestas toda Páscoa. Até criei um
programa para ajudar a manter as crianças locais alimentadas
durante os verões quando as aulas acabavam, e os pais não
tinham dinheiro suficiente para fornecer as refeições que as
escolas costumavam fazer.
Era pedir demais esperar seu silêncio por um maço de
dinheiro de Natal? Pode ser. Mas se esse dinheiro viesse com a
promessa de lidar com o problema e garantir que isso não
continuasse acontecendo, eu tinha certeza de que a moral da
vizinhança iria melhorar.
— Isso significaria que você teria que ir à igreja hoje, chefe,
— disse Vissi. — Tem certeza que está pronto para isso?
Honestamente, eu não estava.
Me sentia horrível.
Mas aquela igreja esteve lá para mim em alguns dos meus
momentos mais difíceis enquanto crescia.
Seria bom para mim ir receber uma mensagem edificante.
Além disso, nunca perdi a missa de Natal.
Só fiquei desapontado por não poder levar Isabella comigo.
Mas ela precisava estar em casa, onde eu pudesse pelo
menos garantir que ninguém poderia chegar até ela. Pelo menos
não sem que houvesse um monte de disparos que chamariam
minha atenção de qualquer maneira.
— Tudo bem. Pegue os cartões e o dinheiro. E algumas mãos
extras. Não temos muito tempo.
Com isso, começamos a trabalhar enchendo os envelopes.
— Não, não parece nem um pouco suspeito, — disse Vissi,
balançando a cabeça enquanto cada um de nós pegava as sacolas
gigantes em que tínhamos que guardar todos os cartões.
Eu estava deixando Dawson e Dulles com Isabella, depois
vários outros guardas ao redor do prédio, bem como os vigias que
se ofereceram para faltar à manhã de Natal com suas famílias
para me ajudar a garantir que todo o bairro ficasse seguro.
Ela estava mais segura do que Vissi e eu estaríamos.
Mas estava tudo bem.
Eu prefiro ter os guardas nela, não comigo.
Pelo menos eu sabia que se eu fosse levado, alguém iria
levá-la a salvo para a casa de sua família, e eles seriam capazes
de mantê-la segura.
Então, Vissi e eu assistimos à missa. Eu fiz uma oração por
meu irmão. E então ficamos na porta, distribuindo o dinheiro
enquanto todos saíam.
Sem tiros. Sem nada.
Tudo estava bem.
Ou assim pensei.
Até que peguei o elevador até meu andar, esperando
dispensar meus irmãos, e logo levar Isabella para cima comigo.
Para ir para a cama. Conversar. Ou apenas dormir.
Eu só precisava de uma pausa.
Para processar.
Dormir.
Para voltar ao jogo.
— Isabella? — Chamei enquanto entrava na sala de estar.
Eu não pensei em nada disso imediatamente. Era difícil
ouvir se ela estava na banheira ou no chuveiro. Ela desceu
correndo para me procurar de manhã, então não teve tempo de
se arrumar.
Mas então as coisas começaram a não se alinhar.
Como se Dawson e Dulles também não estivessem em lugar
nenhum. E não era como se houvesse muito espaço no
apartamento para eles desaparecerem. Duvidei que os dois
estivessem usando o banheiro ao mesmo tempo.
Que porra estava acontecendo?
— Isabella? — Eu chamei, algo dentro de mim me dizendo
para correr.
Então corri, subindo as escadas para o segundo andar,
irrompendo no quarto.
Não encontrando nada, me virei em direção ao banheiro,
meu estômago apertando com força enquanto os cabelos da
minha nuca se arrepiaram. Eu não tinha nenhuma razão para
pensar nisso ainda, mas uma parte minha sabia que algo tinha
acontecido.
Respirando fundo, fui para o banheiro.
E aí estava.
Sinais de luta.
As roupas de Isabella de antes foram colocadas no cesto,
mas o par de calças e o suéter que ela deve ter escolhido para
depois do banho estavam espalhados no meio do chão. Seu estojo
de maquiagem estava derramado por todo o balcão.
E havia sangue no chão.
Havia sangue no chão.
Eu nem estava ciente do rugido me atravessando naquele
momento, mas deve ter passado, porque nem um minuto depois,
Vissi estava correndo para dentro da sala, arma em punho.
— O que aconteceu? — Perguntou Vissi.
— Eles se foram. Todos. E ela estava sangrando, — eu disse,
acenando em direção ao chão.
— Como diabos alguém pode entrar ou sair sem nenhum
dos outros guardas ver? — Perguntou Vissi.
Eu também não sabia, mas corri escada abaixo e desci até
o térreo para perguntar exatamente isso.
— Quem falhou? — Eu gritei, batendo o guarda ali na
parede. — Você saiu correndo para pegar alguns biscoitos e leite
ou algo assim? Quem não estava em guarda? — Eu gritei.
— Isabella se foi, — disse Vissi, traduzindo minha raiva. —
E também Dawson e Dulles.
— Dawson e Dulles partiram não muito depois de você ir
para a missa, — disse o guarda, com as sobrancelhas franzidas,
parecendo confuso.
— Que porra você... — comecei, então o soltei quando a
merda começou a vir para mim.
— Disseram que você mandou uma mensagem para checar
uma pista sobre o tiroteio e para garantir que ninguém entrasse,
— continuou o guarda, mas eu mal o ouvi.
— Não, — disse Vissi, balançando a cabeça, pensando na
mesma direção que a minha.
Mas sim.
Com certeza, sim.
A noite do assalto que teve Isabella sentada no armário
tremendo e eu atirei, Dawson estava lá, mas não Dulles. Ele não
apareceu até quase meia hora depois. E o tiroteio na noite
anterior? Dawson não esteve lá até o fim do tiroteio.
Um estava sempre por perto.
Criando um álibi para o outro.
— Porra, — eu resmunguei, passando a mão pelo meu
cabelo. — Porra! — Eu berrei.
Eu confiei a segurança dela para eles.
E eram eles que estavam ameaçando tudo o que tínhamos.
— Primo, cara, você precisa se acalmar. Você precisa
pensar.
— Eu preciso encontrá-la, então rasgar a porra de suas
gargantas é o que preciso fazer. E você pode ficar comigo ou não,
mas fique fora do meu caminho se não estiver.
— Eu estou com você, cara. Sempre. — Disse Vissi.
Depois de tudo isso feito, Vissi seria a coisa mais próxima
de uma família que eu teria.
Vissi e Isabella.
Se pudesse chegar até ela antes que algo acontecesse.
CAPÍTULO DEZOITO

