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Ortodontia
Preventiva e
Interceptora
Adílson Thomazinho
José Tarcísio Lima Ferreira
Maria Bernadete Sasso Stuani
Mírian Aiko Nakane Matsumoto

CRESCIMENTO CRANIOFACIAL PÓS-NATAL

O crescimento da cabeça humana envolve alterações nas proporções entre


crânio e face e aumento nas dimensões ósseas.
No recém-nascido, as alturas faciais superior e inferior correspondem aproxi-
madamente a 40% do seu tamanho adulto. A mandíbula é formada por 2 ossos
unidos na sutura sinfiseana localizada na linha mediana. O ângulo goníaco é
obtuso com o ramo pouco desenvolvido, de tal modo que um plano oclusal
desenhado entre os rodetes gengivais passa através do côndilo.
Imediatamente após o nascimento, o crescimento facial é reduzido e despro-
porcional em relação ao craniano. O maior crescimento do cérebro e do crânio é
característico dos primeiros anos de vida pós-natal. Por exemplo, aos 3 anos de
idade, o crânio corresponde a quase 90% de seu tamanho adulto, enquanto a
face, 65%21,22.
O retrognatismo mandibular severo observado no nascimento é significante-
mente reduzido em idade precoce, uma vez que o crescimento anterior da maxila
diminui em relação ao da mandíbula, durante o primeiro ano pós-natal. Após esse
período, o crescimento diferencial entre maxila e mandíbula continua a reduzir o
ângulo ANB, porém, o retrognatismo mandibular nunca é totalmente compensado.
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

As proporções da cabeça humana alteram-se fontanelas, por ocasião do nascimento. Para a ca-
durante o crescimento. A distância entre a borda beça sobreviver à deformação sofrida durante a
inferior da mandíbula e o contorno superior da órbi- passagem através do canal do nascimento, as sutu-
ta representa 40% da altura do crânio na criança e ras e fontanelas são amplas. A calvária apresenta
60%, no adulto. No nascimento, o volume do crâ- as suturas coronais ou transversais, sagitais,
nio é aproximadamente 8 vezes maior que o da lambdóideas e uma sutura metópica temporária
face, enquanto que no adulto corresponde a duas que divide o osso frontal e continua internamente
vezes o volume da face. dentro da base do crânio, permitindo a expansão
transversa no período pré e pós-natal.
Crescimento das Estruturas A fontanela anterior, na intersecção das suturas
Craniofaciais metópica, coronal e sagital, ossifica-se entre 6 e 20
meses de idade ou aproximadamente aos 24 me-
Para facilitar a compreensão do crescimento ses163. A fontanela posterior, na intersecção das su-
craniofacial serão consideradas três regiões distin- turas lambdóidea e sagital, fecha-se aproximada-
tas: crânio, face média e mandíbula. mente aos 3 meses164, ou por volta dos 12 meses163
(Fig. 25.1). As superfícies ósseas se aproximam
Crânio ocorrendo a interdigitação ou sinostose. A sutura
metópica desaparece ao redor do 7o mês. O fecha-
A caixa craniana acompanha o crescimento do mento das suturas sagital e coronal começa aos 30
cérebro, triplica de volume nos dois primeiros anos anos e a sutura lambdóidea funde-se por volta dos
de vida e após esse período, diminui o ritmo de 40 anos165. Ao nascer, o crânio do bebê contém
crescimento até os sete anos. O aumento anual a aproximadamente 45 elementos ósseos separados
partir daí é quase imperceptível. Após os primeiros por cartilagem ou tecido conjuntivo. No adulto este
anos de vida, a face cresce mais rapidamente que o número se reduz a 22 ossos, após a ossificação
crânio, conservando um ritmo acelerado de cresci- completa, sendo 14 ossos na face e 8 formando o
mento até os 16-18 anos. crânio.
O volume encefálico com um ano de idade é O crescimento da abóbada craniana está ligado
de aproximadamente 50% do valor adulto; aos 3 à expansão do cérebro. À medida que o cérebro
anos alcança 75% e aos 7 anos, 90%. Quase meta- cresce, os ossos da calvária são automaticamente
de de todo crescimento pós-natal do cérebro ocorre afastados, sendo deslocados para fora. Esse deslo-
durante o primeiro ano. A circunferência média da camento das lâminas ósseas induz tensão nas
cabeça do recém-nascido é 35 cm. Essa medida membranas suturais, que respondem imediatamen-
aumenta 5 cm nos primeiros 4 meses e, 10 cm te com deposição óssea nas margens suturais dos
entre a idade de 1 ano até a fase adulta. O aumen- ossos (Fig. 25.2). Além dessa neoformação óssea
to na circunferência da cabeça é tão previsível e tão sutural, os ossos da calvária sofrem processo de
rápido que é usado por médicos como parâmetro remodelação com deposição óssea na superfície
fundamental da saúde da criança. externa e reabsorção óssea na superfície interna,
Os ossos que compõem o crânio desenvolvem- aumentando a espessura dos ossos e a curvatura
se por ossificação endocondral (em substituição à da abóbada craniana.
cartilagem) e por ossificação intramembranosa (te- A base do crânio cresce essencialmente pelo
cido conjuntivo). Os ossos da base do crânio origi- crescimento cartilaginoso nas sincondroses esfeno-
nam-se principalmente do condrocrânio, por meio occipital, esfeno-etmoidal, interesfenoidal e intra-
da ossificação endocondral e compreendem a base occipital (Fig. 25.3). A atividade na sincondrose in-
do crânio com cápsulas ósseas e nasais. Os ossos teresfeinoidal desaparece logo após o nascimento.
da abóbada craniana, desmocrânio, são formados A sincondrose intra-occipital fecha-se entre 3 e 5
diretamente do tecido conjuntivo por ossificação anos de vida. A sincondrose esfeno-etmoidal per-
intramembranosa e constituem as paredes laterais manece ativa até aproximadamente 7 a 10 anos de
e teto da abóbada craniana. idade. Sua maior contribuição ao crescimento ocor-
Os ossos do desmocrânio, abóbada craniana re na época de erupção do 1o molar permanente. A
ou calvária, encontram-se separados por suturas e sincondrose esfeno-occipital é um dos principais

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ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

centros de crescimento e a ossificação endocondral O crescimento da base anterior verdadeira do


não cessa até o vigésimo ano de vida. crânio (básio-foramen cego) já está completo por
A base do crânio, contrariamente à abóbada volta dos 8 anos de idade. O aumento total é de
craniana, não depende totalmente do crescimento aproximadamente 11 mm e a maior parte ocorre
do cérebro. Um exemplo é a capacidade da sincon- durante os 3 primeiros anos pós-natal. Quando se
drose esfeno-occipital expandir-se intersticialmente considera a base anterior cefalométrica do crânio
e separar os ossos occipital e esfenóide. (sela-násio), o crescimento continua no período
A base posterior do crânio (básio-sela) au- pós-puberal. A distância sela-násio cresce aproxi-
menta em comprimento principalmente pelo cres- madamente 2 cm, à semelhança de básio-sela;
cimento na sincondrose esfeno-occipital. A base sendo que aproximadamente metade desse aumen-
anterior do crânio (sela-násio) aumenta pelo cres- to ocorre durante a pneumatização do seio frontal,
cimento nas sincondroses esfeno-etmoidal e fron- entre as idades de 6/8 anos e idade adulta. Por
to-etmoidal e pela pneumatização dos seios esfe- volta dos 4 anos e meio, a base anterior do crânio
noidal e frontal. já atingiu 86% a 87% da dimensão adulta.
O crescimento da base posterior do crânio (bá- De acordo com Enlow64,65,66 uma das alterações
sio-sela) é responsável pelo movimento do crânio de crescimento da base do crânio mais significantes
para cima e para frente a partir de sua articulação consiste no processo de remodelação que ocorre na
com o pescoço, fornecendo espaço para o desloca- fossa craniana média, provocando o deslocamento
mento para baixo da face. A taxa de crescimento é para frente da base anterior do crânio e das estru-
maior quanto mais jovem for o indivíduo, pois no turas superiores da face localizadas na maxila e o
nascimento, a base do crânio já possui 56% de seu deslocamento da mandíbula para baixo e para fren-
comprimento total e por volta dos 4 anos e meio, a te. Além disso, a remodelação nas fossas cranianas
porção básio-sela já atingiu 78% nos homens e anteriores provoca o deslocamento anterior do osso
84% nas mulheres, das dimensões adultas. frontal e da área nasal.

Fig. 25.1 Fig. 25.2


Fontanelas do crânio do recém-nascido. Crescimento da abóbada craniana.

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Fig. 25.3
Vista sagital da base do crânio.

Face Média

A face média consiste da cavidade nasal, órbitas De acordo com Brodie37,38, a altura da face superior
e seus componentes, seios maxilares, processos al- (N-ENA) aumenta rapidamente após o nascimento,
veolares superiores e dentes. O osso principal é a estabiliza após 1 ano e meio e então permanece em
maxila, porém, há participação dos ossos frontal, 43% da altura total da face (N-Gn) até a fase adulta.
vômer, lacrimal, palatino, zigomático, nasal, etmóide A face média cresce nas três dimensões, po-
e conchas. Os três últimos elementos são derivados rém, o crescimento vertical é dominante. Está inti-
da cartilagem e os outros, do osso membranoso. Ao mamente associada à base do crânio, cujo cresci-
nascimento, a maxila possui dimensões reduzidas no mento influencia diretamente a face média, de tal
plano vertical, mas rapidamente assume um padrão modo que seu crescimento para frente também
de crescimento halométrico e por volta dos 3 anos desloca a maxila e a mandíbula simultaneamente
de idade já completou um terço do seu crescimento. na mesma direção (Fig. 25.4).
A base do crânio modifica naturalmente o de-
senvolvimento da face média. Não existe uma linha
divisória clara entre os gradientes de crescimento
do crânio e dos maxilares.
Enquanto o crescimento da base do crânio
ocorre principalmente pela ossificação endocondral,
com osso substituindo a cartilagem em proliferação,
o crescimento da maxila é intramembranoso, seme-
lhante ao da abóbada craniana. A proliferação de
tecido conjuntivo sutural, ossificação, deposição su-
perficial, reabsorção e translação são os mecanis-
mos para o crescimento da maxila82.

Fig. 25.4
O crescimento da base do crânio provoca
o deslocamento da maxila e mandíbula.

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ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A maxila encontra-se unida ao crânio pelas su- nasal em osso, através da formação óssea endo-
turas fronto-maxilar, zigomático-maxilar, zigomáti- condral, ocorre a expansão intersticial da matriz de
co-temporal, ptérigo-palatina. Weinmann e Sicher208 cartilagem primária. Enquanto a cartilagem se ex-
afirmaram que estas suturas são oblíquas e parale- pande para baixo e para frente, desliza-se ao longo
las entre si. Portanto, o crescimento nesta região da canaleta vomeriana e “carrega” a maxila, deslo-
promove o deslocamento da maxila para baixo e cando-a para baixo e para frente, separando as
para frente (Fig. 25.5). suturas que unem a maxila à base do crânio76.
Latham114 descreveu um ligamento que se estende
desde a cartilagem do septo nasal até a região
anterior da pré-maxila, que denominou “ligamento
septo pré-maxilar”. Afirmou que esta conexão dis-
tinta é uma relação importante entre o crescimento
da face média e do septo nasal.
Entretanto, outros fatores estão envolvidos no
processo de crescimento da face média. Importante
contribuição foi constatada com a introdução da
“teoria da matriz funcional” por Moss145,146 fornecen-
do a origem da força mecânica que impulsiona o
processo de deslocamento dos ossos. De acordo
com esse autor, a cabeça é uma estrutura comple-
xa, com grande número de funções relativamente
independentes: olfato, respiração, visão, digestão,
fala, audição, equilíbrio e integração neural. Cada
função é realizada por um grupo de tecidos moles
apoiados por elementos esqueléticos. Em conjunto,
os tecidos moles e os elementos esqueléticos liga-
dos a uma só função são denominados componente
funcional cranial. A totalidade dos elementos es-
Fig. 25.5
queléticos associados a uma só função são chama-
Áreas de deposição óssea na maxila e suturas associadas.
dos unidade esquelética. A totalidade dos tecidos
moles associados a uma só função é denominada
matriz funcional. Dessa forma, os ossos faciais
crescem subordinados ao crescimento dos tecidos
moles adjacentes. Enquanto os tecidos crescem, os
ossos são passivamente “carregados” ou desloca-
O fator responsável pelo deslocamento da face dos com os tecidos moles. Portanto, a expansão
média é controverso. Uma escola de pensamento dos músculos faciais, os tecidos conjuntivos subcu-
aponta a cartilagem nasal como a força propulsora. tâneos e submucosos, os epitélios nasal e oral, os
Essa teoria denominada teoria do septo nasal con- vasos e nervos atuam movendo os ossos da face
sidera a cavidade do septo nasal um centro de média passivamente, estimulando seu crescimento.
crescimento (Scott, 1957)182. Algumas característi- A maxila é um osso de origem intramembrano-
cas anatômicas suportam esse conceito. Ao nasci- sa e, portanto, os mecanismos para o seu cresci-
mento, o futuro septo nasal é uma estrutura cartila- mento são de reabsorção e deposição óssea a par-
ginosa proeminente em continuidade com o resto tir do tecido conjuntivo. A maxila recebe deposição
do condrocrânio; superiormente e inferiormente, perióstea em várias superfícies, sendo a principal a
apóia-se na canaleta vomeriana, livremente conecta- área posterior da tuberosidade e suas laterais, pro-
da de modo a permitir seu deslizamento. Ante- porcionando aumento no comprimento do arco
riormente, a cartilagem é firmemente unida ao teci- dentário decorrente da erupção dos molares que
do fibroso da premaxila na região acima e atrás da estão em desenvolvimento (Fig. 25.6). O sentido de
espinha nasal. Durante a conversão da cartilagem crescimento real predominante na maxila é para

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cima e para trás, enquanto se desloca para baixo e do alveolar e, posteriormente, ocorre deposição ós-
para frente. As deposições de osso sobre a margem sea (Fig. 25.7). A superfície endosteal sofre reabsor-
posterior da tuberosidade maxilar aumentam o ção, contribuindo para a expansão do seio maxilar.
comprimento do arco dentário e as dimensões ân- O aumento em altura do osso maxilar deve-se,
tero-posteriores de todo o corpo maxilar. sobretudo, à deposição contínua de osso alveolar
Há deposição óssea lateralmente sobre a super- sobre as margens livres do rebordo alveolar, duran-
fície vestibular, contribuindo para o aumento em lar- te a erupção dos dentes. O palato recebe deposição
gura da região posterior do arco. Esses processos de óssea na superfície bucal e reabsorção na superfície
deposição óssea nas superfícies de contorno poste- nasal. A superfície labial da pré-maxila é reabsorvi-
riores ocorrem até a crista vertical abaixo da protu- da enquanto a superfície lingual apresenta deposi-
berância malar, chamada “Key ridge”. Neste local há ção óssea (Figs. 25.8A e B). Enquanto isso as pare-
uma linha de inversão: anteriormente a essa crista, des nasais mediais sofrem reabsorção, promovendo
toda a superfície externa do arco maxilar é de reabsor- aumento em largura e altura e movimento anterior
ção com exceção da espinha nasal anterior e rebor- de toda região nasal.

Fig. 25.6 Fig. 25.7


Direção de crescimento do complexo nasomaxilar. Áreas de reabsorção óssea na maxila.

A B

Figs. 25.8A e B
A - Áreas de deposição e reabsorção óssea na maxila e;
B - Deslocamento da maxila.

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ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

As alterações de crescimento no osso zigomáti- De acordo com Scott182, o crescimento da face


co são semelhantes às da maxila. O lado posterior média resume-se em 2 fases distintas: do nasci-
da protuberância do osso zigomático recebe deposi- mento até aproximadamente 7 anos de idade e
ção óssea e a superfície anterior sofre reabsorção, após 7 anos. Durante os primeiros 7 anos, a expan-
de tal modo que o osso zigomático cresce posterior- são cerebral aumenta o comprimento da base ante-
mente mantendo o relacionamento constante com a rior do crânio, o crescimento dos ossos expande a
maxila. O arco zigomático move-se lateralmente por cavidade orbitária e a cartilagem nasal desloca a
reabsorção no lado medial da fossa temporal e por maxila para frente e para baixo. Os outros mecanis-
deposição óssea na superfície lateral externa, au- mos cartilaginosos, quais sejam: a sincondrose es-
mentando a fossa temporal e tornando o osso pro- feno-occipital e a cartilagem condilar são ao mesmo
porcional em relação à face e às dimensões do osso tempo ativas; a deposição superficial tem somente
maxilar e musculatura mastigatória. O crescimento uma contribuição mínima. Após os 7 anos, o cére-
bizigomático atrasa-se em relação ao crescimento bro e os olhos estão, virtualmente, completos; a
craniano nos primeiros anos, porém, continua após o base anterior do crânio verdadeira cessa o cresci-
crescimento do crânio ter estacionado. Como resul- mento e as cavidades orbitárias começam a se es-
tado, os ossos da face tendem a tornar-se relativa- tabilizar. A cartilagem nasal também cessa o cresci-
mente mais proeminentes com a idade. O distancia- mento nessa época e o retardo em todos os meca-
mento entre os arcos zigomáticos continua até a nismos de crescimento interrompe a atividade sutu-
fase adulta e pode ser atribuído ao deslocamento ral. Entretanto, como tem sido discutido, a distância
lateral e deslizamento dos ossos da face. O desloca- SN aumenta por anos, além dos 7 anos e o ângulo
mento lateral dos processos zigomáticos aumenta os SNA, que mede a posição ântero-posterior da maxi-
espaços para os músculos temporais. la, permanece constante. Isso significa que a ma-
A expansão e distanciamento das órbitas se xila cresce para frente abaixo da base anterior do
completam por volta dos 8 anos de idade. Conse- crânio verdadeira, mantendo o SNA constante.
qüentemente, a expansão posterior da cavidade Pode-se concluir que alguma força desloca a maxila
nasal, seios e processos zigomáticos supera a da anteriormente e que alguma atividade deve estar
região orbital e do crânio; então, as proporções acontecendo nas suturas faciais.
faciais são alteradas.
Após o primeiro ano de vida, as suturas sagi- Mandíbula
tais medianas dos componentes cranianos fundem-
se, limitando a expansão craniana lateral. Somente Em contraste com a maxila que está intimamen-
as suturas nos ossos nasais e na maxila permane- te associada ao crânio, a mandíbula está suspensa
cem após a puberdade. A sutura maxilar permane- por músculos, peles e tecido conjuntivo, em conexão
ce aberta durante todo o crescimento e contribui direta com o resto da cabeça por meio da articula-
para o crescimento em largura do arco maxilar em ção dos processos condilares com as fossas mandi-
5 a 6 mm. Esse aumento não está relacionado à bulares do osso temporal e da oclusão dos dentes. É
expansão lateral da base do crânio, uma vez que a um osso misto ou composto, ou seja, com atividade
expansão da sutura palatina mediana está em sin- intramembranosa e endocondral. O crescimento en-
cronia com o crescimento em altura corporal e am- docondral dos côndilos exerce um importante papel
bos mostram aumento rápido na puberdade, suge- no desenvolvimento mandibular. Entretanto, o pro-
rindo que algumas dessas suturas da maxila podem cesso condilar não regula o crescimento de toda
persistir até a segunda década de vida e, portanto, mandíbula, ou seja, não é o principal centro de cres-
a expansão rápida do palato pode ser realizada em cimento que controla as outras áreas regionais. A
qualquer idade durante a puberdade30. margem anterior do colo mandibular sofre deposi-
Björk31 constatou em seus estudos com implan- ção, em continuidade com a chanfradura sigmóide e
tes que a maxila desloca-se em direção anterior e a margem posterior também apresenta deposição,
inferior, verificando que no decorrer da primeira crescendo posteriormente29,32.
década de vida o crescimento maxilar procede nor- O crescimento dos processos condilares tem
malmente em direção horizontal e na segunda dé- influência sobre a forma e direção de crescimento
cada prevalece o vetor mais vertical. da mandíbula. Björk e Skieller33, mostraram que os

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processos condilares crescem em várias direções. qüentemente, o ângulo goníaco diminui com o cres-
Quando crescem mais posteriormente, a mandíbula cimento. O único aumento pós-natal do comprimen-
é deslocada para frente, tornando-se mais longa, to do arco na região anterior ocorre na sutura sin-
uma vez que a distância côndilo-mento é maior e o fiseana nos primeiros meses. Mais tarde, com a
ângulo goníaco, mais obtuso. Quando crescem para erupção dos dentes, o aumento no comprimento do
cima e para frente, a mandíbula se desloca com corpo mandibular ocorre pela contínua reabsorção
seu eixo de rotação na área incisal. O resultado é na parede anterior do ramo, fornecendo espaço para
um ângulo goníaco agudo e comprimento efetivo os molares. Simultaneamente, ocorre deposição ós-
diminuído, pois a distância côndilo-mento é menor. sea na parede posterior do ramo, mantendo sua
Com esse padrão de crescimento, há maior cresci- largura. Na realidade, a deposição óssea excede a
mento vertical posterior. reabsorção e então o ramo cresce, tornando-se re-
O crescimento endocondral também ocorre na colocado posteriormente e a parede anterior sofre
sínfise, contudo, aproximadamente no final do pri- remodelação com reabsorção alterando sua estrutu-
meiro ano, esta já se ossificou transformando a ra no corpo mandibular.
mandíbula num osso ímpar. Ao mesmo tempo, a tuberosidade lingual, equi-
A ossificação intramembranosa ocorre em toda valente anatômico direto da tuberosidade maxilar, é
superfície da mandíbula, com reabsorção e neofor- um dos principais locais de crescimento e remode-
mação óssea concomitantes (Fig. 25.9). lação, pois cresce com deposição óssea posterior e
Ao nascimento, a mandíbula apresenta forma medialmente, contribuindo para a formação da pro-
obtusa e os processos condilares são rudimentares. eminência da tuberosidade, juntamente com a
Com a erupção dos dentes, os ramos tornam-se grande área de reabsorção, logo abaixo dela. Essa
mais verticais e os ângulos goníacos, mais agudos. O área de reabsorção produz uma depressão conside-
plano oclusal imaginário dos rodetes gengivais passa rável, a fossa lingual. Esse crescimento na tuberosi-
através dos processos condilares, enquanto o plano dade lingual ocorre concomitantemente com a for-
oclusal após a erupção dos dentes primários articula- mação e erupção dos molares permanentes.
dos já está consideravelmente abaixo. Há constante Há também deposição óssea na superfície lin-
alteração na forma da mandíbula até a fase adulta. A gual e superior do processo coronóide, aumentando
borda posterior do ramo torna-se mais vertical e a a dimensão vertical do ramo. O lado vestibular do
borda inferior da mandíbula, mais horizontal; conse- processo coronóide apresenta reabsorção na super-
fície perióstea.
A parede posterior do ramo juntamente com o
processo condilar são locais de crescimento impor-
tantes, devido a quantidade de osso depositada.
Segundo Enlow64, os vetores predominantes de
crescimento são posterior e superior, em direção à
fossa mandibular do osso temporal. Enquanto isso,
a mandíbula desloca-se para baixo e/ou para fren-
te, ou seja, os sentidos de deslocamento são opos-
tos (Figs. 25.10A e B).
O ritmo de crescimento mandibular para frente
excede ao da maxila, de tal modo que o retrogna-
tismo característico da infância é, em sua maior
parte, compensado.
O crescimento vertical da mandíbula é o mais
pronunciado. Não somente a mandíbula necessita
acompanhar o ritmo de deslocamento inferior da
maxila, como também deve manter a dimensão in-
teroclusal vertical, que tem sido constante. Há ain-
Fig. 25.9 da necessidade de crescimento para baixo a fim de
Áreas de remodelação da mandíbula. acomodar os dentes e processos alveolares.

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ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

Figs. 25.10A e B
A - Direção de crescimento e;
B - Deslocamento da mandíbula.

O crescimento transversal da mandíbula ocorre


principalmente pela divergência entre os processos
condilares enquanto crescem posteriormente de
acordo com o princípio do “V”65. O assentamento
dos processos condilares nas fossas mandibulares é
mantido pelo crescimento com deposição óssea
posterior e medial nos ramos e processos condila-
res, controlando o crescimento transversal e permi-
tindo maior crescimento longitudinal e vertical da
mandíbula (Fig. 25.11). A largura intercondilar não
aumenta na mesma intensidade que o comprimen-
to mandibular durante a infância e a puberdade,
uma vez que a maior parte do crescimento lateral
da base do crânio se completa por volta dos 3
anos192. Há também deposição óssea vestibular so-
bre o corpo e ramos mandibulares em oposição às
áreas de reabsorção linguais.
Como local de crescimento, o mento é quase
inativo. O processo de reabsorção na região ante-
rior da mandíbula envolve reabsorção perióstea na
superfície labial da cortical óssea e deposição óssea
sobre todo o rebordo alveolar. Ao mesmo tempo, o
tecido ósseo é adicionado à superfície do osso ba- Fig. 25.11
sal. O resultado desse processo de crescimento é a Processo de crescimento posterior da mandíbula em plano
protuberância do mento que aumenta progressiva- bidimensional.
mente.

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ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A origem da força propulsora do crescimento Período pré-dental ou estágio dos


mandibular ainda é controversa. O processo con- roletes gengivais
dilar tem sido classificado como um local de cres-
cimento enquanto outros consideram-no um cen- Ao nascimento a criança normalmente, não
tro de crescimento. Entretanto, não se pode afir- apresenta dentes irrompidos. Em casos raros, po-
mar que o processo condilar é uma entidade ana- rém, pode-se constatar a presença de dentes na
tômica capaz de reger o crescimento de toda cavidade bucal do recém-nascido, cuja remoção só
mandíbula. Pode-se sugerir que ele necessita de deve ser feita após verificar de que se trata de um
adaptação para ajustar-se à fossa temporomandi- dente supranumerário.
bular, durante o crescimento. Acredita-se que a O período que se estende do 4o mês de vida
mandíbula é deslocada para frente e para baixo, intra-uterina até o início da erupção dos dentes,
juntamente com a maxila, em conseqüência da geralmente no 6o mês de vida pós-natal, é também
expansão de crescimento da matriz de tecido chamado período dos roletes gengivais que se ca-
mole associada a ela, conforme a “teoria da ma- racteriza por algumas transformações fisiológicas
triz funcional”144. É um tipo passivo de desloca- nos seis meses subseqüentes129.
mento que a afasta da base do crânio, criando O arco dental superior apresenta forma arre-
uma lacuna que estimula seu crescimento real. dondada, com a abóbada pouco profunda, recober-
to por tecidos e membrana gengival de cor rosada.
DESENVOLVIMENTO DA O rolete gengival inferior, em forma de U, tem sua
porção anterior mais pontiaguda e inclinada para
OCLUSÃO DENTÁRIA vestibular (Figs. 25.12A e B).
Para estudar e compreender melhor o desen- Nos roletes gengivais distingue-se a região
volvimento da oclusão dentária no período pós-na- mais saliente e proeminente, na área anterior e nos
tal costuma-se dividir os doze primeiros anos do segmentos posteriores estes processos se achatam,
indivíduo, durante os quais a oclusão está se de- pouco se diferenciando da abóbada palatina.
senvolvendo, nos seguintes períodos: Nesta fase, pode-se observar a parte óssea
constituída de pequenos compartimentos, cada um
1. Período pré-dental deles abrigando o germe de um dente decíduo sem,
contudo, apresentar tecido ósseo recobrindo-os.
2. Período da dentição decídua
Os roletes gengivais contatam-se na região poste-
3. Período da dentição mista rior, apresentando um espaço na região anterior, cha-
4. Período da dentição permanente mado por alguns autores de “espaço mesial anterior”.

A B

Figs. 25.12A e B
Roletes gengivais do recém-nascido.

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ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Na posição de repouso da mandíbula os roletes díbula em direção anterior. Este estímulo, que se
estão separados e a língua interpõe-se entre os repete em intervalos regulares várias vezes ao dia,
lábios, na chamada “postura neonatal da língua”. permite o desenvolvimento da mandíbula e os role-
Numa vista lateral, os roletes gengivais não se tes, ao final de cinco a seis meses, terminam por se
apresentam num mesmo plano ântero-posterior- encontrar bem relacionados e em posições normais
mente, pois o rolete inferior situa-se distalmente ao no sentido ântero-posterior.
superior, oscilando entre 5 a 6 mm nos casos nor- Quando este mecanismo natural não se pro-
mais, podendo atingir até 10 a 12 mm e esta posi- cessa, as possibilidades do estabelecimento de uma
ção é considerada fisiológica por alguns autores. desarmonia óssea e, conseqüentemente, dentária
Além disso, os roletes apresentam em seus bordos atingem, no futuro, cerca de 70% dos casos, se-
livres saliências e pregas que, atuando como ve- gundo Schwarz181.
dantes, formam a aderência que possibilita a ori- Além da falta de estímulo de crescimento man-
gem do vácuo, no ato fisiológico da lactação. Estes dibular, as crianças com alimentação artificial nesta
reflexos e estímulos naturais que a criança apresen- fase apresentam, com freqüência, indícios de supe-
ta externamente nos lábios e internamente nos ro- ralimentação e conseqüentemente sobrecarga das
letes e papila palatina, caracterizam-se como os funções estomacais, além da diminuição de sua re-
mais importantes para o futuro desenvolvimento da sistência orgânica, por falta de ingestão de anticor-
oclusão. A lactação natural, atuando nos primeiros pos presentes no leite materno.
seis meses de vida como potente “matriz funcional” Ao nascimento, os dentes decíduos apresen-
através dos músculos e articulações em desenvolvi- tam-se em desenvolvimento intra-ósseo, como ve-
mento, estimula fortemente o crescimento da man- mos a seguir:

Maxila Mandíbula
Incisivo central decíduo 5/6 de coroa formada 3/5 de coroa formada
Incisivo lateral decíduo 2/3 de coroa formada 3/5 de coroa formada
Canino decíduo 1/3 e coroa formada 1/3 e coroa formada
1o molar decíduo Cúspides calcificadas e unidas Cúspides calcificadas e unidas
o
2 molar decíduo Cúspides calcificadas e separadas Cúspides calcificadas e separadas
o
1 molar permanente Vestígios de calcificação Início da calcificação
Incisivos, caninos e pré-molares sem vestígios de calcificação.

Os germes dos incisivos permanentes só ini- Período da dentição decídua


ciam sua calcificação a partir do 3o ou 4o mês de
vida. Normalmente há grande variação na época em
O período dos roletes gengivais é acompanha- que surgem os primeiros dentes decíduos nos ar-
do pelo surto de crescimento, em função do início cos, não havendo também dimorfismo sexual quan-
da movimentação da mandíbula durante as fases to à cronologia de erupção. Observa-se forte influên-
de lactação. A mandíbula, que se encontrava numa cia genética com relação à cronologia de erupção,
posição distal em relação à maxila, vai se colocando ao nível de 80%, ficando os outros 20% por conta
mais anteriormente devido ao surto de crescimento dos fatores ambientais84.
que ocorre neste período até atingir uma nova po- Não se deve confundir cronologia de erupção
sição, mais mesial. com seqüência mais favorável de erupção dos dentes
decíduos, para o bom desenvolvimento da oclusão.

