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GESTA0
DAS ORGANIZACOES
r aw
McGRAW-HILL
LISBOA • RIO DE JANEIRO • BOGOTA • BUENOS AIRES • CARACAS • GUATEMALA
MADRID • MEXICO • NOVA IORQUE • PANAMA • SAN JUAN • SANTIAGO
OBJECTIVOS
■ Explicar o conceito de lideranca e a sua diferenca em relacdo a gestdo.
■ Descrever a abordagem da lideranca baseada nos tracos caracteristicos do lider e
a teoria do lider carismatico.
■ Analisar os diversos estudos sobre a lideranca baseados nas teorias comporta-
mentais.
■ Analisar as teorias sobre a lideranca numa perspectiva situacional ou
contingencial.
■ Identificar os factores – relacionados corn o gestor, corn os trabalhadores ou corn
a situacdo – que afectam a escolha do estilo de lideranca nas empresas.
■ Perspectivar a evolucdo futura das teorias explicativas da lideranca.
O grande desafio da gestao efectiva é con- outras, a qual é alheia a estrutura formal da orga-
duzir a organizagao em direccao aos objectivos nizagao e que, nalguns casos, é tao importante ou
previamente definidos. 0 sucesso de urn gestor mais do que a influencia formal. Isto é, os lideres
mede-se fundamentalmente pela sua capacidade podem surgir dentro do grupo, eventualmente de
em conseguir influenciar e encorajar os seus forma espontanea, ou podem surgir pela formal
subordinados a atingir elevados niveis de desem- nomeagao para cargos de chefia.
penho, tendo em conta os recursos, as capaci- A diferenca entre gestao e lideranga é bem
dades e a tecnologia disponlveis. evidenciada numa imagem expressiva de John
Lideranca é o processo de influenciar outros Kotter ( 1) : "Em tempos de paz, urn exercito sobre-
de modo a conseguir que eles fagam o que o lider vive sem problemas se houver uma boa gestao ao
quer que seja feito, ou ainda, a capacidade para longo da linha hierarquica em simultaneo com
influenciar urn grupo a actuar no sentido da uma boa lideranga no topo. Mas em tempo de
prossecucao dos objectivos do grupo. guerra, torna-se necessaria a existencia de uma
Sendo apenas uma das muitas tarefas de urn lideranca competente em todos os niveis da hie-
gestor, a forma como se exerce tern enormes. rarquia." De facto, ninguem pOe a questa° de
repercussOes nao so na evolucao da empresa mas como se gerem pessoas no campo de batalha.
tambem na forma como a empresa como orga- Elas precisam é de ser chefiadas, ou seja, lidera-
nizagao é vista quer pelos seus empregados quer das. Para Jonh Kotter, a gestao das empresas tern
pelos restantes stakeholders. que ver acima de tudo corn a complexidade — es-
A importancia da lideranga na gestao das truturas organizacionais, orgamentos, etc.; a lide-
organizagOes é tal, que muitas vezes tende a con- ranca tern que ver sobretudo corn a mudanga.
fundir-se lideranga corn gestao. Contudo, nem De modo geral, pode dizer-se que a gestao
todos os lideres sao gestores. Do mesmo modo, tern urn escopo mais alargado do que a lideranca,
nem todos os gestores, so porque o sac), sao uma vez que abrange para alem de aspectos corn-
res. Apenas porque a organizagao atribui formal- portamentais, outros que nao tern que ver directa-
mente a urn gestor determinados direitos, nada mente corn o comportamento das pessoas.
garante que ele seja urn lider efectivo. Por outro Resumindo, podemos afirmar que urn born
lado, constata-se que em qualquer organizagao, gestor a necessariamente um born lider, mas urn
empresas incluidas, se verifica a existencia de bom lider nao é necessariamente urn gestor; de
lideranga informal, isto é, a capacidade de algu- facto, pode nao ser urn gestor efectivo (caso do
mas pessoas para influenciar o comportamento de lider informal).
Basicamente, identificam-se quatro estilos E tipico daquele que esta de acordo corn a teo-
diferentes de lideranca: autocratic°, participativo, ria X de McGregor e que, portanto, acredita que
democratic° e laissez-faire. as pessoas, de modo geral, nao tern ambigOes,
Urn lider autocrdtico a aquele que comunica evitam o trabalho e tern de ser coagidas. Este tipo
aos seus subordinados o que é que eles tem de de bider observa-se sobretudo, e algumas vezes
fazer e espera ser obedecido sem problemas. corn sucesso, quando se trata de tarefas simples,
140 DIREccAo
altamente repetitivas, e as relacOes com os subor- afirmado que a isso devem os altos indices de
dinados se processam em periodos curtos (por produtividade que alcancam.
exemplo, algumas tarefas de construcdo civil No estilo de lideranca laissez-faire, o lider,
corn empregados temporarios). como o prOprio nome sugere, nab esta envolvi-
O bider participativo é o que envolve os do no trabalho do grupo; deixa que os seus
subordinados na preparacao da tomada de de- subordinados tomem as suas prOprias decis6es.
cisOes mas retem a autoridade final, isto é, tern E urn estilo de lideranga dificilmente aceitavel,
sempre a altima palavra. a nao ser em casos excepcionais em que os mem-
O hider democratico é aquele que tenta fazer bros de grupo sdo especialistas, bem motivados,
o que a maioria dos subordinados deseja. Muitos como podera acontecer corn alguns departamen-
gestores que praticam este tipo de lideranca tem tos de cientistas, por exemplo.
que provocou na companhia e pela forma como refere a sua preparagao para fungi:5es de lideranca.
as fez, é urn exemplo tipico de urn lider de Urn conhecido gestor e lfder afirmava recente-
mente que a medida do seu sucesso profissional
E importante referir que o born lider desem- deveria ser feita corn base na analise do rdimero
penha urn papel importante no desenvolvimento de lideres que conseguiu fazer.
dos seus subordinados, sobretudo no que se
Estrutura
ainda centralizado na copula, mas existe ja e na preparagao das decisties. E o estilo re-
alguma delegagao de autoridade, funda- comendado por Likert, sendo no entanto
mentalmente para actividades de caracter ainda pouco encontrado na pratica. Encon-
rotineiro. Pode encontrar-se em empresas tra-se fundamentalmente em empresas que
industriais que utilizam tecnologia um utilizam tecnologia sofisticada e onde o
pouco mais evoluida e mao-de-obra mais pessoal, altamente especializado e desen-
especializada, como, por exemplo, nas volvido, exerce actividade complexa – em-
linhas de montagem de algumas empresas presas de servigos de consultadoria em
industriais e por vezes, ainda, nos escritd- engenharia ou gestao, por exemplo.
rios de algumas fabricas;
■ Consultivo: o lider consulta os subordina- A relagao entre os quatro sistemas de lide-
dos antes de estabelecer os objectivos e ranga de Likert e as teorias X e Y de McGregor
tomar as decisCies. E geralmente utilizado pode ver-se na elucidativa Figura 7.2.
em empresas de servigos, como bancos e 0 ultimo estilo de lideranga, o participa-
outras instituicties financeiras, e em certas tive, conduz a denominada teoria dos elos de
areas administrativas de algumas empresas ligartio, segundo a qual a empresa é vista como
industriais mais evoluidas em termos de urn conjunto de grupos que, de certa forma,
relagOes interpessoais; parcialmente se sobrepOem e ligam entre si por
■ Participativo: existe um envolvimento total urn elemento comum, conforme se pode ver na
dos empregados na definicao dos objectivos Figura 7.3.