Isabella

O que se usava enquanto preparava um jantar de Natal


discreto para o marido enlutado que acabara de perder o irmão?
Era uma pergunta que exigiu muito mais reflexão do que eu
poderia imaginar. Porque, obviamente, eu não queria me
fantasiar. Mas quase tão obviamente, eu também não queria
parecer completamente desalinhada.
Eu escolhi calças e um suéter verde simples.
Escolhi o vermelho primeiro porque funcionava melhor com
a minha coloração, mas depois pensei melhor, temendo que o
vermelho pudesse lembrar Primo de sangue. Então seria o verde.
E eu ia aplicar uma leve maquiagem depois do banho, só
um pouco de rímel e talvez um pouco de delineador. Achei que
talvez uma pitada de normalidade pudesse ser importante no
período de luto. Especialmente se Primo não fosse fazer o luto
pesado como muitos de nós faríamos. Se ele queria passar a
maior parte do dia, então me dar um pouco do luto à noite
quando estávamos sozinhos, tudo bem também.
Eu poderia acompanhar.
Mesmo que pessoalmente achasse que seria mais saudável
para ele sofrer como uma pessoa normal, não como um chefe da
máfia.
Eu coloquei minha calcinha e a regata que eu usaria sob o
suéter enquanto secava meu cabelo, em seguida, comecei a tirar
minha maquiagem.
Foi então que ouvi passos na escada.
Era muito cedo para a missa terminar, então sabia que era
melhor não esperar Primo.
Ainda assim, parecia um pouco estranho que Dawson ou
Dulles subissem sem me chamar primeiro. E tinha quase certeza
de que ninguém tinha chamado, a menos que o secador de cabelo
tivesse abafado.
Fiz uma pausa, pegando minha roupa, pronta para colocá-
la rapidamente enquanto esperava Dawson ou Dulles bater na
porta fechada do quarto.
Porque, com certeza, eles bateriam.
Ninguém simplesmente invadia o quarto de uma mulher.
O quarto da esposa de seu irmão.
Exceto, é claro, eles invadiram.
Meu estômago se retorceu com força enquanto meu
batimento cardíaco acelerava, sabendo de algum lugar bem no
fundo que algo tinha dado terrivelmente errado.
Ou melhor, que estava errado desde o início.
Porque lá estavam Dawson e Dulles, entrando no banheiro,
olhando para mim.
Mas esses não eram os mesmos homens que me levaram às
compras, que elogiaram minha culinária, que me protegeram,
supostamente, com suas vidas.
Eu os via como meus aliados, mesmo quando via Primo
como meu inimigo.
Eles foram o ponto forte em alguns dos meus dias mais
sombrios.
Mas esses homens que estavam na minha frente no
banheiro para onde não os convidei não se pareciam com os
mesmos dois de que comecei a gostar.
Havia algo frio e feio em seus olhos. E foi tão intenso que eu
achei difícil acreditar que nunca tinha visto um indício disso
antes. Como eles puderam esconder tanto ódio? Por que sentiam
esse ódio, para começar?
Meu batimento cardíaco martelou no meu peito enquanto
eu tentava me lembrar de respirar lenta e profundamente. Não ia
me ajudar a ficar tão assustada que parei de pensar
racionalmente.
— Ei, pessoal, — eu disse, mantendo meu tom leve. —
Avisem a garota, hein? — Eu disse, revirando meus olhos para
eles. — Não estou decente, — acrescentei.
— Decente o suficiente, — disse Dulles.
— É melhor você sem roupas de qualquer maneira, —
acrescentou Dawson, fazendo meu estômago embrulhar com a
implicação.
E tudo que eu conseguia pensar era Não.
Não, droga.
Eu estava finalmente começando a me acostumar com essa
vida. E, ouso dizer, gosto dela.
Eles não iriam arrancar tudo, transformar em algo horrível.
— Vamos, rapazes, me deem um segundo, — eu disse,
balançando minhas roupas como se quisesse me trocar. Quando
o que eu realmente queria fazer era correr para o armário e
encontrar uma das armas que eu sabia que Primo tinha
escondido em uma prateleira ao seu lado.
— Você não vai precisar delas, — disse Dawson, batendo no
peito de Dulles em uma demanda silenciosa.
— Não! — Eu gritei, jogando o braço, derrubando metade da
minha maquiagem por todo o balcão.
Eu precisava conseguir uma arma. Eu não teria chance
contra dois homens muito maiores do que se não tivesse algo com
que me defender.
Não havia nada por perto.
O espelho.
Mas de jeito nenhum eu poderia quebrá-lo e pegar um
pedaço para usar como faca antes que um deles me agarrasse.
O banheiro com um tanque pesado estava atrás deles.
E havia apenas... não havia mais nada.
O pânico tomou conta do meu corpo quando meu
desamparo completo e absoluto se tornou claro para mim.
Se eles pretendessem me levar a algum lugar, ou
simplesmente me estuprar e matar no meu próprio banheiro, eles
seriam capazes de fazer isso, e eu teria muito pouca chance de
impedir.
Ainda assim, isso não significa que iria ceder e aceitar.
Joguei minhas roupas em Dulles quando ele se aproximou
de mim, dando-me um segundo de distração para passar
correndo por ele, com a intenção de tentar entrar no quarto e, em
seguida, descer pela casa.
Se eu pudesse gritar pela janela ou descer as escadas,
alguém me ajudaria.
Eu tinha que acreditar nisso.
Nem todos os homens de Primo eram ruins.
Só esses dois.
Os outros me ajudariam.
Eu só precisava chegar até eles.
Contornando a banheira, peguei uma garrafa aleatória de
bolhas de banho e atirei-as com tudo que eu tinha em Dulles,
que havia jogado as roupas para longe e estava caindo em cima
de mim.
— Pelo amor de Deus. Chega disso, — Dawson grunhiu. E
antes que eu pudesse registrar o que ele estava fazendo, seu
braço se inclinou para trás e veio direto no meu rosto, colidindo
com o canto da minha boca.
A dor foi imediata, espalhando por todo o meu queixo
enquanto meus dentes batiam juntos. Foi muito forte já que o
sangue começou a encher minha boca antes mesmo de me dar
um golpe no meu lado.
Mal registrando o impacto, me levantei, tentando me
afastar, ficar em uma posição menos comprometedora.
— Não! — Eu gritei enquanto mãos agarraram meus
tornozelos. O sangue espirrou da minha boca e caiu no chão.
— Segure-a parada, porra — exigiu Dulles, a voz tensa.
Joelhos, e todo o peso do corpo de um homem muito maior
do que eu, pressionou minhas costas, prendendo-me no chão,
roubando meu fôlego para que eu não pudesse nem gritar quando
Dawson agarrou meu braço, torceu e o prendeu no chão.
Assisti com horror e impotência quando a mão de Dulles se
moveu em direção ao meu braço com uma agulha aberta entre os
dedos.
Um gemido sufocado escapou de mim quando apunhalou
minha veia.
Houve um momento de total descrença antes que não
houvesse mais nada.