889
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A seqüência mais favorável é aquela que vai Seqüência de erupção


permitir a ocorrência de diversos eventos necessá-
rios para o desenvolvimento da oclusão. Os dentes decíduos iniciam sua calcificação
O período da dentição decídua estende-se des- entre o terceiro e o quarto mês de vida pré-natal.
de o momento da erupção dos dentes decíduos até Os inferiores geralmente começam a calcificação
a erupção do primeiro dente permanente, por volta antes dos superiores. Os incisivos centrais, normal-
dos 6 anos de idade. mente são os primeiros a iniciar a calcificação e os
segundos molares são os últimos. Geralmente, ne-
Mudanças dimensionais nos arcos dentais nhum dente está presente no nascimento. O pri-
decíduos meiro dente decíduo a irromper é o incisivo central
inferior, por volta dos 6 ou 7 meses de idade, en-
Para determinar as modificações que ocorrem quanto o último é o segundo molar decíduo supe-
com o desenvolvimento dos arcos dentais decíduos, rior, por volta dos 2 ou 3 anos136,137,138
Baume12,13,14,15, realizou reproduções anuais de mo- A seqüência usual de erupção relatada por
delos de gesso de 30 crianças entre 03 e 04 anos Moorrees139,140,143 é: incisivo central, incisivo lateral,
de idade. Com o auxílio de um paquímetro fez as primeiro molar, canino e segundo molar.
seguintes medidas: comprimento dos arcos decíduos
em milímetros, ou seja, a distância perpendicular à 1o ano de vida – maxila - Normalmente, os
linha que tangencia a face distal dos segundos incisivos centrais e laterais decíduos encon-
molares decíduos até os pontos infradental e prós- tram-se irrompidos. As coroas de todos os den-
tio nos arcos inferior e superior, respectivamente. A tes decíduos estão totalmente calcificadas. As
segunda medida é a largura entre os caninos decí- cúspides dos primeiros molares permanentes
duos em milímetros, isto é, a distância intercaninos, encontram-se unidas e os demais dentes per-
medida na margem gengival entre os cíngulos lin- manentes, até o primeiro molar, apresentam
guais e a largura, em milímetros, medida entre os suas coroas em estágios de calcificação, com
segundos molares decíduos a partir do tubérculo exceção dos pré-molares.
lingual na margem gengival. O autor observou que: 1o ano de vida – mandíbula - Os incisivos
1) Durante o período de 4 a 6 anos, antes da centrais e laterais decíduos encontram-se to-
erupção dos primeiros molares permanentes, o talmente irrompidos, estando a coroa dos de-
comprimento dos arcos dentais maxilares per- mais dentes decíduos totalmente formadas e
maneceu constante em 25 casos, o que repre- suas raízes em estágios de desenvolvimento
senta 89% da amostra e nos arcos mandibula- coronário, com exceção dos segundos molares
res não se modificou em 23 casos, ou seja, decíduos. Todos os dentes permanentes até o
83% da amostra. Leve diminuição no compri- primeiro molar encontram-se em estágios de
mento foi notada em 6 casos na maxila e em 8 desenvolvimento coronário, com exceção dos
casos na mandíbula devido, principalmente, à pré-molares.
migração mesial dos segundos molares decí- 2o ano de vida – maxila - Todos os dentes
duos ou caninos. Inicialmente, em apenas 03 decíduos encontram-se irrompidos. As raízes
casos houve redução para ambos os arcos. dos incisivos já estão completamente calcifica-
2) Não houve mudança na largura intercaninos do das. Os dentes permanentes, até os primeiros
arco maxilar entre 4 e 6 anos de idade em 24 molares, apresentam suas coroas em estágios
casos, ou seja, em 80% da amostra na maxila de desenvolvimento, exceto os pré-molares. A
e em 26 casos, ou seja, 86% da amostra na coroa dos primeiros molares permanentes está
mandíbula. Os mesmos resultados foram regis- bem calcificada (estágio 4 – Nolla155).
trados para a largura intermolar. Nenhum caso 2o ano de vida – mandíbula - Todos os den-
confirmou a teoria de que há crescimento para tes decíduos encontram-se irrompidos. As raí-
frente das secções frontais alveolares dos ar- zes dos incisivos já estão totalmente calcifica-
cos. Bishara21 relatou que no período da denti- das. As raízes dos demais dentes encontram-se
ção decídua, há 1,5 mm de aumento na largu- nas fases finais de calcificação. Os incisivos,
ra intermolar, entre 3 e 5 anos de idade. caninos e primeiros molares permanentes

890
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

apresentam-se com suas coroas em estágios 3. Espaços fisiológicos;


de calcificação mais acentuados nos primeiros 4. Espaços primatas;
molares (estágios 4 e 5). 5. Tipos de arcos na dentição decídua;
3o ano de vida – maxila - Todos os dentes 6. Forma de arcos na dentição decídua;
decíduos estão em oclusão com os inferiores. 7. “Leeway space” ou espaço livre de Nance;
Suas raízes estão inteiramente calcificadas. As 8. Trespasse horizontal;
coroas dos primeiros molares permanentes es- 9. Trespasse vertical.
tão quase totalmente calcificadas e os demais
dentes permanentes apresentam suas coroas 1. Inclinação Axial dos Dentes Decíduos - Uma das
em estágios de calcificação, inclusive os pré- características dos dentes decíduos é o parale-
molares e segundos molares. lismo entre suas raízes, demonstrando ausên-
3o ano de vida – mandíbula - Todos os den- cia de inclinação axial. Os incisivos formam en-
tes estão completamente formados e em oclu- tre si um ângulo próximo a 180 graus, ocluindo
são. As coroas dos primeiros molares perma- freqüentemente de topo. As modificações que
nentes estão quase totalmente formadas (está- ocorrem durante a troca de dentes em relação
gio 5) e os demais dentes permanentes apre- ao grau de inclinação axial entre dentes decí-
sentam vários estágios de desenvolvimento até duos e permanentes são importantes para o
o segundo molar. desenvolvimento da dentição. Na área dos ca-
4o ano de vida – mandíbula e maxila - ninos e molares decíduos, observa-se também
Toda a dentadura decídua já se completou. As o mesmo paralelismo entre suas raízes, não
coroas dos dentes permanentes apresentam-se havendo inclinação axial no sentido mesiodistal
em estágios bem avançados de desenvolvi- ou no sentido vestíbulo-lingual.
mento e o primeiro molar inferior encontra-se 2. Relação Ântero-Posterior dos Segundos Molares
no estágio de desenvolvimento radicular e lo- Decíduos - A relação ântero-posterior dos se-
calizado no corpo da mandíbula. As cúspides gundos molares decíduos, isto é, as relações
dos segundos molares permanentes encon- terminais das faces distais desses dentes, são
tram-se bem calcificadas. Nesta idade, as raí- de importância fundamental quando se estuda o
zes dos incisivos centrais decíduos apresentam desenvolvimento da oclusão principalmente em
1/3 de reabsorção. relação à erupção do primeiro molar permanen-
5o ano de vida - Tanto na maxila como na te. As faces distais dos segundos molares decí-
mandíbula há diversos estágios de desenvolvi- duos e suas raízes funcionam como verdadeiros
mento radicular para os incisivos e primeiros guias de erupção para os primeiros molares per-
molares permanentes e desenvolvimento coro- manentes. Estas relações se estabelecem, des-
nário para os demais dentes permanentes até crevendo três tipos fundamentais (Fig. 25.13):
o segundo molar. As raízes dos incisivos cen- • relação terminal dos molares decíduos em
trais e laterais decíduos superiores e inferiores plano vertical reto;
apresentam 2/3 e 1/3 de reabsorção, respecti- • relação terminal dos molares decíduos
vamente. formando um degrau mesial para a arca-
da mandibular;
Características da dentição decídua • relação terminal dos molares decíduos
formando um degrau distal para a arcada
Após a erupção dos dentes decíduos, que se mandibular.
estabelece de forma completa ao redor dos 30 me- De acordo com o plano terminal dos arcos de-
ses de vida, a dentição decídua apresenta algumas cíduos, os primeiros molares permanentes po-
características que participam do desenvolvimento dem irromper e entrar em relação oclusal nor-
da oclusão dos dentes permanentes. São elas: mal. Nenhuma modificação na oclusão ocorre
na dentição decídua completa. Não há movi-
1. Inclinação axial dos dentes decíduos; mento mesial fisiológico da mandíbula ou ajus-
2. Relação ântero-posterior dos segundos molares te anterior dos dentes mandibulares antes dos
decíduos; 4 anos de idade. A relação dos caninos decí-

891
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

duos opostos, bem como a posição das super- do devido à variação no tamanho dos segun-
fícies distais dos segundos molares decíduos dos molares decíduos. Na maioria dos casos o
superiores e inferiores permanecem inalteradas plano terminal é reto, porque geralmente os
na dentição decídua completa. Baume16 obser- segundos molares decíduos superiores e infe-
vou que em 26 casos (46%), o plano terminal riores têm o mesmo tamanho mesiodistal. No
era reto e com degrau mesial em apenas 4 entanto, quando o molar superior é menor me-
casos (14%). O degrau mesial pode ter ocorri- siodistalmente que o inferior forma-se um pla-
no terminal com degrau distal22,24,25,137,140.

Fig. 25.13
Plano terminal entre as superfícies distais dos segundos molares decíduos superiores e inferiores:
A - Plano terminal reto;
B - Plano terminal com degrau mesial; e
C - Plano terminal com degrau distal.
decídua. Os arcos que apresentam além dos
3. Espaços Fisiológicos ou de Desenvolvimento - espaços primatas, espaços generalizados en-
Os espaços fisiológicos estão presentes fre- tre os incisivos superiores e inferiores, co-
qüentemente entre os incisivos decíduos desde mumente chamados de Arcos Tipo I (Fig.
o início, porém, tornam-se um pouco maiores 25.16A). Os arcos que apresentam somente
enquanto a criança cresce e os processos al- espaços primatas, sem espaços generaliza-
veolares expandem (Fig. 25.14). Espaços ge- dos entre os incisivos, ou até mesmo sem
neralizados entre os dentes decíduos constitu- espaços primatas, são os Arcos Tipo II (Fig.
em importante requisito para o alinhamento 25.16B). Considera-se que no período de tro-
adequado dos incisivos permanentes. De acor- ca de dentes decíduos pelos permanentes, é
do com Foster72, os espaços fisiológicos na mais provável que os dentes permanentes ir-
dentição decídua ocorrem em quase dois ter- rompam regularmente, sem problemas de
ços das crianças. espaço e posicionamento, nos Arcos Tipo I,
4. Espaços Primatas - Baume16 registrou dois ti- isto é, naqueles que apresentam além de es-
pos de espaços freqüentemente observados paços primatas, os espaços generalizados; o
entre os incisivos laterais e caninos decíduos contrário ocorre nos Arcos Tipo II.
superiores e entre caninos e primeiros molares Os arcos dentais decíduos inferiores e superio-
decíduos inferiores, os quais foram denomina- res sem espaçamento são, em média, 1,5 e 1,7
dos Espaços Primatas da Dentição Decídua Hu- mm, respectivamente mais reduzidos do que
mana (Fig. 25.15). Estes diastemas não são aqueles com espaços. Evidentemente, a ausên-
resultado de adaptações funcionais, mas de- cia de espaços não ocorre sempre devido so-
correntes de um padrão inerente no momento mente à maior largura dos dentes decíduos
da erupção dos caninos decíduos. anteriores, mas, também à falta de crescimen-
5. Tipos de Arcos na Dentição Decídua - Segun- to alveolar suficiente ou combinação de am-
do Baume12,13,14,15, dois tipos fundamentais de bos. Então, a maioria dos casos de arcos do
arcos podem ser encontrados na dentição tipo II pode estar associada à maloclusões de
classe I de Angle7.

892
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Fig. 25.14 Fig. 25.15


Espaços fisiológicos da dentição decídua. Espaços primatas da dentição decídua.

Figs. 25.16A e B
A - Arco dental decíduo do Tipo I; e
B - Arco dental decíduo do Tipo II.

6. Forma de Arcos na Dentição Decídua - A den- 25.17). Esta diferença, segundo Nance151, no
tição decídua caracteriza uma fase cujos ar- arco inferior é em média igual a 1,7 mm para
cos são amplos e capazes de suportar todos cada lado e no arco superior, é igual a 0,9 mm
os dentes decíduos, principalmente os anteri- para cada lado. O “Leeway Space” assume im-
ores. O arco maxilar pode se apresentar de portante papel na época de erupção dos pri-
várias formas, no entanto, em seu aspecto meiros molares permanentes.
de normalidade, mostra-se parabólico e o 8. Trespasse Horizontal - O trespasse horizontal
palato é bem raso. O arco mandibular em ou sobressaliência é a relação horizontal que
sua forma normal acompanha discretamente expressa, em milímetros, a distância entre o
a forma do arco superior ou, então, mostra- incisivo central superior mais vestibularizado e
se em forma de U. o incisivo central inferior. Se os incisivos supe-
7. Leeway Space ou Espaço Livre de Nance - O riores estiverem lingualmente posicionados em
espaço livre de Nance ou “Leeway Space” refe- relação aos incisivos inferiores, denomina-se
re-se à diferença entre a somatória dos diâme- mordida cruzada anterior que pode envolver
tros mesiodistais dos caninos, 1o e 2o molares um ou todos os incisivos superiores. O trespas-
decíduos e a somatória dos diâmetros mesio- se horizontal normal na dentição decídua varia
distais dos caninos, 1o e 2o pré-molares (Fig. entre 0 e 4 mm.

893
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Segundo Foster72 a relação de trespasse verti-


cal ideal ocorreu em 19% de uma amostra de 100
crianças inglesas entre 2 e 3 anos de idade. Em
37% dos casos o trespasse vertical foi reduzido; em
24%, houve mordida aberta e em 20%, o trespasse
vertical foi excessivo. A presença de hábitos bucais
como sucção digital ou chupeta, pode ser o fator
que determinou a alta porcentagem de crianças
com trespasse vertical reduzido ou mordida aberta.

Desenvolvimento da oclusão dentária


decídua

A oclusão é a forma pela qual os dentes supe-


riores e inferiores articulam-se, porém, trata-se de
uma relação bastante complexa porque envolve os
dentes, com sua morfologia e inclinações axiais, os
músculos da mastigação, as estruturas esqueléticas,
a articulação temporomandibular e os movimentos
funcionais da mandíbula. A oclusão envolve também
a relação dos dentes em máxima intercuspidação
habitual, em relação cêntrica e durante a função199.
A partir do conhecimento das características da
dentição decídua, pode-se analisar sua evolução
Fig. 25.17
desde o início da erupção dentária. Assim, pode-se
“Leeway Space“ ou Espaço Livre de Nance.
destacar alguns estágios importantes, durante o
período em que a dentição decídua está evoluindo:

Estágio dos roletes gengivais


O estágio dos roletes gengivais durante o de-
senvolvimento dentário estende-se desde o nasci-
mento até a erupção do primeiro dente decíduo,
geralmente, o incisivo central inferior, por volta dos
6 ou 7 meses de idade. Os roletes gengivais dos
arcos maxilares e mandibulares mostram elevações
e sulcos que indicam a posição dos vários dentes
9. Trespasse Vertical - O trespasse vertical ou decíduos que ainda estão em desenvolvimento nos
sobremordida é a quantidade, em milímetros, rebordos alveolares. Freqüentemente, há uma rela-
de sobrepasse vertical entre os incisivos cen- ção de mordida aberta anterior entre os roletes
trais superiores e inferiores. Pode ser descrito gengivais maxilar e mandibular. Além disso, o rolete
também como a porcentagem de sobrepasse gengival maxilar sobrepõe-se ligeiramente ao man-
dos incisivos centrais superiores em relação às dibular, nos planos horizontal e vertical, possibili-
coroas dos incisivos inferiores. O trespasse tando uma forma mais eficaz de obter o leite du-
vertical normal na dentição decídua varia en- rante a amamentação.
tre 10 e 40%. Quando as bordas incisais dos
incisivos estão no mesmo nível, a relação é Erupção dos incisivos centrais e laterais
denominada “trespasse vertical topo-a-topo”. superiores e inferiores
Quando não há sobreposição a relação é de- Nesta fase não há sentido de oclusão, observan-
nominada mordida aberta anterior e quantifi- do-se sobremordida profunda e a possibilidade da
cada em milímetros. criança realizar grandes excursões mandibulares.

894
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Erupção dos primeiros molares decíduos Desenvolvimento da dentição de


superiores e inferiores transição
Ocorre nesta fase o primeiro levantamento da
oclusão, ou seja, o primeiro sentido de dimensão Pode-se chamar de período de transição, aque-
vertical, modificando-se a sobremordida profunda le que corresponde à erupção dos primeiros mola-
incisal inicial para uma mordida de topo. Por meio res permanentes. É um período que apresenta al-
dos elementos guias constituídos pelas cúspides gumas características peculiares, nas quais há o
dos molares decíduos inicia-se o primeiro sentido início da formação da curva de Spee e da curva de
de oclusão e a primeira definição da articulação Wilson. Com a erupção dos primeiros molares per-
temporomandibular. manentes, ocorre também o que se chama de se-
gundo levantamento da oclusão, isto é, há novo
Erupção dos caninos decíduos superiores aumento na dimensão vertical do indivíduo.
e inferiores Os primeiros molares permanentes irrompem
Nesta fase se forma a “guia canino” que é guiados pela face distal dos segundos molares decí-
importante no estabelecimento e manutenção dos duos; daí a importância da relação desses dentes
espaços primatas. que, como já foi esclarecido, pode ser: em degrau
mesial inferior; em plano vertical ou em degrau
Erupção dos segundos molares decíduos distal inferior.
Neste período as características principais são
as relações distais que passarão a ter grande in- Período da dentição mista
fluência na futura erupção dos primeiros molares
permanentes e que podem ser: O período da dentição mista inicia-se quando
irrompem os incisivos centrais permanentes inferio-
a) em plano vertical – 76% res juntamente com os 1os molares permanentes
b) em degrau mesial – 14% inferiores e normalmente termina no momento em
c) em degrau distal – 10% que o último dente decíduo é esfoliado. Esse perío-
do é caracterizado por mudanças significativas, re-
A determinação das relações do plano terminal
sultantes da perda dos 20 dentes decíduos e da
na dentição decídua é de grande importância por-
erupção dos dentes permanentes que os sucedem.
que a erupção dos primeiros molares permanentes
Os primeiros molares permanentes, durante
é orientada pelas superfícies distais dos 2os molares
sua erupção são guiados a sua posição pelas super-
decíduos, até atingir o plano oclusal.
fícies distais dos segundos molares decíduos. Quan-
A partir do estabelecimento destas quatro fa-
do a face distal do 2o molar inferior decíduo situar-
ses até o início da dentição mista, quando os pri-
se mesialmente à face distal do ao 2o molar supe-
meiros molares permanentes iniciam sua erupção,
rior decíduo, forma-se um plano terminal com de-
poucas modificações ocorrem na dentição decídua.
grau mesial e nenhum mecanismo de ajuste é ne-
Os trespasses vertical e horizontal e a relação sagi-
cessário para garantir a erupção dos primeiros mo-
tal entre os arcos dentários não sofrem mudanças
lares permanentes em intercuspidação adequada,
significativas, a menos que fatores ambientais
ou seja, em chave de oclusão. Quando a face distal
como traumatismo, hábitos ou cáries estejam pre-
dos segundos molares decíduos, superior e inferior,
sentes. No final da dentição decídua, maxila e man-
estiverem num mesmo plano formando um plano
díbula abrigam o maior número de dentes de toda
terminal reto os primeiros molares permanentes ir-
a vida do indivíduo, incluindo 20 dentes decíduos e
rompem numa relação topo a topo.
no mínimo 28 dentes permanentes que não irrom-
O plano terminal reto pode resultar em teorias
peram, mas que estão em formação.
que têm sido propostas para explicar a modificação
Somente a partir do início da troca de dentes,
dos arcos dentais decíduos com plano reto em pla-
isto é, com a erupção dos incisivos, um novo ciclo
no terminal com degrau mesial:
de modificações pode ocorrer.

895
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A) Há um ajuste anterior da mandíbula na cavida- lares inferiores foi comparada com a incli-
de glenóide que pode ocorrer durante o perío- nação axial distal dos primeiros molares
do da dentição decídua. Se a mandíbula ou o superiores o que favoreceu o relaciona-
arco dental inferior movimentar-se em direção mento oclusal normal.
anterior haveria um aumento da distância en- 2. nas dentições decíduas do tipo I com pla-
tre a superfície distal dos caninos decíduos in- no terminal reto foi observado que a
feriores e a distal dos caninos decíduos supe- erupção dos primeiros molares permanen-
riores. Para determinar tal movimento, essa tes seguia o plano terminal reto e se
distância entre as superfícies distais dos cani- transformava em degrau mesial, após a
nos decíduos opostos foi medida em reprodu- erupção dos primeiros molares permanen-
ções de modelos de gesso antes e após a tes (Fig. 25.18). Medidas da distância en-
erupção dos primeiros molares permanentes e tre a superfície distal dos segundos mola-
foi constatado que ela não se modifica. res decíduos e a face distal dos caninos
B) A migração mesial do primeiro molar inferior decíduos nos arcos mandibulares mostra-
permanente após a esfoliação dos segundos ram que havia significante diminuição de
molares decíduos inferiores pode ocorrer como 1 a 2 mm e fechamento simultâneo dos
foi descrito por Speidel185. Desta forma, para espaços primatas inferiores com esse pro-
demonstrar qualquer movimento provável dos cesso. A extensão da migração mesial do
dentes posteriores dos arcos superior ou infe- primeiro molar inferior correspondia à lar-
rior, a distância da face distal dos segundos gura do espaço primata. O primeiro molar
molares decíduos à face distal dos caninos de- inferior permanente move-se mesialmente
cíduos foi medida antes e após a erupção dos depois de sua erupção e se contacta com
molares permanentes. Um estudo comparativo os segundos molares decíduos, movimen-
de 60 casos em modelos antes e após a erupção tando os molares decíduos para o espaço
dos molares permanentes revelou 3 distintos primata. Parece que esta migração mesial
tipos de ajuste molar normal: causa a mudança do plano terminal reto
1. nas dentições decíduas que apresentavam para degrau mesial já que a distância ma-
plano terminal com degrau mesial, os pri- xilar correspondente permaneceu inaltera-
meiros molares permanentes irromperam da. Esse processo facilita a erupção dos
em intercuspidação normal sem alterar a molares permanentes em oclusão normal.
posição dos dentes vizinhos. A ocorrência Nos pacientes entre 5 e 7 anos de idade
de um degrau mesial no final da dentição medidas entre as superfícies distais dos
decídua foi geralmente devido ao maior caninos decíduos opostos revelam que
diâmetro mesiodistal dos segundos mola- não houve mudança naquela dimensão
res decíduos superiores em relação aos em nenhum dos 60 casos, ou seja, a rela-
inferiores, mas isso, no entanto, foi en- ção oclusal dos caninos permanece uni-
contrado em apenas 14% dos casos. A formemente constante após a alteração
inclinação axial mesial dos primeiros mo- do plano terminal.

Fig. 25.18
Migração mesial precoce do primeiro
molar permanente inferior com fecha-
mento dos espaços primatas.

896
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

3. nas dentições decíduas do tipo II, a mi- da oclusão molar permanente 23 (Fig.
gração mesial dos molares inferiores decí- 25.19). Medidas seriadas na maxila entre
duos não ocorre devido à ausência do es- a face distal dos segundos molares decí-
paço primata. Os primeiros molares per- duos e a face distal dos caninos decíduos
manentes são guiados a irromper através revelaram que uma idêntica pressão em
de um plano terminal reto, produzindo direção anterior também resulta em fe-
uma oclusão topo a topo. No entanto, chamento de espaços quando eles exis-
observa-se que os primeiros molares per- tem. Quando o espaço entre os caninos
manentes movem-se mesialmente quando superiores decíduos e os primeiros mola-
um espaço é criado anteriormente devido res superiores decíduos for fechado após
à perda de contato por cáries, extração a erupção dos primeiros molares perma-
ou mudança fisiológica de um dente. Isto nentes, ocorre pronunciada migração me-
indica que uma força em direção mesial sial dos dentes maxilares, particularmente
persiste ao longo do processo de erupção quando esta migração estiver ausente na
dos dentes. Considerando que os pré-mo- mandíbula, produzindo invariavelmente
lares mandibulares são menores que os maloclusão dos molares permanentes,
seus predecessores decíduos, algum es- isto é, distoclusão. As análises seguintes
paço resulta quando o segundo molar in- sugerem que os fatores etiológicos do
ferior decíduo esfolia. A subseqüente mi- mecanismo de ajuste como um todo são
gração mesial dos primeiros molares infe- principalmente hereditários e endógenos;
riores permanentes modifica a sua relação fatores exógenos, bem como função e
topo a topo para uma relação normal, ou atrição são comparativamente menos im-
seja, há um mecanismo de ajuste tardio portantes.

Fig. 25.19
Migração mesial tardia do primeiro molar
permanente inferior após a esfoliação dos
molares decíduos.

A migração dos molares decíduos e a estabilida- em estudos clínicos esses três diferentes mecanis-
de da mandíbula no plano sagital são características mos de ajuste oclusal normal têm sido descritos:
fisiológicas pelas quais a oclusão adequada dos mo-
lares permanentes e dentição mista são assegura- 1. ocorrência direta de degrau mesial;
das. A causa da migração pode ser explicada pela 2. migração mesial precoce do primeiro molar in-
pressão exercida com a erupção e formação radicu- ferior permanente causando o fechamento dos
lar dos molares permanentes e constitui um regula- espaços primatas;
dor fisiológico do desenvolvimento e da qualidade da 3. a migração mesial tardia do primeiro molar in-
oclusão, que dependem da extensão das forças, de ferior subseqüente à esfoliação dos molares
onde e quando elas podem ser efetivas. Com base decíduos.

897
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Segundo Moorrees140, a migração mesial dos Relações de espaço na substituição dos


primeiros molares permanentes ocupa a maior par- incisivos
te do “leeway space”, promovendo diminuição no
comprimento do arco (Fig. 25.20). O “leeway spa- Durante a erupção dos incisivos inferiores per-
ce” depende da seqüência da troca dos segundos manentes deve-se considerar que eles são, em
molares decíduos pelos segundos pré-molares, da média, 3 a 4 mm mais largos que os decíduos e os
interdigitação das cúspides dos molares e da posi- superiores, em média, 5,5 a 6,0 mm também mais
ção dos segundos pré-molares. Com relação ao largos que seus antecessores decíduos. Assim sen-
deslocamento mesial dos primeiros molares parece do, para acomodar harmoniosamente os incisivos
que, de uma forma geral, nenhum grau acentuado permanentes mais largos é necessário que haja
de apinhamento dos incisivos pode ocorrer após a uma expansão fisiológica dos arcos. Algum espaço
erupção completa dos incisivos laterais. Deve-se, em arcos do tipo I é obtido pelos próprios espaços
no entanto, prevenir a migração mesial dos primei- interdentais; então, os arcos decíduos do tipo II
ros molares permanentes e fazer previsões para uti- necessitam de uma expansão fisiológica maior que
lização do “leeway space” para os dentes anteriores. os arcos do tipo I. A expansão fisiológica deve ser
suficiente para evitar apinhamento, que é a ano-
malia mais freqüente nos arcos dentais modernos.
A expansão, transversal e sagital dos arcos, é des-
crita em praticamente todos os livros de texto
como um espaçamento fisiológico que se obtém
entre os 4 e 6 anos de idade. Já foi comprovado
que tais mudanças não ocorrem nos arcos dentais
decíduos; no entanto, dois diferentes tipos morfo-
lógicos de arcos dentais decíduos foram identifica-
dos: um, continuamente espaçado, tipo I, e outro
continuamente fechado, tipo II. Baume16 em sua
pesquisa, revela mudanças que afetam os arcos
dentais durante e após a erupção dos incisivos
Fig. 25.20
permanentes. Neste estudo os arcos dentais são
Diminuição do comprimento do arco mandibular decorrente
da migração mesial do primeiro molar permanente. designados de acordo com o estágio de desenvol-
vimento da dentição: estágio I, quando a dentição
decídua está completa; estágio II, quando somen-
te os incisivos centrais permanentes irromperam e
É comumente aceito que, durante a dentição
estágio III quando todos os incisivos permanentes
mista, o perímetro do arco mandibular diminui em-
haviam irrompido. Medidas da largura de todos os
bora não se saiba ao certo, onde ocorre esta dimi-
nuição. Como já vimos, segundo Baume13, os espa- arcos foram obtidas entre os caninos decíduos e
ços primatas e outros espaços que existem, podem entre os segundos molares decíduos, na margem
fechar durante a erupção dos primeiros molares gengival. Uma tentativa foi feita para obter algu-
permanentes. Por outro lado, Clinch47,48 descreveu o mas conclusões práticas com relação às diferenças
fechamento do espaço primata a partir da erupção que existem entre os arcos do tipo I e tipo II.
do incisivo lateral, não ocorrendo, portanto, encur- Observou-se o seguinte: nos arcos tipo I, a rela-
tamento do perímetro do arco. ção mesiodistal dos caninos decíduos superiores e
Deve-se lembrar também que o “leeway space” inferiores permaneceu constante, mesmo depois
corresponde à diferença existente entre as larguras da migração dos segundos molares decíduos. Os
mesiodistais dos caninos e molares decíduos e as arcos decíduos do tipo I apresentam alinhamento
de seus sucessores permanentes. Na região ante- favorável dos incisivos permanentes, enquanto
rior a diferença é negativa, ou seja, os incisivos que em 40% dos casos com arcos sem espaços
permanentes possuem largura mesiodistal maior (tipo II) houve apinhamento dos incisivos perma-
que os decíduos correspondentes. nentes.

898
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Pode-se dizer que há maior surto de cresci- tra para alinhar os incisivos inferiores moderada-
mento na mandíbula durante a erupção dos incisi- mente apinhados. O maior potencial de crescimen-
vos laterais, enquanto que na maxila este cresci- to dos maxilares está na região posterior, não ha-
mento ocorre mais intensamente durante a erupção vendo mecanismo pelo qual a mandíbula possa tor-
dos incisivos centrais. nar-se mais longa em sua região anterior. Ao invés
Os germes dos incisivos permanentes, maxila- do crescimento basal mandibular, o espaço extra
res e mandibulares, situam-se lingual e apicalmente surge a partir de três mecanismos:
aos incisivos decíduos. Por isso há uma tendência
dos dentes incisivos permanentes inferiores irrom- 1. Um leve aumento na largura do arco dental
perem um pouco mais lingualmente e numa posi- ocorre através da erupção dos caninos. Enquan-
ção levemente irregular, mesmo em crianças que to o crescimento continua, os dentes irrompem
têm arcos dentais normais e espaçamento normal não somente para cima como também levemen-
entre os dentes. No arco maxilar, os incisivos late- te para fora. Esse aumento é pequeno (aproxi-
rais estão posicionados palatalmente na época de madamente 2 mm, em média), mas contribui
sua erupção, permanecendo nesta posição, se hou- para reduzir o apinhamento precoce dos incisi-
ver apinhamento no arco. vos. Maior aumento em largura ocorre no arco
Considerando que os incisivos e caninos per- maxilar do que no mandibular, sendo maior nos
manentes são mais largos que os decíduos prece- meninos do que nas meninas. Por essa razão,
dentes, o espaçamento entre os incisivos decíduos as meninas têm maior predisposição à falta de
não é apenas normal, mas extremamente impor- espaço e ao apinhamento dos incisivos, particu-
tante. Caso contrário, não haveria espaço suficiente larmente dos incisivos inferiores.
para os incisivos permanentes quando irrompes- 2. Posicionamento labial dos incisivos permanen-
sem. O total de espaços nos dois arcos é aproxima- tes em relação aos incisivos decíduos (Fig.
damente o mesmo. 25.21). Os incisivos decíduos tendem a perma-
Quando os incisivos centrais irrompem, utili- necer quase verticais. À medida que os incisi-
zam todo o excesso de espaço encontrado na den- vos permanentes os substituem, posicionam-se
tição decídua normal. Com a erupção dos incisivos levemente para frente e se dispõem ao longo
laterais, a situação de espaço torna-se mais crítica do arco em um círculo mais amplo. Embora
em ambos os arcos. O arco maxilar normalmente, essa alteração seja pequena, contribui em 1 a
já tem espaço suficiente para acomodar os incisivos 2 mm de espaço adicional, em média, colabo-
laterais permanentes quando irrompem. No arco rando para diminuir o apinhamento.
mandibular, entretanto, quando os incisivos laterais
irrompem há, em média, falta de 1,6 mm de espa-
ço disponível para o perfeito alinhamento dos qua-
tro incisivos inferiores. Essa diferença entre a quan-
tidade de espaço necessária para os incisivos e a
quantidade disponível para sua erupção é denomi-
nada “desvantagem dos incisivos”. Devido a essa
“desvantagem dos incisivos”, a criança aos 8 ou 9
anos de idade poderá apresentar um período de
apinhamento de incisivos mandibulares, mesmo
que posteriormente haja espaço suficiente para
acomodá-los em bom alinhamento. Em outras pala-
vras, o período em que os incisivos mandibulares Fig. 25.21
apresentam-se levemente apinhados é considerado Posicionamento labial dos incisivos permanentes em relação
um estágio de desenvolvimento normal. Com o de- aos decíduos.
senvolvimento dos arcos, há melhora na situação
de espaço e na época em que os caninos irrom-
pem, o espaço é mais uma vez adequado141. A
questão é compreender de onde vem o espaço ex-

899
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

3. Reposicionamento dos caninos no arco mandi- quadro ocorre com freqüência, sendo considerado
bular: enquanto os incisivos laterais permanen- normal durante esse período de desenvolvimento.
tes irrompem, os caninos expandem suave- Tem sido denominado “estágio do patinho feio”. Os
mente e movimentam-se para distal, ocupando espaços tendem a se fechar quando os caninos
o espaço primata e contribuindo para aumen- permanentes irrompem, porém, quanto maior a
tar levemente a distância intercaninos, pois o quantidade de espaço, menor a probabilidade do
arco é mais largo posteriormente fornecendo diastema mediano fechar-se por si só.
um milímetro de espaço extra (Fig. 25.22). No
arco maxilar, há pouca possibilidade para ocor- Relações de espaço na substituição dos
rer alteração semelhante na posição ântero- caninos e molares decíduos
posterior do canino maxilar, uma vez que o
espaço primata no arco maxilar localiza-se me- Em contraste com os dentes anteriores, os pré-
sialmente ao canino. molares são menores que os dentes decíduos que
eles substituem. O segundo molar decíduo inferior é,
em média, 2 mm mais largo que o segundo pré-
molar, enquanto que no arco maxilar, o segundo
molar decíduo é 1,5 mm mais largo. O primeiro
molar decíduo é apenas um pouco mais largo que o
primeiro pré-molar, mas contribui com 0,5 mm extra
no arco inferior. O resultado é que cada lado do arco
mandibular acomoda cerca de 1,7 mm, que é deno-
minado “leeway space” ou mesmo Espaço Livre de
Nance151, enquanto que em todo o arco maxilar, cer-
ca de 1,8 mm estão, em média, disponíveis.
Quando os segundos molares decíduos esfo-
liam, o primeiro molar permanente se move para
mesial relativamente rápido, usando o espaço livre;
assim há diminuição no comprimento e na circunfe-
Fig. 25.22
rência do arco, termos relacionados e freqüente-
Reposicionamento distal dos caninos decíduos no arco mente confundidos. Mesmo que o apinhamento dos
mandibular.
incisivos esteja presente, o “leeway space” é nor-
malmente consumido pelo movimento mesial dos
molares permanentes. Uma boa oportunidade para
É importante ressaltar que esses três mecanis- tratamento ortodôntico é criada nessa época, desde
mos ocorrem sem crescimento ósseo significante que os dentes apinhados possam ser corrigidos
na região anterior dos maxilares. Os discretos au- pelo uso do “leeway space”.
mentos na dimensão do arco durante o desenvolvi- As relações oclusais na dentição mista igualam-
mento normal não são suficientes para anular dis- se àquelas da dentição permanente, mas os termos
crepâncias de quaisquer magnitudes, portanto, o descritivos são um pouco diferentes. A relação nor-
apinhamento poderá persistir na dentição perma- mal dos molares decíduos é o plano terminal reto.
nente se inicialmente foi severo. O equivalente a classe II de Angle7 na dentição
Os incisivos centrais permanentes mandibula- decídua é o degrau distal. Uma relação com degrau
res estão quase sempre em contato proximal desde mesial corresponde à classe I de Angle7. A classe
a época da erupção. No arco maxilar, entretanto, III quase nunca é observada na dentição decídua
pode haver um espaço entre os incisivos centrais, devido ao padrão normal de crescimento craniofa-
chamado diastema mediano, que tende a se fechar cial no qual a mandíbula fica retruída em relação à
quando os incisivos laterais irrompem, mas o dias- maxila. Na época em que os segundos molares
tema pode persistir mesmo após a erupção dos decíduos esfoliam, os molares tendem a mover-se
incisivos laterais, particularmente se os incisivos mesialmente no “leeway space”, mas o molar infe-
superiores estiverem inclinados para labial. Esse rior normalmente se movimenta para mesial mais

