Você está na página 1de 51

Responsabilidade

Social
RESPONSABILIDADE
SOCIAL
Autoria

Rosângela Araújo de Castro


EXPEDIENTE
Reitor: Ficha Técnica
Prof. Cláudio Ferreira Bastos Autoria:
Pró-reitor administrativo financeiro: Rosângela Araújo de Castro
Prof. Rafael Rabelo Bastos Designer instrucional:
Pró-reitor de relações institucionais: Emanoela de Araújo
Prof. Cláudio Rabelo Bastos Projeto gráfico e diagramação:
Pró-reitor acadêmico: Miguel José de Andrade Carvalho /
Prof. Valdir Alves de Godoy Francisco Cleuson do Nascimento Alves
Coordenação Pedagógica: Capa:
Profa. Maria Alice Duarte G. Soares Francisco Erbínio Alves Rodrigues
Coordenação NEAD: Tratamento de imagens:
Profa. Luciana R. Ramos Duarte Miguel José de Andrade Carvalho
Supervisão de produção NEAD: Revisão Textual:
Francisco Cleuson do Nascimento Alves Claudiene Braga da Silva

FICHA CATALOGRÁFICA
CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
BIBLIOTECA CENTRO UNIVERSITÁRIO ATENEU

CASTRO, Rosângela Araújo de. Responsabilidade Social. / Rosângela Araújo de Castro –


Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2018.
144 p.
ISBN:

1. Responsabilidade Social. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Indicadores Ethos.


4. Certificação ambiental. Centro Universitário Ateneu.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou parcialmente, por quaisquer
métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a autorização escrita do possuidor
da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo,
deverão ser dirigidos à Reitoria.
Seja bem-vindo!
Caro estudante, é com grande prazer que lhe apresento o material didático
da disciplina de Responsabilidade Social.

A obra está dividida em quatro unidades: responsabilidade social; desen-


volvimento sustentável; certificações ambientais; e indicadores Ethos. Os temas
envolvem ciências como Administração, Economia, Direito e Sociologia. Sempre
que possível será realizado um breve resgate histórico do tema analisado, uma vez
que a contextualização se faz necessária à compreensão do assunto abordado.

Vale ressaltar que a apostila foi elaborada com os tópicos mais importantes
sobre as temáticas abordadas. No entanto, é sempre dever do aluno procurar apro-
fundar o seu conhecimento através de outras bibliografias

Bons estudos!
Sumário
UNIDADE 01
RESPONSABILIDADE SOCIAL .............................................................................7

1. Resgate histórico da responsabilidade social ....................................................8


2. Conceito de responsabilidade social ................................................................14
3. Modelos de Carroll sobre responsabilidade social ...........................................26
4. Responsabilidade social no Brasil ....................................................................28

4.1. Resgate histórico da ação social das empresas no Brasil ..........................32

5. Marketing social................................................................................................38
6. Benefícios da responsabilidade social .............................................................39
7. Críticas em relação ao papel das empresas na responsabilidade social .........41
8. Ética e transparência ........................................................................................42

Referências .........................................................................................................49

UNIDADE 02
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NAS EMPRESAS ..................................51

1. Desenvolvimento sustentável ...........................................................................52


2. Sustentabilidade empresarial ...........................................................................74
2.1. Importância da sustentabilidade empresarial ................................................81
2.2. Práticas sustentáveis nas empresas .............................................................81

3. Políticas públicas de sustentabilidade ..............................................................82

Referências .........................................................................................................91
UNIDADE 03
CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS ..........................................................................93

1. Certificações ambientais: nacionais e internacionais .......................................94


2. Princípios norteadores da responsabilidade social ..........................................98
3. Relações entre a organização, as partes interessadas e a sociedade ..........105
4. Benefícios da responsabilidade social segundo a NBR ISO 26000/2010 ......108

Referências ........................................................................................................121

UNIDADE 04
OS TEMAS CENTRAIS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL.............................123

1. Os sete temas centrais da responsabilidade social .......................................124


2. Passos necessários à implementação de um
programa de responsabilidade social .............................................................128
3. Indicadores Ethos para negócios sustentáveis e responsáveis .....................138

Referências ........................................................................................................143
Uni

RESPONSABILIDADE SOCIAL
Apresentação

Caro estudante, esta unidade visa inicialmente explicar a definição de Res-


ponsabilidade Social sob a ótica da Administração, da Sociologia e de outras ciên-
cias correlacionadas com o tema. Também abrange um breve resgate histórico da
responsabilidade social no mundo e no Brasil.

Tem ainda como enfoque abordar os modelos de Carroll sobre responsa-


bilidade social, trazendo um breve resgate histórico sobre a sua conceituação; a
responsabilidade social no Brasil; os benefícios da prática da responsabilidade so-
cial; as principais críticas em relação ao papel das empresas diante da responsa-
bilidade social; ética e transparência; e marketing social.
• Conhecer o conceito de responsabilidade social à luz de diferentes perspectivas;
• Conhecer o desenvolvimento histórico da responsabilidade social no Brasil e
em outros países;
• Analisar os modelos de Carroll sobre responsabilidade social, os benefícios
da prática da responsabilidade social e as principais críticas às empresas em
relação a ela;
• Analisar o papel da ética no contexto da responsabilidade social, como tam-
bém observar como funciona o marketing social.

1. RESGATE HISTÓRICO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL


A ideia central de responsabilidade social das empresas surgiu na obra
de Charles Eliot em 1906, mas este trabalho não conseguiu viabilizar nenhum mo-
vimento sobre o tema. A responsabilidade social das empresas teve início na déca-
da de 1960, nos Estados Unidos da América, com a preocupação em torno de uma
maior conscientização em relação à preservação do meio ambiente por parte das
empresas e, também, em relação ao direito dos consumidores. No entanto, nas
últimas décadas do século XX, surgiu a preocupação por questões sociais em
decorrência das transformações ocorridas no cenário econômico mundial.

Entretanto, em meados do século XVI, já existiam indícios da temática


da responsabilidade social das empresas nos EUA. Tal fato ocorreu em razão
da transmissão das dívidas das empresas por meio da herança ganha pelos
descendentes de algum empresário. Ou seja, as dívidas deveriam ser honradas
pelos descendentes.

Posteriormente, no século XVIII, o Estado definiu que as dívidas das em-


presas seriam de inteira responsabilidade dos investidores. A constituição da
empresa prescindia de autorização do Poder Público, além disso, poderia haver
a revogação do alvará de funcionamento caso a empresa deixasse de servir ao
interesse público. As empresas precisavam oferecer benefícios sociais como
serviços nas áreas de construção, transporte e infraestrutura. A interferência do
8 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Estado na criação das empresas perdurou até o século XIX. Portanto, a prática
empresarial não era apenas questão de interesse econômico privado, mas pri-
mordialmente, uma questão de benefícios sociais à população; uma vez que o
Estado tinha um forte controle da atividade empresarial.

Com a Guerra Civil Americana, que ocorreu de 1861 a 1865, surgiram mu-
danças na legislação das empresas. As empresas passaram a executar serviços
de seus interesses além daqueles de interesse público. O que possibilitou uma
maior lucratividade e, por conseguinte, permitiu que a classe empresarial conse-
guisse leis favoráveis à sua prática. A legislação permitiu a diminuição das suas
responsabilidades em relação ao trabalhador ao dar isenção às empresas em caso
de danos ocorridos com o trabalhador, também favoreceu as empresas em ques-
tões de salário, de horas trabalhadas, de condições de trabalho e de produção. Ou
seja, as empresas conseguiram fragmentar os direitos trabalhistas através de
legislações favoráveis à sua prática empresarial.

Em 1919, nos EUA, a temática da responsabilidade social das empresas


ganhou repercussão pública no julgamento do caso Dodge versus Ford, no qual Hen-
ry Ford demonstrou preocupação social ao tentar reinvestir o lucro da empresa na
expansão da mesma, com o intuito de diminuir o preço dos automóveis. Também em
1953, nos EUA, mais uma vez a responsabilidade social das empresas veio a público
no julgamento do caso A. P. Smith Manufacturing Company versus Barlow, no qual
a empresa desejava doar recursos financeiros para a Universidade de Princeton.
Desse modo, pode-se inferir que a questão da responsabilidade social perpassa pri-
meiramente pela filantropia através da doação de dinheiro, bens ou serviços.

Segundo Bertoncello e Chang Júnior (2007), em 1950, surgiu a teoria da


responsabilidade social, que teve como um de seus precursores o autor Bowen.
Este autor tinha como base a ideia de que os negócios são centros vitais de po-
der e que as ações das empresas poderiam atingir a vida dos indivíduos. Então,
passou-se a defender a ideia de que as empresas deveriam entender melhor o
impacto social que ocasionavam. O que deveria ser realizado através de audito-
rias, além de também ser incorporado à gestão dos negócios. Uma das primeiras
obras sobre responsabilidade social das empresas surgiu a partir de um estudo
sobre Ética e Vida Econômica Cristã, no ramo da Economia, na década de 1950,
e tinha como tema de análise a responsabilidade social dos executivos de grandes
corporações nos EUA.
RESPONSABILIDADE SOCIAL 9
Já para Daher (2008), o livro Responsabilidades sociais do homem de
negócios, escrito por Howard Bowen, foi um marco inicial sobre a temática da
responsabilidade social nas empresas da Europa Ocidental. Bowen explicou a res-
ponsabilidade social como “as obrigações dos homens de negócios de adotar
orientações, tomar decisões e seguir linhas de ação que sejam compatíveis com
os fins e valores de nossa sociedade.”. No entanto, ele não chegou a definir quais
seriam estas ações empresariais e quais seriam os valores sociais.

Já na década de 1960, surgiram vários trabalhos sobre o tema, dentre eles,


autores como Keith Davis e J. McGuire. Nesta época, a responsabilidade social
possuía uma visão de que as empresas não poderiam apenas objetivar lucro, mas
também deveriam incorporar às suas atividades uma postura pública diante dos
recursos econômicos e humanos. E estes recursos deveriam ser utilizados para
fins sociais, e não meramente para interesses privados.

Em 1970, a responsabilidade social das empresas passou a fazer par-


te das discussões públicas em torno dos problemas sociais como pobreza,
desemprego, distribuição de renda, desenvolvimento econômico, poluição am-
biental, dentre outros elementos. Surgiu, então, uma mudança entre os negócios
empresariais e a sociedade, uma situação que trouxe o envolvimento das em-
presas com a questão do meio ambiente, com a segurança do trabalho e com a
regulamentação governamental.