Teoria Y
Teoria X
Nivel intermedio
7.3.4. A GRELHA DE GESTAO DE BLAKE desempenho eram os que adoptavam urn estilo de
E MOUTON lideranca (9,9) isto e, o estilo que corresponde ao
grau mais elevado de preocupacdo quer corn as
Uma das abordagem mais divulgadas sobre a tarefas quer corn as pessoas.
definicdo dos estilos de lideranca é a chamada Blake e Mouton afirmam que, de acordo
grelha de gest& desenvolvida nos anos 60 por corn os seus trabalhos, os gestores que adop-
Robert Blake e Jane Mouton (5) . Este modelo taram o estilo (9,9) obtiveram melhores resul-
baseia-se nas pesquisas anteriores, nomeada- tados, menor rotacdo do pessoal, reducao do
mente os estudos de Ohio, e consiste numa ma- absentismo e maior satisfacdo dos empregados.
triz bidimensional — preocupacdo corn as pessoas Blake e Mouton e os seus aderentes fizeram
e preocupacdo coin a producao. Cada uma des- ininneros seminarios e sess6es de formacdo por
tas duas dimensOes corresponde a uma variavel todo o mundo e estimularam o use do enriqueci-
representada em cada urn dos eixos cartesianos mento das tarefas e das decisOes participativas
xx e yy variando de 1 a 9, do que resultam 81 corn vista a criacdo de uma situacdo em que quer
posicOes diferentes como se y e no quadro se- a organizacdo quer os seus membros estejam em
guinte (Figura 7.4). sintonia num maxim() e igual nivel de preo-
De acordo coin as pesquisas de Blake e cupacdo.
Mouton, os gestores corn melhor indice de
LIDERANCA 145
corn a teoria das expectativas, de Vroom, sobre conhece bem as tarefas e portanto ndo participa
a motivacao das pessoas. Considera que o desem- nas decisifies, e urn comportamento apoiante com
penho dos trabalhadores pode ser melhorado pelo urn empregado experiente que esta preocupado
litter que lhes assegure, e ajude a atingir, recom- em alcancar os objectivos definidos.
pensas desejadas como consequencia da realiza- A natureza da situacdo que o lfder enfrenta
cdo dos objectivos da organizacdo. Passa pela depende de dois grupos de factores ou caracteris-
clarificando, por parte do Hder, do comporta- ticas contingenciais: caracteristicas do ambience
mento que deve ser accionado para ganhar aque- (de tarefa) que engloba o tipo de trabalho a efec-
las recompensas. tuar, o sistema formal de autoridade e o grupo de
De acordo corn esta teoria, urn desempenho dos trabalho, e caracterfsticas dos subordinados, que
subordinados resulta mais eficaz se o lfder define abrange o grau de controlo necessario (de acor-
claramente a tarefa, proporciona formacao aos tra- do corn a sua percepcdo), a sua experiencia e
balhadores, ajuda-os a trabalhar corn eficacia e aptidOes. Os factores ambientais (de tarefa) influ-
estabelece recompensas adequadas directamente enciam o comportamento dos trabalhadores em
relacionadas corn o seu nivel de desempenho. termos de motivacao, enquanto as caracterfsticas
House identificou quatro tipos de comporta- dos subordinados afectam a sua satisfacao no tra-
mento de lideranca – directivo, apoiante, partici- balho e a aceitacdo do hider. Adoptando o estilo
pativo e orientador – e sugere que o hider, para de lideranca mais apropriado de acordo corn a
ter sucesso, deve ser capaz de adoptar cada urn sua interpretacäo dos dois grupos de factores
dos comportamentos de acordo corn a situacdo contingenciais, o hider pode aumentar a moti-
que enfrenta. Por exemplo, urn hider devera vacdo e a satisfacdo no trabalho, clarificando os
provavelmente adoptar urn comportamento direc- objectivos e o caminho para os atingir, como se
tivo corn urn novo empregado que ainda ndo esquematiza na Figura 7.5.
Caracteristicas da tarefa
res
)ti-
os
se
Lideranca centralizada
nos subordinados
Lideranca centralizada •
no chefe
Area de liberdade
dos subordinados
Ambiente interno
Ambiente extern()
■ Sao bem-educados e experientes no seu tra- cdo, seja ela qual for. Por outran palavras, uma
balho; pessoa torna-se lider ndo apenas devido aos
■ Procuram responsabilidades na tomada de atributos da sua personalidade mas tambern em
decisoes; virtude da coexistencia de varios factores situa-
■ Tern a expectativa de urn estilo de lideranca cionais e da interaccdo entre o lider e os subor-
participante; dinados. De acordo corn esta teoria, sdo tres
■ Compreendem e assumem urn compromis- os principais factores que determinam se uma
so corn os objectivos da organizacdo. dada situacdo é favoravel ou desfavoravel ao
hider.
Se estas condicOes ndo se verificarem, o ges-
■ A relacao lider/subordinado, isto é, o grau
tor tenders a adoptar urn estilo de lideranca mais
de aceitacdo do lider pelos subordina-
autocratico.
dos;
Fundamentalmente, os gestores devem esco-
■ A estrutura da tarefa, ou seja, se os objec-
lher o estilo de lideranca que maximize as hip6-
tivos, as decisOes e as solucOes dos proble-
teses de eficacia. Os lideres mais eficazes sào -
mas est do clarificados (tarefa estruturada)
suficientemente flexiveis para seleccionar o estilo
ou ndo;
de lideranca que melhor se adeque as suas neces-
■ A posiccio de poder do litter, determinada
sidades bem como as necessidades dos seus
fundamentalmente pela sua autoridade for-
subordinados e da situacdo concreta. mal e pelo grau da influencia sobre as
Esta teoria foi inicialmente apresentada em
recompensas, punicOes, etc.
