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Thiago Aragão Leite

CLÍNICA MÉDICA I

SEMIOLOGIA E VALVOPATIAS
CARDÍACAS

1
SUMÁRIO

SEMIOLOGIA E VALVOPATIAS CARDÍACAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1. Semiologia cardíaca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1. Inspeção e palpação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2. Ausculta cardíaca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2. Valvopatias cardíacas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.1. Estenose aórtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

Mapa mental. Estenose aórtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13


2.2. Insuficiência aórtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3. Estenose mitral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4. Insuficiência mitral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Mapa mental. Insuficiência mitral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20


Mapa mental. Valvulopatias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Bibliografia consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Questões comentadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

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SEMIOLOGIA E VALVOPATIAS
CARDÍACAS

importância/prevalência

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u As principais alterações patológicas dos pulsos arterial e venoso.


u Ausculta cardíaca: características dos sopros das principais valvopatias.
u Memorizar alguns epônimos relacionados aos sopros e às manobras auscultatórias e seus significados.
u Valvopatias: conhecer como diagnosticar, os critérios de gravidade e a abordagem terapêutica.

1. SEMIOLOGIA CARDÍACA Palpação do ictus cordis (impulsão do ápice car-


díaco no tórax).

A semiologia é a parte da medicina dedicada ao u Ictus normal: no máximo 2 polpas digitais. Lo-
estudo dos sintomas (alteração subjetiva descrita caliza-se no 5º Espaço Intercostal (EIC) na linha
pelo paciente) e dos sinais (alteração objetiva hemiclavicular e, na maioria das vezes, não é pal-
observada pelo médico) das doenças. Estima-se pável, mas sua localização pode variar de acordo
que, mesmo diante dos avanços tecnológicos nos com o biotipo do paciente.
métodos diagnósticos, a anamnese somada ao u Dilatações do Ventrículo Esquerdo (VE): des-
exame físico é responsável por cerca de 90% dos viam o ictus para baixo e para esquerda. O des-
diagnósticos. As doenças cardiovasculares apre- locamento do ictus cordis e o aumento de sua
sentam alta prevalência e grande morbimortalidade extensão para mais de 2 polpas digitais indicam
e podem ser identificadas por diversos sinais ao hipertrofia do ventrículo esquerdo.
exame físico, por isso é fundamental conhecê-los. u Dilatações do Ventrículo Direito (VD): desviam o
ictus apenas para esquerda e podem cursar com
1.1. INSPEÇÃO E PALPAÇÃO impulsões na região paraesternal inferior direita
ou esquerda (ictus de VD).
Alterações na inspeção do tórax: 1.1.1. Pulso arterial
u Pectus excavatum, que, em geral, tem apenas re-
percussão estética, mas pode estar relacionado A palpação do pulso arterial é importante para
ao prolapso da valva mitral e Síndrome de Marfan. avaliar o ritmo cardíaco (taqui ou bradicardias,
irregularidades) e as alterações sugestivas de mio-
u Pectus carinatum, que também pode estar rela-
cardiopatias. O pulso radial é o mais utilizado pela
cionado à Síndrome de Marfan e tórax em barril,
facilidade, porém o pulso carotídeo é o que repre-
que tem relação com DPOC.
senta de maneira mais fidedigna o pulso aórtico.
Eventualmente, pode ocorrer uma diferença entre
a frequência cardíaca palpada e a encontrada na
ausculta (dissociação pulso-precórdio), quando o
batimento gera um pulso muito fraco, como nas

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Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

extrassístoles ou nos batimentos irregulares da valva aórtica) e por fim o descenso durante a diástole
Fibrilação Atrial (FA). A morfologia do pulso arterial (Figura 1). Alterações nesses componentes podem
normal apresenta um pico durante a sístole, seguida sugerir determinadas miocardiopatias (Quadro 1).
pela incisura dicrótica (momento do fechamento da

Figura 1. Morfologia do pulso arterial.


Pulso normal Pulso dicró�co Pulso bisferiens ou bífido

Pulso paradoxal
Pulso parvus et tardus ou
anacró�co

Pulso magnus célere, martelo d´agua ou


de Corringan Pulso alternans

Fonte: Adaptada de Accorsi et al.¹

Quadro 1. Tipos e características dos pulsos arteriais.

Tipo Característica Etiologia

Parvus et tardus Início lento, pico próximo à B2 Estenose aórtica

Martelo d’água Amplitude aumentada, descenso rápido Insuficiência aórtica

Dicrótico Onda dicrótica acentuada Sepse, IC grave, choque hipovolêmico

Bisferiens Dois picos durante a sístole CMH, insuficiência aórtica grave

Paradoxal Redução ≥ 10 mmHg na inspiração Tamponamento cardíaco

Alternans Alternância de intensidade a cada batimento IC grave

IC: insuficiência cardíaca; CMH: cardiomiopatia hipertrófica.


Fonte: Adaptada de Accorsi et al.1

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Semiologia e valvopatias cardíacas

Como a onda “a” está relacionada à contração atrial,


DICA
O pulso bisferiens ou bífido aconte- em situações onde não há ritmo atrial organizado
ce quando vemos duas ondas de pulso que (FA), ela está ausente. Por outro lado, situações em
ocorrem durante a sístole. Pode ocorrer na que o esvaziamento atrial está prejudicado (estenose
insuficiência aórtica grave ou na miocardio-
tricúspide, trombo/mixoma em AD) ou arritmias onde
patia hipertrófica.
a contração atrial ocorre contra a valva tricúspide
fechada (taquicardia por reentrada nodal, BAVT),
ocorre aumento de amplitude na onda “a”.
1.1.2. Pulso venoso
A onda “v” corresponde à diástole atrial e, portanto,
As pressões do Átrio Direito (AD) são transmitidas à sístole ventricular. Em casos de insuficiência
para a veia cava superior e jugulares, o que permite tricúspide, pode ser observada a onda “v” gigante,
inferir que há elevação das pressões de enchimento que corresponde ao sangue que regurgita para o
de câmaras direitas quando há turgência (estase) AD durante a sístole do VD (Quadro 2).
jugular ou refluxo hepatojugular, ao se pressionar
hipocôndrio direito ou região epigástrica.
DICA
O paciente deve ser posicionado em Decúbito Dorsal Em pacientes com FA, a contração
Horizontal (DDH) com cabeceira entre 30º a 45º atrial está ausente, assim como todos os
graus. A veia jugular interna direita é mais fidedigna sinais semiológicos associados a ela: onda
na avaliação. “A” do pulso venoso, reforço pré-sistólico
sopro diastólico em ruflar e B4.
O pulso venoso jugular normal é descrito por 3
ondas positivas e 2 descensos (Figura 2):
u Onda A (Átrio) – corresponde à sístole atrial, fase
final da diástole, imediatamente antes de B1. Quadro 2. Principais alterações
u Onda C (Contração tricúspide) – redução na que- patológicas do pulso venoso.
da da onda “a” pelo fechamento da valva tricús- Onda A
pide e sua protrusão retrógrada, coincide com
pulso carotídeo. Proeminente Ausente

u Descenso X (relaXamento) – queda da pressão Estenose tricúspide FA


pelo relaxamento atrial, logo após sua contra- Trombo em AD
ção (onda A).
TRN / BAVT
u Onda V (Volume) – aumento de pressão em AD
devido ao enchimento atrial e retorno venoso (maior Descenso Y
volume intracavitário) durante a diástole atrial. Proeminente Reduzido
u Descenso Y – queda de pressão pela abertura
Pericardite constritiva Tamponamento
da valva tricúspide.
Cardiomiopatia restritiva
Figura 2. Pulso venoso normal. Onda V

Proeminente (Gigante)

Insuficiência tricúspide
Fonte: Adaptada de Accorsi et al.1

a – contração atrial; c – fechamento tricúspide; x – relaxamento atrial;


v – enchimento atrial (retorno de volume); y – abertura tricúspide.
Fonte: Adaptada de Accorsi et al.1

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Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

