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IX Seminário Técnico de Proteção e Controle

1 a 5 de Junho de 2008

Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil

Saturação de Transformadores de Corrente e suas Implicações em Esquemas


Diferenciais de Proteção. Paradigmas e Possíveis Soluções

Francisco Antonio Reis Filho Eduardo César Senger


POLI/PEA/USP/LPROT POLI/PEA/USP/LPROT
farfilho@ig.com.br senger@pea.usp.br

Palavras-chave :

Classificação.
Processamento Digital de Sinais.
Saturação.
Transformadores de Corrente

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo apresentar e analisar o aspecto de saturação dos
transformadores de corrente e seu impacto na atuação das proteções diferenciais que operam por
corrente. Para tal são apresentados na ordem as características principais do fenômeno físico com
realce para a componente DC do fluxo residual e em seguida seu modelamento no ATP para a
obtenção das formas de onda de corrente.No próximo passo são verificadas as principais propostas
de alguns fabricantes para a solução parcial ou total do problema através de uma análise operativa
dessas proposições, para em seguida se verificar as alternativas de análise matemática através de
algoritmos baseados em reconhecimento de padrões e da transformada Wavelets para a detecção do
evento e sua posterior determinação se defeito ocorre dentro ou fora da zona protegida. Por último
são simulados em um circuito típico de transmissão a validade da proposta em pauta.
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2 – Desenvolvimento.

2.1 – O Transformador de Corrente.

Na figura 1 é apresentado um circuito típico de um transformador de corrente. De forma abreviada


seu funcionamento se baseia na divisão de corrente entre a corrente de magnetização do núcleo(Ie) e
a corrente que alimenta sua carga secundária(I2). A corrente Ie precisa gerar uma força eletromotriz
E2 que em seguida irá forçar a circulação da corrente secundária I2.Por outro lado essa força
eletromotriz E2 se baseia na taxa de variação do fluxo magnético no tempo, e se esse fluxo estiver na
região não linear de sua curva de histerese a conseqüente geração da corrente secundária I2 poderá
ficar comprometida.

Figura 1 – Circuito Típico de um Transformador de Corrente

Portanto o fenômeno de saturação descrito pode ser dividido em duas formas objetivas a saber :

● Dimensionamento do TC : Essa situação pode ocorrer quando a corrente primária ou de defeito é


alta(I1) fazendo com que a corrente secundária(I2) multiplicada pela sua carga secundária
(R2 + j(X2+Z2)) force a necessidade de uma força eletromotriz (E2) acima de sua tensão de joelho e
conseqüentemente fazendo com que o TC opere na região não linear de sua curva de excitação.
Outra condição operativa que produz o mesmo efeito é o dimensionamento incorreto das
impedâncias secundárias(Bitolas e distâncias dos cabos dos Tc´s até os relés) que em conjunto com
essas altas correntes de defeito podem produzir o mesmo efeito descrito. Essas duas condições
operativas podem ser literalmente previstas durante o projeto do sistema de proteção e devidamente
monitoradas com a variação do potência de curto – circuito do sistema(PCC) próximas ao TC.
● Saturação DC : Para esse evento a sua principal causa é a existência de um fluxo residual que
poder fazer com que o processo descrito acima já se inicie na região não linear da curva de histerese.
A principal deste evento é a componente DC da corrente de curto – circuito e a mesma pode ocorrer
independentemente de todas as precauções de projeto citadas anteriormente como o correto
dimensionamento de sua relação e uma supervisão da componente DC do sistema ao qual o Tc está
conectado sendo este parâmetro de difícil estimativa.
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Figura 2 – Corrente de Defeito com uma alta componente DC

Da figura 2 acima pode-se perceber que enquanto perdura a componente DC na corrente de defeito
não ocorre a variação de fluxo e por conseqüência a não existência da força eletromotriz E2
causando por fim a saturação da corrente secundária no transformador de corrente.

2.2 – O circuito no EMTP.