Gomes e Moretti (2007) afirmam que, a partir de 1970, a globalização


financeira se estruturou na economia. O Estado não consegue atender as diver-
sas demandas sociais e, com isso, surgem as ONGs. O fracasso demonstrado
pelo Estado fez aparecer a ideologia neoliberal. Os políticos tentavam trans-
parecer uma imagem de executivos ao demonstrar sua capacidade em gerir e
planejar negócios.

Porém, em 1979, de acordo com Reis (2007), a responsabilidade social


ganhou uma maior amplitude com os novos modelos conceituais sobre a temática
proposta pelo autor Carroll. Este autor propõe um modelo que inclui vários tipos
de responsabilidade social das empresas junto à sociedade. Os modelos de res-
ponsabilidade empresarial vão além da geração de lucro e obediência à lei. Eles
demonstram a expectativa da responsabilidade social, que são: econômica, legal,
ética e discricionária.
10 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Portanto, neste mesmo ano, Archie B. Carroll criou três vertentes para a
temática responsabilidade social, que são:
I. O que deve ser incluído na responsabilidade social;
II. Quais demandas que as empresas devem assumir do campo social; e
III. Qual filosofia organizacional dará suporte aos modelos anteriores. Nas
vertentes de Carroll, ver-se a predominância da ética empresarial sob a
ética social, na opinião de Gomes e Moretti (2007).
Também em 1979, o autor Thomas J. Zenisek elaborou duas definições
sobre a temática da responsabilidade social. A primeira vertente estava ligada à
ética dos negócios e a segunda, às expectativas da sociedade. Mas a ética
dos negócios estava embasada em padrões valorativos como propriedade privada,
exploração do trabalho e venda da força de trabalho. Portanto, seria uma manuten-
ção da ideologia da classe dominante.
Reis e Medeiros (2008) afirmam que as discussões em relação à respon-
sabilidade social nas empresas tinham como objetivo primaz a conscientização
dos empresários sobre questões sociais e ambientais. Buscava-se inserir as
empresas em projetos de interesse social e, com isso, transcender apenas o as-
pecto da filantropia por meio de doações para se chegar à institucionalização da
responsabilidade social no seio das operações regulares da empresa. Portanto,
a ética deveria nortear as decisões empresariais, e não apenas a expectativa de
lucros e demais aspectos econômicos.
Segundo Gomes e Moretti (2007), em 1985, os autores Wartick e Cochran
afirmam que a responsabilidade social empresarial passou por estágios de
evolução, que são:
• Responsabilidade econômica;
• Responsabilidade pública; e
• Responsabilidade social.

Em 1997, o autor Peter Dacin defendeu a teoria de que os clientes podem in-
fluenciar nos valores sociais das empresas. Já em 2000, os autores Ferrell analisa-
ram os campos de atuação da responsabilidade social empresarial definindo quatro
vertentes, que são:
RESPONSABILIDADE SOCIAL 11
• Responsabilidade legal;

• Responsabilidade ética;

• Responsabilidade econômica; e

• Responsabilidade filantrópica.

Na responsabilidade legal, a empresa cumpre todas as normas e leis deter-


minadas pelo Estado.

Na responsabilidade ética, a empresa precisa ter um comportamento aceito


por seus stakeholders, ou seja, todos os interessados na atividade empresarial.

Na responsabilidade econômica, a empresa precisa se ocupar na produção


de bens e serviços para a sociedade, assim como na geração de empregos.

Por fim, na responsabilidade filantrópica, a empresa faz doações para insti-


tutos e ONGs que exercem um trabalho junto à comunidade, buscando uma melhoria
na qualidade de vida e bem-estar desta.

Ainda segundo os autores supracitados, em 2002, os autores Porter e Kramer


surgem com a defesa da filantropia como mecanismo de marketing social, funcio-
nando como uma forma de vantagem na competição por mercado. Já Hillman e Keim,
em 2001, afirmaram que a empresa precisa ter, em primeiro lugar, responsabilida-
de com todos os interessados na atividade da empresa, pois estes dependem
dela. Em segundo lugar, é que poderia haver a preocupação com ações sociais.
Mcwilliams e Siegel, também em 2001, reafirmam que as ações de responsabilida-
de social devem ficar em segundo plano em relação às atividades empresariais.
Mas sugerem a elaboração de um relatório chamado de cause-related marketing,
ou seja, uma publicidade de causa social, que consiste em dar ciência ao público
consumidor da participação da empresa em causas sociais. Um exemplo desta ação
ocorre quando a empresa anuncia ao público consumidor que parte da renda obtida
com a venda de seus produtos será destinada às instituições beneficentes. Marc T.
Jones, em 2005, escreveu um artigo criticando a participação das empresas em
ações sociais. Para ele, a empresa deveria manter uma participação no campo so-
cial, mas em conjunto com entidades não governamentais e com o Estado.
12 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Conforme Daher (2008), os autores Lourenço e Schroder, em 2003, afirma-
ram que as empresas trabalham em um ambiente social e se relacionam com outras
instituições e com vários públicos. Dessa forma, as suas atividades de negócios não
devem ser resumidas à geração de riquezas.

No entanto, para Gomes e Moretti (2007), a preocupação empresarial com


a proteção do meio ambiente é anterior à preocupação com as questões de cunho
social. Portanto, ver-se uma evolução no cenário da responsabilidade social nas
empresas através das décadas da seguinte forma: na década de 1970, preocupação
com o controle ambiental; na década de 1980, preocupação com o planejamento
ambiental; na década de 1990, preocupação com a gestão ambiental; e na primeira
década do século XXI, preocupação com a responsabilidade social e ambiental.

Contemporaneamente, a responsabilidade social das empresas tem se


ocupado com a questão ambiental, especialmente com as normas relacionadas à
temática, como a ISO 14000, que regulariza várias leis que buscam a diminuição da
degradação ambiental. Por conseguinte, muitas empresas utilizam a obtenção desta
certificação como mais uma forma de publicidade.

De acordo com Gomes e Moretti (2007), a ISO 14000 possui três fases de
implantação, que são as seguintes: 1. Compromissos e princípios gerais da política
ambiental da empresa, procedimentos de controle, de documentação e de treina-
mento de funcionários; 2. Diagnóstico que busca pontos vulneráveis e identifica
maneiras de aperfeiçoamento; 3. Certificação por uma entidade credenciada.

As empresas, na busca da implantação da responsabilidade social no seu


negócio, elaboram projetos de cunho social buscando a sua viabilidade por meio
de voluntários que trabalhem ou não na própria empresa; como também buscam
demandas sociais por parte de organizações comunitárias.

Gomes e Moretti (2007, p. 44 e 45) mencionam o seguinte sobre o compor-


tamento das empresas em relação ao meio ambiente:
RESPONSABILIDADE SOCIAL 13
[...] sem uma penalidade eficaz contra aqueles que praticam atos
contra a natureza e ainda sem uma consciência crítica verdadei-
ra dos consumidores, as empresas preferiram investir recursos na
área de marketing para mostrar sua preocupação com a ecologia
em vez de atacar o problema de frente, ou seja, incorporar tais cus-
tos em seu processo, adquirir tecnologia a fim de não emitir poluen-
tes, investir em pesquisa e desenvolvimento para não descartar
elementos tóxicos ou até mesmo cancerígenos no solo e buscar
alternativas de busca pela reciclagem contínua.

2. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL


O termo responsabilidade social é utilizado em várias áreas científicas, den-
tre elas, na Economia, na Administração, na Filosofia e nas Ciências Sociais, sendo
que cada uma apresenta suas singularidades de acordo com a sua visão de mundo.

A responsabilidade social engloba aspectos econômicos, sociais, políticos,


dentre outros. Além disso, possui uma característica dinâmica, já que a relação da
empresa com a sociedade também é dinâmica devido ser permeada por aspectos
políticos, econômicos, sociais, ambientais e legais.

Nas Ciências Sociais, a responsabilidade social está relacionada ao indi-


víduo que é chamado a responder pelos atos frente à sociedade. Reis e Medei-
ros (2008) mencionam que ela está relacionada à moral e que o comportamento
deve ser livre e consciente. Tal termo é utilizado tanto no comportamento individual
quanto no coletivo. Ainda segundo Reis e Medeiros (2008, p. 9), a responsabilida-
de social pode ser definida da seguinte forma:
Logo, é possível compreender a responsabilidade social na Filo-
sofia como a responsabilidade individual e de livre escolha pela
realização ou não de um ato, em função de antever as consequên-
cias sociais que poderão ocorrer; mas, uma vez realizado, esse ato
deve ser assumido por quem o realizou.

O termo já teve, como sinônimos, as expressões responsabilidade pú-


blica, obrigação social e moralidade comercial, uma vez que estavam rela-
cionadas às ações sociais realizadas pela classe empresária que visavam ao
bem-estar da sociedade.
14 RESPONSABILIDADE SOCIAL
De acordo com Ashley (2003), a responsabilidade social pode ser concei-
tuada da seguinte forma:
[...] compromisso que uma organização deve ter para com a socie-
dade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positiva-
mente, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu
papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para
com ela.

Conforme Benedicto apud Tachizawa (2002, p. 28 e 29), a empresa, ao


adotar uma conduta de responsabilidade social, deve agir da seguinte maneira:
[...] é preciso que a empresa, além de assumir, expresse o seu
compromisso com a adoção e a divulgação desses valores, pois,
destarte, estimulará o aprimoramento contínuo dos processos de
gestão, que poderão resultar em qualidade de vida sob a égide da
ética para todos os agentes, internos e externos.

Já de acordo com Gomes e Moretti (2007, p. 6), a responsabilidade social


deve ser compreendida da seguinte maneira:
A responsabilidade social pode ser o elemento, ou um dos elemen-
tos, para servir de eixo entre as empresas e os demais interessados
(conhecidos pelo termo stakeholder). Ademais, a expressão ‘res-
ponsabilidade social’ torna-se bastante apropriada para tal neces-
sidade, pois responsabilidade significa simplesmente o ato de dar
respostas. Dar respostas às demandas sociais: esse é o ângulo em
que as empresas veiculam suas mensagens quando engajadas na
proposta de responsabilidade social.