1.2. AUSCULTA CARDÍACA a pressão aórtica supera demasiadamente a pressão


presente no ventrículo esquerdo, ocorre o fechamento
da valva aórtica, prevenindo, assim, a inversão do fluxo
sanguíneo.
BASES DA MEDICINA
Vem, então, a diástole, composta por 4 fases. A primeira é
o relaxamento isovolumétrico. Tem início imediatamente
Você já sabe que, de forma simples, o ciclo cardíaco tem após a segunda bulha (fechamento das valvas semiluna-
2 etapas: sístole e diástole. Mas, para uma melhor com- res) e é marcada por queda abrupta na pressão ventricular,
preensão dos achados semiológicos, devemos conhecer por conta do relaxamento das suas fibras miocárdicas,
melhor a sequência de eventos e as fases da sístole e sem uma alteração no volume ventricular. Isso ocorre até
da diástole. que as pressões atriais superam as ventriculares, levando
A sístole tem 3 fases. A primeira delas é o período de à abertura das valvas atrioventriculares.
contração isovolumétrica. Seu início coincide com a A fase seguinte é o enchimento rápido, quando ocorre a
vibração sonora inicial da primeira bulha cardíaca. Imedia- maior parte do enchimento ventricular. O fluxo rápido de
tamente após o início da contração ventricular, a pressão sangue dos átrios para os ventrículos em relaxamento
ventricular sobe, de modo abrupto, fazendo com que as produz uma redução transitória nas pressões atriais e
valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide) se fechem. ventriculares, e um aumento abrupto no volume ventricular.
A tensão aumenta no músculo, mas ocorre pouco ou
nenhum encurtamento das fibras musculares. É o tempo Em sequência, temos a diástase, uma fase em que o
decorrido entre o início da sístole ventricular e a abertura enchimento ocorre de forma mais lenta, pois, à medida
das válvulas semilunares, ou seja, a pressão ventricular que os átrios se esvaziam, há diminuição do gradiente
se eleva abruptamente, porém sem ejeção de volume. pressórico entre as câmaras atriais e os ventrículos.

Quando a pressão no interior do ventrículo esquerdo Por fim, temos a contração atrial, que completa o enchi-
aumenta o suficiente, ela força a abertura das valvas mento ventricular com cerca de 25% do volume (essa
semilunares. Imediatamente, o sangue começa a ser importância é relativa, aumenta junto com o aumento
lançado para adiante, e cerca de 70% do seu esvaziamento da frequência cardíaca, já que a taquicardia prejudica as
ocorre durante o primeiro terço do período de ejeção outras fases do enchimento).
(ejeção rápida), e os 30% restantes do esvaziamento As Figuras 3 e 4 abaixo detalham a variação da pressão
nos outros dois terços do período (ejeção lenta). Quando no ventrículo esquerdo e as fases do ciclo cardíaco.

Figura 3. Diagrama de Volume-Pressão do Ventrículo Esquerdo.


Fechamento da Período de
válvula aórtica ejeção
120
Pressão do ventrículo esquerdo (mmHg)

100
Abertura da
válvula aórtica
80 Relaxamento
isovolumétrico

60
Contração
isovolumétrica
Volume de ejeção
40
Volume Volume
sistólico diastólico
final Período de final
20 enchimento
B Fechamento da
A válvula mitral

0
50 70 90 110 130
Abertura da válvula mitral

Fonte: Elaborada pelo autor.


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Semiologia e valvopatias cardíacas

Figura 4. O ciclo cardíaco. 1.2.1. Bulhas cardíacas

A A primeira bulha cardíaca (B1), cujo som asseme-


lha-se a “TUM”, representa o fechamento das valvas
tricúspide e mitral. Diversos são os determinantes
B de sua intensidade e algumas situações podem
E causar o seu desdobramento, que é a separação
entre os componentes T1 (tricuspídeo) e M1 (mitral).
Ciclo A intensidade de B1 é variável no bloqueio cardíaco
cardíaco completo e na fibrilação atrial. Alguns ruídos podem
mimetizar o desdobramento de B1, como o estalido
C de abertura mitral e B4. No bloqueio do ramo direito
ocorre desdobramento longo de B1 por retardo da
D contração do VD e do fechamento da tricúspide
(Quadro 3).

Quadro 3. B1 – hiperfonese,
(A) relaxamento isovolumétrico; (B) enchimento rápido e lento; (C) hipofonese e desdobramento.
contração atrial; (D) contração isovolumétrica e (E) ejeção.
Fonte: Adaptada e traduzida de Olga Bolbot/Shutterstock.com². Causa Explicação

Hiperfonese de B1
Os principais focos de ausculta estão relacionados
Estenose mitral
à posição das valvas cardíacas (Figura 5): ↑ pressão sistólica atrial
e tricúspide
u Foco aórtico – 2º espaço intercostal direito (EICD),
Fechamento das valvas
na região paraesternal. O foco aórtico acessório Ritmo com PR curto quando estão baixas em
localiza-se na região paraesternal do 3º Espaço relação ao plano valvar
Intercostal Esquerdo (EICE). Plano valvar mais baixo
Taquicardia
u Foco pulmonar – região paraesternal do 2º EICE. no início do fechamento
u Foco tricúspide – região paraesternal do 4º EICE. Hipofonese de B1
u Foco mitral – 5º EICE, na linha hemiclavicular. Insuficiência mitral Falta de aposição
e tricúspide das cúspides
Figura 5. Ausculta cardíaca. Interposição do
Obesidade
tecido adiposo

Derrame pericárdico Acúmulo de líquido

DPOC Interposição de ar

Desdobramento de B1

Bloqueio de ramo
Atraso do componente M1
direito (BRD)

Comunicação Atraso de T1 por


interatrial (CIA) hipertensão pulmonar

Atraso de T1 por
Estenose tricúspide
hipertensão pulmonar
Fonte: Accorsi et al.¹

Fonte: Acervo Sanar.

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Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

A segunda bulha (B2), semelhante ao som “TÁ”, oposto do fisiológico: na expiração, o componen-
tem origem no fechamento das valvas semiluna- te A2 está atrasado em relação ao P2, por isso
res e possui dois componentes: pulmonar (P2) e há desdobramento. Já na inspiração, ocorre o
aórtico (A2). atraso fisiológico de P2, o que leva esse com-
ponente ao encontro de A2. Logo, a B2 torna-se
Na expiração, a B2 é única; porém, na inspiração,
novamente única. Isso é chamado de desdobra-
devido ao aumento do retorno venoso, o fechamento
mento paradoxal, pois ocorre só na expiração, ao
da valva pulmonar atrasa e ocorre desdobramento
contrário do fisiológico, que ocorre só na inspi-
fisiológico de B2.
ração (Figura 6).
Desdobramento paradoxal de B2:
u Na estenose aórtica grave – devido à calcifica- Assim como ocorre com B1, diversas patologias
ção intensa e pouca mobilidade das cúspides – e podem modificar a intensidade e o desdobramento
distúrbios de condução que retardam a contra- de B2 (Quadros 4.1 e 4.2). Na comunicação interatrial
ção do VE (BRE, marca-passo em VD), ocorre o (CIA) ocorre desdobramento fixo de B2.

Figura 6. Componentes da segunda bulha (B2) e desdobramentos.


B2 fisiológica Desdobramentos de B2

Expiração Amplo

Fixo
Inspiração

Paradoxal

Fonte: Elaborada pelo autor.

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Semiologia e valvopatias cardíacas

Quadro 4.1. B2 – hiperfonese e hipofonese.

Causa Explicação

Hiperfonese de B2

Coarctação de aorta Aumento do anel aórtico

Aneurisma de aorta Aumento do anel aórtico

Tetralogia de Fallot Arco aórtico anterior e mais próximo à caixa torácica

Hipofonese de B2

Estenose aórtica e pulmonar Calcificação valvar

Insuficiência cardíaca Baixo débito, menor movimentação das cúspides


Fonte: Adaptada de Accorsi et al.¹

Quadro 4.2. B2 – desdobramentos patológicos.

Tipo Causa Explicação

BRD, HP, CIV, estenose


Amplo Aumento do débito do VD atrasa P2 mais que o habitual
pulmonar, insuficiência mitral

Fixo CIA, HP Variações no shunt E – > D acompanham o ciclo respiratório

Estenose aórtica grave, Na expiração, A2 está atrasado, causando desdobramento. Durante


Paradoxal
BRE, marca-passo em VD a inspiração, P2 atrasa-se e se aproxima de A2, tornando B2 única

BRD: bloqueio de ramo direito; HP: hipertensão pulmonar; CIV: comunicação interventricular;
CIA: comunicação interatrial; BRE: bloqueio de ramo esquerdo.
Fonte: Adaptada de Accorsi et al1.

