03 Procedimento-Pericial ANIMA

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PROCEDIMENTO PERICIAL

Professor Me. Jacques Vissoky


Perícia Médica: Pressupostos

• Situação em que o médico não confia no


periciando e este não confia no médico.
• Não existe uma relação médico-paciente e nem
qualquer intenção terapêutica ou curativa.
Ato Médico Pericial

Parecer do Conselho Federal de Medicina nº 09 /2006:

“O exame médico-pericial é um ato médico. Como tal, por


envolver a interação entre o médico e o periciando, deve o
médico perito agir com plena autonomia, decidindo pela
presença ou não de pessoas estranhas ao atendimento efetuado,
sendo obrigatórias a preservação da intimidade do paciente e a
garantia do sigilo profissional, não podendo, em nenhuma
hipótese, qualquer norma, quer seja administrativa, estatutária
ou regimental, violar este princípio ético fundamental.”
Ato Médico Pericial
Vedar a presença do advogado da parte é cerceamento de defesa?

“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. EXAME PERICIAL.


PRESENÇA DO ADVOGADO. DESNECESSIDADE. INEXISTENCIA DE CERCEAMENTO
DE DEFESA OU ILEGALIDADE. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 343 DO STJ. AGRAVO
REGIMENTAL. I – Cabe à parte indicar assistente técnico para acompanhar a realização da
prova pericial. O auxiliar poderá participar dos atos periciais, bem como apresentar parecer,
se entender necessário. II – A ausência de indicação de assistente técnico pelo interessado,
a fim de acompanhar o trabalho do expert, não pode ser suprida pela participação do
advogado durante a realização do exame pericial, por ausência de previsão legal. III – Não
há ilegalidade ou cerceamento de defesa na decisão agravada, vez que restou garantida a
realização da perícia médica, necessária a comprovação do direito do agravante, que afirma
ser portador de diabete, hipertensão arterial, dislipidemia, hiperuricemia, gota com
artrite e artrose em punho e cotovelo. IV – Afastada a alegação de violação à Súmula 343
do STJ, dirigida ao servidor público acusado em processo administrativo disciplinar, não
guardando qualquer relação com o caso dos autos. V -Agravo não provido. VI – Agravo
regimental prejudicado.”( AI 22787 SP 2009.03.00.022787-1) (meu grifo).
Laudo Pericial

• O laudo pericial é um tipo de prova que apresenta fundamentos


técnicos e científicos visando o esclarecimento de
determinados fatos.
• O perito deve limitar-se a abranger o campo técnico da sua
atuação, de forma objetiva, sem subjetividade ou juízos de valo
(opinião sobre a correção ou incorreção de algo, ou da utilidade
de algo, com base em um ponto de vista pessoal).
• O laudo pericial esclarece as questões técnicas controvertidas
ou obscuras, sendo um dos componentes (mas não o único)
para o convencimento do magistrado.
Laudo Pericial

• O Código do Processo Civil vigente (2015) tem a prova pericial mais rigidamente
disciplinada. No seu art. 473 foram elencados todos os requisitos que o laudo
pericial deveria obrigatoriamente conter:

Art. 473, CPC. O laudo pericial deverá conter:

I – a exposição do objeto da perícia;


II – a análise técnica ou científica realizada pelo perito;
III – a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser
predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual
se originou;
IV – resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes
e pelo órgão do Ministério Público.
Laudo Pericial

O laudo pericial tem valor absoluto?

Não, pois o juiz não está vinculado ao laudo, isto é, não é


obrigado a aceitá-lo ou as suas conclusões. O artigo 436 do
Código de Processo Civil versa:

"Art. 436. O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo


formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados
nos autos".
Laudo Pericial

Medicina Baseada em (E)vidência?

