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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

MARJORIE HELEN DA SILVA

“A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL COMO CAMPO DE ATUAÇÃO PARA O PEDAGOGO:


UMA PROPOSTA DE ATUAÇÃO PEDAGÓGICA EM CONJUNTO COM A ESCOLA DE
TEMPO INTEGRAL”.

CAMPINAS

2014
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Marjorie Helen da Silva

“A Educação Não Formal como campo de atuação para o pedagogo: uma proposta de atuação
pedagógica em conjunto com a Escola de Tempo Integral”.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência


parcial para a obtenção do Título de Pedagoga do Curso de
Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas, sob a orientação da Professora Doutora
Olga Rodrigues de Moraes von Simson.
FOLHA DE APROVAÇÃO

PROFA. DRA. OLGA RODRIGUES DE MORAES VON SIMSON (orientadora,


primeira leitora)

PROFA. AGLAY SANCHES FRONZA MARTINS (segunda leitora).

4
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho às minhas filhas, Laila T. Correa e Silva e Bárbara Helen Correa
e Silva, responsáveis pelo meu retorno aos estudos, que culminou na elaboração desse
trabalho final.

Dedico esse trabalho, também, à memória de meu pai, Wanderley José da Silva, que
estaria muito feliz com essa realização.

5
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que se interessaram por esse trabalho e que colaboraram para a sua
elaboração, especialmente, a toda equipe do PROGEN, onde fui muito bem recebida e
acolhida, contando com a participação de todos, aos quais retribuirei com o compartilhamento
da minha pesquisa, através do retorno dos resultados para que eles possam refletir sobre o
trabalho que desenvolvem. Também disponibilizarei uma cópia desse trabalho de pesquisa
para a instituição para que ela o utilize como fonte de consulta, sempre que necessário.

Agradeço, principalmente, à professora Olga Rodrigues de Moraes von Simson,


orientadora do trabalho, sem a qual ele não teria sido possível, que sempre me atendeu
prontamente e com muito carinho.

Agradeço, imensamente, à professora e pesquisadora Selma Machado Simão, cuja


participação em entrevista, muito contribuiu para as minhas reflexões.

Agradeço a toda minha família, pelo apoio, colaboração e compreensão pelos


momentos de ausência, especialmente ao meu marido, pelas longas noites de espera.

6
RESUMO: O presente trabalho, construído a partir de pesquisa bibliográfica, observação
participante e entrevistas em uma instituição de educação não formal, visou uma melhor
compreensão da atuação profissional do pedagogo em espaços de educação não formal. A
pesquisa bibliográfica, a observação participante e as entrevistas com os educadores
permitiram a constatação de que o campo da educação não formal é indicado para a atuação
profissional do pedagogo, principalmente, na atual realidade educacional, quando estamos
acompanhando a implantação gradual de uma política pública que preconiza a educação
integral em tempo integral. Esta política conclama a participação de todos, incluindo as várias
organizações educacionais, governamentais e não governamentais, na construção de um novo
modelo educacional, integrado com toda a sociedade. O desenvolvimento do trabalho também
permitiu a constatação de que, no atual cenário educacional, é muito importante a presença do
pedagogo intermediando os processos educativos escolares e não escolares, participando da
construção de propostas pedagógicas que contemplem as necessidades dos estudantes,
construídas por diversos saberes e conhecimentos que extrapolam os conteúdos curriculares
atuais.

PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO NÃO FORMAL; EDUCAÇÃO EM TEMPO


INTEGRAL; PROPOSTA PEDAGÓGICA INTEGRADA.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I: A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

1.1 ORIGEM, CARACTERÍSTICAS E CONCEITUAÇÃO 12


1.2 O PROFISSIONAL ATUANTE NA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL 16

CAPÍTULO II: A EDUCAÇÃO INTEGRAL E A ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL

