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SEBASTIA0 TEIXEIRA

GESTA0
DAS ORGANIZACOES

r aw
McGRAW-HILL
LISBOA • RIO DE JANEIRO • BOGOTA • BUENOS AIRES • CARACAS • GUATEMALA
MADRID • MEXICO • NOVA IORQUE • PANAMA • SAN JUAN • SANTIAGO

AUCKLAND • HAMBURG • KUALA LUMPUR • LONDON


MILAN • MONTREAL • NEW DELHI • PARIS • SINGAPORE • SYDNEY
TOKYO • TORONTO
DERANCA

OBJECTIVOS
■ Explicar o conceito de lideranca e a sua diferenca em relacdo a gestdo.
■ Descrever a abordagem da lideranca baseada nos tracos caracteristicos do lider e
a teoria do lider carismatico.
■ Analisar os diversos estudos sobre a lideranca baseados nas teorias comporta-
mentais.
■ Analisar as teorias sobre a lideranca numa perspectiva situacional ou
contingencial.
■ Identificar os factores – relacionados corn o gestor, corn os trabalhadores ou corn
a situacdo – que afectam a escolha do estilo de lideranca nas empresas.
■ Perspectivar a evolucdo futura das teorias explicativas da lideranca.
O grande desafio da gestao efectiva é con- outras, a qual é alheia a estrutura formal da orga-
duzir a organizagao em direccao aos objectivos nizagao e que, nalguns casos, é tao importante ou
previamente definidos. 0 sucesso de urn gestor mais do que a influencia formal. Isto é, os lideres
mede-se fundamentalmente pela sua capacidade podem surgir dentro do grupo, eventualmente de
em conseguir influenciar e encorajar os seus forma espontanea, ou podem surgir pela formal
subordinados a atingir elevados niveis de desem- nomeagao para cargos de chefia.
penho, tendo em conta os recursos, as capaci- A diferenca entre gestao e lideranga é bem
dades e a tecnologia disponlveis. evidenciada numa imagem expressiva de John
Lideranca é o processo de influenciar outros Kotter ( 1) : "Em tempos de paz, urn exercito sobre-
de modo a conseguir que eles fagam o que o lider vive sem problemas se houver uma boa gestao ao
quer que seja feito, ou ainda, a capacidade para longo da linha hierarquica em simultaneo com
influenciar urn grupo a actuar no sentido da uma boa lideranga no topo. Mas em tempo de
prossecucao dos objectivos do grupo. guerra, torna-se necessaria a existencia de uma
Sendo apenas uma das muitas tarefas de urn lideranca competente em todos os niveis da hie-
gestor, a forma como se exerce tern enormes. rarquia." De facto, ninguem pOe a questa° de
repercussOes nao so na evolucao da empresa mas como se gerem pessoas no campo de batalha.
tambem na forma como a empresa como orga- Elas precisam é de ser chefiadas, ou seja, lidera-
nizagao é vista quer pelos seus empregados quer das. Para Jonh Kotter, a gestao das empresas tern
pelos restantes stakeholders. que ver acima de tudo corn a complexidade — es-
A importancia da lideranga na gestao das truturas organizacionais, orgamentos, etc.; a lide-
organizagOes é tal, que muitas vezes tende a con- ranca tern que ver sobretudo corn a mudanga.
fundir-se lideranga corn gestao. Contudo, nem De modo geral, pode dizer-se que a gestao
todos os lideres sao gestores. Do mesmo modo, tern urn escopo mais alargado do que a lideranca,
nem todos os gestores, so porque o sac), sao uma vez que abrange para alem de aspectos corn-
res. Apenas porque a organizagao atribui formal- portamentais, outros que nao tern que ver directa-
mente a urn gestor determinados direitos, nada mente corn o comportamento das pessoas.
garante que ele seja urn lider efectivo. Por outro Resumindo, podemos afirmar que urn born
lado, constata-se que em qualquer organizagao, gestor a necessariamente um born lider, mas urn
empresas incluidas, se verifica a existencia de bom lider nao é necessariamente urn gestor; de
lideranga informal, isto é, a capacidade de algu- facto, pode nao ser urn gestor efectivo (caso do
mas pessoas para influenciar o comportamento de lider informal).

7.1. ESTILOS DE LIDERANCA

Basicamente, identificam-se quatro estilos E tipico daquele que esta de acordo corn a teo-
diferentes de lideranca: autocratic°, participativo, ria X de McGregor e que, portanto, acredita que
democratic° e laissez-faire. as pessoas, de modo geral, nao tern ambigOes,
Urn lider autocrdtico a aquele que comunica evitam o trabalho e tern de ser coagidas. Este tipo
aos seus subordinados o que é que eles tem de de bider observa-se sobretudo, e algumas vezes
fazer e espera ser obedecido sem problemas. corn sucesso, quando se trata de tarefas simples,
140 DIREccAo

altamente repetitivas, e as relacOes com os subor- afirmado que a isso devem os altos indices de
dinados se processam em periodos curtos (por produtividade que alcancam.
exemplo, algumas tarefas de construcdo civil No estilo de lideranca laissez-faire, o lider,
corn empregados temporarios). como o prOprio nome sugere, nab esta envolvi-
O bider participativo é o que envolve os do no trabalho do grupo; deixa que os seus
subordinados na preparacao da tomada de de- subordinados tomem as suas prOprias decis6es.
cisOes mas retem a autoridade final, isto é, tern E urn estilo de lideranga dificilmente aceitavel,
sempre a altima palavra. a nao ser em casos excepcionais em que os mem-
O hider democratico é aquele que tenta fazer bros de grupo sdo especialistas, bem motivados,
o que a maioria dos subordinados deseja. Muitos como podera acontecer corn alguns departamen-
gestores que praticam este tipo de lideranca tem tos de cientistas, por exemplo.

7.2. ABORDAGEM DA LIDERANCA PELO "PERFIL"

O papel da lideranga na gestao das organiza- ■ Capacidade de "supervised', isto é, capa-


cOes tem suscitado o interesse dos estudiosos cidade para planear, organizar, dirigir e con-
destas materias desde ha bastante tempo. Algumas trolar;
das primeiras pesquisas sobre o tema conduziram ■ Necessidade de realizagdo profissional, ou
a tentativa de definir as caracteristicas do lider, em seja, a procura de responsabilidades;
oposicao ao nao lider, pela analise das caracteris- ■ Inteligéncia;
ticas ou "tracos" dos lideres efectivos conhecidos. ■ Capacidade (e gosto) para tomar decisOes;
A abordagem da lideranca pelos tracos ou perfil ■ Autoconfianca;
consiste na avaliacdo e seleccao de lideres corn ■ Capacidade de iniciativa.
base nas suas caracteristicas fisicas, mentais,
sociais e psicologicas. De estudos feitos compa- Mais recentemente tem havido uma certa
rando lideres corn nao lideres concluiu-se nomea- "repescagem" da teoria dos tracos ou do perfil do
damente que os lideres tendem a ser pessoas de lider, enfatizando a importancia do carisma.
estatura mais elevada, mais extrovertidos, mais Assim, por exemplo, Robert House (3) propOs a
autoconfiantes e mais inteligentes. Mas esta abor- teoria do lider carismatico sugerindo que os
dagem baseia-se na aceitacdo da ideia de que os grandes lideres fazem use fundamentalmente de
lideres ja nascem lideres, nap se fazem, o que quatro caracteristicas pessoais: dominancia,
provavelmente nao sera totalmente verdade. autoconfianga, necessidade de influenciar e con-
De facto, apesar de muitos acreditarem que algu- viccao de rectiddo moral. Para Robert House, os
mas caracteristicas inatas de uma pessoa podem, lideres corn estes "tracos" sal° mais carismaticos
corn maior facilidade, faze-la urn born lider, do que os outros que os nao tern ou tern em
parece claro que em relagao a outras caracteris- menos elevado grau.
ticas, como por exemplo as fisicas, nao esta pro- Como ja se referiu, a lideranga é sobretudo
vado que sirvam para distinguir os bons dos importante em periodos de rapidas e profundas
maus lideres. alteracOes nas organizagOes. Urn bider com uma
A abordagem da lideranca pelo perfil, contu- especial aptidao para liderar uma organizacao em
do, nao esta morta. Edwin Ghiselli (2) , por exem- period° de grandes mudancas estrategicas é cha-
plo, identificou 13 componentes dos traps mado urn lider de mudanca (transformational
caracteristicas do lider, dos quais os seis mais leader). Lee Iacocca, o mundialmente conhecido
importantes seriam: gestor da Chrysler Corporation, pelas alteracOes
LIDERANcA 1 41

que provocou na companhia e pela forma como refere a sua preparagao para fungi:5es de lideranca.
as fez, é urn exemplo tipico de urn lider de Urn conhecido gestor e lfder afirmava recente-
mente que a medida do seu sucesso profissional
E importante referir que o born lider desem- deveria ser feita corn base na analise do rdimero
penha urn papel importante no desenvolvimento de lideres que conseguiu fazer.
dos seus subordinados, sobretudo no que se

7.3. ABORDAGEM COMPORTAMENTAL

A incapacidade da teoria dos tragos ou do A partir dal classificaram as diversas formas


perfil para explicar convenientemente a lideranga de lideranga em quatro tipos, conforme a combi-
e o aparecimento dos lideres levou os investiga- nagao do grau de consideragao e de estrutura
dores a procurar outras vias de analise. Uma (Figura 7.1) correspondentes ao comportamento
delas refere-se ao comportamento dos lideres de urn determinado Wen
sugerindo nomeadamente, e de modo geral, que Por exemplo, o estilo de lideranga "alta estru-
determinados comportamentos especificos dife- tura/reduzida consideragao" corresponde a actua-
renciam os lideres dos nä() lideres. gab do lider que enfatiza o comportamento rela-
Nesta secgao faremos referencia aos estudos cionado corn a estruturacao das tarefas e da menos
da Universidade de Ohio, aos da Universidade de importancia a consideragao (relacties pessoais).
Michigan, a classificagao de Likert e a grelha de Os investigadores de Ohio nao concluiram
gestao de Blake e Mouton. qual dos quatro estilos de lideranga apontados era
o mais adequado. Mas sugeriram que a combi-
nagao daquelas dimensiies que resultaria num
7.3.1. ESTUDO DA UNIVERSIDADE DE OHIO estilo de lideranca mais aconselhavel dependia
das circunstancias da situagao concreta. Por
Corn inicio em1945, urn grupo de investiga- exemplo, comandantes da Forga Aerea corn ele-
dores da Universidade de Ohio, nos Estados Uni- vado nivel de consideragao foram avaliados pelos
dos, fez uma serie de estudos sobre o comporta- seus subordinados, que os consideraram menos
mento de diversas lideres em varias organizagOes eficazes do que outros comandantes orientados
tentando averiguar a forma como eles actuavam para a estruturagao das tarefas, o que provavel-
para encaminhar os esforgos dos seus subordina- mente se devera a ideia generalizada de que as
dos na prossecugao dos objectivos de grupo. decisOes rapidas e duras sao fundamentais em
Foram entao identificadas duas importantes situagao de combate, bem como o prOprio am-
dimensties no comportamento dos lideres, a que biente de autoritarismo tipico das Forgas Arma-
chamaram estrutura de iniciarlio, ou seja, em das. Por outro lado, em empresas de grande
que medida o bider estabelece objectivos e estru- dimensao, os gestores nao afectos as areas de
tura as suas tarefas e as tarefas dos seus subor- produgao foram avaliados corn melhor classifi-
dinados de forma a melhor serem alcangados os cacao quando o seu estilo de lideranga se carac-
objectivos, e consideracdo, isto é, em que medi- terizava por urn elevado grau de consideragao.
da as relagOes entre hider e subordinados sao Em todo o caso, os estudos da Universidade
caracterizadas por uma confianga reciproca e res- de Ohio serviram de base para mais recente
peito pelas ideias e pelos sentimentos dos empre- pesquisa e desenvolvimento, como veremos
gado s . adiante.
142 DIREccAo

