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AUTORIDADE NACIONAL DE SEGURANÇA

RODOVIÁRIA
EXMO. SENHOR PRESIDENTE

Auto n.º 207849285 NP 1488903/2023


EA n.º 220180800

, arguido nos autos supra identificados vem ao abrigo do artigo 175.º, n.º 2
do Código da Estrada apresentar defesa nos termos e com os fundamentos
seguintes:
1.º - Vem o arguido acusado no auto de notícia de no dia 2023-08-04, pelas
19h e 34m, no local “IP3 (N/S) Km 89,5, ter praticado a infração: “ O veículo
Circulava fora da localidade pelo menos à velocidade de 131 km/h,
correspondendo à velocidade registada de 138 Km/h deduzida o valor do erro
máximo admissível, margem de erro legalmente prevista, sendo o limite máximo
de velocidade permitido no local de 100 Km/h. Velocidade foi verificada através
do equipamento Cinemómetro Lidar Taser Tecnology, modelo LTI 20/20 Trucamil
n.º TC008081 aprovado pela ANSR Despacho N.º 7869/2020 de 01-07-2020.
2.º - De acordo com o mesmo auto a norma infringida foi: “CE - Art.º 28.º
n.º 1 b) as sanções correspondem a: “Coima: 120.00 Euros a 600.00 Euros
Prevista em Art.º 27.º n.º 2 a) e de inibição de condução de 1 a 12 meses.
3.º - Ora, este Auto padece de nulidade, devendo como tal ser declarado e
portanto dele não pode ser retirado qualquer efeito, designadamente sancionatório,
seja a título de coima, seja de sanção acessória, por violação do artigo 170.º do
Código da estrada (CE) e do princípio constitucional do contraditório.

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Para que o contraditório seja plenamente exercido faltam ao Auto de Contra-
ordenação aqui em crise, elementos objectivos essenciais sendo, na verdade,
omitidos do referido Auto.
O art.º 170.º do CE diz que:
1 - Quando qualquer autoridade ou agente de autoridade, no
exercício das suas funções de fiscalização, presenciar
contra-ordenação rodoviária, levanta ou manda levantar
auto de notícia, que deve mencionar os factos que
constituem a infracção, o dia, a hora, o local e as
circunstâncias em que foi cometida, o nome e a qualidade
da autoridade ou agente de autoridade que a presenciou, a
identificação dos agentes da infracção e, quando possível,
de, pelo menos, uma testemunha que possa depor sobre
os factos.
2 - O auto de notícia é assinado pela autoridade ou agente
de autoridade que o levantou ou mandou levantar e,
quando for possível, pelas testemunhas.
3 - O auto de notícia levantado e assinado nos termos dos
números anteriores faz fé sobre os factos presenciados
pelo autuante, até prova em contrário.
4 - O disposto no número anterior aplica-se aos elementos
de prova obtidos através de aparelhos ou instrumentos
aprovados nos termos legais e regulamentares.
Sendo os caracteres nossos.
4.º - Na verdade do auto não constam com exactidão e rigor não só os
factos que constituem a infração, como o local e as circunstâncias em que foi
cometida a alegada infracção, não sendo conhecidas “as circunstâncias relevantes
para a decisão” exigíveis pelo artigo 181.º, n.º do CE, conforme infra se explanará.

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5.º - Começando pelo local e as circunstâncias em que foi cometida a
alegada infracção, dir-se-á que o auto não explica qual o exacto local da alegada
infração sendo apenas referido “IPS (N/S) KM 89,5”.
6.º - A via em causa estende-se por vários quilómetros, é uma via com dois
sentidos de trânsito e tem no seu perímetro vários outros pontos de referência que
podem servir para identificar o ponto específico daquela artéria.
7.º - Ou seja, o agente autuante por razões que se desconhecem podendo e
devendo ter identificado claramente o local exacto onde o veículo alegadamente
estaria a circular em infracção não o fez por razões que se desconhecem.
8.º - Mais, nem sequer é referido no auto que o agente autuante
presenciou a infração e nem qualquer testemunha.
9.º - Ora, se o autuante não presenciou a infracção como é que pode alegar
e afirmar que ela foi cometida… a resposta adivinha-se: provavelmente não houve
infracção…
10.º - Da forma como é imputada a hipotética infracção impede-se que o
arguido se possa defender da acusação que lhe está a ser imputada.
11.º - O lugar da prática da infracção é um dos elementos essenciais do tipo
de ilícito contra-ordenacional (Cf. Artigo 6.º do DL 433/82) e tem necessariamente
que constar de uma acusação em moldes claros e precisos – Cf. Artigo 170.º do
Código da Estrada.
12.º - Ora nas infracções estradais o lugar da prática de qualquer infracção
tem especial relevância pois que os ilícitos estradais assentam essencialmente na
circunstância espacial: o local onde ocorre um determinado facto é determinante
para que o mesmo seja qualificado como contra-ordenação ou não.
13.º - Por outro lado, sobre a velocidade dir-se-á que dizendo o auto
“Circulava pelo menos velocidade de 131K/h,, o arguido fica sem saber a que
velocidade circularia ou pela qual se pretende que seja punido. Aliás, desconhece-
se se na velocidade se é aplicado o alegado “desconto” correspondente aos critérios
de “margem de erro”…