Na visão de Daher apud Almeida (2002, p. 95 e 96), a empresa deve nortear


a inclusão da responsabilidade social no seu negócio da seguinte forma:
A corporação deve se pautar em valores fundamentais da vida nos
contextos social, econômico e ambiental: direitos humanos dos co-
laboradores da empresa e dos demais grupos de interesses, pro-
teção ao meio ambiente, envolvimento comunitário, relação sadia
com fornecedores e clientes, monitoramento e avaliação constan-
tes de seu desempenho, de sorte que se torne visível a importância
de sua interação com a sociedade.
RESPONSABILIDADE SOCIAL 15
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES
(2000) define responsabilidade social da seguinte forma:
O conceito de responsabilidade social corporativa (RSC) está as-
sociado ao reconhecimento de que as decisões e os resultados
das atividades das companhias alcançam um universo de agen-
tes sociais muito mais amplo do que o composto por seus sócios e
acionistas (shareholders). Desta forma, a responsabilidade social
corporativa, ou cidadania empresarial, como também é chamada,
enfatiza o impacto das atividades das empresas para os agentes
com os quais interagem (stakeholders): empregados, fornecedo-
res, clientes, consumidores, colaboradores, investidores, compe-
tidores, governos e comunidades.

O termo stakeholders é utilizado pelas empresas para qualificar os clien-


tes, o governo, os fornecedores, os funcionários, ou seja, um leque grande de
interessados na atividade empresarial, mas não inclui os sócios da empresa que
são os shareholders.

Já o Instituto Ethos (2017) conceitua responsabilidade social do seguinte modo:


Forma de gestão que se define pela relação ética e transparente
da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona
e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com
o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recur-
sos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a
diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.

Em relatório setorial, o BNDES (2000) ainda define responsabilidade social


da seguinte maneira:
16 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Este conceito expressa compromissos que vão além daqueles
já compulsórios para as empresas, tais como o cumprimento
das obrigações trabalhistas, tributárias e sociais, da legislação
ambiental, de usos do solo e outros. Expressa, assim, a adoção
e a difusão de valores, condutas e procedimentos que induzam
e estimulem o contínuo aperfeiçoamento dos processos empre-
sariais, para que também resultem em preservação e melhoria
da qualidade de vida das sociedades, do ponto de vista ético,
social e ambiental.
Portanto, a responsabilidade social empresarial pode ser definida como
um esforço que serve para alertar as empresas em relação ao seu papel, que é
fundamental na construção de um mundo mais sustentável, junto à sociedade e ao
Estado. As empresas que atuam com responsabilidade social precisam ter uma
conduta ética dentro e fora da empresa, ou seja, não adianta realizar projetos
sociais se não há uma conduta correta em relação aos seus colaboradores no
ambiente de trabalho.
Para Benedicto e Calil (2008), as ações oriundas da responsabilidade
social externa têm como alvo a comunidade, procurando diminuir suas carên-
cias, como também promovem ações na área da saúde, da educação, da arte, do
esporte, da cidadania e da ecologia. Já a responsabilidade social interna tem
como alvo os seus colaboradores e seus dependentes. As ações devem ocorrer
no campo da educação, salários, benefícios, assistência médica e odontológica,
previdência, lazer e assistência social. Também devem ser promovidas pelo de-
partamento de recursos humanos da empresa.
Nos vários conceitos criados pelos autores, o termo responsabilidade social
tem vários significados, sendo que para alguns, ele assume um cunho de obriga-
ção legal. E para outros, uma conotação de comportamento ético, como também
de consciência social ou atitude caridosa.
Portanto, o conceito de responsabilidade social vem passando, ao longo
dos tempos, por vários significados: uma forma de obrigação legal, caridade ou
filantropia e conscientização empresarial. No entanto, é importante mencionar que
as discussões acerca da temática surgiram em razão da preocupação com a de-
gradação do meio ambiente e com o consequente esgotamento dos recursos na-
turais. Dessa forma, surgiu a discussão sobre a sustentabilidade do planeta, com o
uso consciente dos recursos naturais e com o uso de medidas antipoluições.
RESPONSABILIDADE SOCIAL 17
Na década de 1990, surgiram várias obras sobre o tema. Dentre estas obras,
havia aquelas que falavam da responsabilidade social como algo relacionado aos
investimentos das empresas em ações voltadas para a melhoria da qualidade de
vida da população, também falavam sobre a proteção ao meio ambiente e ao direi-
to dos consumidores. Existia também a vertente da responsabilidade social ligada
apenas aos funcionários da empresa e às suas famílias. Estes enfoques dados
à responsabilidade social lhe revestem de um caráter de compromisso e atitude,
como também um caráter humanitário e altruísta. Contudo, era mencionado que
os investimentos das empresas em ações sociais tinham a intenção de melhorar
a imagem da empresa frente à sociedade e, assim, aumentar o seu lucro. O que
seria visto como uma estratégia de marketing.

Segundo Kotler (1996, p. 25), “marketing é um processo social e gerencial


pelo qual os indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da
criação, oferta e troca de produtos de valor com outros”.

De acordo com Gomes e Moretti (2007), as empresas conseguem vários


benefícios que geram lucros ao inserir o modelo de responsabilidade social nos
seus negócios, que são:

• As empresas não incluem, em seus custos de atividades, os recursos


gastos com ações sociais e ambientais;

• A empresa doadora de recursos é beneficiada com a imunidade tributária,


por meio da dedução de imposto de renda até o limite de 2% sobre o
seu lucro operacional. E a Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público - OSCIP - que também recebe as doações, não paga imposto de
renda da doação recebida;

• A empresa se beneficia com o marketing social perante seu público con-


sumidor ao ter sua marca em evidência;

• A empresa experimenta uma ampliação no seu mercado consumidor.


18 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Gomes e Moretti (2007, p. 10) analisam a responsabilidade social nas
empresas sob a ótica da formação de uma ideologia e mencionam o seguinte:
A responsabilidade social empresarial, portanto, é uma formação
ideológica bastante específica cujo objetivo é inculcar na mente dos
agentes econômicos que, diante do fracasso do Estado em pro-
mover o bem-estar social, cabe, à empresa tomar esta posição,
até porque, na atmosfera do neoliberalismo e da globalização, a
empresa possui uma competência em gerir e o Estado uma total e
absoluta incompetência.

Portanto, conforme os autores anteriores, a responsabilidade social nas


empresas possui uma formação ideológica, uma vez que tem atrelado a prática
ao discurso voltado para o desenvolvimento sustentável, voluntariado, diminuição
de desigualdades sociais e solidariedade. A ideologia consistiria na manutenção
da estrutura de poder, pois a responsabilidade é a capacidade de oferecer respos-
tas a uma problemática existente. E estas respostas não podem estar permeadas
de conteúdo ideológico. O paradoxo consiste nas empresas tentarem resolver os
problemas sociais que, em muitos casos, são causados pela própria classe em-
presarial, e também, por uma péssima participação do Estado nestas relações.

No entanto, para os adeptos da corrente pragmática do economista Milton


Friedman, a empresa já atua na resolução dos problemas sociais ao passo que
gera empregos e recolhe impostos para o Estado. Na mesma corrente de pensa-
mento, há o economista Melvin Anshen, que defendia a existência de um contrato
social entre as empresas e a sociedade. Segundo ele, as empresas tinham suas
atividades de acordo com os interesses sociais de sua época. Já outro economista,
Kenneth Arrow, foi contrário a esta visão pragmática.

O economista Milton Friedman escreveu seu artigo The social responsibi-


lity of business is to increase its profits, em 1970, no New York Times Magazine.
Kenneth Arrow ganhou o prêmio Nobel de economia em 1973. E Melvin Anshen
escreveu seu trabalho em 1970.

RESPONSABILIDADE SOCIAL 19
A vertente da responsabilidade social pode ser vista, ainda, sob a égide
da ética, que diz respeito a valores e princípios morais que devem ser seguidos
pelas empresas. O enfoque ético dado à responsabilidade social das empresas, ou
seja, o de não se preocuparem apenas com os interesses meramente econômicos,
é importante porque traz benefícios sociais para a população.

Foi visto anteriormente que a responsabilidade social assume vários enfoques,


uma vez que se trata de um conceito ainda em construção. Portanto, é importante
ter em mente que os enfoques principais são os seguintes: responsabilidade social
como uma conduta ética; responsabilidade social como forma de melhoria na qualida-
de de vida da sociedade através de projetos sociais; responsabilidade social na preo-
cupação com o meio ambiente; responsabilidade social como forma de caridade ou
filantropia; e responsabilidade social na preocupação com os direitos do consumidor.

Atualmente, ver-se que foi incorporado ao conceito de responsabilidade so-


cial as expressões ‘responsabilidade social empresarial ou corporativa’. Segundo
Reis e Medeiros (2008), a diversidade de definições e terminologias sobre o tema
dificulta a compreensão do mesmo. No entanto, pode-se dizer que a presença de
diversas definições sobre a responsabilidade social no meio acadêmico se deve à
amplitude de visões e à complexidade do tema que poderá ser dirimida com a con-
tinuidade das discussões, ou seja, é um conceito que ainda está em construção.
Portanto, pode-se ver termos como filantropia corporativa, que não consiste
apenas em doações, mas também com prestação de serviços, visto que permite um
contato maior da empresa com a comunidade.
Conforme Reis e Medeiros (2008), existe uma diferença entre a filantropia
corporativa e a estratégica. Na estratégica, a empresa escolherá o público-alvo que
será beneficiado com suas doações ou prestações de serviços, o que trará uma
melhor efetividade nas ações e nos recursos utilizados.
Na atualidade, ver-se, ainda, a incorporação da expressão cidadania corpo-
rativa ao conceito de responsabilidade social. Essa expressão tem uma conotação
muito abrangente e refere-se ao relacionamento entre a empresa e a comunidade
local e a sociedade como um todo.
20 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Reis e Medeiros (2008, p. 13), definindo a cidadania corporativa, afirmam
o seguinte:
A cidadania corporativa remete a empresa a um contexto global,
com a qual compartilha valores e maneiras responsáveis de gerir
os negócios com todos os quais tem intercâmbio. A responsabi-
lidade social está inserida na cidadania corporativa, que, por sua
vez, é parte do planejamento, dos objetivos e da operação da em-
presa para atingimento de objetivos, tendo a mesma importância
que outras áreas têm.

Portanto, a cidadania corporativa contempla um modelo de gerenciamento


e planejamento de negócios que avalie o impacto que os produtos e serviços da
empresa terão sobre vários públicos com os quais ela tem contato, uma vez que a
maneira como a empresa opera impacta o desenvolvimento da comunidade localiza-
da no seu entorno e na sociedade em geral.

O termo responsabilidade social é utilizado como sinônimo de várias expres-


sões, pensadas por diversos autores. As expressões mais usuais são as seguintes:
responsabilidade social empresarial; responsabilidade social corporativa; filantropia
corporativa; governança corporativa e cidadania corporativa.

A cidadania corporativa engloba o elemento da governança corporativa,


que tem como função avaliar a maneira como a empresa trabalha, já que a
empresa deve ser governada ou gerenciada de modo a beneficiar todas as
partes interessadas.