Alta consideracdo Alta estrutura


Reduzida estrutura Alta cOnsidOrkNao

Ryduzida ostruturg Alta estrutura


Reduzida Consideraca0 Reduzida consideracäo

Estrutura

Figura 7.1 – Modelos de lideranca da Universidade de Ohio

7.3.2. ESTUDOS DA UNIVERSIDADE dando conceitos e abordagens no_entendimento


DE MICHIGAN do comportamento de lideranca. E urn defensor
-
da gest do participativa, acha que a gestao eficaz
Quase em simultaneo corn as pesquisas da
e fortemente orientada para subordinados apoian-
Universidade de Ohio, tambem na Universidade
do-se na comunicacao para que exista uma maior
de Michigan (EUA) urn grupo de investigadores
concertacão de ideias e objectivos.
liderados por Rensis Likert se debrucou sobre
Liker propoe quatro tipos de lideranca:
este tema. Da analise detalhada das informagOes
colhidas, nomeadamente atraves de intimeras ■ Autocrótico-coercitivo: o lider decide o que
entrevistas e inqueritos a lideres e subordinados, ha para fazer, quem, como e quando deve
chegaram a conclustles muito semelhantes as dos ser feito. 0 processo de decisdo esta total-
seus colegas da Universidade de Ohio. De facto, mente centralizado na copula da hierarquia.
classificaram o comportamento dos lideres fun- Este tipo de lideranca encontra-se em em-
damentalmente em dois grupos: comportamento presas industriais que utilizam mao-de-obra
centrado nas preocupacii es corn a tarefa e corn- intensiva e tecnologia rudimentar, por
portamento centrado nas relardes pessoais. exemplo, algumas empresas de construe-do
civil;
■ Autocratico-benevolente: o Eider toma as
7.3.3. OS QUATRO ESTILOS DE LIKERT
decisOes, mas os subordinados tern alguma
Likert (4) continuou a desenvolver os seus liberdade e flexibilidade no desempenho
estudos sobre a lideranca, refinando e aprofun- das tarefas. 0 processo de decisão esta
LIDERANcA 143

ainda centralizado na copula, mas existe ja e na preparagao das decisties. E o estilo re-
alguma delegagao de autoridade, funda- comendado por Likert, sendo no entanto
mentalmente para actividades de caracter ainda pouco encontrado na pratica. Encon-
rotineiro. Pode encontrar-se em empresas tra-se fundamentalmente em empresas que
industriais que utilizam tecnologia um utilizam tecnologia sofisticada e onde o
pouco mais evoluida e mao-de-obra mais pessoal, altamente especializado e desen-
especializada, como, por exemplo, nas volvido, exerce actividade complexa – em-
linhas de montagem de algumas empresas presas de servigos de consultadoria em
industriais e por vezes, ainda, nos escritd- engenharia ou gestao, por exemplo.
rios de algumas fabricas;
■ Consultivo: o lider consulta os subordina- A relagao entre os quatro sistemas de lide-
dos antes de estabelecer os objectivos e ranga de Likert e as teorias X e Y de McGregor
tomar as decisCies. E geralmente utilizado pode ver-se na elucidativa Figura 7.2.
em empresas de servigos, como bancos e 0 ultimo estilo de lideranga, o participa-
outras instituicties financeiras, e em certas tive, conduz a denominada teoria dos elos de
areas administrativas de algumas empresas ligartio, segundo a qual a empresa é vista como
industriais mais evoluidas em termos de urn conjunto de grupos que, de certa forma,
relagOes interpessoais; parcialmente se sobrepOem e ligam entre si por
■ Participativo: existe um envolvimento total urn elemento comum, conforme se pode ver na
dos empregados na definicao dos objectivos Figura 7.3.

Teoria Y

Teoria X

Autocrâtico- Autocratico- Consultivo Participativo


-coercitivo -benevolente

Figura 7.2 — Os quatro sistemas de lideranga de Likert e as teorias X e Y de McGregor


144 DIRECCAO

Nivel intermedio

Figura 7.3 —"Elos" de ligaoäo

7.3.4. A GRELHA DE GESTAO DE BLAKE desempenho eram os que adoptavam urn estilo de
E MOUTON lideranca (9,9) isto e, o estilo que corresponde ao
grau mais elevado de preocupacdo quer corn as
Uma das abordagem mais divulgadas sobre a tarefas quer corn as pessoas.
definicdo dos estilos de lideranca é a chamada Blake e Mouton afirmam que, de acordo
grelha de gest& desenvolvida nos anos 60 por corn os seus trabalhos, os gestores que adop-
Robert Blake e Jane Mouton (5) . Este modelo taram o estilo (9,9) obtiveram melhores resul-
baseia-se nas pesquisas anteriores, nomeada- tados, menor rotacdo do pessoal, reducao do
mente os estudos de Ohio, e consiste numa ma- absentismo e maior satisfacdo dos empregados.
triz bidimensional — preocupacdo corn as pessoas Blake e Mouton e os seus aderentes fizeram
e preocupacdo coin a producao. Cada uma des- ininneros seminarios e sess6es de formacdo por
tas duas dimensOes corresponde a uma variavel todo o mundo e estimularam o use do enriqueci-
representada em cada urn dos eixos cartesianos mento das tarefas e das decisOes participativas
xx e yy variando de 1 a 9, do que resultam 81 corn vista a criacdo de uma situacdo em que quer
posicOes diferentes como se y e no quadro se- a organizacdo quer os seus membros estejam em
guinte (Figura 7.4). sintonia num maxim() e igual nivel de preo-
De acordo coin as pesquisas de Blake e cupacdo.
Mouton, os gestores corn melhor indice de
LIDERANCA 145

Elevada GESTAO 1.9 GESTAO 9.9


A realizacäo do trabalho
Atencao concentrada nas
conseguida por pessoas corn-
necessidades das pessoas,
prometidas: a interdependén-
pois relacionamentos satis-
cia atraves de urn "interesse
fatririos conduzem a uma
comum" no objectivo da
atmosfera confortadora e a
organizac5o conduz a relacio-
urn trabalho cordial.
namentos de confianca e de
respeito.
GESTAO 5.5

Urn adequado desempenho


organizacional torna-se pos-
sivel atraves do equilibrio
entre a necessidade de se
conseguir que o trabalho seja
executado e a manutencdo do
moral das pessoas num nivel
GESTAO 1.1 satisfatOrio. GESTAO
0 9.1
A eficiéncia nas operacties
A aplicacdo de urn esforco
resulta de se fazer um
minim° para se conseguir
arranjo das condiciies de
que o trabalho necessario
trabalho de tal modo, que
seja executado a adequada
os elementos humanos
e suficiente para se con-
interfiram num grau
servar a prerrogativa de
minim°.
Reduzida membro da organizacdo.
• de
onde ao
corn as

Reduzida Preocupacio corn a producao Elevada
acordo (resultados)
• adop-
s resul-
rgdo do Figura 7.4 — Grelha de gestdo de Blake e Mouton
egados.
fizeram
'do nor
7.4. ABORDAGEM SITUACIONAL OU CONTINGENCIAL
• 1-
Tativas
As teorias sobre a lideranca ditas situacionais lideranca, de Fiedder; a teoria normativa, de
ue quer
ou contingenciais partem do pressuposto de que Vroom e Yetton, e a teoria situacional da lide-
jam em
o comportamento mais apropriado para urn lider ranca, de Hersey e Blanchard.
preo-
depende das situaceies ou circunstancias concre-
tas em que o hider se encontra. As teorias mais
7.4.1. A TEORIA "CAMINHO-OBJECTIVO"
conhecidas sdo: a teoria "caminho-objectivo", de
House (6) ; o "continuum de lideranca", de Tan- A teoria "caminho-objectivo" desenvolvida
nenbaum e Shmidt; a teoria da contingencia da por Robert House esta intimamente relacionada
146 D1REccAo

corn a teoria das expectativas, de Vroom, sobre conhece bem as tarefas e portanto ndo participa
a motivacao das pessoas. Considera que o desem- nas decisifies, e urn comportamento apoiante com
penho dos trabalhadores pode ser melhorado pelo urn empregado experiente que esta preocupado
litter que lhes assegure, e ajude a atingir, recom- em alcancar os objectivos definidos.
pensas desejadas como consequencia da realiza- A natureza da situacdo que o lfder enfrenta
cdo dos objectivos da organizacdo. Passa pela depende de dois grupos de factores ou caracteris-
clarificando, por parte do Hder, do comporta- ticas contingenciais: caracteristicas do ambience
mento que deve ser accionado para ganhar aque- (de tarefa) que engloba o tipo de trabalho a efec-
las recompensas. tuar, o sistema formal de autoridade e o grupo de
De acordo corn esta teoria, urn desempenho dos trabalho, e caracterfsticas dos subordinados, que
subordinados resulta mais eficaz se o lfder define abrange o grau de controlo necessario (de acor-
claramente a tarefa, proporciona formacao aos tra- do corn a sua percepcdo), a sua experiencia e
balhadores, ajuda-os a trabalhar corn eficacia e aptidOes. Os factores ambientais (de tarefa) influ-
estabelece recompensas adequadas directamente enciam o comportamento dos trabalhadores em
relacionadas corn o seu nivel de desempenho. termos de motivacao, enquanto as caracterfsticas
House identificou quatro tipos de comporta- dos subordinados afectam a sua satisfacao no tra-
mento de lideranca – directivo, apoiante, partici- balho e a aceitacdo do hider. Adoptando o estilo
pativo e orientador – e sugere que o hider, para de lideranca mais apropriado de acordo corn a
ter sucesso, deve ser capaz de adoptar cada urn sua interpretacäo dos dois grupos de factores
dos comportamentos de acordo corn a situacdo contingenciais, o hider pode aumentar a moti-
que enfrenta. Por exemplo, urn hider devera vacdo e a satisfacdo no trabalho, clarificando os
provavelmente adoptar urn comportamento direc- objectivos e o caminho para os atingir, como se
tivo corn urn novo empregado que ainda ndo esquematiza na Figura 7.5.