Para se obter as formas de onda necessárias para a posterior análise do evento em pauta monta-se
no ATP um circuito monofásico conforme a figura 3 a seguir. Nesse circuito a resistência R1 simula a
corrente de regime e a resistência R2 e indutância X2 modelam a corrente de defeito, além de poder
variar a componente DC dessas correntes pela relação X2/R2.No circuito do transformador de
corrente usa-se o modelo do transformador ideal em conjunto com o modelo da curva de excitação
dada típica onde através da subrotina HISTERESE se obtem sua respectiva curva de Histerese
representando o seu fluxo residual. Na figura 4 em seguida são apresentadas essas correntes com e
sem saturação. Durante o decorrer do trabalho para a obtenção dessas correntes vai-se saturar o TC
tanto de forma AC quanto DC , conforme apresentado na tabela 1 a seguir. Para a geração dos casos
a serem simulados no circuito da figura 3 abaixo.

CHAVE2 R2 X2

CHAVE1 R1 TC2000/5 RSECTC

U RCARG

Figura 3 – Circuito Monofásico para a obtenção das Correntes


4
30
[A]
15

-15

-30

-45

-60
0.00 0.03 0.06 0.09 0.12 [s] 0.15
TCMONOF2.pl4: c:TCM1 -CARGAS
tcmonof 1.pl4: c:TCM1 -CARGAS

Figura 4 – Formas de Onda das correntes sem e com saturação.

2.3 – Análise das Alternativas Existentes no Mercado.

Através das referências 1 e 2 da bibliografia pode-se avaliar que os fabricantes SIEMENS e GE


possuem soluções efetivas e com certeza de bom desempenho não só na detecção mas na
diferenciação se o defeito é interno ou externo a zona protegida. Todos usam como ferramenta
principal as técnicas de Fourier e sua filtragem no domínio da freqüência devidamente
complementadas com outras técnicas adaptativas. Entretanto, todas essas propostas apresentam
em alguma fase do processo uma temporização e/ou desensibilização mesmo que durante um curto
período de tempo do processo. A GE para a detecção da saturação DC apresenta um atraso de
1,5 ciclo para dar ao seu algoritmo a chance de operar para faltas internas sem a necessidade de
medições adicionais e a SIEMENS apresenta um deslocamento adaptativo da curva diferencial
conforme apresentado na referencia 3.

2.4 – Proposta de Algoritmo para a Detecção da Saturação.

Conforme objetivo principal do trabalho o algoritmo em pauta tem como objetivo detectar a ocorrência
da saturação e em seguida discriminar se o defeito é interno ou externo a zona diferencial protegida.
Para tal serão usadas técnicas de reconhecimento de padrões conforma descrito a seguir e na
tabela 1 são apresentados 10 casos modelados no circuito da figura 3, onde variou-se as
componentes DC do defeito através da relação X2/R2 e a carga secundária Rcarga para se obter
também a saturação AC.
Tabela 1 – Geração de Casos para teste do Algoritmo
Casos R2(Ω) L2(Ω) X/R Isec(A) RCarga(Ω) Saturação AC Saturação DC
Caso 1 0.308 0.616 2 100 1.9 Não Não
Caso 2 0.135 0.676 5 100 1.9 Não Não
Caso 3 0.0344 0.689 20 100 1.9 Não Não
Caso 4 0.00862 0.689 80 100 1.9 Não Sim
Caso 5 0.0172 0.689 40 100 1.9 Não Sim
Caso 6 0.0344 0.689 20 50 9.7 Sim Não
Caso 7 0.0694 1.388 20 50 1.9 Não Não
Caso 8 0.0173 1.389 80 50 1.9 Não Sim
Caso 9 0.0347 1.389 40 50 1.9 Não Sim
Caso 10 0.0347 1.389 40 50 9.7 Sim Não
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Na figura 5 a seguir são apresentadas as curvas típicas dos casos 4 e 8 para a condição de
saturação DC variando-se a constante de tempo DC do circuito sob teste e o módulo da corrente de
defeito. Nota-se desde já uma menor deformação da forma de onda para o caso 8 que apresenta
uma menor corrente de defeito e leva um tempo maior para saturar.

100
[A]
75

50

25

-25

-50
0.06 0.08 0.10 0.12 0.14 0.16 0.18 0.20 [s] 0.22
caso8.pl4: c:TCM1 -CARGAS
caso4.pl4: c:TCM1 -CARGAS

Figura 5 – Caso típico de saturação DC.

2.6 – O Desenvolvimento do Algoritmo.

O principal objetivo do algoritmo é portanto detectar as seguintes principais condições operativas :

● A ocorrência da Saturação.