De acordo com Reis e Medeiros (2008), a responsabilidade social das


empresas é analisada no meio acadêmico e no empresarial mais sob a ótica do
atendimento a interesses privados e econômicos que estão relacionados à imagem
que a empresa tem junto à sociedade do que ao atendimento a ações sociais que
visem à melhoria na qualidade de vida da população.
RESPONSABILIDADE SOCIAL 21
Reis e Medeiros (2008, p. 14) definem a responsabilidade social da seguin-
te forma:
Assim, a expressão responsabilidade social das empresas é um
comportamento da organização que, sendo responsável, toma de-
cisões orientadas por uma conduta ética, porque tem consciência
de que seus atos não poderão gerar consequências sociais negati-
vas, seja a um dos steakholders, seja à sociedade em geral.

Entretanto, alguns autores mencionam que na seara da responsabilidade


social estão inseridos quatro tipos de responsabilidades elencadas em grau de
relevância, que são: responsabilidade legal; responsabilidade ética; responsabili-
dade econômica; e responsabilidade filantrópica.

A responsabilidade legal diz respeito à conduta da empresa em seguir


corretamente as leis e regulamentos de todos os entes federados na execução
de suas atividades empresariais, uma vez que a legislação existe para nortear um
comportamento responsável. Estas legislações, em regra, buscam nortear uma
conduta aceitável no âmbito da concorrência empresarial, proteção do direito do
consumidor, proteção do meio ambiente, promoção da equidade e segurança e
promoção do cumprimento de programas que buscam a prevenção de uma má
conduta por parte dos funcionários.

A responsabilidade ética está relacionada ao comportamento, aos padrões


de conduta aceitos pela sociedade. Este comportamento deve ser uma preocupação
por parte de todos os envolvidos nas atividades da empresa, tais como funcionários,
clientes, fornecedores, sócios, assim como a comunidade, que deve estar atenta ao
cumprimento destes padrões de conduta pela empresa. Portanto, a responsabilidade
ética está intrinsecamente relacionada com valores e princípios morais.

A responsabilidade econômica diz respeito à maneira como é realizada a


administração de recursos para a produção de bens e serviços, e como estes são
distribuídos socialmente. Ou seja, tem relação com o comportamento da empresa
diante do controle de recursos, da oferta de produtos, da capacidade de controle
de mercado, da tecnologia, do conhecimento em relação à área empresarial, da
formação de monopólio, da concorrência desleal, da questão do meio ambiente
e dos funcionários. É a responsabilidade que está totalmente sob o controle dos
sócios que gerenciam a empresa.
22 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Vale ressaltar que o monopólio e a prática de concorrência desleal são
condutas tipificadas como expressamente proibidas nas legislações. Algumas leis
que tratam sobre o assunto são as seguintes: Lei no 4.137/62 – Abuso do poder
econômico; Lei no 7.347/85 – Interesses difusos; Lei no 8.158/91 – Defesa econô-
mica (antitruste); Lei no 8.137/90 – Crimes contra a ordem tributária, econômica e
relações de consumo, dentre outras.

A responsabilidade filantrópica tem relação com as contribuições ou do-


ações direcionadas à satisfação das necessidades da população, contribuindo as-
sim, para uma melhoria na qualidade de vida desta. O que inclui doação para obras
de caridade, patrocínios e prestação de serviços comunitários. Por conseguinte, as
empresas também devem oferecer produtos e serviços que melhorem a vida e o
bem-estar das pessoas.
Pode-se afirmar que as responsabilidades econômica e legal são os ins-
titutos basilares da empresa. E que as responsabilidades legal, ética, econômi-
ca e filantrópica formam, em conjunto, a responsabilidade social. Estas várias
dimensões de responsabilidade devem estar em consenso para que a empresa
possa cumprir sua função social.

Para Gomes e Moretti (2007), a conduta assistencialista da empresa deve


ser vista como uma prática da ação social, não devendo pensar como outros
autores, que tentam desvincular o assistencialismo da responsabilidade social.
Entretanto, não se pode esquecer que um modelo assistencialista, baseado em
campanhas de empresas solidárias, pode esconder a intenção da classe empresa-
rial que consiste em controlar a insatisfação da população mais pobre.

Gomes e Moretti (2007, p. 13) mencionam o seguinte sobre o tema:


Weber, (...), ensina que ação social é um movimento de grupos
com interesses bem definidos. Nesse contexto, então, a ação so-
cial, paradoxalmente, de acordo com uma definição consistente e
científica, é aquela realizada pelos grupos empresariais, uma vez
que têm um fim claro e objetivo, ou pelas organizações [...].
RESPONSABILIDADE SOCIAL 23
Portanto, para tais autores, a ação social pode ser dividida em:
• Ação social racional, que possui fins delineados;
• Ação social ligada a valores, que está relacionada a crenças éticas e
religiosas;
• Ação social afetiva, que possui conotação emocional; e
• Ação social tradicional, que se refere a uma conduta já arraigada aos
costumes.

De acordo com Mendes e Assumpção (2008), as empresas não contabili-


zam a exploração dos recursos naturais, pois não existe uma cobrança jurídica
que seja coercitiva em relação a tal fato. O que existe é uma cobrança moral e ética
por parte da sociedade para que haja uma responsabilidade social e ambiental
por parte das empresas. A legislação só diz respeito a medidas compensatórias
e mitigatórias no momento da instalação dos empreendimentos. A única cobrança
efetiva fica na seara dos impostos. O exercício da responsabilidade social, juridica-
mente, trata do cumprimento da função social da empresa.

As empresas que exploram recursos naturais como minerais, pedras, pe-


tróleo, gás e carvão vegetal são as que mais praticam ações de responsabilidade
social. No entanto, fica o questionamento: A quem pertence os recursos minerais?
Tanto os recursos minerais como os recursos naturais pertencem a todos, ou seja,
o seu uso deve ser para o bem da coletividade.

A degradação ambiental deve ser considerada no momento da apreciação


no mercado internacional, já que os países em desenvolvimento são normalmente
exportadores de matéria-prima para, em seguida, importar bens industrializados
através destes recursos.

Ainda de acordo com Mendes e Assumpção (2008), é preciso a elabora-


ção e a aplicação de políticas públicas para a eficiência da gestão ambiental.
Trata-se de um método que deve ser transdisciplinar e ter a interrelação da Eco-
nomia, Sociologia, Biologia, Direito, Administração e demais ciências. O fato de a
instituição dá valor aos bens naturais por meio da ecologia econômica ou eco-
nomia ambiental não é suficiente para que se preserve o meio ambiente. Existe
a premente necessidade de uma política pública materializada na forma de norma
jurídica, com força coercitiva, para que se freie a degradação ambiental.
24 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Para se calcular o valor dos recursos naturais, utilizam-se as normas técni-
cas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), NBR 14653, e o Manual
de Valoração Ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Estas normas trabalham
com a divisão dos valores dos recursos ambientais em:

• Uso extrativo direto;

• Uso não extrativo direto;

• Usos indiretos;

• Uso para otimização; e

• Uso não utilizáveis.

No uso extrativo direto, tem-se o valor de recursos ambientais e minerais,


matéria-prima ou madeiras, plantas medicinais, da fauna e flora como alimentos.

No uso não extrativo direto, aparece o valor da recreação ou turismo,


utilizado pelo turismo ecológico ou belezas naturais.

O uso indireto engloba o valor do meio ambiente, da fauna ou da flora para


a preservação de ecossistemas com o objetivo de evitar erosão, conservar os ani-
mais para o controle de pestes e evitar o uso de defensivos agrícolas. O uso para
a otimização trata do valor potencial de produtos minerais e da flora preservada
com o objetivo de conseguir futuros benefícios.

No uso não utilizáveis, tem-se o valor dado à herança da fauna, da flora


ou ambientes naturais conservados para a preservação presente e futura de outras
espécies. Inclui também o valor de existência que envolve a não degradação.

Portanto, para que haja a mensuração monetária dos recursos naturais,


faz-se necessário o uso das normas técnicas e do Manual de Valoração Ambiental
do Ministério do Meio Ambiente e, em seguida, deve-se utilizar os três métodos para
o cálculo dos valores, de acordo com o Manual de Valoração do Ministério do Meio
Ambiente, que valora os recursos naturais por meio da equidade inter e intratem-
poral. Os métodos são os seguintes: Análise de custo-benefício – ACB; Análise de
custo-utilidade – ACU; e Análise de custo-eficiência – ACE.
RESPONSABILIDADE SOCIAL 25
Portanto, pode-se definir responsabilidade social como um conjunto de
ações voltadas à procura do equilíbrio harmônico, pautadas na equidade e paridade
social como ferramenta e instrumento de norteamento da conduta civil de um povo,
enquanto sociedade inserida em um contexto socioeconômico, político e cultural,
principalmente em consequência do mau uso dos recursos naturais do planeta du-
rante eras, acarretando o exaurimento e o completo estado falimentar de nossas
reservas naturais.

Para aprofundar o conhecimento sobre métodos de valoração dos bens e


serviços ambientais, visitar o site <http://www.fjp.mg.gov.br/>. Já para a valoração de
danos em matéria de meio ambiente e patrimônio cultural, visitar o site <http://www.
mpf.mp.br/>.

3. MODELOS DE CARROLL SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL


Conforme Correia e Pitombeira (2014), o marco inicial para a formação da te-
oria, da pesquisa e da prática sobre responsabilidade social corporativa realmente foi
na década de 1950. Na visão do autor Archie B. Carroll, a responsabilidade social
corporativa, para ser assimilada pelo público empresarial, precisa ser estruturada e
gerida de maneira a alcançar os resultados almejados. Ele propôs um modelo pira-
midal dividido em classes, que são a econômica, a legal, a ética e a discricionária ou
filantrópica, para o entendimento da responsabilidade social nas empresas.