Voltei a consciência em um estado estranho, semelhante ao


de um sonho, fazendo tudo parecer lento e confuso.
Meu estômago deu uma cambalhota, me fazendo pensar se
ia vomitar enquanto meus braços se agitavam, apenas para ficar
presa no pequeno espaço em que estava confinada.
A confusão me invadiu enquanto eu tentava acessar minhas
memórias, tentando entender onde estava e por que estava lá.
Meus dedos se moveram, traçando o material com o que
parecia um zíper do topo da minha cabeça até meus pés.
Uma mala?
Parecia uma mala.
Não.
Isso não fazia sentido.
Quero dizer, sim, meu irmão já foi um idiota insensível
completo quando éramos adolescentes e me colocou em uma
como uma “brincadeira” porque eu era tão pequena e franzina,
até que ele me ouviu gritar, então me tirou e se desculpou
profusamente enquanto me implorava para não contar à nossa
mãe.
Mas por que eu estava em uma mala agora?
Mesmo enquanto o pensamento se formava, eu podia sentir
a ansiedade começando a se formar. Tudo começou com uma
pressão no meu peito, depois uma sensação de estrangulamento
em volta da minha garganta. Seguindo rapidamente por trás
disso, meu batimento cardíaco começou a martelar tão rápido
que parecia que ia estourar para fora do meu peito.
Minhas mãos bateram e meus pés chutaram, toda lógica
sobre encontrar o zíper completamente abandonado em meu
pânico.
Felizmente, ou infelizmente, dependendo de como você
estava vendo toda a situação, toda a agitação teve alguém vindo
e começando a abrir o zíper para mim.
Mas esse alguém acabou sendo um rosto que meu instinto
me disse que eu não queria ver, embora eu não tivesse nenhuma
memória real do motivo.
Dawson.
Um rosto familiar.
Alguém que estava lá para me salvar, com certeza.
Salvar-me de quê?
Deus, o que havia de errado com minha memória?
Tudo parecia estranho e confuso e quando olhei para
Dawson por muito tempo, minha visão ficou estranhamente
dupla.
— Dawson? — Eu perguntei enquanto respirei fundo,
tentando pensar além da ansiedade da minha claustrofobia.
— A porra da merda nunca dura o suficiente, — resmungou
Dulles de sua posição a uma dúzia de metros de onde quer que
eu estivesse.
Por que não me lembrava de ter sido colocado na mala?
Certamente isso era algo que alguém que tinha medo de
pequenos espaços se lembraria.
E por que estava me sentindo tão estranha? Desligada e
nauseada, e a visão dupla que estava tornando a náusea ainda
pior. Como se estivesse de alguma forma em meu corpo, mas
também fora dele.
Isso soava muito como...
Drogas.
Alguém me drogou?
Mas por quê?
E onde estava Primo?
— Eu não... — Comecei encontrando meu cérebro se
movendo como melaço. Cada palavra parecia emperrar antes que
pudesse passar pelos meus lábios.
E, Deus, meu rosto doía.
Por que meu rosto doía?
Tanto por dentro quanto por fora.
Alguém me bateu? Eu tinha perdido um dente?
— Onde está Primo? — Eu consegui perguntar, tudo dentro
de mim dizendo que precisava dele, que ele explicaria, que ele iria
consertar, e iria cuidar de mim até que me sentisse melhor.
— Oh, ele estará aqui em breve, — disse Dulles enquanto
puxava uma arma da cintura. — E estaremos prontos para ele.
Não foram tanto as palavras que chegaram até mim, já que
meu cérebro não estava processando como eu precisava. Foi a
expressão nos olhos de Dulles quando disse isso. E quando olhei
para Dawson, vi o mesmo olhar sombrio e feio espelhado ali.
— Prenda-o com força e faça-o ver a gente se divertindo com
ela, — disse Dawson, com um sorriso malicioso cheio de
promessas malignas.
Mas mesmo quando as palavras pousaram, quando meu
cérebro preguiçoso as registrou e me disse para correr, para fugir
do perigo, senti meu pulso sendo preso e uma algema se
apertando ao redor dele.
— Aposto que ela vai gritar, — disse Dulles, sorrindo
enquanto meu estômago revirava.
Não.
Isso não poderia estar acontecendo.
Dawson e Dulles? Eles eram os bandidos?
Mesmo enquanto meu cérebro tentava reconciliar isso,
pequenos flashes começaram a voltar para mim. Não muito.
Apenas a visão de Dawson e Dulles no banheiro principal. Em
seguida, um frasco de sabonete e, finalmente, uma agulha
enfiada em meu braço.
Eles me drogaram e sequestraram.
E, a julgar pela dor em meu rosto, me bateram também.
Por quê?
— Por quê? — Perguntei enquanto Dawson me arrastava em
direção a uma viga de suporte de metal, puxando meu braço livre
para trás e prendendo-me com as algemas.
— Por quê? — Dulles zombou, balançando a cabeça.
— Sim. Por quê? Ele é seu irmão, — eu insisti, a raiva
crescendo. Eu gostava de raiva. A raiva me levaria a lugares que
o medo não faria. Pelo menos esperava que sim, de qualquer
maneira.
— O que? Só porque o pai dele fodeu a nossa mãe? —
Perguntou Dawson.
— Como se ela pudesse escolher, — acrescentou Dulles.
Eu não sabia muito sobre essa história. Eu sabia que os
gêmeos tinham uma mãe diferente que criou os meninos longe
do pai de Primo por muitos anos. Eu também sabia que ela estava
morta. Mas isso era tudo que eu sabia. Não parecia exatamente
um tópico que alguém quisesse discutir.
— Quem você acha que matou nossa mãe, hein? —
Perguntou Dawson.
— Primo não, — eu disse, certa disso. Sim, ele era um
bastardo implacável, mas também tinha código moral.
— Não, nosso velho, — disse Dulles, balançando a cabeça.
— Não gostou de não saber que tinha mais dois filhos crescendo
sem ele. Se vingou da nossa mãe e depois nos trouxe junto com
os outros. Sabe como era aquela casa? Inferno. Puro inferno.
Golpes diários, gritos e nos fazer sentir como merda.
— Eu não entendo, — eu disse, balançando a cabeça. —
Primo matou seu pai. — Por todas essas razões, eu tinha certeza.
Ao que tudo indica, o ex-chefe da Família Esposito era um
monstro do mal. Ninguém, nem mesmo seus próprios filhos,
muito menos o filho que o matou, lamentou sua morte.
— Então se tornou igual a ele, — disse Dulles, a voz áspera.
— Não. Não como dele.
— Frio, cruel, mau... — Dulles continuou.
Parecia que eles estavam se descrevendo naquele momento.
— Apesar de todos os seus defeitos, ele nunca drogou uma
mulher e ameaçou agredi-la, — insisti, orgulhosa de quão forte
minha voz soava, apesar das circunstâncias.
— Como diabos você sabe? — Dawson perguntou, fazendo
meu estômago apertar com a ideia do homem que eu estava
começando a pensar que poderia realmente estar me
apaixonando por machucar outra mulher. — Ele deu um belo