Caracteristicas da tarefa

Comportamento Efeito da lideranca


de lideranca na motivacao e na satisfacäo

Caracteristicas dos subordinados

Figura 7.5 – A teoria "caminho-objectivo"


LIDERANCA 147

.pa 7A.2. 0 CONTINUUM DE LIDERANDA colha de um estilo de lideranga eficaz depende


3m.
fundamentalmente de tres grupos de facto-
do Esta abordagem ao estudo da lideranca, pro- res: caracteristicas do lider (background, edu-
posta por Robert Tannenbaum e W. Shmidt (7), cacao, experiencia, sistema de valores, objectivos
3.ta traduz-se na representacao grafica do compro- e expectativas); caracteristicas dos subordi-
misso que se estabelece entre o use da autoridade nados (background, educagdo, experiencia,
rite do lider e o da liberdade dos subordinados, que desejo e aptiddo para assumir responsabilidades)
naturalmente varia em sentido inverso, conforme e requisitos da situacao (dimensdo, complexi-
de se representa na Figura 7.6. dade, objectivos, estrutura e clima da organiza-
iue Estes autores veem a lideranga como algo ca'o bem como a tecnologia e a natureza do tra-
Or- que envolve uma variedade de estilos, desde o b alho).
e altamente centralizado em torn do chefe ate ao De acordo corn Tannenbaum e Shmidt, urn
lu- totalmente descentralizado em que os subordina- gestor pode avangar para um estilo de lideranca
EtM dos tern a maxima liberdade, dentro dos limites mais participativo quando os subordinados:
gas previamente definidos pelo Men Defendem a
ra- ideia de urn continuum de comportamentos •de ■ Procuram independencia e liberdade de
:ilo lideranga corn base no pressuposto de que a es- accdo;
3. a

res
)ti-
os
se

Lideranca centralizada
nos subordinados
Lideranca centralizada •
no chefe

Area de liberdade
dos subordinados

0 gestor 0 gestor 0 gestor 0 gestor


0 gestor apresenta apresenta o define os permite que
0 gestor 0 gestor
apresenta as uma problems, limites e subordinados
toma a "vende"
suas ideias decisao recebe pede ao funcionem
decisao e a sua
e pede tentativa sugestaes grupo que dentro de
comunica. decisao.
perguntas. sujeita a e toma a sua tome uma fim. definidos
modificaca"o. decisao. decisao. por superior.

Ambiente interno

Ambiente extern()

Figura 7.6 — Continuum de lideranga


148 DIRECcAO

■ Sao bem-educados e experientes no seu tra- cdo, seja ela qual for. Por outran palavras, uma
balho; pessoa torna-se lider ndo apenas devido aos
■ Procuram responsabilidades na tomada de atributos da sua personalidade mas tambern em
decisoes; virtude da coexistencia de varios factores situa-
■ Tern a expectativa de urn estilo de lideranca cionais e da interaccdo entre o lider e os subor-
participante; dinados. De acordo corn esta teoria, sdo tres
■ Compreendem e assumem urn compromis- os principais factores que determinam se uma
so corn os objectivos da organizacdo. dada situacdo é favoravel ou desfavoravel ao
hider.
Se estas condicOes ndo se verificarem, o ges-
■ A relacao lider/subordinado, isto é, o grau
tor tenders a adoptar urn estilo de lideranca mais
de aceitacdo do lider pelos subordina-
autocratico.
dos;
Fundamentalmente, os gestores devem esco-
■ A estrutura da tarefa, ou seja, se os objec-
lher o estilo de lideranca que maximize as hip6-
tivos, as decisOes e as solucOes dos proble-
teses de eficacia. Os lideres mais eficazes sào -
mas est do clarificados (tarefa estruturada)
suficientemente flexiveis para seleccionar o estilo
ou ndo;
de lideranca que melhor se adeque as suas neces-
■ A posiccio de poder do litter, determinada
sidades bem como as necessidades dos seus
fundamentalmente pela sua autoridade for-
subordinados e da situacdo concreta. mal e pelo grau da influencia sobre as
Esta teoria foi inicialmente apresentada em
recompensas, punicOes, etc.
1953, sendo posteriormente revista em 1973 na
"Harvard Business Review" (8) , tendo entdo os Fiedler resumiu as situacOes de maior ou me-
seus autores sublinhado a necessidade de dever
nor grau de favorabilidade (que se traduz na
tambem ser tidas em conta as forcas do ambiente
influencia de controlo do grupo) num quadro,
da organizacdo bem como do ambiente geral ou
onde sdo apresentadas oito situacOes (Figura 7.7).
social tais como a influencia das associacOes dos
0 lider tern a influencia maxima na situacdo
trabalhadores, as pressOes para a responsa-
1 e a influencia minima na situacdo 8.
bilidade social dos gestores e das empresas, as
Os resultados dos trabalhos de Fiedler con-
associacoes de consumidores, os movimentos
duziram a conclusdo de que:
ecolOgicos, etc., as quais questionam os direitos
de os gestores tomarem decisties sem tomarem ■ Em situacties muito favoraveis ou muito
em consideracdo interesses exteriores a organi- desfavoraveis, o lider corn elevada orien-
-
zacão. tag do para tarefas seria o mais eficaz;
■ Em situacOes intermedias, isto é, nem muito
favoraveis nem muito desfavoraveis, o lider
7.4.3. A TEORIA DA CONTINGENCIA orientado para as pessoas sera o mais efi-
DA LIDERANCA, DE FIEDLER caz.

A teoria da contingencia da lideranca, de Embora, como qualquer outro, o modelo de


Fiedler (da Universidade de Illinois), e uma das Fiedler tenha as suas pr6prias limitacOes e ndo
que tern tido mais aceitacdo. esteja isento de critica, tem, alem do mais, a van-
Como todos os defensores das teorias situa- tagem de ajudar a destruir as ideias de que a
cionais ou contingenciais, Fiedler (9) defende que capacidade de lideranca é inata e que possa exis-
nao existe nenhum estilo de lideranca que possa tir o melhor estilo de lideranca independente-
ser considerado o mais eficaz em qualquer situa- mente das circunstancias.
LIDERANCA 149

--- Orientacao para tarefas


5
c)
PO Orientacao para as pessoas

0
/
P,,
\ .
1, \
a \

?r,

ti.-

CATEGORIA I II III IV V VI VII VII


Relacio
lfder- Boa Boa Boa Boa Fraca Fraca Fraca Fraca
-subordinado

Estrutura
Elevada Elevada Reduzida Reduzida Elevada Elevada Reduzida Reduzida
de tarefa

Posicio
Forte Fraca Forte Fraca Forte Fraca Forte Fraca
de poder

Grass de Moderadamente Moderadamente Moderadamente Moderadamente Desfavordvel


Favoravel Favordvel Favoravel
favorabilidade favordvel favordvel favordvel favordvel

Figura 7.7– Modelo de Iideranca de Fiedler

7.4.4. 0 MODELO DE VROOMNETTON/JAGO As decisOes mais aconselhaveis sac) as que


correspondem ao processo assinalado a negrito.
0 modelo de Vroom/Yetton/Jago é um modelo Os trabalhos efectuados por Vroom e pelos
normativo desenvolvido a partir dos trabalhos seus colegas conclufram que as decisOes corn-
daqueles tres autores em 1973, depois melho- pativeis com este modelo tendem a ter exito,
rado em 1988 OM , que pOe o acento tOnico no enquanto as incompativeis corn o modelo sdo,
grau de participagdo que os subordinados devem em geral, mal sucedidas. Os autores sublinham
ter na tomada da decisOes para estas serem mais que para uma boa aplicacdo do modelo e para se
eficientes e eficazes. chegar a decisOes eficazes devem ser tornados em
De acordo corn este modelo, os lideres podem consideragdo os seguintes elementos:
escolher urn dos cinco processos (conforme ■ A qualidade e a racionalidade da decisdo;
Figura 7.8) de envolvimento dos subordinados na ■ A aceitagdo ou comprometimento dos
tomada de decisOes. subordinados para executar a decisdo efi-
0 modelo é normativo, isto é, define uma cazmente;
sOrie sequencial de regras (tipo arvore de deci- ■ 0 tempo que a gasto a decidir.
s6es) que devem ser seguidas para se determinar
a forma e o grau de participacdo desejados na Defendem ainda que eficacia geral da lide-
decisdo a tomar, como se y e na Figura 7.9. ranca a uma fungdo da eficacia das decisOes,
150 DinEccAo

Estilos de decisao Definicao

Al 0 gestor toma a decisao sozinho.

All 0 gestor solicita informagdo dos subordinados, mas decide sozinho.


Os subordinados podem ter (ou näo) informacdo sobre a decisao.

CI 0 gestor partilha o problema corn os subordinados, pede-lhes informacdo e sugestiies (sem


reuniäo em grupo) e toma sozinho a decisao.

CII 0 gestor reline corn os subordinados ern grupo para discutir o problema mas toma sozinho
a decisao.

GII 0 gestor e os subordinados retinem-se ern grupo para discutir o problema, e a decisao é
conjunta.

Figura 7.8 -- Processos de decisao (modelo de Vroom/Yetton/Jago)

NA° 1 : AI, All, CI CI, CII, GII


SIM
NAO
2 : GII
1.0.0
SIM
3 : AI, AII, CI, CII, GE

6B : CI, CU

8 . All, CI, CII, GU

SIM 10: CII,Gil

SIM
11: GII
MO

12: CII

Q AD PA PO PD

Q = A qualidade (racionalidade) da decisao é muito importante?


I = Tenho informacao suficiente para tomar uma decisao de elevada qualidade?
E = 0 problema esta estruturado?
AD = A aceitacao da decisao pelos subordinados a muito importante?
PA = Se tomar sozinho a decisao é proviivel que ela seja aceite pelos subordinados?
PO = Os subordinados partilham os objectivos da organizaca- o em relacao a este problema?
PD = Em relacdo a decisao tomada ha probabilidade de desacordo pelos subordinados?

Figura 7.9 — Modelo de Vroom/Yetton/Jago


LIDERANCA 151

menos o custo da tomada da decisão, mais o Hersey e Blanchard defendem que urn lider
valor obtido do desenvolvimento das capacidades eficaz é aquele que consegue diagnosticar cor-
das pessoas atraves do comportamento no quadro rectamente a situagdo e o nivel de maturidade dos
da tomada de decisOes. subordinados e adoptar o estilo de lideranga que
Se Vroom, Yetton e Jago tem raid°, tal como mais se apropria. A sua teoria baseia-se na rela-
House, o lider, para ser eficaz, deve avaliar a gdo ou combinagdo estabelecida entre os seguin-
situagdo concreta e ajustar-se ou ajustar o seu tes tees elementos:
estilo de lideranga em conformidade. ■ Grau do comportamento orientado para
tarefas exibido pelo lider (supervisào enfati-
7.4.5. A TEORIA SITUACIONAL DE HERSERY zando os trabalhos a ser efectuados);
E BLANCHARD ■ Grau de comportamento relacional (consi-
deracdo pelas pessoas e apoio emocio-
Paul Hersey e Kenneth Blanchard (11) desen- nal);
volveram uma teoria situacional da lideranga que ■ Navel de maturidade dos subordinados.
tern tido consideravel aceitagdo por urn mimero
elevado de gestores de grandes empresas (IBM, 0 conceito-chave da teoria de Hersey e Blan-
Xerox, Mobil Oil, Bank America, Caterpillar, chard é o navel de maturidade dos subordinados,
etc.). Baseia-se na ideia de que o estilo de lide- o qual é definido nao como idade cm estabilidade
ranga mais eficaz varia de acordo corn a matu- psicolcigica mas, sim, como:
ridade dos subordinados e corn as caracteristicas ■ Urn desejo de realizacao;
da situacao. Este modelo usa duas dimensties, ■ A disposicdo para aceitar responsabilidades;
comportamento de tarefa e comportamento de ■ Educagdo, conhecimento e experiencia para
relagdo (ou relacionamento), as quais se asseme- a tarefa em questdo.
lham as classificagties usadas pelos investiga-
dores da Universidade de Ohio e pelos propo- Como as Figuras 7.10 e 7.11 mostram, o estilo
nentes da grelha de gestdo, Blake e Mouton. de lideranga mais apropriado varia de acordo

Estilo de lideranca Fases de maturidade

Comando (telling): Elevada orientacao para tarefas, reduzida M 1 : Os subordinados nao estao preparados nem
orientacao para pessoas; o lider define as fungo- es e diz as pes- corn desejos de tomar decisties.
soas quais as tarefas e quandp, como e onde devem executa-las. Nao sac) competentes nem autoconfiantes.
Enfatiza UM comportamento directivo (ou de comando)
. ,
Orientackt (selling): Elevada.orientacao para tarefas, elevada M2: Os subordinados ainda nao sao capazes, mas
orientacao pant as pessoas. 0 lider assume urn comportamento querem fazer correctatnente as tarefas. Estdo
directivo, mas apoiante. motivados, mas faltam-thes as necessarias
capacidades.
Apoio (Participating): Reduzida orientacao para as tarefas, ele- M3: As pessoas sac) capazes, mas nao estao mo-
vada orientagao para as pessoas. .0 Ilder e os subordinados tivadas para fazer o que o litter pretende.
partilham a tomada de decisOes, sendo o principal papel do !Icier
facilitar e comunicar.
Delegacao (Delegating): Reduzida orientacao para as tarefas, M4; Os subordinados sao capazes e estao motiVa-
recluzida orientacao para as pessoas. A orientacao e o apoio do dos para fazer o que Ifies 6 solicitado.
litter sao reduzido, por serem desnecessarios.