A responsabilidade econômica localiza-se na base da pirâmide, uma vez


que é a principal responsabilidade da empresa. O lucro, deste modo, é a razão para
o funcionamento das atividades empresariais. Na responsabilidade econômica, as
empresas possuem notadamente uma responsabilidade de natureza econômica,
pois são produzidos bens e serviços necessários à sociedade. O objetivo primaz
é garantir a continuidade das atividades da empresa, bem como dar respostas às
obrigações advindas dos investidores, proprietários e acionistas.
26 RESPONSABILIDADE SOCIAL
A responsabilidade legal define como deve ser o comportamento da empre-
sa, o que é esperado pela sociedade. Na responsabilidade legal, a sociedade espe-
ra que as empresas realizem sua atividade econômica dentro dos requisitos legais.
Portanto, a empresa precisa atender seus objetivos econômicos, mas em harmonia
com as exigências normativas determinadas pelos conselhos locais das cidades, as-
sembleias legislativas estaduais e agências de regulamentação do Governo Federal.
Desse modo, as empresas devem obedecer à lei, devem oferecer produtos com
padrão de segurança e também devem seguir as legislações ambientais.
Na responsabilidade ética, a sociedade espera das empresas um com-
portamento ético que transcenda as normais legais. Nesta responsabilidade, está
inserido o comportamento que a sociedade espera da empresa, entretanto são
condutas que não estão especificadas na lei e que podem não ser de interesse
econômico da empresa.
Por fim, na responsabilidade discricionária, as expectativas são orien-
tadas pelas normas sociais e ficam sob a decisão dos gestores empresariais. As
empresas devem se inserir em papéis sociais.
Na visão de Gomes e Moretti (2007), Carroll criou três vertentes para a
temática responsabilidade social, que são:

I. O que deve ser incluído na responsabilidade social;


II. Quais demandas as empresas devem assumir no campo social; e
III. Qual filosofia organizacional dará suporte aos modelos anteriores.

Nas vertentes de Carroll, ver-se a predominância da ética empresarial sob


a ética social.

Figura 01 : Pirâmide de Carroll.

Responsabilidade
Filantrópica

Responsabilidade Ética -
Fazer o que é certo.
Evitar dano

Responsabilidade Legal -
Obedecer à Lei

Responsabilidade Econômica -
Ser lucrativa

Fonte: CORREIA; PITOMBEIRA (2014, p. 171).

RESPONSABILIDADE SOCIAL 27
4. RESPONSABILIDADE SOCIAL NO BRASIL
Como já foi dito, a temática da responsabilidade social nas empresas
ganhou repercussão no cenário empresarial nos EUA e na Europa na década de
1960 e tratava de problemas relativos ao meio ambiente e aos direitos dos consu-
midores. Já no Brasil, o tema passou a ter maior projeção apenas em 1990, devido
ao período da redemocratização e da abertura econômica no mercado brasileiro,
e também devido aos vários direitos elencados na Constituição Federal de 1988,
na qual há o Título VII – Da ordem econômica e financeira, que trata, dentre outros
assuntos, dos princípios gerais da atividade econômica. Na seara acadêmica, os
estudos relacionados à responsabilidade social no Brasil surgiram em 1980.

Segundo Reis (2007), as empresas brasileiras têm responsabilidade pelos


problemas sociais e possuem mecanismos para enfrentá-los. Portanto, a res-
ponsabilidade social das empresas podem contemplar as demandas oriundas da
sociedade brasileira; deste modo, elas podem auxiliar o progresso e o desenvolvi-
mento da população (a melhoria da condição de vida das pessoas). Por conseguin-
te, ver-se que a preocupação com o desenvolvimento econômico, humano e social
funciona como premissas da responsabilidade social empresarial.

Ainda segundo o mesmo autor, a responsabilidade social das empresas


pode ser elencada em três fases, que são:
I. Exercício da gestão social interna;
II. Exercício da gestão social externa;
III. Exercício da gestão social cidadã.
Na primeira fase, tem-se o exercício da gestão social interna, que possui
como foco a atuação voltada para os funcionários da própria empresa e dos fami-
liares deles. Além disso, tal gestão diz respeito a questões de saúde, segurança,
qualidade no ambiente de trabalho e alguns benefícios. Nesta primeira fase surge
a crítica em relação à prática da responsabilidade social pela empresa, que estaria
apenas aumentando a motivação, a satisfação e o comprometimento dos seus
funcionários com o mero intuito de aumentar a produtividade, surgindo a dúvida
se a empresa estaria realmente buscando alcançar objetivos sociais mais amplos.
Na segunda fase, tem-se o exercício da gestão social externa, que tem
como foco as comunidades e os consumidores, com atuação em questões de pre-
servação ambiental, impactos socioeconômicos, políticos e culturais na sociedade,
além de segurança e qualidade dos produtos.
28 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Na terceira fase, tem-se o exercício da gestão social cidadã, que vai além
das comunidades e se alarga para a sociedade em geral. Nesta fase, a empresa
já se encontra inserida socialmente na comunidade, atua de forma ativa na coo-
peração para o desenvolvimento e fomento de projetos na sua região através de
ações filantrópicas, incentivo à geração de empregos e criação de parcerias com
o governo e outras entidades para viabilizar campanhas de conscientização social
e de cidadania.

Segundo Reis (2007), o termo responsabilidade social possui outras termi-


nologias, dentre elas a de conceito de cidadania empresarial. Este conceito per-
passa por uma concepção que a empresa é corresponsável pelo bem-estar da
sociedade, uma vez que estaria indo além de sua função econômica, comprome-
tendo-se com a melhoria da qualidade de vida da sociedade.

De acordo com Correia e Pitombeira (2014, p. 171 e 172), o exercício da


responsabilidade social deve estar inserido no conceito de cidadania nos se-
guintes termos:
Inserido em um conceito mais amplo e mais abrangente, que é o
conceito de cidadania. Mais amplo porque abarca não apenas as
responsabilidades econômico-financeiras, mas também aquelas de
ordem política, cultural e social que compõem a textura das orga-
nizações e das sociedades. Mais abrangente porque incorpora os
direitos que asseguram a vida em sociedade: o direito à vida, à
liberdade, à segurança, à expressão, com os quais se estrutura a
civilidade entre os seres humanos.

Portanto, a responsabilidade social empresarial passou a ter um aspecto


de contribuição para a sociedade nos mais diferentes setores, tais como planeja-
mento ambiental, projetos educacionais, planejamento da comunidade, equidade
nas oportunidades de emprego e serviços sociais, com o intuito de chegar a um
desenvolvimento sustentável.
RESPONSABILIDADE SOCIAL 29
Mas existem autores, como Ashley (2003), que criticam as ações de respon-
sabilidade social corporativa, pois, na visão dela, tais ações revelam uma vertente
contraditória. Segundo a autora, por trás da responsabilidade social empresarial
há três tipos de discursos, que são:
• O explicitado, que consiste em ações divulgadas intencionalmente aos
empregados e à população;
• O pronunciado reservadamente, que são informações públicas, porém
divulgadas em trabalhos acadêmicos ou revistas especializadas; e
• O não dito, que são as análises críticas dos demais discursos.

Conforme Melo Rico (1998), a ações filantrópicas e as doações ainda


são ações muito presentes no contexto da responsabilidade social no Brasil. A
empresa é considerada cidadã porque respeita e compreende os interesses da po-
pulação com a qual se relaciona de maneira direta e indireta, buscando solucionar
os vários problemas sociais por meio de recursos como informação, técnicas de
gerenciamento, cultura de resultados, senso de prioridade, recursos financeiros,
recursos materiais e humanos.

Melo Rico (1998, p. 29), analisando as ações filantrópicas das empresas,


menciona o seguinte:
A filantropia empresarial, ao investir na sociedade, não está pres-
tando favores ou doando benefícios. A nova ação social empre-
sarial está procurando algum retorno, colaborar com o desenvol-
vimento do País, demonstrando que a iniciativa privada deve ser
consciente, ter uma responsabilidade social em relação aos proble-
mas que atingem a sociedade como um todo. A empresa cidadã é
aquela que, além de cumprir sua função econômica, trabalha para
a melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade.

As empresas passaram a atuar em espaços onde as políticas públicas do


Estado não chegam. Apesar que a erradicação da pobreza, da marginalização e a
redução das desigualdades sociais e regionais sejam uns dos objetivos fundamen-
tais do Estado brasileiro, inclusive com previsão no artigo 3o da Constituição Fede-
ral de 1988. Sendo assim, a responsabilidade social desenvolvida pelas empresas
por meio de investimentos em programas sociais pode contribuir para a melhoria
da abrangência dos mesmos e dirimir tantas demandas sociais.
30 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Portanto, ver-se que a assistência social desenvolvida pelas empresas
tem como objetivo viabilizar os projetos sociais de interesse público, muitas vezes
por meio de ajuda financeira, com o intuito de desenvolver projetos das próprias
empresas, projetos de ONGs, como também a criação de institutos e fundações.

De acordo com Melo Rico (1998), vale ressaltar que o interesse das em-
presas pela temática responsabilidade social tem, inicialmente, origem no inte-
resse econômico, ou seja, a classe empresarial preocupa-se com a imagem da
sua empresa perante a sociedade com o intuito de manutenção do seu negócio,
melhora na produção e lucratividade da mesma. No entanto, a posteriori pode des-
pertar na empresa uma conscientização do seu papel no desenvolvimento social
e humano do país.

Figura 02: Mecanismos de influência nas mudanças sociais.


Motivos e Relações Mecanismos

Pressão aumentando; liderança e


participação dos empregados

Empregados Membros
Perfomance; satisfação com o
trabalho; cultura organizacional

Decisão Estratégica
Membros
direita
Stakeholders Mudanças em RSC

Outros Ação coletiva

Promulgação e
Leis
aplicação; educação
Governantes Mudanças Sociais
Papéis de polícia;
Entidades intimação

Entidades não Campanhas; boicotes


governamentais e diálogos múltiplus

Fonte: CORREIA; PITOMBEIRA (2014, p. 173).

RESPONSABILIDADE SOCIAL 31
4.1. Resgate histórico da ação social das empresas no Brasil
Como já foi dito, a temática da responsabilidade social no Brasil ganhou
uma maior projeção na década de 1990. Entretanto, existem registros de atua-
ção das empresas no contexto da responsabilidade social no Brasil desde 1961
quando a problemática social do país começou a preocupar os dirigentes cristãos
das empresas brasileiras. Estes empresários cristãos fundaram a Associação dos
Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE). Esta associação se consolidou em 1977
e tinha como alicerce o pensamento social-cristão que buscava contribuir para uma
sociedade solidária, justa e livre. Ela agregava empresários que tinham o compro-
misso com a melhoria pessoal no ambiente laboral.
A Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE) foi quem desenvol-
veu o debate sobre a temática do Balanço Social, que consiste em um instrumento es-
tratégico para avaliar e multiplicar o exercício da responsabilidade social corporativa.
Já em 1982, a Câmara Americana de Comércio de São Paulo criou o prê-
mio ECO – Empresa e Comunidade, que visava reconhecer e divulgar os projetos
sociais realizados pelas empresas com o objetivo de promover a cidadania em
cinco categorias, que eram: cultura, educação, participação comunitária, educação
ambiental e saúde.
Em 1986, a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social
(FIDES) reuniu empresários de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do
Sul para discutir, realizar eventos e atividades nos âmbitos nacional e internacional
sobre a temática da responsabilidade social. O intuito era promover a compreen-
são sobre o desenvolvimento humano. Foi a partir destas discussões que surgi-
ram os questionamentos sobre a atuação e a competência do segundo e terceiro
setor no contexto social. O terceiro setor faz uso de recursos financeiros oriundos
de pessoas físicas e jurídicas para atender às necessidades da população, algo
que é feito sem a geração de lucros.

