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Consultor Jurídico > Áreas > Civil > Equilíbrio na saída societária:
estratégias e desafios na avaliação de haveres

Opinião

Equilíbrio na saída societária: estratégias e desafios


na avaliação de haveres

Autor

Patricia Mancini
é advogada de M&A e Societário do VBSO Advogados.

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6 de abril de 2024, 9h21

• Civil
• Empresarial
• Societário
A determinação dos valores devidos ao sócio que se retira, falece ou é excluído de uma sociedade
limitada é um tema que causa controvérsia, principalmente se a regra não está clara no contrato social. Na
maioria dos casos, o sócio retirante, excluído, ou seus herdeiros buscam receber o maior valor possível
pela sua participação o quanto antes, enquanto, do outro lado, a sociedade e os sócios remanescentes
procuram pagar o montante mais baixo e em um prazo mais extenso.
O Código Civil, que regula as sociedades limitadas, prevê que, no caso de omissão do contrato social, o
valor da quota será apurado com base na “situação patrimonial da sociedade, à data da resolução”,
mediante elaboração de balanço patrimonial. O Código de Processo Civil, por sua vez, traz a regra de
como o juiz deve apurar tais haveres, no caso de uma disputa judicial sobre o tema:

“Artigo Art. 606. Em caso de omissão do contrato social, o juiz definirá, como critério de
apuração de haveres, o valor patrimonial apurado em balanço de determinação, tomando-se
por referência a data da resolução e avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e

intangíveis, a preço de saída, além do passivo também a ser apurado de igual forma” [1]
Apesar de a regra do Código Civil ser clara e objetiva, o Código de Processo Civil criou um problema ao
trazer a expressão “avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de saída, além
do passivo”, tendo suscitado interpretações das mais variadas pelos juízes. A discussão gira em torno dos
critérios para avaliação dos ativos e passivos a “preço de saída” e quais os valores que devem ser
considerados na hipótese de uma disputa societária sobre o tema.

A jurisprudência utilizava, majoritariamente, o método do fluxo de caixa descontado para avaliação de

haveres, suportada por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) [2] e do Supremo Tribunal de
Justiça (STJ) [3]. Essas cortes entendiam que a adoção do método de fluxo de caixa descontado era
adequada para a avaliação do preço de saída do sócio retirante, falecido ou excluído, por exprimir melhor
a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma empresa.

Em 2021, contudo, o STJ proferiu decisão alterando o entendimento para a adoção do valor patrimonial

aferido no âmbito do balanço de determinação [4]. A mais recente decisão foi proferida em 22 de

agosto de 2023 pela 4ª Turma


[5], que discutiu a inclusão, ou não, dos lucros futuros da sociedade no
cálculo da apuração dos haveres, uma vez que o contrato social não regrou este tópico.
A Turma, por unanimidade, confirmou que o critério de apuração de haveres que prevalecerá é o
estabelecido no contrato social da sociedade, respeitando a obrigatoriedade dos contratos e a autonomia

da vontade das partes, reforçando o estabelecido no artigo 1.031, do Código Civil [6]. Ademais, a
Turma ratificou o entendimento proferido em 2021 e manifestou que, na omissão do contrato social,
deveria ser seguido o critério legal, com adoção do valor patrimonial da sociedade.

Spacca

Vale ressaltar que a apuração de haveres difere drasticamente da avaliação empresarial para alienação de
participação societária ou fusões e aquisições, em que o método de fluxo de caixa descontado pode ser
adotado, pois há uma avaliação da sociedade como um todo no contexto de transação empresarial, que
visa olhar para o futuro de uma empresa e tudo que ela é, bem como o que ela tem potencial de oferecer.

A utilização de métodos que utilizam de projeções não concretas implica na inclusão de valores que ainda
não compõem de fato o patrimônio da sociedade, assim, caso considerados valores meramente projetados,
o sócio retirante estaria se beneficiando, em detrimento dos demais sócios, pois aquele não participará do
risco ou despenderá esforços durante o período da projeção ou mesmo durante o restante do exercício
social em que se retirou.

Entendimento dos tribunais

Seguindo a orientação das cortes superiores, os tribunais estaduais têm suportado o entendimento de que
o critério legal adotado anteriormente não é o do melhor valor em benefício do sócio retirante, mas é
aquele conservador, baseado no valor patrimonial contábil da sociedade, em linha com o conceito de
preservação da sociedade que remanesce, e não em prol do valor máximo em favor do sócio que deixa a

sociedade. [7]
Nessa linha, a utilização do método de fluxo de caixa descontado para apuração de haveres teria
implicações prejudiciais para a sociedade por desestimular os sócios na atividade empresarial continuada,
por incentivar a sua retirada da sociedade, e, assim, desestruturar a sociedade pela instabilidade do quadro
societário e, principalmente, por beneficiar injustamente o sócio retirante, em prejuízo dos sócios
remanescentes.

Por outro lado, o método de avaliação da sociedade e a adoção do valor patrimonial continuam sendo
frequentemente questionados pelos sócios retirantes, excluídos ou, no caso do sócio falecido, seus
herdeiros.

Comumente empresas familiares não possuem uma contabilidade que reflete, de fato, o valor do negócio,
havendo ativos intangíveis significativos, como uma marca consolidada, carteira de clientes, ou
tecnologia, não contabilizados, ou até a falta de separação entre o patrimônio da empresa e dos sócios, em
que ativos das pessoas físicas são usados na operação e, portanto, não são adequadamente contabilizados
pelo método do valor patrimonial.

Assim, a aplicação cega de qualquer método contábil pode resultar em uma avaliação não fidedigna do
real valor da sociedade, surgindo a necessidade de uma abordagem diferente sobre qual metodologia de
apuração de haveres será adotada entre as partes. É comum que estes detalhes do contrato social passem
desapercebidos, já que podem ser considerados como secundários ou difíceis de acontecer. Afinal,
ninguém está pensando em dissolução ou retirada de sócios no começo de uma nova parceria!

Todavia, muitos dos problemas citados acima podem ser evitados com a negociação de cláusulas
contratuais que tragam as regras claras, objetivas e expressamente acordadas sobre o valor de saída no
caso de exclusão, falecimento ou retirada de um dos sócios, bem como a forma de calculá-la. Um contrato
social bem redigido minimiza o risco de disputas prolongadas e custosas entre os sócios e possivelmente
prejudiciais ao negócio.

[1] Artigo 606, do Código de Processo Civil.

[4] REsp 1.877.331/SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em
13/04/2021, DJe 14/04/2021.
[5] Recurso Especial 1.904.252/RS, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em
22/08/2023, DJe 01/09/2023.

[6] In verbis: “Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da
sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual
em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço
especialmente levantado.”

[7] Agravo de Instrumento nº 2092878-07.2023.8.26.0000, pela Primeira Câmara Reservada de Direito


Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo.

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Patricia Mancini
é advogada de M&A e Societário do VBSO Advogados.

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Tags: Código civil sociedade limitada

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