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Lei de Introdução as Normas do Direito brasileiro

A LINDB (Lei de Introdução as Normas do Direito brasileiro), Considerada lei


ordinária. Trata-se de um conjunto de normas que se aplica a todo o Direito. (e não
apenas ao Direito Civil).
Obs. É uma norma que não regula comportamento, mas regula a própria lei
(aplicação, interpretação, etc.)
LINDB é uma norma sobredireito.Por isso não fazia sentido manter a nomenclatura
“Lei de Introdução ao Código Civil”.A Lei 13.655/18 incluiu alguns artigos com o
objetivo de regulamentar regras específicas de segurança jurídica no âmbito do Direito
Público.
A lei de introdução nasce no direito francês (Código Napoleônico de 1804). No Brasil, a
lei é fonte primária do sistema jurídico (civil law).O Código de Processo Civil apresenta
um rol de precedentes no art. 927 e a lei de introdução vem, aos poucos, se adequando a
este cenário.
Fala-se que, neste particular, o Brasil está se aproximando ao common law, na medida
em que valoriza, cada vez mais, os precedentes.
PRECEDENTEé uma decisão judicial tomada por um órgão colegiado com base em
um caso concreto que, conforme a discussão jurídica que é travada, as razões de decidir
expostas e o contexto analisado, poderá ser utilizado para julgamento de casos similares.
Veja que nem toda decisão tomada por um tribunal ostenta a condição de precedente
exatamente porque é condição fundamental que seja possível a transcendência daquele
julgado para outros casos. É a possibilidade de resolver outras demandas que tenham o
mesmo cunho que dá ao julgado o status de precedente para que, com isso, possa servir
de parâmetro na busca da segurança jurídica.
O precedente vinculante é a decisão tomada pelo tribunal em julgamento de questões
idênticas (para o STJ, recursos repetitivos e para o STF, repercussão geral). No
precedente vinculante, se cria a vinculação do juízo exatamente porque, caso a parte
suscite este entendimento cabe ao juiz fazer a distinção do caso julgado com o caso
concreto sob pena ter a decisão considerada não fundamentada.
JURISPRUDÊNCIA: é um conjunto de decisões judiciais proferidas num mesmo
sentido, pelos tribunais, sobre uma mesma matéria. É o que ficou sintetizado como
“decisões reiteradas do tribunal”. Em termos gerais, é o entendimento majoritário
adotado nos tribunais quando instado a interpretar e aplicar determinada questão
jurídica.
Diferença entre Jurisprudência e Precedentes

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Jurisprudência é o conjunto de decisões reiteradas dos tribunais sobre uma mesma
questão jurídica, formando uma linha de entendimento. Já o precedente é uma decisão
que serve como referência para o julgamento de casos futuros.
Em outras palavras, a jurisprudência se forma a partir da reiteração de um mesmo
entendimento em várias decisões, enquanto o precedente é uma decisão que, por si só,
serve de guia para decisões futuras.
SÚMULA: é a consolidação genérica e abstrata do posicionamento jurisprudencial dos
tribunais. Quando determinado entendimento se consolida se procede à publicação de
súmula, que é um enunciado curto, sintetizando o pensamento majoritário do órgão
colegiado acerca daquela matéria.
A LINDB regulamenta:
1. vigência da lei no tempo e no espaço;
2.revogação da lei;
3.interpretação;
4.direito transitório;
5.aplicação da lei;
6.direito internacional;
7.segurança jurídica;
Vigência da lei no tempo e espaço.
A lei nasce e permanece em vigor até sua revogação.Em razão do princípio da
obrigatoriedade das leis, a lei torna-se obrigatória para todos os destinatários.
Segundo a LINDB, ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece
(art. 3° da LINDB).
 Há três teorias:
Teoria da Ficção Legal;
Teoria da Presunção Absoluta;
Teoria da Necessidade Social.
A Teoria da Ficção Legal, de forma bastante resumida, impõe a obrigatoriedade em
razão da mera existência da norma. A lei é obrigatória, pois foi instituída pelo
ordenamento e o seu respeito é essencial a manutenção da segurança jurídica.
A presunção absoluta do conhecimento da norma (Teoria da Presunção Absoluta)
não é bem aceita no Direito.Aliás, inúmeros dispositivos admitem o erro de direito no
ordenamento jurídico.