A terceira bulha (B3) ocorre no início da diástole concêntrica do VE, como miocardiopatia hipertró-
(protodiástole), na fase de enchimento rápido do fica e estenose aórtica. Na Fibrilação Atrial (FA),
ventrículo esquerdo devido à súbita tensão de como a sístole atrial não acorre, B4 está ausente.
musculatura papilar e cordoalha, que gera o ruído. O significado fisiopatológico da quarta bulha (B4)
Quando B3 tem timbre e intensidade maior que as em pacientes com infarto agudo do miocárdio é a
outras bulhas, o ritmo é conhecido como galope diminuição da complacência ventricular.
ventricular, e está relacionado à sobrecarga de
volume dos ventrículos. Tem pouca sensibilidade,
mas alta especificidade para insuficiência cardíaca DICA
Em linhas gerais, B3 representa
e aumento de pressões de enchimento. Existem disfunção sistólica, enquanto B4 está re-
situações de exceção em que há B3 sem disfunção lacionada com disfunção diastólica.
ventricular, como estados hiperdinâmicos (hiperti-
reoidismo, cor anêmico), e na ausculta de crianças
e adolescentes.
A quarta bulha (B4) aparece ao final da diástole
(telediástole), no período da sístole atrial, em con-
sequência da redução de complacência do VE.
Também é conhecida como galope atrial (Figura 7).
Ocorre especialmente em situações de hipertrofia

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Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

Figura 7. Bulhas cardíacas.

C. I.: contração isovolumétrica; Ej. R.: ejeção rápida; Ej. L.: ejeção lenta; R. I.: relaxamento isovolumétrico;
Enc. R.: enchimento rápido; Diástase = enchimento lento; S. A.: sístole atrial.
Fonte: Elaborada pelo autor.

1.2.2. Sopros cardíacos u Sopro em diamante: crescendo e decrescendo,


com pico mesossistólico, nos focos da base.
Ocorrem por turbilhonamento do fluxo cardíaco nas Ocorre na estenose aórtica e pulmonar.
câmaras, em consequência de doenças valvares ou
u Sopro aspirativo: diastólico em decrescendo
cardiopatias congênitas.
nos focos da base. Relacionado à insuficiência
Aspectos importantes na avaliação dos sopros: aórtica e pulmonar.
u Intensidade: gradação da amplitude das vibra- u Sopro regurgitativo: sistólico em platô, nos focos
ções. A classificação de Levine os classifica em do ápice. Sopro da insuficiência mitral e tricúspide.
seis graus ou cruzes (Quadro 5). u Sopro em ruflar: diastólico, de baixa frequência,
u Frequência: alta frequência (agudos), melhor aus- em decrescendo com reforço pré-sistólico, típico
cultados com diafragma do estetoscópio, e baixa da estenose mitral e tricúspide.
frequência (graves), auscultados com campânula.
u Timbre: característica acústica, como piante, jato Quadro 5. Classificação de Levine para
de vapor, maquinaria etc. intensidade dos sopros cardíacos.

u Configuração: formato que o sopro adquire; pode Intensidade Descrição


ser crescente, decrescente, crescendo-decres- I Auscultado apenas com manobras
cendo (diamante) e platô.
II Auscultado com facilidade
u Cronologia e duração: sistólicos, diastólicos ou
contínuos (raros). Podem ocorrer no início (proto), III Sopro alto com irradiação
meio (meso), final (tele) ou durante todo (holo) o IV Presença de frêmito palpável
ciclo cardíaco.
Auscultado apenas com parte do
V
u Localização: foco onde é auscultado com maior estetoscópio encostado na pele
intensidade. Também pode ser denominado pela
Tão intenso que pode ser
localização anatômica, como sopros da base VI
auscultado sem estetoscópio
(aórtico e pulmonar), ápice (mitral e tricúspide),
Fonte: Accorsi et al.¹
borda esternal esquerda baixa ou alta.
u Irradiação: localizações onde o sopro ainda pode
ser auscultado, como linha axilar, dorso ou fúr-
cula/carótidas.

Na prática, existem 4 padrões mais comuns de


sopros (Figura 8):

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Semiologia e valvopatias cardíacas

Figura 8. Configuração dos sopros mais comuns.

Em diamante Regurgitativo

Sístole Diástole Sístole Diástole

Aspirativo Ruflar
Sístole Diástole Sístole Diástole

Estalido de abertura mitral (EAM).


Fonte: Elaborada pelo autor.

1.2.3. Manobras auscultatórias Por outro lado, nas manobras que reduzem o retorno
venoso (como ficar em pé partindo da posição dei-
Manobras auscultatórias podem modificar a intensi- tada ou a Manobra de Valsalva), ocorre o oposto
dade do sopro e facilitar a identificação dos mesmos. do descrito acima.
u Inclinação do tórax para frente: melhor para aus-
Manobras de exercício isométrico, como o handgrip
culta de sopros nos focos da base.
(preensão manual sustentada):
u Decúbito lateral esquerdo (Posição de Pachon):
melhor para sopros nos focos do ápice. u Aumentam a resistência vascular periférica.
u Causam aumento dos sopros da estenose mitral
Manobras que aumentam o retorno venoso (aga- e das insuficiências mitral e tricúspide.
chamento, posição de cócoras): u Causam a redução do sopro da estenose aór-
u Aumentam a intensidade dos sopros em geral. tica em decorrência do aumento da pós-carga,
u Exceções: levando a uma redução no gradiente pressórico
transvalvar aórtico.
W Miocardiopatia hipertrófica: obstrução à via de
saída do VE é dinâmica e, quando há aumento A inspiração causa aumento do sopro da insufi-
do retorno venoso, as paredes se afastam e a ciência tricúspide (Manobra de Rivero Carvallo).
obstrução diminui.
O Quadro 6 traz um resumo dos principais epônimos
u Prolapso mitral: o clique de abertura atrasa e a
de sopros e manobras auscultatórias.
duração do sopro se reduz.

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Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

Quadro 6. Epônimos relacionados aos sopros u Nos jovens: destacam-se a etiologia reumática
cardíacos e manobras auscultatórias. e a doença congênita bicúspide.
Sopro u Nos idosos: prevalece a doença aórtica dege-
nerativa senil, que tem relação com fatores de
Irradiação do sopro da estenose
Gallavardin aórtica para o foco mitral, com risco tradicionais para aterosclerose (diabetes,
timbre piante. dislipidemia, tabagismo e hipertensão arterial).
Ruflar diastólico que ocorre na
A doença reumática aórtica geralmente vem acom-
insuficiência aórtica; importante
Austin Flint devido ao fluxo regurgitado di- panhada de lesão mitral.
recional para mitral, que deixa a
valva semifechada. 2.1.2. Quadro clínico
Sopro mesodiastólico em ruflar
(semelhante à estenose mitral) Os sintomas clássicos são angina, síncope e disp-
Carey Coombs
de baixa frequência da valvulite neia (insuficiência cardíaca), que estão relaciona-
mitral aguda. dos a um prognóstico reservado (5, 3 e 2 anos de
Sopro aspirativo em foco pulmo- sobrevida, respectivamente).
Graham Steell nar, relacionado à insuficiência
A angina na estenose aórtica é consequência da
pulmonar.
hipertrofia ventricular compensatória por aumento
Manobra de pós-carga, gerando desbalanço entre oferta e
Esforço expiratório com a glote demanda.
Valsalva
fechada. Outro sintoma, ainda que menos comum, é o sangra-
Aumento do sopro da insuficiên- mento gastrointestinal baixo. Ocorre cisalhamento
Rivero Carvallo cia tricúspide com a inspiração do Fator de von Willebrand, provocado pelo turbilho-
profunda. namento do fluxo sanguíneo gerado pela estenose
Fonte: Adaptada de Accorsi et al.¹ aórtica, que favorece a ação da enzima ADAMTS13,
a qual causa a clivagem do Fator de von Willebrand,
levando à angiodisplasia e ao sangramento.
2. VALVOPATIAS CARDÍACAS Achados do exame físico:
u Ictus em geral não palpável (hipertrofia de VE é
As valvopatias podem ser estenoses ou insuficiên- concêntrica).
cias. Nas estenoses, há sobrecarga de pressão para u Pulso arterial parvus et tardus.
câmara cardíaca cuja ejeção passa por essa válvula u B4, desdobramento paradoxal de B2.
(por exemplo: ventrículo esquerdo quando há este-
u Sopro sistólico ejetivo (crescendo-decrescendo).
nose aórtica, átrio esquerdo quando há estenose
mitral), visto que essas câmaras precisam vencer
Sinais de gravidade:
a barreira da obstrução gerada pela dificuldade de
abertura das válvulas, a fim de mandar o sangue u Pico tardio (telessistólico).
adiante na circulação. Nas insuficiências, por outro u B2 hipofonética.
lado, há uma sobrecarga de volume, visto que o u Irradiação do sopro para o foco mitral, com tim-
coração precisa bombear mais sangue para com- bre piante (Fenômeno de Gallavardin).
pensar o volume regurgitado, o que ocorre devido
à dificuldade da válvula em fechar.
u Frêmito (sopro com intensidade ≥ 4+).