900
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

que o superior. Esse movimento diferencial contri- Os caninos maxilares apresentam um padrão
bui para a transição normal do plano terminal reto de erupção típico. Aos 3 anos de idade, sua coroa
na dentição mista para uma relação de classe I na está localizada bem acima, na maxila, movendo-se
dentição permanente. para o plano oclusal, numa direção relacionada com
O crescimento diferencial da mandíbula em re- os ápices das raízes dos incisivos laterais, apresen-
lação à maxila é também um importante fator nesta tando, assim, acentuada inclinação mesial. É com
transição. Uma característica do padrão de cresci- está inclinação que usualmente este dente irrompe
mento nessa idade é mais crescimento da mandí- no arco e, nesta oportunidade, ele é o responsável
bula que da maxila; assim, uma mandíbula relativa- pelo fechamento de eventuais espaços interdentais
mente deficiente se supera gradualmente. entre os incisivos. Quando o canino termina sua
Se uma criança tem relação molar de plano erupção, ainda apresenta leve inclinação mesial.
terminal reto na dentição mista, cerca de 3,5 mm
de migração mesial do molar inferior em relação ao Erupção dos segundos molares
molar superior são necessários para que suave permanentes
transição leve à relação de classe I na dentição
permanente. Cerca de metade dessa distância deve O segundo molar inferior irrompe depois de
ser conseguida pelo crescimento diferencial da todos os dentes permanentes anteriores a ele, an-
mandíbula, que leva consigo o molar inferior. A ou- tes do segundo molar superior permanente. Quan-
tra metade pode ser obtida pelo “leeway space”, do esta seqüência se encontra invertida, pode-se
que permite maior movimento mesial do molar in- prever o agravamento de uma relação classe II
ferior que o do molar superior. entre os molares.
Apenas uma alteração modesta na relação A erupção dos segundos molares pode ser pre-
molar pode ocorrer pela combinação do crescimen- coce, quando houver a perda prematura dos segun-
to diferencial dos maxilares com o movimento ante- dos molares decíduos.
rior diferencial do molar inferior. Deve-se ter em
mente que as mudanças aqui descritas são as que Modificações dos arcos durante o
acontecem em uma criança que apresenta padrão desenvolvimento da oclusão
normal de crescimento.
Não há garantia de que o crescimento diferen- Durante o desenvolvimento da oclusão, ocor-
cial para frente da mandíbula vá ocorrer nos exem- rem algumas modificações importantes nos arcos
plos dados, nem mesmo que o “leeway space” se dentais, nas seguintes dimensões:
feche de tal modo que o molar inferior se mova
relativamente para frente. 1. Distância intercaninos
2. Distância interpré-molares
Erupção dos caninos e pré-molares 3. Distância intermolares
4. Comprimento do arco
Três fatores podem interferir na erupção dos 5. Perímetro do arco
caninos e pré-molares: a) seqüência favorável de 6. Overjet (sobressaliência)
erupção; b) espaço disponível para estes dentes 7. Overbite (sobremordida)
irromperem em relação ao “leeway space”; c) rela- 8. Fase do patinho feio
ção normal entre os molares, isto é, sem necessi-
dade de se utilizar nenhum espaço, por mesializa- 1. Distância intercaninos: é a medida entre faces
ção de molar. linguais dos caninos, na altura da região cervi-
A melhor seqüência normal de erupção no arco cal (ou de cúspide a cúspide). Esta distância
inferior é: canino, primeiro pré-molar, segundo pré- aumenta ligeiramente no arco mandibular, em
molar e segundo molar permanente. Para o arco conseqüência do movimento distal dos caninos
maxilar, a seqüência de erupção já é diferente, ou decíduos, ocupando os espaços primatas. Se-
seja: primeiro pré-molar, segundo pré-molar e cani- gundo Moorrees145, esta distância aumenta, em
no, podendo ser também: primeiro pré-molar, cani- média, 1.12 mm entre os 5 e 18 anos, quando
no e segundo pré-molar. medida na porção cervical, pela superfície lin-

901
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

gual. Aumenta 2.45 mm quando medida de redor de 5 mm, devido à mesialização dos mo-
cúspide a cúspide. No arco maxilar, este au- lares permanentes que pode ocorrer em rela-
mento é um pouco maior. Segundo esse mes- ção ao “leeway space” e também ao fato da
mo autor, há aumento de 1.76 mm na distân- resultante póstero-anterior das forças de oclu-
cia intercaninos quando medida cervicalmente são durante a vida. Esta redução pode ainda
e de 4.39 mm quando medida de cúspide a ser decorrente de alguma inclinação lingual
cúspide. dos incisivos inferiores em função do tipo de
Um dos eventos mais importantes em relação crescimento da mandíbula. Portanto, deve-se
à distância intercaninos, ocorre no arco mandi- entender que o perímetro do arco mandibular
bular onde a erupção dos incisivos permanen- diminui sensivelmente em relação ao perímetro
tes provoca um movimento distal dos caninos do arco maxilar que, ao contrário, aumenta
decíduos, para os espaços primatas. principalmente em função da inclinação labial
2. Distância interpré-molares: é a distância medi- dos incisivos permanentes.
da entre os pré-molares, lingualmente. Mostra A avaliação correta do perímetro dos arcos du-
que não há grandes aumentos, seja quando a rante a dentição mista e sua interpretação é de
medida é registrada entre os molares decíduos, grande valor quando se pretende realizar a
ou entre os pré-molares. análise da dentição mista.
3. Distância intermolares: na distância entre os pri- 6. “Overjet” (sobressaliência): pode-se definir
meiros molares permanentes ocorrem alguns au- “overjet” como sendo o trespasse dos incisivos
mentos, em função da sua erupção, embora as superiores em relação aos inferiores, no plano
coroas dos molares inferiores ocluam lingualmen- horizontal. O “overjet” é medido em milímetros
te, pelo menos até a erupção dos segundos mo- a partir da face vestibular dos incisivos inferio-
lares. Deve-se entender também que estas modi- res até a borda incisal dos incisivos superiores.
ficações ocorrem por conta das diferenças entre O “overjet” aumenta em função das relações
os mecanismos de crescimento da mandíbula e ântero-posteriores da maxila e mandíbula e do
da maxila. Na mandíbula ocorre apenas aposição tipo de crescimento da face.
nas bordas laterais do corpo e em pequena 7. “Overbite” (sobremordida): pode-se definir
quantidade. Já na maxila, os processos alveola- “overbite”, como sendo o trespasse dos incisi-
res apresentam um crescimento divergente. vos superiores em relação aos inferiores, no
4. Comprimento do arco: é medido na linha mé- plano vertical. Observa-se alguma modificação
dia a partir de um ponto entre os incisivos na sobremordida na dentição decídua, enquan-
centrais (ponto interincisivo) até uma linha tan- to a sobressaliência permanece igual a zero.
gente às faces distais dos segundos molares Durante a dentição mista, a sobremordida au-
decíduos (ou segundos pré-molares). Ainda menta até a adolescência, (9 a 12 anos), para
que seja medido e mencionado com freqüên- diminuir depois em função das dimensões ver-
cia, não possui a importância clínica da circun- ticais da face também sofrerem modificações.
ferência, e quaisquer mudanças no compri- Considera-se a sobremordida profunda, quan-
mento do arco não são mais do que reflexos do o trespasse vertical é exagerado e os incisi-
evidentes de mudanças no perímetro do vos superiores cobrem as faces vestibulares
arco183. dos inferiores além do terço incisal.
5. Perímetro do arco: é medido a partir da face O overbite é definido como leve quando as
distal do segundo molar decíduo (ou face me- superfícies incisais dos incisivos centrais man-
sial do primeiro molar permanente), acompa- dibulares ocluem com o terço incisal das co-
nha todo o contorno do arco, passando pelos roas dos incisivos maxilares opostos. Se os in-
pontos de contato entre os dentes e bordas cisivos centrais inferiores ocluírem com os 2/3
incisais e terminando no lado oposto, na face médios das coroas dos incisivos centrais supe-
distal dos segundos molares decíduos (ou face riores o overbite é considerado moderado e
mesial do primeiro molar permanente). denominado severo quando os incisivos mandi-
Moorrees138 citou uma redução no perímetro do bulares ocluem com o cíngulo dos incisivos su-
arco mandibular durante a dentição mista, ao periores ou com a papila incisal.

902
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

8. A fase do Patinho Feio: outra característica 6o ano de vida – mandíbula: os incisivos


marcante do estágio de dentição mista é a centrais decíduos já devem ter esfoliado e os
chamada “fase do patinho feio” que se caracte- incisivos centrais permanentes podem estar
riza pela divergência das coroas e convergência irrompendo. Não estão totalmente calcificadas
das raízes dos incisivos laterais em relação à as coroas dos pré-molares e segundos molares.
linha mediana, provocando diastemas entre os 7o ano de vida – maxila: os incisivos cen-
incisivos superiores devido a inclinação distal trais decíduos já esfoliaram e estão sendo
das coroas dos incisivos laterais superiores substituídos pelos permanentes. Os primeiros
(Fig. 25.23). É uma característica fisiológica, molares permanentes já se encontram total-
que aparece por volta dos nove anos de idade mente irrompidos. As coroas dos dentes per-
e termina por volta dos doze anos com a erup- manentes estão totalmente calcificadas, até o
ção dos caninos superiores permanentes. Os segundo molar. Suas raízes encontram-se em
diastemas aparecem porque os caninos perma- diferentes estágios de desenvolvimento.
nentes pressionam as raízes dos incisivos late- 8o ano de vida – maxila e mandíbula: os
rais em direção à linha mediana e, como con- incisivos e os primeiros molares permanentes
seqüência, há divergência entre as coroas dos estão totalmente irrompidos e em oclusão. To-
incisivos e o aparecimento de diastemas. Trata- dos os outros dentes permanentes apresentam
se de uma condição que pode ser autocorrigida suas coroas totalmente calcificadas, exceto o
com a erupção dos caninos permanentes des- terceiro molar cujas raízes estão em diferentes
de que haja correção das inclinações axiais dos estágios de desenvolvimento.
incisivos e fechamento de diastemas26. 9o ano de vida – maxila e mandíbula: os
incisivos e os primeiros molares estão em com-
pleta relação oclusal. As raízes estão totalmen-
te calcificadas. Os demais dentes permanentes
se encontram em estágios variados de desen-
volvimento radicular.
10o ano de vida – maxila e mandíbula: na
maxila, já se encontram irrompidos os incisi-
vos, pré-molares e o primeiro molar. Os cani-
nos e os segundos molares estão em estágios
avançados de desenvolvimento radicular. Ape-
nas o terceiro molar não apresenta sua coroa
totalmente calcificada. Na mandíbula os incisi-
vos, caninos e primeiros molares estão total-
mente irrompidos, os primeiros pré-molares se
apresentam parcialmente irrompidos. Apenas o
Fig. 25.23 3o molar não apresenta sua coroa totalmente
Fase do patinho feio. calcificada.

Período da dentição permanente

11o ano de vida – maxila e mandíbula:


Seqüência de erupção dos dentes praticamente todos os dentes permanentes es-
permanentes tão irrompidos até o primeiro molar. Às vezes,
os caninos superiores estão em fase final de
6o ano de vida – maxila: o primeiro molar erupção e os segundos molares inferiores se
permanente já pode estar irrompido. As coroas encontram nas fases iniciais de erupção.
dos outros dentes permanentes podem estar 12o ano de vida – maxila e mandíbula:
totalmente calcificadas, com exceção dos pré- todos os dentes permanentes com exceção dos
molares e segundos molares. terceiros molares estão irrompidos. Os caninos

903
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

superiores podem estar na fase final de erupção. Oclusão Normal


As raízes dos pré-molares e segundos molares
estão em fase final de desenvolvimento. As co- Na oclusão normal o arco inferior é um pouco
roas dos terceiros molares não estão ainda to- menor que o superior, de modo que em oclusão as
talmente calcificadas. superfícies labial e vestibular dos dentes do maxilar
13o e 14o ano de vida: as condições são as superior sobrepassam levemente as do inferior. A
mesmas que aos 12 anos, restando apenas a chave de oclusão é a posição relativa dos 1os mola-
formação total das raízes dos segundos pré- res, na qual a cúspide mésio-vestibular do primeiro
molares e segundos molares. As coroas dos molar superior está localizada no sulco entre as
terceiros molares estão totalmente calcificadas. cúspides vestibulares mesial e distal do 1o molar
inferior (Fig. 25.24), com leve trespasse dos dentes
superiores. As cúspides vestibulares dos pré-mola-
CLASSIFICAÇÃO DAS
res e molares do maxilar inferior ocluem nos sulcos
MALOCLUSÕES de seus antagonistas superiores, enquanto os inci-
sivos centrais, laterais e caninos sobrepassam os
Classificação é um processo de estudo dos ca-
inferiores, em um terço do comprimento de suas
sos de maloclusão com o propósito de separá-los
coroas. O incisivo central sendo mais largo que o
em um número relativamente pequeno de grupos
inferior, necessariamente estende-se distalmente
caracterizados por determinadas variações específi-
sobrepassando metade do incisivo lateral; o incisivo
cas e fundamentais da oclusão normal dos dentes.
lateral superior oclui com a porção restante do inci-
Estas variações, por sua vez, adquirem influência
sivo lateral e com a vertente mesial do canino infe-
na determinação do plano de tratamento correto7.
rior. A vertente mesial do canino superior oclui com
Toda classificação deve ter como objetivos:
a vertente distal do canino inferior; a vertente distal
do canino superior oclui com a vertente mesial da
- Reunir grande número de casos de malposi-
cúspide vestibular do primeiro pré-molar inferior; a
ções dentais em uma quantidade relativamente
vertente mesial da cúspide vestibular do 1o pré-
pequena de grupos, que contém somente ca-
molar superior oclui com a vertente distal da cúspi-
sos caracterizados por um ou vários fatores
de vestibular do 1o pré-molar inferior. Essa seqüên-
comuns de significado fundamental.
cia continua nos pré-molares e molares.
- Simplificar os problemas de tratamento, agru-
pando casos que requerem o mesmo plano
geral de movimentação de dentes para estabe-
lecer uma oclusão normal.
- Indicar claramente os procedimentos adequa-
dos para o tratamento.
- Facilitar conclusões mais exatas no que diz res-
peito à etiologia, prognóstico, contenção e pre-
venção das maloclusões.

Para diagnosticar corretamente todos os casos


de maloclusão é necessário conhecer primeiro a
oclusão normal dos dentes e em segundo plano, as
linhas faciais normais7, cujos conceitos devem estar
claros na mente para formar a base a partir da qual
pode-se notar todos os desvios do normal.

Fig. 25.24
Chave de oclusão.

904
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Classificação de Angle 1. Classe I

Para diagnosticar os casos de maloclusão, An- Relação mesiodistal normal dos arcos dentais,
gle7 considerou inicialmente as relações mesiodis- com os primeiros molares geralmente em oclusão
tais dos arcos dentais e em segundo plano as posi- normal, embora um ou mais dentes podem estar
ções individuais dos dentes. Obviamente, as varia- em oclusão lingual ou vestibular. Os dentes anterio-
ções mesiodistais de todos os dentes são levadas res podem apresentar anomalias de posição, sem
alterar as relações mesiodistais normais dos primei-
em consideração, mas as relações dos caninos e da
ros molares (Figs. 25.25A a C).
cúspide mésio-vestibular dos 1os molares superiores
com o sulco vestibular dos 1os molares inferiores
2. Classe II
são os pontos escolhidos pelo autor para iniciar o
diagnóstico dos casos, por serem os dentes com
Relação mesiodistal anormal dos arcos dentais,
maior probabilidade de ocupar posições normais do
com todos os dentes inferiores ocluindo distalmente
que quaisquer outros dentes.
em relação ao normal, produzindo desarmonia mar-
Na 7a edição de seu livro “Maloclusão of the cante na região de incisivos e nas linhas faciais
teeth”, Angle7 publicou sua classificação modificada (Figs. 25.26A a C).
apresentada, inicialmente, em 1889, na qual divide A classe II tem duas divisões que, por sua vez,
as anomalias dentárias em três grandes classes apresentam uma subdivisão: divisão 1, subdivisão e
bem definidas: classe I, classe II e classe III. divisão 2, subdivisão.

Figs. 25.25A a C
Classe I:
A - Vista lateral direita;
B - Vista frontal;
C - Vista lateral esquerda.

905
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

Figs. 25.26A a C
Classe II:
A - Vista lateral direita;
B - Vista frontal;
C - Vista lateral esquerda.

- divisão 1: oclusão distal bilateral, arco superior - divisão 2: oclusão distal bilateral, menor estrei-
estreito, incisivos superiores protruídos, acom- tamento do arco superior, inclinação lingual
panhados pela função anormal dos lábios com dos incisivos superiores, com maior ou menor
alguma forma de obstrução nasal e respiração apinhamento dos mesmos e com função labial
bucal (Figs. 25.27A a C). e nasal normais (Figs. 25.29A a C).

- subdivisão: apresenta as mesmas característi- - subdivisão: apresenta as mesmas característi-


cas da divisão 1, porém, a oclusão distal dos cas da divisão 2, porém, a oclusão distal é
dentes inferiores em relação aos superiores unilateral (Figs. 25.30A a C).
ocorre apenas em um lado da arcada, sendo o
outro lado, normal (Figs. 25.28A a C).

906
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Figs. 25.27A a C
Classe II, divisão 1:
A - Vista lateral direita;
B - Vista frontal;
C - Vista lateral esquerda.

Figs. 25.28A a C
Classe II, divisão 1, subdivisão direita:
A - Vista lateral direita;
B - Vista frontal;
C - Vista lateral esquerda.

907
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Figs. 25.29A a C
Classe II, divisão 2:
A - Vista lateral direita;
B - Vista frontal;
C - Vista lateral esquerda.

Figs. 25.30A a C
Classe II, divisão 2, subdivisão esquerda:
A - Vista lateral direita;
B - Vista frontal;
C - Vista lateral esquerda.

908
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

3. Classe III riores e caninos que se torna mais pronunciada


com aumento da idade devido a pressão do
A classe III apresenta uma divisão e uma sub- lábio inferior num esforço para fechar a boca
divisão: (Figs. 25.31A a C).
A desarmonia no tamanho dos arcos deve-se
- Divisão 1: a relação ântero-posterior dos maxi- geralmente ao desequilíbrio no desenvolvimen-
lares é anormal, com todos os dentes inferiores to dos ossos maxilares. O ângulo da mandíbula
ocluindo mesialmente em relação aos dentes é mais obtuso que o normal e isto pode ser o
antagonistas, na largura de um pré-molar ou resultado do excessivo crescimento do corpo
mais em casos extremos. A disposição dos da mandíbula.
dentes nos arcos varia muito na classe III, des-
de um arco bem alinhado até com apinhamen- - Subdivisão: apresenta as mesmas característi-
to considerável e com trespasse vertical. Geral- cas da classe III, porém, a oclusão mesial é
mente há inclinação lingual dos incisivos infe- unilateral (Figs. 25.32A e B).

Figs. 25.31A a C
Classe III:
A - Vista lateral direita;
B - Vista frontal;
C - Vista lateral esquerda.

909
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

Figs. 25.32A e B
Classe III, subdivisão direita:
A - Vista lateral direita;
B - Vista lateral esquerda.

Críticas à classificação de ANGLE


Nos casos de classe II, o tratamento deve ter
Segundo ANGLE, não pode existir desarmonia por base o deslocamento do arco inferior para
facial quando os arcos dentais estão em “oclusão mesial, de acordo com a teoria de normalidade
normal” e quando se restabelece a “oclusão normal” de posição do 1o molar superior. Entretanto, mui-
consegue-se o melhor equilíbrio dos contornos fa- tos casos de classe II apresentam sua anomalia
ciais. Todavia, sabe-se que casos com “oclusão nor- no arco superior, estando o inferior normal: logo,
mal” apresentam desarmonia facial ou vice-versa. o tratamento deve ter como finalidade o arco
Normalidade de posição dos primeiros molares superior.
superiores. Segundo ANGLE, seria o 1o molar infe- Sua classificação só pode ser usada após a
rior susceptível de modificação, gerando com isso erupção dos primeiros molares permanentes.
as distintas anomalias. No entanto, vários autores O sistema de Angle foi um passo importante
comprovam que a posição dos 1os molares superio- não somente porque fornece uma classificação sim-
res está sujeita a variações e , portanto, as anoma- ples, clara e ordenada, mas também porque esta-
lias de oclusão podem ocorrer à expensa de qual- belece uma definição simples de oclusão normal,
quer dos arcos dentais. que permite distingui-la da maloclusão. Entretanto,
A classificação de ANGLE é incompleta porque é reconhecido que não é completa ou exata, pois
estuda somente as anomalias de oclusão no senti- não inclui características importantes, como infor-
do ântero-posterior. Não faz nenhuma referência às mações sobre os planos vertical e transversal.
anomalias verticais e transversais.

910
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

ETIOLOGIA DAS MALOCLUSÕES afeta a morfologia dentofacial, pois o padrão de


crescimento e desenvolvimento possui um forte
A maloclusão é uma condição em desenvolvi- componente hereditário. De acordo com os conheci-
mento. Embora seja difícil conhecer a causa precisa mentos atuais, os seguintes tecidos podem ser afe-
da maioria das maloclusões, sabe-se em geral quais tados geneticamente: sistema neuromuscular, den-
são as possibilidades que devem ser consideradas tes, tecidos ósseo/cartilaginoso ou tecidos moles.
no planejamento de tratamento.
Existem vários métodos para classificar os fato- - Sistema Neuromuscular
res etiológicos57,81,147,177. Para uma abordagem mais As deformidades hereditárias do sistema neu-
simples, pode-se resumir as causas da maloclusão romuscular consistem de anomalias em: tamanho,
em 7 grupos: posição, tonicidade, contratilidade e padrão de co-
ordenação neuromuscular das musculaturas facial,
1. Fatores hereditários oral e lingual. Como exemplo, pode-se citar a ma-
2. Anomalias congênitas ou adquiridas croglossia, hipoglossia e condições patológicas ra-
3. Traumatismo ras como hipertrofia e atrofia muscular que podem
4. Agentes físicos também causar maloclusões.
5. Hábitos
6. Enfermidades - Dentes
7. Desnutrição Muitas características da dentição são hereditá-
rias: tamanho, forma e número de dentes; minera-
1. Fatores Hereditários lização, trajetória e seqüência de erupção.
Discrepâncias na forma e tamanho dos dentes
A maloclusão pode ter sua origem nas caracte- são as causas mais comuns das maloclusões dentá-
rísticas hereditárias, ou seja, os filhos herdam algu- rias. O tamanho dos dentes em relação a sua base
mas características dos pais. Esses fatores podem óssea é o aspecto mais relevante, pois resulta nas
ser modificados por: ambientes pré e pós-natal, há- discrepâncias ósseo-dentais positivas ou negativas
bitos anormais, transtornos nutricionais e outros, (Figs. 25.33A e B). No que se refere à forma dos
porém, o padrão básico persiste. Pode-se afirmar dentes, a microdontia dos incisivos laterais superio-
que existe um determinante genético definido que res (incisivo conóide) é a mais comum (Fig. 25.34).

A B

Figs. 25.33A e B
A - Discrepância ósseo-dental positiva; e
B - Discrepância ósseo-dental negativa.

911
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Fig. 25.34
Microdontia do incisivo lateral superior esquerdo
conóide e oligodontia do incisivo lateral superior
direito.

As anomalias de número incluem oligodontia e outras síndromes, como por exemplo, displasia
a presença de dentes supranumerários (Fig. 25.35). ectodérmica, fenda palatina, síndrome de Down. A
A oligodontia, ausência de dentes, é mais freqüente presença de dentes supranumerários é mais co-
na dentição permanente do que na decídua (Fig. mum na dentição permanente, e ocorre mais fre-
25.34). Os terceiros molares são os dentes mais qüentemente na maxila, especialmente na região
freqüentemente ausentes, seguidos em ordem de- anterior (mesio-dens) e nos molares. Em seguida,
crescente pelos 2os pré-molares inferiores, incisivos os dentes mais afetados são os pré-molares inferio-
laterais superiores, 2os pré-molares superiores, inci- res e incisivos. O dente supranumerário pode apre-
sivos centrais inferiores e 1os pré-molares inferiores sentar forma normal ou atípica e estar associado a
e superiores. A oligodontia pode estar associada a pacientes com fenda labial e disostose cleidocranial.

Fig. 25.35
Radiografia oclusal evidenciando
presença de dente supranume-
rário na linha mediana.

912
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

As anomalias nas estruturas dentárias herdadas nas dentições decídua ou permanente, localizar-se
diferem das ambientais ou decorrentes de distúrbios no esmalte e na dentina e normalmente aparecem
exógenos, uma vez que as malformações herdadas como manchas e sulcos horizontais.
estão presentes em ambas as dentições: decídua e Problemas hereditários na trajetória e na se-
permanente podem se localizar no esmalte ou na qüência de erupção dos dentes podem provocar
dentina e os defeitos da estrutura dentária estão impacção de dentes decíduos e permanentes além
dispostos irregularmente ou como cristais e sulcos de transposição de dentes, sendo a mais comum,
verticais. As anomalias ambientais podem ocorrer de caninos e pré-molares superiores (Fig. 25.36).

Fig. 25.36
Radiografia panorâmica evidenciando
transposição de canino e pré-molar superi-
or direito.

- Ossos trognatismo. Alterações na forma dos ossos ou


A maxila, mandíbula e outros ossos do com- bases maxilares como a hipoplasia estão associa-
plexo craniofacial sofrem influência de fatores ge- das às malformações hereditárias como disostose
néticos durante o crescimento, podendo afetar o craniofacial ou doença de Crouzon e disostose
tamanho, forma e localização, além do número cleidocranial.
de ossos presentes e conseqüentemente produzir As maloclusões esqueléticas de classe II e clas-
displasia óssea hereditária. As anomalias de ta- se III com prognatismo mandibular, protrusão bi-
manho ósseo podem causar micrognatismo ou maxilar, mordidas abertas esqueléticas são as que
macrognatismo hereditários e as variações na lo- apresentam maior influência hereditária (Figs.
calização óssea resultam no prognatismo ou re- 25.37A e B; 25.38A e B).

A B

Figs. 25.37A e B
A - Vista intra-oral; e
B - Radiografia cefalométrica de maloclusão esquelética de Classe II.

913
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

Figs. 25.38A e B
A - Vista intra-oral; e
B - Radiografia cefalométrica de maloclusão esquelética de Classe III.

- Tecidos Moles 3. Traumatismo


As fissuras faciais, microstomia, hipertrofia do
freio labial superior e anciloglossia são as anomali- Os traumas podem ocorrer nos períodos pré e
as hereditárias dos tecidos moles mais freqüentes pós-natal e durante o nascimento. O trauma pré-
(Fig. 25.39). natal intra-uterino pode causar assimetrias do es-
queleto facial e hipoplasias de mandíbula. Traumas
durante o nascimento ou no momento do parto,
podem provocar principalmente lesões nas articula-
ções temporomandibulares. Os traumas pós-natais
podem ocorrer em qualquer idade e as conseqüên-
cias dependem da extensão, localização em que o
trauma acontece e da fase do desenvolvimento.
Fraturas dos maxilares e lesões envolvendo a denti-
ção podem resultar em várias seqüelas dependendo
da época em que o acidente ocorreu. Se o trauma
acontecer antes da erupção dos dentes decíduos
pode resultar retenção, deslocamento e malforma-
ção destes dentes que podem ou não prejudicar os
germes dos dentes permanentes.
Fig. 25.39
Hipertrofia do freio labial superior.
4. Agentes Físicos

Alguns fatores acentuam o desenvolvimento de


2. Anomalias Congênitas ou uma anomalia, como por exemplo, perda prematu-
Adquiridas ra dos dentes decíduos, alimentação e respiração
bucal.
As anomalias congênitas são as maloclusões
causadas por anomalias desenvolvidas durante o - Perda Prematura de Dentes Decíduos
período fetal. Muitas são as causas dessas displa- A perda prematura de dentes decíduos pode
sias: doenças virais da mãe (toxoplasmose), radia- reduzir o potencial mastigatório e conseqüentemen-
ção ionizante, drogas (medicamentos) ou outras te impedir o desenvolvimento maxilar normal, além
substâncias nocivas. A maioria das fissuras labiais e de não manter o espaço para a erupção do dente
palatinas é considerada anomalia congênita. permanente (Fig. 25.40).

914
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Fig. 25.40
Perda prematura de
molares decíduos.

- Alimentação Além das características faciais e intrabucais


A alimentação é um fator importante no desen- citadas, o respirador bucal também apresenta pro-
volvimento dos maxilares. Dieta extremamente pas- blemas de postura e de comportamento peculiares
tosa pode ser fator etiológico de algumas maloclu- a sua condição como: cabeça inclinada para frente,
sões, pois a função inadequada resulta em contra- ombros caídos, musculatura abdominal flácida, difi-
ção dos arcos dentários, além de desenvolver a culdade de se alimentar, ansiedade, ronco noturno
“mastigação temporal”, ou seja, a criança realiza e outras.
apenas movimentos cortantes em vez de “mastiga-
ção massetérica”, que produz o ciclo completo de Fatores Etiológicos
trituração. Os movimentos funcionais incompletos
da mastigação temporal afetam o desenvolvimento A respiração bucal é causada principalmente
dos maxilares. pela obstrução nasal provocada por:

- Respiração Bucal - Hipertrofia das adenóides e das amígdalas: A


A respiração é uma das funções básicas de hipertrofia das adenóides consiste aumento do
qualquer ser vivo, essencial para sua sobrevivência. volume da amígdala faríngea (Fig. 25.41), que
A presença de qualquer obstáculo no sistema respi- se apresenta como uma massa de tecido linfói-
ratório, principalmente nas regiões nasal e faríngea, de localizada no teto da nasofaringe, na sua
ocasionará obstrução, obrigando o paciente a utili- parede posterior, formada por cinco a seis
zar a cavidade bucal como alternativa para respi- segmentos separados por sulcos mais profun-
rar3. A respiração bucal pode ser estabelecida dos e recobertos, como a mucosa nasal, por
quando há obstrução nasal devido à predisposição um epitélio ciliado45,132,207 .
anatômica ou patologias diversas, tais como: hiper-
trofia de amígdalas ou adenóides, desvio de septo,
rinite alérgica, conchas nasais hipertróficas, entre
várias outras.
Com o hábito de respirar pela boca, o paciente
assume nova postura para compensar e tornar pos-
sível a respiração. Desta forma ocorre desarmonia
no crescimento e desenvolvimento das estruturas
orofaciais podendo-se observar: estreitamento da
maxila, desenvolvimento vertical da mandíbula,
protrusão dos incisivos superiores, posição distal da
mandíbula em relação à maxila, hipotonicidade da
Fig. 25.41
musculatura facial entre outros164.
Tonsila palatina (amígdala) hipertrofiada.

915
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Segundo Melon132 esta amígdala é denomina- getações adenoideanas podem ser diagnosti-
da vegetação adenoideana quando sua espes- cadas mediante radiografia de perfil da naso-
sura tem um aumento além de 3 a 4 mm. A faringe assim como pela endoscopia nasal
hipertrofia, normalmente freqüente e precoce, (Figs. 25.42A e B).
depende de estímulos antigênicos de origem A hipertrofia de adenóides pode estar associa-
viral e microbiano, criando um obstáculo res- da à hipertrofia das amígdalas palatinas, criando
piratório nas idades de 1 a 2 anos e atingindo uma síndrome obstrutiva severa132. A criança
seu volume máximo aos 4 anos. Ocorre obs- pode desenvolver roncos noturnos e apnéias
trução nasal que desencadeia a respiração freqüentes, geralmente quando os pólos amigda-
bucal noturna, permanentemente acompanha- lianos superiores estão afetados134.
da de voz nasal, estase de secreção mucosa O enfartamento das amígdalas confere ao de-
nas duas cavidades nasais com infecção fre- glutir uma sensação dolorosa. Os pacientes
qüente e tosse noturna. Por estas razões é com amidalites buscam outras posições para a
importante estar alerta a queixas de apnéia língua, sobretudo quando se encontram afeta-
noturna e sonolência durante o dia134. As ve- dos os pólos amigdalianos superiores.