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Teoria da necessidade social, segundo a qual a norma do art. 3.º da LINDB é uma
regra ditada por uma razão de ordem social e jurídica.Está é a teoria mais aceita no
Brasil.
Fala-se, no Brasil, que a obrigatoriedade tem dois fundamentos:
a presunção legal;
a necessidade social.
A presunção legal, aqui, visa presumir o conhecimento da lei a partir da publicação no
diário oficial. Já a necessidade social, aqui, visa dar garantia de eficácia para o
ordenamento jurídico.
Em paralelo ao princípio da obrigatoriedade das leis, temos o princípio da continuidade
das leis.Significa que, a partir da vigência, a lei tem eficácia contínua até que outro
revogue ou modifique.
Mas, neste ponto, é preciso complementar o conceito, já que, no ordenamento jurídico,
pode existir norma temporária. Assim, podemos concluir que, não se destinando à
vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue (art. 2° da
LINDB).
As leis orçamentárias, por exemplo, não dependem de revogação por norma
posterior.Além disso, é preciso destacar que existe a possibilidade da denominada
ultratividade da norma.
 A ultratividade da norma
ocorre quando uma lei revogada continua produzindo efeitos. É o caso, por exemplo,
do rito sumário no processo civil que, embora revogado, permanece válido para
processos que estavam em andamento (art. 1.046, §1°, CPC).
Com a promulgação da lei, a norma passa a existir.
Promulgação é um ato do chefe do Poder Executivo que autentica a lei, determina a sua
publicação e marca a existência da norma. A publicação, por sua vez, é inserir a lei no
Diário Oficial.
Trata-se de uma condição de vigência, já que, para ser aplicada, a lei precisa ser
conhecida.

 vacatio legis
Nem sempre, contudo, a lei passa a viger na data da publicação. Em alguns casos, será
preciso respeitar o denominado prazo de vacatio legis.A vacatio legis é o nome que se
dá ao intervalo de tempo existente entre o momento da publicação e a vigência da

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norma jurídica.A vacatio legis não é obrigatória, mas sim recomendável para que as
pessoas possam adequar a própria conduta ao comando prescrito pela norma (dever-ser).
Neste cenário, o legislador pode determinar um prazo específico de vacatio legis, ou
ainda, pode determinar a ausência de vacatio legis com vigência imediata.No caso de
omissão do legislador, aplicam-se os prazos do art. 1° da LINDB, ou seja:
45 dias após sua publicação em todo território nacional;
3 meses nos estados estrangeiros onde for admitida a sua aplicabilidade
Art. 1° da LINDB Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o
país (…).
Isso significa que a lei passa a viger, ao mesmo tempo, em todo o País.
Vacatio legis é um termo jurídico em latim que se refere ao período de vacância ou
intervalo entre a publicação de uma lei ou norma jurídica e sua entrada em vigor. Esse
intervalo de tempo é estabelecido para permitir que os destinatários da lei tenham
conhecimento de seu teor e se adaptem às novas obrigações ou restrições que ela possa
impor.
Durante o período de vacatio legis, a norma ainda não está em vigor, portanto, não
produz efeitos jurídicos. Esse tempo é utilizado para que os indivíduos afetados pela
nova legislação possam se familiarizar com seu conteúdo, realizar ajustes necessários
em suas condutas e organizações, e para que os órgãos responsáveis pela aplicação da
lei possam se preparar para sua implementação.

 No direito, há vacatio legis direta e vacatio legis indireta. (Tempo que a lei vai
entrar em vigor)
Na primeira, a vacatio legis vem definida na própria norma, ao passo que, na segunda,
a vacatio legis é determinada por meio de uma segunda norma que nasce com essa
finalidade.

É preciso ter cuidado quanto a contagem de prazos.No caso de correção do texto, por
nova lei, no período de vacatio legis, será preciso recontar o prazo a partir da
publicação da norma retificadora (art. 1°, §3°, LINDB).
 A revogação da norma ocorrerá quando lei posterior:
1. expressamente declarar;
2. for incompatível com a lei vigente;
3. quando regulamentar toda a matéria da lei anterior.