Conforme já dito anteriormente, o sopro da este-


2.1. ESTENOSE AÓRTICA nose aórtica (assim como a maioria dos sopros)
diminui com a Manobra de Valsalva, enquanto o
2.1.1. Epidemiologia sopro da miocardiopatia hipertrófica aumenta, já
que essa última causa uma obstrução dinâmica na
Tem apresentação bimodal: via de saída do VE.

12
Semiologia e valvopatias cardíacas

Mapa mental. Estenose aórtica

Sangramento
grastrointestinal
(menos comum)

Calcificação Angina

Congênita Síncope

Febre reumática Insuficiência cardíaca

Etiologias
Estenose Quadro clínico
aórtica

Fisiopatologia

Sobrecarga de
pressão no VE

Hipertrofia concêntrica

Pós-carga elevada

13
Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

2.1.3. Exames complementares

u ECG: sobrecarga de câmaras esquerdas, Bloqueio u Ecocardiograma: dilatação concêntrica de VE,


de Ramo Esquerdo (BRE). aumento do gradiente entre VE e aorta, redução
u Raio-X: área cardíaca pode estar normal (hipertro- da área valvar (< 1 cm2) – Tabela 1.
fia é concêntrica, e não excêntrica), calcificação
em valva aórtica, congestão pulmonar (Linhas B
de Kerley, cefalização de trama).

Tabela 1. Classificação da estenose aórtica de acordo com os parâmetros ecocardiográficos.

Gravidade Leve Moderado Grave

Gradiente médio (mmHg) < 25 25-40 > 40

Área (cm )
2
> 1,5 1-1,5 <1

Velocidade do jato (m/s) <3 3-4 >4


Fonte: Tarasoutchi et al.³

2.1.4. Tratamento quando comparada à cirurgia, mesmo em pacientes


de risco baixo/intermediário.
O tratamento farmacológico é apenas sintomático;
nenhuma medicação foi capaz de mudar a evolução A valvoplastia aórtica por cateter balão não é reco-
natural de nenhuma valvopatia até o momento. mendada pela alta taxa de recorrência. É um pro-
cedimento paliativo ou como “ponte terapêutica”
Apesar de a estenose aórtica estar relacionada a para procedimentos definitivos em pacientes de
fatores de risco para aterosclerose, o uso de esta- alto risco.
tina não mudou a evolução da doença em estudos
clínicos randomizados.
2.2. INSUFICIÊNCIA AÓRTICA
Diuréticos de alça devem ser utilizados na presença
de sinais de congestão. Vasodilatadores devem ser
2.2.1. Epidemiologia
utilizados com cautela pelo risco de síncope em
caso de hipotensão. A insuficiência aórtica pode acometer diferentes
O tratamento intervencionista (cirúrgico ou percutâ- perfis de pacientes, variando de acordo com sua
neo via cateterismo cardíaco) é a base do tratamento etiologia. Pode ser causada por acometimento direto
das valvopatias. das suas válvulas ou da raiz aórtica (nesse caso,
frequentemente correlacionado com hipertensão),
Indicações de troca valvar na estenose aórtica:
com dilatação do anel valvar.
u Pacientes sintomáticos.
O acometimento direto das válvulas pode resultar
u Assintomáticos com complicadores:
de:
W Fração de ejeção do VE (FEVE) < 50%. u Febre reumática.
W Queda da PA durante esforço no teste ergo- u Doença congênita (valva aórtica bivalvular ou
métrico.
quadrivalvular).
A primeira opção é o implante de bioprótese aórtica u Doenças do colágeno (Síndrome de Marfan).
transcateter (da sigla em inglês TAVI, Transcatheter u Aortite (sífilis terciária, Arterite de Takayasu).
Aortic Valve Implantation). A TAVI é uma opção
segura e com menor taxa de eventos adversos

14
Semiologia e valvopatias cardíacas

2.2.2. Quadro clínico 2.2.3. Exames complementares

Cursa com importante dilatação excêntrica do VE ECG: sobrecarga de câmaras esquerdas, alterações
por aumento da pré-carga (volume regurgitado), de repolarização, BRE.
apresenta ictus desviado para esquerda e para
baixo, sopro diastólico aspirativo (decrescendo), Raio-X: aumento do índice cardiotorácico, conges-
pulso bisferiens (Figura 1), aumento da pressão de tão pulmonar.
pulso (aumento da pressão sistólica e redução da Ecocardiograma: dilatação excêntrica do Ventrículo
diastólica) e suas consequências ao exame físico: Esquerdo (VE), regurgitação aórtica.
u Pulsação da úvula (Sinal de Müller).
u Pulsação do leito ungueal (Sinal de Quincke). 2.2.4. Tratamento
u Pulso em martelo d’água (Pulso de Corrigan). O uso de diuréticos e vasodilatadores (como IECA ou
u Movimentação da cabeça acompanhando o ba- BRA) podem reduzir os sintomas por diminuírem o
timento cardíaco (Sinal de Musset). volume total regurgitado, mas não alteram a história
natural da doença.
Sinais de gravidade:
Indicações de troca valvar:
u Redução da divergência da pressão arterial.
u Sintomáticos.
u Aumento da duração do sopro (holodiastólico):
u Assintomáticos com complicadores:
u Sopro de Austin Flint: sopro mesodiastólico mi-
tral por refluxo aórtico direcionado para valva mi- W Fração de ejeção < 50%.
tral, deixando-a semifechada durante a diástole W VE com diâmetro diastólico > 70 mm ou diâ-
ventricular (se assemelha ao sopro da estenose metro sistólico > 50 mm (considerar 75 mm
mitral) – Figura 9. e 55 mm para etiologia reumática).

A cirurgia de troca valvar é o procedimento de


DICA
Em pacientes com divergência de escolha e pode ser combinada com a correção da
PA entre membros e hipertensão diastóli- aorta ascendente quando houver dilatação da aorta
ca que apresentem sopro tipo insuficiência associada (> 50 mm).
aórtica, devemos suspeitar de dissecção
aguda de aorta.

DIA A DIA MÉDICO


Figura 9. Ressonância cardíaca na Insuficiência aórtica.
Na prática clínica, não é incomum nos depararmos com
pacientes portadores de insuficiência aórtica importante,
com dilatação importante do ventrículo esquerdo, mas
que são assintomáticos. A sobrecarga de volume é bem
tolerada pelo VE, com sua dilatação, por longos períodos.

2.3. ESTENOSE MITRAL

BASES DA MEDICINA

Quando há estenose mitral, é gerado um gradiente de


A imagem mostra jato regurgitativo aórtico direcionado para valva pressão persistente entre o ventrículo e o átrio esquerdos
mitral, prejudicando sua abertura durante a diástole, gerando o
(normalmente o gradiente é transitório), levando a uma
sopro de Austin-Flit.
dilatação do átrio esquerdo. Essa pressão, em longo
Fonte: Acervo do autor.

