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Jesse L. Wright, Monica R. Besco & Michael E.

Thase (2008):
Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental. Artmed Editora
Caso clínico Ed (p 54 a 57)
Ed é um homem de 42 anos que começou o tratamento de TCC depois de passar
por um segundo episódio de depressão. Sua primeira crise de depressão ocorreu cerca
de dois anos atrás, quando atravessava um divórcio. O tratamento com um
antidepressivo e a terapia de apoio foi útil para reduzir os sintomas de depressão. No
entanto, Ed lembra que “perdeu muito de sua confiança” após o divórcio e nunca voltou
ao estado de bem-estar que havia conquistado antes de ter dificuldades conjugais. Ele
parou de tomar os antidepressivos depois de cerca de nove meses de tratamento.
Ed estava namorando Gwen há cerca de dois anos e achava que o
relacionamento estava indo bem. Assim, a decisão dela de terminar o relacionamento
porque “não estava levando a nada” pegou-o de surpresa. Durante os três meses que se
seguiram ao rompimento com Gwen, Ed percebera um aumento constante nos sintomas
de depressão. Tinha muito pouca energia, uma falta de interesse por suas atividades
habituais (jogar tênis com os amigos, ler, cozinhar) dormia mal à noite, uma tendência a
querer ficar na cama de manhã, dificuldade para se concentrar e organizar seu trabalho e
isolamento social. Sua auto-estima sofrera um abalo considerável com o rompimento e,
agora, Ed estava tendo muitos pensamentos automáticos negativos sobre sua
competência básica e o merecimento de ser amado. Felizmente, não estava tendo
pensamentos suicidas. Ele dava grande valor a seu relacionamento com sua filha e
também tinha orgulho de seu trabalho como editorialista de jornal. Ed estava
esperançoso de que poderia se beneficiar com o tratamento e aprender a controlar sua
depressão.
A infância de Ed foi marcada por um relacionamento problemático com seu pai.
Embora relatasse que amava seu pai, que estava se aposentando e vivendo em outro
Estado, sua vida familiar foi dura. Seu pai passara por grande instabilidade profissional,
sendo demitido de muitos empregos diferentes, e também sofrera de depressão por
muitos anos, intermitentemente. Ed se lembrava de seu pai como um homem muito
negativo que estava quase sempre irritado e às vezes extremamente crítico e
verbalmente abusivo. Enquanto crescia, Ed preferia passar o tempo na casa de seu
amigo Kevin. Ele parecia “ter tudo” – uma ótima família, dinheiro, talento atlético,
entre outras coisas. Ed via a si e a sua família como fracassados.

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Apesar de seus problemas em casa, Ed se saiu bem no colégio e teve sucesso na
equipe de atletismo. Ele continuou a participar do atletismo quando foi para a faculdade,
mas nunca ficava satisfeito com seu desempenho. Durante seu primeiro ano na
faculdade, teve alguns problemas acadêmicos. No entanto, interessou-se muito por
jornalismo, começou a escrever par ao jornal da escola e conseguiu melhorar
substancialmente seu boletim de notas. Nos últimos 12 anos, Ed tem sido o editorialista
de um jornal.
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A conceitualização de caso mostrada na Figura 3.3 reúne as principais
observações do Dr. Thase sobre a história e a patologia cognitivo-comportamental de
Ed para desenvolver uma hipótese de trabalho e um plano para implementar a TCC.
Como se observa, o Dr. Thase decidiu acrescentar um antidepressivo ao tratamento. Ed
tinha depressão recorrente, uma forte história familiar dessa doença e estava
apresentando sintomas suficientes para sugereir que uma abordagem combinada poderia
ser a melhor escolha. Os elementos cognitvo-comportamentais do planto terapêutico
doram direcionado para reverter os baixos níveis de atividade, a falta de interesse e o
isolamento social, além de ajudá-lo a nelhorar sua auto-estima e modificar crenças
nucleares negativas.

Os dois exemplos de formulações de caso apresentados aqui demonstram


consceitualizações típicas da TCC para o tratamento de transtornos de ansiedade e
depressão. Em cada exemplo, o terapeuta reúne observações do funcionamento atual do
paciente, sua história durante o desenvolvimento e seu histórico biomédico, articulando
uma hipótese consistente com o modelo cognitivo-comportamental. Os planos de
tratamento decorrem diretamente da hipótese de trabalho e fundamentam-se em
construtos específicos da TCC para o tratamento de ansiedade e depressão.

Resumo
A avaliação para TCC inclui todas as tarefas habituais para realizar uma
avaliação inicial, incluindo obter uma história detalhada., avaliar os pontos fortes do
paciente e realizar um exame do estado mental. No entanto, é dada atenção especial à
evocação dos padrões típicos de pensamentos automáticos, esquemas e comportamentos
de enfrentamento e ao discernimento da adequação do paciente para a TCC. Como a
TCC demonstrou ser eficaz para uma grande variedade de quadros clínicos – incluindo

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depressão maior, transtornos de ansiedade e transtornos alimentares – e poder se somar
aos efeitos da medicação no tratamento de transtornos psiquiátricos graves (por
exemplo, esquizofrenia e transtorno bipolar), há muitas indicações para essa abordagem
de tratamento.
É sugerido um ponto de vista cognitivo, comportamental, social e biológico
amplo para a formulação de caso e planejamento do tratamento. Para desenvolver uma
conceitualização refinada e altamente funcional, os terapeutas precisam:
1. realizar uma avaliação detalhada;
2. desenvolver uma análise seccional dos elementos cognitivo-comportamentais
das situações estressoras típicas da vida atual do paciente;
3. considerar as influências longitudinais (isto é, do desenvolvimento) nas
crenças nucleares e estratégias comportamentais habituais do paciente;
4. formular uma hipótese de trabalho;
5. elaborar um plano de tratamento que direcione as técnicas eficazes para TCC
para os problemas-chave e pontos fortes do paciente.

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