Figura 7.10 — Estilos de lideranga/maturidade dos subordinados


1 52 DIRECcAO

. (,.
IP ,

O
CC

0
0
4.4
Oo

'tNz"

Reduzido Elevado
Comportamento/tarefas

Elevado Moderado Reduzido

M4 M3 M2 MI

Grau de maturidade

Figura 7.11 – Modelo de lideranca de Hersey e Blanchard

corn o grau de maturidade dos subordinados. Sao "comando" corresponde ao 9,1; o estilo "orien-
propostos quatro estilos diferentes de lideranca tacao", ao 9,9; o estilo "participacao", ao 1,9, e
que correspondem a quatro faces (uma especie de o estilo "delegacao", ao 1,1.
ciclo de vida) de maturidade dos subordinados. Esta teoria gerou interesse porque reco-
Em resumo, a medida que os subordinados menda uma lideranca mais dinamica e fle-
vac) atingindo mais altos nlveis de maturidade, o )(Nei em substituicao de uma lideranca estatica.
hider responde ndo so corn reducao de controlo A motivacao, a capacidade e a experiencia dos
sobre as actividades mas tambern diminuindo o subordinados podem e devem ser constantemente
grau de comportamento de relacao (orientado avaliadas de modo a determinar qual o estilo ou
para as pessoas). combinacao de estilos que se torna mais aeon-
Como se pode verificar, ha uma estreita selhavel, tendo em atencao a alteracao das ne-
relacao entre o modelo de Hersey e Blanchard e cessidades dos empregados e as caracteristicas
a grelha de gestao de Blake e Mouton. 0 estilo da situacao concreta. Segundo Hersey e
L1DERANCA 153

Blanchard, se o estilo for apropriado, isso Assim, o gestor que queira desenvolver os
,contribuird lido so para motivar os subor- seus subordinados, aumentar a sua confianca e
dinados mas tambem para os ajudar a amadu- ajudA-los a melhor executarem o seu trabalho tera
recer. de mudar frequentemente de estilo.

7.5. FACTORES QUE AFECTAM A ESCOLHA DO ESTILO DE LIDERAKA NAS EMPRESAS

A discussdo das teorias da lideranca parece dos a ser mais autocraticos, mas de facto o que
levar a concluir que os gestores decidem logica- se verifica é que a sua competéncia lhes (la maior
mente que estilo de lideranca adoptar, algumas flexibilidade na escolha do estilo de lideranca.
vezes mudando de estilo para se adaptarem a Assim, um gestor competente pode ser gentil e
diferentes situagOes. Mas a verdade é que mesmo apoiante em certas situacOes e actuar corn mais
quando a situacdo que o lider enfrenta é perfeita- autoridade e disciplina noutras.
mente conhecida, a escolha do estilo apropriado
nem sempre d Obvia. Na pratica, ha trés tipos de
7.5.2. FACTORES RELACIONADOS
factores importantes que geralmente estdo na
base da escolha do estilo de lideranca a adoptar COM OS TRABALHADORES
por urn gestor: os que se relacionam corn o As caracteristicas dos subordinados devem
gestor, os relativos aos subordinados e os que se tambem ser tidas em consideracao quando se vai
referem a situacäo em presenca. decidir o estilo de lideranca a adoptar. Funda-
mentalmente, ha que ter em conta:
7.5.1. FACTORES RELACIONADOS ■ 0 seu sentido etico em relactio ao trabalho.
COM 0 GESTOR Uns acham que o trabalho é agradavel,
satisfacao e realizacao; estes trabalhadores
Dois importantes aspectos relacionados corn o geralmente sdo faceis de liderar. Outros
gestor sdo fundamentais na escolha do estilo de veem no trabalho uma coisa desagradavel e
lideranca. Em primeiro lugar, as suas conviccOes unicamente o meio de obter dinheiro; talvez
bdsicas sobre as pessoas. Ha quem pense que as remuneracdo e castigos sejam os tinicos
pessoas devem ser coagidas para obterem melho- motivadores destas pessoas.
res resultados no seu trabalho. Outros pensam ■ A atitude em relay& a autoridade. Uns
"orien- que a melhor forma de obter bons resultados é entendem que a funcdo do gestor é dizer-lhes
1 1,9, e encorajar os trabalhadores. Ora, os gestores, de- o que ha para fazer, ndo tem de os ajudar a
vendo ser flexiveis na escolha do estilo de lide- tomar decisOes. Outros querem tomar todas as
jco- ranca adequado a cada situacdo, obtem meihores decisOes e oferecem sempre resistencia ao
resultados quando lideram de forma consistente exercicio da autoridade pelos superiores;
corn as suas crencas pessoais. ■ 0 grau de maturidade. Alguns trabalha-
dos Em segundo lugar, cada gestor tern a sua dores tern iniciativas quanto a forma de exe-
mente pr6pria experiencia e os seus pr6prios conheci- cuter o seu trabalho e procuram desenvol-
tilo ou mentos e competencia. De modo geral, os gesto- ver-se. Outros tem de ser observados de
aeon- res mais competentes sdo mais confiantes, e, por perto mesmo quando o que se lhes exige é
as ne- outro lado, os seus subordinados tem tendencia relativamente modesto;
isticas a questions-los menos. A primeira vista poderia ■ A experiencia e aptidoes. Como d obvio, o
;ey e parecer que os gestores deste tipo seriam tenta- estilo de lideranca apropriado para urn
154 DIREccAo

aprendiz nao deve ser o mesmo que é • Estilo de gesteio do leder de nivel superior.
aconselhavel para liderar um profissional Os gestores dos niveis intermedios tern
competente. Urn estilo mais directivo, de tendencia a liderar da mesma forma que sac)
comando, resultara melhor com o aprendiz, liderados. Se o gestor de nivel mais eleva-
enquanto o profissional pode nao precisar do é autocratic°, os outros gestores natural-
de qualquer forma de comando apertado. mente inclinar-se-do para o mesmo estilo.
Numa situacao deltas, de facto prevalecerao
7.5.3. FACTORES RELACIONADOS as comunicacOes descendentes, nab tendo as
COM A SITUA00 comunicacOes ascendentes, e por conse-
guinte a participacao nas decisOes, campo
Existe uma grande variedade de factores situa- fertil.
cionais que podem afectar o estilo de lideranca
de urn gestor. Fundamentalmente, deve ter-se em Mas infelizmente esta listagem nab respon-
conta os seguintes: de a pergunta: Que estilo de lideranca deve ser
■ Namero de membros do grupo. Os gestores adoptado? De facto, nao ha uma resposta abso-
podem prestar mais atencao individualizada luta. Nos anon 90, as estruturas das organizagOes
aos seus subordinados quando o grupo tornaram-se mais achatadas e mais descen-
mais pequeno. Corn o aumento do grupo, a tralizadas. Mas isso nao diminuiu (pelo contrario,
gestao por excepcao, nomeadamente, ten- aumentou) a necessidade de interdependencia,
ders a ser mais utilizada. colaboracao e comunicacao, o que implica fle-
■ Tipo de tarefas. De modo geral, as tarefas xibilidade no estilo de lideranca. Uma recente
que envolvem simples repeticoes podem revisao critica das teorias da contingencia da
permitir urn tipo de lideranca mais au- lideranca realca que, para que a lideranca situa-
tocratico. Quando as tarefas a executar sac) cional seja eficaz, o lider deve ter urn com-
mais complexas e criativas, mais liberdade portamento flexivel, e deve reconhecer que os
deve ser concedida. subordinados constituem eles prOprios uma das
■ SituacOes de crise. Em situacties de crise mais importantes determinantes situacionais. Esta
(por exemplo, dificuldades financeiras da constatagao envolve nao so uma cuidadosa obser-
-
empresa), os gestores tem tendencia a adop- vac do do comportamento dos subordinados mas
tar urn estilo de lideranca mais autocratic°, tambem a capacidade para interpretar cuida-
pressionando para o crescimento da produ- dosamente o significado desse comportamento.
cao e das vendas, por exemplo. 0 melhor que se pode sugerir d que os ges-
■ Objectivos da unidade. Se o objectivo fun- tores comecem por se avaliar a si prOprios,
damental é fazer o trabalho de imediato, depois aos seus subordinados e a situacao con-
pode justificar-se o use de uma forte autori- creta em que se encontram, e depois escolham o
dade. Tratando-se de urn projecto a prazo, estilo de lideranca que se mostre mais adequado.
os subordinados estarao mais receptivos a O estilo de lideranca devera mudar corn a altera-
aceitar simplesmente que lhes seja comuni- cao da composicao do grupo e corn as circuns-
cado o que tern a fazer. tancias do momento.
LIDERANcA 155