A B

Figs. 25.42A e B
A - tonsilas faríngeas (adenóides) hipertrofiadas evidentes na radiografia cefalométrica; e
B - imagem da tonsila faríngea pela nasofibroscopia.

- Tumefação inflamatória da mucosa nasal (rinite A inflamação da mucosa nasal pode também
e sinusite): A infecção é a causa mais freqüen- ser de origem alérgica. Nos indivíduos geneti-
te de tumefação inflamatória das mucosas na- camente predispostos, a exposição prolongada
sais. Pode ser de origem viral e momentânea, a um alergeno provoca a síntese de imunoglo-
ou de origem bacteriana, podendo tornar-se bulinas específicas do tipo IgE ao nível dos
crônica, principalmente devido ao bloqueio res- plasmócitos da mucosa. Estas IgE se fixam nos
piratório, à propagação da infecção aos seios mastócitos e todo contato com o antígeno ati-
nasais e ao déficit imunológico. As rinosinusites va a liberação dos mediadores dos mastócitos,
são freqüentes na infância e nas crianças em os quais são responsáveis por prurido, espir-
idade escolar durante períodos de frio que le- ros, rinorrea mucosa, vasodilatação e edema
vam à diminuição na atividade ciliar e resseca- da mucosa com obstrução nasal.
mento da mucosa nasal134. Na rinite alérgica o paciente apresenta prurido

916
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

nasal intenso, espirros, obstrução nasal e cori- As deformações consistem em espessamentos


za hialina, como conseqüência do intenso pro- ou desvios laterais. Os espessamentos envol-
cesso inflamatório da mucosa nasal (Fig. vem principalmente a base septal, o tubérculo
25.43). Pode estar acompanhada de outros da cartilagem quadrangular e o lado posterior
sintomas como roncos, distúrbios do sono, irri- do vômer.
tação da garganta, secura matinal, moleza, fa- Os desvios se apresentam sob a forma de:
diga, irritabilidade, hipo ou anosmia, prurido convexidade unilateral ou bilateral em forma
ou irritação conjuntival134. A “síndrome alérgi- de S; deslocamento lateral do bordo inferior
ca” desencadeia a respiração bucal crônica. da cartilagem quadrangular; osso mais proe-
minente freqüentemente situado na junção
entre o vômer e a lâmina perpendicular do
etmóide.

- Corpo estranho: Nos casos em que ele não é


removido rapidamente, permanecendo por lon-
gos períodos, ao seu redor ocorrem depósitos
de sais calcáreos formando rinolitos, que po-
dem ser causa do início da respiração bucal134.

- Atresia coanal: Malformação congênita com


obstrução de uma ou ambas as coanas que
ficam fechadas, e o obstáculo pode ser
membranoso ou ósseo. Quando unilateral, seu
diagnóstico é retardado, manifestando-se em
geral por obstrução nasal e rinorreia unilateral
Figs. 25.43
persistente.
Imagem radiográfica de conchas inferiores hipertrofiadas em
um paciente com rinite alérgica.
- Pólipos nasais: São estruturas não neoplásticas
formadas por mucosa nasal hiperplásica e in-
flamada que podem ocluir a cavidade nasal,
Os principais alergenos que causam estes sin- por inflamações crônicas da mucosa nasal. São
tomas são os polens, o pó doméstico, os pelos massas esbranquiçadas, isoladas ou múltiplas,
de animais, fumaça de cigarro e produtos quí- de superfície lisa e base pedunculada. Têm ori-
micos. De acordo com a natureza do alergeno gem na região do meato médio, podendo se
causal, a sintomatologia é periódica ou crônica. expandir à cavidade nasal, nasofaringe, narinas
A mucosa nasal sofre uma hiper-reatividade e seios paranasais. Freqüentemente associados
que pode levar à congestão obstrutiva sob a a rinosinusite crônica, asma e outros.
ação de fatores psíquicos, reflexos, farmacoló-
gicos ou alimentares. - Tumores nasais: Entre outras causas há os tu-
mores nasais benignos como hemangioma,
- Desvio do septo nasal de origem congênita ou meningoencefalocele e angiofibroma juvenil.
por trauma: Os desvios do septo nasal são
freqüentes e podem ser observados desde o - Fossas nasais estreitas: Algumas crianças apre-
nascimento, podendo ser decorrentes do parto sentam desde o nascimento um maxilar supe-
pela má colocação dos fórceps ou acidental. rior consideravelmente estreito, de origem he-
São o resultado de um crescimento irregular reditária ou congênita que tende reduzir os po-
dos segmentos esqueléticos ou de traumatis- tenciais nasais119,120 . Este estreitamento pode
mos responsáveis por fraturas que podem pro- ser constitucional ou fazer parte de síndromes
mover dificuldades respiratórias por estreita- de malformações como acondroplasia, Binder,
mento de uma ou ambas fossas nasais. disostose maxilofacial, Bimler, Crouzon, Alpert.

917
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Características do Respirador Bucal Se a via respiratória nasal encontra-se obstruída,


estabelece-se uma posição postural mandibular mais
O paciente respirador bucal possui caracterís- inferior, possibilitando assim que o indivíduo respire
ticas marcantes, como: face longa e estreita, lábio pela boca. Devido a essa nova posição da mandíbula
superior hipoativo, curto e elevado, lábios separa- há aumento do tônus muscular do pterigóideo lateral,
dos e ressecados, língua hipotônica e volumosa, digástrico e milohióideo, que são músculos depresso-
repousando sobre o assoalho bucal, nariz pequeno res da mandíbula. Além disso, observa-se o estira-
e afilado e olheiras profundas. Linder-Aronson122 mento dos músculos elevadores da mandíbula: tem-
demonstrou que existe uma relação entre respira- poral, masseter e pterigóideo interno. Se a obstrução
ção bucal e o tamanho da adenóide. Em 93% dos nasal persistir por um tempo longo, a musculatura se
respiradores bucais observou-se pequena coluna adaptará à nova posição postural. Conseqüentemente
aérea nasofaríngea e apenas 5% deles apresenta- a língua se posicionará mais inferiormente, alterando
vam coluna aérea grande. O fluxo nasal é diminuí- todo o suporte dos dentes superiores possibilitando a
do em crianças que apresentam adenóides gran- ocorrência de maloclusão87.
des e aumentado em crianças com adenóides pe- A respiração bucal favorece o padrão de cresci-
quenas. Quando o tamanho da adenóide aumenta, mento vertical com rotação horária da mandíbula,
a língua tende a posicionar-se mais para baixo, modificando a arquitetura facial68,94,209. Para respirar
resultando em estreitamento da face, palato ogival pela boca, é necessário abaixar a mandíbula e a
e relações alteradas entre mandíbula e maxila, se língua, e inclinar a cabeça para trás. Se essas altera-
a respiração bucal for prolongada209. Quanto à ções posturais forem mantidas, a altura da face
dentição, os resultados foram significativos: arco aumenta e os dentes posteriores sofrem sobre-
superior estreito, mordidas cruzadas, retro-inclina- erupção, com rotação para baixo e para trás da
ção de incisivos superiores e inferiores e arco infe- mandíbula108,125, abrindo a mordida na região ante-
rior pequeno (Figs. 25.44A e B). rior e aumentando o overjet. Além disso, a aumenta-
da pressão dos bucinadores pode causar contração
do arco dental maxilar92,123,162,163,201 (Figs. 25.45A e B).

Figs. 25.44A e B
Características faciais do respirador bucal.

918
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

Figs. 25.45A e B
A - Mordida aberta anterior; e
B - Mordida cruzada posterior unilateral funcional causada pela contração do arco maxilar.

O paciente respirador bucal apresenta postura prometendo o sentido do olfato e conseqüentemen-


e comportamento característicos: deformidades to- te do paladar. Nestes casos o paciente torna-se
ráxicas, músculos abdominais distendidos ou fláci- excessivamente magro.
dos, posição inadequada da cabeça em relação ao A respiração bucal é diagnosticada de maneira
pescoço, ombros posicionados para frente compri- multidisciplinar, onde o cirurgião-dentista, o fonoau-
mindo o tórax, alterações dos órgãos fonoarticula- diólogo e o otorrinolaringologista têm papéis impor-
tórios e das funções do aparelho estomatognático70. tantes127. Odontopediatras e ortodontistas têm a
É importante salientar que as alterações fun- vantagem de entrar em contato com o paciente
cionais e posturais são bastante evidentes nas muito cedo, podendo assim realizar um diagnóstico
crianças em idade pré-escolar (3 a 6 anos), porém, precoce e conseqüentemente ter sucesso no trata-
as alterações esqueléticas e oclusais não são tão mento. O paciente deve ser analisado desde o pri-
evidentes, uma vez que, o crescimento dos ossos meiro contato com o dentista, que poderá observar
da face média e sobretudo da mandíbula atinge seu características faciais ou de posturas inerentes aos
maior potencial mais tardiamente, ou seja, no pe- respiradores bucais.
ríodo do surto máximo de crescimento puberal198. Ao fazer o exame ortodôntico, é necessário
Além disso, apresentam distúrbios de crescimento e proceder à anamnese completa com idéia geral de
desenvolvimento e falta de atenção na escola. Os saúde do paciente, em particular com dados sobre
autores associaram tais características à falta de história de alergias e distúrbios nasorespiratórios. A
oxigenação sanguínea adequada45. observação da respiração alternando o fechamento
A dificuldade de alimentação é outra caracte- dos lábios e de cada narina ou quando a criança
rística inerente ao paciente respirador bucal. Como estiver tomando algum líquido foi relatada por
respira pela boca, a mastigação e a respiração Quinn164. Como exame auxiliar no diagnóstico da
competem entre si. Assim sendo, o indivíduo tende respiração bucal pode-se solicitar ao paciente que
a comer muito rápido, não mastiga adequadamente permaneça por 3 minutos com água na boca e com
e faz todas as refeições ingerindo muito líquido. os lábios selados. A observação da dilatação das
Evita alimentos duros, preferindo os pastosos. Suas asas do nariz durante a inspiração e expiração na-
refeições são feitas de forma rápida para que possa sal, o uso da borboleta de algodão sob as narinas
respirar. Dessa maneira, o paciente pode tornar-se bem como um espelho de dupla face sob o nariz
excessivamente gordo. Por outro lado, o paciente são outros métodos auxiliares no diagnóstico da
pode evitar comer devido à sufocação sentida du- respiração bucal148. O diagnóstico clínico sempre
rante as refeições pela falta de uso do nariz, com- deve ser complementado com exames radiográficos

919
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

como a tomada da radiografia cefalométrica em tição reflexa. Desta maneira, a língua não participa
norma lateral onde se verifica a presença de hiper- como órgão de deglutição, de forma que sua posi-
trofia de adenóide. O exame otorrinolaringológico é ção mais anterior resulta em maior amplitude aos
importante para analisar a causa da respiração bu- espaços aéreos retrofaríngeos, permitindo ao bebê
cal através da rinoscopia, onde se faz exames das respirar e deglutir de maneira coordenada. A cada
fossas nasais pela parte anterior. mamada, a criança exercita essa tríade funcional.
Com o uso da mamadeira incorreta, assim como
5. Hábitos da chupeta, o bebê não everte os lábios, fechando-
os e apertando-os contra a chupeta ou bico. Não
- Hábitos de Sucção Não Nutritivos protrue a língua para abraçar o bico, a ponta da
Para entender os efeitos da sucção digital e/ou língua regula o fluxo de líquido e o corpo da língua é
chupeta devemos conhecer a função normal das usado como órgão de deglutição, levando o líquido
estruturas afetadas. A cavidade bucal forma parte para trás para degluti-lo enquanto interrompe a res-
de um complexo morfofuncional especializado, cu- piração. Assim se produz uma adaptação funcional
jas estruturas são diferenciadas e tem crescimento condicionada ao bico da chupeta, que predispõe a
rápido e intenso, que começa nos primeiros meses criança a reprogramar suas funções43.
de gestação. Durante o período fetal, desde o 4º e Se a amamentação for adequada e oportuna, a
5º meses, as funções de deglutição e sucção come- criança satisfaz as necessidades orgânicas e afetivas
çam de forma independente. Ao nascimento, a res- relacionadas com a sucção, reduzindo a incidência
piração constitui, com a deglutição e sucção uma de hábitos prolongados de sucção não nutritivos,
tríade funcional interdependente, coordenada e chupeta ou dedo196 (Fig. 25.46). A sucção digital ou
harmoniosa. Para isso deve-se permitir ao bebê o de chupeta tem sido considerada normal nos estágios
acople adequado da boca ao peito: a ponta da iniciais de desenvolvimento da criança. Graber82,83
língua sobrepassando o rodete gengival, apoiando- acredita que o hábito desaparece espontaneamente
se na mucosa do lábio inferior e os lábios evertidos em muitos casos até o final do 2º ano de vida.
apoiando-se em todo o contorno da zona areolar A maioria dos hábitos de sucção digital começa
criando um encaixe hermético, de tal modo que o precocemente e quase sempre é interrompida es-
bico e a aréola alongam-se até o fundo da boca, pontaneamente até 3 ou 4 anos de idade101,148 (Figs.
onde o leite é derramado, desencadeando a deglu- 25.47A e B).

Fig. 25.46
Amamentação natural.

920
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

Figs. 25.47A e B
Hábitos de sucção digital.

Bebês alimentados com mamadeira mostram As crianças que são alimentadas pela mama-
hábitos de sucção indesejáveis se a mesma for ofe- deira podem satisfazer a necessidade de sucção
recida com o objetivo de acalmá-los ou induzi-los instintiva através de chupeta (Fig. 25.48).
ao sono. Quando a criança é desmamada, aprende
a succionar o polegar ou outros dedos. Algumas
crianças fazem sucção digital por insegurança, para
liberar tensões emocionais ou buscar conforto e/ou
prazer148.
A prevalência de hábitos de sucção não nutriti-
vos é muito variável e depende de vários fatores,
como por exemplo, a cultura do país. Estes hábitos
não são comuns na África e são desconhecidos pe-
los esquimós, enquanto que nos países ocidentais,
95% das crianças apresentam algum hábito, sendo
a sucção digital mais comum nos grupos socioeco-
nômicos mais elevados117. Farsi et al.69 relataram
que a prevalência de hábitos de sucção parece ser
maior em crianças de países industrializados. Essas
evidências sugerem que os hábitos não nutritivos
são influenciados pelas práticas de manejo das
crianças, que diferem de uma população para ou-
tra, ressaltando que os fatores ambientais assu-
mem papel importante no aparecimento do hábito
do que a própria influência genética. As crianças
dos países ocidentais têm menos contato com as
mães e compensam essa ausência adquirindo hábi- Fig. 25.48
tos alternativos, sucção digital ou de chupeta113. Hábito de sucção de chupeta.

921
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

O uso da chupeta até 4 anos de idade não ção do dedo, contrações musculares bucofaciais
produz efeitos danosos à oclusão, ou se produz, associadas, posição da mandíbula durante a suc-
limita-se ao segmento anterior, aumentando o tres- ção, padrão esquelético da face, força aplicada
passe horizontal e criando espaço entre os incisi- aos dentes e ao processo alveolar e freqüência da
vos. Os efeitos prejudiciais dependem da associa- sucção.
ção de 3 fatores: duração, freqüência e intensidade Os efeitos dos hábitos de sucção são: assoalho
do hábito. nasal estreito, abóbada palatina mais profunda, lá-
A sucção contínua da chupeta está associada à bio superior hipoativo e inferior hiperativo, projeção
mordida aberta anterior e mordida cruzada poste- da língua durante a deglutição decorrente da mor-
rior devido às contrações das paredes bucais pro- dida aberta anterior74,206 porém, se houver interrupção
duzidas pela pressão negativa no interior da cavida- do hábito ainda na dentição decídua, antes da
de bucal. Além disso, pode-se observar protrusão erupção dos incisivos permanentes, a mordida
dos incisivos superiores, incisivos inferiores posicio- aberta pode se autocorrigir (Figs. 25.49A e B).
nados lingualmente, com aumento do overjet101. Quando o hábito persiste pode resultar em maloclu-
O tipo e a intensidade da maloclusão que se sões e alterações na postura de repouso das bo-
desenvolverá depende de variáveis tais como: posi- chechas, lábios e língua97

A B

Figs. 25.49A e B
A - Mordida aberta anterior aos 3 anos de idade provocada pela sucção digital; e
B - Paciente aos 6 anos de idade: autocorreção com a interrupção do hábito aos 4 anos.

922
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A mordida aberta anterior provocada pela suc- rações dentárias que o hábito de sucção pode
ção de chupeta quase sempre está associada à provocar, utilizando espelho, fotografias e figuras de
protrusão da língua durante a deglutição. Essa pro- livros. Além disso, os pais ou responsáveis são orien-
trusão não é suficientemente forte para impedir tados a não interferir na decisão da criança e utili-
que os incisivos atinjam contato normal após a in- zar o reforço positivo quando a criança apresentar
terrupção do hábito; entretanto, isto não significa o comportamento desejado, com elogios, incentivos
que a correção espontânea ocorrerá112 . e prêmios34.
As maloclusões decorrentes dos hábitos de Se o hábito persistir após a erupção dos incisi-
sucção podem ser autocorrigidas ao cessar o hábi- vos permanentes, o tratamento ortodôntico pode
to, se o padrão esquelético for normal, se o hábito ser necessário para corrigir os deslocamentos den-
for interrompido precocemente e se a deformação tais resultantes (Fig. 25.50). A contração do arco
e os hábitos neuromusculares forem de natureza maxilar é a maloclusão menos provável de se corri-
leve163 . gir espontaneamente. Em muitas crianças, se o
A interrupção do hábito de sucção pode ser arco maxilar for expandido transversalmente, a pro-
conseguida aplicando o método de conscientização trusão dos incisivos e a mordida aberta anterior
e de reforço positivo. O método consiste em escla- podem melhorar espontaneamente, se a interposi-
recer os pais e as crianças sobre as possíveis alte- ção lingual for controlada163.

Fig. 25.50
Mordida aberta anterior provocada pela persis-
tência do hábito de sucção de chupeta após a
erupção dos incisivos superiores permanentes.

A chupeta movimenta o complexo línguo-hioideo- foram realizadas para eliminar o hábito. Além disso,
mandibular para baixo, modificando os espaços aé- deve-se fazer os exames intra e extrabucais e a
reos posteriores, desencadeando mecanismos com- avaliação do estado emocional da criança. É essen-
pensatórios como respiração bucal, deglutição atípica cial determinar se a sucção digital é uma atividade
e efeitos secundários como alterações na mastigação, significativa ou não. Essa distinção permite ao den-
fala, hipoacusia, vertigem, desequilíbrio43. tista identificar a criança que quer interromper o
É importante proceder ao diagnóstico completo hábito, porém, necessita de alguma ajuda. Em con-
dos hábitos de sucção digital ou de chupeta, obten- traste, existem situações em que a criança ainda
do informações quanto a história da atividade de não está emocionalmente pronta para aceitar qual-
sucção, por meio de questionamentos aos pais ou quer interferência. O sucesso no tratamento depen-
responsáveis como: há quanto tempo faz sucção, de de reconhecer a atividade de sucção significativa
qual a intensidade da sucção e quantas tentativas (Figs. 25.51A a D; 25.52A e B).

923
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

C D

Figs. 25.51A a D
Aparelhos fixos para interceptação dos hábitos de sucção.

A B

Figs. 25.52A e B
Aparelho removível para interceptação de hábitos.

924
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

- Interposição de Língua pressão da língua e dos lábios durante a deglutição


Existem abordagens opostas com relação à não indicam que a pressão da língua movimente os
definição e tratamento da interposição de língua. dentes. Entretanto, pressões da língua em repouso
Há controvérsia sobre a atividade da língua: se é podem ser maiores que durante a deglutição. Gra-
forte o suficiente para causar o deslocamento dos ber82, afirmou que qualquer que seja a causa, o
dentes, ou se é transitória e adapta-se quando os resultado final é a mordida aberta (Fig. 25.53).
dentes deslocados se autocorrigem, ou se é corrigi-
da por aparelho ortodôntico. Os que acreditam que
a grande pressão produzida pela língua constitui
uma ameaça à oclusão advogam intervenção ime-
diata, geralmente indicando exercícios fonoaudioló-
gicos para a língua e às vezes terapia com apare-
lho. Em contraste, a abordagem conservadora su-
gere que a atividade da língua não é sempre nociva
à criança e nem sempre uma ameaça à oclusão;
portanto, deve-se dar uma oportunidade para auto-
corrigir-se. Essa visão admite que o posicionamento
anterior da língua melhora com o tempo e que a
grande pressão exercida por ela não está presente.
O crescimento e desenvolvimento da face inferior
permite reduzir o posicionamento anterior da lín-
gua. Nos primeiros anos, é necessário que a língua Fig. 25.53
se posicione mais para frente para permitir adequa- Mordida aberta anterior associada à interposição de língua.
do espaço aéreo. Durante os estágios de dentição
decídua e mista, a língua adapta-se a uma cavidade
bucal relativamente pequena; além disso, o tecido
linfóide preenche a faringe e pode deslocar a língua De acordo com Proffit163, a deglutição com in-
anteriormente. Esse tecido linfóide geralmente in- terposição de língua é considerada em duas cir-
volui. Enquanto a mandíbula cresce, mais espaço é cunstâncias: na criança mais jovem com oclusão
fornecido para a língua, que se acomoda ao novo razoavelmente normal, que representa somente um
ambiente. estágio transitório na maturação fisiológica normal
Durante a transição da deglutição infantil para e em indivíduos de qualquer idade com incisivos
a adulta, a criança passa por um estágio onde a deslocados, nos quais é uma adaptação ao espaço
deglutição é caracterizada pela atividade muscular entre os dentes. Na presença de mordida aberta e
para manter os lábios unidos, afastamento dos overjet, a criança ou adulto coloca a língua entre os
dentes posteriores e projeção anterior da língua dentes anteriores. Portanto, a interposição de lín-
entre os dentes, correspondendo à descrição da gua seria considerada o resultado de incisivos des-
deglutição clássica com interposição de língua. Um locados, não a causa. Conseqüentemente, corrigin-
atraso na transição para a deglutição normal ocorre do a posição dos dentes poderíamos ter uma alte-
quando a criança tem hábito de sucção. A degluti- ração no padrão de deglutição. Torna-se necessário
ção com interposição de língua é uma adaptação ensinar o paciente deglutir corretamente por meio
fisiológica útil se a criança apresenta mordida aber- de terapia fonoaudilógica. Entretanto, deve-se ini-
ta, pois forçar os lábios para se unirem e colocar a ciar o tratamento ortodôntico para corrigir a mordi-
língua entre os dentes anteriores constitui uma da aberta e protrusão dos incisivos, antes da fono-
manobra bem sucedida para fechar a boca e formar terapia. Quando a criança encontra-se na dentição
o selamento anterior durante a deglutição. mista, recomenda-se a utilização de aparelhos fixos
Outro aspecto a ser considerado apoia-se nas ou removíveis para interceptação da língua (Figs.
informações de que as medições da magnitude da 25.54A a D).

925
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

C D

Figs. 25.54A a D
Aparelhos removíveis para orientação do posicionamento correto da língua.

- Interposição do Lábio Inferior rior é curto, hipoativo e sem função e, portanto,


A atividade anormal do lábio e da língua está não atua como seria necessário durante a degluti-
freqüentemente associada aos hábitos de sucção. ção. Dependendo do grau de deformação, a língua
Quando a maloclusão é ainda incipiente devido à pressiona anteriormente para ajudar o lábio inferior
agressão sobre a oclusão, causada pelos hábitos de no selamento durante o ato da deglutição. A malo-
sucção digital ou de chupeta, desenvolve-se uma clusão torna-se rapidamente mais acentuada devi-
atividade muscular compensatória que acentua a do ao poderoso vetor de força superior e anterior
deformidade. Com o aumento da protrusão dos in- do lábio inferior contra o segmento pré-maxilar.
cisivos superiores e da inclinação lingual dos incisi- Com a protrusão dos incisivos superiores aumentada
vos inferiores, caracterizando aumento no overjet, e o desenvolvimento de mordida aberta anterior
torna-se difícil para a criança aproximar os lábios ocorrerá maior demanda de atividade muscular com-
adequadamente e criar pressão negativa necessária pensatória, produzindo um círculo vicioso que se re-
para a deglutição normal. O lábio inferior acomoda- pete a cada deglutição. Considerando que se deglute
se atrás dos incisivos superiores e é forçado contra mais de 1.000 vezes ao dia, há uma pressão poten-
as faces palatinas desses dentes pela atividade cialmente ativa e constante, tornando a sucção digi-
anormal do fechamento (Fig. 25.55). O lábio supe- tal ou de chupeta um fator etiológico secundário.

926
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Fig. 25.55
Interposição do lábio inferior.

Para eliminar o hábito de interposição do lábio conseqüentemente, evitar que a maloclusão se


inferior, deve-se realizar o tratamento ortodôntico acentue. Entretanto, com esse dispositivo, denomi-
reduzindo o overjet. Se o hábito estiver associado a nado “lip bumper” ou placa lábio ativa, não haverá
maloclusão de classe II divisão 1 e a criança ainda correção da maloclusão (Figs. 25.56A e B). Quando
não atingiu a idade ideal para tratamento da malo- o tratamento ortodôntico corretivo puder ser reali-
clusão pode-se indicar, temporariamente um apare- zado e a oclusão normal obtida, normalmente, esse
lho para impedir a interposição do lábio inferior e, hábito cessará.

A B

Figs. 25.56A e B
“Lip Bumper”.

927
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

6. Enfermidades 7. Desnutrição

- Enfermidades Sistêmicas A desnutrição afeta a qualidade dos tecidos em


Enfermidades febris podem provocar alterações formação e os índices de calcificação. O principal
no desenvolvimento dos dentes, durante a infância, problema é a alteração no trajeto de erupção den-
sendo que essas enfermidades possuem maior efei- tária. Transtornos como raquitismo, escorbuto e
to qualitativo do que quantitativo no desenvolvi- beribéri podem provocar maloclusões severas.
mento da dentição e podem atrasar temporaria-
mente o ritmo de crescimento e desenvolvimento. ANÁLISE DA DENTIÇÃO MISTA
As enfermidades com disfunção muscular como
distrofia muscular e paralisia cerebral também po- Grande porcentagem de maloclusões tem sua
dem provocar deformações nos arcos dentais. origem durante o período da dentição mista. Com o
Os distúrbios endócrinos pré-natais podem se intuito de prever qualquer deficiência de espaço
manifestar em hipoplasia dos dentes e os pós-na- nos arcos dentários, para atuar de maneira precisa,
tais podem retardar ou acelerar o crescimento fa- o Cirurgião-Dentista deve realizar a análise da den-
cial, afetar a velocidade de ossificação dos ossos, o tição mista8, que permitirá ao profissional determi-
período de erupção dos dentes e a reabsorção dos nar o tamanho dos dentes permanentes (que ainda
dentes decíduos. Os problemas da tireóide, como não irromperam128,130) anteriores aos primeiros mo-
hipotiroidismo, podem provocar reabsorção anor- lares permanentes.
mal, erupção tardia e transtornos gengivais, poden- A análise da dentição tem como principais ob-
do com freqüência, encontrar-se dentes decíduos jetivos: a) avaliar a quantidade de espaço disponí-
retidos e dentes malposicionados que sofreram vel no arco para os dentes permanentes sucesso-
desvios no trajeto de erupção. res, bem como os ajustes oclusais fisiológicos ne-
As aberrações cromossômicas como Síndrome cessários; b) informar se há espaço suficiente para
de Franceschetti, disostose cleidocraniana, trisso- caninos e pré-molares irromperem, e c) decidir se
mia do 21, displasia ectodérmica, amelogênese e haverá necessidade de manter ou recuperar espaço
dentinogênese imperfeitas podem afetar o sistema para caninos e pré-molares. Para realizar a análise
orofacial e causar maloclusões. Como exemplo, o profissional deve considerar:
pode -se citar a disostose cleidocraniana que provo-
ca distúrbios na ossificação intramembranosa e en- - o perímetro do arco (espaço disponível);
docondral. As principais características dessa displa- - o tamanho de todos os dentes permanentes
sia são: braquicefalia, pouco desenvolvimento da anteriores aos 1os molares permanentes (espa-
face média, maloclusão de classe III com protrusão ço requerido), e
mandibular, dentes decíduos com retenção prolon- - as alterações no perímetro do arco que podem
gada, presença de dentes extranumerários e dentes ocorrer com o crescimento e desenvolvimento.
permanentes retidos. A displasia ectodérmica, sen-
do uma síndrome provocada por problemas no de- Durante o desenvolvimento dos arcos dentários
senvolvimento de derivados do ectoderma, podem e o estabelecimento de uma oclusão funcional, a
apresentar distúrbios no desenvolvimento dos den- circunferência do arco, considerada como sendo a
tes e processos alveolares. distância entre a superfície mesial do primeiro mo-
lar permanente de um lado do arco e a superfície
- Enfermidades Locais mesial do primeiro molar permanente do lado opos-
As seguintes enfermidades locais afetam o to, diminui continuamente com a idade. A circunfe-
crescimento facial e provocam maloclusões esque- rência do arco é sempre menor durante a transição
léticas e dentárias: enfermidades nasofaríngeas e da dentição mista para a permanente151. Esta dimi-
distúrbios na função respiratória, enfermidade gen- nuição é devido: a) ao deslocamento mesial tardio
gival e periodontal, tumores e cáries. dos primeiros molares permanentes à medida que o

928
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

“espaço disponível” é ocupado pela erupção de ca- Espaço avaliado (EA) refere-se ao espaço dis-
ninos e pré-molares, b) à tendência de desloca- ponível a partir da face mesial do primeiro molar
mento mesial dos dentes posteriores durante toda permanente de um lado, à face mesial do primeiro
a vida, c) a pequenas quantidades de desgaste molar permanente do lado oposto do arco. O espa-
interproximal dos dentes, d) ao posicionamento lin- ço requerido (ER) representa a soma dos diâmetros
gual dos incisivos devido ao crescimento diferencial mesiodistais de incisivos, caninos e pré-molares. A
maxilomandibular, e e) à posição inclinada original diferença entre os valores do espaço disponível e
dos incisivos e molares147. Por isso, é importante do espaço requerido determina a discrepância do
que o Clínico Geral e principalmente o Odontope- arco dentário (DM – discrepância de modelo) que
diatra saibam avaliar a condição apresentada pelo poderá ser: 1) negativa, quando o espaço requeri-
paciente e, conseqüentemente, propor a interven- do for maior que o espaço presente, indicando que
ção mais apropriada. haverá falta de espaço para o alinhamento correto
Para a realização da análise da dentição é ne- dos dentes; 2) nula, quando o espaço requerido for
cessário um par de modelos ortodônticos, um do igual ao espaço disponível, e 3) positiva, quando o
arco superior e outro do arco inferior, devidamente espaço requerido for menor que o espaço presente,
recortado (Fig. 25.57). É um importante meio de indicando excesso de espaço para alinhamento dos
diagnóstico através do qual se determina a discre- dentes.
pância ósseo-dental do arco dentário, ou seja, a Vários métodos têm sido utilizados para a aná-
relação entre o espaço avaliado no arco (espaço lise da dentição mista que está baseada na combi-
presente) e o espaço requerido para os dentes per- nação de medidas tomadas em radiografias (radio-
manentes sucessores. grafias periapicais, radiografias a 45o) e/ou análise
de modelos. Dentre eles destacam-se as análises
preconizadas por: 1) Nance (1947)151.
O espaço disponível é quantificado por meio da
utilização de um fio de latão151 ou por um compasso
de pontas secas ou paquímetro147,190. Com o fio de
latão, contorna-se o arco dentário a partir da face
mesial do primeiro molar permanente inferior de
um lado, passando pelos pontos de contato, tocan-
do as cúspides vestibulares dos molares decíduos e
bordas incisais dos incisivos inferiores até alcançar
a superfície mesial do primeiro molar permanente
do lado oposto do arco. O fio é então retificado e
seu comprimento indicará o espaço disponível entre
os primeiros molares permanentes (Nance151).
Ao realizar a análise da dentição, é importante
considerar o espaço necessário para o alinhamento
dos incisivos permanentes, quando estão apinha-
dos. Se existir apinhamento dos incisivos inferiores,
Fig. 25.57 esta anomalia deve ser corrigida. Nestes casos, de-
Par de modelos ortodônticos, devidamente recortado, em termina-se o espaço necessário para a correção do
oclusão. apinhamento da seguinte maneira: o diâmetro
mesiodistal do incisivo central e lateral é determi-
nado individualmente e anotado em uma ficha de

929
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

registro (Figs. 25.58A e B). Em seguida o somató- ca é o ponto onde a face distal do incisivo lateral
rio dos diâmetros mesiodistais do incisivo central e deverá permanecer quando estiver alinhado apro-
do incisivo lateral é registrado com um compasso priadamente. Dessa forma, pode-se determinar, a
de pontas secas ou paquímetro. Uma das pontas é partir desse ponto até a superfície mesial do pri-
colocada na linha média do modelo e a outra ex- meiro molar inferior, o espaço disponível para
tremidade toca no modelo o ponto que correspon- erupção de canino e pré-molares e para qualquer
de à face distal do incisivo lateral (Fig. 25.59). necessidade de ajustamento da relação molar
Quando o apinhamento estiver presente, a marca (Fig. 25.60). Estes procedimentos devem ser reali-
correspondente à face distal do incisivo lateral po- zados individualmente para ambos os lados do
derá estar sobre o canino decíduo ou sobre a gen- arco inferior (Figs. 25.61A e B) e também para o
giva quando este dente estiver ausente. Esta mar- arco superior (Moyers147).

