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DIREITO PENAL ESPECIAL E LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE1

PROF. ALEX RIBEIRO CABRAL

AULA 02 (CONT.) – HOMICÍDIO CULPOSO

I – INTRODUÇÃO

O homicídio culposo é o crime no qual o agente não quer nem assume risco
de provocar a morte da vítima.

Se há conduta praticada por alguém sem atenção ao dever objetivo de


cuidado, provocando-se a morte de outra pessoa, haverá o homicídio culposo.

Necessário que na análise do caso concreto, seja observado se o agente atuou


com a prudência do homem médio ou não. Caso não tenha agido com a prudência
necessária, deixando de prever o que era previsível e causando o resultado morte indesejado
ou não aceito, configurado estará o homicídio culposo.

2. IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA

Segundo Rogerio Sanches pode-se dizer que no homicídio culposo o agente,


com manifesta imprudência, negligência ou imperícia deixa de empregar atenção ou
diligência de que era capaz, provocando com sua conduta o resultado lesivo morte, previsto
ou previsível, porém jamais querido ou aceito.

➢ Imprudência: precipitação, ação perigosa do agente, praticando


conduta sem os cuidados exigidos para o caso e gerando risco a outras
pessoas. Ex.: em dia chuvoso, dirigir veículo empregando velocidade
que impeça a frenagem caso seja necessária; brincar com arma de fogo
(girando o revólver, por exemplo) em local com outras pessoas.

1
Elaborado com base, precipuamente, nas obras: 1. SANCHES, Rogerio. Manual de Direito Penal: Volume Único.
2. ROQUE, Fabio. Direito Penal Didático. 3. GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: Parte
Especial. 4. GRECO, Rogério. Código Penal Comentado; 5. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal.
➢ Negligência: ausência de precaução do agente. Em geral, a negligência
envolverá falta de atenção, uma omissão do agente. Ex.: dirigir veículo
com pneus carecas, vindo o automóvel a colidir com outro veículo,
pois a má qualidade dos pneus gerou o estouro de um deles; deixar o
veículo em ladeira sem o freio de mão devidamente acionado, vindo
o carro a descer a ladeira atingindo pedestre; deixar arma de fogo ao
alcance de criança que a manuseia e atinge a si própria ou a terceiro.

➢ Imperícia: ausência de aptidão técnica ou habilidade para exercício de


arte ou profissão. O agente com sua conduta demonstra ser incapaz
ou não possuir conhecimento técnico suficiente para desempenhar a
arte, ofício ou profissão em que atua. Ex.: médico que mata o paciente
em cirurgia por não manusear corretamente os instrumentos a seu
dispor.

Segundo a doutrina de Vitor Eduardo Rios Gonçalves podemos diferenciar


imprudência da negligência da seguinte forma: a imprudência é uma ação perigosa que
provoca o resultado; a negligência decorre de uma omissão que dá causa a um resultado.

3. PENAS PREVISTAS

A pena prevista para o homicídio culposo, segundo o artigo 121, §3º2, é de 1


a 3 anos de detenção, existindo majorante prevista no §4º e possibilidade de perdão judicial
no §5º:

§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de


1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra
técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de
1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor

2§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

* Diferença entre a imperícia e causa de aumento de pena “inobservância de


regra técnica”:

Na imperícia o agente por falta de habilidade no desempenho da arte, ofício


ou profissão, causa um dano. Ex.: piloto de helicóptero, devidamente habilitado, que na
hora da decolagem maneja mal o manche, causando descontrole da aeronave, que vem a
cair e matar dois passageiros. Ex.2: médico que manuseia mal o bisturi e lesiona artéria do
paciente, causando-lhe a morte.

Já na inobservância de regra técnica, o agente demonstra aptidão/habilidade


para desempenho de seu labor, mas por desleixo ou descaso, deixa de observar regra
inerente à sua função, vindo a causar a morte de alguém. Ex.: profissional da área médica
que não esteriliza o bisturi, provocando infecção e morte do paciente em decorrência de
contágio de bactéria hospitalar. Ex.2: eletricista que não desliga a energia da casa onde está
trabalhando, provocando a morte de seu ajudante.

Há também homicídio culposo na direção de veículo automotor, o qual é


regulado pelo artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro, tendo sanção penal maior do
que a prevista no artigo 121, §3º, do CP.

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção


de veículo automotor:

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e


suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.

§ 1o No homicídio culposo cometido na direção de


veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à
metade, se o agente:

I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira


de Habilitação;

II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na


calçada;
III - deixar de prestar socorro, quando possível
fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do sinistro;

IV - no exercício de sua profissão ou atividade,


estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.

V- (Revogado pela Lei nº 11.705, de 2008)

§ 2o (Revogado pela Lei nº 13.281, de


2016) (Vigência)

§ 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a


influência de álcool ou de qualquer outra substância
psicoativa que determine dependência

Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão


ou proibição do direito de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.

* Navios, Barcos, Aviões, Helicópteros etc: não é aplicável o artigo 302, vide
artigo 1º do CTB: “O trânsito de qualquer natureza NAS VIAS TERRESTRES do território
nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código”.

4. SUJEITOS ATIVO E PASSIVO

Sujeito ativo: qualquer pessoa. Crime comum.


Sujeito passivo: qualquer pessoa.

5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

A consumação do crime em tela se dá com a morte da vítima, lembrando-se


que a nossa legislação admite que já é possível constatar a morte a partir da denominada
morte cerebral (cessação da atividade encefálica).

Não há que se falar em tentativa, pois inexiste tentativa em crime culposo.

Se a ação do agente, apesar de imprudente, negligente ou imperita, nada


causou a quem quer que seja, não há crime.
Por outro lado, se o agir culposo causou, tão somente, lesão e não morte,
responderá o agente por lesão corporal culposa (art. 129, §6º, CP).

6. PERDÃO JUDICIAL – Art. 121, §5º, CP

Eis a redação do dispositivo legal:

§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz


poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da
infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que
a sanção penal se torne desnecessária.

A natureza jurídica do perdão judicial é de causa extintiva de punibilidade,


prevista pelo artigo 107, IX, do CP.

A aplicação do perdão judicial advém do extremo sofrimento imposto ao


agente diante de sua conduta culposa.

Desse modo, se, em razão de negligência, um pai causa a morte do próprio


filho, abre-se a oportunidade para a aplicação do perdão judicial, pois nenhuma sanção
penal será capaz de igualar o castigo imposto ao agente em virtude de sua própria conduta.

O perdão judicial deve ser concedido, tão somente, após a instrução


processual, isto é, coleta e análise de todas as provas pertinentes ao caso, momento no qual
o juiz poderá fazer a análise de mérito. Antes disso, não se pode falar em perdão, pois pode
ser a hipótese de ausência de culpa do agente, o que levaria à absolvição.

O perdão judicial não precisa ser aceito pelo agente, o que difere do perdão
estudado nos crimes de ação penal de iniciativa privada, o qual tem caráter bilateral (art. 58,
P. Ú, CP).

* Súmula 18/STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção


da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

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