1953, sendo posteriormente revista em 1973 na
"Harvard Business Review" (8) , tendo entdo os Fiedler resumiu as situacOes de maior ou me-
seus autores sublinhado a necessidade de dever
nor grau de favorabilidade (que se traduz na
tambem ser tidas em conta as forcas do ambiente
influencia de controlo do grupo) num quadro,
da organizacdo bem como do ambiente geral ou
onde sdo apresentadas oito situacOes (Figura 7.7).
social tais como a influencia das associacOes dos
0 lider tern a influencia maxima na situacdo
trabalhadores, as pressOes para a responsa-
1 e a influencia minima na situacdo 8.
bilidade social dos gestores e das empresas, as
Os resultados dos trabalhos de Fiedler con-
associacoes de consumidores, os movimentos
duziram a conclusdo de que:
ecolOgicos, etc., as quais questionam os direitos
de os gestores tomarem decisties sem tomarem ■ Em situacties muito favoraveis ou muito
em consideracdo interesses exteriores a organi- desfavoraveis, o lider corn elevada orien-
-
zacão. tag do para tarefas seria o mais eficaz;
■ Em situacOes intermedias, isto é, nem muito
favoraveis nem muito desfavoraveis, o lider
7.4.3. A TEORIA DA CONTINGENCIA orientado para as pessoas sera o mais efi-
DA LIDERANCA, DE FIEDLER caz.
0
/
P,,
\ .
1, \
a \
?r,
■
ti.-
Estrutura
Elevada Elevada Reduzida Reduzida Elevada Elevada Reduzida Reduzida
de tarefa
Posicio
Forte Fraca Forte Fraca Forte Fraca Forte Fraca
de poder
CII 0 gestor reline corn os subordinados ern grupo para discutir o problema mas toma sozinho
a decisao.
GII 0 gestor e os subordinados retinem-se ern grupo para discutir o problema, e a decisao é
conjunta.
6B : CI, CU
SIM
11: GII
MO
12: CII
Q AD PA PO PD
menos o custo da tomada da decisão, mais o Hersey e Blanchard defendem que urn lider
valor obtido do desenvolvimento das capacidades eficaz é aquele que consegue diagnosticar cor-
das pessoas atraves do comportamento no quadro rectamente a situagdo e o nivel de maturidade dos
da tomada de decisOes. subordinados e adoptar o estilo de lideranga que
Se Vroom, Yetton e Jago tem raid°, tal como mais se apropria. A sua teoria baseia-se na rela-
House, o lider, para ser eficaz, deve avaliar a gdo ou combinagdo estabelecida entre os seguin-
situagdo concreta e ajustar-se ou ajustar o seu tes tees elementos:
estilo de lideranga em conformidade. ■ Grau do comportamento orientado para
tarefas exibido pelo lider (supervisào enfati-
7.4.5. A TEORIA SITUACIONAL DE HERSERY zando os trabalhos a ser efectuados);
E BLANCHARD ■ Grau de comportamento relacional (consi-
deracdo pelas pessoas e apoio emocio-
Paul Hersey e Kenneth Blanchard (11) desen- nal);
volveram uma teoria situacional da lideranga que ■ Navel de maturidade dos subordinados.
tern tido consideravel aceitagdo por urn mimero
elevado de gestores de grandes empresas (IBM, 0 conceito-chave da teoria de Hersey e Blan-
Xerox, Mobil Oil, Bank America, Caterpillar, chard é o navel de maturidade dos subordinados,
etc.). Baseia-se na ideia de que o estilo de lide- o qual é definido nao como idade cm estabilidade
ranga mais eficaz varia de acordo corn a matu- psicolcigica mas, sim, como:
ridade dos subordinados e corn as caracteristicas ■ Urn desejo de realizacao;
da situacao. Este modelo usa duas dimensties, ■ A disposicdo para aceitar responsabilidades;
comportamento de tarefa e comportamento de ■ Educagdo, conhecimento e experiencia para
relagdo (ou relacionamento), as quais se asseme- a tarefa em questdo.
lham as classificagties usadas pelos investiga-
dores da Universidade de Ohio e pelos propo- Como as Figuras 7.10 e 7.11 mostram, o estilo
nentes da grelha de gestdo, Blake e Mouton. de lideranga mais apropriado varia de acordo
Comando (telling): Elevada orientacao para tarefas, reduzida M 1 : Os subordinados nao estao preparados nem
orientacao para pessoas; o lider define as fungo- es e diz as pes- corn desejos de tomar decisties.
soas quais as tarefas e quandp, como e onde devem executa-las. Nao sac) competentes nem autoconfiantes.
Enfatiza UM comportamento directivo (ou de comando)
. ,
Orientackt (selling): Elevada.orientacao para tarefas, elevada M2: Os subordinados ainda nao sao capazes, mas
orientacao pant as pessoas. 0 lider assume urn comportamento querem fazer correctatnente as tarefas. Estdo
directivo, mas apoiante. motivados, mas faltam-thes as necessarias
capacidades.
Apoio (Participating): Reduzida orientacao para as tarefas, ele- M3: As pessoas sac) capazes, mas nao estao mo-
vada orientagao para as pessoas. .0 Ilder e os subordinados tivadas para fazer o que o litter pretende.
partilham a tomada de decisOes, sendo o principal papel do !Icier
facilitar e comunicar.
Delegacao (Delegating): Reduzida orientacao para as tarefas, M4; Os subordinados sao capazes e estao motiVa-
recluzida orientacao para as pessoas. A orientacao e o apoio do dos para fazer o que Ifies 6 solicitado.
litter sao reduzido, por serem desnecessarios.
. (,.
IP ,
O
CC
0
0
4.4
Oo
'tNz"
Reduzido Elevado
Comportamento/tarefas
M4 M3 M2 MI
Grau de maturidade
corn o grau de maturidade dos subordinados. Sao "comando" corresponde ao 9,1; o estilo "orien-
propostos quatro estilos diferentes de lideranca tacao", ao 9,9; o estilo "participacao", ao 1,9, e
que correspondem a quatro faces (uma especie de o estilo "delegacao", ao 1,1.
ciclo de vida) de maturidade dos subordinados. Esta teoria gerou interesse porque reco-
Em resumo, a medida que os subordinados menda uma lideranca mais dinamica e fle-
vac) atingindo mais altos nlveis de maturidade, o )(Nei em substituicao de uma lideranca estatica.
hider responde ndo so corn reducao de controlo A motivacao, a capacidade e a experiencia dos
sobre as actividades mas tambern diminuindo o subordinados podem e devem ser constantemente
grau de comportamento de relacao (orientado avaliadas de modo a determinar qual o estilo ou
para as pessoas). combinacao de estilos que se torna mais aeon-
Como se pode verificar, ha uma estreita selhavel, tendo em atencao a alteracao das ne-
relacao entre o modelo de Hersey e Blanchard e cessidades dos empregados e as caracteristicas
a grelha de gestao de Blake e Mouton. 0 estilo da situacao concreta. Segundo Hersey e
L1DERANCA 153
Blanchard, se o estilo for apropriado, isso Assim, o gestor que queira desenvolver os
,contribuird lido so para motivar os subor- seus subordinados, aumentar a sua confianca e
dinados mas tambem para os ajudar a amadu- ajudA-los a melhor executarem o seu trabalho tera
recer. de mudar frequentemente de estilo.