Tamanho dos dentes

D E

Fig. 25.58A Fig. 25.58B


Diagrama para anotação dos diâmetros mesiodistais dos Os incisivos, central e lateral inferiores direito, foram medidos
dentes. e seu tamanho transferido para o diagrama que deve constar
da ficha de exame clínico do paciente.

Fig. 25.59 Fig. 25.60


Somatório dos diâmetros mesiodistais dos incisivos, central e Medição do espaço disponível para erupção de caninos e pré-
lateral inferiores direito, transferido com compasso de pontas molares inferiores direito.
secas para correção do apinhamento no modelo.

930
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

Figs. 25.61A e B
A - Somatório dos diâmetros mesiodistais dos incisivos, central e lateral inferiores esquerdo, transferido com compasso de pontas
secas para correção do apinhamento no modelo;
B - Medição do espaço disponível para erupção de caninos e pré-molares inferiores esquerdo.

É importante considerar também a necessidade X = tamanho estimado para o dente perma-


de ajustamento da relação ântero-posterior dos pri- nente;
meiros molares permanentes, quando os molares X’ = tamanho radiográfico do dente perma-
estão em classe I, porém, a relação de chave de nente considerado em X;
oclusão não está corretamente estabelecida. Esta Y = tamanho do dente decíduo que antecede
condição pode ser visualizada quando a ponta da o permanente considerado em X’ na cavi-
cúspide mésio-vestibular do primeiro molar superior dade bucal, e
está localizada entre a vertente distal da cúspide Y’ = tamanho radiográfico do mesmo dente
mésio-vestibular e a vertente mesial da cúspide decíduo considerado em Y.
mediana do primeiro molar inferior.
Para a quantificação do espaço requerido, cada Por exemplo, se o tamanho da imagem medido
uma das três análises citadas apresenta a sua me- na radiografia do primeiro molar decíduo considera-
todologia. do em Y’ for 8,5 mm, a imagem do primeiro pré-
molar que irá substituir o primeiro molar decíduo
1. Análise de Nance:- Utiliza radiografias periapi- (X’) for 7,2 mm e o diâmetro do primeiro molar
cais para obter o tamanho de caninos e pré- decíduo medido no modelo (Y) for 7,8 mm, é possí-
molares inferiores não irrompidos130,148, de tal vel visualizar a seguinte equação:
modo que o somatório das medidas obtidas, de
canino e pré-molares, indica o espaço requeri- X = 7,2 x 7,8
do para cada hemi-arco. Se houver um pré- 8,5
molar girado, usa-se a medida do dente cor-
respondente do lado oposto. Desta equação obtém-se o valor de 6,6 mm
Para compensar o aumento no tamanho verifi- para o tamanho estimado do primeiro pré-molar.
cado nas radiografias periapicais, a seguinte Este cálculo deve ser feito para canino e pré-mola-
fórmula foi desenvolvida por Huckaba (1964)93: res de cada hemi-arco, tanto no arco dentário su-
perior quanto no inferior.

X : X’ = Y : Y’ ou X = X’. Y , onde: 2. Análise preconizada de Moyers147:- Moyers foi o


Y’ precursor do método de análise que não em-
prega o exame radiográfico. Utiliza apenas os

931
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

modelos de estudo, obtendo medidas mais Moyers, soma-se o diâmetro mesiodistal dos
precisas se comparadas àquelas obtidas pelas quatro incisivos inferiores permanentes. Uma
radiografias. O autor realizou um estudo longi- vez obtido este valor, utiliza-se uma tabela de
tudinal em pacientes e observou que existe probabilidades ao nível de 75% para determi-
correlação entre o diâmetro mesiodistal dos nar o valor relativo à soma dos diâmetros me-
dentes de uma mesma dentição. Para cada siodistais de caninos e pré-molares, superiores
dente, existe um tamanho mesiodistal médio. e inferiores. A soma dos diâmetros mesiodis-
Moyers verificou que a largura mesiodistal dos tais dos incisivos inferiores e o tamanho esti-
dentes pode ser maior ou menor que a média, mado de canino e pré-molares bilateralmente
porém, a correlação de tamanho entre eles constitui o espaço requerido para a dentição
sempre existe. Assim, se um paciente apresen- permanente.
ta o diâmetro de um determinado dente, por Para a predição do espaço requerido no arco
exemplo, incisivo central, maior do que a mé- inferior e superior, os incisivos inferiores são
dia, os demais dentes apresentarão seu diâme- medidos individualmente e o somatório das
tro mesiodistal aumentado. O mesmo raciocínio medidas é anotado (por exemplo: 22,0 mm).
é válido para a condição em que o diâmetro de Este somatório é utilizado para verificar na ta-
um dente é menor do que a média. Baseado na bela de probabilidades, ao nível de 75%, o
correlação dos diâmetros mesiodistais dos dentes valor correspondente ao espaço necessário
de uma mesma dentição, o autor utilizou o diâ- para erupção de canino e pré-molares. Locali-
metro de dentes que já irromperam para deter- za-se na primeira coluna horizontal da tabela
minar o diâmetro daqueles que ainda não ha- de probabilidades o valor que mais se aproxi-
viam irrompido. Os incisivos inferiores foram es- ma da soma das larguras dos quatro incisivos
colhidos por serem os primeiros dentes perma- inferiores. Imediatamente abaixo desse núme-
nentes a irromper e por serem de fácil medição, ro há uma coluna de valores que representam
além de possuir bom nível de correlação de ta- o tamanho do canino e pré-molares de acordo
manho com outros grupos dentários. Raramente com o nível de probabilidades escolhido. Para o
os incisivos inferiores apresentam anomalias de somatório de 22,0 mm dos incisivos inferiores,
forma e de tamanho e dificilmente estão ausen- o tamanho previsto para canino e pré-molares
tes congenitamente, o que não acontece com os inferiores ao nível de 75% corresponde ao va-
incisivos superiores, principalmente com o incisi- lor de 21,6 mm, e o tamanho previsto para
vo lateral. canino e pré-molares superiores ao nível de
Para a realização da análise preconizada por 75% corresponde ao valor de 22,0 mm. Este

Tabela de probabilidades para predizer a soma das larguras de 345 partindo de 21 12

INFERIOR
21-12 19,5 20,0 20,5 21,0 21,5 22,0 22,5 23,0 23,5 24,0 24,5 25,0 25,5 26,0 26,5 27,0 27,5 28,0 28,5 29,0
95% 21,1 21,4 21,7 22,0 22,3 22,6 22,9 23,2 23,5 23,8 24,1 24,4 24,7 25,0 25,3 25,6 25,8 26,1 26,4 26,7
85% 20,5 20,8 21,1 21,4 21,7 22,0 22,3 22,6 22,9 23,2 23,5 23,8 24,0 24,3 24,6 24,9 25,2 25,5 25,8 26,0
75% 20,1 20,4 20,7 21,0 21,3 21,6 21,9 22,2 22,5 22,8 23,1 23,4 23,7 24,0 24,3 24,6 24,8 25,1 25,4 25,7
65% 19,8 20,1 20,4 20,7 21,0 21,3 21,6 21,9 22,2 22,5 22,8 23,1 23,4 23,7 24,0 24,3 24,6 24,8 25,1 25,4
50% 19,4 19,7 20,0 20,3 20,6 20,9 21,2 21,5 21,8 22,1 22,4 22,7 23,0 23,3 23,6 23,9 24,2 24,5 24,7 25,0
35% 19,0 19,3 19,6 19,9 20,2 20,5 20,8 21,1 21,4 21,7 22,0 22,3 22,6 22,9 23,2 23,5 23,8 24,0 24,3 24,6
25% 18,7 19,0 19,3 19,6 19,9 20,2 20,5 20,8 21,1 21,4 21,7 22,0 22,3 22,6 22,9 23,2 23,5 23,8 24,1 24,4
15% 18,4 18,7 19,0 19,3 19,6 19,8 20,1 20,4 20,7 21,0 21,3 21,6 21,9 22,2 22,5 22,8 23,1 23,4 23,7 24,0
5% 17,7 18,0 18,3 18,6 18,9 19,2 19,5 19,8 20,1 20,4 20,7 21,0 21,3 21,6 21,9 22,2 22,5 22,8 23,1 23,4

Tabela de Moyers. A primeira coluna horizontal registra o tamanho da soma do diâmetro mesiodistal 21 12. A primeira coluna
vertical registra os níveis de probabilidade expressos em porcentagens.

932
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

procedimento deve ser realizado para os hemi- melhantes àqueles utilizados para determinar o
arcos inferior e superior direito e esquerdo in- espaço disponível no arco inferior. Assim, o so-
dividualmente. Se houver apinhamento entre matório dos incisivos central e lateral superiores
os incisivos inferiores e superiores esta anoma- será registrado com um compasso de pontas se-
lia deve ser corrigida. cas ou paquímetro e anotado no diagrama. Uma
O procedimento de predição no arco superior das extremidades é colocada na linha média do
é semelhante àquele utilizado no arco inferior, modelo superior, enquanto a outra irá marcar, no
excetuando-se: a) outra tabela de probabilida- modelo, o ponto exato onde estaria a superfície
des é utilizada para predizer a soma de canino distal do incisivo lateral. Como no arco inferior, a
e pré-molares superiores, e b) havendo so- distância entre este ponto, marcado no modelo e
bressaliência dos incisivos superiores sobre os a face mesial do primeiro molar superior indica o
inferiores, sua correção deve ser feita medin- espaço disponível para erupção de canino e pré-
do-se o espaço que será ocupado pelos incisi- molares e para qualquer necessidade de ajusta-
vos alinhados. Os passos restantes são se- mento da relação molar.

Tabela de probabilidades para predizer a soma das larguras de 345 partindo de 21 12

SUPERIOR
21-12 19,5 20,0 20,5 21,0 21,5 22,0 22,5 23,0 23,5 24,0 24,5 25,0 25,5 26,0 26,5 27,0 27,5 28,0 28,5 29,0
95% 21,6 21,8 22,1 22,4 22,7 22,9 23,2 23,5 23,8 24,0 24,3 24,6 24,9 25,1 25,4 25,7 26,0 26,2 26,5 26,7
85% 21,0 21,3 21,5 21,8 22,1 22,4 22,6 22,9 23,2 23,5 23,7 24,0 24,3 24,6 24,8 25,1 25,4 25,7 25,9 26,2
75% 20,6 20,9 21,2 21,5 21,8 22,0 22,3 22,6 22,9 23,1 23,4 23,7 24,0 24,2 24,5 24,8 25,0 25,3 25,6 25,9
65% 20,4 20,6 20,9 21,1 21,5 21,8 22,0 22,3 22,6 22,8 23,1 23,4 23,7 24,0 24,2 24,5 24,8 25,1 25,3 25,6
50% 20,0 20,3 20,6 20,8 21,1 21,4 21,7 21,9 22,2 22,5 22,8 23,0 23,3 23,6 23,9 24,1 24,4 24,7 25,0 25,3
35% 19,6 19,9 20,2 20,5 20,8 21,0 21,3 21,6 21,9 22,1 22,4 22,7 23,0 23,2 23,5 23,8 24,1 24,3 24,6 24,9
25% 19,4 19,7 19,9 20,2 20,5 20,8 21,0 21,3 21,6 21,9 22,1 22,4 22,7 23,0 23,2 23,5 23,8 24,1 24,3 24,6
15% 10,0 19,3 19,6 19,9 20,2 20,4 20,7 21,0 21,3 21,5 21,8 22,1 22,4 22,6 22,9 23,2 23,4 23,7 24,0 24,3
5% 18,5 18,8 19,0 19,3 19,6 19,9 20,1 20,4 20,7 21,0 21,2 21,5 21,8 22,1 22,3 22,6 22,9 23,2 23,4 23,7

Tabela de Moyers. A primeira coluna horizontal mostra o tamanho da soma do diâmetro mesiodistal 21 12. A primeira coluna
vertical registra os níveis de probabilidade expressos em porcentagens.

Uma vez obtidos os valores dos espaços dispo- rido (Fig. 25.62). Ao realizar esta etapa o pro-
níveis para erupção de canino e pré-molares fissional não deve esquecer que as tabelas de
para cada hemi-arco, superior e inferior, a dis- probabilidades para determinar o espaço re-
crepância de modelos é determinada, dimi- querido, tanto no arco superior quanto no infe-
nuindo-se o espaço presente do espaço reque- rior, são distintas.

933
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Análise da dentição
Mandíbula Maxila
Direito Esquerdo Direito Esquerdo
Espaço deixado após alinhamento dos incisivos
central e lateral
Tamanho previsto para canino, 1o e 2o pré-molares
Discrepância do arco

Fig. 25.62
Ficha para a determinação da discrepância de modelos na análise da dentição mista utilizando-se o método de Moyers.

Este método apresenta como vantagens: a) gramar melhor o planejamento do tratamento


possui um erro sistemático mínimo e sua varia- com o objetivo de prevenir ou solucionar proble-
ção é conhecida, podendo a média ser calcula- mas de espaço que porventura possam ocorrer
da; b) pode ser feito com igual segurança tan- com os pacientes durante a transição da denti-
to pelo principiante como pelo especialista; c) ção decídua para a dentição permanente.
não exige muito tempo; d) não necessita de
equipamento especial ou radiografias; e) pode CEFALOMETRIA
ser feito tanto na boca como em modelos de
gesso e pode ser usado em ambos os arcos. Com o advento da cefalometria radiográfica
Mesmo sendo um método prático, não é tão por Broadbent, nos Estados Unidos e Hofrat, na
preciso quanto aqueles métodos que utilizam Alemanha, em 1931, surgiu novo método de pes-
radiografias devido à variação individual que quisa que eliminava as desvantagens da cefalome-
pode ser mascarada com a tabela de probabili- tria antropológica, até então praticada, consideran-
dades130,163,148. do que, com o uso do cefalostato por eles idealiza-
do, foi possível obter, de um mesmo indivíduo, ra-
3. Análise de Tanaka e Johnston190:- Inicialmente diografias cefalométricas sucessivas padronizadas.
obtém-se a soma dos diâmetros mesiodistais As pesquisas de Broadbent35, financiadas pela Fun-
dos incisivos inferiores permanentes (por dação Bolton, inicialmente aplicadas ao estudo do
exemplo: 22,0 mm) e, em seguida, o valor crescimento e desenvolvimento da cabeça humana,
obtido é dividido por dois (11,0 mm). Para pre- passaram cada vez mais a ser usadas na interpre-
dizer a soma do diâmetro mesiodistal dos cani- tação das irregularidades dentofaciais, uma vez
nos e pré-molares inferiores, soma-se ao valor que a classificação de Angle e os métodos antro-
obtido 10,5 mm para cada hemi-arco mandibu- pológicos já não atendiam totalmente os objetivos
lar (11,0 + 10,5 = 21,5 mm) e para predição do diagnóstico.
no arco superior, soma-se 11,0 mm para cada A partir dos trabalhos de Brodie37,38, muitos au-
hemi-arco maxilar (11,0 + 11,0 = 22,0 mm). tores passaram a usar a cefalometria radiográfica
É importante lembrar que nenhuma das análi- no diagnóstico, procurando analisar os problemas
ses da dentição mista é tão precisa quanto se inerentes aos vários tipos encontrados nas três
gostaria que fosse, pois há necessidade de se classes de Angle7. Daí, surgiram inúmeros métodos
considerar as modificações que ocorrem no de análises cefalométricas: uns, com o objetivo de
arco dentário em função do crescimento e de- estudar os problemas relacionados com o cresci-
senvolvimento e não apenas pensar de modo mento e desenvolvimento da cabeça humana27,28;
estatístico nos resultados obtidos148. outros, como meio de diagnosticar as irregularida-
Realizando de maneira adequada qualquer des que afetam as relações normais entre as partes
uma das análises acima citadas, tanto o Clínico componentes do crânio e da face, bem como suas
Geral quanto o Odontopediatra poderão pro- repercussões na oclusão dental.

934
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Sob estes aspectos, as opiniões de autores re- Por outro lado, a radiografia cefalométrica só é
nomados têm sido unânimes em reconhecer o valor capaz de fornecer uma análise estática, ou seja,
da cefalometria radiográfica no diagnóstico orto- somente do que acontece no momento de sua
dôntico. Já foi enfatizado por vários autores, entre obtenção; portanto, há necessidade de duas ou
os quais Sassouni180 e Graber80,83, que o ortodontis- mais radiografias, tomadas em diferentes épocas,
ta pode obter com a radiografia cefalométrica o que para possibilitar o acompanhamento do que já
não obteria tão fácil e acuradamente com outros ocorreu ou do que poderá ainda acontecer.
elementos de diagnóstico. Todavia, ela não pode Segundo Steiner187,188,189, a radiografia cefalo-
orientar exatamente o que fazer, mas pelo menos métrica é, sem dúvida, uma das contribuições mais
nos acautela contra o uso de certos tipos de trata- importantes de todas as realizadas para o estudo
mento e, por eliminação, sugere o mais apropriado. do crescimento e desenvolvimento e da ciência or-
Este novo método de estudo levou um grande todôntica em geral. É a pedra fundamental sobre a
número de pesquisadores a se utilizar das análises qual se baseia o conceito e o conhecimento atual
cefalométricas com o objetivo de diagnosticar e da Ortodontia.
planejar o tratamento das maloclusões. Desenvol-
veu-se, então, uma quantidade exagerada de méto- Padronização radiográfica
dos que, indiscutivelmente, provocou muita celeu-
ma entre os ortodontistas. Este problema tornou-se O cefalostato é um equipamento de precisão
tão sério que levou a Sociedade Americana de Or- com a finalidade de posicionar e imobilizar a cabeça
todontia a propor a realização de dois simpósios: o do paciente e o filme radiográfico, através de posi-
primeiro, em 1957, em Cleveland (EUA) com a fina- cionadores e chassi, estabelecendo uma padroniza-
lidade de padronizar a definição de pontos e planos ção entre eles e o raio X central. O aparelho permi-
cefalométricos107; uniformizar técnicas; esclarecer te uma rotação completa em 360°, tornando possí-
interpretações e avaliar aplicações clínicas da radio- vel a obtenção de radiografias de perfil e póstero-
grafia cefalométrica133,173,174. O segundo, em 1959, anterior, usando somente uma fonte de emissão de
também realizado em Cleveland, com o objetivo de raios X.
discutir a praticidade e aplicabilidade de normas e Para a padronização radiográfica, alguns requi-
padrões desenvolvidos no campo da radiografia ce- sitos devem ser seguidos como:
falométrica; padronizar métodos de superposição
de traçados cefalométricos para melhor avaliar as • o plano sagital da cabeça do paciente deve ser
mudanças de crescimento e desenvolvimento do paralelo ao filme e o plano horizontal de Frank-
complexo craniofacial; discutir equipamentos e téc- furt paralelo ao solo;
nicas necessários para a pesquisa em humanos, em • a distância entre o plano médio sagital do pa-
animais e na cefalometria clínica175,176. ciente e a fonte de raio X deve ser de 1.524 m
A cefalometria radiográfica é um importante ou 5 pés;
instrumento de pesquisa e diagnóstico. Permite • a distância objeto-filme de 7.5 a 10 cm;
identificar pontos de referência, faciais e cranianos, • dentes em oclusão, lábios em repouso;
antes inacessíveis em seres vivos; obter medidas • o raio central deve atravessar o eixo dos con-
lineares e angulares a partir de estruturas anatômi- dutos acústicos externos e incidir o filme em
cas42 com a finalidade de estudar as modificações ângulo reto.
do crescimento e desenvolvimento normal do indi-
víduo31,49; analisar desarmonias na relação entre as Segundo Salzmann177,178, as estruturas anatô-
bases ósseas, maxila e mandíbula135,142; determinar micas do lado esquerdo encontram-se mais próxi-
as alterações do perfil facial; avaliar o espaço naso- mas das olivas auriculares, do raio X central e do
faringeano90; registrar a magnitude das anomalias filme radiográfico e desta forma sofrem menos dis-
ósseas a serem tratadas, bem como as modifica- torção. Isto deve-se à divergência dos raios X ao
ções esqueléticas e dentais que ocorrem com o serem emitidos pela fonte geradora, proporcionan-
tratamento ortodôntico17,167; avaliar o resultado dos do maior distorção das estruturas da cabeça que se
casos tratados e prever aspectos importantes do encontram mais próximas do tubo de raio X que as
crescimento craniofacial. do lado mais distante.

935
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Traçado cefalométrico a) Base do Crânio:


região inferior do crânio (1)
O traçado cefalométrico requer a utilização de clívus: união dos ossos occipital e esfenóide (2)
radiografias de boa qualidade e aprimorado conhe- sela turca- apófise clinóide posterior e anterior
cimento de anatomia radiográfica. Yen210, em 1960, (3)
constatou que limites anatômicos podem ser mas- planum do osso esfenóide (4)
carados pela superposição da imagem de ossos teto das órbitas (5)
adjacentes ou pela diferença de densidade e espes- placa cribiforme ou lâmina crivosa do osso
sura. Para minimizar os erros do traçado cefalomé- etmóide (6)
trico deve-se usar material adequado constituído grandes asas do osso esfenóide (7)
de: negatoscópio, sala escura sem interferência dos
raios de luminosidade, lápis, folha de acetato, fita b) Face:
adesiva, template, modelos de estudo, lupa, régua, contorno externo e interno do osso frontal (8)
transferidor e esquadros. sutura fronto-nasal (9)
Para facilitar o traçado cefalométrico (Fig. osso nasal (10)
25.63) as estruturas anatômicas podem ser dividi- contorno das órbitas (11)
das em: a) base do crânio, b) face e c) perfil facial. processo zigomático da maxila – key ridge (12)
As estruturas bilaterais do lado direito são repre- fissura pterigomaxilar (13)
sentadas por linhas pontilhadas e as do lado es- maxila (14)
querdo por linhas contínuas. mandíbula: corpo (15) e ramo (16)
incisivos (17) e molares (18)

c) Perfil Facial:
perfil mole: glabela (19), nariz (20), lábio su-
perior (21), lábio inferior (22) e mento mole
(23)

Pontos cefalométricos

Para elaborar o diagnóstico cefalométrico das


maloclusões é necessário identificar nas estruturas
anatômicas do crânio e da face, projetadas na te-
lerradiografia lateral ou frontal, os pontos cefalomé-
tricos, que permitirão a obtenção de medidas angu-
lares e lineares, utilizadas na análise das relações
craniofaciais.
A maioria dos pontos cefalométricos usados
em Ortodontia advém da craniometria, porém, os
anatomistas usavam diferentes definições para
identificar um mesmo ponto. Este fato gerou mui-
ta confusão entre os ortodontistas da época, o
que motivou a Sociedade Americana de Ortodontia
realizar em 1957, em Cleveland (EUA), o Primeiro
Simpósio de Radiografia Cefalométrica com o
Fig. 25.63 objetivo de discutir e propor normas, dentre as
Traçado cefalométrico com suas estruturas anatômicas. quais a definição padronizada de pontos e planos
cefalométricos.
Os critérios que foram estabelecidos para a
seleção dos pontos cefalométricos são: a) universa-
lidade ou freqüência de uso; b) importância do

936
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

ponto para um determinado plano de referência; c) Espinha Nasal Anterior (ENA): situado na ex-
definição controvertida ou confusa e dificuldade tremidade da espinha nasal anterior.
para identificá-lo no filme. Próstio (Pr): ponto mais anterior do processo
Há um grande número de pontos que podem alveolar da pré-maxila, geralmente situado en-
ser identificados sobre a radiografia cefalométrica tre os incisivos centrais superiores, na extremi-
lateral ou frontal210. Serão descritos aqui apenas os dade do septo interalveolar.
pontos utilizados na análise cefalométrica simplifi- Ponto A (subespinhal): ponto mais profundo da
cada9,203. concavidade subespinhal, localizado entre o
Os pontos cefalométricos se dividem em dois ponto espinha nasal anterior e o próstio.
grupos: 1) pontos sagitais ou ímpares; 2) pontos Infradental (Id): ponto mais anterior do pro-
laterais ou pares. cesso alveolar da mandíbula, situado entre os
incisivos centrais, na extremidade do septo in-
Pontos sagitais ou ímpares teralveolar.
(Fig. 25.64) Ponto B (supramental): ponto mais profundo
da concavidade supra mentoniana, entre os
São os pontos situados no plano sagital mediano. pontos infradental e pogônio.
Básio (Ba): ponto mais inferior da margem Pogônio (Pog): ponto mais anterior do contorno
anterior do forame magno, no plano médio da sínfise mandibular, determinado por inspeção.
sagital. Gnátio (Gn): ponto situado na metade da dis-
Sela turca (S): situado no centro geométrico tância entre os pontos mais anterior (pogônio)
da sela turca do esfenóide e determinado por e mais inferior (mentoniano) do contorno da
inspeção. sínfise mandibular. Pode ser também determi-
Násio (N): ponto mais anterior da sutura fron- nado pela bissetriz do ângulo formado pelo
to-nasal, vista lateralmente. plano mandibular e plano facial.

Fig. 25.64
Pontos cefalométricos de referência, visualizados na telerradio-
grafia lateral.

937
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Pontos situados no perfil dos tecidos Linha Pt-Gn: é a que se estende do ponto Pt
moles ao ponto Gn.
Linha A-Pog: formada pelos pontos A e Pog.
Lábio superior (Ls): ponto mais proeminente Linha do longo eixo do incisivo central supe-
do lábio superior em repouso. rior: corresponde à linha que representa o lon-
Lábio inferior (Li): ponto mais proeminente do go eixo desse dente.
lábio inferior em repouso. Linha do longo eixo do incisivo central inferior:
Pogônio tegumentar (Pog’): ponto mais anterior corresponde à linha que representa o longo
do contorno anterior do mento tegumentar. eixo desse dente.
Ponto MN: situado no meio da borda inferior Linha S, de Steiner: é a que intercepta os pon-
do nariz ou no centro do “S” nasal. tos MN e Pog’.
Plano mandibular de Steiner (Go-Gn): determi-
nado pela união dos pontos Go e Gn.
Pontos laterais ou pares
(Fig. 25.64)
Análise cefalométrica simplificada
São os pontos situados em estruturas anatômi-
cas bilaterais. A análise cefalométrica é um valioso instru-
Pterigóide (Pt): ponto mais superior e posterior mento de diagnóstico, prognóstico e planejamento
do contorno superior da fissura ptérigo maxilar. do tratamento ortodôntico, já que permite avaliar o
Gônio (Go): ponto médio entre os pontos mais padrão esquelético da face, o padrão dentário, bem
posterior e mais inferior do ângulo mandibular. como o perfil facial.
Pode ser também determinado pela bissetriz É um sistema que visa definir, em valores nu-
do ângulo formado pelo plano mandibular e méricos, os componentes cranianos e faciais, escla-
plano do ramo da mandíbula. recendo como estas partes, independentemente,
afetam o conjunto167.
Por outro lado, há infinita variação no tama-
Linhas e planos cefalométricos
nho, forma e crescimento de todas as estruturas
craniofaciais e para compreender a variação dos ti-
Uma linha é obtida pela união de dois pon-
pos faciais e as diferenças no seu crescimento, não é
tos e um plano, pela união de pelo menos três
suficiente analisar uma simples variável apenas, pois
pontos.
o significado de cada característica reside na sua
Plano de referência é um plano selecionado
integração completa com a morfologia facial49.
como base para comparações quando se deseja
A análise do padrão esquelético da face, per-
realizar medições lineares e angulares. Björk, em
mite estabelecer a relação ântero-posterior da
1954, considerou a linha S-N como a mais estável
maxila e mandíbula com a base do crânio, bem
dentre as linhas cefalométricas de referência. Isto
como a relação dessas bases ósseas entre si,
deve-se ao fato dos pontos cranianos S e N serem
além de determinar também os diferentes tipos
pontos ímpares, situados sobre o plano médio sagi-
morfológicos.
tal e do ponto S estar isolado das áreas onde ocor-
A análise do padrão dentário descreve a rela-
rem movimentações dentárias e alterações de cres-
ção dos incisivos superiores e inferiores com suas
cimento. Por outro lado, a estabilidade deste ponto
respectivas bases ósseas e a relação angular que
sofre influência com o crescimento, em alguns
estes dentes mantém entre si.
graus, quando associada ao ponto N.
A análise do perfil facial possibilita avaliar a
Linha S-N: é a que une os pontos S e N.
relação que se estabelece entre a quantidade de
Linha S-Gn: formada pelos pontos S e Gn.
tecido mole existente sobre a sínfise, contorno do
Linha N-A: determinada pelos pontos N e A. nariz, lábio superior e lábio inferior, de tal modo
Linha N-B: é a que passa pelos pontos N e B. que podemos determinar o tipo de perfil que o
Linha N-Ba: resultante da união dos pontos N paciente apresenta e as modificações previstas no
e Ba. final do tratamento.

938
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Avaliação do Padrão Esquelético facial e valores acima de 35,0° identificam po-


(Fig. 25.65A) bre padrão de crescimento.
- Ângulo NS.Gn: determinado pela interseção
- Ângulo SNA: determinado pela interseção das das linhas SN e SGn. Expressa a direção do
linhas SN e NA. Registra o grau de protrusão crescimento mandibular.
ou de retrusão da maxila em relação à base Valor normal = 67,0°± 3,0°. Valores maiores
anterior do crânio. que 70,0° indicam rotação horária da mandíbu-
Valor normal = 82,0° ± 2,0°. Valores maiores la e valores abaixo de 64,0° manifestam rota-
que 84,0° indicam protrusão maxilar e valores ção anti-horária.
menores que 80,0°, retrusão maxilar. - Ângulo do Eixo Facial: determinado pela inter-
- Ângulo SNB: determinado pela interseção das seção das linhas N-Ba e Pt-Gn. Registra a dire-
linhas SN e NB. Expressa o grau de protrusão ção do crescimento mandibular e expressa a
ou de retrusão da mandíbula em relação à proporção da altura facial em comparação com
base anterior do crânio. a profundidade da face.
Valor normal = 80,0° ± 2,0°. Valores maiores Valor normal = 90,0° ± 3,0°. De acordo com
que 82,0° indicam protrusão mandibular e va- as variações do ângulo do eixo facial podemos
lores menores que 78,0°, retrusão mandibular. classificar os tipos morfológicos da face em:
- Ângulo ANB: determinado pela interseção das Mesofacial: eixo facial = 90,0° ± 3,0°
linhas NA e NB. Corresponde à diferença entre Braquifacial: eixo facial >93,0°
os ângulos SNA e SNB e representa a relação Dolicofacial: eixo facial < 87,0°
ântero-posterior entre maxila e mandíbula. - Ângulo de convexidade (NAPg): determinado
Valor normal = 2,0° ± 2,0°. A partir das variações pela interseção das linhas NA e A-Pog. Mede o
do ângulo ANB podemos fazer a classificação es- grau de protrusão da maxila em relação ao
quelética das maloclusões, de tal forma que: perfil total. Quando o ponto A está situado
ANB = 0,0° a 4,0° : maloclusão esqueléti- sobre o plano facial, o ângulo de convexidade
ca de classe I. é zero, porém, quando se encontra à frente do
ANB > 4,0°: maloclusão esquelética de plano facial o valor é positivo e o perfil é con-
classe II. vexo; quando situa-se atrás, valor é negativo e
ANB < 0,0°: maloclusão esquelética de o perfil é côncavo.
classe III.
- Ângulo SN.GoGn: determinado pela interseção
do plano mandibular (GoGn) com a linha SN.
VALORES PERFIL
Mede o grau de abertura e a altura vertical da
médio: 0,0° reto
porção anterior da mandíbula.
mínimo: -8,5° côncavo
Valor normal = 32,0°± 3,0°. Valores menores
máximo: 10,0° convexo
que 32,0° indicam bom padrão de crescimento

939
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Fig. 25.65A
Medidas utilizadas na avaliação do padrão esquelético e do perfil facial.

Fig. 25.65B
Medidas utilizadas na avaliação do padrão dentário.