show com você. Protegendo sua honra e tal. Maldita vadia
estúpida esquecendo-se de que ele te sequestrou e a forçou a se
casar.
— Ela tem alguma merda do tipo Estocolmo, — Dulles
concordou, balançando a cabeça. — Desde que ele começou a
transar com ela. Um pouco de pau a faz perder a porra da cabeça,
— ele acrescentou, balançando a cabeça. — Eu me pergunto se
um pouco mais pode fazê-la recuperá-lo, — disse ele, balançando
a fivela do cinto no que só poderia ser considerado uma ameaça.
Não.
Absolutamente não.
Eu não seria estuprada pelos meios-irmãos mentalmente
instáveis do meu marido.
Esse não seria o meu destino.
Eu só tinha que pensar. Tinha que ser inteligente. Tinha
que ganhar tempo.
Tinha certeza de que Primo viria me procurar.
Só tinha que evitar que esses caras me tocassem até então.
Tinha que mantê-los falando, explicando por que eles
estavam fazendo o que estavam fazendo. As pessoas gostavam de
falar sobre si mesmas. Eles não pareciam diferentes.
— Quando? — Eu perguntei, tendo que limpar minha
garganta para manter meu tom calmo. — Quando você começou
a odiá-lo tanto? — Eu perguntei, olhando entre os dois.
— Ele era o mais velho, — disse Dulles, os olhos brilhando
intensamente. — Ele poderia ter nos protegido.
Mesmo que Primo fosse o mais velho, ele também foi vítima
de seu pai. Era ilógico esperar que Primo pudesse tê-los protegido
naquela época. Provavelmente foi por isso que, como adulto,
Primo puxou seus irmãos para perto, criando uma frente unida
com eles. Ele estava tentando compensar todas as vezes em que
não conseguiu protegê-los quando todos eram crianças morando
na casa de um tirano violento.
— Mas você trabalha com ele há anos, — insisti, balançando
a cabeça.
— Trabalhamos contra ele durante anos, — disse Dawson,
feliz em compartilhar como eles enganaram um homem que
nunca olhou para seus irmãos como criminosos, porque ele tinha
uma crença tão firme na lealdade que não seria capaz de
compreender os irmãos que o traiu. Especialmente quando ele
claramente tentou fazer o certo por todo o seu povo.
— Você o está roubando? — Eu perguntei, não muito
disposta a aceitar mais do que isso.
— Roubando. Fazendo alguns golpes cuidadosamente
colocados... — disse Dulles.
— Não esqueça de expulsar Vissi dos Estados Unidos, —
acrescentou Dawson.
— Vocês... foram vocês que atiraram em Terzo?
— Aquele idiota de merda, — disse Dulles, sacudindo a
cabeça.
Oh, Deus.
Pobre Primo.
Esse foi o pensamento dominante naquele momento.
Não só haviam assassinado seu irmão, mas nunca teve o
amor e o respeito desses dois que sempre pensou ter.
E, ao que parecia, ele poderia muito bem me perder.
E sua própria vida.
Sua dor com tudo isso seria avassaladora.
— Vocês têm trabalhado sozinhos? — Eu perguntei,
sabendo que precisava mantê-los falando, mesmo que cada
palavra que dissessem fizesse meu estômago revirar ainda mais.
— Inicialmente. Então encontramos alguns amigos, — disse
Dulles, com um sorriso malicioso. — Eles devem arrebanhar o
resto dos homens de Primo em breve.
A bile continuou subindo pela minha garganta, me
certificando que eu ficaria doente.
— Entendo que você quer machucar Primo. Quero dizer...
ele é um idiota, — eu disse, tentando me tornar querida para eles,
mesmo que eu odiasse falar besteiras sobre Primo para esses
idiotas de verdade. — Mas por que você quer me machucar? —
Eu perguntei.
— Por favor. Você tem transado com ele. Você também está
contaminada.
Contaminada.
Isso era simplesmente adorável.
— Mesmo que você pense assim, você realmente pensou
sobre isso? — Eu perguntei. — Seus amigos? Porque eu não sou
apenas uma Esposito, lembra? — Eu disse, observando enquanto
eles trocavam um olhar. E havia um toque de preocupação.
Mas então Dulles declarou. — Por favor, eles não te
salvaram de Primo. Eles não vão salvá-la de nós.
— A diferença é que escolhi ficar com Primo para acabar
com a guerra, — esclareci. — Não foi uma boa escolha, mas foi
uma escolha. Uma que minha família respeitaria, contanto que
nenhum mal me acontecesse. Isto? Isto não é o mesmo. Você me
machucou e eles virão atrás de você. Não sei se você conheceu
esse cara chamado Brio, que faz parte da minha família, — eu
continuei captando um olhar de medo real em seus olhos. — Mas
ouvi que uma vez ele meio que... você sabe... ferveu um homem
até a morte. E isso foi por causa de algum tipo de coisa de
dinheiro, não algo pessoal.
Eu podia ver sua alegria começar a vacilar com isso. Porque
qualquer pessoa que soubesse alguma coisa sobre a máfia de
Nova York sabia que Brio era um psicopata pervertido que ficava
literalmente feliz em encontrar maneiras novas e interessantes
de fazer as pessoas sofrerem e morrerem.
E ele fazia parte da minha família.
Mesmo que eu não tivesse uma ligação pessoal com ele, Brio
iria me defender por respeito aos meus irmãos.
Dulles deu uma olhada em Dawson, e então Dawson pegou
o telefone e se dirigiu para o canto mais distante do porão.
Bom.
Isso era bom.
Eu estava ganhando tempo.
Tempo para Primo saber o que estava acontecendo.
E, com sorte, chamar minha Família também, para aparecer
com força e acabar com isso de uma vez por todas.
Eu só precisava mantê-los distraídos e questionando a si
mesmos.
Do outro lado da sala, Dawson estava tendo uma discussão
animada, mas abafada, ocasionalmente lançando seu olhar na
minha direção, o que eu notei na minha visão periférica, já que
estava tentando ficar de olho em Dulles, que estava andando e
passando as mãos pelos cabelos.
Perdendo controle.
E isso não era algo que funcionaria a meu favor.
Eu precisava deles desequilibrados, não enlouquecidos.
Eles eram muito mais propensos a entrar em pânico e me
matar se estivessem perdendo o controle.
— Dulles, — chamei, fazendo-o estremecer e olhar para
mim. — Foi tudo falso? — Eu perguntei, tentando tornar minha
voz baixa e vulnerável.
— Tudo o que foi falso?
— Quer dizer, passamos muito tempo juntos quando eu...
vim morar com Primo. Nós saímos. Fazíamos compras e
comprávamos juntos. Eu cozinhei para você. Compartilhamos
histórias. Pareceu muito real para mim, — eu disse a ele, e havia
um pouco de tristeza genuína em minha voz, porque parecia real.
Eles foram a única parte decente da minha vida naqueles
primeiros dias de medo e incerteza. — Foi tudo falso?
Para isso, seus ombros caíram um pouco. — Não, — ele
admitiu. — Nem tudo era falso. Eu gostei de você, — ele admitiu.