A Medicina Baseada em Evidência


(MBE) tem como pilar sólido as
evidências das pesquisas clínicas. No
topo da evidência estão as revisões
sistemáticas dos ensaios clínicos
controlados e randomizados, além
dos próprios ensaios. Seguem a
revisão sistemática de estudos de
coorte os estudos de caso-controle e,
quase na base da pirâmide, relato de
casos.
Laudo Pericial

Alternativa à MBE (ou o que não deve ser feito):

Medicina baseada em Eminência (quanto mais


experiente, menos atenção às evidências e mais fé
na experiência clínica)

Isaacs D, Fitzgerald D. Seven alternatives to evidence-based medicine. BMJ. 1999;319:1618.


Laudo Pericial

Alternativa à MBE:

Medicina baseada em Veemência (a substituição


do volume pela evidência é uma técnica efetiva
para o convencimento)

Isaacs D, Fitzgerald D. Seven alternatives to evidence-based medicine. BMJ. 1999;319:1618.


Laudo Pericial

Alternativa à MBE:

Medicina baseada em Eloquência (a elegância ao


vestir-se e a retórica persuasiva são substitutos
poderosos à evidência)

Isaacs D, Fitzgerald D. Seven alternatives to evidence-based medicine. BMJ. 1999;319:1618.


Laudo Pericial

Alternativa à MBE:

Medicina baseada em Providência (deixar nas


mãos do Todo-Poderoso)

Isaacs D, Fitzgerald D. Seven alternatives to evidence-based medicine. BMJ. 1999;319:1618.


Laudo Pericial

Alternativa à MBE:

Medicina baseada em Difidência (o médico


desconfiado pode não fazer nada por aflição)

Isaacs D, Fitzgerald D. Seven alternatives to evidence based medicine. BMJ. 1999;319:1618.


Laudo Pericial

Alternativa à MBE:

Medicina baseada em Nervosismo (o medo de litígio é um


grande estímulo para o excesso de exames)

Isaacs D, Fitzgerald D. Seven alternatives to evidence-based medicine. BMJ. 1999;319:1618.


Laudo Pericial

Alternativa à MBE:

Medicina baseada em Confiança (privativa dos


cirurgiões)

Isaacs D, Fitzgerald D. Seven alternatives to evidence-based medicine. BMJ. 1999;319:1618.


Laudo Pericial

Um roteiro básico (que deve obrigatoriamente constar):

• Data do laudo e número do processo; nome do perito e


CRM; consignar a presença de assistente técnico (se
houver)

• Identificação: nome do periciado, RG, sexo, idade, data


de nascimento, estado civil, escolaridade, profissão,
última atividade de trabalho
Laudo Pericial

Um roteiro básico (que deve obrigatoriamente constar):

• História da doença atual (queixa e motivo da


incapacidade alegada, registrando a causa, quando se
iniciou, o tempo de evolução, o tratamento efetuado e a
evolução clínica)
• História clínica pregressa, história familiar e social
• História laboral pregressa
Laudo Pericial

Um roteiro básico (que deve obrigatoriamente constar):

• Exame clínico: pressão arterial, frequência


cardíaca, altura, peso
• Exame físico
• Exames complementares (laboratório, imagens)
Laudo Pericial

Um roteiro básico (que deve obrigatoriamente constar):

• Diagnóstico (s) – incluir CID


• Conclusão:
• Se há Incapacidade ou não, se temporária ou definitiva
• Determinar DID (data do início da doença) e DII (data
do início da incapacidade)
Laudo Pericial

Estabelecimento das datas técnicas

DID (data do início da doença): quando não puder ser


determinada com precisão de dia, mês e ano, é fixada na época
provável do início, sendo a data em que surgiram as primeiras
manifestações ou as manifestações que levaram o doente a
procurar o médico ou quando tomou conhecimento da patologia.
DII: (data do início da incapacidade): quando as manifestações
do eventual diagnóstico impedem o desempenho das funções
específicas da atividade laborativa.
Laudo Pericial