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14.º - Aliás, mais uma vez se viola o artigo 170.º n.º 1 do Código da Estrada
por não se mencionarem com rigor e exactidão os factos que constituem a eventual
infracção.
15.º - Mais um exemplo da impossibilidade do cabal exercício do
contraditório e do direito de defesa previsto no artigo 32.º, n.º 10 da Constituição
da República Portuguesa (CRP).
16.º - Os limites de velocidade estabelecidos no Código da Estrada e só no
Código da Estrada tanto quanto se sabe são certos, ora também o facto que
constitua uma infracção tem que ser certo ou informado o critério para aferição do
mesmo.
17.º - Não é também de todo clara a indicação das normas violadas,
conforme se exige na alínea c) do artigo 181.º do mesmo Código e conforme
deve ser notificado ao arguido, de acordo com o previsto no artigo 175.º, n.º 1,
al. b) – (Após o levantamento do auto, o arguido deve ser notificado: (…); b) Da
legislação infringida e da que sanciona os factos;”)
18.º - Naturalmente que se do auto não constam de forma exata factos
conforme já supra descrito, dificilmente se poderiam subsumir quaisquer
factos à legislação infringida.
19.º - No entanto, caso o que se expõem quanto à ausência de factos,
indicação exata do local, que o possa identificar e individualizar, bem como a
correta indicação das circunstâncias, não mereça concordância, ainda assim, falta
no auto correta notificação da legislação infringida, porquanto, não se percebe que
infração é que foi cometida ao artigo 27.º, n.º 1, situação diretamente relacionada
com a ausência de circunstâncias e indicação do local correto…
20.º - O artigo 27.º do Código da Estrada corresponde essencialmente a um
“quadro” no qual estão indicadas as velocidades instantâneas que não podem ser
excedidas por tipo de veículo e local.
21.º - Se em relação ao veículo - automóvel ligeiro de passageiro –
corretamente identificado no auto de notícia, não existem dúvidas, quanto ao local

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já não se poderá dizer o mesmo, por não se saber em que local é que foi cometida a
alegada infração e em que sentido o mesmo circulava.
22.º - Nos atos processuais como no auto de notícia utiliza-se a língua
portuguesa sob pena de nulidade, conforme preceitua o artigo 92.º n.º 1 do Cód.
Proc. Penal, aplicável aos presentes autos e não se permite a escrita e descrição dos
factos por abreviaturas. Quem redige um auto deve saber as consequências da sua
redação, pelo que, deve escrever em Português.
23.º - Ora o despacho N.º 7869/2020 de 1 de julho de 2020 é proferido ao
abrigo do artigo 2.º n.º 2 f) do Decreto Regulamentar 28/2012 decidindo sobre uma
competência que é da ANSR e não do seu Presidente, o que determina a sua
invalidade e sendo inexistente não poderá o arguido ser autuado.
24.º - Ademais o despacho não revela ter sido proferido ao abrigo duma lei
de delegação de competência, pelo que, é inválido, sendo nulo por usurpação do
poder, artigo 161.º n.º 2 a) do Cód. Procedimento Administrativo, ou sendo
anulável tal despacho o que se refere no auto de notícia, vício esse que se invoca e
que deve ser declarado para os devidos efeitos legais.
25.º - Procurou o arguido o local onde foi publicada a inexistente e
desconhecida delegação de competência, arts.º 36.º a 50.º do Cód. Procedimento
Administrativo e não encontrou a sua publicitação. Ora os atos de delegação de
poder estão sujeitos a publicação nos termos do artigo 159.º do dito diploma,
aplicável por força do disposto no artigo 47.º n.º 2 do CPA o que determina sua
ineficácia, nos termos do 158.º n.º 2 o que se argui pelo presente meio e deve ser
declarado para os devidos efeitos legais.
26.º - Ora, conforme decisão do Supremo Tribunal de Justiça de 30-03-2006,
no processo 06P1034 em www.dgsi.pt não se pode concluir que foi violado o
limite máximo de velocidade, pois do hipotético local da hipotética infracção, a
única coisa que se sabe é que não temos a mínima lembrança de tal hipotética
infração.