7.6. 0 FUTURO DA TEORIA DA LIDERANCA


1
0 estudo sobre a lideranca esta evoluindo nä° necessitam nem desejam qualquer lideranca
constantemente. Alguns tOpicos, no entanto, tern pelo menos em grau significativo. Outras vezes
recentemente despertado mais atengao na litera- sao a forte coesao do grupo e o elevado grau de
tura sobre lideranca. formalizagao da organizagao que reduzem essa
necessidade.
7.6.1. LIDERANcA TRANSACCIONAL VERSUS Segundo os defensores desta teoria, uma das
LIDERAKA TRANSFORMACIONAL
razOes por que muitas vezes é atribuido urn valor
mais elevado a importancia da lideranca tern
A maior parte das teorias atras apresentadas muito que ver corn a tendencia para, atraves da
reporta-se a lideranca transaccional. Este tipo de histOria, se rodear a lideranca e os lideres de uma
lideres conduz ou motiva os seus subordinados na certa aureola de romantismo, atribuindo ao tema
direcgao dos objectivos definidos, clarificando a uma importancia superior a que actualmente tern.
sua fungdo e os requisitos das tarefas. Mas ha urn
outro tipo de lideres que atraves da sua visa° pes- 7.6.3. GRUPOS AUTOGERIDOS
soal e da sua energia inspira os seus seguidores e E AUTOLIDERAKA
tern um impacto significativo nas suas organiza-
gOes. Sao os lideres transformacionais ou da Precisamente porque nalgumas organizag'Oes
mudanga, algumas vezes os "gestores de crises". os conhecimentos, a experiencia, a educacao e o
Sao lideres carismaticos, isto 6, lideres a quem os tipo de tarefas levam os empregados a nao pre-
subordinados atribuem capacidades de lideranca cisarem de lideres tradicionais, surgem os grupos
extraordinaria, por vezes ate urn certo heroism°. de trabalho autogeridos. Geralmente assumem a
De acordo corn Conger e Kanungo (12) , o responsabilidade por uma tarefa completa, o que
lfder carismatico teria as seguintes caracteristicas: é possfvel gracas a composigao do grupo, pois os
autoconfianca, uma visa°, forte conviccao e seus membros possuem nao so as aptid6es
capacidade para a comunicar, comportarnento necessarias para realizar a tarefa mas tambem o
fora de comum, apreciado como um agente de poder de derminar os metodos do trabalho, a atri-
mudanca, e forte sensibilidade a evolucao das buicao de responsabilidades e a criagao dos pr6-
forcas do ambiente. prios programas de trabalho.
Esta abordagem participativa encontra-se
7.6.2. SUBSTITUIcAO E ROMANTISMO em algumas organizagOes tanto industriais como
NA LIDERAKA
nao industriais — por exemplo, nos Estados Uni-
dos, na Worthington Industries e na Chaparral
Todos conhecemos situagOes em que o hider Steel (13) - e deu origem ao conceito de autolide-
tern pouco ou nenhum impacto na situagao, o que ranca, isto e, a capacidade de os trabalhadores se
pode dever-se a varios factores, incluindo aspec- motivarem a si prOprios para executar tanto tare-
tos que estao fora do controlo do lIder. fas naturalmente recompensadoras como tarefas
A teoria da lideranca substituida tenta identi- necessarias embora nao atractivas.
ficar situagOes em que a influencia do compor-
tamento do Wier é nula ou pouco significativa 7.6.4. A MULHER NA LIDERAKA
para o desempenho dos subordinados.
Como exemplos sao apontadas as situagOes De acordo corn estudos recentes (14) , as mulhe-
em que os subordinados tem um tao elevado res adoptam, muitas vezes, 'urn estilo de lideranca
nivel de aptidOes, experiencia e educacao, que diferente do que a geralmente adoptado pelos
1 56 DiRECCAO

homens nas mesmas circunstancias. As mulheres lideranca nas organizacOes, nao se pode concluir
tendem a adoptar urn estilo mais democratico e apressadamente que os homens tern sempre van-
encorajam mais a participacao, com partilha do tagens sobre as mulheres para desempenhar
poder e da informacao, e o desenvolvimento dos papêis de lideranca. De facto, caracteristicas
subordinados. Enquanto os homens tern tendencia essenciais para uma boa lideranca encontram-se
para usar urn estilo de comando e controlo mais por vezes mais facilmente nas mulheres do que
apertado, a actuacao da mulher lider baseia-se nos homens. Em situagOes em que é impor-
mais no seu carisma, competencia, contacto e ca- tante a capacidade de negociacao, as mulheres
pacidade de relacionamento para influenciar o parecem desempenhar melhor essas tarefas, uma
comportamento dos subordinados. No entanto, a vez que sao menos inclinadas a centrar-se dema-
tendencia para uma lideranca mais democratica do siado nos ganhos e nas perdas e em competicäo
que a usualmente seguida pelos homens declina do que fazem os homens; antes encaram a nego-
quando a mulher lider se encontra num ambiente ciacao como uma relacao de continuidade e
de tarefas dominadas por homens. tentam ate fazer corn que a outra parte apareca
Apesar de os homens historicamente terem como urn vencedor aos olhos dos outros e a si
vindo a deter a predominancia de posicOes de prOpria.

CASO

Decorridos alguns meses desde a saida do anterior responsavel (que se aposentara),


o eng.° Alvaro Cardoso foi escolhido, em meados de 1990, para supervisionar o
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Metalomecanica Nova Europa, uma
empresa de media dimensao nos arredores de Lisboa.
Nessa altura, o dr. Rocha Pereira – o administrador que tomou a decisão – explicou
que o departamento precisava de ter a sua frente urn "homem da producao". Cardoso
tinha tido urn cargo de reponsabilidade na area da producao e tinha forte reputacao de
conseguir obter trabalho feito. De acordo corn o dr. Rocha Pereira, o eng.° Cardoso era
uma pessoa bem organizada e era conhecido por solucionar os problemas antes de eles
chegarem aos gestores de nivel superior.
Alvaro Cardoso, entretanto, tinha conhecimento de que nenhum dos engenheiros que
trabalhavam no departamento mostrou interesse em candidatar-se aquele lugar de che-
fia e que a opcdo por uma pessoa da producao constituia uma segunda escolha.
Mal iniciou as suas novas funcOes, Cardoso ficou muito surpreendido pela forma
como os tecnicos do departamento eram desorganizados. Frequentemente iam trabalhar
ja perto das 10 horas, outras vezes saiam as 16h – embora muitas vezes levassem tra-
balho para casa e Cardoso decidiu insistir que todos tinham de cumprir urn horario
regular. No dia seguinte, pela reuniu com eles e informou-os de que tinham de
trabalhar o mimero de horas previsto – e na empresa. Um dos tecnicos argumentou que
era impossivel ser criativo num regime de horario regular, mas o eng.° Cardoso res-
pondeu-lhe secamente afirmando que estava na hora de aprender a faze-1o. E foi-lhes
dizendo que tencionava analisar corn cada urn os projectos que tinham em curso e even-
tualmente ajuda-los no que the fosse possivel. E tornou bem claro que iria tomar parte
activa no sentido de assegurar a maxima eficiencia, procurando que cada projecto fosse
feito no menor espaco de tempo possivel.
LIDERANCA 157

hir No dia seguinte, o dr. Rocha Pereira encontrou o eng.° Cardoso e, depois dos cum-
n- primentos, disse-lhe: "O Cardoso, voce pos os tecnicos em pe de guerra. Parece que
ar temos ali urn problema agravado. 0 que é que se passa?" "Bern", respondeu Cardoso,
as "o que se passa a que eles estavam habituados a chegar e a sair quando lhes apetecia.
se Ha aqui calmaria em excesso. Eu espero bem que eles ja tenham percebido que estou
Lie disposto a tird-los da oestancia de repouso»."
•r-
es
la QUESTOES:
a-
lo 1. Qual parece ser o principal problema do Departarnento de Pesquisa e Desenvolvi-
D- mento da Nova Europa?
e 2. Comente a escolha do novo director.
3. Como classifica o seu estilo de lideranca de acordo corn as teorias estudadas?
si
OBJECTIVOS
■ Descrever o processo de comunicacdo, os seus elementos essenciais e referir o
que, numa empresa, deve ser comunicado aos trabalhadores.
■ Analisar a diversidade de canais de comunicagdo formais e informais presentee
numa organiza0o.
■ Identificar os varios tipos de rede de comunicacao e analisar as suas vantagens e
inconvenientes.
■ Analisar as barreiras tecnicas, de linguagem e psicolOgicas que impedem que os
objectivos das comunicaceies sejam atingidos.
■ Analisar as varias tecnicas que permitem desenvolver a capacidade de
comunicagdo.
■ Referir os efeitos das novas tecnologias na eficacia das comunicaciies nas
empresas.
8.1. 0 PROCESSO

Comegamos por definir gestdo como o pro- que recebem a informagäo que lhes é transmitida.
cesso de obter resultados corn o esforco de Sem receptor tambem nao ha comunicacao. Que
outros. Ora, para os subordinados saberem exac- interessa pregar no deserto se ninguem nos ouve?
tamente o que deles se pretende, que tipo de Urn professor so da aulas se tiver alunos pre-
tarefas devem desempenhar para melhor serem sentes, de contrario ningu6m o escuta, nao ha
atingidos os objectivos globais da empresa, transmissão de conhecimentos.
devem disso ter urn perfeito conhecimento, isto Alem do emissor, interessado em enviar a
6, deve existir comunicacdo eficaz. informacao, e do receptor, disposto a recebe-la,
Comunicacäo é o processo de transferencia de para haver comunicacao é necessario a existencia
informacOes, ideias, conhecimentos ou sentimen- de um meio de transmissdo, o canal. 0 canal de
tos entre as pessoas. Pode traduzir-se tanto na transmissiio 6, portanto, o meio atraves do qual
carta do correio como nas transmissOes via as comunicagOes sdo transmitidas entre as pes-
sat6lite, na conversa de corredor ou na ordem de soas, e pode revestir varias formas desde a voz
servico; mas a dificil conceber como é que os humana a rede de televisdo, passando pelo fax ou
objectivos duma organizacao podem ser atingidos pelo correio normal ou informatico.
sem comunicacdo.Tao sera exagero afirmar que Alan da existencia dos tits elementos fun-
os gestores que obtem sucesso em grande parte damentais que acabam de se referir – emissor,
o devem a sua capacidade para comunicar corn receptor e canal – para que haja comunicacao
as pessoas, e por essa via conseguir dar-lhes a efectiva é necessario que haja uma correspon-
conhecer os objectivos e o que delas se espera d8ncia tao perfeita quanto possivel entre o que
para que eles sejam atingidos. Esta provado que emitido e o que é recebido. Isto implica que o
os gestores passam a maior parte do seu tempo emissor deve codificar as suas mensagens de tal
comunicando corn os subordinados. modo, que estas, sendo perfeitamente transmi-
A comunicacao fornece, pois, os meios atra- tidas, serdo descodificadas pelo destinatario, o
y
es dos quais os membros da organizagdo podem receptor, de modo a atribuir-lhe o mesmo signifi-
ser induzidos a implemental: as acceies planeadas, cado. Se o receptor nao atribuir a informagdo
e a faze-lo motivados e com entusiasmo. recebida o mesmo significado que o emissor
0 processo de comunicacao implica a exis- pretendia, isto significa que houve falhas, ou
tencia de tres elementos: emissor, receptor e barreiras. Estas podem resultar de deficiencias na
canal de transmissdo. codificagdo (por exemplo, use de linguagem
Emissor é a pessoa ou entidade que tem uma inapropriada), de deficiencias no prOprio canal de
ideia ou mensagem para comunicar a outra pes- comunicacao, e diz-se que houve raid° (tentar
soa ou pessoas. E a fonte ou origem da comuni- comunicar urn assunto tecnico numa revista humo-
cacao, o primeiro elemento, sem o qual nao ha ristica) ou de problemas do prOprio receptor que
comunicacao. Por muito interessados que esteja- nao descodificou convenientemente a mensagem
mos em receber informaciies, se nä° houver que se pretendia transmitir (discurso ern sentido
quem nos queira dizer algo, nao ha comunicacao. figurado nao interpretado desse modo).
0 segundo elemento do processo de comu- A Figura 8.1, representando esquematica-
nicacao é o receptor, isto 6, a pessoa ou pessoas mente o processo de comunicacao, traduz o que
160 DIREccAo

acabamos de referir, sendo de evidenciar a


importancia do feedback, into é, o retorno (recep-
Emissor
tor emissor) da informacdo que permite ao
significado emissor verificar se a comunicando foi ou n'ao
perfeitamente recepcionada.
Codificacäo Por exemplo, na comunicando oral, as pa-
mensagem Iavras sdo transmitidas atraves de meios tao
diferentes como conversacdo cara a cara, por
CANAL telefone, radio, televisdo; os livros, artigos e
mensagem cartas correspondem a canais escritos; os sentidos
do tacto, cheiro, gosto, sdo canais de comuni-
Descodificacdo cacao nä° verbais (embora para urn cego, quando
le em braille, o tacto seja urn canal verbal de
compreensdo
comunicando).
Receptor No entanto, muitas comunicaceies de grande
importancia sdo realizadas sem que uma pa-
lavra seja pronunciada. E a comunicando Lido
Figura 8.1 — Processo de comunicando verbal.