Cuidados ao estabelecer as datas técnicas

• A data do início da incapacidade não pode ser fixada


em exame complementar (imagem, p. ex.) não
conclusivo
• A data do início da incapacidade, preferencialmente,
não deve ser fixada somente no relato da parte autora
• A data do início da incapacidade = data do início da
doença quando for por um acidente
Laudo Pericial

A conclusão também pode indicar

• Se há incapacidade temporária e recomendar nova


avaliação pericial em...
• Se há incapacidade total e permanente, insuscetível de
reabilitação desde...
• Se há necessidade de assistência permanente de
terceiro desde...
• Se permanece alguma aptidão, embora com redução
da capacidade por sequela consolidada desde...
Laudo Pericial
Após a conclusão, responder aos quesitos (perguntas que as
partes ou o juiz fazem ao perito, para esclarecimento de fatos
constantes no processo, mas restritos à matéria pericial técnica.
Lembrar que a pergunta formulada pode ser tendenciosa, já que é
feita para evocar uma resposta que será parte dos fundamentos
ou argumentação do que está sendo pedido no processo.
Quando o perito entender que determinado quesito não possui
resposta, não está diretamente ligado à área da perícia médica
solicitada ou não guarda nexo com o objetivo do laudo pericial, ele
indica que aquela resposta resta prejudicada. Em outras palavras,
naquele ponto específico o perito entendeu que não seria possível
avaliar, fazendo com que seu entendimento sobre aquela questão
tenha sido prejudicado.
Estabelecendo o Nexo Causal

Condições para o entendimento de um nexo de causa


• Deve haver uma sequência plausível entre algum evento (ou atividade) e
suas consequências
• Deve haver uma adequação lesiva, ou seja, a lesão deve ter sido
produzida por um determinado traumatismo (ou atividade)
• Deve haver algum critério estatístico ou epidemiológico que justifique o
aparecimento de tal lesão ou doença
• Deve haver um critério topográfico bem definido, ou seja, o local do
trauma (ou doença) tenha alguma relação com a sede da lesão
• Deve haver uma relação de temporalidade – critério cronológico definido
• Deve haver um encadeamento ou lógica anatomoclínica
• Deve haver a exclusão de outras causas
Estabelecendo o Nexo Causal

à O Nexo Causal (ou liame causal)


é, portanto, o elo que une uma
causa e um efeito.
Estabelecendo o Nexo Causal

Perguntas a serem respondidas pelo perito

• Houve, de fato, algum evento traumático ou exposição


que justifique as queixas (ou diagnóstico)?
• É possível confirmar que o periciado não apresentava
quaisquer alterações prévias ao evento/exposição
alegado?
• O relato do trauma/exposição sofrido é compatível com
o dano alegado ou as sequelas?
Estabelecendo o Nexo Causal

E o que é um Acidente do Trabalho

De acordo com a Lei 8.213/91, em seu

• Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo


exercício do trabalho a serviço da empresa (...),
provocando lesão corporal ou perturbação funcional
que cause a morte ou a perda ou redução, permanente
ou temporária, da capacidade de trabalho.
Estabelecendo o Nexo Causal

São equiparadas ao Acidente do Trabalho

à As doenças profissionais (Art. 20 da Lei 8.213/91):

• I – doença profissional, assim entendida a produzida ou


desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada
atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo
Ministério do Trabalho e da Previdência Social
• II – doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho
é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da
relação mencionada no inciso I
Estabelecendo o Nexo Causal

São equiparadas ao Acidente do Trabalho

à As doenças profissionais (Art. 20 da Lei 8.213/91):

• No § 2° deste artigo: em caso excepcional, constatando-se que


a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II
deste artigo resultou das condições especiais em que o
trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a
Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho
Estabelecendo o Nexo Causal

E o Nexo Concausal?

à Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para


efeitos desta Lei:

• I – o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a


causa única, haja contribuído diretamente para a morte do
segurado, para a redução ou perda da sua capacidade para o
trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a
sua recuperação.
Estabelecendo o Nexo Causal

O que é a CAT e para que serve?