O Balanço Social consiste em um instrumento estratégico para avaliar e


multiplicar o exercício da responsabilidade social corporativa.

32 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Em 1989, em São Paulo, um grupo de empresários em parceria com a
Câmara de Comércio de São Paulo e com outros membros da sociedade inicia-
ram um processo de discussão sobre ações que dirimissem as desigualdades
sociais do Brasil. Esta parceria culminou na criação do Grupo de Instituições,
Fundações e Empresas (GIFE) em 1995, que tinha como objetivo qualificar as
empresas, as fundações e as pessoas que desejassem realizar investimentos
sociais, por meio da difusão de conceitos e práticas de gestão que viabilizassem
a melhoria dos recursos que seriam aplicados na implementação de projetos
sociais. Até hoje esta proposta da GIFE perdura, ou seja, que os recursos finan-
ceiros e outras doações sejam utilizadas pelas empresas de maneira planejada
e criteriosa, pois somente através de um maior planejamento dos recursos que
se pode atingir melhores benefícios à sociedade.

As doações de recursos financeiros para projetos sociais feitos por pes-


soas jurídicas são passíveis de deduções de incentivos fiscais. Portanto, a União,
por meio da Lei no 9.790/1999, permite que as empresas tributadas em regime de
lucro real deduzam até 2% do lucro operacional bruto em doações destinadas a
entidades sem fins lucrativos.

A Lei no 9.790, criada em 23 de março de 1999, dispõe sobre a qualificação


de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como as Organizações
da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Além disso, institui e disciplina o
Termo de Parceria. Segundo seu artigo 1º, as pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos, que tenham sido constituídas e se encontrem em funciona-
mento regular há 3 (três) anos, podem ser qualificadas como Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), desde que os respectivos objetivos
sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos pela referida lei.
Já o artigo 2o elenca sociedades comerciais, entidades, associações, instituições,
cooperativas e fundações que não podem ser qualificadas como Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público. Já a Lei no 9.249, de 26 de dezembro de
1995, fala sobre a dedução do imposto de renda das empresas que doam recursos
financeiros para a OSCIP.

RESPONSABILIDADE SOCIAL 33
Em 1990, foi criado o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE).
Também foi criada a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente, uma
entidade de utilidade pública federal que não possui fins lucrativos. Ela é mantida atra-
vés de recursos oriundos de pessoas jurídicas empresariais e tem como objetivo pro-
mover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania das crianças e dos adolescentes,
buscando alcançar este objetivo por meio da mobilização da sociedade civil e do Poder
Público. Tal fundação tem suas práticas embasadas nas diretrizes da Organização das
Nações Unidas – ONU –, da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e
do Adolescente – ECA –, criado em 1990. A Abrinq apoia projetos como o Programa
Empresa Amiga da Criança e o Selo Empresa Amiga da Criança. Existe também o
Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Já em 1997, o Balanço Social passou a ter uma maior visibilidade através


da parceria feita com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBA-
SE –, que foi criado pelo sociólogo Herbert de Souza e que era uma organização
não governamental e sem fins lucrativos. Surge, então, o Selo do Balanço Social.
O IBASE mobilizou o Brasil, em 1993, por meio da Campanha Ação da Cidadania
contra a Miséria e pela Vida, na tentativa de dirimir a fome que assolava o país.

Na atualidade, o conceito de Balanço Social vem sendo utilizado por muitas


empresas de vários estados brasileiros, sendo que, no Estado de São Paulo, ele
possui caráter obrigatório para empresas com mais de 100 funcionários (Projeto
Lei de no 3.116/1997).

Em 1994, foi criado o Instituto Ayrton Senna, que é uma organização não
governamental de origem empresarial e que tem como objetivo oportunizar condi-
ções de desenvolvimento humano a crianças e jovens do Brasil. Busca promover
o pleno desenvolvimento das habilidades de cada indivíduo através da criação e
implementação de técnicas e instrumentos de atuação social com parceria entre
o Poder Público e empresas.

Em 1998, foi criado o Instituto Ethos, que consiste numa associação de


empresas que visa desenvolver suas atividades de uma maneira socialmente res-
ponsável. Estas empresas prezam pelo constante processo de aperfeiçoamento
através do desenvolvimento de atividades de informação, conferências, debates,
assistência técnica, comunicação, articulação e mobilização. O Instituto Ethos de
Responsabilidade Social embasa suas atividades em valores éticos e universais
que coadunam com indicativos de compromisso social.
34 RESPONSABILIDADE SOCIAL
Conforme Reis (2007), na prática, a responsabilidade social das empre-
sas deve referir-se a um modelo de gestão de negócios no qual as empresas
devem ter o compromisso com o desenvolvimento social e humano do Brasil.
Pode-se falar que, ao longo dos anos, o Brasil vem presenciando uma mudança
significativa na temática responsabilidade social, uma vez que há poucas décadas,
a única preocupação do setor privado era a de produzir lucros para seus acionistas.

A responsabilidade social possui diferentes campos de atuação pelas em-


presas no país, que são:
• Ação social;
• Investimento social privado;
• Filantropia empresarial;
• Governança corporativa; e
• Responsabilidade social das empresas.

O primeiro, ação social, diz respeito às atividades de assistência social que


podem ser doações ou projetos estruturados.

O segundo, investimento social privado, está relacionado ao uso plane-


jado e fiscalizado de recursos privados em projetos sociais de interesse público.

O terceiro, filantropia empresarial, são doações de recursos privados para


atendimento de atividades públicas.

O quarto, governança corporativa, diz respeito ao “aperfeiçoamento da


gestão organizacional para padrões socialmente responsáveis, a fim de que sejam
sustentáveis no longo prazo” (ALESSIO, 2004 apud SOUTELLO ALVES, 2001).

O quinto, responsabilidade social das empresas, está relacionado à ca-


pacidade da empresa em verificar os vários problemas que afetam a sociedade e
à preocupação com o desenvolvimento econômico e social do país. Também está
relacionado à forma de gestão dos negócios da empresa, pois ela deve ter a capa-
cidade e a preocupação em ouvir os interesses das diferentes partes, incluindo tais
interesses no planejamento de suas atividades.

De acordo com Reis (2007), o conceito de ação social é o que mais existe
atualmente no Brasil dentre as concepções de responsabilidade social. Como foi
visto, as ações sociais são ações não obrigatórias que as empresas executam
RESPONSABILIDADE SOCIAL 35
através de doações ou investimentos em projetos de assistência social e alimenta-
ção. Desse modo, a ação social das empresas é motivada pelo caráter humanitá-
rio de alguns empresários.

Conforme a pesquisa do IPEA, realizada em 2000, a metade das empresas


do Brasil realizava trabalhos de ação social para suas comunidades, principalmen-
te por meio de doações. Apenas nas regiões Sul e Sudeste puderam ser vistos
doações em forma de investimentos em projetos sociais. Já na região Nordeste,
82% das doações eram direcionados ao auxílio de pessoas carentes das comuni-
dades às quais as empresas estavam inseridas.
Para Melo Neto e Froes (2001), a filantropia é o processo inicial para a
prática da responsabilidade social no Brasil. É preciso ter clareza que a filantropia
tem seus benefícios, porém deve ser encarada como algo emergencial, uma vez
que diminui pontualmente uma situação de extrema carência. Apesar disso, tam-
bém pode colaborar para reproduzir as mesmas condições sociais existentes, por
exemplo, a desigualdade social e a exclusão social.
Vale ressaltar que a filantropia possui motivações humanitárias; sua par-
ticipação é pontual e emergencial, e as suas ações são isoladas, pois não exis-
te a preocupação da correlação entre a empresa e a ação social desenvolvida.
Também não há uma parceria com o Estado, sendo assim, a ação social decorre
apenas da opção pessoal do empresário.
A verdadeira responsabilidade social será eficaz quando deixar de ter
apenas um caráter compensatório, e passar a contribuir para a transformação so-
cial e para o processo de desenvolvimento social do Brasil. As empresas preci-
sam assumir uma cultura de responsabilidade social efetiva, realizada por meio de
um modelo de gestão de negócios socialmente responsável que transcenda as
ações de doações, filantropia e assistência social. Portanto, deve fazer parte do
planejamento da empresa e não ser apenas uma atitude pessoal do empresário.
A cultura da responsabilidade social nas empresas requer planejamento
para que se torne um modelo de gestão de negócios, algo que traz a necessidade
de um planejamento de execução de tarefas por todas as áreas da empresa, prin-
cipalmente em uma área competente, que pode ser a de recursos humanos. Desse
modo, um dos grandes desafios das empresas é inserir a responsabilidade social
no planejamento e no orçamento das ações da empresa. Precisa, ainda, existir a
avaliação do impacto da ação social junto ao público-alvo.
36 RESPONSABILIDADE SOCIAL
As ações sociais desenvolvidas pelas empresas complementam as ações
do governo, por isso esta prática precisa ser palco de constantes discussões, uma
vez que os problemas sociais do Brasil precisam ser pensados por diferentes
agentes econômicos. Também é responsabilidade do Estado brasileiro o desen-
volvimento de políticas públicas e macroeconômicas que permitam o crescimento
econômico do país e o desenvolvimento humano.

A ação social, como uma das concepções de responsabilidade social, tam-


bém é desenvolvida pelos empresários porque eles aspiram ao sucesso comercial,
já que ao melhorar a imagem da empresa diante da sociedade, acaba funcionando
como uma estratégia empresarial de crescimento, como também traz um aumento
na satisfação dos empregados, melhora a qualidade e a produtividade da empresa.

Reis (2007, p. 297) menciona o seguinte sobre o assunto:


[...] o ideal seria uma inversão de valores junto ao setor privado,
priorizando as ações sociais não em detrimento do econômico, mas
em sintonia com ele, mesmo que isso ainda não faça parte do pen-
samento e da cultura desse setor. Esse movimento, provavelmente,
encetaria uma mudança de postura ética e moral.

Por conseguinte, pode-se concluir que a empresa tem como interesse pri-
maz o lucro, no entanto, também é considerada uma organização social formada
por pessoas que possuem necessidades a serem satisfeitas. Um fato que constitui
uma necessidade do mercado, visto que a sociedade, ao tornar-se cada vez mais
empobrecida, diminui o consumo de produtos e serviços, o que compromete a
existência da empresa. Deste modo, a empresa precisa transcender o seu papel
de lucratividade para desempenhar um papel de agente de desenvolvimento eco-
nômico, social e humano para, assim, poder ajudar na construção de uma socieda-
de mais justa, livre e sustentável.