8.2. 0 QUE DEVE SER COMUNICADO

Segundo inqueritos feitos por Henry Mintz- nicdo – saber o que deles se espera, bem como
berg e outros (1 ), grande parte dos gestores gasta ser ouvidos e entendidos pelos seus superiores,
cerca de 80% do seu tempo comunicando corn as o que ndo é conseguido se o sistema de
pessoas, quer internamente corn as que fazem
parte da empresa quer externamente corn clien-
tes, fornecedores, accionistas, financiadores,
entidades oficiais, etc. Em relacâo as pessoas que
constituem a empresa, os gestores de nivel inter-
medio geralmente gastam mais tempo a comunicar
corn os seus subordinados (comunicando vertical
descendente), menos corn os seus superiores
(comunicacäo vertical ascendente), situando-se o
tempo gasto corn os outros departamentos
(comunicacäo horizontal) numa zona intermedia,
conforme se mostra na Figura 8.2.
Os cientistas das areas do comportamento tern
demonstrado que a motivacao dos trabalhadores
d impossivel sem uma comunicando eficaz.
Os trabalhadores das empresas tern necessidade
de conhecer bem quais sdo os objectivos da orga- Figura 8.2 — Distribuicao aproximada do tempo
nizacdo – devem, alias, participar na sua defi- de comunicacäo do gestor
comuNicAgAo 161

comunicacdo na empresa nao funcionar correcta- estes devem receber informaceies, no minim,
mente, isto é, se houver significativas barreiras sobre:
a comunicacao. ■ Como se espera que as suas tarefas sejam
Por outro lado, a globalizagdo do ambiente desempenhadas;
extern° da empresa e a necessidade de mudanca, ■ Os salarios e, de modo geral, sistemas de
caracteristica dos tempos que correm, tornam retribuic ;
mais evidente a importancia da transmissão de ■ A sua posigdo na estrutura organizacional
informacdo e conhecimentos, mas simultanea- da empresa;
mente trazem maior complexidade ao sistema da ■ As alteracOes que possam afectar o futuro
comunicacdo e por vezes constituem uma bar- da empresa, nomeadamente a sua segu-
reira adicional a comunicacdo eficaz. rarica;
No ambiente interno da empresa, para man- ■ As polfticas, regras e procedimentos na
ter o clima de motivagdo dos trabalhadores, empresa.

S.S. CANAIS DE COMUNICACAO

A Figura 8.3 mostra-nos como numa organi- organizacdo formal. Transmitem acima de tudo
zagäo podem coexistir canais de comunicacdo de comunicaciies descendentes, ou seja, de superior
varios tipos. para subordinados, provavelmente as de maior
Comecaremos por distinguir canais de comu- frequencia (ordens de servico, regulamentos,
nicacdo formais dos canais de comunicagdo definicao de objectivos, etc.) bem como comu-
informais. Os primeiros, como a prOpria palavra nicacOes ascendentes, isto é, dos subordinados
diz, correspondem as linhas da hierarquia da para os superiores (como feedback sobre as

Horizontal

Ascendente
Diagonal
Descendente

Figura 8.3– Tipos de canais de comunicagão


162 DiREccAo

comunicacoes descendentes, informaciies sobre a para comunicar aos seus subordinados infor-
evolucdo dos trabalhos, relato de problemas cor- macCies que lhes interessam. Deve no entanto
rentes, etc.). Os segundos, os canais de comu- ter-se presente que nem sempre sdo lidos por
nicacdo informais, transmitem informacao em todos os interessados. Acontece tambem que
todos as direccOes, nomeadamente laterals (entre algumas vezes sdo mantidos por muito tempo
membros da organizagdo situados no mesmo afixados, e desactualizados, sem qualquer utili-
nivel hierarquico), diagonais (entre membros da dade. Devem ser considerados apenas urn canal
mesma organizacdo nos diferentes departamentos de comunicacdo suplementar.
situados em niveis diferentes de hierarquia) e O jornal da empresa é usado por algumas
"em gavinha" (em varias direccOes diferentes e empresas, normalmente empresas de dimensão
simultaneamente envolvendo varios elementos de significativa, e destina-se geralmente a transmitir
diferentes departamentos). informacoes sobre novos produtos, a politica e
evolucdo da empresa, ou sobre outros assuntos de
8.3.1. CANAIS DE COMUNICA00 FORMAL interesse para os empregados. Informaceies sobre
DESCENDENTE actividades recreativas e culturais – premios ou
campeonatos em que houve participacdo – bem
Trata-se dos canais de comunicacdo mais im- como sobre os empregados que completam um
portantes nas empresas e que são, alias, muito determinado mimero de anos de bons servicos,
enfatizados pela maioria dos gestores. Quando säo uma oportunidade para desenvolver o espirito
falamos em comunicacdo na empresa entre gesto- da equipa, a coesäo e os valores morais e, de
res e subordinados, provavelmente o primeiro modo geral, a cultura da organizacdo.
tipo de comunicagdo de que nos lembramos é a As comunicacoes insertas nas folhas de
comunicacdo formal descendente. remuneracOes constituem outro canal adicional
Os canais de comunicacao formal descendente de comunicacão que, quando usado corn equi-
mais utilizados sac): a cadeia de comando, os aro, pode ter interesse para transmitir infor-
comunicados e avisos distribuidos ou afixados, o macOes importantes, uma vez que, em principio,
"jornal da empresa", comunicacoes insertas nas todos as leem.
folhas de salarios, os manuais, handbooks ou Os panfletos e handbooks sdo sobretudo
panfletos, o relatdrio anual, e os registos de voz usados para dar a conhecer aos novos membros
e imagem. da empresa, quando sac) admitidos, aspectos
A cadeia de comando é a linha ao longo da gerais sobre o funcionamento e politicas da
qual flui a autoridade do topo da organizacdo ate empresa, nomeadamente em termos de recursos
ao individuo situado no Ultimo escaldo da hierar- humanos.
quia. E o canal de comunicacdo usado corn maior Embora tendo presente que nem sempre sdo
frequencia e pode revestir a forma de comu- lidos por todos os interessados, devem tambem
nicacao oral ou escrita, sendo a mais frequente ser usados para comunicar a instituigdo de novo
a que se traduz no contacto pessoal face a face. sistema de avaliagdo de desempenho, piano so-
As comunicacoes escritas säo normalmente cial de complemento de reforma, etc.
usadas para assuntos de maior relevancia para a O relatdrio anual, que, alem das contas, con-
empresa e/ou para o gestor. E importante o papel tern informacOes sobre a actividade da empresa
dos gestores intermedios para que os destina- ao longo do ano, reflectindo a posicdo dos Orgdos
tarios finais, os trabalhadores, recebam a infor- de gestdo da empresa, destina-se fundamental-
macao corn o minim° de distorcdo possivel. mente aos accionistas. Contudo, tern vindo cada
A afixacao de avisos e comunicados é uma vez mais a despertar tambem o interesse dos
forma de que os gestores se servem muitas vezes empregados, alem do dos outros stakeholders.
COMUNIcACA0 163

Tambem os registos de voz e de imagem sac) departamentos de nivel hierarquico inferior para
por vezes usados para transmitir mensagens e os de nivel superior, de entre os canais de comu-
"aproximar" os gestores de topo dos empregados, nicacao formal ascendente mais relevantes desta-
quando isso nao é fisicamente viavel por qual- cam-se: a politica de "porta-aberta", o sistema de
quer motivo, nomeadamente pela dispersao sugestOes, os questionarios, o processo de recla-
geografica da organizacao. macOes, o auditor do pessoal e as reunities
Corn a evolucao das novas tecnologias da especiais.
informacao, outras formas de comunicagao tern A politica de "porta-aberta" consiste na per-
vindo a registar significativo desenvolvimento no missao de os trabalhadores terem acesso directo
mundo das empresas, como é, por exemplo, o ao gestor (portanto, sem a interferencia do seu
caso do sistema da videoconferencia, que per- superior directo) para colocarem as suas suges-
mite, em tempo real, o contacto por video e tele- tOes. Dentro de determinados limites, tern
fone simultaneamente entre varias pessoas situa- aspectos positivos (reducao das tensOes, aumento
das geograficamente nos locais mais diferentes e da confianca, acesso a informacao que doutro
distantes do globo ("reunitles sem se sair do modo o gestor provavelmente a nao conseguiria)
gabinete"), o do videotexto (acesso "remoio" mas pode tambem ter efeitos negativos, nomea-
atraves de urn monitor de computador ou de urn damente pelo consumo de tempo por parte dos
aparelho de TV a informacao armazenada e gestores, dificuldades de programacao pelas
transmitida por urn computador em local dife- eventuais interrupcOes, e, eventualmente, desen-
rente), ou o do teleprocessamento de dados, que volvimento de sentimentos de inseguranca por
permite aos trabalhadores efectuarem o seu traba- parte dos gestores intermedios.
lho consultando, registando e enviando infor- O sistema de sugestoes pode assumir varias
macOes fora dos locais tradicionais de trabalho — formas, nomeadamente a "caixa de sugestOes"
o escritOrio, por exemplo — eventualmente ate (onde os empregados colocam as sugestOes que
em suas pr6prias casas. lhes parecam ter interesse para melhorar qualquer
area da empresa) ou o formulario prOprio para o
8.3.2. CANAIS DE COMUNICA00 FORMAL efeito. Um aspecto importante a ter sempre em
ASCENDENTE conta é a consideracao em que deve ser tida
qualquer sugestao, informando sempre as pessoas
Os canais de comunicacao formal ascendente dos resultados ou decisOes corn ela relacionados.
sao considerados importantes sobretudo pelas Muitas vezes para as sugestOes mais importantes
empresas onde se pratica urn tipo de gestao parti- sat) atribuidos premios, pecuniarios ou outros,
cipativa. De facto, as comunicacOes ascendentes que funcionam como estimulo para os empre-
sac) importantes nao apenas como 'feedback", gados.
isto é, para que os gestores possam verificar Os questionarios geralmente sao anOnimos e
se as comunicacties descendentes foram bem permitem aos gestores identificar areas corn
entendidas, mas tambem para dar expressao ao problemas. Quando for o caso, devem os gestores
efectivo envolvimento dos trabalhadores nos desenvolver accOes tendentes a resolve-los; de
problemas da empresa. Revestem-se tambem de contrario, os trabalhadores acabarao por se desin-
importancia significativa quando urn gestor tern teressar em futuros questionarios.
de coordenar varias actividades e, consequente- O processo de reclamacoes consiste num pro-
mente, necessita de controlar mais cuidado- cesso sistematico de canalizacao das reclamacOes
samente a sua evolucao. por parte dos empregados em relacao a materias
Para alem dos relatOrios ou outros elementos que os afectam. Por partedos gestores ha quem
de informacao peri6dica fornecidos por parte dos os considere uma fonte de enfraquecimento da
164 DIREccAo