2.1 DEFINIÇÃO DO TERMO EDUCAÇÃO INTEGRAL 19

2.2 BREVE HISTÓRICO DO ENSINO INTEGRAL NO BRASIL 22

2.3 IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO ESTADO DE SÃO


PAULO 26

CAPÍTULO III: O ESTUDO DE UMA INSTITUIÇÃO QUE DESENVOLVE UM


TRABALHO COM EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

3.1 HISTÓRICO E SURGIMENTO DA INSTITUIÇÃO 29

3.2 O TRABALHO DESENVOLVIDO NA INSTITUIÇÃO 31

3.3 AS FUNÇÕES E O PERFIL DO EDUCADOR ATUANTE NO PROGEN 32

3.4 A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE 35

3.5 AS ENTREVISTAS REALIZADAS COM EDUCADORES DO PROGEN 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS 42

8
BIBLIOGRAFIA 44

ANEXOS 47

ANEXO 01: 47

TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS COM OS EDUCADORES DO PROGEN

ANEXO O2: 73

FOTOS DA INSTITUIÇÃO PESQUISADA 73

9
INTRODUÇÃO

O presente trabalho teve a intenção de abordar os significados da educação não formal


e, entender a sua relevância como campo de atuação profissional para os pedagogos. O ponto
de partida foi a ideia de que a educação não é um processo exclusivo da escola, podendo
acontecer em locais diferentes e em diversas situações sociais, diversas do modelo escolar,
considerando também, a atual organização da escola em tempo integral.

A partir das definições de educação não formal apresentadas por alguns autores, tais
como, Brandão (2007); Simson, Park & Fernandes (2001 e 2007); Gohn (2006 e 2007); entre
outros, se pretendeu compreender melhor os significados da educação não formal e sua
importância na formação dos cidadãos e, também, entendê-la como campo de atuação
profissional para os graduados em Pedagogia, principalmente, na atualidade, quando o
governo do estado de São Paulo vem implantando a escola de tempo integral, com uma
proposta em construção, que segundo o MEC (2009), visa “construir uma educação cidadã,
com contribuições de outras áreas sociais e organizações da sociedade civil” (p.25),
conclamando assim, também, a participação de ONGs. Assim sendo, foi realizada uma
observação participante em uma ONG que desenvolve um trabalho de educação não formal
com crianças e adolescentes, estudantes de escolas de tempo integral, com a finalidade de
conhecer como, nesse novo contexto, da escola de tempo integral, os espaços de educação não
formal podem atuar de modo profícuo e dialógico.

O interesse pela realização desse trabalho foi devido à relevância que o tema apresenta
no cenário educacional atual, no qual a educação não formal está em crescimento desde a
década de 1990, devido à adoção de um modelo neoliberal de política educacional, social e
econômica. Este modelo impulsionou as iniciativas de instituições da sociedade civil e não
governamentais, visando uma complementação para a educação formal escolar que
apresentava deficiências e, portanto, se revelando como um aspecto muito importante na
formação do futuro pedagogo.

Nos tempos atuais, acompanhamos a implantação, gradativa, da escola de tempo


integral pelo governo do estado de São Paulo, que vem exigindo novas propostas
educacionais que integrem a escola à comunidade. Nessa perspectiva, o trabalho com

10
educação não formal realizado por organizações não governamentais pode propiciar essa
integração entre a escola e a comunidade e, a atuação do pedagogo mediando essa interligação
seria recomendável.

Portanto, é importante compreender que, a educação não se restringe ao ambiente


escolar, pois, ela vai muito além dele, independendo de tempo e espaço e que, “o termo
educação envolve um leque amplo de experiências educativas, informativas e formativas que
não se resumem à experiência escolar, formal” (SIMSON, PARK & FERNANDES 2007,
p.13). Além disso, também, conceber a educação não formal como “aquela que se aprende no
mundo da vida via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em
espaços e ações coletivas cotidianas” (GOHN, 2006, p.28) constituem uma visão que pode
colocar as propostas de educação não formal de ONGs, como contribuições viáveis para a
construção de projetos políticos pedagógicos nas escolas de educação integral, contemplando
a relação dialógica que deve existir entre a escola e a comunidade, como recomendam os
documentos do MEC e do Governo do Estado de São Paulo.