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O primeiro caso é o caso de revogação expressa, ao passo que o segundo e terceiro
caso são casos de revogação tácita.
Na hipótese de revogação expressa, “a cláusula de revogação deverá enumerar,
expressamente, as leis ou disposições legais revogadas” (art. 9° da LC 95/98).
 Além disso, a revogação da lei poderá ocorrer por ab-rogação (revogação
total) ou derrogação (revogação parcial).
 Repristinação.
A repristinação é a recuperação da vigência de uma norma anteriormente
revogada por meio da revogação da norma revogadora.
No Brasil, não existe a repristinação automática. Para que ocorra a repristinação, será
necessária a previsão expressa.
O conceito de extunc remete a época do fato ocorrido. Quando dizemos que uma
norma ou decisão judicial possui efeitos “extunc” estamos impondo a aplicabilidade da
lei ou sentença até o momento dos fatos, desde antes do momento atual. Possui efeito
retroativo, pois terá validade anterior ao momento atual.
O conceito de ex nunc se diferencia do anterior, sendo utilizado, no direito, em leis ou
sentenças que possuem efeitos a partir do momento de sua criação, ou, “a partir de
agora”, sendo válidas apenas após as sua publicação. Desta forma, seu efeito não
retroage.
Métodos de integração da norma
Segundo o art. 4° da LINDB, “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito “.
Diante da omissão, então, não pode o juiz deixar de julgar (Princípio da Inafastabilidade
da Jurisdição).
O método de integração é utilizado diante da ausência de lei.
lacuna normativa: A primeira, também chamada de lacuna propriamente dita (ou
lacuna de omissão), é a ausência total de norma para o caso.
lacuna ontologia: presença de norma para o caso concreto, porém sem eficácia social.
lacuna axiológica:há norma que se aplica ao caso, porém de aplicação que enseja
injustiça.
lacuna de conflito (ou antinomia). o confronto de 2 ou mais normas válidas e
aplicáveis.
Neste caso, é preciso observar o seguinte:
Caso as soluções sejam convergentes, ambas as normas devem ser aplicadas (Teoria do
Diálogo das Fontes).

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A antinomia, de fato, existe apenas no caso de soluções divergentes.
Nesta hipótese, a antinomia é resolvida por meio de critérios legislativos (e.g.
hierarquia de leis), bem como critérios doutrinários.
A antinomia poderá ser:
1. Aparente (ou de 1° grau);
2. Real (ou de 2° grau).
A antinomia aparente é aquela que apresenta solução em normas do próprio
ordenamento jurídico.A solução do problema encontra guarida em um único critério da
lei.
os métodos de integração.
Analogia
Analogia consiste na aplicação de uma norma prevista para hipótese distinta,
porém, semelhante.
O fundamento da analogia é o princípio da Igualdade de tratamento (onde existe a
mesma razão, deve existir o mesmo Direito).
Não confunda analogia com interpretação extensiva.
A primeira é método de integração, ao passo que a segunda é método de interpretação.
Na interpretação extensiva, o sentido e alcance da norma são ampliados para regular
hipótese compreendida em seu espírito.
Observe que, diferente da analogia, na interpretação extensiva ocorre a subsunção.
Costumes
O costume é a prática longa, geral, pública e reiterada de um determinado ato com
a convicção de sua obrigatoriedade jurídica.
Observe que é preciso ter continuidade, diuturnidade, moralidade, obrigatoriedade e
uniformidade.
Há, ainda, dois elementos importantes:
1. A conduta (elemento objetivo);
2. A convicção (elemento subjetivo).
Os costumes poderão ser:
1. Secundum legem (ou conforme o direito)
2. Praeterlegem (ou além do direito)
3. Contra leges (ou contrário ao direito)