— Eu também gostei de você. Vocês eram tudo que eu tinha.
Eu vi aquelas palavras penetrarem, atingirem algum lugar
dentro dele que ainda era humano o suficiente para sentir.
— Íamos salvar você, — admitiu Dulles. — Entregar você de
volta para sua família. Esse era o plano. Não gostamos de
envolver as mulheres em nosso negócio. Mas então, — ele disse,
o maxilar ficando rígido de novo, e eu sabia que ele estava prestes
a entrar em espiral, — mas então você começou a foder aquele
filho da puta. E você...
Ele não conseguiu terminar a frase.
Porque a porta do porão estava explodindo para dentro,
realmente rompendo as dobradiças e voando a vários metros de
distância.
E lá estava ele.
O homem que uma vez vi como meu inimigo, como um
castigo que eu teria que suportar.
Mas agora?
A pessoa mais bem-vinda do mundo para mim.
Não apenas porque ele iria me salvar.
Mas só porque era assim que as coisas mudaram para nós.
Eu queria vê-lo.
Queria voltar para casa com ele.
Queria lamentar com ele.
Ele parecia um anjo vingador naquele momento.
O olhar em seus olhos era de gelar os ossos, e não pude
deixar de ficar feliz por não estar recebendo esse tipo de raiva
cega.
Homens correram atrás dele, mas foi Vissi quem se
aproximou de mim.
— Feche os olhos, querida, — ele exigiu, usando seu corpo
para me proteger quando os gritos começaram. — Confie em
mim, você precisa fechar os olhos, — acrescentou ele quando não
obedeci imediatamente.
Eu não tinha dúvidas de que ele estava certo.
Que a imagem da tortura seria algo que me deixaria louca
até o fim dos tempos, não importa o quanto esses homens teriam
merecido.
Antes que a mensagem pudesse ser transmitida do meu
cérebro para os meus olhos, porém, estive impotente sem
alternativa a não ser assistir enquanto Primo puxava uma faca e
a cravava na garganta de seu irmão. Não na carótida, onde
morreria quase instantaneamente. Não. Em sua traqueia
propriamente.
Mesmo quando forcei meus olhos a fecharem, os sons
vindos de Dulles eram algo que eu sabia que iria me assombrar.
A respiração ofegante foi seguida pelo som dele sufocando com
seu próprio sangue, mesmo que houvesse outros ruídos de Primo
que indicavam que ele continuava a fazer... algo com seu irmão
até que, eventualmente, ouvi o estrondo de seu corpo batendo no
chão.
— Não. Não, Primo. Podemos conversar sobre isso, —
Dawson insistiu de onde, eu imaginei, ele tinha sido incapacitado
pelos outros homens de Primo.
— Você entrou na porra da minha casa, — Primo berrou, o
som tão alto que me fez estremecer, — e você se atreveu a colocar
as mãos na porra da minha mulher?
— Merda, — Vissi murmurou, e estive ciente de seu corpo
vindo para mais perto do meu apenas um segundo antes de suas
mãos tamparem os meus ouvidos. — Cante comigo, — ele exigiu,
bem quando começou a fazer exatamente isso.
Mesmo com nós dois cantarolando. Mesmo com suas mãos
pressionando meus ouvidos, os sons de Dawson perdendo sua
vida surgiram, me fazendo engolir em seco para não ficar enjoada
enquanto o homem gritava e implorava por misericórdia.
Mas Primo provou que não tinha nenhuma naquele
momento.
Pareceu uma eternidade que ele se vingou dos irmãos que
pensava serem leais, que provaram ser tudo menos isso.
Em algum ponto, as mãos de Vissi caíram dos meus ouvidos
e seu murmuro parou, embora eu não conseguisse parar o meu
próprio, alguma parte minha estava com medo de ouvir ainda
mais de algo que não queria.
Nas minhas costas, uma chave foi colocada na fechadura e
as algemas foram afrouxadas e puxadas de meus pulsos.
Meus braços caíram moles por um momento até que
consegui levantá-los, pressionando-os contra meu rosto
enquanto levantava meus joelhos para descansar minha cabeça.
Choque e medo, e quaisquer drogas ainda persistentes em
meu organismo pareciam me atacar de uma só vez, me mantendo
prisioneira em minha própria mente turbulenta.
— Isabella, — disse a voz de Primo, baixa, suave. De
qualquer maneira, suave para ele. Ele deve ter se ajoelhado na
minha frente. Ele parecia próximo. — Querida, — ele tentou
novamente, estendendo a mão, pressionando-a ao lado do meu
rosto.
— Você está bem, — ele insistiu, acariciando meu cabelo
com os dedos. — Fale comigo, Cordeirinho, — ele exigiu, a
preocupação escoando em sua voz.
— Não me sinto bem, — admiti.
— Que tipo de não me sinto bem? O que eles fizeram? — Ele
perguntou, a raiva crescendo em sua voz novamente, e juro que
se ele pudesse ressuscitar seus irmãos para machucá-los um
pouco mais, ele o faria.
— Eles... havia uma agulha, — eu admiti, estendendo meu
braço. — Eu desmaiei, — acrescentei. — Estou enjoada. —
Embora, admito, possa ter sido tanto pelos sons de tortura e
morte quanto pelas drogas.
— Cetamina, provavelmente, — disse Vissi. — Isso é o que
aqueles bastardos que me levaram até a Itália estavam
negociando.
Primo praguejou baixinho enquanto suas mãos se
estendiam para mim, me puxando contra ele, me segurando
como se eu fosse algo precioso.
— Vai passar em meio dia, — ele me prometeu. — Mas
podemos levá-la para casa para você tentar dormir.
— Não! — Eu gritei, o corpo sacudindo. — Não, não
podemos ir para casa.
— Por quê?
— Eles disseram... eles disseram que ia haver uma
emboscada.
— Shh, querida, não, não vai.
— Não, eles disseram isso, — eu insisti.
— Eu sei. Está bem. Não haverá emboscada. Liguei para
Lorenzo Costa pessoalmente, — disse ele, referindo-se ao Capo
dei Capi de toda a máfia. — Todas as famílias estão se unindo
nisso. Se algum deles ainda estiver vivo, não estará pela manhã.
Acabou. Está tudo acabado, — ele prometeu, os braços apertando
ao meu redor, enquanto erguia meu corpo enquanto se levantava.
— Oh, — eu disse, dando um suspiro de alívio. — OK.
Vamos para casa então, — eu disse, descansando minha cabeça
em seu peito.
— Você ainda me quer? — Ele perguntou, a voz vulnerável.
— Mesmo depois de tudo isso?
— Não posso evitar, — admiti, respirando fundo, vendo os
vestígios de sangue, sim, assim como sua colônia, mas também
apenas... ele, um cheiro em que eu estava ficando um pouco
viciada, se estivesse sendo completamente honesta. — Acho que
posso realmente estar me apaixonando por você, — eu admiti,
estremecendo com a forma como essas palavras soaram, mas
sabendo que não havia outra maneira de dizê-las.
— Isso é conveniente, Cordeirinho, porque eu te amo pra
caralho.
CAPÍTULO DEZENOVE