Antes de apresentar a nova proposta aplicam-se sobre os sinais apresentados nas figuras 4 e 5 a
FFT(Fast Fourier Transform) sobre os mesmos para se obter uma resposta frequencial desses sinais.
Essa análise é apresentada na figura 6 a seguir.

Figura 6 – Aspecto Frequencial das Correntes.


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Pelo exposto acima notam-se que a presença das harmônicas até a quinta ordem são visíveis mas
de difícil capturação para eventos posteriores de classificação. Neste instante e baseando-se na
referencia bibliográfica 3, levanta-se a hipótese de se usar uma ferramenta matemática que possa
trabalhar tanto no domínio de freqüência como no tempo e essa ferramenta é a Transformada
Wavelets. De forma básica e suscinta, essa transformada possui conforme a equação 1 abaixo , uma
escala logarítmica que em conjunto com o parâmetro de escalamento(a) e translação(b), permite
capturar eventos em ambos os domínios. Em seguida e conforme o diagrama da figura 7 o respectivo
sinal é convoluido e em freqüência e em seguida decimado sucessivamente. Na figura 4 a curva de
corrente saturada em vermelho apresenta uma brusca variação no tempo, sendo essa variação
mostrada no espectro da figura 6 acima. Para verificarmos o desempenho da transformada Wavelets
sobre essas mesmas forma de onda geram-se sinais apresentados na tabela 1 com uma freqüência
de amostragem de 128 amostras/ciclo e com uma janela de ¼ ciclo escorregando sobre o sinal com
uma sobreposição de 50 % respectivamente. Adotam-se aqui uma função mother wavelet do tipo
Daubechies 4. Na tabela 2 e na figuras 8 são apresentadas as faixas frequenciais e os níveis dos
coeficientes wavelets sobre todo o sinal para a condição de curto com saturação.

1 +∞  k − n. m . 
 a o bo 
W g f ( m, n ) = ∑ f ( k ).g   (01)
m  m
a o k = −∞  ao 

Figura 7 – Algoritmo Multiresolução MRA para a análise Wavelets.


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Tabela 2 - Faixa Frequencial - Wavelets
Níveis Faixa Frequencial (Hz)
1 1920 - 3840
2 960- 1920
3 480 – 960
4 240 – 480
5 120 – 240
6 60 – 120
7 30 – 60
8 30 – 15
9 7,5 – 15
10 3.25 – 7,5

Conforme já citado anteriormente, na figura 8 a seguir é apresentada uma análise Wavelet sobre o
sinal de corrente com saturação com uma sobreposição de 50 % e tamanho de ¼ de ciclo.
Observa-se claramente a variação nos níveis 4,5 e 6 devido as harmônicas geradas pelo evento e por
sua brusca variação no tempo. Toma-se em seguida o desvio padrão dos coeficientes wavelets de
cada nível, onde figura 8 apresenta a variação no instante em que a janela está entrando no evento
de saturação na forma de onda de corrente.

Figura 8 – Coeficientes Wavelets do sinal de Corrente.

Do resultado obtido acima verifica-se que uma análise mais detalhada dos níveis 4,5 e 6 os mesmos
apresentam uma variação significativa de energia podendo esse critério ser usado para se discriminar
o evento em pauta. Esta técnica foi simulada nos sinais apresentados na tabela 1 sendo identificados
todos os casos de saturação de forma correta e com um tempo relativamente curto comparado as
técnicas baseadas em Fourier.
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3 – Conclusões.

A utilização de uma nova ferramenta matemática para a análise do sinal, aliados a possibilidade de
análise dos mesmos tanto nos domínios do tempo como da freqüência, abrem uma nova
possibilidade no campo das proteções.Novas técnicas de observabilidade e reconhecimento de
padrões desses sinais aliadas a essas ferramentas podem ser uma nova alternativa e em tempo mais
rápido na busca de soluções de problemas de proteção de sistemas elétricos até agora não
devidamente solucionados.

4 - Bibliografia.

4.1 – Rebizant W,Feser K, Schiel L.


“ Differential Relay with Adaptation During Saturation Period of Current Transformers “
4.2 – B30 – Differential Busbar Protection – UR Series Instruction Manual.
4.3 – Reis Filho,F.A – Tese de Doutorado – POLI/USP / 2002.
“ Uma proposta de Algoritmo Digital para a Proteção da Interligação Concessionária –
Indústria operando em sistemas de Cogeração “

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