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O costume secundum legem é o costume representado na conduta autorizada pela
própria lei.
Em contraposição, o costuma contra legem é o costume contrário a lei e não está
autorizada pelo ordenamento jurídico.
O costume praeterlegem é aquele que, de fato, representa o método de integração.
Também é chamado de costume integrativo.
É o caso, por exemplo, da apresentação antecipada de cheque pré-datado.
Note que o cheque é uma ordem de pagamento à vista.
Ocorre que, por costume, entende-se que o cheque pré-datado não deve ser apresentado
antecipadamente.
Aliás, tal postura viola o dever de confiança que, por sua vez, é um desdobramento da
boa-fé objetiva.
Por isso, segundo a súmula 370 do STJ, “caracteriza dano moral a apresentação
antecipada de cheque pré-datado“.
Além disso, nos termos do art. 187 do Código Civil, a violação à boa-fé consagra
espécie de abuso de direito, cumpre citar:
“Art. 187 do Código Civil: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

Princípios Gerais de Direito


Os princípios gerais do direito são regras norteadoras do ordenamento jurídico,
universalmente aceitas, mas não necessariamente positivadas.
São postulados presentes na consciência dos povos e amplamente aceitos.
O Código Civil, por exemplo, trabalha com:
1. Princípio da Sociabilidade;
2. Princípio da Operabilidade;
3. Princípio da Eticidade.
Vamos falar sobre cada um desses princípios oportunamente.
Equidade
Desde já, é importante observar que a equidade não está no art. 4° da LINDB.
Portanto, a equidade não é método de integração.

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Contudo, não obstante a omissão do legislador, a equidade exerce função integrativa.
A equidade é fonte informal (ou indireta) do direito e consiste na justiça do caso
concreto.
A equidade poderá ser estrita, latíssima, ou ainda, em sentido lato.
A equidade estrita é a busca do ideal de justiça.
Trata-se da concepção Aristotélica de equidade.
A equidade latíssima, por sua vez, é uma suprema regra de justiça que pauta o
comportamento humano em todos os campos: religioso, moral, social, jurídico etc.
Por fim, a equidade em sentido estrito representa a ideia de justiça absoluta ou
ideal, confundindo-se com a noção de direito no Direito Natural.
Há, também, diferença entre decidir com equidade e decidir por equidade.
Todo juiz julga com equidade, pois busca uma decisão justa para o caso concreto.
O julgamento por equidade, contudo, só é possível quando a lei autoriza (art. 140,
parágrafo único, do CPC).
No julgamento por equidade, o juiz desconsidera regra ou norma jurídica para decidir
com base em outra regra mais justa.
Além disso, há equidade legal e equidade judicial.
A equidade legal tem previsão em lei.
Por exemplo, o valor da cláusula penal não poderá exceder o valor da obrigação
principal (art. 412 do CC/02).Caso o valor da cláusula penal supere o da obrigação
principal, deve o magistrado reduzir equitativamente o importe:
Art. 413 do Código Civil: A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a
obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.
A equidade judicial e aquela definida pelo art. 140 do Código de Processo Civil. É o
caso, por exemplo, da jurisdição voluntária.
Conflito de Leis no Tempo
A lei nova tem aplicabilidade prospectiva, ou seja, não retroage (irretroatividade da
lei).
Para evitar conflitos, em regra, há disposições transitórias no próprio corpo da lei.
Excepcionalmente, a norma pode retroagir, hipótese em que será observado:
1. O direito adquirido;
2. O ato jurídico perfeito;

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3. A coisa julgada.
Tal proteção encontra-se tanto na Constituição (art. 5°, XXXVI, CF), como na LINDB
(art. 6° da LINDB).
Essa proteção, contudo, não é absoluta.
O direito relativiza princípios e regras, pois estamos vivendo a era de ponderação dos
princípios e valores.
Observe o que disciplina, por exemplo, o enunciado 109 da I jornada de direito civil:
“A restrição da coisa julgada oriunda de demandas reputadas improcedentes por
insuficiência de prova não deve prevalecer para inibir a busca da identidade genética
pelo investigando.”(Enunciado 109 da I Jornada de Direito Civil)
Interpretação da norma
Interpretar é buscar o sentido (significado dos vocábulos) e o alcance (âmbito de
aplicação) da norma jurídica.
A hermenêutica é a ciência jurídica que estuda os meios de interpretação.
Atualmente o entendimento doutrinário é no sentido de que toda norma jurídica precisa
ser interpretada.
Quanto aos meios de interpretação, temos o seguinte:
1. Interpretação gramatical ou literal
2. Interpretação lógica;
3. Interpretação sistemática
4. Interpretação histórica
5. Interpretação ontológica
6. Interpretação sociológica ou teleológica.
Quanto as fontes, há a interpretação autentica, doutrinária e jurisprudencial.
A título de esclarecimento, a interpretação autentica é aquela realizada pelo próprio
legislador.
As demais (doutrinária e jurisprudencial) são autoexplicativas.
A interpretação gramatical é aquela que busca o sentido da norma nas regras de
gramática.
Então, observam-se o significado dos vocábulos, regras de pontuação, conjugação, etc.
A interpretação lógica, por sua vez, é aquela que utiliza regras de raciocínio lógico
para desvendar a norma.