15
Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

prazo, também é transmitida pelas veias pulmonares, Achados do exame físico:


causando aumento passivo da pressão pulmonar. Com
a evolução da doença, essa sobrecarga se reflete nas
u Estalido de abertura mitral seguido por sopro
câmaras direitas do coração, levando à congestão sis- diastólico em ruflar com reforço pré-sistólico.
têmica. A cronicidade desse aumento de pressão leva O reforço pré-sistólico da estenose mitral re-
ao remodelamento dos vasos, com fibrose – que gera presenta contração atrial, portanto, desaparece
vasoconstrição – e o aumento de pressão, que antes era em ritmo de FA.
passivo, passa a ser ativo.
u Hiperfonese de B1 (em estágios muito avança-
dos pode haver hipofonese devido a comprome-
2.3.1. Epidemiologia timento valvar importante).
u O ictus em geral não é palpável, pois a dilatação
A principal etiologia é a febre reumática. Com o
do VE só ocorre em estágios finais da doença.
envelhecimento da população, tem ganhado des-
taque a etiologia degenerativa/calcífica. u O pulso venoso jugular na estenose mitral se ca-
racteriza por onda A proeminente.
Sobre a valvopatia mitral reumática:
u Manifesta-se entre os 20 e 50 anos, sendo mais Sinal de gravidade: maior precocidade do estalido
comum em mulheres. de abertura após B2.
u A Insuficiência Mitral (IM) é a lesão mais comum
2.3.3. Exames complementares
na febre reumática aguda.
u A Estenose Mitral (EM) relaciona-se às lesões ECG: sobrecarga de AE e câmaras direitas, desvio
crônicas. do eixo para direita, FA.
Raio-X (Figura 10): aumento do AE ocasiona sinal
2.3.2. Quadro clínico
da bailarina (deslocamento do brônquio fonte
O sintoma mais comum é dispneia de esforço, devido esquerdo), o duplo contorno e o sinal do 4º arco
à transmissão passiva da elevação da pressão do (próximo à ponta do VE). Aumento de câmaras
Átrio Esquerdo (AE) para o território venocapilar direitas e congestão pulmonar também podem ser
pulmonar. observados.

Edema Agudo de Pulmão (EAP) pode ser preci- Ecocardiograma (Figura 11 ): morfologicamente,
pitado por taquicardia, pois quando a frequência as cúspides apresentam a aparência de taco de
cardíaca é muito elevada, há menos tempo para hóquei, devido à fusão comissural. Outro achado,
o enchimento ventricular, levando ao acúmulo de mudando de corte ecocardiográfico, é o seu aspecto
sangue no átrio esquerdo e a posterior transferência em “boca de peixe”, devido à fusão e redução da
para os pulmões. área de abertura. Os parâmetros quantitativos que
permitem a graduação da estenose mitral são à
redução da área valvar (< 1,5 cm2 define como
DICA importante), aumento do gradiente entre AE e VE.
As principais complicações da es-
tenose mitral são FA e fenômenos trom- O Escore Ecocardiográfico de Wilkins avalia a gra-
boembólicos (AVC). vidade da lesão baseado em 4 parâmetros: aparato
subvalvar, calcificação, mobilidade e espessamento
dos folhetos.
A hipertrofia do AE pode levar à ocorrência de arrit-
mias supraventriculares (principalmente FA) e rou-
quidão por compressão do laríngeo recorrente (Sín- DICA
A estenose mitral poupa o VE, por
drome de Ortner). isso não há sinais de sobrecarga/hiper-
trofia do VE nos exames complementares
Hipertensão pulmonar está associada à hemoptise.
(ECG, raio X e ecocardiograma).

16
Semiologia e valvopatias cardíacas

Figura 10. Radiografia de tórax na estenose mitral.

A – Radiografia em posteroanterior de paciente com estenose mitral; B – Duplo contorno: a linha azul representa o AD e a linha branca
representa o AE hipertrofiado; B- Sinal do 4º arco: a linha amarela representa o AE aumentado, formado um arco a mais na silhueta cardíaca,
além da aorta, do tronco pulmonar e do VE; C – Sinal da bailarina: o aumento do AE causa desvio no brônquio fonte esquerdo, que fica mais
horizontalizado (ângulo subcarinal > 90°).
Fonte: Adaptado de Li4.

Figura 11. Ecocardiograma na Estenose Mitral.

Em A aspecto de abertura em taco de hóquei. Em B, visão da valva mitral com aspecto de “boca de peixe”.
Fonte: Islam et al.6 e Salarifar et al.7

2.3.4. Tratamento di-hidropiridínicos (diltiazem, verapamil) e digoxina


(em caso de ritmo de FA).
Na estenose mitral, como há obstrução fixa entre
AE e VE, é importante aumentar o tempo de diástole Na presença de FA, existe o risco de eventos trom-
para auxiliar no esvaziamento atrial. boembólicos. Por esse motivo, está indicada a
anticoagulação com cumarínicos (varfarina).
Medicações cronotrópicas negativas (bradicar-
dizantes) devem ser empregadas, como betablo-
queadores, bloqueadores do canal de cálcio não

17
Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

teremos as seguintes consequências: dilatação do AE,


DICA congestão pulmonar, hipertrofia excêntrica do ventrículo
Os novos anticoagulantes estão
contraindicados na presença de FA por es- esquerdo e, em fases tardias ou na IM aguda, compro-
tenose mitral moderada a grave. metimento do VD.

2.4.1. Epidemiologia
Indicações de intervenção valvar:
Principais etiologias são a febre reumática e o
u Sintomáticos.
prolapso da valva mitral.
u Assintomáticos com complicadores:
Sobre o Prolapso da Valva Mitral (PVM):
W Hipertensão pulmonar.
u É a segunda causa de Insuficiência Mitral (IM)
W FA de início recente.
no Brasil, atrás da febre reumática.
A Valvuloplastia Mitral por Cateter Balão (VMCB) é o u Idade média de apresentação em torno de 50 anos.
procedimento de escolha nos seguintes pacientes:
A IM pode ocorrer também em consequência do
u Escore Ecocardiográfico de Wilkins favorável (≤ 8). aumento do anel valvar secundário à miocardio-
u Sem insuficiência mitral moderada a importante. patia dilatada, situação em que o aparato valvar
u Sem trombo no átrio esquerdo (AE). está íntegro, porém ocorre falha de coaptação das
cúspides, sendo denominada IM secundária.
Quando a VMCB não é possível, o tratamento indi-
cado é cirúrgico, com troca ou plástica valvar (reali- 2.4.2. Quadro clínico
zação de comissurotomia, preservando o aparelho
valvar do paciente). A insuficiência mitral aguda, secundária ao infarto
inferior ou à endocardite infecciosa, cursa com
A escolha do procedimento cirúrgico depende da
edema pulmonar e choque cardiogênico, pois não
anatomia do paciente e da experiência do cirurgião
há tempo para adaptação atrial frente ao volume
e do serviço.
regurgitado.
Casos crônicos em geral são assintomáticos por
DIA A DIA MÉDICO
diversos anos, podendo evoluir com sintomas de
insuficiência cardíaca.
Pacientes com estenose mitral e FA têm altíssimo risco Achados do exame físico:
tromboembólico, por isso devem ser anticoagulados com u Sopro sistólico regurgitativo (em platô).
cumarínicos (varfarina) independentemente do escore
CHA2DS2-VASc. u B1 hipofonética.
u No prolapso, pode ocorrer clique mesossistólico
e sopro telessistólico.
2.4. INSUFICIÊNCIA MITRAL
Sopros piantes podem estar relacionados à ruptura
de cordoalha valvar.
BASES DA MEDICINA
Pacientes com prolapso mitral podem apresentar
arritmias, como extrassístoles frequentes.
Sobrecarga de volume. Essa é a chave na fisiopatologia
da insuficiência mitral. O refluxo de sangue do VE para Sinais de gravidade: frêmito, irradiação ampla.
o AE cria sobrecarga de volume nessa câmara. Assim, a
vasculatura pulmonar e a câmara retrógrada (ventrículo
direito) também sofrerão com essa sobrecarga. Por outro
lado, o VE também precisará comportar esse volume
adicional. Dessa forma, com a progressão da doença,

18
Semiologia e valvopatias cardíacas

2.4.3. Exames complementares de complicadores. A quantificação do grau de


regurgitação mitral se dá através de dados como
ECG: sobrecarga de AE, podendo ocorrer sobre-
área do orifício regurgitante, volume regurgitado,
carga de VE e fibrilação atrial (menos comum que
fração regurgitante e vena contracta (porção mais
na estenose mitral).
estreita do jato regurgitante). Quanto à definição de
Raio-X: aumento de câmaras esquerdas e conges- mecanismo, pode identificar prolapso (Figura 12),
tão pulmonar. rotura de cordoalha, por exemplo. Casos duvidosos
Ecocardiograma: tem 3 papéis principais – quanti- podem requerer o exame transesofágico para melhor
ficação da IM, definição do mecanismo e pesquisa esclarecimento. Por fim, os complicadores serão
detalhados na seção de tratamento.