Nesse trabalho, a partir da bibliografia especializada sobre as definições de educação,


educação não formal e de educação de tempo integral, das observações das atividades
realizadas em uma ONG que trabalha com educação não formal, com crianças e adolescentes
que estudam em uma escola de tempo integral e da realização de entrevistas com educadores
da instituição, pretendeu-se analisar a realidade da instituição através dos dados colhidos
confrontando-os com a bibliografia atualizada sobre o tema enfocado.

11
CAPÍTULO I: A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

1.1 ORIGEM, CARACTERÍSTICAS E CONCEITUAÇÃO

A educação abrange um universo que ultrapassa os limites da instituição escolar, que é


socialmente aceita e compreendida como a responsável pela formação dos indivíduos através
da transmissão dos conhecimentos historicamente acumulados e sistematizados, indo muito
além, independendo de tempo e espaço, conforme afirma Brandão (2007):

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na


escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços de
vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar.
Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias
misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias:
educação? Educações (BRANDÃO, 2007, p.07).

Outros autores também entendem a educação como um processo que se desenvolve


além do universo escolar, como por exemplo, a interpretação de que o termo educação
“envolve um leque amplo de experiências educativas, informativas e formativas que não se
resume à experiência escolar formal” (SIMSON, PARK & FERNANDES, 2007, p.13).

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, de 20 de dezembro de


1996 pode-se constatar o reconhecimento da educação como um processo que ultrapassa os
limites escolares:

Art 1º A educação abrange os processos formativos que se


desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho,
nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

Segundo Jaume Trilla (2008), o conjunto de atividades educacionais diferenciadas


daquelas que aconteciam no âmbito escolar, receberam a nomenclatura de “educação não
formal”, nos fins da década de 1960, com a publicação da obra The World Educational Crisis,
da autoria de P.H. Coombs. A partir de então, “essa terminologia foi-se ampliando e
atualmente já é de uso comum na linguagem pedagógica: consta nas obras de referência da
pedagogia e das ciências da educação” (TRILLA, 2008, p.33).

A conceituação dessa nova forma de educação tem merecido a atenção de vários


autores que procuram caracterizá-la.

12
Maria da Glória Gohn é uma autora que concebe a educação não formal como “aquela
que se aprende no mundo da vida, via os processos de compartilhamento de experiências,
principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas” (GOHN, 2006, p.28).

O autor Mário Sérgio Cortella, considera que “educação não é sinônimo de escola,
dado que esta é parte daquela, tudo que se expande para além da formalização escolar é
território educativo a ser operado” (CORTELLA, 2008, p.47), demonstrando que ele também
interpreta a educação como processo que ocorre dentro e fora da escola.

As autoras Olga R. M. von Simson, Margareth B. Park e Renata S. Fernandes indicam


que a educação não formal pode ser entendida como aquela que ocorre fora da escola, com
uma outra organização temporal e curricular, não sendo obrigada a um planejamento que siga
rigorosamente, conteúdos, temas e habilidades pré-determinados, podendo assim, contribuir
de uma forma diferente para se tratar com o cotidiano, com os saberes e as demandas dos
educandos. Estas autoras entendem que o “não formal inclui o não-escolar, por aquele ser
mais amplo e englobar este. O intuito é não fazer ou promover a oposição, por princípio, à
escola. Trata-se de campos distintos”. (SIMSON, PARK & FERNANDES, 2007, p. 17).

As autoras, Simson, Park e Fernandes, consideram, ainda que, a educação não formal é
uma importante modalidade educacional que está em crescimento desde 1990, devido aos
fatores sociais e econômicos do atual cenário político brasileiro e, portanto, sendo foco da
atenção dos diversos segmentos da sociedade:

Na década de 1990, a democratização vem acompanhada de uma


forte crise econômica que, aliada ao discurso neoliberal, estimula a
sociedade civil a buscar saídas para as profundas desigualdades de
nosso país (SIMSON, PARK & FERNANDES, 2007, p.26).