940
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Avaliação do Padrão Dentário Em faces normais, com perfil reto, a linha de


(Fig. 25.65B) Steiner tangencia o ponto mais proeminente do
lábio superior e do lábio inferior, ou seja, as dis-
- Ângulo Incisivo Superior. NA (1.NA): determi- tâncias S-Ls e S-Li devem ser iguais a zero.
nado pela interseção do longo eixo do incisivo Quando o contorno anterior dos lábios (superi-
central superior com a linha NA. Indica o grau or e inferior) situar-se à frente da linha de Steiner,
de inclinação axial deste dente com a referida as distâncias S-Ls e S-Li assumem valores positivos
linha. e o perfil do paciente é convexo. Em contrapartida,
Valor normal = 22,0°. Valores maiores mos- se o contorno dos lábios situar-se atrás da linha de
tram inclinação axial aumentada e valores me- Steiner, as distâncias S-Ls e S-Li apresentam valo-
nores, inclinação axial reduzida dos incisivos res negativos e o perfil do paciente é côncavo.
superiores em relação à linha NA.
- Distância Incisivo Superior – NA (1-NA): dis-
tância do ponto mais proeminente da coroa do
MANTENEDORES DE ESPAÇO
incisivo central superior até a linha NA. Expres-
Como parte integrante da face o aparelho
sa, em milímetros, a relação ântero-posterior
mastigatório deve ser eficiente no exercício de
deste dente com a linha NA.
suas funções, bem como colaborar para o estabe-
Valor normal = 4,0 mm. Valores maiores indi-
lecimento da harmonia e estética facial52. Uma
cam protrusão e valores menores, retrusão dos
oclusão decídua normal é fundamental para que
incisivos superiores em relação à linha NA.
se tenha função fonética, mastigatória, estética,
- Ângulo Incisivo Superior. NB (1.NB): determi-
prevenção de hábitos bucais, bem estar psico-
nado pela interseção do longo eixo do incisivo
emocional da criança e, principalmente, servir
central inferior com a linha NB. Mede o grau
como guia de erupção para os dentes permanen-
de inclinação axial deste dente com a referida
tes204. Estes fatores justificam a importância da
linha.
manutenção da integridade do arco dentário des-
Valor normal = 25,0°. Valores maiores indicam
de a época mais prematura no desenvolvimento
inclinação axial aumentada e valores menores,
do ser humano.
inclinação axial reduzida dos incisivos inferiores
A manutenção da dentição decídua sob condi-
em relação à linha NB.
ções normais desempenha papel fundamental para
- Distância Incisivo Inferior – NB (1-NB): distân-
o estabelecimento da oclusão na dentição perma-
cia do ponto mais proeminente da coroa do
nente. Perda prematura de dentes por cárie, trau-
incisivo central inferior até a linha NB. Expres-
matismos ou erupção ectópica é um dos aspectos
sa, em milímetros, a relação ântero-posterior
que pode interferir diretamente no equilíbrio do
deste dente com a linha NB.
Valor normal = 4,0 mm. Valores maiores regis- sistema estomatognático (Fig. 25.66). Nestas cir-
tram protrusão e valores menores, retrusão cunstâncias o Cirurgião-Dentista poderá utilizar
dos incisivos inferiores em relação à linha NB. mantenedores de espaço para preservar espaços
presentes na dentição decídua e/ou mista e indi-
Avaliação do Perfil Facial cados quando há ausência de um ou mais elemen-
(Fig. 25.65A) tos dentários. Porém, o melhor mantenedor de
espaço é o próprio dente, uma vez que cada ele-
A análise do perfil facial é feita por meio da mento dentário se mantém na sua correta relação
linha de Steiner189, que avalia a relação entre os oclusal pela ação de forças individuais que perma-
tecidos moles do perfil facial. Esta linha se estende necem equilibradas entre si. Alterações dessas for-
do ponto MN, situado na metade da borda inferior ças podem conduzir a mudanças no relacionamen-
do nariz até o ponto Pog’, que corresponde ao po- to dos dentes adjacentes ocasionando migração
gônio tegumentar. dentária e problemas de espaço.

941
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Fig. 25.66
Fotografia clínica ilustrando o comprometimento
de espaço no arco maxilar decorrente de uma
cárie no primeiro molar decíduo superior.

A preservação de dentes decíduos saudáveis a) impossibilidade de realizar a correta restaura-


até sua época de esfoliação é um dos principais ção da porção coronária, e
fatores na prevenção primária da maloclusão124. A b) sucessor permanente apresentando evidências
perda prematura de dentes decíduos é um forte de rotação, inversão ou desvio de erupção.
fator de risco para a manifestação de alterações na
arcada dentária, uma vez que a perda de espaço Nestas duas situações pode ser necessária a
para os sucessores permanentes freqüentemente manutenção de espaço, quando o elemento dentá-
conduz ao apinhamento39. Isto ocorre devido à pos- rio removido devesse permanecer por mais um lon-
sibilidade da perda prematura ocasionar alterações go período na arcada dentária até sua substituição
no comprimento da arcada. natural, fato este que incluiria a ausência deste
Um dos primeiros passos para se evitar altera- dente como perda prematura.
ções no perímetro do arco dentário é a correta Considera-se prematura a perda de qualquer
restauração da distância mesiodistal da coroa de dente decíduo quando seu sucessor permanente es-
dentes decíduos99. Para evitar problemas devido à tiver com sua formação aquém do estágio 6 de No-
diminuição do perímetro da arcada decídua e/ou lla. Nestas condições, nova formação óssea sobre o
mista o profissional deve conhecer a biogênese da germe do dente permanente ocorrerá, dificultando,
oclusão (desenvolvimento das dentições decídua, dessa forma, sua erupção. Cerca de 60% das crian-
mista e permanente) e ter noções sobre a análise ças brasileiras aos oito anos de idade apresentam
da dentição mista para elaborar o correto diagnós- perda prematura de algum dente decíduo8.
tico, objetivando, principalmente, ações preventi- Vários são os fatores etiológicos da perda pre-
vas. É importante ter em mente que qualquer for- matura, dentre os quais pode-se citar: cárie ram-
ma de oclusão, seja ela favorável ou não, resulta pante96 e cárie prematura da infância193, traumatis-
da interação de influências genéticas e ambientais mo44,73,128, processos anormais de reabsorção60,99,75,
desde os estágios mais prematuros do desenvolvi- patologias73.
mento. As conseqüências das perdas prematuras de
Apesar do dente decíduo, hígido ou correta- dentes decíduos têm sido motivo de vários estudos.
mente restaurado, ser o melhor mantenedor de es- Além de ocasionar alterações no perímetro do arco,
paço, existem algumas circunstâncias que indicam pode-se observar: irregularidades no alinhamento
sua remoção e a conseqüente manutenção do es- de dentes permanentes; alterações no crescimento
paço resultante, tais como99,129: facial131; migração de dentes adjacentes para a re-

942
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

gião da perda com conseqüente fechamento ou re- C. Radiografias intrabucais e panorâmica


panorâmica:–
dução do espaço; inclinações de dentes adjacentes; Objetiva-se verificar:
impacções de dentes permanentes sucessores; - o estágio de desenvolvimento do sucessor
erupção ectópica; aumento no trespasse vertical; permanente e dos dentes adjacentes à
redução na capacidade mastigatória; problemas pe- perda;
riodontais severos; trauma oclusal; reabsorção - a quantidade de osso sobre o dente su-
óssea; disfunção da articulação temporomandibular; cessor não irrompido e sua posição em
distúrbios na fonética; instalação de hábitos viciosos; relação aos demais elementos dentários
estética prejudicada e problemas de ordem psicoló- adjacentes;
gica. É importante salientar que essas conseqüências - a presença de agenesias ou dentes supra-
variam de um indivíduo para outro, porém, a grande numerários, além de anomalias de forma;
maioria dos pesquisadores concorda que as princi- - as medidas dos diâmetros mesiodistais
pais alterações observadas ocorrem nos primeiros dos dentes sucessores intra-ósseos para
seis meses após a perda do dente decíduo. determinação do espaço requeri-
Para evitar qualquer inconveniente quando da do50,121,124,156,194,195,202.
perda prematura, o Cirurgião-Dentista deve plane- D. Modelos de estudoestudo:– Avaliar de forma deta-
jar e instalar adequadamente o mantenedor de es- lhada a oclusão e realizar a análise da dentição
paço mais apropriado para a condição apresentada. mista6,10,153.

Planejamento para a manutenção de Ao planejar a manutenção de espaço, diversos


espaço fatores devem ser considerados e dentre eles pode-
se citar:
Com o objetivo de evitar e até mesmo minimi-
zar os problemas decorrentes de perdas prematu- 1. Tempo decorrido após a perda perda:– O fecha-
ras, oriundos da migração mesial de dentes poste- mento de espaço geralmente ocorre nos pri-
riores, particularmente os primeiros molares perma- meiros seis meses após a exodontia. Quando o
nentes, e inclinação lingual dos dentes anteriores, o mantenedor de espaço for indicado, deve ser
clínico deve planejar adequadamente o mantenedor instalado o mais breve possível, preferencial-
de espaço. Este planejamento deve englobar uma mente na mesma sessão em que o dente decí-
visão geral do paciente, buscando preservar o perí- duo for removido73,99,184.
metro total do arco dentário e não apenas manter o 2. Idade dentária do paciente
paciente:– A idade cro-
espaço do dente perdido prematuramente. nológica não é tão importante quanto a idade
Para o planejamento adequado, meios de diagnós- de desenvolvimento. As idades de erupção
tico devem ser analisados com o intuito de individu- dentária, em média, não devem influenciar na
alizar cada caso da maneira mais apropriada. As- decisão sobre a confecção de um mantenedor
sim, o profissional deve levar em consideração: de espaço, uma vez que a época de erupção é
muito variável129. Deve-se avaliar o estágio de
A. Anamnese
Anamnese:– Dar ênfase sobre a história médica formação radicular do dente sucessor, pois os
pregressa194,195, pois existem determinadas condi- dentes irão irromper quando três quartos de
ções que contra-indicam alguns tipos de apare- sua raiz estiverem formados, independente da
lhos e até mesmo o procedimento de manuten- idade da criança. De acordo com Gron84, a
ção, como, por exemplo, pacientes que utilizam erupção dentária parece estar mais associada
drogas imunossupressoras e dilantin sódico. ao estágio de formação radicular do que à ida-
B. Exame clínico
clínico:– Avaliar a oclusão como um de cronológica ou esquelética da crian-
todo121 (overbite, overjet, relação molar e rela- ça11,105,121,178.
ção canina), tecidos moles e duros e as fun- 3. Quantidade de osso que cobre o dente
ções da cavidade bucal (aspectos morfofuncio- não irrompido
irrompido:– A existência de osso reco-
nais da dentição – relação intercuspídica, movi- brindo a coroa do sucessor permanente indica
mentação mandibular e forma da articulação que a erupção não ocorrerá brevemente. Um
temporomandibular. método de previsão para a erupção consiste no

943
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

fato de que os pré-molares requerem de 4 a 5 explicar as condições atuais do caso e informar a


meses para progredir 1 mm através do osso, possibilidade de desenvolvimento de uma maloclu-
medido em radiografia bite-wing. Este método são futura quando não são tomadas medidas para
é menos confiável do que aquele baseado no manter o espaço ou orientar o desenvolvimento da
desenvolvimento radicular124,130. oclusão. É importante salientar que o mantenedor
Nos casos em que houver destruição do osso de espaço não corrige a maloclusão pré-existente,
que recobre o dente permanente em desenvol- apenas evita que uma condição indesejável se
vimento por motivo de infecção, sua erupção agrave.
geralmente será acelerada podendo ocorrer Para que um mantenedor de espaço seja cons-
com um mínimo de raiz formada10,67,124. McDo- truído de forma ideal, alguns requisitos devem ser
nald & Avery130 acrescentam que nos casos em observados52,98, quais sejam:
que a perda óssea ocorre antes da formação
de 1/3 da raiz do sucessor permanente, con- - preservar a distância mesiodistal e altura
vém não confiar na erupção acelerada e indicar vertical do dente removido, mantendo os
a manutenção de espaço, mesmo que seja por dentes adjacentes em suas posições;
pouco tempo. - não impedir o processo de crescimento dos
4. Seqüência de erupção dentária:
dentária:– Deve-se arcos dentários, tanto no sentido mesiodis-
observar a relação dos dentes em desenvolvi- tal, quanto no ântero-posterior e permitir
mento e irrupções adjacentes com o espaço um desenvolvimento ósseo normal;
criado pela perda prematura de qualquer ele- - não lesar ou alterar dentes que estejam
mento dentário. É provável que ocorra maior servindo de suporte;
perda de espaço se os mesmos estiverem em - ser compatível com os tecidos moles;
fase de erupção ativa105,156. - não atuar como obstáculo à erupção do
5. Erupção tardia do dente permanente
permanente:– dente permanente subjacente;
Muitas vezes ela ocorre devido à impacção par- - ser funcional, restaurando a função masti-
cial ou desvio do trajeto de erupção do sucessor gatória e evitando a extrusão do dente
permanente. Nestes casos, normalmente indica- antagonista;
se a exodontia do dente decíduo e a confecção - permitir uma mastigação e deglutição cor-
de um mantenedor de espaço para permitir que retas;
o dente permanente irrompa e assuma sua po- - permitir uma fonação correta;
sição normal. Na presença do dente antagonista - evitar instalação de hábitos bucais deleté-
é aconselhável acrescentar um batente no apa- rios; restaurar contornos faciais normais;
relho para prevenir sua extrusão durante o pe- - ser de simples confecção e resistente à
ríodo de manutenção de espaço. atividade mastigatória;
6. Ausência congênita do dente permanen- - ser de fácil higienização, e
te:
te:– Apesar de alguns autores relatarem que a - ser estético e financeiramente acessível.
manutenção de espaço não é indicada em ca-
sos de agenesia do sucessor permanente156, Tipos de mantenedores de espaço
McDonald & Avery130 destacam a necessidade
de consultar o Ortodontista para decidir se é Os mantenedores de espaço podem ser dividi-
melhor manter o espaço para posterior con- dos em fixos (banda-alça, coroa-alça, arco lingual,
fecção de prótese fixa ou deixar que o mesmo botão de Nance, mantenedor de espaço intragengi-
venha a se fechar. Esta consulta deve ser enfa- val e prótese), removíveis e semifixos.
tizada em casos de presença de maloclusão. Os mantenedores fixos podem ser construídos
com coroas fundidas, anéis, coroas de aço inoxidá-
Após o planejamento do mantenedor de espa- vel pré-fabricadas, barras e projeções de fio. São
ço, na consulta em que o mesmo será instalado, indicados quando todos os outros dentes puderem
após as instruções de utilização, manutenção e hi- ser restaurados e não houver esfoliação dos dentes
gienização, o profissional deve conversar com os que irão receber as coroas ou anéis de aço inoxidá-
pais ou responsável pelo paciente. É necessário vel. A vantagem desse tipo de aparelho é sua per-

944
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

manência constante, uma vez que são dificilmente a alça e hábitos nocivos podem provocar a intrusão
quebrados e quase nunca são perdidos. A desvan- da alça na gengiva, o que pode ser evitado com a
tagem reside na dificuldade de construção e na colocação de um apoio oclusal na alça para garantir
falta de adaptabilidade às mudanças de crescimen- a estabilidade do conjunto54.
to da boca147. Este aparelho é indicado nos casos onde o es-
Os mantenedores removíveis são usados nor- paço a ser mantido não é muito extenso, necessi-
malmente para perdas múltiplas de dentes decíduos, tando apenas de um dente de suporte106. Normal-
recobrindo a mucosa lingual ou palatina e as super- mente é utilizado em dentições decíduas com a
fícies alveolares com resina acrílica, estendendo-se finalidade de manter o espaço do primeiro ou se-
até as áreas onde os dentes foram perdidos. Podem gundo molar decíduo41. É um aparelho que inde-
ser construídos em uma ampla variedade de mode- pende da cooperação do paciente.
los, adaptando-se às necessidades individuais147. Como qualquer outro mantenedor de espaço
que utiliza bandas ortodônticas para retenção, é
preciso removê-lo a cada ano para que o dente
1. Banda-alça
possa ser examinado e polido fazendo-se, em se-
guida, aplicação tópica de flúor e só então o apare-
É um mantenedor de espaço fixo, não funcio-
lho é recimentado130.
nal uma vez que preserva o espaço do dente perdi-
do sem, contudo, restaurar sua função mastigató-
2. Coroa-alça
ria, além de não impedir a extrusão do dente anta-
gonista. É constituído por uma banda ortodôntica É um mantenedor de espaço não funcional,
geralmente adaptada a um dos dentes adjacentes que possui as mesmas vantagens e desvantagens
ao espaço e apresenta uma alça soldada à banda, do banda-alça. É indicado para situações onde o
adaptada ao espaço anodôntico e em contato com dente de suporte apresenta cárie extensa, necessi-
o outro dente, adjacente à extremidade do espaço tando ser restaurado com coroa de aço ou, então,
a ser preservado (Fig. 25.67). Este aparelho impos- quando a terapia pulpar estiver indicada, o que o
sibilita que o canino realize os movimentos fisiológi- torna menos resistente106 (Fig. 25.68). Pode ser
cos para distal e vestibular durante a erupção do confeccionado com a utilização de duas coroas de
incisivo lateral permanente. Rapp e Demiroz165 solu- aço, recobrindo os dentes adjacentes ao espaço,
cionam este problema através da criação de um interligadas por um fio ortodôntico rígido. Não ne-
plano reto que permita a movimentação do canino. cessitando mais da função mantenedora, a alça
A força da mastigação, má adaptação da ban- pode ser removida e as coroas continuarão servin-
da, rotação ou inclinação do dente em contato com do como restauração para os dentes suportes130 .

Fig. 25.67 Fig. 25.68


Banda alça utilizado para manter o espaço de um segundo Coroa-alça utilizada para manter o espaço de um segundo
molar decíduo superior direito perdido prematuramente. molar decíduo inferior esquerdo perdido prematuramente.

945
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

3. Arco Lingual ao espaço mantido, uma vez que não restabelece a


função mastigatória. Não depende da cooperação
Também denominado arco lingual de Nance, é do paciente e também não necessita de ajustes
um mantenedor de espaço não funcional, compos- periódicos; alguma dificuldade na higienização das
to por duas bandas ortodônticas cimentadas nos faces linguais dos incisivos pode ser observada. In-
primeiros molares permanentes, nas quais solda- terfere pouco na fonação, deglutição, mastigação e
se ou encaixa-se um arco lingual que se estende no espaço da língua.
de um molar ao outro. A porção anterior do arco
toca os incisivos permanentes acima do cíngulo e 4. Botão Palatino de Nance
sua finalidade é prevenir o movimento anterior
dos dentes posteriores e também o movimento É um mantenedor de espaço fixo, não funcio-
posterior dos dentes anteriores41 (Fig. 25.69). É nal, indicado para perdas múltiplas e bilaterais de
um excelente mantenedor do perímetro da arcada, molares decíduos superiores. Evita a mesialização
principalmente nos casos de exodontias múltiplas. dos molares permanentes e a conseqüente perda
É indicado em casos de perdas múltiplas e bilate- de espaço. É semelhante ao arco lingual mandibu-
rais de dentes decíduos posteriores, inferiores, lar e sua extremidade anterior, com aproximada-
quando os incisivos permanentes já irromperam91. mente 1 cm de diâmetro, deve ser apoiada na re-
Pode também ser utilizado com sucesso em casos gião mediana do palato, coberta por resina acrílica,
cuja discrepância ósseo-dental no arco mandibular situada atrás dos incisivos centrais superiores91. A
é excessivamente negativa e a exodontia dos cani- resina não deve comprimir os tecidos do palato e
nos decíduos é necessária para propiciar melhor deve permitir boa higienização do local de contato
alinhamento dos incisivos, devendo manter a linha evitando, assim, possíveis irritações do tecido abai-
média correta. Indicado também em casos de per- xo do botão de acrílico (Fig. 25.70).
da prematura do canino, devido à reabsorção de É um aparelho não funcional, não depende da
sua raiz quando da erupção do incisivo lateral, cooperação do paciente e não necessita também de
evitando, assim, a linguoversão dos incisivos e a ajustes periódicos. A presença do botão de acrílico
conseqüente diminuição do perímetro do arco pode alterar o contato da língua com o palato,
mandibular. interferindo levemente na deglutição e fonação.
É um aparelho fixo ou semifixo, de fácil cons- Apresenta também dificuldade de higienização da
trução e adaptação, não interferindo no crescimen- mucosa abaixo do botão de apoio, o que requer
to da maxila e mandíbula e não compromete tam- visitas mais freqüentes do paciente ao consultório
bém a erupção dos dentes sucessores permanen- dentário. Sua utilização é contra-indicada em casos
tes. Não evita a extrusão dos dentes antagonistas de mordida profunda91.

Fig. 25.69 Fig. 25.70


Arco lingual utilizado para manter o comprimento do arco em Botão de Nance.
um paciente com perda precoce do canino decíduo inferior
esquerdo.

946
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

5. Mantenedor de espaço intragengival tuído por outro mantenedor de espaço, mais apro-
priado para o caso em consideração.
Também conhecido como retentor com apoio
distal44, é um aparelho com guia de erupção dis- 6. Mantenedor de espaço de acrílico
tal130 ou guia de erupção do primeiro molar perma-
nente. É indicado nos casos de perda prematura do É um mantenedor de espaço removível, estéti-
2º molar decíduo antes da erupção do 1º molar co e funcional; restabelece a função mastigatória e
permanente. Apresenta em sua extremidade distal impede a extrusão do dente antagonista. Indicado
uma extensão subgengival para guiar a erupção para perdas prematuras de dentes anteriores ou
mais distal do primeiro molar permanente não ir- posteriores, uni ou bilateralmente71 (Figs. 25.71A a
rompido44,51,205. C). É de fácil higienização e permite o reembasa-
Várias situações contra-indicam a sua utilização mento para que possa ser ajustado às alterações
e dentre elas têm-se: discrasias sanguíneas, imu- que ocorrem na cavidade bucal.
nossupressão, diabetes ou debilidade generalizada, São aparelhos que dependem da colaboração
endocardite bacteriana78, defeitos cardíacos congê- do paciente e podem interferir na erupção dos den-
nitos55, febre reumática61, doença renal, má nutri- tes sucessores se não forem bem controlados. Po-
ção, bacteremias transitórias, pacientes fazendo dem ser utilizados em casos de perda prematura do
uso de antibióticos61; higiene bucal precária, falta segundo molar decíduo, antes da erupção do pri-
de cooperação do paciente e dos pais; perda de meiro molar permanente. Nestes casos deve ser
vários dentes130. modificado de maneira que uma extensão de acríli-
Nos casos em que a extensão intragengival é co possa reproduzir a posição da superfície distal
contra-indicada, recomenda-se como possibilidade do segundo molar decíduo.
de tratamento: a) deixar o dente irromper e em Suas principais desvantagens são a dificulda-
seguida recuperar o espaço, e b) utilizar um apare- de de retenção e a cooperação do paciente. Se o
lho fixo ou removível que não penetre no tecido, paciente deixar de usá-lo por alguns dias, pode
mas que exerça uma pressão sobre a crista marginal sofrer ressecamento, que ocasionará alterações
mesial do molar permanente já presente na cavida- na base do aparelho. Além disso, pode ocorrer
de bucal129. É um aparelho não funcional, não impe- migração de dentes adjacentes ao espaço a ser
dindo, portanto, a extrusão do antagonista. Necessi- mantido, o que dificultará sua recolocação, a
ta de controle radiográfico periódico para evitar qual- menos que ajustes sejam feitos pelo Cirurgião-
quer interferência com a erupção do pré-molar. Dentista.
De acordo com Dadauto et al.55, o aparelho,
quando indicado, deve ser colocado imediatamente 7. Placa de Hawley
após a exodontia ou esfoliação do molar decíduo.
Na impossibilidade de instalação imediata, o pa- É uma placa utilizada para caracterizar grande
ciente deve ser anestesiado e uma incisão deve ser variedade de aparelhos que apresentam em comum
realizada próximo à crista marginal mesial do pri- uma placa de acrílico com o arco vestibular de
meiro molar permanente em erupção. Hawley. Dentre suas indicações está a manutenção
A extensão distal deve ser posicionada um mi- de espaço, quando incorporamos a ela dentes de
límetro abaixo da crista marginal mesial do primeiro estoque que irão substituir os elementos dentários
molar permanente não irrompido55. Segundo McDo- perdidos prematuramente, podendo até mesmo ser
nald & Avery130, não é necessário que a extensão usada como prótese temporária. A adição de gram-
distal tenha contato direto com o molar permanen- pos nas faces mesiais de molares permanentes
te, a menos que ele já tenha migrado no sentido manterá a relação molar normal em casos de perda
mesial. O aprofundamento excessivo da extensão do segundo molar decíduo2.
pode impedir a erupção do primeiro molar perma- São aparelhos de fácil higienização, estética
nente ou do segundo pré-molar78; se ficar aquém razoável, sua confecção laboratorial é fácil e permi-
do primeiro molar permanente, este, por sua vez, te ajustes rápidos. Por serem aparelhos removíveis,
pode irromper por baixo do aparelho. Após a erupção sua principal desvantagem é a dependência da co-
do molar permanente, o aparelho deve ser substi- operação do paciente3.

947
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Figs. 25.71A a C
Mantenedor de espaço de acrílico:
A - Utilizado para manter o espaço dos segundos molares
decíduos inferiores, direito e esquerdo, perdidos prematura-
mente;
B - Incisivos perdidos prematuramente;
C - Aparelho utilizado para manter espaço dos incisivos cen-
trais inferiores perdidos prematuramente.

B C

8. Prótese Fixa res decíduos, onde são conectados encaixes com


sistema macho-fêmea. O dente a ser substituído
A utilização da prótese fixa na dentição decí- é fixado no arco lingual5,160.
dua deve ser vista como recurso para restabelecer Para a confecção de uma prótese, alguns pon-
o equilíbrio sem interferir nos processos normais de tos essenciais devem ser observados: preponderân-
crescimento e desenvolvimento próprio da idade, cia do fator estético; hábitos deletérios estimulados
nem comprometer a integridade dos outros ele- pela perda prematura, alterações na fonação e difi-
mentos dentários204. culdade na mastigação; substituição de até dois
Lima et al.118 idealizaram uma prótese fixa dentes contíguos ou três intercalados; ausência de
adesiva como mantenedor de espaço que restitui perda de espaço, de sobremordida profunda e de
a oclusão natural da criança sem necessitar do mordida aberta anterior118.
desgaste dos dentes de suporte. Utilizam compó- As próteses fixas são indicadas para perdas
sito como técnica de colagem e é de fácil execu- prematuras de dentes decíduos na região anterior
ção. O mantenedor consiste de uma estrutura em crianças de faixa etária baixa e àquelas que não
metálica (fio ortodôntico de 0,8 mm, duplo) permitem a utilização de um aparelho removível
adaptada aos dentes de suporte, colada direta- devido a dificuldades físicas ou motoras. Essas pró-
mente, sem necessidade de desgaste dos dentes teses podem, também, solucionar problemas estéti-
que receberão o elemento suspenso que substi- co-funcionais de pacientes especiais que não po-
tuirá o dente perdido. A prótese fixa também dem usar um mantenedor de espaço removível.
pode ser construída utilizando-se arco lingual ou Paiva et al.159 idealizaram um mantenedor de espa-
palatino soldado às bandas dos segundos mola- ço anterior para a dentição decídua utilizando fitas

948
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

de fibra de polietileno aderidas com compósito fo- 4. Estágio de desenvolvimento da dentição


dentição:
topolimerizável a uma canaleta na face palatina dos é provável ocorrer maior perda de espaço se
dentes pilares. os dentes adjacentes à região da perda estive-
Pacientes que usam mantenedores de espaço rem em fase ativa de erupção130.
devem ser controlados periodicamente, principal-
mente aqueles que utilizam aparelhos removíveis. Independentemente da causa, a perda de es-
Qualquer alteração na prótese devido a danos ou paço levará a uma diminuição do comprimento do
mesmo a modificações no crescimento e desenvol- arco dentário, criando assim, um desequilíbrio es-
vimento da criança, requer reavaliação da possibili- trutural e funcional. Vários são os fatores etiológi-
dade dos mantenedores serem mantidos com pe- cos relativos aos problemas de espaço:
quenos reparos ou se devem ser substituídos. a) perda prematura de molares decíduos: quando
o primeiro molar decíduo é perdido prematura-
RECUPERADORES DE ESPAÇO mente, pode ocorrer migração mesial do se-
gundo molar decíduo, principalmente se o pri-
Com o objetivo de manter a integridade do meiro molar permanente estiver em estágio
arco dentário, bem como as condições normais de ativo de erupção;
desenvolvimento das dentições desde a decídua até b) cáries interproximais: a manutenção da integri-
a permanente, aparelhos recuperadores de espaço dade da coroa dentária é fundamental para
têm sido utilizados, principalmente na dentição mis- preservar o espaço no arco dentário para a
ta, com o intuito de restabelecer o desenvolvimento erupção do dente sucessor permanente. A le-
normal de uma dentição comprometida com a per- são cariosa é responsável pela perda parcial ou
da de espaço. Nestes casos, dispositivos para recu- total da estrutura dentária, podendo levar à
perar espaço são utilizados quando houver inclina- esfoliação prematura de um dente decíduo.
ção dentária decorrente da perda prematura sem Uma vez instalada a cárie, o dente deve ser
intervenção apropriada em tempo hábil, evitando- corretamente restaurado, respeitando sua ana-
se, assim, problemas relativos ao espaço destinado tomia e sua relação com os dentes adjacentes
ao dente sucessor permanente. e antagonistas. Restaurações insatisfatórias
Embora não haja concordância em relação à podem acelerar o processo de rizólise como
freqüência com que ocorre o fechamento de espaço conseqüência de um trauma oclusal;
com o desenvolvimento de uma maloclusão, alguns c) discrepância ósseo-dental negativa: a reabsor-
fatores gerais determinam a instalação de um recu- ção radicular de um dente decíduo antes da
perador de espaço e dentre eles pode-se citar: sua época normal de esfoliação, poderá levar à
perda de espaço e, conseqüentemente, à dimi-
1. Anormalidade da musculatura bucal bucal: lín- nuição no comprimento da arcada dentária;
gua em posição muito elevada, associada a d) erupção ectópica do primeiro molar permanen-
uma musculatura forte do mento, pode preju- te: alterações de desenvolvimento no padrão
dicar a oclusão após a perda prematura de um de erupção podem ser responsáveis por uma
molar decíduo inferior, o que resultará em co- erupção ectópica. Esta situação provocará rea-
lapso do arco dentário superior e inclinação bsorção da raiz distal do segundo molar decí-
distal do segmento ântero-inferior. duo, levando a perda prematura deste dente.
2. Presença de hábitos bucais bucais: hábito de O espaço destinado ao segundo pré-molar po-
sucção produz forças anormais sobre o arco derá, dessa forma, ser comprometido e sua
dentário, podendo acarretar um colapso da ar- erupção dificultada, podendo, até mesmo, ser
cada após a perda prematura de um elemento impossibilitada, levando à sua retenção;
dentário. e) anquilose: molares decíduos podem estar uni-
3. Existência de maloclusão
maloclusão: comprimento dos ao processo alveolar o que impediria seu
inadequado do arco e outras formas de malo- processo de esfoliação. Os inferiores são duas
clusão, particularmente a classe II 1a divisão, vezes mais propensos do que os superiores,
tornam-se, em geral, mais graves após a perda sendo que a maioria dos dentes anquilosados é
prematura de dentes decíduos inferiores. observada no final da dentição decídua e du-

949
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

rante a dentição mista. Esta condição pode ser não é grande ou a inclinação dos molares para mesial
uni ou bilateral e ocasiona mordida aberta pos- não é severa1. Assim, em um primeiro molar perma-
terior localizada devido ao impedimento do nente que deslizou mesialmente, três tipos distintos
crescimento alveolar. Às vezes pode ocorrer in- de movimento dentário ocorreram: inclinação mesial
clinação mesial dos molares permanentes so- da coroa, rotação e translação. A seleção do melhor
bre um segundo molar decíduo anquilosado; aparelho dependerá da necessidade de inclinação, ro-
f) alteração na inclinação axial dos incisivos infe- tação, translação ou a combinação desses movimen-
riores e superiores: quando um primeiro molar tos. Geralmente o espaço é mais fácil de ser recupe-
ou canino decíduo é perdido prematuramente, rado na maxila do que na mandíbula, devido ao au-
há uma tendência ao fechamento do espaço mento da ancoragem conseguida na abóboda palati-
decorrente da inclinação distal dos incisivos. na para aparelhos removíveis.
Isto ocorre devido à contração das fibras tran- Uma vez que os molares permanentes tendem
septais e à pressão dos lábios e bochechas. a inclinar-se para frente e girar mésio-lingualmente
Caso a perda seja unilateral e nenhum procedi- quando há perda prematura de um segundo molar
mento reparador for instituído, uma assimetria decíduo, uma inclinação distal para recuperar 2 a 3
oclusal poderá ocorrer. mm de espaço é geralmente satisfatória163. Nesses
casos, pode-se utilizar um aparelho removível com
Quando a perda de espaço na arcada dentária placa de Hawley e molas digitais (molas helicoidais
é devido à inclinação mesial de um primeiro molar duplas) quando a perda for inferior a 3 mm (Fig.
permanente, antes de qualquer intervenção, o Ci- 25.72). A recuperação de espaço envolvendo até 3
rurgião-Dentista deve localizar a região do arco que mm será conseguida se o paciente usar o aparelho
foi diminuída. A análise da dentição mista e a quan- em tempo integral durante 3 a 4 meses. A ativação
tidade exata a ser recuperada são determinadas, de 2 mm da mola digital irá produzir um movimen-
podendo, dessa forma, ser planejado o movimento to de 1 mm por mês do dente em questão163. Um
mais apropriado. Para registrar as alterações na outro tipo de recuperador que pode ser utilizado
dentição deve-se proceder à avaliação clínica, bem tanto na maxila como na mandíbula é um aparelho
como à análise radiográfica para identificar a possi- de acrílico com parafuso de expansão, que deve ser
bilidade de recuperar o espaço sem ocasionar im- colocado mesial ao dente que se pretende distalizar
pacção do 2o molar permanente. O espaço será (Fig. 25.73). Sua atuação é semelhante ao aparelho
mais facilmente recuperado se o segundo molar de Hawley com molas digitais.
permanente não estiver em estado adiantado de As molas e o parafuso não movimentam os
erupção e localizar-se em uma posição mais cervi- molares corporalmente nem aumentam o perímetro
cal em relação ao primeiro molar permanente. A do arco além das dimensões originais. Quando o
recuperação de espaço é realizada quando as se- movimento de corpo for necessário, o aparelho fixo
guintes condições estiverem presentes: com ancoragem apropriada deverá ser utilizado.