• A CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) é um


documento que formaliza ao INSS a notificação de um acidente
de trabalho ou doença decorrente do trabalho.
• Ela pode ser inicial, de reabertura (reinício do tratamento ou
agravamento de lesão de acidente de trabalho ou doença
ocupacional).
• Há, também, a CAT de comunicação de óbito.
Estabelecendo o Nexo Causal

Qual o prazo para a comunicação da CAT

• Lei 8.213, Art. 22. A empresa deverá comunicar o


acidente de trabalho à Previdência Social até o 1°
(primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso
de morte, de imediato à autoridade competente, sob
pena de multa variável (...).
Estabelecendo o Nexo Causal

Quem pode emitir a CAT

Lei 8.213, Art. 22.

• § 2° Na falta de comunicação por parte da empresa, podem


formalizá-la o próprio acidentado, seus dependentes, a
entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou
qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes casos o
prazo previsto neste artigo.
Estabelecendo o Nexo Causal

Como se considera a data da doença ocupacional

Lei 8.213, Art. 23. Considera-se como dia do acidente, no caso de


doença profissional ou do trabalho, a data do início da
incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual, ou
o dia da segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o
diagnóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro.
Estabelecendo o Nexo Causal

Em resumo, a lei acidentária contempla o nexo causal


do acidente com o trabalho em três modalidades:
Causalidade direta: acidente ocorrendo “pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa”
Concausalidade: fatores múltiplos (do trabalho e fora deste, de maneira simultânea)
Causalidade indireta: o fato gerador do acidente não está ligado à execução do serviço, mas
a lei estende a cobertura do seguro para maior proteção ao empregado (acidente de trajeto,
casos fortuitos [fatos ou eventos imprevisíveis ou de difícil previsão, que não podem ser
evitados, mas que provocam consequências ou efeitos para outras pessoas, porém, não
geram responsabilidade nem direito de indenização], desabamentos, etc.)

(Sebastião Geraldo de Oliveira, Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional, 9. ed., 2016, p. 163)
Critérios de Schilling

Categoria I: trabalho como causa necessária (nexo direto). Ex.:


doenças profissionais como pneumoconioses à nexo presumido
Categoria II: trabalho é concausa, como fator de risco contributivo, mas
não necessário. Ex.: LER/DORT, alguns cânceres, varizes MsIs, HAS
em alguns grupos ocupacionais ou profissões (natureza
epidemiológica) à nexo não presumido
Categoria III: trabalho é concausa, provocador de um distúrbio latente
ou agravador de doença já estabelecida ou pré-existente. Ex.: doenças
respiratórias e cutâneas de natureza alérgica à nexo não presumido

Schilling RSF. More effective prevention in occupational health practice. Journal of the Society of Occupational Medicine, 1984:39;71-9.
NTEP – NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO
PREVIDENCIÁRIO
• Foi uma proposta de um mecanismo auxiliar para a caracterização de acidente
ou doença decorrente do trabalho em uma tentativa de diminuir a subnotificação
de agravos.

• Trata-se de um cruzamento de informações da Classificação Internacional de


Doenças – CID 10 e do código da Classificação Nacional de Atividade
Econômica – CNAE, na tentativa de apontar eventual existência de relação entre
a lesão ou agravo e a atividade que o trabalhador desenvolve.