Nos últimos tempos, vem surgindo no Brasil o termo compromisso social.


Conforme Reis (2007, p. 299), “compromisso social é um indicativo da responsa-
bilidade das empresas exercida em seu sentido filosófico e de conscientização de
seu papel na sociedade [...]”.

Portanto, o compromisso social ganha contornos de responsabilidade e


não apenas de motivação humanitária, como ocorre na filantropia. Esta responsa-
bilidade deve estar incorporada aos valores e à missão da empresa. Assim, as me-
RESPONSABILIDADE SOCIAL 37
tas serão alcançadas por meio de ações, com a participação dos funcionários, da
comunidade e do Estado. A participação da empresa deve ser proativa e integrada
na busca de solução dos problemas sociais.

O compromisso social impulsiona a empresa à cultura da responsabilidade


social na gestão de negócios. A atuação da empresa é realizada de forma trans-
parente e procura aumentar as iniciativas sociais. Existe uma relação de parceria
com o Estado na busca de dividir responsabilidades e de aumentar o âmbito das
ações sociais.

Os projetos voltados para a ação social são bem estruturados e elaborados


com o compromisso de continuidade do trabalho. Por fim, a ação social encon-
tra-se intrinsicamente incorporada ao padrão comportamental da empresa, cujos
projetos sociais são largamente divulgados à população. Desse modo, a respon-
sabilidade social, por meio da concepção de ação social, já faz parte dos valores
e da missão institucional da empresa, e também é partilhada com os funcionários.

Reis (2007) menciona que a discussão sobre responsabilidade social das


empresas no Brasil e no mundo deve ir além dos problemas ambientais e atingir
a temática da sobrevivência e dignidade humana. Deve existir o enfretamento
de um modelo econômico excludente, no qual há tecnologias avançadas, mas per-
siste a degradação da vida humana, da vida animal e vegetal.

5. MARKETING SOCIAL
Gomes e Moretti (2007) afirmam que a publicidade em torno da responsabi-
lidade social preocupa-se em mostrar os problemas sociais existentes no país; em
seguida, preocupa-se em demonstrar que a empresa executa ações sociais, e que o
Estado, ao não conseguir suprir as demandas sociais, precisa do auxílio da empre-
sa. Alguns publicitários defendem a interação entre a responsabilidade social e as
estratégias de marketing das empresas. A empresa terá benefícios relacionados
à sua imagem diante do público consumidor e da sociedade em geral, gerando uma
maior participação no mercado.

Por isso as empresas que executam ações de responsabilidade social pro-


curam divulgá-las para angariar a simpatia de seus clientes. Conforme os autores
citados anteriormente, os consumidores estão dispostos a pagar mais caro por um
38 RESPONSABILIDADE SOCIAL
produto feito por uma empresa que tem responsabilidade social, ou seja, demons-
tram uma conduta ética. Entretanto, este comportamento gerou um valor excepcional
à mercadoria, conhecido como “mais valia social”.

6. BENEFÍCIOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL


A empresa terá benefícios em relação à sua marca e à sua imagem perante o
público consumidor, podendo aumentar a sua participação no mercado. A responsa-
bilidade social nas empresas também gera benefícios fiscais, já que as doações de
recursos financeiros para projetos sociais feitos por pessoas jurídicas são passíveis
de deduções. Portanto, a União, por meio da Lei no 9.790/1999, permite que as em-
presas tributadas em regime de lucro real deduzam até 2% do lucro operacional bruto
em doações destinadas a entidades sem fins lucrativos.

Conforme Gomes e Moretti (2007), as empresas conseguem vários bene-


fícios que geram lucros ao inserir o modelo de responsabilidade social nos seus
negócios, que são:

• As empresas não incluem nos seus custos de atividades os recursos gastos


com ações sociais e ambientais;

• A empresa doadora de recursos é beneficiada com a imunidade tributária,


por meio da dedução de imposto de renda até o limite de 2% sobre o seu
lucro operacional;

• A empresa se beneficia com o marketing social perante seu público con-


sumidor, colocando sua marca em evidência;

• A empresa experimenta uma ampliação de sua marca no mercado con-


sumidor.

Daher (2006) menciona os ganhos que uma empresa pode ter ao incluir a
responsabilidade social nas suas atividades, que são as seguintes:

• A empresa é concebida como fonte geradora de riquezas e criadora de


novas tecnologias que são elementos indispensáveis à solução dos pro-
blemas sociais;
RESPONSABILIDADE SOCIAL 39
• Possibilita uma melhor relação da empresa com a sociedade por meio de
metas em comum;

• Melhora a reputação da empresa, o que acaba se tornando um diferencial


na competição pelo mercado consumidor;

• Facilita as restrições impostas pelas leis e regulamentos, ao passo que


diminui os entraves na obtenção e manutenção de licenças de funciona-
mento que pode ter cunho governamental, mercadológico ou social;

• Facilita a aceitação de novas tecnologias criadas pela empresa;

• Melhora a obtenção de créditos e empréstimos junto às instituições finan-


ceiras, também atrai investidores;

• Ao se inserir na comunidade, ela se torna singular e ganha um diferencial


entre seus concorrentes;

• Obtém a satisfação dos seus consumidores, dos seus sócios e/ou dos
seus acionistas;

• Gera publicidade gratuita;

• Forma um mercado consumidor futuro na sociedade em que atua;

• Conquista a fidelização de clientes, pois eles ficam satisfeitos com a


ação social;

• Consegue uma maior segurança, visto que a comunidade local terá


zelo pelo patrimônio da empresa devido aos projetos sociais desen-
volvidos por esta;

• Ganha a proteção contra ações negativas dos consumidores, em função


da sua boa credibilidade;

• Atrai bons profissionais devido à conduta da empresa.

Conforme Bessa (2010), a prática da responsabilidade social empresa-


rial coloca a empresa em uma posição de corresponsável pela viabilidade dos
direitos fundamentais, pois a Constituição Federal de 1988 elenca a ordem eco-
nômica como forma de promoção da dignidade da pessoa e da justiça social.
40 RESPONSABILIDADE SOCIAL
7. CRÍTICAS EM RELAÇÃO AO PAPEL DAS EMPRESAS NA
RESPONSABILIDADE SOCIAL

Gomes e Moretti (2007) fazem uma forte crítica em relação ao compor-


tamento de algumas empresas no que concerne à efetiva essência do termo
responsabilidade social, pois não basta as empresas terem projetos sociais
e redigir um código de ética empresarial se elas não cumprem as legislações
ambientais, por exemplo. Portanto, na verdade, a empresa estaria divulgan-
do para o público consumidor uma falácia, já que não estaria efetivamente
preocupada com a qualidade de vida das pessoas ao causar danos ao meio
ambiente. Além disso, o Estado também é culpado por este comportamento
das empresas ao não punir efetivamente os causadores de danos ambientais.
Afirmam, ainda, que a classe empresária se apropriou do discurso dos ambien-
talistas, pois um discurso ecológico por parte da empresa melhora a aceitação
de seus produtos pelos clientes.

Portanto, conforme os autores anteriores, a responsabilidade social nas


empresas possui uma formação ideológica, visto que tem atrelado a prática ao
discurso voltado para o desenvolvimento sustentável, voluntariado, diminuição de
desigualdades sociais e solidariedade. Seria incoerente as empresas tentarem re-
solver demandas sociais que, em muitos casos, são causadas por elas mesmas.
Atrelado a isso estaria uma péssima participação do Estado nestas relações.

Para Correia e Pitombeira (2014), as empresas incluem a responsabilida-


de social e a sustentabilidade em sua gestão de negócio como forma de garantir
sua legitimidade, como busca por sua permanência no mercado, que está a cada
dia mais competitivo, pois a divulgação de uma imagem ligada ao contexto socio-
ambiental traz destaque e notoriedade no mercado e produz um bom desempe-
nho econômico.

Conforme Bessa (2010), a responsabilidade socioambiental é objeto de


crítica e de desconfiança por muitas pessoas, por acreditarem que se trata de
filantropia com marketing empresarial para a obtenção de vantagens no merca-
do. Na verdade, pode ocorrer, entretanto, uma não desvalorização dos valores e
instrumentos utilizados na prática da responsabilidade social.
RESPONSABILIDADE SOCIAL 41
8. ÉTICA E TRANSPARÊNCIA
A palavra ética tem origem no grego ethos, significa costume e está relacio-
nado à inteligência, vontade e razão. Ética diz respeito ao conjunto de princípios
morais adquiridos através de padrões de comportamento que servem para nortear
a conduta dos indivíduos. Vale ressaltar que os princípios morais sofrem mudan-
ças no decorrer do tempo, já que são baseados nos costumes que, por sua vez,
são dinâmicos.

Na década de 1970, nos EUA, surgiram os primeiros estudos sobre a


ética nas empresas. O cerne da criação destes estudos deveu-se a instalação
de empresas fora do país que geraram conflitos culturais e ambientais entre as
comunidades daqueles locais. Mas foi a partir da década de 1990 que as publi-
cações acadêmicas ganharam maior amplitude. Nesta mesma década, foi criada
a International Society of Business, Economics and Ethics (ISBEE). A partir de
então, o pesquisador Georges Enderle e outros passaram a sistematizar o estudo
da ética nos negócios de outros continentes. Este estudo continha três formas de
abordagem, que eram:
I. A semântica (consistia em falar sobre ética);
II. A teoria (consistia em pensar sobre ética); e
III. A prática (consistia em atuar de maneira ética).

Daher (2008, p. 54) afirma que a ética deve ser analisada em virtude dos
aspectos da moral geral e da moral social. Assim, o autor as conceitua da se-
guinte forma:
A moral geral analisa os princípios básicos da moralidade dos atos
humanos (o fim último, a lei moral, a consciência, as virtudes). A
moral social aplica tais princípios à vida do homem em sociedade
(família, bem comum da sociedade, autoridade e governo, leis civis,
a ordem moral da economia e das organizações).