sua autoridade, mas ha tambem quem entenda ou mais pessoas encontram-se, dentro ou fora das
que a uma forma de evitar que pequenos proble- instalacties da empresa, no bar, no clube de que
mas se transformem em problemas maiores e de sao s6cios, durante uma partida de golfe ou
mais dificil controlo. quando väo a pesca, e trocam informacOes sobre
0 auditor do pessoal actua como "os olhos e a empresa em que trabalham, por vezes resol-
os ouvidos" do gestor, canalizando as reclama- vendo ou ajudando a resolver urn problema,
cOes e recomendando as acmes apropriadas. quem sabe?, a concretizar urn negOcio. A comu-
Pode ser de grande utilidade na resolugdo e no nicacdo informal, muitas vezes, existe porque as
s
evitar de conflitos, actuac ao que é geralmente pessoas sentem necessidade de informagOes que
desempenhada sem grande exuberfincia. o sistema de comunicacao formal da organizacao
As reuniOes especiais destinadas a discutir nao ihes fornece.
problemas especificos, sdo muitas vezes progra- A comunicando informal tanto pode ser
madas pelos gestores para obterem feedback dos lateral, por exemplo, dois gestores comunicando
seus colaboradores. ao mesmo nivel, como diagonal – comunicagao
entre duas pessoas de niveis hierarquicos dife-
rentes – e, quando usada eficazmente, pode ser
8.3.3. CANAIS DE COMUNICA00 INFORMAL uma importante fonte de informacOes para os
gestores.
A comunicando informal é a que é desen- Ao sistema de comunicacao informal costuma
volvida a margem da estrutura hierarquica, for- dar-se o nome de "gavinha" (grapewine) expres-
mal, da organizacdo. sdo que de facto a sua representacdo grafica
Geralmente anda associada ao tipo de rela- sugere, como se pode ver na Figura 8.4.
cionamento entre as pessoas independentemente Geralmente, as informacOes circulam mais
das suas posicOes na hierarquia da empresa. Duas rapidamente atraves do sistema de comunicando

Figura 8.4 –Comunicagão informal ("gavinha")


ComUMCAC:410 165

informal, e os trabalhadores consideram-na uma ■ Funciona para alem dos muros da empresa
das primeiras fontes de informagao corrente. (alias, grande parte da comunicacao infor-
0 sistema de comunicagOes informais tern mal processa-se fora das horas e dos locais
quatro caracteristicas fundamentais: de trabalho).
■ As informacOes sac) transmitidas em todas Os gestores nao devem ignorar ou menos-
as direcgOes; prezar o sistema de comunicagOes informais na
■ A comunicacao a muito mais rapida, uma empresa, muito menos pensar em elimina-lo,
vez que nao tem os obstaculos que as normas o que seria impossivel. Pelo contrario, devem
e os procedimentos geralmente representam; tentar tirar o maximo partido da sua existencia,
■ E selectivo em relagao aos destinatarios; o que pode contribuir para aumentar a eficacia do
pode acontecer que se "contem as coisas" a sistema formal de comunicacao em beneficio da
uns mas nao a outros; agilidade da gestao.

8.4. REDES DE COMUNICAcAO

As diferentes e relativamente permanentes Ultimo membro comunica tambem corn o pri-


posigOes ocupadas pelos individuos que cons- meiro fechando-se o circulo (e o caso de um
tituem uma organizagao sao percebidas pela recem-admitido que tern como mentor um gestor
analise da sua estrutura organizativa, a qual pode do topo da hierarquia corn quem tambem comu-
assumir diversas formas como ja vimos no capi- nica).
tulo quinto. Mas as estruturas de grupo podem Na rede de comunicacao em que ha inter-
tambem ser descritas pelos padriies de comuni- ligactio total, todo e qualquer membro do grim()
cacao desenvolvidos entre os seus membros, ou pode comunicar com qualquer outro membro do
seja, pelas redes de comunicacao que os caracte- mesmo grupo.
rizam. Geralmente, qualquer grupo admite mais que
Geralmente, consideram-se cinco tipos de rede urn tipo especifico de rede de comunicacao. Mas
de comunicagao em grupo: comunicacao em roda, havers sempre urn tipo de rede que predominara
em Y, em cadeia, circular e interligagao total, e que o caracteriza.
esquematicamente representados na Figura 8.5. Qualquer uma das formas de comunicagao em
Na rede de comunicagab em roda, os mem- grupo descritas tern vantagens e inconvenientes.
bros do grupo comunicam apenas e sempre atra- Assim, por exemplo, na rede de comunicagao em
ves de um tinico membro, o qual ocupa portanto roda, a comunicacao processa-se corn urn
uma posigao central. Na rede de comunicacao elevado grau de rapidez e rigor, mas em contra-
em Y – que, invertendo a posicao do esquema, partida o nivel de satisfacao que desenvolve nos
faz lembrar a cadeia de comando de uma estru- membros do grupo é reduzido. E tipica das
tura hierarquica rigida –, a comunicacao percorre estruturas centralizadas em que a lideranca se
nos dois sentidos os diversos niveis da hierarquia caracteriza por urn elevado grau de autocracia. Ja
sem possibilidades de comunicagao horizontal. nas estruturas em Y e em circulo a velocidade de
A rede de comunicacao em cadeia apenas per- circulagao da comunicagao é inferior, sendo mais
mite a cada membro comunicar corn o que o rigorosa no primeiro do que no segundo caso.
antecede e corn o que o precede. A rede de comu- Quanto ao nivel de satisfacao dos seus membros,
nicagao em circulo é uma cadeia em que o a situagao é inversa, isto é, os membros de um
166 DiREccAo

Figura 8.5 – Redes de comunicacdo

grupo cuja comunicacao se processa fundamen- creto depende das caracteristicas dos membros do
talmente em circulo apresentam urn maior nivel grupo, das tarefas a executar e dos objectivos a
de satisfacao do que os que integram urn grupo atingir.
que comunica fundamentalmente em Y, o que se Por exemplo, urn grupo acabado de se cons-
deve, por um lado, a maior possibilidade de tituir, provavelmente, tera mais vantagens se
feedback, e por outro lado, a possibilidade de adoptar uma rede de comunicacao em roda,
partilhar responsabilidades e descentralizar as permitindo a passagem corn uma certa rapidez
decisOes, tal Como nos grupos caracterizados por de grande volume de comunicacdo, devida-
urn tipo de rede de comunicacdo de interligagdo mente filtrada (pelo elemento central). Mas para
total. urn grupo já constituldo em que os diversos
Na Figura 8.6 descrevem-se resumidamente as elementos se conhecem e tern experiencia de
caracteristicas de cada uma das redes de comu- trabalho conjunto, em que seja importante
nicacao referidas. analisar e avaliar alternativas, a discussäo aca-
E importante reter que a Unica melhor maneira bard por ser mais importante do que a filtragem
de estruturar a comunicacdo entre os membros de da informacdo, e as estruturas em circulo ou em
um dado grupo tido existe. A eficacia da confi- interligacäo total revelar-se-do mais apropria-
guracdo da rede de comunicacdo num caso con- das.
ComumcAcAo 167

REDE DE
COMUNICACAO
Interligacao
Em roda Em Y Em cadeia Circular
total

CARACTERISTICAS

Velocidade Rapida Lenta Lenta Lenta Media

Rigor Born Razoavel Razoavel Reduzido Born

Satisfacdo Reduzida Reduzida Reduzida Elevada Elevada

Emergéncia de lideranca Sim Sim Sim Nao Isla()


_
Centralizacao Sim Sim Moderada Nan Nao

Figura 8.6– Caracteristicas das redes de comunicacao

8.5. BARREIRAS A COMUNICACÁO

A eficacia da comunicacao implica fundamen- necessarios para tomada de decisifies em Feve-


talmente que os destinatarios interpretem correc- reiro sac) comunicados apenas em Marco ou
tamente as mensagens que se pretendem trans- Abril, a mensagem nao atingiu o objectivo
mitir. De contrario, os objectivos da organizacdo pretendido.
nä° sào perfeitamente entendidos pelos membros A sobreinformacdo, ou seja, a canalizacao
que a constituem, e as deciseies de gestao correm para uma pessoa ou departamento de quantidade
naturalmente o risco de insucesso. excessiva de informacdo, que impede a sua
Chamamos barreiras a comunicacao a todos perfeita tomada de conhecimento e eventual
aqueles impedimentos que podem ocorrer em tratamento – infelizmente uma situacdo muito
qualquer fase do processo de comunicacao e que frequente na vida de muitos dos gestores dos
se traduzem num obstaculo a pretendida trans- nossos dias conduz tambem a reducdo da efi-
missdo das ideias ou conhecimento. cacia da comunicacao.
As barreiras a comunicacao podem classificar- A diferenca de culturas é responsavel por
-se em tres grandes grupos: barreiras tecnicas, de alguns desfasamentos de comunicacdo visiveis
linguagem e psicolOgicas. sobretudo quando se trata de contactos a nivel
As barreiras tecnicas estäo relacionadas essen- internacional entre gestores de diversas naciona-
cialmente corn o tempo (oportunidade na comuni- lidades corn culturas diferentes. Por exemplo, no
cacao), a sobreinformacdo e as diferencas culturais. Ocidente, o tempo é urn elemento valioso, e esta-
0 tempo, ou seja, o timing, a oportunidade na belecer uma data-limite é sinOnimo de urgéncia e
comunicacao, é urn dos aspectos mais importan- como tal entendido pela generalidade das pessoas;
tes no que se refere a eficacia da comunicacao. mas no Medio Oriente apresentar uma data-limite
Pensemos, por exemplo, corn o que se passa corn a outra pessoa é considerado rude. Esperar trinta
a contabilidade, uma das fontes de informacdo minutos por uma entrevista no Ocidente significa
mais importantes nas empresas. a atribuicdo de status reduzido a quem se obriga
Se, devido a atrasos no seu tratamento, os a esperar; mas uma espera: de trinta minutos na
dados contabilisticos relativos ao més de Janeiro America Latina é considerada normal.
168 DIREccAo