• Foi implementado nos sistemas do INSS a partir de abril de 2007 e, na sua


implantação, provou um aumento na ordem de 148% na concessão de auxílio-
doença de natureza acidentária (INSS, 2014).
NTEP – NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO
PREVIDENCIÁRIO
• A Lei n. 11.430, de 26.12.2006 introduziu o art. 21-A na Lei n. 8.213/91:
• “Art. 21-A. A perícia médica do INSS considerará caracterizada a natureza acidentária da
incapacidade quando constatar ocorrência de nexo técnico da empresa e a entidade mórbida
motivadora da incapacidade elencada na Classificação Internacional de Doenças — CID, em
conformidade com o que dispuser o regulamento. § 1º – A perícia médica deixará de aplicar o
disposto neste artigo quando demonstrada a inexistência do nexo de que trata o caput deste
artigo. § 2º – A empresa poderá requerer a não aplicação do nexo técnico epidemiológico, de
cuja decisão caberá recurso com efeito suspensivo, da empresa ou do segurado, ao Conselho
de Recursos da Previdência Social”.
• A principal crítica é que esse dispositivo legal criou uma presunção absoluta de nexo de caráter
estatístico entre as atividades da empresa e a doença do trabalho ou profissional alegada pelo
trabalhador em virtude de vinculá-la a esse critério epidemiológico. Esse critério nada mais é do
que um fator estatístico, que é válido para a elaboração de políticas públicas de saúde pública,
mas, jamais, voltado para caracterizar a responsabilidade do empregador quanto à doença
ocupacional alegada pelo empregado e pela previdência social, ferindo, assim, a Constituição.
NTEP – NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO
PREVIDENCIÁRIO

• Outros problemas do NTEP: encontram-se


agrupadas no CNAE empresas com riscos
totalmente diversos. Além disso, a empresa
pode apresentar variações na presença de
riscos, sendo alguns extintos e outros
introduzidos.
NTEP – NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO
PREVIDENCIÁRIO

• Exemplo que não funciona: diabete melito (CID


E14) causada pelo trabalho em padaria e
confeitaria (CNAE 4721-1/01)
• Outro exemplo que não funciona: apendicite
aguda (CID K35) causada pelo trabalho em
confecção de roupas íntimas (CNAE 1411-8/01)
NTEP – NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO
PREVIDENCIÁRIO
Sobre essa matéria foi ajuizada a ADI (Ação Direta de
Inconstitucionalidade) n. 3.931/2007. Após treze anos de
tramitação, o STF julgou IMPROCEDENTE o objeto pleiteado na
ADI n. 3931/2007, nos termos do voto vencedor da Relatora,
Ministra Carmem Lúcia, e do único voto discordante, o do
Ministro Marco Aurélio, ao tempo em que proclamou,
definitivamente, a constitucionalidade do NTEP e, por
conseguinte, ratificou a legalidade do enquadramento médico-
pericial na configuração ficta do Acidente de Trabalho (Sessão
Plenária virtual de 17/04/2020).
SOBRE AS CONCAUSAS

• A concausa (como o exercício do trabalho)


pode ter ocorrido antes, concomitantemente
ou após a ocorrência de outra concausa
NÃO ligada ao trabalho.
SOBRE AS CONCAUSAS

• Concausa anterior ou antecedente:


hemofilia pré-existente à ocorrência de um
ferimento ocorrido no trabalho e que
redundou em morte do empregado
SOBRE AS CONCAUSAS

Concausa concorrente ou concomitante:


presbiacusia, hipertensão arterial,
doenças metabólicas junto a um quadro
de PAIR (ou PAINPSE) em trabalhador
exposto a níveis elevados de pressão
sonora
SOBRE AS CONCAUSAS

• Concausa superveniente: uma infecção


generalizada (sepse), com morte do
empregado, que se seguiu a um
ferimento ou fratura exposta
Diagnóstico médico mais
específico possível

X à Se algum dos
Correlação com legislação fatores for igual a
pertinente
Em suma: a zero, o resultado é
X
“fórmula” do nexo zero para nexo
Suspeição científica /
causal é igual a plausibilidade biológica /
referências bibliográficas
uma multiplicação
e não a X à Se todos os
somatórios Correlação com risco laboral fatores estiverem
mensurável e relevante
presentes, a
X
suspeição de nexo
Dano objetivo mensurável
(temporário [lesão] ou é plausível e pode
permanente [sequela])
ser efetivada
=
NEXO CAUSAL/CONCAUSAL
VIÁVEL
UM POUCO SOBRE SIMULAÇÃO