– perda de um ou mais dentes decíduos;


– perda de espaço no arco pelo deslizamento
mesial do primeiro molar permanente
– a análise da dentição mista mostrar que é pos-
sível recuperar todo o espaço perdido, propi-
ciando desenvolvimento adequado da dentição
e permitindo que os ajustes normais da denti-
ção mista possam ocorrer.

Ao planejar o procedimento de recuperação de


espaço, o profissional deve ter em mente que o apa-
relho recuperador deve atuar inversamente aos movi-
mentos ocorridos durante a perda de espaço. Estes Fig. 25.72
aparelhos estão indicados quando a perda de espaço Recuperador de espaço com molas digitais.

950
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Fig. 25.73
Recuperador de espaço de acrílico com parafuso expansor,
utilizado para recuperar o espaço perdido para o segundo
molar inferior direito decíduo.

No final da dentição decídua, os incisivos maxi-


DIASTEMAS ANTERIORES lares permanentes se desenvolvem em uma posição
mais palatina e superior em relação aos dentes decí-
O diastema entre os incisivos centrais maxila- duos. No tempo apropriado, as raízes dos incisivos
res é relativamente comum durante a dentição mis- decíduos são reabsorvidas e os dentes permanentes
ta. É uma das maloclusões que mais preocupa os movimentam-se no sentido labial e irrompem em um
pacientes, pois apresenta um aspecto desagradá- perímetro mais amplo e numa posição mais protrusi-
vel, devido aos efeitos estéticos e psicológicos. A va. Nas crianças cujos incisivos centrais maxilares
maioria destes espaçamentos entre os incisivos fe- irromperam recentemente é possível identificar uma
cha-se espontaneamente no momento da erupção condição de extrema divergência entre as coroas
dos caninos permanentes e somente poucos persis- desses dentes18. Esta condição mostra o início da
tem na dentição permanente. fase do patinho feio36 e o espaço existente entre os
Entende-se por diastema a condição em que incisivos maxilares persiste, em muitos casos, por
espaços ou ausência de contato podem ocorrer en- três ou quatro anos. Fechar estes diastemas em uma
tre dois ou mais dentes consecutivos, tanto no arco idade precoce pode causar danos às raízes dos inci-
dental superior quanto no inferior e podem ser cau- sivos centrais recém irrompidos.
sados por diferentes fatores etiológicos. Os incisivos laterais não irrompidos são nor-
De acordo com Moyers 147,148 os diastemas malmente guiados para o posicionamento no arco
podem localizar-se em uma região específica ou pela superfície distal dos incisivos centrais. Eles pa-
em todo o arco dentário. Segundo Nanda152, es- recem progredir em sentido oclusal com uma incli-
paços podem ocorrer naturalmente na dentição nação distal distinta (Fig. 25.74), fechando parcial-
decídua, em arcos tipo I de Baume e espaços mente o diastema, em conseqüência de pressões
primatas, ou serem originados de condições mesiais exercidas sobre os incisivos centrais duran-
anormais como dentes supranumerários, agene- te seu processo de erupção18. Os caninos perma-
sias e discrepância de tamanho dos dentes. Os nentes estão próximos às raízes dos incisivos late-
espaços primatas, quando estão presentes, si- rais e estes servirão de guia para os caninos no seu
tuam-se entre a face distal dos incisivos laterais processo de erupção. Antes mesmo da erupção
e a face mesial dos caninos decíduos superiores destes dentes, há uma mudança na posição dos
e entre a superfície distal dos caninos e mesial incisivos que se tornam mais paralelos entre si.
dos primeiros molares decíduos do arco dentário Esta condição também contribui para o fechamento
inferior. do diastema mediano.

951
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Fig. 25.74
Diastemas entre os incisivos, centrais e laterais, superiores.

Finalmente, com a erupção dos caninos um - Fatores étnicos e familiares: considerações a


esforço é feito para obtenção de mais espaço, que respeito das alterações apresentadas na oclu-
permitirá a coroa do incisivo lateral movimentar-se são de um paciente devem incluir o fator here-
mais no sentido mesial, promovendo o fechamento ditariedade, que tem sido investigado com fre-
do espaço na linha média. Este estágio final é nor- qüência por diversos autores18,63,103,77. Negros e
malmente alcançado quando o paciente apresenta grupos do mediterrâneo apresentam diastema
idade dentária entre 11 e 12 anos. Assim, é prová- mediano como uma característica étnica nor-
vel que os diastemas interincisais se fechem espon- mal. Os espaços estão normalmente associa-
taneamente sob condições normais, o que torna a dos a variados graus de protrusão dental bima-
mecanoterapia desnecessária. xilar, o que resulta em aumento do comprimen-
A incidência dos diastemas tende a diminuir to do arco alveolar, aumentando ainda mais o
com o aumento da idade. Aos 6 anos sua presen- espaço entre os dentes18,20.
ça é de 97%; entre 6 e 7 anos esse valor apresen-
ta uma redução, mostrando uma taxa de 88%. Deficiência de material dentário no
Entre 10 e 11 anos a porcentagem apresentada é arco
de 48%, sendo que entre as idades de 12 e 18
anos apenas 7% dos casos avaliados apresentam - Dentição espaçada: espaçamentos entre os
diastemas191. dentes existem em graus variados, mas, de uma
Em várias situações, o diastema mediano pode maneira geral, todos estão associados a um
ocorrer entre os incisivos centrais irrompidos, po- comprimento do arco maior do que o somatório
dendo ou não ser fechado espontaneamente. Den- dos diâmetros mesiodistais dos dentes18,63,157. A
tre elas é possível citar: inclinação mesial nestes casos é mínima e os
espaços permanecem por toda a vida. Os den-
Condições normais tes apresentam-se mais ou menos espaçados
pelo arco de maneira uniforme, exceto na re-
- Período transitório do desenvolvimento da den- gião molar onde os contatos estão quase sem-
tição: em condições normais uma criança com pre presentes. Nestes casos a erupção dos cani-
7 anos de idade apresenta espaço entre os nos não fechará completamente os espaços
incisivos centrais recém irrompidos. Este espa- existentes entre os incisivos que são normal-
ço será fechado quando os caninos permanen- mente pequenos. Estes espaços quando corrigi-
tes irromperem, por volta dos 11 anos de ida- dos ortodonticamente tendem a recidivar após a
de18,157 (Fig. 25.74). remoção da contenção (Figs. 25.75A e B).

952
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

Figs. 25.75A e B
Diastema generalizado decorrente do comprimento do arco maior do que o somatório dos diâmetros mesiodistais dos dentes.
A - Vista oclusal do arco maxilar;
B - Vista lateral esquerda em oclusão.

- Ausência congênita: pacientes com ausência con- das raízes dos incisivos, ou seja, a relação axial
gênita de um ou mais dentes são freqüentemen- entre os incisivos centrais é paralela ou mesmo
te encontrados na prática diária58. Quando os divergente. Com a ausência dos incisivos laterais,
incisivos laterais são menores ou estão congeni- os centrais apresentam tendência para uma movi-
tamente ausentes, há uma mudança na relação mentação no sentido lateral172 (Figs. 25.76A a C).

A B

Figs. 25.76A a C
Diastema anterior decorrente de ausência congênita dos inci-
sivos laterais superiores.
A - Vista lateral direita;
B - Vista lateral esquerda;
C - Vista oclusal do arco maxilar.

953
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

- Anomalias dentárias (tamanho reduzido): inci- fechamento do espaço. Dessa forma o diaste-
sivos laterais conóides ou de tamanho reduzi- ma existente entre os incisivos centrais supe-
do, quando irrompem no arco dentário, pro- riores não será totalmente fechado.
movem o fechamento parcial do espaço exis- - Dentes extraídos: a quebra da integridade de
tente entre os incisivos centrais. Estes inci- um arco dentário, causada por uma exodontia,
sivos freqüentemente apresentam raízes redu- pode provocar a abertura de espaço na linha
zidas. Nestes casos os caninos permanentes mediana. Esta possibilidade é real quando a
estão se desenvolvendo relativamente dis- perda é mesial em relação aos primeiros mola-
tantes das raízes dos laterais que são respon- res permanentes.
sáveis por guiá-los durante o processo de - Comprimento do arco aumentado: sucção de
erupção18 (Fig. 25.77). polegar, projeção de língua e interposição do
- Dentes ectópicos: um dente que irrompe de lábio inferior entre os incisivos superiores po-
maneira ectópica também pode assumir um dem conduzir a um overjet aumentado, devi-
papel importante na seqüência dos movimen- do ao deslocamento labial dos incisivos supe-
tos que conduzem ao fechamento do diastema riores (Figs. 25.78A e B). Isto promove um
e alinhamento espontâneo dos dentes anterio- aumento localizado no comprimento do osso
res. Isto ocorre devido à ausência de pressão alveolar onde os incisivos superiores estão po-
distal nos incisivos centrais que conduzirá ao sicionados.

Fig. 25.77
Diastemas anteriores decorrentes dos incisivos
laterais superiores conóides.

A B

Figs. 25.78A e B
Diastemas anteriores decorrentes de sucção digital.

954
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

- Apinhamento: normalmente o apinhamento é inferior. A ausência de contato apropriado


devido à discrepância negativa entre o tama- dos dentes no arco dentário não irá promo-
nho dos incisivos e o espaço disponível para ver pressão suficiente na face distal dos inci-
eles no arco dentário. O problema começa sivos centrais para determinar o fechamento
quando o incisivo lateral localizado em senti- espontâneo do diastema entre os incisivos na
do palatino tenta posicionar-se no arco den- linha mediana.
tário. O contato com o incisivo central e cani- Dentes geminados geralmente aparecem na
no decíduo previne o movimento labial es- região anterior do arco dentário (Fig. 25.79).
pontâneo em um ou ambos os lados, condu- Além de maloclusões como protrusão, apinha-
zindo freqüentemente a uma relação de mor- mento ou diastema, eles também podem cau-
dida cruzada com os dentes do arco dentário sar problemas estéticos100.

Fig. 25.79
Diastemas anteriores decorrentes da geminação
do incisivo central inferior direito de forma co-
nóide com o incisivo central inferior esquerdo.

Impedimentos físicos (Figs. 25.80A e B). Complicações associadas


com essa anomalia incluem: falta de erupção
- Dentes decíduos retidos: pequeno desvio no dos dentes permanentes, desvios no padrão de
padrão normal de erupção do incisivo perma- erupção, rotações, retenção, reabsorção radi-
nente pode levar à reabsorção parcial da raiz cular e necrose pulpar com perda de vitalida-
do incisivo decíduo, permitindo que este dente de, e diastema154 (Nik-Hussein 1990, Kupietzky
permaneça no arco. Isto retardará a esfoliação et al.109 2000, Giancotti et al.79 2002, Lehi e
do incisivo decíduo. A perda ou exodontia tar- Kaur116 2002). Alterações císticas na linha medi-
dia de um dente decíduo geralmente afetará a ana ao redor do dente supranumerário não ir-
erupção de outros dentes anteriores, não per- rompido podem estar presentes. Devido à alta
mitindo, dessa forma, que o diastema anterior proporção de efeitos patológicos, o diagnóstico
se feche espontaneamente. precoce da anomalia é importante para preve-
- Dentes supranumerários: é uma alteração da nir danos aos dentes normais e tecidos adja-
odontogênese, relativamente comum na cavi- centes (Nik-Hussein154 1990, Lehi e Kaur116
dade bucal, caracterizada pelo excesso de den- 2002). A presença de dentes supranumerários
tes. O termo mesiodens é utilizado para referir- na linha mediana causará divergência apical
se a um dente supranumerário na região cen- dos dentes adjacentes, que tende a deslocar o
tral da pré-maxila, entre os incisivos centrais incisivo lateral não irrompido para o palato.

955
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

Figs. 25.80A e B
Imagens radiográficas de dentes supranumerários localizados na linha mediana da maxila ocasionando diastema nesta região.

- Freio labial hipertrofiado: crianças que geral-


mente têm dentes espaçados e diastema na
linha mediana podem apresentar condição fa-
vorável para que este espaçamento seja per-
sistente. Isto ocorre nos casos em que o freio
labial hipertrofiado está presente e associado
ao espaço interincisivo (Fig. 25.81). É impor-
tante ressaltar que o freio labial provavelmente
não é a causa primária do diastema e a pre-
sença de um freio curto em um arco com ex-
cesso de espaço e dentes relativamente peque-
nos, é devido a falta de constrição do freio na
linha mediana.
Fig. 25.81
A fusão imperfeita da pré-maxila é uma alte-
Paciente na fase do patinho feio com diastema entre os incisi-
ração comum no desenvolvimento que pode
vos onde o freio labial também contribui para a persistência
ser causada por restos epiteliais presentes desse diastema. Observe a área isquêmica entre os incisivos
nesta área. Popovich et al.161 (1977) avaliaram centrais superiores.
471 crianças do Centro de Crescimento de
Burlington com o objetivo de fornecer um
guia clínico para distinguir os casos de diaste-
ma que se fecham normalmente daqueles que saber: 1) osso normal em forma de “V”, sepa-
possuem características que são responsáveis rado pela sutura intermaxilar; 2) osso normal
por sua persistência. Neste estudo os autores com uma sutura ampla e pouco espessa; 3)
identificaram 4 tipos de sutura intermaxilar osso em forma de pá separado pela sutura
determinadas em cefalogramas póstero-ante- intermaxilar, e 4) osso em forma de W com
riores nas idades de 9, 12, 14 e 16 anos, a uma sutura profunda.

956
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

De todas as crianças avaliadas, 230 apresenta- - Milwaukee Brace: algumas vezes o tratamento
ram diastema maior ou igual a 0,5 mm na para escoliose da coluna vertebral é realizado
idade de 9 anos. Após comparar as diversas utilizando-se o Milwaukee brace. Este dispositi-
características associadas com o diastema per- vo exerce pressão longitudinalmente na coluna
sistente na idade de 16 anos, os autores con- vertebral. Seu suporte inferior está localizado
cluíram que o espaço generalizado foi um fator na cintura pélvica e o superior abaixo da região
significante. Das 230 crianças que apresenta- occipital e mandíbula. Este aparelho restringe o
ram diastema, os tipos de sutura 3 e 4 foram crescimento do terço inferior da face e promo-
identificados nas crianças cujos diastemas ve espaçamento entre os incisivos maxilares
apresentaram-se persistentes161. quando for utilizado por um ano ou mais. Tan-
- Outras patologias da linha mediana: cistos e to as mudanças dentais quanto a inibição do
tumores na linha mediana poderão ser causas desenvolvimento do terço inferior da face ten-
de diastemas nesta região157. dem ser solucionadas quando o uso do apare-
lho for interrompido. Atualmente modificações
Causas artificiais têm sido feitas nestes aparelhos para diminuir
os efeitos orofaciais adversos.
- Expansão palatina rápida: o tratamento para a
mordida cruzada posterior bilateral pode envol- Outras causas
ver forças ortodônticas e ortopédicas para se-
parar a sutura palatina mediana que conduzirá - Sobremordida exagerada: casos em que os inci-
o arco superior a uma condição transversa nor- sivos inferiores ocluem no tecido mole, próximo
mal em relação ao arco inferior111,186. Este tra- ao cíngulo dos incisivos superiores. A pressão
tamento é feito com o disjuntor de Haas por exercida nesta região resulta no aparecimento
um período de duas a três semanas. O apare- do diastema entre os incisivos157 (Fig. 25.83).
lho é ativado duas vezes por dia, com 1/4 de - Dentes cariados: cáries extensas na superfície
volta, obtendo-se uma abertura de 10 a 12 mesial dos incisivos centrais maxilares podem ser
milímetros, que resultará na presença de responsáveis pelo diastema entre esses dentes20.
diastema entre os incisivos (Fig. 25.82). As fi- - Dentes girados: dentes com giroversão podem
bras transeptais e gengivais promovem o fe- causar o aparecimento de diastemas.
chamento espontâneo do diastema na linha - Periodontites: doença periodontal pode ser um
mediana, em um período de dois a três meses. fator etiológico do diastema20.

Fig. 25.82 Fig. 25.83


Paciente após o término da fase ativa do disjuntor de Haas, Diastema entre os incisivos superiores como conseqüência da
onde pode ser observado diastema entre os incisivos centrais sobremordida exagerada.
superiores.

957
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Tendo em vista que diversas são as etiologias chamento do diastema interincisal está indicado
que podem levar à presença de diastemas na re- somente nos casos onde o espaço persiste após a
gião anterior dos arcos dentários, exame cuidadoso erupção dos caninos157.
deve ser realizado a fim de se obter um diagnóstico Diagnóstico e tratamento de crianças em cres-
preciso. Para isso, o Cirurgião-Dentista deve avaliar cimento que apresentam perda de incisivos laterais
o paciente considerando: continuam sendo um problema para muitos clíni-
cos. Vários fatores complicam as opções de trata-
a) exame clínico – verificar se o espaço é localiza- mento. Quando os incisivos estão congenitamente
do entre os incisivos centrais ou se os diaste- ausentes os caninos permanentes freqüentemente
mas presentes são generalizados. O profissio- irrompem em uma posição mesial em relação ao
nal deve tracionar o lábio superior para frente seu correto posicionamento no arco dentário. Mes-
e para cima e observar se há isquemia dos mo quando isso não acontece, a necessidade de
tecidos moles na região palatina entre os incisi- manter o osso alveolar por vários anos até que o
vos centrais. A presença de isquemia sugere crescimento tenha cessado apresenta um outro di-
inserção anormal do freio labial. Determinar o lema para o profissional. Pressões psicológicas afe-
tamanho dos espaços; verificar a presença de tam também os pais dessas crianças que querem
hábitos viciosos e investigar se houve trata- uma resolução precoce para os problemas estéticos
mento ortodôntico prévio; de seus filhos197.
b) exame radiográfico – deve-se radiografar a re- Soluções possíveis para a perda de incisivos
gião do diastema. Se for restrito à linha medi- laterais incluem fechamento do espaço durante a
ana, os incisivos laterais superiores também terapia ortodôntica corretiva, próteses adesivas,
devem ser radiografados. A definição das es- implantes e autotransplante de pré-molares em de-
truturas anatômicas é essencial. O raio X cen- senvolvimento197; ou associação de técnicas como
tral deve incidir perpendicularmente ao septo por exemplo, reconstituição estética associada ao
alveolar entre os incisivos centrais superiores. fechamento de espaço172. Cada uma das possibili-
Se necessário, complementar com radiografias dades de tratamento pode ser realizada com preci-
adicionais, variando sua angulação para obser- são. Para isso, antes de optar pelo tratamento mais
var os detalhes da sutura palatina mediana; adequado, o profissional deve considerar o padrão
c) análise de modelos – proceder à análise da esquelético, as relações dentárias, a discrepância
dentição mista, medindo o espaço disponível e entre o tamanho do arco dentário e dos dentes,
o espaço requerido para determinar a discre- sobressaliência, forma e posição da raiz, suporte
pância ósseo-dental. labial, forma e cor dos caninos adjacentes e o nível
de cooperação esperada.
Tratamento do diastema interincisal Robertsson e Mohlin171, depois de avaliarem 50
pacientes por um período de 7 anos e 1 mês após
Diastema na linha média do arco maxilar é um o tratamento, afirmaram que pacientes com fecha-
problema estético comum que o Cirurgião-Dentista mento de espaço, onde um incisivo lateral estava
deve tratar. Várias alternativas de tratamento têm ausente congenitamente, ficaram mais satisfeitos
sido sugeridas ultimamente, variando de procedi- quando comparados com aqueles onde houve
mentos cirúrgicos a tratamento ortodôntico. Proce- substituição do dente ausente utilizando-se uma
dimentos corretivos são executados pelos profissio- prótese. Relataram ainda que os pacientes com
nais sem avaliar adequadamente os fatores que substituição protética apresentavam a saúde perio-
contribuem para a manifestação dos diastemas. dontal comprometida pela presença de gengivite e
Como a etiologia dos diastemas interincisais é va- placa bacteriana.
riada, exame detalhado deve ser realizado a fim de Para os pacientes com perda de um dente, não
estabelecer, com precisão, o fator ou associação de existe um plano de tratamento padrão. O planeja-
fatores que está diretamente envolvida com sua mento depende da idade e perfil facial, da maloclu-
ocorrência. Dependendo do caso, uma intervenção são, da intercuspidação, da presença de espaço, da
multidisciplinar poderá ser indicada. É importante quantidade de osso, da forma, cor e do nível de
lembrar que nos pacientes em crescimento, o fe- gengiva dos dentes vizinhos. O fechamento ou

958
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

abertura do diastema deve ser considerado. Para cado. Normalmente o fechamento do espaço é con-
isso, o diagnóstico utilizando um set-up da oclusão seguido por meio da movimentação de corpo dos
final deve fornecer detalhes do resultado que pode incisivos centrais, utilizando-se aparelhagem fixa
ser esperado com diferentes modalidades de trata- (Figs. 25.85A a D). O uso de um aparelho fixo é
mento. O fechamento ortodôntico do diastema é realizado quando as coroas dos incisivos centrais
preferível, mas nem sempre possível ou desejável e estão convergindo e seus ápices divergindo em re-
exodontias compensatórias podem ser necessárias. lação ao plano sagital mediano. A correção é reali-
Nos adultos com quantidade suficiente de osso, a zada através de bráquetes colados nos incisivos,
colocação de um implante pode ser o tratamento onde uma pequena extensão de fio de aço inoxidá-
de escolha. Freqüentemente, o aumento ósseo an- vel será inserido, possibilitando a aplicação de uma
tecedendo a cirurgia do implante é necessário para força recíproca através de um elastômero. Este pro-
auxiliar as alternativas protéticas104. cedimento irá aproximar os dentes num movimento
Um espaço persistente entre os incisivos cen- de translação, movendo tanto os ápices como as
trais de até no máximo 2 mm, onde é possível coroas em sentidos opostos.
identificar pequena inclinação para distal das coro- A correção do diastema nos casos em que o
as e convergência dos ápices radiculares em ambos freio labial hipertrofiado está presente, deve ser
os incisivos centrais, poderá ser corrigido por meio realizada logo após a cirurgia para a desinserção
de um aparelho ortodôntico removível (Fig. 25.84). das fibras situadas na sutura palatina mediana.
A correção é conseguida utilizando-se molas digitais Este procedimento cirúrgico é denominado fre-
aplicadas na face distal dos dentes 11 e 21, que nectomia. A intervenção do Cirurgião-Dentista para
promoverão seu correto posicionamento. A redução reduzir o diastema deve ser o quanto antes para
do diastema através de elásticos unindo os incisivos evitar a reinserção das fibras na sutura palatina
centrais na região cervical está contra-indicada, mediana, que levará à recidiva do espaço entre os
uma vez que a anatomia dentária irá favorecer o incisivos centrais.
deslizamento do elástico em direção apical, pene- É importante lembrar que após qualquer corre-
trando no sulco gengival, promovendo inflamação e ção ortodôntica, usando aparelho removível ou fixo,
perda de tecido ósseo200. é necessária a instalação de um aparelho de con-
Quando o diastema entre os incisivos centrais tenção. Nos casos onde a correção foi realizada
for maior que 3 mm, promover sua correção so- com aparelho removível, o mesmo aparelho pode
mente através da inclinação dos dentes não é indi- ser utilizado no período de contenção.

Fig. 25.84
Aparelho ortodôntico removível para
redução de diastema interincisal.

959
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

C D

Figs. 25.85A a D
A - Antes da correção;
B - Fechamento do diastema entre os incisivos centrais superiores;
C - Inclusão dos incisivos laterais superiores para fechamento de espaço;
D - Vista frontal após correção do diastema utilizando-se aparelhagem fixa.

MORDIDAS CRUZADAS quando a maloclusão está instalada na porção an-


terior do arco (Fig. 25.86) e posterior, quando a
Mordida cruzada é uma maloclusão nos planos maloclusão encontra-se no segmento posterior do
ântero-posterior e transversal, onde um ou mais den- arco (Fig. 25.87). A mordida cruzada pode incluir
tes estão anormalmente posicionados para vestibular um ou mais dentes e ser uni ou bilateral.
ou lingual em relação ao(s) dente(s) antagonista(s). A prevalência da mordida cruzada para a denti-
Dependendo dos segmentos atingidos, as mor- ção decídua varia entre 7% e 16% com predominân-
didas cruzadas podem ser divididas em: anterior, cia para a mordida cruzada posterior unilateral95.

960
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Fig. 25.86 Fig. 25.87


Mordida cruzada anterior. Mordida cruzada posterior.

Etiologia - Perda prematura de dentes decíduos


A raiz do dente decíduo serve como guia de
As mordidas cruzadas podem estar associadas erupção para o permanente; portanto, com a perda
à retenção prolongada de dentes decíduos, perda prematura do dente decíduo, o permanente perde
prematura de dentes decíduos, discrepância ósseo- seu guia e pode irromper em mordida cruzada.
dental negativa, deficiência de crescimento dos os-
sos, hábitos bucais, traumas, fissuras palatinas e - Discrepância ósseo-dental negativa
interferências oclusais. A diferença negativa entre o tamanho dos den-
tes e o perímetro do arco dentário resulta na falta
- Retenção prolongada de dentes decíduos de espaço para erupção desses dentes, levando-os
A retenção prolongada de dentes decíduos pro- a irromper em mordida cruzada (Fig. 25.88).
voca alteração na posição dos germes dos dentes
permanentes que se posicionam pelo lado lingual ou - Deficiência de crescimento dos ossos
palatino em relação às raízes dos dentes decíduos. A deficiência de crescimento da maxila ou o
Assim, com a retenção prolongada dos dentes decí- excesso de crescimento da mandíbula ou ambos,
duos, a tendência é a erupção dos dentes perma- nos planos ântero-posterior e transversal podem
nentes pela superfície lingual ou palatina, de seus causar mordidas cruzadas esqueléticas (Figs.
antecessores, podendo levar à mordida cruzada. 25.89A e B).

Fig. 25.88
Falta de espaço para os incisivos late-
rais superiores que irromperam em
mordida cruzada.

961
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

Figs. 25.89A e B
A - Mordida cruzada anterior provocada pelo excesso de crescimento da mandíbula; e
B - Maloclusão esquelética confirmada pela radiografia cefalométrica.

- Hábitos bucais As áreas de cicatrização da fissura palatina


O hábito de sucção digital e a respiração bucal após a cirurgia podem restringir o desenvolvi-
podem favorecer a instalação de mordidas cruza- mento horizontal do segmento anterior do maxi-
das. O abaixamento da mandíbula, devido à sucção lar superior. Nas fissuras unilaterais, os dentes se
e/ou respiração bucal, provoca desequilíbrio entre encontram em mordida cruzada com os inferiores
as forças da língua e as do músculo bucinador antagonistas. Muitas vezes, a premaxila encon-
exercidas sobre a maxila, causando sua contração. tra-se deslocada para frente ou, devido ao lábio,
Essa contração freqüentemente gera contato pre- toda a estrutura premaxilar é deslocada no senti-
maturo entre os caninos decíduos superior e infe- do lingual. Os incisivos superiores com freqüên-
rior, levando a mandíbula a desviar-se de seu pa- cia ocupam posições incorretas, com inclinações
drão normal de fechamento em busca de maiores axiais anormais.
contatos intercuspídeos, resultando na mordida
cruzada funcional. Os hábitos de postura incorreta Diagnóstico
geram pressão lateral no osso maxilar causando
mordida cruzada posterior unilateral. O hábito de O diagnóstico da mordida cruzada deve ser re-
dormir somente sobre um lado da face, de colocar alizado a partir de dados obtidos no exame clínico
a mão sob o travesseiro, apoiar um lado do rosto (exame extrabucal, intrabucal e funcional) e exame
sobre as mãos, podem causar contração em um radiográfico.
hemi arco maxilar e, conseqüentemente, mordida No exame extrabucal deve-se observar a si-
cruzada posterior unilateral verdadeira. metria facial (Figs. 25.90A e B), posicionando um
pedaço de fio dental sobre o plano sagital media-
- Fissura Palatina no da face do paciente para compararmos os la-
O tipo de lesão original, se fissura parcial, uni- dos direito e esquerdo. É importante verificar a
lateral completa ou bilateral completa influencia nos relação entre a linha mediana dental e o plano
danos. Quando existe ponte óssea ou se a ponte sagital mediano. O tipo morfológico da face e o
for criada por enxerto ósseo, as possibilidades de perfil do paciente devem também ser analisados,
criar anomalias severas são praticamente nulas. O especialmente nos casos de mordida cruzada an-
tipo de cirurgia e a época da intervenção cirúrgica terior esquelética.
são igualmente importantes.

962
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

Figs. 25.90A e B
A - Face assimétrica: mandíbula deslocada para o lado direito; e
B - Mordida cruzada posterior com desvio mandibular para o lado direito.

No exame intrabucal avalia-se o número de tes estão implantados, não se tratando, portanto de
dentes envolvidos, pois se houver apenas um dente maloclusão provocada por problemas no alinhamen-
cruzado provavelmente não se trata de problema to dos dentes, o que caracteriza uma mordida cruza-
esquelético, mas sim, dentário. Quando vários den- da anterior esquelética (Figs. 25.92A a D). Assim,
tes estão cruzados a probabilidade da maloclusão deve-se realizar o diagnóstico diferencial entre mor-
ser de origem esquelética é maior (Figs. 25.91A e dida cruzada anterior funcional (classe I, tipo III) e
B). O alinhamento dental deve ser avaliado, uma vez mordida cruzada anterior esquelética (classe III, tipo
que nos casos cujos dentes estão alinhados e a III), associando as informações obtidas nos exames
mordida está cruzada, há indícios de que o problema intra e extraoral, funcional e cefalométrico para esta-
está na relação entre as bases ósseas onde os den- belecer o plano de tratamento correto.

A B

Figs. 25.91A e B
A - Mordida cruzada anterior dentária, com apenas um elemento dental cruzado e;
B - Mordida cruzada anterior esquelética, com um grupo de dentes cruzados devido à deficiência de crescimento maxilar.

963
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

C D

Figs. 25.92A a D
A e B - Mordida cruzada anterior dentária, com o incisivo central esquerdo cruzado fora do alinhamento do arco; e
C e D - Mordida cruzada anterior esquelética, com os incisivos bem alinhados.

No exame funcional é possível observar que se Para completar o diagnóstico, o exame cefalo-
o paciente apresenta diferença entre RC (relação métrico é imprescindível: podemos analisar a rela-
cêntrica) e MIH (máxima intercuspidação habitual), ção ântero-posterior entre as bases ósseas (ANB <
há alterações causadas por interferências oclusais 00 indica mordida cruzada anterior esquelética), a
que levam ao desvio funcional da mandíbula. Se o inclinação axial e a posição ântero-posterior dos
desvio for protrusivo, ocorrerá mordida cruzada an- incisivos por meio das medidas 1.NA, 1.NB, 1-NA,
terior funcional. Se o desvio for em lateralidade, 1-NB e as assimetrias faciais e dimensões transver-
haverá mordida cruzada posterior funcional (Figs. sais dos arcos através de radiografias cefalométri-
25.93A e B). cas frontais.

964
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

Figs. 25.93A e B
A - Paciente com mordida cruzada anterior e posterior em máxima intercuspidação habitual e;
B - Em relação cêntrica.

Classificação As mordidas cruzadas anteriores são classifica-


das como esquelética, funcional (pseudoclasse III)
Segundo Moyers147 as mordidas cruzadas po- e dentária.
dem ser divididas em: mordida cruzada anterior
(dentária, funcional ou pseudoclasse III e esquelé- Mordida cruzada anterior esquelética
tica ou classe III verdadeira) e mordida cruzada
posterior (dentária, funcional ou esquelética). Caracteriza-se pela projeção mandibular, retru-
são maxilar ou ambas, ou seja, por excesso de
Mordida cruzada anterior crescimento mandibular ou por falta de crescimento
maxilar, trazendo como conseqüência o cruzamento
Mordida cruzada anterior é uma anomalia no dos dentes anteriores149,150. Nos movimentos mandi-
plano ântero-posterior, na qual os incisivos mandi- bulares, tanto em MIH como em RC, não se obser-
bulares estão em posição anterior aos dentes ante- vam grandes diferenças quanto à relação dos den-
riores superiores4. tes anteriores. O fechamento da mandíbula se pro-
A incidência da mordida cruzada anterior é de cessa sem interferências dos dentes anteriores. O
4 a 5%184, geralmente evidenciada durante a fase perfil facial é côncavo, podendo caracterizar uma
de dentição mista, como resultado da erupção tendência familiar. O ângulo ANB, normalmente, é
anormal dos incisivos permanentes86,126. negativo (Figs. 25.94A a D).

965
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

C D

Figs. 25.94A a D
A e B - Paciente com mordida cruzada anterior esquelética em relação cêntrica;
C - Radiografia cefalométrica indicando o problema esquelético e;
D - Medidas cefalométricas comprovando a maloclusão esquelética.