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A interpretação sistemática ou lógico-sistemática é aquela em que o interprete busca
o sentido da norma no sistema em que ela está inserida.
A interpretação histórica, por sua vez, busca o sentido e o alcance da norma na
análise dos fatos sociais que antecederam a sua elaboração.
A interpretação ontológica busca a essência da lei, ou ainda, a razão da lei (ratio
legis).
Por fim, a interpretação sociológica (ou teleológica) analisa os valores e princípios
que tem importância para a sociedade no presente e, desta forma, atualiza o
conteúdo da lei.
O exemplo comum de interpretação teleológica é a súmula 364 do STJ, segundo a qual
“a impenhorabilidade do bem de família abrange também o imóvel pertencente a
pessoas solteiras, separadas e viúvas.”
Isso porque a finalidade da lei 8.009 (proteção ao bem de família) é proteger a
Dignidade da Pessoa Humana (art. 1°, III, CF) e não proteger a família.

Quanto aos resultados, temos a interpretação declarativa, extensiva e restritiva.


A interpretação declarativaéaquela feita, apresenta exatamente o pensamento do
legislador.
A interpretação extensiva, por sua vez, entende-se que “o legislador disse menos do
que pretendia “.
Na interpretação restritiva, por sua vez, restringe o alcance e sentido porque o
legislador disse mais do que pretendia.
Normas de exceção, por exemplo, não admitem interpretação extensiva, já que
restringem autonomia privada.
Em paralelo, negócios jurídicos benéficos e renúncia só admitem interpretação
restritiva (art. 104 do CC/02).
Antinomia
Como já observamos, a lacuna de conflito (ou antinomia) é o confronto de 2 ou mais
normas válidas e aplicáveis.
Neste caso, é preciso observar o seguinte:
Caso as soluções sejam convergentes, ambas as normas devem ser aplicadas (Teoria do
Diálogo das Fontes).
A antinomia, de fato, existe apenas no caso de soluções divergentes.
Nesta hipótese, a antinomia é resolvida por meio de critérios legislativos (e.g. hierarquia
de leis), bem como critérios doutrinários.

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A antinomia poderá ser:
1. Aparente (ou de 1° grau);
2. Real (ou de 2° grau).
A antinomia aparente é aquela que apresenta solução em normas do próprio
ordenamento jurídico.
A solução do problema encontra guarida em um único critério da lei.
critérios adotados pela legislação
São eles:
1. Critério Hierárquico: norma superior prevalece sobre norma inferior;
2. Critério da Especialidade: norma especial prevalece sobre norma geral;
3. Critério Cronológico: norma posterior prevalece sobre norma anterior.
A antinomia real (ou de segunda grau) é a hipótese em que a situação do aplicador da
lei é insustentável por ele se encontrar em uma das seguintes situações:
1. Não existe critério normativo para solucionar o conflito;
2. Existe conflito entre os critérios;
No caso de conflito entre normas, será preciso observar a seguinte ordem:
1. Conflito entre Critério Hierárquico e Critério Cronológico: prevalece o
critério hierárquico.
2. Conflito entre critério hierárquico e critério da especialidade: prevalece o
critério hierárquico.
3. Conflito entre critério da especialidade e critério cronológico: prevalece o
critério da especialidade.
É importante não confundir subsunção com integração.
Observe que a subsunção é a aplicação direta da norma ao caso concreto.Quando
o magistrado aplica determinado artigo de lei à demanda levada para a sua análise,
ocorre o que a doutrina resolveu chamar de subsunção.Assim, verifica-se a subsunção
quando o fato ocorrido se enquadra à norma prevista no ordenamento legal.