A discussdo das teorias da lideranca parece dos a ser mais autocraticos, mas de facto o que
levar a concluir que os gestores decidem logica- se verifica é que a sua competéncia lhes (la maior
mente que estilo de lideranca adoptar, algumas flexibilidade na escolha do estilo de lideranca.
vezes mudando de estilo para se adaptarem a Assim, um gestor competente pode ser gentil e
diferentes situagOes. Mas a verdade é que mesmo apoiante em certas situacOes e actuar corn mais
quando a situacdo que o lider enfrenta é perfeita- autoridade e disciplina noutras.
mente conhecida, a escolha do estilo apropriado
nem sempre d Obvia. Na pratica, ha trés tipos de
7.5.2. FACTORES RELACIONADOS
factores importantes que geralmente estdo na
base da escolha do estilo de lideranca a adoptar COM OS TRABALHADORES
por urn gestor: os que se relacionam corn o As caracteristicas dos subordinados devem
gestor, os relativos aos subordinados e os que se tambem ser tidas em consideracao quando se vai
referem a situacäo em presenca. decidir o estilo de lideranca a adoptar. Funda-
mentalmente, ha que ter em conta:
7.5.1. FACTORES RELACIONADOS ■ 0 seu sentido etico em relactio ao trabalho.
COM 0 GESTOR Uns acham que o trabalho é agradavel,
satisfacao e realizacao; estes trabalhadores
Dois importantes aspectos relacionados corn o geralmente sdo faceis de liderar. Outros
gestor sdo fundamentais na escolha do estilo de veem no trabalho uma coisa desagradavel e
lideranca. Em primeiro lugar, as suas conviccOes unicamente o meio de obter dinheiro; talvez
bdsicas sobre as pessoas. Ha quem pense que as remuneracdo e castigos sejam os tinicos
pessoas devem ser coagidas para obterem melho- motivadores destas pessoas.
res resultados no seu trabalho. Outros pensam ■ A atitude em relay& a autoridade. Uns
"orien- que a melhor forma de obter bons resultados é entendem que a funcdo do gestor é dizer-lhes
1 1,9, e encorajar os trabalhadores. Ora, os gestores, de- o que ha para fazer, ndo tem de os ajudar a
vendo ser flexiveis na escolha do estilo de lide- tomar decisOes. Outros querem tomar todas as
jco- ranca adequado a cada situacdo, obtem meihores decisOes e oferecem sempre resistencia ao
resultados quando lideram de forma consistente exercicio da autoridade pelos superiores;
corn as suas crencas pessoais. ■ 0 grau de maturidade. Alguns trabalha-
dos Em segundo lugar, cada gestor tern a sua dores tern iniciativas quanto a forma de exe-
mente pr6pria experiencia e os seus pr6prios conheci- cuter o seu trabalho e procuram desenvol-
tilo ou mentos e competencia. De modo geral, os gesto- ver-se. Outros tem de ser observados de
aeon- res mais competentes sdo mais confiantes, e, por perto mesmo quando o que se lhes exige é
as ne- outro lado, os seus subordinados tem tendencia relativamente modesto;
isticas a questions-los menos. A primeira vista poderia ■ A experiencia e aptidoes. Como d obvio, o
;ey e parecer que os gestores deste tipo seriam tenta- estilo de lideranca apropriado para urn
154 DIREccAo
aprendiz nao deve ser o mesmo que é • Estilo de gesteio do leder de nivel superior.
aconselhavel para liderar um profissional Os gestores dos niveis intermedios tern
competente. Urn estilo mais directivo, de tendencia a liderar da mesma forma que sac)
comando, resultara melhor com o aprendiz, liderados. Se o gestor de nivel mais eleva-
enquanto o profissional pode nao precisar do é autocratic°, os outros gestores natural-
de qualquer forma de comando apertado. mente inclinar-se-do para o mesmo estilo.
Numa situacao deltas, de facto prevalecerao
7.5.3. FACTORES RELACIONADOS as comunicacOes descendentes, nab tendo as
COM A SITUA00 comunicacOes ascendentes, e por conse-
guinte a participacao nas decisOes, campo
Existe uma grande variedade de factores situa- fertil.
cionais que podem afectar o estilo de lideranca
de urn gestor. Fundamentalmente, deve ter-se em Mas infelizmente esta listagem nab respon-
conta os seguintes: de a pergunta: Que estilo de lideranca deve ser
■ Namero de membros do grupo. Os gestores adoptado? De facto, nao ha uma resposta abso-
podem prestar mais atencao individualizada luta. Nos anon 90, as estruturas das organizagOes
aos seus subordinados quando o grupo tornaram-se mais achatadas e mais descen-
mais pequeno. Corn o aumento do grupo, a tralizadas. Mas isso nao diminuiu (pelo contrario,
gestao por excepcao, nomeadamente, ten- aumentou) a necessidade de interdependencia,
ders a ser mais utilizada. colaboracao e comunicacao, o que implica fle-
■ Tipo de tarefas. De modo geral, as tarefas xibilidade no estilo de lideranca. Uma recente
que envolvem simples repeticoes podem revisao critica das teorias da contingencia da
permitir urn tipo de lideranca mais au- lideranca realca que, para que a lideranca situa-
tocratico. Quando as tarefas a executar sac) cional seja eficaz, o lider deve ter urn com-
mais complexas e criativas, mais liberdade portamento flexivel, e deve reconhecer que os
deve ser concedida. subordinados constituem eles prOprios uma das
■ SituacOes de crise. Em situacties de crise mais importantes determinantes situacionais. Esta
(por exemplo, dificuldades financeiras da constatagao envolve nao so uma cuidadosa obser-
-
empresa), os gestores tem tendencia a adop- vac do do comportamento dos subordinados mas
tar urn estilo de lideranca mais autocratic°, tambem a capacidade para interpretar cuida-
pressionando para o crescimento da produ- dosamente o significado desse comportamento.
cao e das vendas, por exemplo. 0 melhor que se pode sugerir d que os ges-
■ Objectivos da unidade. Se o objectivo fun- tores comecem por se avaliar a si prOprios,
damental é fazer o trabalho de imediato, depois aos seus subordinados e a situacao con-
pode justificar-se o use de uma forte autori- creta em que se encontram, e depois escolham o
dade. Tratando-se de urn projecto a prazo, estilo de lideranca que se mostre mais adequado.
os subordinados estarao mais receptivos a O estilo de lideranca devera mudar corn a altera-
aceitar simplesmente que lhes seja comuni- cao da composicao do grupo e corn as circuns-
cado o que tern a fazer. tancias do momento.