Portanto, conforme Daher (2008), em consonância com uma conduta éti-


ca, uma boa empresa é aquela que não se ocupa apenas com seu lucro, mas
a que também se preocupa em oferecer um ambiente de trabalho pautado em
preceitos moralmente aceitáveis, onde os indivíduos podem desenvolver sua
capacidade cognitiva, seus valores e virtudes.
42 RESPONSABILIDADE SOCIAL
A ética tem como alicerce a realidade humana, na qual a razão busca os
padrões morais universais norteadores da conduta dos indivíduos. Por conseguin-
te, a conduta ética empresarial junto com as ações de responsabilidade social e
o sentimento de justiça, devem ser buscados pelos gestores empresariais no seu
exercício da liderança. Este comportamento trará satisfação dos funcionários, dos
clientes, dos fornecedores, dentre outros.

Em contrapartida, a falta de uma conduta ética na empresa pode trazer


sérios prejuízos, devido, a uma má publicidade e danos no relacionamento com os
clientes. Desse modo, os gestores que ocupam uma posição de liderança dentro
da empresa precisam ter uma conduta ética exemplar; uma vez que são formado-
res de opinião e de comportamento.

Segundo Daher (2008, p. 59), algumas práticas empresariais são conside-


radas reprováveis pela opinião pública, tais como:

[...] subornos para dirigir licitações públicas; sonegação fiscal;


espionagem industrial ou econômica; manufatura de produtos
clones; furto de matérias-primas, equipamentos e mercadorias;
uso de informações privilegiadas; propina para obter contratos
internacionais; lavagem de dinheiro proveniente de operações
ilegais; fraude em balanços contábeis; exploração de trabalho
infantil; e crime de natureza ambiental.

Um exemplo de comportamento ético de uma empresa ocorre quando


ela decide não ter relações comerciais que envolvam o comércio de pele, quando
não executam testes em animais, quando se negam a transacionar com outras
empresas que exploram seus funcionários, dentre outros. Essa conduta ética da
empresa exerce influência na sociedade.

De acordo com Alledi Filho e Marques (2012), a Ética é fundamental na prá-


tica da responsabilidade social e também está relacionada com a transparência.
Ainda segundo os autores, “A ética tem por objetivo dar às organizações direção e
RESPONSABILIDADE SOCIAL 43
consistência aos seus programas e a transparência é sua chancela, cujo objetivo
é disponibilizar, para a sociedade como um todo, as informações sobre as organi-
zações” (ALLEDI FILHO; MARQUES, 2012, p. 2). Sendo assim, os valores éticos
devem ser divulgados pela empresa. Ela também deve estimular a participação
de todos os interessados em suas atividades e, para isso, deve criar o seu Código
de Ética, pois por intermédio dele, a empresa torna público a sua visão e a sua
missão. Mas o sucesso da conduta ética da empresa passa necessariamente pelo
envolvimento dos diversos públicos nos quais ela mantém relação.

Ainda conforme os autores supracitados, a utilização da transparência traz


ganhos para a empresa. A prática da transparência deve transcender o âmbito
das informações financeiras básicas, chegando a informações acerca do compor-
tamento, das operações e do desempenho da empresa. Portanto, a empresa deve
revelar aos interessados em suas atividades, como também aos seus investidores
e aos ativistas sociais e ambientais, de maneira clara e honesta, suas estruturas,
suas políticas, suas regras, seus princípios, suas responsabilidades, suas práti-
cas por meio de relatórios anuais e relatórios de sustentabilidade. O exercício da
transparência é instigado pela investigação da mídia e da tecnologia da informação
virtual disponível ao público.

Almeida (2002, p. 81) define a transparência da seguinte forma:

Transparência significa ausência de corrupção, pois a corrupção


não é compatível com a competição que sustenta um mercado
livre e saudável; ausência de subsídios, pela mesma razão; previ-
sibilidade das regulamentações governamentais, pois mudanças
bruscas nas regulamentações inibem a confiança dos empreen-
dedores no contexto regulador e intimidam os investidores. Para
a empresa, transparência significa também ouvir e considerar em
suas decisões as opiniões e expectativas de todas as partes inte-
ressadas (os stakeholders). Trata-se de aceitar que, além dos do-
nos ou acionistas (os shareholders), a empresa precisa dialogar
com os stakeholders: empregados e suas famílias, consumidores,
fornecedores, legisladores, habitantes da região em que empresa
opera e organizações da sociedade civil.
44 RESPONSABILIDADE SOCIAL
1. Disserte sobre o conceito de responsabilidade social.

2. Comente acerca dos modelos de Carroll sobre responsabilidade social.

RESPONSABILIDADE SOCIAL 45
3. Disserte sobre a função do marketing na empresa que trabalha com a prática da
responsabilidade social.

4. Faça um breve comentário sobre a história da responsabilidade social no mundo.

5. Faça um breve comentário sobre a história da responsabilidade social no Brasil.

46 RESPONSABILIDADE SOCIAL
6. Fale um pouco sobre os benefícios que a empresa recebe ao inserir a respon-
sabilidade social em seus negócios.

7. Fale sobre as críticas em relação à prática da responsabilidade social nas


empresas.

8. Disserte sobre a importância da ética e da transparência na atividade empresarial.

RESPONSABILIDADE SOCIAL 47
Nesta unidade, estudamos sobre o conceito de responsabilidade social nas
empresas e o seu desenvolvimento ao longo dos anos. Vimos que a responsabili-
dade social ganhou repercussão no cenário empresarial nos EUA e na Europa na
década de 1960. Inicialmente, tratava de problemas relativos ao meio ambiente e
aos direitos dos consumidores. Já no Brasil, o tema passou a ter maior projeção
apenas em 1990 devido ao período da redemocratização com a elaboração da
Constituição Federal de 1988 e a abertura econômica no mercado brasileiro.

Também vimos que a responsabilidade social ganhou uma maior am-


plitude com os novos modelos de responsabilidade social criados por Archie B.
Carroll. Tais modelos propostos pelo autor são divididos em econômicos, legais,
éticos e filantrópicos.

Em relação à responsabilidade ambiental, vimos que não existe uma co-


brança jurídica efetiva em relação aos usos dos recursos naturais por parte das
empresas. A legislação só diz respeito a medidas compensatórias e mitigatórias
no momento da instalação dos empreendimentos. A única cobrança efetiva fica na
seara dos impostos. O exercício da responsabilidade social, juridicamente, trata do
cumprimento da função social da empresa.

Sendo assim, a empresa precisa cumprir voluntariamente a legislação vi-


gente, além disso, as suas atividades não devem resultar da degradação social e
econômica da população, tampouco do meio ambiente. Portanto, conclui-se que
deve existir a participação do poderes públicos no desenvolvimento da respon-
sabilidade social. A autoridade governamental deve fomentar e controlar através
de políticas públicas de incentivo e de reconhecimento de padrões de comporta-
mento responsáveis. As políticas públicas devem respeitar o caráter voluntário da
responsabilidade social, mas pode incentivá-la criando mecanismos de controle e
certificação para as organizações.

48 RESPONSABILIDADE SOCIAL
REFERÊNCIAS

ALLEDI FILHO, Cid; MARQUES, Vânia. Responsabilidade Social: conceitos


e práticas. São Paulo: Atlas, 2012.

ALESSIO, Rosemeri. Responsabilidade social das empresas no Brasil:


reprodução de postura ou novos rumos? Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro:


Nova Fronteira, 2002.

ASHLEY, Patrícia. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo:


Saraiva, 2003.

BNDES. Empresas, responsabilidade corporativa e investimento social. Rio


de Janeiro. Relato Setorial n. 2 BNDES – Área Social da Gerencia de Estudos
Setoriais (AS-GESET), Marco, 2000.

BENEDICTO, Gideon Carvalho; CALIL, José Francisco; SILVA FILHO, Candido


Ferreira. Ética, responsabilidade social e governança. São Paulo: Alínea, 2008.

BERTONCELLO, Sílvio Luiz Tadeu; CHANG JÚNIOR, João. A importância da


Responsabilidade Social Corporativa como fator de diferenciação. Revista
FACOM, São Paulo, n. 17, p. 70-76, 2007.

BESSA, Fabiane Lopes Bueno Netto. Responsabilidade social das empresas:


práticas sociais e regulação jurídica. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2010.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de 1988. Presidência da República – Casa Civil: subchefia para assun-
tos jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 10 ago. 2018.

CORREIA, Mary Lúcia Andrade; PITOMBEIRA, Thales José Eduardo. Direito


ambiental: desenvolvimento e sustentabilidade - legislação, políticas públicas,
mercado e novas perspectivas. 1. ed. Curitiba, PR: CRV, 2014.

DAHER, Wilton de Medeiros. Responsabilidade social corporativa - Geração de Valor


Reputacional nas Organizacões Internacionalizadas. São Paulo: Saint Paul Editora, 2006.
RESPONSABILIDADE SOCIAL 49
DAHER, Wilton de Medeiros. Responsabilidade social corporativa - Geração
de Valor Reputacional nas Organizacões Internacionalizadas. São Paulo: Saint
Paul Editora, 2008.

ETHOS. Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis


– Glossário. Atualizado em 2017. Disponível em: <https://www3.ethos.org.br/wp-
-content/uploads/2017/06/Gloss%C3%A1rio-2017.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018.

GOMES FILHO, Adriano; MORETTI, Sérgio. A responsabilidade e o social:


uma discussão sobre o papel das empresas. São Paulo: Saraiva, 2007.

IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas. Ação social das em-


presas: avanços e desafios. Recuperado em 08 maio, 2003. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/acaosocial/rubrique41fd.html?id_rubrique=24>. Acesso
em: 10 ago. 2018.

MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Gestão da responsabilida-


de social corporativa: o caso brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.

MELO RICO, Elizabeth de. O Empresariado, a Filantropia e a Questão Social.


São Paulo, v. 11, n. 04, p. 60-66, 1998.

MENDES, Fernanda Aparecida; ASSUMPÇÃO, Silvia Garcia. A institucionali-


zação jurídica do custo dos recursos naturais e a responsabilidade social
empresarial. Revista Brasil Mineral. São Paulo, n. 277, p. 62-65, setembro, 2008.

REIS, Carlos Nelson; MEDEIROS, Luiz Edgar. Responsabilidade social das


empresas e balanço social. São Paulo: Atlas, 2008.

REIS, Carlos Nelson. A responsabilidade social das empresas: o contexto


brasileiro em face da ação consciente ou do modernismo do mercado? Revista
de Economia Contemporânea. Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 279-305, maio/
ago, 2007.

TACHIZAWA,Takeshy. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Cor-


porativa: Estratégias de Negócios Focadas na Realidade Brasileira. 7.ed. São
Paulo: Atlas, 2002.
50 RESPONSABILIDADE SOCIAL
www.UniATENEU.edu.br

Rua Coletor Antônio Gadelha, Nº 621


Messejana, Fortaleza – CE
CEP: 60871-170, Brasil
Telefone (85) 3033.5199

Você também pode gostar