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27.º - Face a todo o exposto fica claro que o Auto não permite o pleno
exercício do contraditório violando um princípio legal e constitucional, não
permitindo exercer o direito à defesa consagrada no n.º 10.º do artigo 32.º da CRP.
28.º - Assim, o auto em crise será nulo e nulos todos os atos praticados na
sua sequência, conforme Acórdão do STJ de 16 de Outubro de 2002, referente ao
processo 02P2534, publicado em www.dgsi.pt: “(…)nula por não conter a
descrição dos factos, nem a sua subsunção à norma ou normas que constituem
a infração que foi imputada (…)”.
29.º - Em suma e face a todo o exposto o Auto é nulo e como tal deve ser
considerado, tendo sido violados entre outros, designadamente o n.º 10.º do artigo
32.º da CRP; o artigo 181.º, 175.º e 170.º do Código da Estrada.
30.º - O arguido é um condutor extremamente prudente, com carta de
condução, sentindo-se ferido na sua autoestima por estar a ser alvo de um
procedimento que não obedece às normas legais em vigor e que não só o penaliza
economicamente, como limita a sua futura atuação enquanto condutor, cidadão e
empresário trabalhador.
31.º - O direito contraordenacional não é nem pode ser visto como um
direito menor em que tudo ou quase tudo se ignora para se atingir um fim…
32.º - Naturalmente que é necessário o adequado combate à sinistralidade,
mas não a qualquer preço, sem obedecer às normas e princípios de um Estado de
Direito.
33.º - Na verdade, o direito contraordenacional, tal como o direito penal e
processual penal que, de acordo com o art.º 32 do Regime Geral das
Contraordenações (DL 433/82), lhes são subsidiariamente aplicáveis, assume uma
estrutura acusatória.
34.º - Dito de outro modo: é à entidade acusadora que incumbe o ónus de
aduzir os elementos de facto e de direito que subsumem uma concreta conduta a
um determinado ilícito, sendo certo que a sua insuficiência não cumpre ser suprida
pelo ora arguido.

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35.º - Não se encontrando descritas no Auto, que é a acusação, as concretas e
exatas circunstâncias em que alegadamente se verificou o ilícito que determinou o
procedimento em causa, é certo que o Auto carece de fundamento para ser erigido
como tal.
36.º - No âmbito de um processo contraordenacional como no âmbito
criminal, os factos e as circunstâncias não se presumem, têm de estar
expressas no respetivo texto.
37.º - Na verdade o agente autuante, não teve o cuidado de dotar o auto com
elementos que inequivocamente suportem uma acusação, correspondente à sua
convicção.
38.º - O arguido não pode pois defender-se cabalmente desta acusação pois
são omitidos factos importantes, determinantes e concretos sobre o que é que, em
concreto terá feito, estando portanto comprometido o exercício do contraditório
consagrado n artigo 10.º da Constituição da República Portuguesa.
39.º - Para terminar o radar entre a data em que foi aferido e a data em que se
terá verificado esta infração tinha já sido aferido há mais de um ano, pelo que não
pode valer por bom o resultado da aferição da velocidade.
40.º - Face ao exposto, deverão os presentes autos ser arquivados e
consequentemente o arguido absolvido.

Termos em que a acusação deve ser declarada nula, dela não podendo ser
retirado qualquer efeito, por violação do disposto no n.º 10.º do artigo 32.º
da CRP; artigo 181.º, 175.º e 170.º do Código da Estrada, não sendo possível
o cabal exercício do contraditório e direito à defesa, devendo o arguido ser
absolvido e consequentemente serem os presentes autos arquivados.

PROVA TESTEMUNHAL:
1 –, a apresentar.

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O advogado NIF: 188.516.689
Portador da Cédula Prof. N.º 3.429C

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