Primo - 1 dia

Não ia ser fácil.


Não houve como voltar atrás nos acontecimentos do Natal
daquele ano.
Havia mais morte e sangue, medo e raiva, e tristeza do que
já senti antes em minha vida.
Mas por baixo de tudo isso, havia Isabella.
Voltamos para casa e entramos na banheira juntos, apenas
abraçados em silêncio, um pouco em choque com os eventos das
últimas vinte e quatro horas.
Depois ela dormiu inquieta, se virando e revirando em meus
braços, gritando, atormentada por coisas que ela não conseguia
deixar de sentir, deixar de ver ou não ouvir.
Agradeço a Deus por Vissi com seu raciocínio rápido para
dizer a ela para fechar os olhos, cobrir os ouvidos, para fazê-la
cantarolar, para abafar os sons do que estava acontecendo. Eu
sabia que Isabella tinha muito poucas ilusões sobre o tipo de
homem que eu era e, especialmente, o tipo de chefe que era. Mas
não precisava que ela testemunhasse em ação enquanto eu
cortava a língua de um irmão mentiroso. Ou como cortei o brasão
da Família Esposito que todos os meus homens tinham tatuado
neles enquanto ele ainda estava vivo. E não precisava que ela
visse ou ouvisse enquanto o estrangulava até a morte, vendo sua
vida sumir dele minuto a minuto.
Seu destino teria sido a morte, não importa como sua
deslealdade viesse à tona.
Mas a ferocidade disso era devido a Isabella.
Nunca senti pânico como quando soube que ela foi levada,
quando não tinha ideia do que estava sendo feito com ela ou se a
encontraria a tempo.
Foi Vissi quem conseguiu permanecer lógico enquanto eu
perdia o controle. Foi ele quem me lembrou de que não havia
nenhuma maneira de Dawson ou Dulles levar Isabella para seus
apartamentos, que ficavam do outro lado do corredor em um
prédio alto. Haveria muitos vizinhos lá.
— E parece muito pessoal para isso, — ele raciocinou. — O
que é mais pessoal para você e eles?
Então eu tive uma compreensão ofuscante.
Claro.
Claro que eles iriam levar isso de volta para onde tudo
começou para eles.
O porão da casa de arenito onde todos as nossas agressões
da infância e adolescência aconteceram para que os vizinhos não
criassem juízo e recorressem aos serviços infantis pelo meu pai.
Eu ainda era o dono do lugar. Eu me certifiquei de que
alguns homens fizessem a manutenção dele para ter certeza de
que não desmoronaria, mas não tinha pisado dentro dele desde
o dia em que assassinei o homem que o transformou em uma
casa de horrores para todos os seus filhos.
Era para onde Dawson e Dulles a levariam.
Isso fecharia o círculo completo.
Eles iriam machucá-la lá porque eles foram feridos lá.
E me culparam por isso.
Inferno, eu me culpei por isso.
Mas pensei que havíamos superado toda aquela merda nos
anos após o assassinato de nosso pai.
Claramente, estive terrivelmente enganado.
E quem sofreu? Todos os outros com quem me importava,
que jurei proteger.
Vissi precisou deixar sua vida para trás.
Terzo tinha perdido a sua.
E Isabella estava ferida e traumatizada.
Felizmente, cheguei lá antes que eles realmente causassem
muitos danos. Qualquer dano era inaceitável, é claro, por isso
suas mortes foram lentas, dolorosas e aterrorizantes. Mas, além
de um hematoma no rosto, o dente quebrado e os efeitos
colaterais das drogas, ela estava bem.
Ela acordou quando tentei silenciosamente sair da cama
nas primeiras horas da manhã. E embora ela não tenha dito isso
em voz alta, ela claramente sentiu que precisava estar o mais
perto possível de mim. Ela era minha sombra, bem nos meus
calcanhares enquanto me movia pela casa.
Havia problemas que eu precisava lidar.
Mas joguei a responsabilidade em Vissi, que entendia minha
necessidade de cuidar da minha mulher.
— Primo? — Isabella perguntou de onde estava deitada no
meu peito enquanto eu acariciava meus dedos por seus cabelos.
— Sim, querida?
— Podemos nos mudar? — Ela perguntou, me
surpreendendo o suficiente para me fazer estremecer. — Não
agora, — ela se apressou em adicionar. — Eu só... este não é um
bom lugar para nós. Devíamos começar de novo em outro lugar.
— Se você quiser mudar, nós podemos mudar. Vou cuidar
disso amanhã.
— Vissi disse que o lugar... para onde fui levada... que era...
— Sim. Essa era a minha casa de infância, — eu disse, meu
braço apertando em torno de sua cintura.
— Você ainda é o dono?
— Sim.
— Por quê?
— Honestamente, não sei, — admiti. Não era como se fosse
barato ter uma casa de arenito. Claro, não era tão caro quanto
uma em Manhattan seria, mas não era pouco dinheiro que eu
gastei no lugar.
— Você acha que uma parte sua queria voltar?
— Era uma casa do inferno, — eu disse a ela.
— Mas você se apegou a ela. Poderia ter sido a casa dos
sonhos de outra pessoa, mas você a segurou. Você acha que uma
parte sua talvez estivesse considerando, você sabe, mudar a
narrativa que você tinha dela?
— Honestamente, não sei, Cordeirinho. Eu realmente não
pensei sobre isso.
— Você quer pensar sobre isso? — Ela perguntou. — Tudo
bem se for um não. Tenho certeza de que existem milhares de
outros lugares na área para onde podemos nos mudar. Mas
parece significativo que você tenha se agarrado a ela. E
poderíamos, você sabe, destruir o lugar. Fazer com que não tenha
nenhum vestígio do passado. Depois, criar crianças saudáveis e
felizes lá. Quebrar o ciclo ligado a ele.
— Crianças? — Eu perguntei, esperançoso.
— Bem, Primo, minha mãe está esperando pelo menos
quatro netos de cada um de seus filhos.
— Somente quatro? — Eu perguntei, pressionando um
beijo em sua testa.
— Bem, o número é negociável, — disse ela, virando a
cabeça para me dar um sorriso suave.
De repente, eu podia ver nossos filhos correndo ao redor do
pequeno quintal cercado atrás da casa de arenito enquanto
Isabella e eu nos movíamos pela cozinha fazendo o jantar. Eu
podia nos ver decorando uma grande árvore na janela da frente.
Eu podia nos ver subindo as escadas íngremes para os quartos.
Eu podia ver tudo tão vividamente.
— Ok, — eu disse, balançando a cabeça. — Vamos fazer
isso.
Isabella - 1 mês