Mordida cruzada anterior funcional ou


pseudoclasse III
Na maloclusão esquelética classe III, as coroas
Tem como fatores etiológicos as interferências dos incisivos inferiores estão geralmente inclinadas
funcionais, que podem ser dentárias, provocadas para lingual, enquanto que na pseudoclasse III, as
pela respiração bucal ou mesmo por hábitos de coroas dos incisivos superiores é que estão fre-
sucção. Caracteriza-se por leve deslocamento para qüentemente inclinadas para lingual e a dos incisi-
frente da mandíbula para acomodação. Colocando- vos inferiores estão labialmente inclinadas. Exami-
se a mandíbula em RC, verifica-se relação de topo nando o perfil do paciente classe III, tanto em
dos incisivos e a projeção dos molares no plano posição de repouso quanto em máxima intercuspi-
oclusal em relação de classe I. Assim, quando se dação, o prognatismo mandibular está presente.
corrige a mordida cruzada anterior, geralmente a Entretanto, na pseudoclasse III o perfil do paciente
relação molar torna-se classe I em máxima inter- apresenta-se normal em repouso, mas em máxima
cuspidação. Pode-se observar bom equilíbrio facial, intercuspidação a mandíbula é protruída (Figs.
e o ângulo ANB está próximo do normal. 25.95A a D).

966
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

C D

Figs. 25.95A a D
A - Paciente com mordida cruzada anterior funcional ou pseudoclasse III em máxima intercuspidação habitual;
B - Em relação cêntrica;
C - Radiografia cefalométrica indicando bom padrão facial; e
D - Medidas cefalométricas comprovando padrão esquelético normal.

967
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Mordida cruzada anterior dentária A falha dos dois arcos dentários em ocluir
normalmente na relação transversal pode ser devi-
É aquela que apresenta o cruzamento de um do a problemas localizados, como posição dentária
ou mais dentes. Os dentes superiores podem estar ou crescimento alveolar, ou a uma severa discre-
em linguoversão ou os inferiores inclinados para pância óssea entre mandíbula e maxila. Pode en-
vestibular, ou ambas as situações. A relação molar volver um ou mais dentes e ser unilateral ou bila-
geralmente encontra-se em classe I. Os fatores eti- teral. As mordidas cruzadas provavelmente são
ológicos podem ser facilmente identificados como, originárias da dentição e do processo alveolar, do
por exemplo, retenção prolongada do dente decí- esqueleto craniofacial, da musculatura temporo-
duo ou presença de dente supranumerário. É im- mandibular ou da combinação de quaisquer destas
portante observar que as bases ósseas (maxila e causas.
mandíbula) encontram-se bem relacionadas no sen- As mordidas cruzadas posteriores podem ser
tido ântero-posterior169,170 (Fig. 25.96). classificadas como: dentárias, esqueléticas (ósseas)
e musculares ou funcionais147.
Mordida cruzada posterior
Mordida cruzada posterior dentária
Mordida cruzada posterior é o termo usado
para indicar a relação vestíbulo-lingual anormal dos A mordida cruzada posterior dentária pode ser
dentes posteriores. A mais comum caracteriza-se decorrente da retenção prolongada de dentes decí-
pelas cúspides vestibulares de alguns dentes supe- duos, de anomalias na cronologia e, principalmen-
riores posteriores ocluirem lingualmente com as te, da seqüência de erupção dos dentes decíduos,
cúspides vestibulares dos dentes inferiores147. da discrepância ósseo-dental negativa, responsável
Quando um ou mais dentes superiores estão pela erupção dos dentes em vestíbulo ou linguover-
em mordida cruzada, ou seja, quando as cúspides são e anomalias de tamanho, número ou forma dos
vestibulares dos dentes superiores ocluem lingual- dentes59. A mordida cruzada posterior dentária en-
mente com as cúspides vestibulares dos dentes in- volve somente um dente ou vários dentes com in-
feriores, denomina-se mordida cruzada lingual. clinação axial incorreta causando pequenos efeitos
Quando as cúspides linguais dos dentes posteriores no tamanho ou formato do osso basal. As linhas
superiores ocluem completa e vestibularmente com médias não são coincidentes quando os dentes en-
as cúspides vestibulares dos dentes inferiores, de- tram em oclusão ou em MIH, porém, em oclusão
nomina-se mordida cruzada vestibular147. cêntrica, geralmente as linhas médias coincidem
É importante diagnosticar precisamente a cau- Para o diagnóstico é importante localizar a assime-
sa primária da mordida cruzada. tria no arco dentoalveolar147 (Fig. 25.97).

Fig. 25.96 Fig. 25.97


Mordida cruzada anterior dentária. Mordida cruzada posterior dentária, com apenas um pré-
molar cruzado.

968
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Mordida cruzada posterior unilateral


funcional disso, pode ser provocada pelo desequilíbrio mus-
cular entre a língua e o bucinador, causando cons-
Os fatores etiológicos podem ser distúrbios ou trição da maxila ou palatoversão dos dentes maxila-
interferências oclusais, insuficiente largura maxilar res. Esse desequilíbrio muscular pode ser causado
em relação à mandibular ou fenda palatina. Na por alterações funcionais devido a contatos prema-
maioria dos casos, a mordida cruzada posterior uni- turos, respiração bucal, hábitos de sucção do lábio,
lateral está associada à posição condilar mandibular sucção digital e padrão anormal de fechamento da
assimétrica ou com desvio lateral funcional102. Além mandíbula59 (Figs. 25.98A a C).

A C

Figs. 25.98A a C
Mordida cruzada posterior unilateral funcional em máxima intercuspidação habitual (A) e em relação cêntrica (B) resultante do
hábito de sucção digital (C).

969
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A falta de harmonia entre maxila e mandíbula ferência dentária. A análise funcional da relação
geralmente se deve à contração bilateral da maxi- oclusal determina tanto o diagnóstico diferencial
la. Nesses casos, os músculos deslocam a mandí- quanto a identificação de interferências oclusais. Na
bula, a fim de adquirir maior contato interoclusal. mordida cruzada dental, os dentes deverão ser
Colocando-se a mandíbula de modo que as linhas movimentados. Na mordida cruzada muscular ou
médias superior e inferior coincidam, muitos pa- funcional, faz-se necessário promover a expansão
cientes que apresentavam mordida cruzada unila- da maxila, permitindo mudanças no reflexo do posi-
teral, agora mostrarão mordida cruzada bilateral cionamento mandibular147.
devido à contração da maxila147. O desvio mandi- Estudos sobre os efeitos do tratamento orto-
bular em lateralidade resulta em desvio da linha dôntico precoce das mordidas cruzadas posteriores
média dental mandibular. Em MIH ocorre assime- unilaterais funcionais resultaram na redução da
tria na posição condilar, sendo que o côndilo do possibilidade de desenvolvimento de assimetria es-
lado cruzado é forçado para cima e para trás158 e o quelética permanente e compensações dento alveo-
do lado não cruzado é distendido na fossa mandi- lares através da eliminação da mordida lateral for-
bular88. Por essa razão, as mordidas cruzadas fun- çada56,88.
cionais associadas a contrações dentoalveolares
normalmente apresentam sinais e sintomas de dis- Mordida cruzada posterior unilateral verdadeira
funções temporomandibulares como desvios no
padrão de fechamento mandibular e alteram o pa- A mordida cruzada posterior unilateral verda-
drão de crescimento da mandíbula, tornando-a as- deira está associada a hábitos de postura incorretos
simétrica. que proporcionam contração unilateral da maxila.
O padrão de fechamento da mandíbula deve Esse tipo de mordida cruzada apresenta linhas me-
ser verificado cuidadosamente, porque demonstra dianas superior e inferior coincidentes e não há
em qual estágio ocorrem os desvios laterais de fe- contatos prematuros de dentes decíduos e desvio
chamento. Quando o deslocamento lateral ocorre funcional da mandíbula em seu padrão de fecha-
no final do fechamento, geralmente se deve à inter- mento (Figs. 25.99A e B).

A B

Figs. 25.99A e B
A - Mordida cruzada posterior unilateral verdadeira; e
B - Vista oclusal evidenciando a contração do arco maxilar no mesmo lado da mordida cruzada.

970
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Mordida cruzada posterior esquelética crescimento assimétrico ou deficiência de harmo-


(bilateral) nia nas larguras das bases ósseas maxilar e man-
dibular. O crescimento assimétrico pode ser resul-
Os problemas esqueléticos incluem alterações tado de padrões de crescimento herdados, de
no crescimento dos ossos do complexo craniofacial, trauma que impede o crescimento normal do lado
com deficiência ou excesso de crescimento dos afetado, ou de deslocamento mandibular funcio-
maxilares devido a fatores ambientais, genéticos e/ nal de longa data 147. As mordidas cruzadas es-
ou pacientes fissurados88. queléticas, devido ao crescimento ósseo assimé-
As alterações no crescimento ósseo podem trico, são muito difíceis de serem tratadas (Figs.
produzir mordidas cruzadas de duas maneiras: 25.100A e B).

A B

Figs. 25.100A e B
Mordida cruzada posterior bilateral nas dentições decídua (A) e mista (B).

Tratamento sença de espaço para o seu correto posicionamen-


to. As vantagens desta técnica são o baixo custo e
Mordida cruzada anterior dentária a rapidez do tratamento, porém, o sucesso e o
prognóstico deste tipo de terapia dependem da co-
O tratamento da mordida cruzada anterior laboração da criança e supervisão dos pais.
dentária visa corrigir a inclinação axial do(s) Uma espátula de madeira é colocada em con-
dente(s) envolvido(s) e pode ser feito com o uso tato com a face palatina do dente cruzado, com
dos seguintes aparelhos: espátula de madeira, pla- uma inclinação de 15 graus e utilizando os incisivos
no inclinado inferior e aparelho removível com mo- inferiores como ponto de apoio. Este tratamento
las digitais. dura poucos dias, os exercícios devem ser feitos
durante alguns minutos, quatro vezes ao dia. Este
Espátula de madeira método não pode persistir por muito tempo e deve
Esta técnica só tem sucesso em crianças coo- ser muito bem acompanhado, pois não existe con-
peradoras, quando corretamente orientadas, apre- trole da força empregada, podendo gerar dilacera-
sentando um incisivo, em estágio inicial de erupção, ção nas raízes com desenvolvimento incompleto
com um grau mínimo de mordida cruzada e a pre- (Fig. 25.101).

971
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Fig. 25.101
Espátula de madeira para correção de
mordida cruzada do incisivo central
superior direito permanente.

Plano inclinado inferior fixo res com tendência a abrir a mordida anterior. Esta
Este é o método de preferência para a correção situação é reversível se observado o tempo correto
de incisivos centrais cruzados, com sobremordida de uso deste aparelho, ou seja, não mais que três
suficiente para a autocontenção do tratamento. En- semanas.
tre todos é o mais versátil e de mais fácil confecção.
Entretanto, alguns fatores devem ser considerados Aparelho removível com molas digitais
para que o plano inclinado seja indicado: a) a etiolo- Este aparelho é particularmente indicado quan-
gia da mordida cruzada deve ser somente dentária, do há dois dentes em mordida cruzada e boa reten-
b) deve haver espaço suficiente para o movimento ção posterior. É também indicado: a) quando for
labial do dente, c) o dente não pode estar girado e necessário recuperar algum espaço perdido na re-
d) a mordida cruzada não deve ser maior que 1/3 do gião do dente cruzado, b)quando for preciso corri-
comprimento da coroa179. É confeccionado em resina gir giroversões dos dentes anteriores, c) quando
acrílica autopolimerizável tendo como ancoragem os existem problemas periodontais nos dentes inferio-
incisivos e caninos inferiores e, dependendo do grau res que impossibilitam o uso do plano inclinado e
de retenção necessário, deve envolver o dobro do nos casos que necessitam de um aparelho de con-
número de dentes a serem descruzados mais um. A tenção.
extensão do plano é de aproximadamente um centí- Normalmente, este aparelho consiste de uma
metro, com 45º de inclinação com o plano oclusal, placa palatina de acrílico, com grampos posterio-
estendendo-se pela face palatina do(s) incisivo(s) res de retenção, arco labial de Hawley e mola na
cruzado(s). É importante que somente o(s) dente(s) região do dente ou dentes a serem movimenta-
cruzado(s) fique(m) em contato com o plano inclina- dos. Estas molas podem ter as mais variadas for-
do e que não haja nenhum contato com o palato. mas, de acordo com as necessidades e são con-
Outro ponto a ser observado durante a confecção é feccionadas com fio de aço 0,5 mm, cuja função é
o correto contorno gengival na região de incisivos pressionar o(s) dente(s) no sentido labial até atin-
inferiores e a total cobertura com acrílico das coroas girem o alinhamento correto do arco169. O apare-
clínicas destes dentes (Figs. 25.102A a D). lho deve ser colocado passivamente por alguns
Os dentes posteriores devem estar em deso- dias para melhor adaptação do paciente e a mola
clusão de aproximadamente 2 a 3 mm. Esse apare- deve ser suavemente ativada a cada 3 semanas
lho provoca pequena extrusão dos dentes posterio- (Figs. 25.103A a C).

972
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

C D

Figs. 25.102A a D
A - Paciente com mordida cruzada do incisivo central superior esquerdo;
B - Plano inclinado de acrílico;
C - Vista oclusal do aparelho; e
D - Vista frontal após correção da mordida cruzada.

973
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

Figs. 25.103A e C
A - Paciente com mordida cruzada do incisivo central superior
esquerdo;
B - Vista oclusal do aparelho removível com molas digitais; e
C - Vista frontal após correção.

Mordida cruzada anterior funcional Mordida cruzada anterior esquelética

A correção da pseudoclasse III pode se dar Antes de decidir pela realização do tratamento
pela simples remoção dos contatos prematuros e é imprescindível avaliar criteriosamente o padrão
pelos desgastes das bordas incisais dos incisivos morfológico da face do paciente bem como todas
superiores e inferiores. Entretanto, na maioria dos as variáveis que possivelmente estejam envolvidas.
casos é necessário outro tratamento, a fim de me- Nesta decisão os pais ou responsáveis deverão es-
lhorar as condições de oclusão do paciente, através tar bem conscientes quanto ao prognóstico que, na
do uso de mentoneira para guiar a mandíbula para maioria dos casos, não é favorável. A indicação
uma posição mais verdadeira147 e, se necessário, desses pacientes ao ortodontista é o melhor cami-
corrigir as inclinações axiais dos incisivos superiores nho, pois ele terá condições de fazer uma avaliação
e inferiores que geralmente estão alteradas19. mais precisa e o plano de tratamento poderá incluir
até cirurgia ortognática em época oportuna. Nestes
casos os aparelhos utilizados são: mentoneira, más-
cara facial ou aparelho de tração reversa para redi-
recionar o crescimento maxilar e mandibular (Figs.
25.104A a D; 25.105A a M).

974
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

C D

Figs. 25.104A a D
A e B - Mentoneira e;
C e D - Máscara facial.

975
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A B

Figs. 25.105A a E
A e B - Fotografias faciais de paciente portador de mordida
cruzada anterior esquelética;
C - Vista intra-oral;
D - Radiografia cefalométrica;
E - Medidas cefalométricas comprovando o diagnóstico de
maloclusão esquelética.

D E

976
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

F G

H I

Figs. 25.105F a I
F e G - Máscara facial utilizada para protração maxilar;
H e I - Fotografia intra-oral do aparelho.

977
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

J L

Figs. 25.105J a M
J e L - Fotografias intra-orais; e
M - Radiografia cefalométrica comprovando a correção da
maloclusão.

Mordida cruzada posterior A correção das mordidas cruzadas posteriores


deve ser realizada antes do surto máximo de cres-
Um dos objetivos do tratamento ortodôntico é cimento puberal, que ocorre por volta dos 10-11
conseguir a harmonia da forma dos arcos e equilí- anos nas meninas e dos 12-13 anos nos meninos.
brio da função oclusal e articulação temporomandi-
bular. Os problemas transversais, como as mordidas Mordida cruzada posterior dentária
cruzadas, são os primeiros a serem corrigidos para
prevenir deficiências ósseas irreversíveis, conside- Quando um dente se apresenta em mordida
rando que o crescimento transversal é o primeiro a cruzada, é raro que somente sua inclinação axial
cessar. esteja alterada. Normalmente, seu antagonista no
Segundo Kutin & Hawes110, o tratamento pre- arco oposto também estará fora de posição. Assim,
coce das mordidas cruzadas posteriores se faz ne- o dente superior poderá estar em palato-versão,
cessário devido a vários fatores: a mordida cruzada enquanto o inferior estará em vestíbulo-versão.
não é autocorrigível com a erupção dos dentes per- Nesses casos, ambos devem ser corrigidos.
manentes; os pré-molares irrompem na mesma re- É muito importante verificar sempre a quanti-
lação de mordida cruzada dos molares decíduos dade de espaço existente para a movimentação
não tratados; crianças que não são tratadas preco- dentária. Muitos dentes mal posicionados indivi-
cemente apresentam posição anormal de pré-mola- dualmente são mais largos que o espaço disponível
res e molares permanentes. no arco. Portanto, é necessário aumentar o espaço
antes da correção da mordida cruzada.

978
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Elásticos cruzados simples rior. Nas mordidas cruzadas vestibulares, os bo-


São eficientes para molares em mordida cru- tões são colados na face vestibular do molar supe-
zada quando ambos (superior e inferior) estão rior e na face lingual do molar inferior (Fig.
fora de posição e há espaço adequado para eles. 25.106).
O elástico irá gerar duas componentes de forças: O tempo de utilização dos elásticos cruzados
uma horizontal, que proporciona o descruzamento varia de 1 a 4 meses, dependendo da quantidade
dental e outra vertical, que pode causar extrusão de movimentação dentária necessária. Mordidas
dos molares115. Esse aparelho consiste de botões cruzadas vestibulares ou linguais completas normal-
colados nas superfícies dos molares cruzados, uti- mente exigem maior tempo de utilização.
lizando-se elástico 1/8” que são encaixados nos A vantagem dos elásticos cruzados é que se
botões colados. Os elásticos devem ser trocados trata de uma técnica relativamente fácil de ser usa-
diariamente e utilizados até que a mordida cruza- da, particularmente nos casos onde há necessidade
da seja corrigida115 . A localização dos botões de- de movimentação dental recíproca superior e infe-
pende do tipo de mordida cruzada. Quando se rior. Contudo, é indispensável a cooperação do pa-
trata de uma mordida cruzada lingual, completa ciente para trocar os elásticos e seu tempo de uso
ou não, os botões são colados na face palatina do deve ser muito bem controlado para evitar extrusão
molar superior e na face vestibular do molar infe- desses dentes.

Fig. 25.106
Elástico cruzado aplicado para correção de
mordida cruzada de primeiros molares
permanentes.

Aparelho removível com molas digitais culares ou de Adams, que proporcionarão reten-
Quando a mordida cruzada dentária é decor- ção ao aparelho.
rente da inclinação axial incorreta de somente um Esse aparelho oferece bom controle da quan-
único dente, utilizamos um aparelho removível tidade e direção da força exercida sobre o dente.
com mola em “S” ou “helicoidal dupla”. Essas mo- Após a correção da mordida cruzada dental, o
las são adaptadas à face palatina do dente que aparelho deve ser utilizado de forma passiva por
necessita de correção e associadas ao arco labial um período adicional de 3 a 6 meses para evitar
de Hawley, grampos interproximais e grampos cir- recidiva.

979
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Mordida cruzada posterior unilateral tes de maneira que, quando se tocam, a mandíbula
funcional retorna a sua posição normal. Em algumas situa-
ções ocorre leve contração dentoalveolar devido à
Nesta categoria, as mordidas cruzadas envol- adaptação muscular.
vem diversos dentes posteriores. É importante
diagnosticar se a mordida cruzada resulta da real Aparelho expansor bilateral
contração dento-alveolar ou da má posição da Nos casos de contração dentoalveolar bilateral
mandíbula por ação muscular. Pacientes com mordi- da maxila, o aparelho removível com parafuso ex-
da cruzada funcional apresentam melhor prognósti- pansor bilateral, quad-helix ou arco em “w” são os
co que as contrações dentoalveolares. mais indicados. Esses aparelhos movimentam os
Se as linhas médias coincidirem quando o pa- dentes para uma posição mais satisfatória dentro
ciente oclui em sua posição habitual, geralmente há de seu suporte ósseo147.
adaptação muscular mínima e o caso é puramente
de estreitamento do arco alveolar superior147. Se Aparelho removível com parafuso expan-
não houver coincidência das linhas médias quando sor bilateral
o paciente oclui em posição habitual, o cruzamento Este aparelho contém parafuso expansor sobre
da mordida ocorre em função da adaptação muscu- a sutura palatina mediana para a expansão dental,
lar em busca de maior intercuspidação dental du- grampos de Adams, circunferenciais e interproxi-
rante o fechamento. mais para a retenção do aparelho e “splint” oclusal.
Somente após minuciosa anamnese para de- É confeccionado em resina acrílica para liberar a
terminação do correto diagnóstico é que será deter- mordida e facilitar a correção da mordida cruza-
minado o plano de tratamento. Nas mordidas cru- da170. Esse aparelho movimenta dentes e remodela
zadas funcionais, deve-se localizar os pontos de o processo alveolar. O parafuso expansor deverá
contato prematuros nos dentes decíduos quando se ser ativado uma ou duas vezes por semana até a
faz coincidir as linhas médias superior e inferior. correção da mordida cruzada e após esse período é
Normalmente a interferência dentária está presente utilizado como contenção durante 6 a 12 meses. É
nos caninos decíduos superior e inferior. Desgas- indicado somente para correções nas dentições de-
tam-se os planos inclinados de contato desses den- cídua e mista46 (Figs. 25.107 e 25.108A a D).

Fig. 25.107
Aparelho expansor removível bilateral.

980
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

C D

Figs. 25.108A a D
A - Mordida cruzada unilateral funcional;
B - Vista oclusal;
C - Vista frontal do aparelho expansor removível; e
D - Vista frontal após a correção.

981
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Mordida cruzada posterior unilateral maxilar. Desta forma, as resultantes de forças se-
verdadeira rão assimétricas, ou seja, o hemi arco maxilar
contraído receberá maior quantidade de força e
Nos casos de contração unilateral verdadeira maior expansão dentoalveolar. Esse aparelho
da maxila estão indicados os expansores removíveis também é composto por grampos de Adams, cir-
unilaterais, o quad-helix e o arco em “w” modifica- cunferenciais, interproximais para a retenção e
do40. A contração unilateral verdadeira, felizmente, “splint” oclusal, confeccionado em resina acrílica
é uma anomalia raramente encontrada; seu trata- para liberar a mordida, facilitando a correção da
mento é difícil e o prognóstico, incerto. mordida cruzada. Esse aparelho, assim como o
O quad-helix e o arco em “w” poderão ser expansor removível bilateral, além de ampliar a
ativados para a expansão unilateral dos dentes e base óssea, movimenta dentes e remodela o pro-
processo alveolar, embora alguma expansão bilate- cesso alveolar. O parafuso expansor deverá ser
ral invariavelmente ocorra (Figs. 25.109 e 25.110). ativado uma ou duas vezes por semana até a
Outra forma de tratamento são os expansores correção da mordida cruzada e após esse período
removíveis unilaterais que consistem de parafusos é utilizado como contenção durante 6 a 12 meses
expansores localizados na direção da contração (Fig. 25.111).

Fig. 25.109 Fig. 25.110


Quad-helix. Arco em “w”.

Mordida cruzada posterior esquelética

A mordida cruzada posterior esquelética é o


resultado de maxila relativamente atrésica ou largu-
ra maxilar excessiva com estreitamento mandibular.
Freqüentemente, as linhas médias coincidem, po-
rém, os dentes posteriores não ocluem corretamen-
te. A eficiência mastigatória é baixa e não há rela-
ção oclusal definida.
Fig. 25.111
Aparelho expansor removível unilateral.

982
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

Disjuntor de Haas O disjuntor de Haas é um aparelho com anco-


É o mais indicado para casos de contração ragem dento-muco suportada, isto é, se apóia nos
maxilar esquelética. A expansão rápida da maxila dentes e abóbada palatina. É constituído por uma
promove uma força ortopédica capaz de romper estrutura metálica, com fio 1,0 mm, que contorna
a sutura palatina mediana. Esse procedimento as faces palatina e vestibular de pré-molares e
deve ser realizado antes da fusão dessa sutura molares onde é soldada às banda cimentadas nos
para que a força ortopédica liberada pelo disjun- 1ºs molares permanentes e 1ºs pré-molares (Fig.
tor consiga separar a sutura. Depois que a sutura 25.112B). Na dentição mista, esse aparelho é modi-
se fecha, geralmente por volta dos 16 anos de ficado de tal modo que, a estrutura metálica con-
idade, há redução da capacidade de expansão torna as faces palatina e vestibular de caninos e
rápida da maxila, devido à interdigitação progres- molares decíduos onde é colada com compósito e
siva e da fusão das várias suturas e da resistên- soldada às bandas cimentadas nos primeiros mola-
cia das suturas esqueléticas e de tecido mole que res permanentes (Figs. 25.12A). A ancoragem ós-
se tornam mais resistentes às forças de expan- sea é constituída de resina acrílica apoiada à muco-
são. Esse procedimento baseia-se na teoria que sa palatina. Esse apoio mucoso deve respeitar a
com a aplicação da força rápida aos dentes pos- gengiva marginal livre, região das rugosidades pa-
teriores não haveria tempo suficiente para o mo- latinas e região distal do primeiro molar permanen-
vimento dentário; então, a força seria transferida te. A predileção para o aparelho disjuntor de Haas
para a sutura que se abriria, enquanto os dentes é devido a sua maior ancoragem, que propicia efei-
sofreriam movimento mínimo em relação ao osso to ortopédico mais significativo. O parafuso expan-
de suporte. Entretanto, há evidência de que o sor, elemento ativo do aparelho, imerge na porção
movimento dental ortodôntico continua depois acrílica exatamente sobre a rafe palatina, no centro
que a expansão estiver completa, até que a esta- sagital da estrutura metálica, unindo as duas partes
bilidade óssea seja alcançada. do aparelho (Figs. 25.112A e B).

A B

Figs. 25.112A e B
Disjuntor de Haas modificado (A) e original (B).

983
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

O procedimento clínico de expansão rápida ou alteram significativamente a base óssea. Entende-


disjunção da maxila inclui uma fase ativa, concen- mos que a expansão possa estar relacionada, pri-
trando forças laterais excessivas que promoverão a meiramente, à desarticulação da maxila nas suturas
abertura da sutura palatina mediana e outra, passi- palatina mediana, fronto-nasal, zigomaticomaxilar e
va, de contenção. A fase ativa inicia-se após a ci- zigomaticotemporal, que são consideradas decisivas
mentação do aparelho com 1/4 de volta, repetidas no processo de expansão e, posteriormente, ao
quatro vezes, com intervalos de 15 minutos entre afastamento no sentido transversal das hemimaxi-
cada ativação. Nos dias seguintes serão realizadas las decorrentes das ativações constantes do parafu-
duas ativações diárias: 1/4 de volta durante o dia e so expansor.
outro 1/4 de volta à noite. O paciente deverá ter A movimentação dos dentes de ancoragem,
retornos semanais ao consultório odontológico para inicialmente, apresenta maior movimento de incli-
controle. nação para vestibular e, após a abertura da sutu-
A ativação do disjuntor de Haas será interrom- ra, o movimento é de corpo. Assim, podemos per-
pida quando houver sobrecorreção da mordida cru- ceber um aumento das distâncias intermolares e
zada, ou seja, as cúspides palatinas dos dentes intercaninas durante a fase ativa da disjunção.
superiores deverão ocluir com as cúspides vestibu- Contudo, após um período de 5 anos, as distân-
lares dos dentes inferiores. A sobrecorreção é im- cias intermolares apresentam recidiva de 45% da
prescindível, pois além da esperada recidiva dento- distância inicial. Isso se deve à ação da muscula-
alveolar, ocorre recidiva óssea após o tratamento. tura facial sobre os dentes. Dessa forma, reco-
Depois da fase de ativação passamos à fase de menda-se a sobrecorreção de aproximadamente
contenção, procedendo-se à imobilização do para- 3,0 mm, isto é, a cúspide palatina do molar supe-
fuso expansor com fio de amarrilho. O aparelho rior deve estar em contato com a cúspide vestibu-
deve permanecer passivo na cavidade bucal por um lar do molar inferior, com a finalidade de compen-
período mínimo de três meses, enquanto se proces- sar essa possível recidiva.
sa a reorganização da sutura maxilar e as forças A abertura de diastema entre os incisivos cen-
residuais são dissipadas. O aparelho é removido trais superiores é o sinal clínico da abertura da
após 3 meses e em seguida é indicada a contenção sutura palatina mediana e representa também um
removível, por um período mínimo de 6 meses. efeito ortodôntico característico das expansões.
Nessa fase, novo osso é formado no espaço da Com a ativação do parafuso expansor, as raízes
sutura e a expansão está consolidada. divergem mais que as coroas. Cessada a ativação,
A expansão da sutura pode ser realizada de as raízes continuam a divergir enquanto as coroas
duas maneiras: expansão rápida pelo método origi- inclinam-se em direção mesial. Após a aproximação
nal acima descrito85 e expansão lenta, com taxa de das coroas, as raízes começam o movimento para
ativação de aproximadamente 1 mm por semana89. mesial, de tal modo que os incisivos recuperam
A expansão rápida da maxila promove efeitos suas inclinações iniciais. As explicações para esta
ortopédicos (ósseos), ortodônticos (dentais) e alte- movimentação relacionam-se com a contração das
rações cefalométricas em norma lateral e frontal. fibras transeptais que sofrem estiramento durante a
Antes da abertura gradual da sutura palatina me- expansão e retornam à sua posição inicial após o
diana, a força liberada pelo aparelho disjuntor de tratamento.
Haas provoca a compressão do ligamento periodon- Concomitantemente e após esses efeitos or-
tal, com inclinação lateral dos processos alveolares todônticos procedem-se as alterações ortopédi-
e subseqüente vestibularização dos dentes de an- cas, com a abertura da sutura palatina mediana,
coragem. Essas alterações são representativas do em forma triangular com a base voltada para a
efeito ortodôntico do processo de expansão rápida região da espinha nasal. Quanto mais jovem o
da maxila. paciente, maior será a quantidade de efeito orto-
Os efeitos da expansão rápida sobre a maxila pédico em detrimento do efeito ortodôntico (Figs.
não se restringem apenas ao osso alveolar, mas 25.113A e B).

984
ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTORA

A B

Figs. 25.113A e B
A - radiografia oclusal após a disjunção maxilar; e
B - radiografia oclusal – observar a ossificação da sutura palatina mediana após o período de contenção (90 dias).

As teleradiografias laterais demonstram que há Aparelho de Hyrax


deslocamento anterior e inferior da maxila com a Este aparelho também é indicado para corre-
disjunção. Associada à transformação transversal, a ção de mordidas cruzadas posteriores esqueléticas,
separação da maxila em duas metades a impulsio- pois promove expansão rápida da maxila e abertura
nam para frente e para baixo, levando consigo os da sutura palatina mediana. Sua estrutura é seme-
molares de ancoragem. Assim, cefalometricamente, lhante a do aparelho disjuntor de Haas, porém, não
nota-se um avanço do ponto A para frente e para apresenta o suporte mucoso; é somente um apare-
baixo, além de maior inclinação do plano palatal. lho dento-suportado (Fig. 25.114).
Esse abaixamento da maxila e dos molares su-
periores modifica a posição espacial da mandíbula,
que exibe rotação para baixo e para trás53. Ao girar
no sentido horário, a mandíbula induz alterações
cefalometricamente significativas, como o aumento
do ângulo do plano mandibular e da altura facial
anterior. A tênue mudança que se constata no au-
mento do trespasse horizontal e no ângulo do perfil
facial (ANB), também é atribuída a essa alteração
espacial da mandíbula.
O abaixamento da maxila, somado a vestibula-
rização dos dentes posteriores como conseqüência
do componente ortodôntico da expansão rápida,
pode provocar o efeito colateral indesejável de uma
mordida aberta anterior. Apesar de parecer uma
contra-indicação para pacientes com padrão de
crescimento vertical, essa mordida aberta pode ser Fig. 25.114
controlada com a mecânica subseqüente. Aparelho de Hyrax.

985
ODONTOPEDIATRIA • BASES CI ENTÍFICAS PARA A PRÁTICA CLÍNICA

Conseqüências As conseqüências da mordida cruzada posterior


são: migração dos dentes vizinhos fechando o es-
As conseqüências da mordida cruzada anterior paço do dente cruzado, devido a perda de contato
são: desgaste excessivo no esmalte da superfície proximal; prejuízo na fonação e deglutição, pois a
labial dos incisivos superiores, excessiva abrasão língua não dispondo de espaço para seu posiciona-
incisal envolvendo tanto os incisivos superiores mento normal, projeta-se contra os dentes anterio-
como os inferiores, inflamação com possível des- res; assimetrias faciais causadas por mordidas cru-
truição do periodonto labial dos incisivos inferio- zadas funcionais posteriores quando não tratadas
res, deslocamento acentuado para labial dos inci- até a fase de dentição mista e evidenciadas pela
sivos inferiores envolvidos na mordida cruzada e falta de coincidência das linhas medianas dentais.
distúrbios na articulação temporomandibular po- Muitas vezes estas assimetrias são irreparáveis e
dem surgir com o passar do tempo62,168 (Fig. provocam danos à articulação temporomandibular
25.115). devido ao desequilíbrio oclusal.

Fig. 25.115
Recessão gengival provocada pela oclusão
traumática decorrente da mordida cruzada.

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