LIDERANcA 155
homens nas mesmas circunstancias. As mulheres lideranca nas organizacOes, nao se pode concluir
tendem a adoptar urn estilo mais democratico e apressadamente que os homens tern sempre van-
encorajam mais a participacao, com partilha do tagens sobre as mulheres para desempenhar
poder e da informacao, e o desenvolvimento dos papêis de lideranca. De facto, caracteristicas
subordinados. Enquanto os homens tern tendencia essenciais para uma boa lideranca encontram-se
para usar urn estilo de comando e controlo mais por vezes mais facilmente nas mulheres do que
apertado, a actuacao da mulher lider baseia-se nos homens. Em situagOes em que é impor-
mais no seu carisma, competencia, contacto e ca- tante a capacidade de negociacao, as mulheres
pacidade de relacionamento para influenciar o parecem desempenhar melhor essas tarefas, uma
comportamento dos subordinados. No entanto, a vez que sao menos inclinadas a centrar-se dema-
tendencia para uma lideranca mais democratica do siado nos ganhos e nas perdas e em competicäo
que a usualmente seguida pelos homens declina do que fazem os homens; antes encaram a nego-
quando a mulher lider se encontra num ambiente ciacao como uma relacao de continuidade e
de tarefas dominadas por homens. tentam ate fazer corn que a outra parte apareca
Apesar de os homens historicamente terem como urn vencedor aos olhos dos outros e a si
vindo a deter a predominancia de posicOes de prOpria.
CASO
hir No dia seguinte, o dr. Rocha Pereira encontrou o eng.° Cardoso e, depois dos cum-
n- primentos, disse-lhe: "O Cardoso, voce pos os tecnicos em pe de guerra. Parece que
ar temos ali urn problema agravado. 0 que é que se passa?" "Bern", respondeu Cardoso,
as "o que se passa a que eles estavam habituados a chegar e a sair quando lhes apetecia.
se Ha aqui calmaria em excesso. Eu espero bem que eles ja tenham percebido que estou
Lie disposto a tird-los da oestancia de repouso»."
•r-
es
la QUESTOES:
a-
lo 1. Qual parece ser o principal problema do Departarnento de Pesquisa e Desenvolvi-
D- mento da Nova Europa?
e 2. Comente a escolha do novo director.
3. Como classifica o seu estilo de lideranca de acordo corn as teorias estudadas?
si
OBJECTIVOS
■ Descrever o processo de comunicacdo, os seus elementos essenciais e referir o
que, numa empresa, deve ser comunicado aos trabalhadores.
■ Analisar a diversidade de canais de comunicagdo formais e informais presentee
numa organiza0o.
■ Identificar os varios tipos de rede de comunicacao e analisar as suas vantagens e
inconvenientes.
■ Analisar as barreiras tecnicas, de linguagem e psicolOgicas que impedem que os
objectivos das comunicaceies sejam atingidos.
■ Analisar as varias tecnicas que permitem desenvolver a capacidade de
comunicagdo.
■ Referir os efeitos das novas tecnologias na eficacia das comunicaciies nas
empresas.
8.1. 0 PROCESSO
Comegamos por definir gestdo como o pro- que recebem a informagäo que lhes é transmitida.
cesso de obter resultados corn o esforco de Sem receptor tambem nao ha comunicacao. Que
outros. Ora, para os subordinados saberem exac- interessa pregar no deserto se ninguem nos ouve?
tamente o que deles se pretende, que tipo de Urn professor so da aulas se tiver alunos pre-
tarefas devem desempenhar para melhor serem sentes, de contrario ningu6m o escuta, nao ha
atingidos os objectivos globais da empresa, transmissão de conhecimentos.
devem disso ter urn perfeito conhecimento, isto Alem do emissor, interessado em enviar a
6, deve existir comunicacdo eficaz. informacao, e do receptor, disposto a recebe-la,
Comunicacäo é o processo de transferencia de para haver comunicacao é necessario a existencia
informacOes, ideias, conhecimentos ou sentimen- de um meio de transmissdo, o canal. 0 canal de
tos entre as pessoas. Pode traduzir-se tanto na transmissiio 6, portanto, o meio atraves do qual
carta do correio como nas transmissOes via as comunicagOes sdo transmitidas entre as pes-
sat6lite, na conversa de corredor ou na ordem de soas, e pode revestir varias formas desde a voz
servico; mas a dificil conceber como é que os humana a rede de televisdo, passando pelo fax ou
objectivos duma organizacao podem ser atingidos pelo correio normal ou informatico.
sem comunicacdo.Tao sera exagero afirmar que Alan da existencia dos tits elementos fun-
os gestores que obtem sucesso em grande parte damentais que acabam de se referir – emissor,
o devem a sua capacidade para comunicar corn receptor e canal – para que haja comunicacao
as pessoas, e por essa via conseguir dar-lhes a efectiva é necessario que haja uma correspon-
conhecer os objectivos e o que delas se espera d8ncia tao perfeita quanto possivel entre o que
para que eles sejam atingidos. Esta provado que emitido e o que é recebido. Isto implica que o
os gestores passam a maior parte do seu tempo emissor deve codificar as suas mensagens de tal
comunicando corn os subordinados. modo, que estas, sendo perfeitamente transmi-
A comunicacao fornece, pois, os meios atra- tidas, serdo descodificadas pelo destinatario, o
y
es dos quais os membros da organizagdo podem receptor, de modo a atribuir-lhe o mesmo signifi-
ser induzidos a implemental: as acceies planeadas, cado. Se o receptor nao atribuir a informagdo
e a faze-lo motivados e com entusiasmo. recebida o mesmo significado que o emissor
0 processo de comunicacao implica a exis- pretendia, isto significa que houve falhas, ou
tencia de tres elementos: emissor, receptor e barreiras. Estas podem resultar de deficiencias na
canal de transmissdo. codificagdo (por exemplo, use de linguagem
Emissor é a pessoa ou entidade que tem uma inapropriada), de deficiencias no prOprio canal de
ideia ou mensagem para comunicar a outra pes- comunicacao, e diz-se que houve raid° (tentar
soa ou pessoas. E a fonte ou origem da comuni- comunicar urn assunto tecnico numa revista humo-
cacao, o primeiro elemento, sem o qual nao ha ristica) ou de problemas do prOprio receptor que
comunicacao. Por muito interessados que esteja- nao descodificou convenientemente a mensagem
mos em receber informaciies, se nä° houver que se pretendia transmitir (discurso ern sentido
quem nos queira dizer algo, nao ha comunicacao. figurado nao interpretado desse modo).
0 segundo elemento do processo de comu- A Figura 8.1, representando esquematica-
nicacao é o receptor, isto 6, a pessoa ou pessoas mente o processo de comunicacao, traduz o que
160 DIREccAo
Segundo inqueritos feitos por Henry Mintz- nicdo – saber o que deles se espera, bem como
berg e outros (1 ), grande parte dos gestores gasta ser ouvidos e entendidos pelos seus superiores,
cerca de 80% do seu tempo comunicando corn as o que ndo é conseguido se o sistema de
pessoas, quer internamente corn as que fazem
parte da empresa quer externamente corn clien-
tes, fornecedores, accionistas, financiadores,
entidades oficiais, etc. Em relacâo as pessoas que
constituem a empresa, os gestores de nivel inter-
medio geralmente gastam mais tempo a comunicar
corn os seus subordinados (comunicando vertical
descendente), menos corn os seus superiores
(comunicacäo vertical ascendente), situando-se o
tempo gasto corn os outros departamentos
(comunicacäo horizontal) numa zona intermedia,
conforme se mostra na Figura 8.2.