Eles precisavam criar uma nova palavra para quão exausta


eu estava.
Eu estava gastando cada minuto livre do meu dia na casa
de arenito com os empreiteiros e os designers.
Quando Primo concordou com meu plano ligeiramente
insano, prometi a mim mesma que removeria tudo que pudesse
até mesmo, de passagem, lembrá-lo de seu pai e de seus irmãos
mortos.
Isso significava que estávamos até mesmo refazendo o
layout dos dois andares superiores.
O nível do porão, onde um dos homens de Primo havia
trabalhado incansavelmente para remover manchas de sangue e,
em seguida, pintar o chão, seria uma sala segura. Foi uma
contribuição de Primo. Ele queria que houvesse um lugar seguro
onde pudesse colocar eu e as crianças se algo acontecesse.
Ele iria lidar com os planos para isso, uma vez que não era
meu forte, mas ele deixou o resto para mim completamente. E eu
pulei de cabeça.
Claro, tínhamos contratado uma equipe completa, e muitos
dos homens de Primo também arregaçaram as mangas, mas eu
não queria ficar parada sem fazer nada. Eu estava lá, lixando,
pintando e até quebrando todo o cimento horrível do quintal dos
fundos, querendo espaço para ter um gramado. Para as crianças.
Talvez até um cachorro algum dia.
Eu resmunguei enquanto tomava um banho rápido quando
voltei para casa, embora minha mente estivesse em comida e me
sentando por cinco minutos depois de ficar de pé o dia todo.
Enquanto eu descia as escadas, o cheiro de molho já estava
enchendo o apartamento.
E lá estava ele.
O homem com quem fui forçada a me casar, um homem que
jurei que odiaria até o fim dos tempos, mas tinha começado a
amar a uma profundidade que eu nem sabia que existia antes.
Ele era o homem que murmurava para mim através dos
meus pesadelos, que sempre pensava em mim primeiro, que era
leal, protetor e incrivelmente generoso.
— Ei, — eu disse, dando a ele um sorriso. — Eu ia começar
o jantar.
— Vissi disse que você esteve trabalhando duro o dia todo.
Eu posso lidar com o jantar, — ele disse, encolhendo os ombros.
— O que você está fazendo?
— Ravióli, — ele me disse, gesticulando em direção às
bolinhas de massa já alinhadas ao lado do fogão, esperando para
tomar um banho de calor para cozinhar.
— Isso parece incrível, — eu disse. — O que é isso? — Eu
perguntei enquanto Primo puxava uma pequena caixa do bolso e
colocava no balcão ao lado de onde eu estava encostada. — Não
acho que confio nesse olhar, — acrescentei quando ele se
aproximou um pouco mais, algo perverso em seus olhos escuros.
Eu não diria que as coisas voltaram ao normal entre nós. A
tristeza e o trauma ainda pairavam sobre nós, e provavelmente
ainda estariam por um bom tempo. Mas nós encontramos nosso
caminho de volta para momentos mais leves e fáceis, para
encontrar alegria e conforto um no outro e o relacionamento que
só conseguia ficar mais forte a cada dia que passava.
E uma das coisas que só ficou cada vez melhor para nós era
o sexo. Agora que paramos de fingir que não queríamos.
De certa forma, fazer sexo como uma válvula de escape
normal e saudável tornava todas as outras coisas mais fáceis de
lidar.
Então meu corpo acelerou com a maneira como ele se
aproximou ainda mais de mim, uma promessa sombria naqueles
olhos quentes.
— Você está cozinhando o jantar, — eu o lembrei.
Com isso, ele agarrou minha calça e calcinha e puxou-a
para baixo das minhas pernas.
— Eu só quero um pouco de aperitivo primeiro, — disse ele,
caindo de joelhos e colocando uma das minhas pernas sobre o
ombro, em seguida, não perdendo tempo quando começou a
lamber e chupar meu clitóris.
Mas, como o monstro que ele era, apenas quando eu estava
perto, ele se afastou, um brilho perverso em seus olhos enquanto
se levantava.
— Ainda não, — ele me disse enquanto suas mãos se
estendiam, me virando para longe dele, então me inclinando para
frente sobre o balcão.
Eu estava vagamente ciente de que ele estava abrindo a
caixa, e acho que imaginei que fosse um vibrador ou algo assim.
Mas todo o meu corpo estremeceu quando algo pequeno e frio
pressionou dentro de mim, fazendo meus músculos se
contraírem instintivamente.
Um som baixo e estrondoso passou por Primo quando ele
começou a empurrar o que quer que fosse dentro e fora de mim
em movimentos lentos e controlados até que eu estava
choramingando e balançando meus quadris, precisando de mais.
Mas então isso escapou de mim pela última vez, movendo-
se para trás e para cima, pressionando contra minha bunda
quando eu finalmente entendi.
Um plug.
Era um plug.
Mesmo enquanto pensava, no entanto, estava deslizando
para dentro de mim, criando uma sensação nova e inesperada.
Assim que entrou, Primo deu um passo para trás,
estendendo as duas mãos para massagear minha bunda por um
segundo.
— Está ok, — ele disse, então se virou e se foi.
Ele se afastou.
— O que você está fazendo? — Eu disse, virando meu
pescoço para vê-lo caminhando em direção ao fogão, misturando
o molho e despejando um pouco de óleo na água fervente.
— Fazendo o jantar.
— Você não pode me deixar assim, — eu disse, uma
estranha risada sufocante me escapando.
— Claro que eu posso. Eu acabei de deixar, Cordeirinho.
— Mas…
Ele se virou para mim ao ouvir isso, seu olhar deslizando
do meu rosto para minha bunda com o plug, e um baixo e
primitivo som grunhido escapou dele que me fez pressionar
minhas coxas para aliviar a dor que crescia dentro de mim.
— Venha aqui, Cordeirinho, — ele exigiu.
— O que? Eu não posso...
— Venha aqui, — ele exigiu, tom um pouco mais firme. E
caramba se meu corpo não reagiu a esse tom autoritário.
Me ergui e virei, sentindo a sensação estranha e cheia
enquanto me movia.
O sorriso malicioso que brincou em seus lábios disse que
ele conhecia a sensação estranha e proibida que estava crescendo
em meu corpo enquanto me movia em direção a ele.
— Seja uma boa garota e faça a salada para o jantar, — ele
exigiu quando cheguei perto.
— O que? — Eu perguntei, confusão e desejo se misturando
em meu corpo para limpar todos os pensamentos racionais.
— Faça a salada, querida, — disse ele enquanto sua mão
vagava pela minha espinha para apertar um lado da minha
bunda. — E quando você estiver morrendo por isso e implorando,
então você pode ter meu pau em sua bunda, — ele disse, dando
um tapa forte na minha bunda, em seguida, virando-se e
voltando para o ravióli.
Sem ter certeza se era possível querer que ele fodesse minha
bunda o suficiente para implorar, decidi jogar o jogo dele, me
afastando e depois começando a preparar salada.
No momento em que eu tinha todos os vegetais picados,
porém, não havia como negar o fato de que meu corpo estava
implorando para ser fodido.
O plug tinha de alguma forma criado essa estranha
plenitude que pressionava contra minhas paredes internas,
fazendo minha boceta doer de desejo.
Eu estava tão molhada quando coloquei a salada na mesa
que foi quase constrangedor.
— Chega de tentar fingir que não está morrendo por mim?
— Primo perguntou enquanto pegava o ravióli da panela e
colocava em uma travessa.
— Sim, — eu admiti, colocando minha palma sobre a mesa
enquanto eu respirava lenta e calmamente.
— Diga, por favor, Cordeirinho, — ele disse enquanto se
aproximava de mim.
— Por favor, — eu disse imediatamente, sem nem mesmo
um pingo de hesitação.
Aquele grunhido baixo o atravessou novamente quando ele
se aproximou.
— Vire-se, braços sobre a mesa, — ele exigiu.
Eu nem pensei. Apenas fiz o que me foi dito. Porque sabia
que isso acabaria com a necessidade de um orgasmo.
Eu ouvi o zíper deslizando para baixo, então senti a cabeça
grossa de seu pênis deslizando entre meus lábios, roçando meu
clitóris latejante, então penetrando a minha boceta.
Com força.
Profundo.
E aquela pequena plenitude extra do plug fez um gemido
alto escapar de mim, o som vibrando nas paredes do apartamento
quando Primo começou a me foder.
— Tão molhada pra caralho, — ele gemeu quando uma de
suas mãos apertou minha bunda enquanto ele empurrava antes
de deslizar para dentro para brincar com o plug.
Apenas girando no início.
Em seguida, agarrou e começou a empurrar para dentro e
para fora da minha bunda, cada movimento maior à medida que
meu conforto com a sensação aumentava.
Até que, de repente, o plug se foi e seu pau estava
pressionando contra mim.
— Diga, Isabella, — ele exigiu enquanto a cabeça
pressionava levemente para dentro.
Eu sabia o que ele queria ouvir.
E o que eu precisava sentir.
— Foda minha bunda, — exigi apenas um segundo antes de
senti-lo deslizar dentro de mim.
Ele foi inesperadamente lento e controlado no início, dando
ao meu corpo o tempo necessário para se ajustar, usando
pequenos movimentos que fizeram sua respiração ficar acelerada
e superficial enquanto ele lutava para se controlar.
Não demorou muito, porém, para que eu estivesse além de
precisar que ele fosse suave e doce comigo.
— Primo, por favor, — eu choraminguei, balançando minha
bunda contra ele.
Isso era tudo que ele precisava.
Sua mão se estendeu, agarrando meu cabelo na nuca,
usando-o para me arrastar até minhas costas colidirem com seu
peito, então percebi uma mão forte que fechou em volta do meu
pescoço que não machucou ou cortou o ar, mas tinha apenas a
dose certa de possessivo.
— Você é tão gostosa, Cordeirinho, — ele murmurou
enquanto começava a foder minha bunda. Mais forte e mais
rápido do que eu poderia imaginar que gostaria. Mas, Deus, eu
estava gostando.
Eu nunca senti uma pressão tão forte quanto senti naquele
momento, essa necessidade profunda e dolorida que fez meus
choramingos se transformarem em gemidos altos, e até mesmo
em apelos pelo meu orgasmo.
Com um gemido, a mão livre de Primo se moveu entre
minhas coxas, dois dedos empurrando em minha boceta, virando
e acariciando minha parede superior enquanto seu polegar
pressionava contra meu clitóris.
Os pensamentos e as palavras se foram.
Tudo o que restou foi a sensação.
E esse gemido profundo e primitivo enquanto ele me levava
cada vez mais perto dessa borda.
— Goze para mim, Cordeirinho, — ele grunhiu, soando que
também estava perto.
Seu pau empurrava, seus dedos acariciavam e seu polegar
pressionava.
E eu simplesmente... estilhacei.
Parecia como se tivesse explodido em um milhão de pedaços
quando o orgasmo de zona tripla atingiu meu corpo, roubando
meu fôlego, ou talvez fosse a mão de Primo, e fazendo todo o meu
corpo tremer enquanto as ondas continuavam batendo sem
parar.
— Merda, — Primo assobiou, saindo de mim, dobrando-me
para frente e gozando na minha bunda quando meu orgasmo
finalmente diminuiu. — Porra, querida, — ele sussurrou, sua
mão batendo na minha outra bunda enquanto ele soltou um
longo e profundo suspiro. — Você é perfeita pra caralho, —
acrescentou ele, fazendo meu coração palpitar um pouco, como
sempre acontecia quando ele me elogiava. O que ele fazia com
surpreendente frequência.
— Primo? — Chamei alguns segundos depois.
— Sim, querida?
— Você pode me limpar? — Eu perguntei. — Quero jantar
agora, — disse a ele, arrancando uma risada profunda do homem
que jurei que odiaria para sempre, mas não podia negar que
estava perdidamente apaixonada.