A subsunção ocorre quando um fato se enquadra facilmente em uma norma jurídica


expressamente prevista em lei. Em outras palavras, é quando um magistrado aplica um
artigo específico da legislação a um caso concreto que está sob sua análise1. Portanto, a
subsunção ocorre quando o fato ocorrido se ajusta à norma prevista no ordenamento
legal.

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Já a integração é o processo pelo qual o juiz preenche lacunas na lei quando esta é
omissa. Quando não há norma que se adeque perfeitamente ao caso concreto, o juiz
deve atuar com razoabilidade, considerando princípios e valores, sempre em prol dos
interesses das partes envolvidas e da vontade da Constituição Federal12. O artigo 4º da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) estabelece que, na ausência
de lei específica, o juiz deve decidir o caso com base na analogia, costumes e princípios
gerais de direito.
Assim, a subsunção é o enquadramento do fato à norma expressamente prevista. E
a integração é Preenchimento de lacunas na lei com base em princípios e valores,
quando a norma é omissa.Ambos são conceitos essenciais para a aplicação correta
das normas jurídicas e a resolução de conflitos no sistema legal.
O Direito divide a subsunção em 2 espécies:
1. subsunção clássica;
2. subsunção moderna.
A primeira é o enquadramento do fato concreto ao conceito abstrato contido na
norma.É, então, meio de verificar qual foi o fato e qual foi a norma jurídica.
A subsunção moderna, por sua vez, defende que o aplicador da lei deve observar, além
do fato e da norma, os valores (corrente moderna ou científica).
Vigência da Lei no Espaço
No Brasil, aplica-se o princípio da territorialidade moderada (ou temperada).
Significa que, em regra, aplica-se no território brasileiro a lei brasileira, contudo,
admite-se, em situações excepcionais, a vigência e aplicabilidade de leis estrangeira.
É o caso da aplicação de sentença ou ato estrangeiro que não ofenda:
1. A soberania nacional;
2. A ordem pública;
3. Os bons costumes.
A decisão estrangeira, por evidente, precisa ser homologada pelo STJ (art. 105 da
CF/88).Trata-se do procedimento específico de homologação de decisão estrangeira por
meio do qual verificam-se apenas se houve (ou não) respeito aos critérios de
formalidade.
Ao final, forma-se título executivo judicial.
Além disso, é preciso lembrar que “a lei do país em que domiciliada a pessoa determina
as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos
de família (art. 7° da LINDB)”.

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Em relação ao casamento realizado no Brasil, serão aplicadas as regras
de impedimento e as formalidades da celebração.
Com a lei 13.655/18, a LINDB passa a disciplinar regras de segurança jurídica e
eficiência na criação e aplicação de regras de Direito Público.
O objetivo é disciplinar a segurança jurídica no Direito Administrativo, Direito
Financeiro, Direito Orçamentário e Direito Tributário.
Tais regras não se aplicam ao direito privado.
Art. 20 da LINDB: Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá
com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas
as consequências práticas da decisão.Parágrafo único. A motivação demonstrará a
necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação de ato, contrato,
ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.
O objetivo deste dispositivo é impor a aplicação da análise econômica do Direito. Isso
porque é necessária a responsabilidade decisória do Estado.
O impacto da decisão, então, não pode ser desconsiderado no ato da decisão.
A decisão, com base e valores jurídicos abstratos, deverá considerar as
consequências.
Isso vale no âmbito administrativo, controladoria e no âmbito judicial.
Além disso, caso decrete a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, deve indicar, de modo expresso, as consequências jurídicas e
administrativas (art. 21 da LINDB).
Mais do que isso.
Quando for o caso, a decisão deve “indicar as condições para que
a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses
gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos” (art. 21, parágrafo único,
LINDB).
Na interpretação de norma sobre gestão pública, deve considerar os obstáculos e as
dificuldades reais do gestor, bem como as exigências de políticas públicas de seus
cargos (art. 21 da LINDB).
Art. 22 da LINDB: Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão
considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das
políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.§ 1º Em
decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou
norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem
imposto, limitado ou condicionado a ação do agente.§ 2º Na aplicação de sanções,
serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela

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provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e
os antecedentes do agente.§ 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta
na dosimetria das demais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato.
A interpretação ou orientação nova deve ser acompanhada de regime de transição
quando indispensável para o novo dever ou condicionamento do dever.
Art. 23 da LINDB: A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer
interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo
novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime de
transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito
seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses
gerais.
A revisão de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, cuja produção já
se houver completado levará em conta as orientações gerais da época.
É vedada a invalidação, neste caso, com base em mudança posterior de orientação geral.
A LINDB esclarece que orientação geral são as interpretações específicas contidas em:
1. Atos públicos em caráter geral;
2. jurisprudência judicial majoritária;
3. jurisprudência administrativa majoritária;
4. Orientações adotadas por prática administrativa reiterada.
Art. 24 da LINDB: A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,
quanto à validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja
produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais da
época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se
declarem inválidas situações plenamente constituídas.Parágrafo único. Consideram-
se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de
caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as
adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público.
O art. 26, por sua vez, disciplina método para eliminação de incerteza jurídica, cumpre
citar:
Art. 26 da LINDB: Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação
contenciosa na aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença,
a autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso,
após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral,
celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual só
produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial. § 1º O compromisso referido
no caput deste artigo:I – buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e
compatível com os interesses gerais; III – não poderá conferir desoneração permanente
de dever ou condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral; IV –

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deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e
as sanções aplicáveis em caso de descumprimento.
O recebimento de benefícios indevidos e prejuízos anormais/ injusto autorizam
a imposição de compensação, conforme disciplina o art. 27 da LINDB.
Art. 27 da LINDB A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou
judicial, poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou
injustos resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos. § 1º A decisão sobre a
compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu cabimento, sua
forma e, se for o caso, seu valor.§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá
ser celebrado compromisso processual entre os envolvidos.
O art. 28 da LINDB precisa ser observado a luz da Constituição Federal.Observe o que
disciplina a lei:
Art. 28 da LINDB O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou
opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.
É preciso ter cautela, pois a responsabilidade do agente público é regressiva e subjetiva,
ou seja, depende da comprovação de culpa.
Aqui, é preciso lembrar que, ao Direito Administrativo, aplica-se a denominada teoria
da imputação.
Segundo esta teoria, órgão público é um conjunto de competências sem personalidade
própria, titularizado pelo agente e suas ações são juridicamente atribuídas
(imputadas) ao Estado.
Observe que o agente, sob a ótica desta teoria, não é o órgão e não representa o órgão,
mas apenas titulariza as competências do órgão.
Maria Sylvia Zanella Di Pietroassim conceitua a teoria da imputação: “Pela teoria do
órgão, a pessoa jurídica manifesta a sua vontade por meio dos órgãos, de tal modo que
quando os agentes que os compõem manifestam a sua vontade, é como se o próprio
Estado fizesse, substitui-se a ideia de representação pela de imputação” (PIETRO,
Maria Sylvia Zanella (2008). Direito Administrativo (21ª ed.). São Paulo: Atlas. p. 479).
Por esse motivo, segundo o Supremo Tribunal Federal, não pode o autor de Ação de
Reparação de Danos ajuizá-la diretamente contra o agente público.
As novidades da LINDB findam nos arts. 29 e 30, cumpre citá-los:
Art. 29 da LINDB: Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por
autoridade administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida
de consulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente por meio
eletrônico, a qual será considerada na decisão. § 1º A convocação conterá a minuta do
ato normativo e fixará o prazo e demais condições da consulta pública, observadas as
normas legais e regulamentares específicas, se houver.

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Art. 30 da LINDB As autoridades públicas na aplicação das normas, inclusive por meio
de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas. Parágrafo único. Os
instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao
órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.

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