Os cientistas das areas do comportamento tern
demonstrado que a motivacao dos trabalhadores
d impossivel sem uma comunicando eficaz.
Os trabalhadores das empresas tern necessidade
de conhecer bem quais sdo os objectivos da orga- Figura 8.2 — Distribuicao aproximada do tempo
nizacdo – devem, alias, participar na sua defi- de comunicacäo do gestor
comuNicAgAo 161
comunicacdo na empresa nao funcionar correcta- estes devem receber informaceies, no minim,
mente, isto é, se houver significativas barreiras sobre:
a comunicacao. ■ Como se espera que as suas tarefas sejam
Por outro lado, a globalizagdo do ambiente desempenhadas;
extern° da empresa e a necessidade de mudanca, ■ Os salarios e, de modo geral, sistemas de
caracteristica dos tempos que correm, tornam retribuic ;
mais evidente a importancia da transmissão de ■ A sua posigdo na estrutura organizacional
informacdo e conhecimentos, mas simultanea- da empresa;
mente trazem maior complexidade ao sistema da ■ As alteracOes que possam afectar o futuro
comunicacdo e por vezes constituem uma bar- da empresa, nomeadamente a sua segu-
reira adicional a comunicacdo eficaz. rarica;
No ambiente interno da empresa, para man- ■ As polfticas, regras e procedimentos na
ter o clima de motivagdo dos trabalhadores, empresa.
A Figura 8.3 mostra-nos como numa organi- organizacdo formal. Transmitem acima de tudo
zagäo podem coexistir canais de comunicacdo de comunicaciies descendentes, ou seja, de superior
varios tipos. para subordinados, provavelmente as de maior
Comecaremos por distinguir canais de comu- frequencia (ordens de servico, regulamentos,
nicacdo formais dos canais de comunicagdo definicao de objectivos, etc.) bem como comu-
informais. Os primeiros, como a prOpria palavra nicacOes ascendentes, isto é, dos subordinados
diz, correspondem as linhas da hierarquia da para os superiores (como feedback sobre as
Horizontal
Ascendente
Diagonal
Descendente
comunicacoes descendentes, informaciies sobre a para comunicar aos seus subordinados infor-
evolucdo dos trabalhos, relato de problemas cor- macCies que lhes interessam. Deve no entanto
rentes, etc.). Os segundos, os canais de comu- ter-se presente que nem sempre sdo lidos por
nicacdo informais, transmitem informacao em todos os interessados. Acontece tambem que
todos as direccOes, nomeadamente laterals (entre algumas vezes sdo mantidos por muito tempo
membros da organizagdo situados no mesmo afixados, e desactualizados, sem qualquer utili-
nivel hierarquico), diagonais (entre membros da dade. Devem ser considerados apenas urn canal
mesma organizacdo nos diferentes departamentos de comunicacdo suplementar.
situados em niveis diferentes de hierarquia) e O jornal da empresa é usado por algumas
"em gavinha" (em varias direccOes diferentes e empresas, normalmente empresas de dimensão
simultaneamente envolvendo varios elementos de significativa, e destina-se geralmente a transmitir
diferentes departamentos). informacoes sobre novos produtos, a politica e
evolucdo da empresa, ou sobre outros assuntos de
8.3.1. CANAIS DE COMUNICA00 FORMAL interesse para os empregados. Informaceies sobre
DESCENDENTE actividades recreativas e culturais – premios ou
campeonatos em que houve participacdo – bem
Trata-se dos canais de comunicacdo mais im- como sobre os empregados que completam um
portantes nas empresas e que são, alias, muito determinado mimero de anos de bons servicos,
enfatizados pela maioria dos gestores. Quando säo uma oportunidade para desenvolver o espirito
falamos em comunicacdo na empresa entre gesto- da equipa, a coesäo e os valores morais e, de
res e subordinados, provavelmente o primeiro modo geral, a cultura da organizacdo.
tipo de comunicagdo de que nos lembramos é a As comunicacoes insertas nas folhas de
comunicacdo formal descendente. remuneracOes constituem outro canal adicional
Os canais de comunicacao formal descendente de comunicacão que, quando usado corn equi-
mais utilizados sac): a cadeia de comando, os aro, pode ter interesse para transmitir infor-
comunicados e avisos distribuidos ou afixados, o macOes importantes, uma vez que, em principio,
"jornal da empresa", comunicacoes insertas nas todos as leem.
folhas de salarios, os manuais, handbooks ou Os panfletos e handbooks sdo sobretudo
panfletos, o relatdrio anual, e os registos de voz usados para dar a conhecer aos novos membros
e imagem. da empresa, quando sac) admitidos, aspectos
A cadeia de comando é a linha ao longo da gerais sobre o funcionamento e politicas da
qual flui a autoridade do topo da organizacdo ate empresa, nomeadamente em termos de recursos
ao individuo situado no Ultimo escaldo da hierar- humanos.
quia. E o canal de comunicacdo usado corn maior Embora tendo presente que nem sempre sdo
frequencia e pode revestir a forma de comu- lidos por todos os interessados, devem tambem
nicacao oral ou escrita, sendo a mais frequente ser usados para comunicar a instituigdo de novo
a que se traduz no contacto pessoal face a face. sistema de avaliagdo de desempenho, piano so-
As comunicacoes escritas säo normalmente cial de complemento de reforma, etc.
usadas para assuntos de maior relevancia para a O relatdrio anual, que, alem das contas, con-
empresa e/ou para o gestor. E importante o papel tern informacOes sobre a actividade da empresa
dos gestores intermedios para que os destina- ao longo do ano, reflectindo a posicdo dos Orgdos
tarios finais, os trabalhadores, recebam a infor- de gestdo da empresa, destina-se fundamental-
macao corn o minim° de distorcdo possivel. mente aos accionistas. Contudo, tern vindo cada
A afixacao de avisos e comunicados é uma vez mais a despertar tambem o interesse dos
forma de que os gestores se servem muitas vezes empregados, alem do dos outros stakeholders.
