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DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA e ARREPENDIMENTO

EFICAZ
São dois institutos dispostos no Art.15 do CP, desistência vol.

‘’O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o


resultado se produza, só responde pelos atos já praticados’’
- arrependimento efi.

É uma recompensa para o agente que desiste no curso da execução ou que evita a
consumação do delito, portanto não responde pela tentativa do crime almejado
inicialmente.
Em ambos os institutos, o agente não responderá pela tentativa do crime, e sim pelos
danos que tiver objetivamente causado pela sua conduta delituosa.
Parcela da doutrina defende que são duas excludentes de tipicidade, e outra parte que é
causa extintiva de punibilidade.

a) Desistência voluntária
Embora o agente tenha iniciado a execução do crime, não o leva adiante mesmo
podendo prosseguir, ele desiste da realização típica;
O agente passa pela cogitação, atos preparatórios, execução, mas não se consuma o
crime, por vontade própria, mesmo podendo consumar.
‘’É deixar de prosseguir, abandonar o curso do crime’’

[Pressupostos]
1- Não Fazer, abandonar o curso da execução;
2- Voluntariedade, a motivação da desistência precisa ser vontade própria do agente, não
é necessário ser espontâneo, pois excepcionalmente se admite influência de fato terceiro
na vontade do agente, como no caso de na execução o agente ver que a vítima é uma
idosa, e então se compadece e decide evacuar, então é admitido desistência voluntaria,
pois voluntariamente o agente desistiu, mesmo que por um fato alheio e não espontâneo,
diferentemente de por exemplo a chegada da polícia ou alguém armado ao local da
execução do crime, o agente desistiu por fato terceiro mas não voluntariamente, pois foi
este a causa da não consumação do crime.

[Fórmula de Frank]
O agente pode, mas não quer consumar o crime (desistência voluntaria)
O agente quer, mas não pode consumar o crime (tentativa)

Caso concreto (1): Um deputado numa discussão de trânsito, disparou contra um


motorista de ônibus, acertando-o levemente; aproximou-se dele, podia ter efetuado mais
disparos, podia ter matado, mas desistiu.
Neste caso, como o agente por vontade própria não consumou o crime, não se enquadra
em tentativa de homicídio, pois ele podia ter consumado o homicídio, mas não quis, o
correto é se enquadrar em lesão corporal.
Caso concreto (2): Um individuo atira contra outro, com a intenção de acertá-lo, em
parte vital, mas o tiro passa ao lado da cabeça sem causar lesão. E então o que atirou
nada mais faz, evacua-se do local.
Então o agente responde por perigo de artigo (art.132 CP), pois não houve lesão, foi
apenas um único disparo, o agente poderia ter efetuado mais disparos, porém desistiu de
continuar com o crime.

b) Arrependimento Eficaz
O agente após esgotar todos os atos executórios (necessários ou suficientes), o agente se
arrepende e evita que o resultado aconteça, então percebe-se que é necessário aqui que
o agente não tenha mais como consumar o crime, se arrependa e inicie uma nova ação
com a finalidade de impedir que ocorra o resultado inicialmente almejado.
Aqui não é deixar de prosseguir, e sim atuar para que não ocorra o resultado, não
consumar crime inicialmente pretendido,

[Pressupostos]
1- Fazer; um comportamento positivo do agente para evitar a consumação do crime
2- Voluntariedade; após o agente não conseguir consumar o crime, ele se arrepende, não
é necessário ser espontâneo, pois excepcionalmente se admite influência de fato terceiro
na vontade do agente
3- Eficácia; evitar a consumação do crime

Caso concreto (1): Maria, esposa de Marcos, coloca veneno em sua comida, com
intenção de matar, mas ao vê-lo no chão desmaiado, se arrepende e lhe joga um antidoto
na boca;
Será arrependimento eficaz pois Maria se arrependeu e adotou uma nova ação (fazer),
para tentar não deixar que o crime de homicídio se consumasse, então para isso, o
antidoto precisa funcionar (eficácia), se Marcos vier a morrer, ela responderá pois o
crime se consumou. Se Marcos escapar ileso, ela por nada responde, pois a sua
responsabilidade se entende apenas ao dano causado na execução.
O veneno é um ato executório necessário e suficiente para consumar um homicídio,
então estaria esgotado os atos executórios.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Está presente no Art.16 do CP, para doutrina, é uma causa de diminuição da pena, de
1/3 a 2/3.
‘’Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça a pessoa, reparado o dano ou
restituído a coisa, até o recebimento da denúncia ou queixa, por ato voluntario do
agente.’’
a) A violência que obsta a aplicação do instituto, precisa ser contra a pessoa, e de forma
dolosa; Se
for culposo ainda cabe este instituto, e se a violência for contra a coisa, como em caso
de furto mediante rompimento de obstáculo, se reparado o dano contra a coisa, ainda
sim cabe o instituto.
b) O ato de reparar ou restituir, não precisa ser necessariamente espontâneo, pode ser
influenciado por terceiro, basta que seja voluntario, e de forma integral.

Existe um limite temporal, que é até o recebimento da denúncia; em questões é


comum trocar recebimento da denúncia por oferecimento da denúncia, quem recebe é o
Juiz e quem oferece é o Ministério Público.
Se o agente reparar o dano ou restituir a coisa, após o recebimento da denúncia, será
uma circunstância atenuante do Art.65, inciso III, na terceira etapa da dosimetria da
pena, ainda será um benefício ao agente, mas não tão benéfico quanto o arrependimento
posterior pois este diminui mais a pena.
Existe hipóteses legais em que o arrependimento posterior é mais fácil para ser atingido
pelo agente, como nos casos:
1- No crime de estelionato cometido por meio de cheque sem fundos, caso o pagamento
do cheque seja feito antes do recebimento da denuncia ou queixa, obstará o início da
ação penal, por força da súmula 554 do STF.
2- Em crime de ordem tributária, ou apropriação indébita previdenciária, ou sonegação
de contribuição previdenciária, o adimplemento do débito tributário, a qualquer
momento, levara a extinção da punibilidade, ou seja, mesmo após o transito em julgado
da sentença condenatória se o infrator quitar a dívida, será um homem livre, segundo
precedentes do STJ e o STF.

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Ponte de Prata: é o termo usado para se referir ao arrependimento posterior; uma
espécie de prêmio, recompensa ao agente
Ponte de Ouro: é o termo usado para se referir a desistência voluntaria ou
arrependimento eficaz, previstos no art.15; ‘’é a ponte de ouro que a lei estende para a
retirada oportuna do agente’’ -Von Liszt (1929, alemão)
Ponte de Diamante: seria a ponte de prata qualificada, pela colaboração premiada;
aparece na Lei 12.850 de 2013, a de organizações criminosas.

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