Figura 12. Ecocardiograma no prolapso mitral.

A. Corte paraesternal eixo longo. Na figura A, observamos o prolapso da cúspide posterior, e na figura B, com doppler colorido,
é demonstrado o jato de insuficiência mitral. AE – átrio esquerdo. VE – ventrículo esquerdo. VD – ventrículo direito.
Fonte: Adaptada de Delling et al.8

19
Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

Mapa mental. Insuficiência mitral

Diagóstico de
insuficiência
mitral

EXAME FÍSICO ECG RAIO-X ECO

Sopro sistólico
Índice de Sokolov Sinal da bailarina PVM
regurgitativo (platô)

Dilatação Área do orifício


B1 hipofonética Sinal de Strain cardíaca (índice regurgitante
cardiotorácico
> 0,5)
Click mesossitólico
Vena contracta
(PVM)
Sinal do 4º arco

Sopro piante (ruptura


Volume regurgitante
da cordoalha) Sinal do duplo
contorno

Sinais de gravidade

PSAP > 50 mmHg

Fração de ejeção < 60%

DSVE > 40 mm

20
Semiologia e valvopatias cardíacas

2.4.4. Tratamento

Assim como na insuficiência aórtica, o uso de diuré-


ticos e vasodilatadores (como IECA ou BRA) podem
reduzir sintomas por diminuírem o volume total
regurgitado.
Indicações de intervenção valvar:
u Sintomáticos.
u Assintomáticos com complicadores:
W FEVE < 60% (a fração de ejeção está supe-
restimada na insuficiência mitral por causa
do volume regurgitado para o AE, por isso o
corte de FEVE é mais alto).
W Diâmetro sistólico de ventrículo esquerdo
≥ 40 mm.
W Hipertensão pulmonar.
W FA de início recente.

Na etiologia reumática, a troca valvar é o procedi-


mento de escolha.
Na insuficiência por prolapso mitral, a plástica mitral
deve ser realizada quando tecnicamente possível.
Na insuficiência mitral não reumática com alto
risco ou contraindicação à cirurgia e com sintomas
refratários, a depender da anatomia valvar, existe
a possibilidade de clipagem percutânea da valva
mitral (MitraClip®).

DIA A DIA MÉDICO

Em nosso meio, devido ao acesso prejudicado ao sistema


de saúde especializado, não é incomum que a primeira
manifestação de uma valvopatia seja endocardite infec-
ciosa. É uma complicação de alta letalidade e morbidade.
No seguimento de pacientes valvopatas, não se deve
esquecer de orientar e reforçar quanto à profilaxia de
endocardite, tema que será tratado no capítulo específico.

21
Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

Mapa mental. Valvulopatias

Déficit na Valvulopatias Déficit no


abertura fechamento

Sobrecarga Sobrecarga
de pressão de volume

Estenose Insuficiência

Pulmonar Mitral Aórtica Mitral Aórtica Tricúspide

Sopro
Click de ejeção Sopro diastólico Sopro sistólico Sopro sistólico Sopro diastólico
holossistólico
na inspiração em ruflar ejetivo regurgitativo (platô) aspirativo
na inspiração

22
Semiologia e valvopatias cardíacas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. Accorsi TAD, Machado FP, Grinberg M. Semiologia Cardio- Porto CC. Semiologia médica. 7. ed. Rio de Janeiro: Gua-
vascular. In: Martins MA, Carrilho, FJ, Alves VAF, Castilho nabara Koogan; 2013.
EA, Cerri GG. Clínica médica volume 2. 2. ed. Barueri: Stanislavsky A. Left atrial enlargement [internet]. Radiope-
Manole; 2015. p. 10-44. dia; 2019 [acesso em 18 nov 2022]. Disponível em: https://
2. Imagem utilizada sob licença da Shutterstock.com, dis- radiopaedia.org/cases/left-atrial-enlargement-5?lang=us.
ponível em: <https://www.shutterstock.com/pt/ima- Tarasoutchi F, Montera MW, Grinberg M, Barbosa MR, Piñeiro
ge-vector/diagram-phases-cardiac-cycle-circulation- DJ, Sánchez CRM, et al. Diretriz brasileira de valvopatias – SBC
-blood-1054010540>. Acesso em 18 de junho de 2022. 2011/I Diretriz interamericana de valvopatias – SIAC 2011.
3. Tarasoutchi F, Montera MW, Ramos AIO, Sampaio RO, Rosa Arq Bras Cardiol. 2011;97(5Supl.1):1-67
VEE, Accorsi TAD, et al. Atualização das diretrizes brasilei-
ras de valvopatias: abordagem das lesões anatomicamente
importantes. Arq Bras Cardiol. 2017;109(6Supl.2):1-34.
4. Li JS, Ma J, Yan ZX, Cheng DM, Chang L, Zhang HC, Liu JY.
Acute arterial embolism of left lower extremity caused by
paradoxical embolism in Ebstein's anomaly: A case report.
Medicine (Baltimore). 2017 Feb;96(5):e5901. https://www.
ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5293429/figure/F2/.
5. Kummar V, Abbas AK, Fausto N. Robbins & Cotran. Bases
patológicas das doenças. 8. ed. Rio de Janeiro. Elsevier;
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6. Islam AM, Salam MA, Sayeed MZ, Kibria MG. Spontaneous
echo contrast masking thrombus in giant left atrium
of mitral stenosis-a dilemma in clinical diagnosis. Pak
J Med Sci. 2015 Sep-Oct;31(5):1283-5. doi: 10.12669/
pjms.315.7602. PMID: 26649032; PMCID: PMC4641301.
7. Salarifar M, Rezvanfard M, Sadeghian H, Safir-mardanloo
A, Shafii N. Mitral annular calcification predicts immediate
results of percutaneous transvenous mitral commis-
surotomy. Cardiovasc Ultrasound. 2011 Oct 28;9:29.
doi: 10.1186/1476-7120-9-29. PMID: 22035075; PMCID:
PMC3217870.
8. Delling FN, Rong J, Larson MG, Lehman B. Familial Cluste-
ring of Mitral Valve Prolapse in the Community. Circulation.
2015;131:263-268.

23
Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1 Nas últimas semanas sentiu aperto no peito ao


realizar os esforços que desaparecia ao repouso.
(PROCESSO SELETIVO UNIFICADO - MG - 2018) Homem, 72
Exame físico: PA= 110x85 mmHg; FC= 92 bpm;
anos, sabidamente portador de estenose aórtica
FR= 16 irpm; Oximetria de pulso (ar ambiente)=
grave, procura o seu médico com a queixa de pal-
97%, corado, hidratado. Pulso carotídeo diminuído
pitação. O ECG encontra-se a seguir. Em relação
e tardio; Coração: ictus no 5º espaço intercostal
ao exame clínico desse paciente, assinale a alter-
esquerdo desviado 2 cm para a esquerda da linha
nativa incorreta:
hemiclavicular ipsilateral, bulhas rítmicas com sopro
mesossistólico ejetivo, rude, audível em focos aór-
tico, aórtico acessório e mitral, irradiado para o
pescoço com B4 presente; extremidades: pulsos
de baixa amplitude. O DIAGNÓSTICO É:

Insuficiência aórtica.
Insuficiência mitral.
Estenose aórtica.
Estenose mitral.

A segunda bulha deve ser hipofonética ou inau-


Questão 3
dível.
A segunda bulha pode ser única ou apresentar (HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RI-
desdobramento paradoxal. BEIRÃO PRETO - SP - 2018)
Pode haver um sopro mesossistólico, áspero, Mulher, 62 anos, queixa-se de fadiga aos esforços
mais intenso na área paraesternal superior di- há três meses. Sem outras queixas. Exame físico:
reita irradiando para ambas as carótidas com FC = 89 bpm, PA = 100 x 64 mmHg, ritmo cardíaco
igual intensidade. regular, desdobramento de B2 com hiperfonese do
componente pulmonar, sopro holossistólico 3+/6+
Pode haver uma quarta bulha por causa da re-
mais intenso no 4º espaço intercostal junto à borda
dução da complacência ventricular.

Questão 2

(UNICAMP - SP - 2022) Homem, 57a, é trazido ao servi-


ço médico após episódio de desmaio ao realizar
grande esforço no trabalho. Conta que subitamente
perdeu a consciência, sem referir qualquer outro
sintoma, e que ao acordar não apresentava déficits.