COMUNIcACA0 163
Tambem os registos de voz e de imagem sac) departamentos de nivel hierarquico inferior para
por vezes usados para transmitir mensagens e os de nivel superior, de entre os canais de comu-
"aproximar" os gestores de topo dos empregados, nicacao formal ascendente mais relevantes desta-
quando isso nao é fisicamente viavel por qual- cam-se: a politica de "porta-aberta", o sistema de
quer motivo, nomeadamente pela dispersao sugestOes, os questionarios, o processo de recla-
geografica da organizacao. macOes, o auditor do pessoal e as reunities
Corn a evolucao das novas tecnologias da especiais.
informacao, outras formas de comunicagao tern A politica de "porta-aberta" consiste na per-
vindo a registar significativo desenvolvimento no missao de os trabalhadores terem acesso directo
mundo das empresas, como é, por exemplo, o ao gestor (portanto, sem a interferencia do seu
caso do sistema da videoconferencia, que per- superior directo) para colocarem as suas suges-
mite, em tempo real, o contacto por video e tele- tOes. Dentro de determinados limites, tern
fone simultaneamente entre varias pessoas situa- aspectos positivos (reducao das tensOes, aumento
das geograficamente nos locais mais diferentes e da confianca, acesso a informacao que doutro
distantes do globo ("reunitles sem se sair do modo o gestor provavelmente a nao conseguiria)
gabinete"), o do videotexto (acesso "remoio" mas pode tambem ter efeitos negativos, nomea-
atraves de urn monitor de computador ou de urn damente pelo consumo de tempo por parte dos
aparelho de TV a informacao armazenada e gestores, dificuldades de programacao pelas
transmitida por urn computador em local dife- eventuais interrupcOes, e, eventualmente, desen-
rente), ou o do teleprocessamento de dados, que volvimento de sentimentos de inseguranca por
permite aos trabalhadores efectuarem o seu traba- parte dos gestores intermedios.
lho consultando, registando e enviando infor- O sistema de sugestoes pode assumir varias
macOes fora dos locais tradicionais de trabalho — formas, nomeadamente a "caixa de sugestOes"
o escritOrio, por exemplo — eventualmente ate (onde os empregados colocam as sugestOes que
em suas pr6prias casas. lhes parecam ter interesse para melhorar qualquer
area da empresa) ou o formulario prOprio para o
8.3.2. CANAIS DE COMUNICA00 FORMAL efeito. Um aspecto importante a ter sempre em
ASCENDENTE conta é a consideracao em que deve ser tida
qualquer sugestao, informando sempre as pessoas
Os canais de comunicacao formal ascendente dos resultados ou decisOes corn ela relacionados.
sao considerados importantes sobretudo pelas Muitas vezes para as sugestOes mais importantes
empresas onde se pratica urn tipo de gestao parti- sat) atribuidos premios, pecuniarios ou outros,
cipativa. De facto, as comunicacOes ascendentes que funcionam como estimulo para os empre-
sac) importantes nao apenas como 'feedback", gados.
isto é, para que os gestores possam verificar Os questionarios geralmente sao anOnimos e
se as comunicacties descendentes foram bem permitem aos gestores identificar areas corn
entendidas, mas tambem para dar expressao ao problemas. Quando for o caso, devem os gestores
efectivo envolvimento dos trabalhadores nos desenvolver accOes tendentes a resolve-los; de
problemas da empresa. Revestem-se tambem de contrario, os trabalhadores acabarao por se desin-
importancia significativa quando urn gestor tern teressar em futuros questionarios.
de coordenar varias actividades e, consequente- O processo de reclamacoes consiste num pro-
mente, necessita de controlar mais cuidado- cesso sistematico de canalizacao das reclamacOes
samente a sua evolucao. por parte dos empregados em relacao a materias
Para alem dos relatOrios ou outros elementos que os afectam. Por partedos gestores ha quem
de informacao peri6dica fornecidos por parte dos os considere uma fonte de enfraquecimento da
164 DIREccAo
sua autoridade, mas ha tambem quem entenda ou mais pessoas encontram-se, dentro ou fora das
que a uma forma de evitar que pequenos proble- instalacties da empresa, no bar, no clube de que
mas se transformem em problemas maiores e de sao s6cios, durante uma partida de golfe ou
mais dificil controlo. quando väo a pesca, e trocam informacOes sobre
0 auditor do pessoal actua como "os olhos e a empresa em que trabalham, por vezes resol-
os ouvidos" do gestor, canalizando as reclama- vendo ou ajudando a resolver urn problema,
cOes e recomendando as acmes apropriadas. quem sabe?, a concretizar urn negOcio. A comu-
Pode ser de grande utilidade na resolugdo e no nicacdo informal, muitas vezes, existe porque as
s
evitar de conflitos, actuac ao que é geralmente pessoas sentem necessidade de informagOes que
desempenhada sem grande exuberfincia. o sistema de comunicacao formal da organizacao
As reuniOes especiais destinadas a discutir nao ihes fornece.
problemas especificos, sdo muitas vezes progra- A comunicando informal tanto pode ser
madas pelos gestores para obterem feedback dos lateral, por exemplo, dois gestores comunicando
seus colaboradores. ao mesmo nivel, como diagonal – comunicagao
entre duas pessoas de niveis hierarquicos dife-
rentes – e, quando usada eficazmente, pode ser
8.3.3. CANAIS DE COMUNICA00 INFORMAL uma importante fonte de informacOes para os
gestores.
A comunicando informal é a que é desen- Ao sistema de comunicacao informal costuma
volvida a margem da estrutura hierarquica, for- dar-se o nome de "gavinha" (grapewine) expres-
mal, da organizacdo. sdo que de facto a sua representacdo grafica
Geralmente anda associada ao tipo de rela- sugere, como se pode ver na Figura 8.4.
cionamento entre as pessoas independentemente Geralmente, as informacOes circulam mais
das suas posicOes na hierarquia da empresa. Duas rapidamente atraves do sistema de comunicando
informal, e os trabalhadores consideram-na uma ■ Funciona para alem dos muros da empresa
das primeiras fontes de informagao corrente. (alias, grande parte da comunicacao infor-
0 sistema de comunicagOes informais tern mal processa-se fora das horas e dos locais
quatro caracteristicas fundamentais: de trabalho).
■ As informacOes sac) transmitidas em todas Os gestores nao devem ignorar ou menos-
as direcgOes; prezar o sistema de comunicagOes informais na
■ A comunicacao a muito mais rapida, uma empresa, muito menos pensar em elimina-lo,
vez que nao tem os obstaculos que as normas o que seria impossivel. Pelo contrario, devem
e os procedimentos geralmente representam; tentar tirar o maximo partido da sua existencia,
■ E selectivo em relagao aos destinatarios; o que pode contribuir para aumentar a eficacia do
pode acontecer que se "contem as coisas" a sistema formal de comunicacao em beneficio da
uns mas nao a outros; agilidade da gestao.
grupo cuja comunicacao se processa fundamen- creto depende das caracteristicas dos membros do
talmente em circulo apresentam urn maior nivel grupo, das tarefas a executar e dos objectivos a
de satisfacao do que os que integram urn grupo atingir.
que comunica fundamentalmente em Y, o que se Por exemplo, urn grupo acabado de se cons-
deve, por um lado, a maior possibilidade de tituir, provavelmente, tera mais vantagens se
feedback, e por outro lado, a possibilidade de adoptar uma rede de comunicacao em roda,
partilhar responsabilidades e descentralizar as permitindo a passagem corn uma certa rapidez
decisOes, tal Como nos grupos caracterizados por de grande volume de comunicacdo, devida-
urn tipo de rede de comunicacdo de interligagdo mente filtrada (pelo elemento central). Mas para
total. urn grupo já constituldo em que os diversos
Na Figura 8.6 descrevem-se resumidamente as elementos se conhecem e tern experiencia de
caracteristicas de cada uma das redes de comu- trabalho conjunto, em que seja importante
nicacao referidas. analisar e avaliar alternativas, a discussäo aca-
E importante reter que a Unica melhor maneira bard por ser mais importante do que a filtragem
de estruturar a comunicacdo entre os membros de da informacdo, e as estruturas em circulo ou em
um dado grupo tido existe. A eficacia da confi- interligacäo total revelar-se-do mais apropria-
guracdo da rede de comunicacdo num caso con- das.