• Simular é “fingir o que não é” (Dicionário Aurélio),


havendo uma motivação consciente e uma produção
consciente de sintomas. Existe até uma codificação de
CID: Z76-5 ((pessoa fingindo ser doente; simulação
consciente; simulador com motivação óbvia), além do
código F68.1 (produção deliberada ou simulação de
sintomas ou de incapacidades, físicas ou psicológicas).
UM POUCO SOBRE SIMULAÇÃO

• Ganho Secundário: o periciado busca um benefício no trabalho, um repouso adicional,


uma vantagem pessoal, etc., expressando as vantagens que pode alcançar usando um
sintoma para manipular e/ou influenciar outras pessoas. Pela simulação o periciado tem
a pretensão de controlar o examinador por meio de queixas (queixar-se de dor fortíssima
que o obriga a manter as mãos junto ao corpo, por exemplo) e posturas (entrar no
consultório mancando, dentre outros) tendo por finalidade convencer o examinador, para
obter ou perpetuar a percepção de um benefício previdenciário, ainda que o quadro
diagnóstico detectado seja considerado passível de cura ou pelo menos de controle.

• Reforço Ambiental: as organizações ou mesmo o ordenamento legal vigente permitem


a “dispensa de uma tarefa árdua ou responsabilidade, como no treinamento militar, ou a
perspectiva de um ganho financeiro significativo, como em litígios judiciais”, como
explicado em Cecil, Tratado de Medicina Interna.
UM POUCO SOBRE SIMULAÇÃO

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR) da


American Psychiatric Association aponta diretrizes para se suspeitar de
simulação. Há que existir qualquer das combinações a seguir:

a) contexto médico legal de apresentação (p. ex. o paciente é encaminhado


por um advogado para um exame médico);
b) acentuada discrepância entre o sofrimento ou deficiência apontados pelo
pacientes e os achados objetivos;
c) falta de cooperação durante a avaliação diagnóstica e de aderência ao
regime de tratamento prescrito;
d) presença de um transtorno da personalidade antissocial.
UM POUCO SOBRE SIMULAÇÃO

Foram propostas duas classificações relacionadas à


simulação (Calabuig, em 2005)

• Quanto à finalidade do simulador


• Quanto à natureza da fraude

Santos JC. Simulação e dissimulação em clínica forense. In: Vieira DN, Quintero JA, coords. Aspectos práticos da
avaliação do dano corporal em Direito Civil. Brasília: Caixa Seguros e Imprensa da Universidade de Coimbra; 2008.
p.149-58.
UM POUCO SOBRE SIMULAÇÃO

Quanto à finalidade:

• Defensiva: para se evitar condenação


• Ofensiva: atribuir uma lesão a terceiros, como vingança
• Lucrativa: para explorar a bondade alheia como forma de ganho pessoal
• Aduladora: para imitar atos, comportamentos ou padecimentos de
superiores em busca de reconhecimento pessoal
• Ambiciosa: semelhante à aduladora, mas com o objetivo de obter
honrarias e outros benefícios
• Afetiva: razões sentimentais, amorosas ou rancorosas
ATENÇÃO AO “KIT PERÍCIA”
LEMBRETES FINAIS

• Perícia médica é ato médico


• O perito deverá conhecer, de preferência antecipadamente, os
detalhes do processo
• Perícia judicial requer método e conhecimento
• O perito deve ser cordial, impessoal e técnico
• Laudo pericial não é tratado de Medicina
LEMBRETE FINAL

O médico perito não é justiceiro ou


super-herói. Não lhe compete
corrigir as distorções sociais, fazer
distribuição de renda ou punir
autores ou réus. O melhor
trabalho é aquele feito de forma
simples e honesta.

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