24
Semiologia e valvopatias cardíacas

esternal esquerda e com aumento da intensidade ( ) pericardite ou infarto agudo do miocárdio


durante a inspiração. ( ) insuficiência aórtica grave, miocardiopatia
hipertrófica
( ) estenose pulmonar, bloqueio de ramo direito,
insuficiência mitral
( ) insuficiência cardíaca, hipovolemia, estenose
aórtica.

V-II-IV-III-I-VI-VII.
VI-II-V-VII-III-I-IV.
VI-III-VII-V-II-IV-I.
VI-III-V-II-VII-I-IV.
VI-III-V-VII-II-IV-I.

Questão 5

(FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP - SP - 2020) Mu-


Qual dos traçados acima é o mais representativo lher, 46 anos, é atendida em Unidade Básica de Saúde
do pulso venoso jugular desse paciente? com história de dispneia progressiva há oito meses, no
momento aos médios esforços. Antecedente pessoal:
Traçado A. febre reumática. Exame físico: FC = 88 bpm, PA = 116
Traçado B. X 68 mmHg. Pulmões: murmúrio vesicular presente e
Traçado C. simétrico, estertores crepitantes nas bases. Coração:
ritmo cardíaco regular e sopro, que está representado
Traçado D.
abaixo. O achado ecocardiográfico esperado é:

Questão 4

(HOSPITAL REGIONAL ROSA PEDROSSIAN - MS - 2017) Esta-


beleça a correlação entre as duas colunas abaixo
quanto aos achados no exame cardiovascular e suas
possíveis causas e assinale a alternativa correta: Hipertrofia excêntrica do ventrículo esquerdo.
Hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo.
COLUNA 1
I. pulso parvus et tardus Dilatação atrial esquerda.
II. pulso bisferiens Dilatação atrial direita.
III. desdobramento de B1
IV. desdobramento amplo de B2 Questão 6
V. sopro telessistólico
(FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP - SP - 2020)
VI. ruflar distólico
Homem, 63 anos, com cansaço progressivo aos
VII. atrito pericárdico. esforços há cinco meses. Antecedentes pessoais:
COLUNA 2 espondilite anquilosante há dez anos. Exame físico:
( ) estenose mitral ou tricúspide PA= 148X52 mmHg, FC= 92 bpm. Coração: ritmo
( ) bloqueio de ramo direito
( ) prolapso de valva mitral

25
Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

cardíaco regular e um sopro, que está representado Questão 9


abaixo. O sinal semiológico esperado é:
(HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RP DA
USP - SP - 2021) Mulher, 36 anos, apresenta dispneia
aos moderados esforços há 4 meses com palpita-
ções taquicárdicas há 2 meses. Refere reumatismo
na infância, sem outras comorbidades. Não faz uso
de medicações contínuas.
Atrito pericárdico.
Pulsação da úvula.
Sopro audível na cabeça.
Diminuição de pulsos nos membros inferiores.

Questão 7

(FUNDAÇÃO HOSPITALAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS - MG -


Considerando a principal hipótese diagnóstica, qual
2021) Em relação à ausculta do precórdio em pacien-
figura representa a ausculta cardíaca esperada para
te com estenose mitral reumática e com fibrilação
esta paciente?
atrial confirmada ao eletrocardiograma, assinale a
alternativa correta. Figura A.
Figura B.
Presença de sopro diastólico sem reforço pres-
sistólico no foco mitral. Figura C.
Sopro de regurgitação holossistólico no foco Figura D.
mitral, de baixa intensidade.
Presença de quarta bulha no foco tricúspide. Questão 10
Desdobramento fixo da primeira bulha.
(FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP - SP - 2020)
Paciente masculino, 52 anos, refere diagnóstico
Questão 8
de insuficiência cardíaca há sete anos por proble-
ma valvar. Fez cirurgia para trocar valvar há 1 ano.
(HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS - RJ - 2021) Ao realizar o No momento, está em uso de carvedilol, enalapril,
exame físico de um paciente com doença valvar espironolactona e varfarina. Traz a seguinte radio-
reumática, a ausculta cardíaca revelou um sopro grafia de tórax:
meso a telediastólico, mais audível na ponta do co-
ração com o paciente em decúbito lateral esquer-
do, de baixa frequência e introduzido por estalido
de abertura. Qual a causa clássica desse sopro?

Estenose aórtica.
Insuficiência mitral.
Estenose mitral. A provável valvopatia primária que motivou a cirur-
gia desta paciente é:
Insuficiência aórtica.
Estenose pulmonar. Insuficiência mitral.
Estenose mitral isolada.
Estenose mitral com insuficiência tricúspide.
Estenose aórtica.

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Semiologia e valvopatias cardíacas

GABARITO E COMENTÁRIOS

Questão 1 dificuldade:    Questão 2 dificuldade: 

Y Dica do professor: Essa questão parece corre- Y Dica do professor: Lembre-se da tríade clássica do
lacionar o ECG repleto de alterações (hipertrofia quadro clínico da Estenose Aórtica (EAo): síncope,
ventricular, BRE, FA) com semiologia cardíaca. Fi- dor torácica e dispneia.
que esperto, porque a maioria das perguntas são Alternativa A: INCORRETA. Na IAo o sopro é diastóli-
a respeito da estenose aórtica, diagnóstico que a co aspirativo e os pulsos são amplos (em martelo
questão já oferece. d’água).
Alternativa A: CORRETA. A segunda bulha é conse- Alternativa B: INCORRETA. Neste caso, o sopro é sis-
quente do fechamento das valvas aórticas e pulmo- tólico regurgitativo (em platô) e não há alteração do
nar; na estenose aórtica há um prejuízo na abertura pulso periférico.
dessa valva e, consequentemente, seu fechamento
Alternativa C: CORRETA. O sopro messosistólico (tam-
é menor, reduzindo o som dessa bulha.
bém chamado de ejetivo) é típico da EAo, associada
Alternativa B: CORRETA. O desdobramento paradoxal a redução de pulsos periféricos (pulso parvus et
ocorre quando há desdobramento de B2 durante a tardus). A presença de B4 indica disfunção dias-
expiração, por atraso no fechamento da valva aórtica tólica e o desvio de ictus, a hipertrofia ventricular.
(ao contrário do desdobramento típico, que ocorre
Alternativa D: INCORRETA. O sopro nesse caso é o
na inspiração, com atraso do fechamento da valva
ruflar diastólico com reforço pré-sistólico.
pulmonar). Suas principais causas são o bloqueio
de ramo esquerdo e a estenose aórtica. ✔ resposta:
Alternativa C: CORRETA. Com a redução na abertu-
ra da valva aórtica, o sangue sofre uma alteração Questão 3 dificuldade:   
em seu fluxo ao passar por ela, dando origem a
um sopro sistólico (mesossistólico ou em padrão Y Dica do professor: A questão pede para avaliarmos
crescente-decrescente, ficando mais intenso no qual dos traçados representa melhor o pulso veno-
meio da sístole, quando o fluxo é maior), mais in- so jugular. O pulso venoso representa a pressão no
tenso no segundo espaço intercostal direito, com átrio direito. No enunciado da questão é descrito
irradiação cervical. um sopro sistólico em foco tricúspide, sopro de
insuficiência tricúspide. Na insuficiência tricúspide
Alternativa D: INCORRETA. A quarta bulha ocorre ao
há um escape de sangue do ventrículo para o átrio
final da diástole, no momento da contração atrial
no momento da sístole. Portanto, haverá no traça-
(“B quátrio”). Na FA não há contração atrial; por-
do, uma onda V gigante no momento da sístole.
tanto, não há B4.
Repare que os gráficos das ondas venosas foram
✔ resposta: correlacionados temporalmente a um gráfico de
eletrocardiograma, para que possamos identificar
o momento da sístole, ou seja, durante o QRS.