ComumcAcAo 167
REDE DE
COMUNICACAO
Interligacao
Em roda Em Y Em cadeia Circular
total
CARACTERISTICAS
seus colaboradores entendem outra diferente, leitura rapida pode traduzir-se em consideraveis
0 naturalmente que isso resulta em perdas de pro- economias de tempo corn o correspondente
dutividade e desvios em relacao aos objectivos acrescimo de produtividade.
pretendidos. 0 espfrito e capacidade de observartio podem
0 desenvolvimento da capacidade de comuni- contribuir muito significativamente para ampliar
cacao é portanto urn imperativo para qualquer a eficacia nas comunicagOes. Quantas pessoas,
gestor, independentemente do seu nivel de gestores, individuos, nao se prejudicam por nao
actuagao. A aprendizagem da comunicagao eficaz observarem atentamente o ambiente (mais ou
passa pelo desenvolvimento de alguns atributos, menos proximo) que as rodeia? E por isso que
3 nomeadamente: a empatia, o saber ouvir, tecnicas muitos gestores sao adeptos de deslocacOes
de leitura, observacao, a escolha de vocabulario, frequenter aos diversos locais de trabalho nas
a linguagem corporal e a comunicagao pela suas empresas observando a forma como decor-
acc 'do . rem as operagOes "no terreno", em vez de se
A empatia é a habilidade para se identificar limitarem a ler ou ouvir os relatos que lhes sao
corn os pensamentos e sentimentos de outra apresentados.
pessoa. Ser empatico nao quer dizer que se A linguagem corporal é o metodo de comu-
concorde totalmente corn as posigOes assumidas nicagao nao verbal que se traduz nos gestos,
pelas outran pessoas; mas significa que se express6es faciais e movimentos que reflectem
entende as razOes por que as pessoas falam e pensamentos ou emocOes. E urn complemento
actuam de determinada maneira. importante da comunicacao que se processa por
Saber ouvir é uma das "ferramentas" mais palavras. Ha quern afirme, corn base em conclu-
importantes de que urn gestor pode dispor para ser sOes de estudos para o efeito elaborados, que
eficaz. Falar sistematicamente sem deixar falar os 90% das primeiras impressOes é baseado em
outros impede o conhecimento dos problemas e a comunicacao nao verbal, e apenas 10% em
determinagao das solugOes. Muitas vezes se comunicagOes verbais (2).
esquece que a comunicagao so é eficaz se as As posicOes corporais adoptadas pelo inter-
mensagens forem bem recebidas e entendidas. locutor — sentado, encostado para tras ou incli-
Urn dos problemas que se poem na comuni- nado para a frente, a forma como cruza as pernas,
cacao verbal é a diferenga entre a velocidade de os gestos corn as maos, roendo as unhas, as
compreensao das palavras por quem ouve e a expressOes faciais, etc. — podem dar indicagOes
velocidade da fala, sendo em media aquela supe- sobre o estado de espfrito das pessoas e ajudar a
rior a esta (quatro vezes mais
, rapida). E impor- perceber melhor o que elas pretendem transmitir
tante evitar a distracgao de quem escuta, e, mais (ou nao conseguem evitar). Os gestores devem
do que isso, tentar que quem ouve se coloque na nao so observar estes sinais nos seus interlo-
posigao de quern fala. cutores mas tambem ter em atengao as suas
A audigao eficaz a uma audigao empatica; prOprias manifestagOes de linguagem corporal e
requer uma habilidade para entender nao so as a forma como poderao ser entendidas pelos seus
palavras mas tambem os sentimentos. colaboradores.
As tecnicas de leitura podem ser aprendidas A importancia das acgOes como forma de
e desenvolvidas e permitem aumentar a rapidez comunicacao traduz-se naquela expressao conhe-
(para o dobro ou o triplo) sem significativa cida que se ouve muitas vezes — as acgOes falam
reducao da compreensao dos textos. mais do que as palavras — mas que tambem
Face ao volume, sempre crescente, de documen- muitas vezes a esquecida. Os gestores devem ter
tos que diariamente "invadem" as secretarias dos em atencao que os trabalhadores fazem a sua
gestores, o desenvolvimento das tecnicas de "leitura" sobre o que eles fazem (acgOes) ou
170 MECCA()
sobre o que ndo fazem (falta de acceies). Por quais sistematicamente mostravam o seu pouco
outro lado, convem ndo esquecer que, por vezes, empenhamento. Quando, certo dia, verificaram
reagem mais depressa a situagees de que tern que urn tecnico destacado para o efeito procedia
conhecimento atraves de acmes do que a situa- As medicOes e aos calculos necessarios para a
gOes semelhantes que conhecem por comuni- implantacao de varias maquinas destinadas a
cacao verbal. Pensemos naquela empresa que substituir uma serie de pessoas, a produtividade
pretendia melhorar a produtividade de urn sector aumentou imediatamente em valores signifi-
e tentou a implementacao de varias medidas cativos.
salientando a colaboracdo dos trabalhadores, os
CASO
Logo no inicio da manhd, o eng.° Joao Medeiros recebeu uma chamada do director-
-geral da fabrica, o eng.° Torres Pinto.
– Preciso de falar consigo, Joao. Pode vir ao meu gabinete por urn minuto? –
perguntou Torres Pinto.
– Corn certeza, y ou ja – respondeu Jo do
-
Medeiros.
0 eng.° Joao Medeiros era o director do controlo de qualidade. Estava na empresa
ha quatro anos. Depois de concluir o seu curso de Engenharia, tinha trabalhado como
supervisor da producao e responsavel pela manutencao antes da sua promogdo ao actual
cargo. Joao imaginou logo a razdo do telefonema.
– A sua carta de demissao apanhou-me de surpresa – comegou Torres Pinto –. Eu
acho que a Produtos Super quer recrutar urn born quadro, mas nos tambem precisamos
de si.
– Eu pensei muito no assunto – disse Joao Medeiros mas sinceramente ndo me
parece que haja grande futuro para mim aqui.
COMUNICAcAO 171
D
QUESTOES:
S
1. Avalie o sistema de comunicacOes na empresa.
L.
2. Comente a actuagao do director-geral.
3. Que acceies teriam evitado a demissao de Joao Medeiros?
a
a