Primo - 1 ano

Tínhamos feito o impossível para deixá-la pronto a tempo


para o Natal.
No início dos planos, Isabella era quase totalmente
responsável pela reforma da casa de arenito.
Só depois de sete meses é que ela declarou: — Estou muito
gorda e cansada para fazer qualquer coisa, exceto comer bolacha
recheada na frente da TV.
E assim, eu e meus homens assumimos, tentando terminar
a tempo para o Natal.
O primeiro Natal do nosso filho.
Ele era um bebê do Dia de Ação de Graças, nascido apenas
alguns dias antes para que a mãe e a irmã de Isabella pudessem
vir e cozinhar para nós um banquete de Ação de Graças inteiro
enquanto estávamos sentados na cama, maravilhados com a vida
que criamos juntos.
Isabella tinha insistido que já tínhamos o suficiente, que
poderíamos simplesmente deixar a casa ser um projeto contínuo,
mas eu sabia quão importante era para ela ter nosso primeiro
Natal como uma família de três pessoas na nova casa.
Então eu fiz funcionar.
E então, assim que mudamos, ela começou a trabalhar
enfeitando-a para o Natal com seu estilo exagerado, mas elegante,
que deixou todo o lugar transbordando de calor e alegria que eu
tenho que admitir que nunca realmente consegui experimentar
quando estava crescendo.
Havíamos passado a noite anterior na casa da mãe de
Isabella, deixando todo mundo murmurar sobre nosso bebê. Ela
estava hesitante no início porque seria “muito barulhento e
opressor”, mas achei que toda a vida da criança seria assim,
então nós fomos. E apesar de todo o barulho, ele dormiu como
um anjo na maior parte do tempo, apesar de em quantos braços
diferentes ele se encontrava.
Na manhã de Natal, porém, foi em nossa nova casa.
Concedido, o bebê tinha apenas um mês de idade, então não
era como se nós tivéssemos qualquer grande história do Papai
Noel para contar ou maravilha de olhos arregalados para
testemunhar. Mas parecia certo aninhar-se em frente a uma
lareira e nossa árvore, ouvindo nosso bebê arrulhar às luzes
cintilantes na árvore enquanto recebíamos visitas ocasionais de
Vissi e alguns de meus parentes mais distantes, bem como
alguns dela.
Incluindo Emilio.
Que, embora parecesse permanentemente diferente do
desamparo e raiva que sentia por toda a situação do casamento,
se tornou um tio amoroso e dedicado.
Ele trouxe o que devia ser toda a seção de brinquedos de
bebê para ele, bem como cartões-presente do spa para Isabella e
ofertas para cuidar do bebê quando ela fosse, e até uma garrafa
de uísque para mim.
Provavelmente nunca seríamos melhores amigos.
Mas era um início.
— Quem diabos é? — Eu resmunguei quando a campainha
tocou pelo que parecia ser a décima vez naquela manhã.
Antes mesmo que pudesse me levantar para ver quem era,
no entanto, houve passos no corredor.
E de repente, o filho da puta mais louco de Nova York estava
na minha sala de estar.
Segurando um maldito cachorrinho.
— Olá, mamãe, — Brio Costa cumprimentou Isabella, que
parecia uma mistura de absolutamente apaixonada pelo
cachorrinho de orelhas gigantes e pernas atarracadas, mas
também preocupada. Talvez eu não a deixasse ficar com ele. —
Crianças deveriam ter um cachorrinho ao crescer, — ele declarou
enquanto estendia a mão, traçando a guirlanda sobre a porta com
os dedos. — Achei que seria um bom primeiro presente de Natal.
Você tem um quintal e tudo isso, — ele acrescentou, encolhendo
os ombros. — Você tem um quintal, você tem que ter um cachorro
para ele. É uma regra.
E com isso, ele largou o cachorro no colo de Isabella,
caminhou até nosso filho e deu-lhe um aceno de cabeça. — Feliz
Natal, homenzinho, — disse ele. E então ele se foi tão
repentinamente quanto veio.
— Que porra foi essa? — Eu perguntei, me sentindo um
pouco sacudido com toda a situação.
— Sim, ah, aparentemente, isso é coisa de Brio agora, —
disse Isabella, balançando a cabeça com a aparência estranha de
seu primo distante. — Ele apenas... traz animais para as pessoas.
Como se ele estivesse fazendo contato com a comunidade para os
abrigos locais ou algo assim, — acrescentou ela, sorrindo
enquanto esfregava a cabeça do filhote.
— Sim, — eu disse, lendo sua mente. — Nós podemos ficar
com ele, — eu disse, observando enquanto ela me lançava um
sorriso radiante.
Parecia certo.
Uma casa para construir novas memórias.
Uma esposa que eu amava mais do que sabia que era capaz.
Um filho que era apenas um de muitos, esperávamos.
Um quintal.
E um cachorro.
Pareceu-me um grande começo para sempre.

Fim.
Se você está CURIOSO
sobre como:

Lorenzo Costa tornou-se capo dei capi? -> The Woman in


the Trunk.

Como Alessa Morelli foi sequestrada e salva? -> The Woman


in the Back Room.

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