Nas barreiras de linguagem ha que ter em As barreiras psicologicas, envolvendo varias


conta o vocabulario usado e a sernantica, ou seja, formas de distorcao das informacties e afectando
os significados das palavras. o relacionamento entre as pessoas, constituem
O vocabulcirio usado pelos emissores das infor- muito provavelmente, na generalidade dos casos,
macOes, nomeadamente os gestores, deve ter em o maior entrave ao normal funcionamento das
conta a audiencia ou os destinatarios, os quais nem comunicaceies na empresa.
sempre constituem urn grupo homogeneo. 0 uso de Podem revestir-se de varias formas, das quais
palavras que sejam entendidas somente por urn se apresentam em seguida as mais significa-
ntimero restrito de pessoas numa audiencia, por tivas.
serem culturalmente mais evoluidas (por exemplo), Filtragem da informacao, isto é, a alteracdo
faz perder o interesse e colocar fora do circuito da sofrida pela informagAo a medida que 6 trans-
comunicacdo urn mimero, maior ou menor, de mitida de pessoa para pessoa. Quanto mais "elos"
pessoas a quern a mensagem tambem se destinava. tiver a cadeia de comunicacdo, maior é a distor-
A possibilidade de diferentes significados da cdo verificada, pelo que, tambem aqui, a reducdo
mesma palavra, o que acontece nä° s6 na lingua de niveis de hierarquia, por exemplo, tern efeitos
portuguesa mas na generalidade das linguas beneficos na qualidade da comunicacdo;
estrangeiras, nomeadamente nas que mais se Grau de confianca e abertura de espirito
usam no mundo dos negOcios, como é o caso do entre gestores e subordinados pela influencia que
ingles, pode constituir uma dificuldade acrescida pode ter, nomeadamente, no feedback necessario
ao fluxo normal e a eficacia das comunicacOes. a uma comunicacão eficaz;
Veja-se por exemplo a seguinte frase: "A falta de Sentimentos de inveja ou chime, que por vezes
organizacäo que existe na organizacâo a que se manifestam nalguns quadros ou gestores de
pertencemos resulta da falta de pessoal quali- empresas em resultado do sucesso de algum ou
ficado no nosso departamento de organizacdo" alguns dos seus colegas e que, prejudicando o
onde a palavra organizacAo aparece tres vezes born relacionamento que deve existir, acabam por
corn significados diferentes. Ha portanto que ter contribuir para uma reducao da qualidade da
urn certo cuidado corn o uso das palavras que comunicacao;
podem ser interpretadas de modo diferente por Preocupacao ou stress, que, quando atinge
quem as le ou ouve. niveis elevados, faz corn que as pessoas nä°
0 mesmo se passa tambem corn o "jargao", "registem" a informacäo que lhes foi transmitida;
isto 6, a linguagem especifica usada por urn Tendencia para ouvir o que se espera ouvir,
grupo de pessoas, nomeadamente quando tern a o que provoca distorceies na percepcdo das
mesma formacao ou exercem'a mesma actividade mensagens transmitidas:
profissional. Os contabilistas, os informaticos, os Diferencas de percepcao, o que significa que
analistas financeiros, tern tendencia a desenvol- pessoas diferentes, corn experiencias diferentes
ver um jargdo associado as suas actividades, o por exemplo, tem tendencia para atribuir inter-
qual por vezes dificulta o perfeito entendimento pretaceies diferentes as mesmas palavras, frases
dos seus relatOrios ou comunicaceies. ou situacties concretas.

8.6. DESENVOLVIMENTO DA CAPACIDADE DE COMUNICACAO


A eficacia e a eficiencia da gestao, quer de possiveis se os gestores, a qualquer nivel, forem
uma organizacAo no seu conjunto quer de urn dotados de uma elevada capacidade de comuni-
departamento ou unidade organizativa, so sdo cacao. Quando o gestor comunica uma coisa e os
COMUNICACÂO 169

seus colaboradores entendem outra diferente, leitura rapida pode traduzir-se em consideraveis
0 naturalmente que isso resulta em perdas de pro- economias de tempo corn o correspondente
dutividade e desvios em relacao aos objectivos acrescimo de produtividade.
pretendidos. 0 espfrito e capacidade de observartio podem
0 desenvolvimento da capacidade de comuni- contribuir muito significativamente para ampliar
cacao é portanto urn imperativo para qualquer a eficacia nas comunicagOes. Quantas pessoas,
gestor, independentemente do seu nivel de gestores, individuos, nao se prejudicam por nao
actuagao. A aprendizagem da comunicagao eficaz observarem atentamente o ambiente (mais ou
passa pelo desenvolvimento de alguns atributos, menos proximo) que as rodeia? E por isso que
3 nomeadamente: a empatia, o saber ouvir, tecnicas muitos gestores sao adeptos de deslocacOes
de leitura, observacao, a escolha de vocabulario, frequenter aos diversos locais de trabalho nas
a linguagem corporal e a comunicagao pela suas empresas observando a forma como decor-
acc 'do . rem as operagOes "no terreno", em vez de se
A empatia é a habilidade para se identificar limitarem a ler ou ouvir os relatos que lhes sao
corn os pensamentos e sentimentos de outra apresentados.
pessoa. Ser empatico nao quer dizer que se A linguagem corporal é o metodo de comu-
concorde totalmente corn as posigOes assumidas nicagao nao verbal que se traduz nos gestos,
pelas outran pessoas; mas significa que se express6es faciais e movimentos que reflectem
entende as razOes por que as pessoas falam e pensamentos ou emocOes. E urn complemento
actuam de determinada maneira. importante da comunicacao que se processa por
Saber ouvir é uma das "ferramentas" mais palavras. Ha quern afirme, corn base em conclu-
importantes de que urn gestor pode dispor para ser sOes de estudos para o efeito elaborados, que
eficaz. Falar sistematicamente sem deixar falar os 90% das primeiras impressOes é baseado em
outros impede o conhecimento dos problemas e a comunicacao nao verbal, e apenas 10% em
determinagao das solugOes. Muitas vezes se comunicagOes verbais (2).
esquece que a comunicagao so é eficaz se as As posicOes corporais adoptadas pelo inter-
mensagens forem bem recebidas e entendidas. locutor — sentado, encostado para tras ou incli-
Urn dos problemas que se poem na comuni- nado para a frente, a forma como cruza as pernas,
cacao verbal é a diferenga entre a velocidade de os gestos corn as maos, roendo as unhas, as
compreensao das palavras por quem ouve e a expressOes faciais, etc. — podem dar indicagOes
velocidade da fala, sendo em media aquela supe- sobre o estado de espfrito das pessoas e ajudar a
rior a esta (quatro vezes mais
, rapida). E impor- perceber melhor o que elas pretendem transmitir
tante evitar a distracgao de quem escuta, e, mais (ou nao conseguem evitar). Os gestores devem
do que isso, tentar que quem ouve se coloque na nao so observar estes sinais nos seus interlo-
posigao de quern fala. cutores mas tambem ter em atengao as suas
A audigao eficaz a uma audigao empatica; prOprias manifestagOes de linguagem corporal e
requer uma habilidade para entender nao so as a forma como poderao ser entendidas pelos seus
palavras mas tambem os sentimentos. colaboradores.
As tecnicas de leitura podem ser aprendidas A importancia das acgOes como forma de
e desenvolvidas e permitem aumentar a rapidez comunicacao traduz-se naquela expressao conhe-
(para o dobro ou o triplo) sem significativa cida que se ouve muitas vezes — as acgOes falam
reducao da compreensao dos textos. mais do que as palavras — mas que tambem
Face ao volume, sempre crescente, de documen- muitas vezes a esquecida. Os gestores devem ter
tos que diariamente "invadem" as secretarias dos em atencao que os trabalhadores fazem a sua
gestores, o desenvolvimento das tecnicas de "leitura" sobre o que eles fazem (acgOes) ou
170 MECCA()

sobre o que ndo fazem (falta de acceies). Por quais sistematicamente mostravam o seu pouco
outro lado, convem ndo esquecer que, por vezes, empenhamento. Quando, certo dia, verificaram
reagem mais depressa a situagees de que tern que urn tecnico destacado para o efeito procedia
conhecimento atraves de acmes do que a situa- As medicOes e aos calculos necessarios para a
gOes semelhantes que conhecem por comuni- implantacao de varias maquinas destinadas a
cacao verbal. Pensemos naquela empresa que substituir uma serie de pessoas, a produtividade
pretendia melhorar a produtividade de urn sector aumentou imediatamente em valores signifi-
e tentou a implementacao de varias medidas cativos.
salientando a colaboracdo dos trabalhadores, os

8.7. EFEITOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS

Corn o enorme e rapido desenvolvimento A convergencia das tecnologias no processa-


da electrOnica, assistimos a alteracoes cada mento de dados e de texto, na comunicagdo de
vez mais rapidas e significativas nos metodos dados e de voz, redes, correio electrOnico, etc.,
de comunicagdo nas organizagOes. Para isso tern contribuido para tornar mais eficazes as
muito tern contribuido a constante queda dos comunicacees nas empresas.
custos que tern acompanhado esse desen- A teleconferencia, por exemplo, é um produto
volvimento. Computadores de grande porte, dessa convergencia no desenvolvimento das tecno-
minicomputadores e computadores pessoais sdo logias e permite que diversas pessoas em locais
desde ha bastante tempo equipamento de use diferentes do globo possam "reunir" como se
generalizado na quase totalidade das empresas. estivessem sentadas lado a lado na mesma sala.
Mais recentemente tern-se assistido ao desen- E de esperar que a nova tecnologia que
volvimento da tecnologia e sua aplicacao nas desponta – a inteligencia artificial – permita
comunicacoes, tanto no video como nas teleco- aproximar ainda mais as pessoas que necessitam
municagOes. e querem mesmo comunicar eficazmente.

CASO

Logo no inicio da manhd, o eng.° Joao Medeiros recebeu uma chamada do director-
-geral da fabrica, o eng.° Torres Pinto.
– Preciso de falar consigo, Joao. Pode vir ao meu gabinete por urn minuto? –
perguntou Torres Pinto.
– Corn certeza, y ou ja – respondeu Jo do
-
Medeiros.
0 eng.° Joao Medeiros era o director do controlo de qualidade. Estava na empresa
ha quatro anos. Depois de concluir o seu curso de Engenharia, tinha trabalhado como
supervisor da producao e responsavel pela manutencao antes da sua promogdo ao actual
cargo. Joao imaginou logo a razdo do telefonema.
– A sua carta de demissao apanhou-me de surpresa – comegou Torres Pinto –. Eu
acho que a Produtos Super quer recrutar urn born quadro, mas nos tambem precisamos
de si.
– Eu pensei muito no assunto – disse Joao Medeiros mas sinceramente ndo me
parece que haja grande futuro para mim aqui.
COMUNICAcAO 171

o — Mas porque é que diz isso? — perguntou Torres Pinto.


— Bern, vejamos — respondeu Joao — 0 lugar imediatamente superior ao meu e o seu.
a Corn os seus trinta e nove anos, nao me parece que va deixar em breve a empresa,
a portanto...
a — 0 facto é que y ou mesmo — disse Torres Pinto —, razao por que me sinto ainda mais
chocado pela sua sada. De facto, penso ser transferido para a sede em Junho do proximo
ano. Alem disso, a empresa tern varias fabricas maiores que esta onde precisamos de
vez em quando de gente especialmente qualificada quer em controlo de qualidade quer
em gestao geral.
— Sim, eu ouvi falar na existencia de uma fabrica de Setubal o ano passado — disse
Joao mas quando fui averiguar, o lugar ja tinha sido preenchido. Nos nunca sabemos
das oportunidades que surgem nas outras fabricas a nao ser pelo jornal da empresa, que
comunica as alteracties ja efectuadas.
— Bom, mas tudo isso nao vem ao caso, agora. 0 que é preciso para o fazer mudar
e de ideias? — perguntou Tones Pinto.
— Nao estou a ver-me mudar de ideias agora — respondeu Joao Eu ja assinei um
contrato corn a Produtos Super e nao y ou romper corn o compromisso.

D
QUESTOES:
S
1. Avalie o sistema de comunicacOes na empresa.
L.
2. Comente a actuagao do director-geral.
3. Que acceies teriam evitado a demissao de Joao Medeiros?
a
a

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