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Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

Alternativa A: INCORRETA. Esse traçado corresponde O sopro com ruflar diastólico é clássico da este-
a um pulso venoso normal. nose mitral, podendo estar presente também na
estenose tricúspide.
Alternativa B: CORRETA. No momento do QRS (sístole
do VD), ocorre uma onda positiva (onda V) gigante. O atrito pericárdico pode ser auscultado com um
ruído áspero, mais audível na diástole ventricular,
Alternativa C: INCORRETA. Nesse traçado, podemos com o doente sentado, inclinado para frente e em
observar que ocorre aumento da onda A (ocorre expiração forçada. Ocorre na pericardite aguda.
após a contração atrial – onda P no ECG), que acon-
tece em situações de prejuízo ao esvaziamento do ✔ resposta:
AD (como mixoma atrial, estenose tricúspide) ou
quando arritmias causam contração atrial contra
Questão 5 dificuldade:  
valva tricúspide fechada (BAVT e taquicardia de
reentrada nodal). Y Dica do professor: Mulher com passado de febre
Alternativa D: INCORRETA. Neste caso temos o des- reumática apresenta uma provável valvopatia. Qual
censo Y proeminente, que ocorre na pericardite a principal valva acometida na febre reumática? Mi-
constritiva e na cardiomiopatia restritiva. tral. Qual a sequela valvar crônica mais comum na
febre reumática? Estenose mitral, com sopro dias-
✔ resposta: tólico em foco mitral, chamado ruflar diastólico.
Além disso, possui um reforço pré-sistólico, devido
à contração atrial, no final da diástole. Dessa manei-
Questão 4 dificuldade:    ra está representada no gráfico (sopro entre B2 e
B1, ou seja, diastólico, com reforço pré-sistólico, ou
Y Dica do professor: seja, antes de B1). Na história natural da estenose
Coluna 1: mitral, o átrio esquerdo vai tendo dificuldade para
se esvaziar. Ele começa a dilatar, causando reper-
O pulso parvus et tardus é encontrado principalmente
cussão retrógrada, e assim, congestão pulmonar.
nas situações de estenose aórtica, sendo caracte-
Lembre-se que estenose mitral é a única valvopatia
rizado por um pulso de menor intensidade e maior
esquerda que poupa o VE.
duração. Pode ser encontrado também em casos
de insuficiência cardíaca e estados hipovolêmicos. ✔ resposta:

O pulso bisferiens é um pulso bifásico, com pico


duplo a cada ciclo cardíaco, podendo ser encon- Questão 6 dificuldade:  
trado em casos de insuficiência aórtica associada à
estenose aórtica, ou ainda em casos de insuficiência Y Dica do professor: O sopro diastólico (entre B2 e
aórtica grave e miocardiopatia hipertrófica. B1) em formato decrescente, também chamado
de aspirativo ocorre na Insuficiência Aórtica (IAo),
O desdobramento de B1 pode ocorrer na presença patologia que pode estar associada à espondilite
de bloqueio de ramo direito ou estenose tricúspide, anquilosante.
bem como na Anomalia de Ebstein, uma malforma-
ção cardíaca. A IAo caracteriza-se pelo fluxo sanguíneo retró-
grado da aorta para o ventrículo esquerdo durante
O desdobramento amplo de B2 pode ocorrer também a diástole, devido à incompetência do mecanismo
na presença de bloqueio de ramo direito, além de de fechamento valvar aórtico. Podemos observar
poder ocorrer na estenose pulmonar e insuficiência diversos achados semiológicos dessa patologia
mitral. relacionados ao aumento da pressão de pulso (dife-
O sopro telessistólico, ou seja, ao final da sístole, é rença entre a PAS e PAD), como o Sinal de Muller, o
característico do prolapso de valva mitral, associado qual é caracterizado pela pulsação da úvula.
à hiperfonese de B1 e estalido de abertura. ✔ resposta:

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Semiologia e valvopatias cardíacas

Questão 7 dificuldade:   Alternativa E: INCORRETA. Nesse caso seria igual ao da


Estenose Aórtica, ou seja, um sopro sistólico ejetivo.
Y Dica do professor: Durante a diástole ocorre o en-
chimento dos ventrículos, a partir da passagem de ✔ resposta:
sangue pelas válvulas tricuspide e mitral. Na pre-
sença de uma estenose mitral, o sangue passará de
Questão 9 dificuldade:   
forma turbilhonada, causando um sopro diastólico
em foco mitral. Lembre-se também dos 3 sinais Y Dica do professor: A valvulopatia característica da
semiológicos que desaparecem em presença de cardiopatia reumática crônica é a estenose mitral.
FA: a onda A do pulso venoso, a quarta bulha (B4 Clinicamente, a estenose mitral se manifesta por
– para lembra B-quátrio) e o reforço pré-sistólico sopro diastólico, melhor audível com a campânula,
do sopro em ruflar. em foco mitral. A irradiação frequentemente ocorre
Alternativa A: CORRETA. A presença de um sopro para região axilar.
diastólico em ruflar no foco mitral é característico Alternativa A: INCORRETA. O sopro aqui representado
da estenose mitral. A ausência de reforço ocorre é sistólico (está entre B1 e B2) e é constante, em
pela FA. platô, não muda de intensidade, portanto é o sopro
Alternativa B: INCORRETA. Um sopro holossistólico sistólico regurgitativo, comum na insuficiência mi-
em foco mitral é indicativo de regurgitação mitral. tral e tricúspide.
Alternativa C: INCORRETA. A quarta bulha pode ser Alternativa B: CORRETA. Nesse caso, temos sopro
um achado fisiológico ou patológico apontando in- diastólico (entre B2 e B1), com estalido de abertura
suficiência diastólica. Como depende da contração mitral e reforço pré-sistólico. Este é o sopro clássi-
atrial, desaparece na presença de FA. co da estenose mitral.

Alternativa D: INCORRETA. O desdobramento de B1 Alternativa C: INCORRETA. Temos um sopro sistóli-


ocorre em casos de bloqueios de ramo direito, CIA co que aumento de intensidade no meio da sístole
ou estenose tricúspide. (mesossistólico). Esse sopro é chamado de ejetivo
ou em “crescendo e decrescendo, típico da este-
✔ resposta: nose aórtica.
Alternativa D: INCORRETA. Temos um sopro seme-
Questão 8 dificuldade:   lhante ao da letra C, com a diferença que há des-
dobramento da B2 nos componentes aórtico (A2)
Y Dica do professor: É fundamental saber as carac- e pulmonar (P2). Note que o sopro termina em P2,
terísticas dos quatro principais sopros. Falando portanto trata-se de um sopro da estenose pulmonar.
sobre os sopros diastólicos, existem 2 principais:
✔ resposta:
o sopro aspirativo (em descrescendo) que ocorre
na insuficiência aórtica e pulmonar; e o sopros em
ruflar associado ao estalido de abertura mitral (so- Questão 10 dificuldade:   
pro da estenose mitral).
Alternativa A: INCORRETA. Nesse caso, seria um so-
Y Dica do professor: Na radiografia em questão nos
pro sistólico ejetivo (em diamante ou crescendo e chama atenção o aumento da área cardíaca, com
decrescendo). dilatação do VE, associada a dilatação do átrio de
mesmo lado, o que gera o característico sinal do
Alternativa B: INCORRETA. Nesse caso, seria um so- “duplo contorno” na margem direita do mediastino.
pro sistólico regurgitativo (em platô). Também podemos ver a presença de uma prótese
Alternativa C: CORRETA. Vide a dica acima. valvar de localização inferior à radiografia em perfil.
Alternativa D: INCORRETA. Como dito, teríamos um Alternativa A: CORRETA. Na IM há um fechamento
sopro diastólico, mas aspirativo, sem estalido de incompleto da valva mitral, determinando reflu-
abertura mitral. xo de sangue do ventrículo para o átrio esquerdo

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Semiologia e valvopatias cardíacas Cardiologia

durante a sístole ventricular. Como consequência,


temos um aumento da pressão e dilatação atrial,
que pode evoluir com hipertensão pulmonar. Inicial-
mente o VE é poupado, porém, com a evolução, há
aumento na pressão dessa câmara, com dilatação
ventricular e insuficiência cardíaca.
Alternativa B: INCORRETA. Na EM esperaríamos uma
dilatação do átrio esquerdo e congestão pulmonar,
mas sem dilatação do ventrículo.
Alternativa C: INCORRETA. Na EM esperaríamos uma
dilatação do átrio esquerdo e congestão pulmonar,
mas sem dilatação do VE.
Alternativa D: INCORRETA. Na EA temos uma hiper-
trofia concêntrica de VE, com pouco aumento da
área cardíaca. Nesse caso esperaríamos uma valva
de posição mais superior.
✔ resposta:

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