No contexto da sociedade atual em que há a exigência de indivíduos flexíveis e


adaptáveis à realidade econômica do neoliberalismo, a educação precisa contribuir para a
formação dessas características nos cidadãos e assim, “passou-se ainda a falar de uma nova
cultura organizacional que, em geral, exige a aprendizagem de habilidades extra-escolares”
(GOHN, 2008, p.92), indicando a necessidade de espaços educacionais que promovam uma
educação integral do indivíduo, ofertando uma variedade de conteúdos que extrapolam os
conhecimentos fornecidos pelas escolas.

13
Diante das necessidades dessa nova sociedade, o conhecimento passa a ser
compartilhado em outros espaços, de múltiplas maneiras e com objetivos diversos, transpondo
os limites da escola.

A educação que acontece fora dos ambientes escolares não é regulamentada pelo
Ministério da Educação ou por outros órgãos equivalentes, assim como não segue a legislação
educacional não possuindo, portanto, a mesma carga de formalidade que a educação escolar.
A falta de regulamentação legal permite que existam vários entendimentos, concepções e
caracterizações da educação não formal e, consequentemente, uma dificuldade para se
encontrar uma única definição.

Apesar das diferentes concepções e compreensões do termo educação não formal


apresentadas pelos vários autores do tema, podemos considerar que, de maneira geral, existe
uma concordância que na educação não formal há uma maior liberdade e flexibilidade, pois,
ela não exige uma fixação de tempo e espaço e, os conteúdos são adaptados às necessidades
de cada contexto, visando ao desenvolvimento de processos educativos que respondam às
demandas imediatas dos grupos. Outro fator de concordância entre os autores é a ideia de que
a educação não formal tem uma intencionalidade e um planejamento prévios de ações e, que
ela pode acontecer em diferentes locais e contextos, pois, a educação não formal é um
processo contínuo que acontece em espaços sociais, baseado nos interesses e necessidades do
grupo envolvido.

Embora a educação não formal, na maioria dos seus espaços, venha ocorrendo de
forma a atender as camadas mais pobres da população, ela deve ser acessível a todos os
grupos sociais, conforme afirmam SIMSON, PARK e FERNANDES (2001): “encaramos as
práticas de educação não formal como passíveis de serem aplicadas a todos os grupos etários,
de todas as classes sociais e em contextos socioculturais diversos” (p.18), ressaltando que ela
apresenta um caráter de aplicação universal.

No Brasil, acompanhamos o desenvolvimento constante do terceiro setor, no qual a


sociedade civil passa a ter responsabilidades pelas questões sociais, destacando-se as
organizações não governamentais. Estas instituições apresentam uma crescente presença e
atuação na sociedade, exercendo atividades relevantes e essenciais junto à população
cobrindo, inclusive, serviços que o Estado não consegue cumprir, desenvolvendo ações de
prevenção ambiental, educativas, promoção de direitos humanos, entre outras.

14
As Organizações Não Governamentais (ONGs) são organizações sem fins lucrativos,
com finalidades públicas e autogovernadas que buscam promover a redução das
desigualdades sociais e a transformação social dirigida à formação humana. A autora Maria
da Glória Gohn, esclarece sobre o surgimento das ONGs:

A expressão ONG foi criada pela ONU na década de 1940 para


designar entidades não oficiais que recebiam ajuda financeira de
órgãos públicos para executar projetos de interesse social, dentro de
uma filosofia de trabalho denominada “desenvolvimento de
comunidade” (GOHN, 1997, p. 54).

Essas organizações não governamentais que trabalham com educação não formal não
são subordinadas às políticas educacionais do governo e, portanto, possuem liberdade para
elaborarem seus próprios programas e desenvolverem suas metodologias, organizando o
trabalho de acordo com as necessidades da comunidade que a frequenta, representando assim,
importantes espaços de educação não formal, contribuindo para o desenvolvimento integral
do indivíduo, valorizando a cultura local e o sentimento de pertencimento.

O processo educativo que se desenvolve nos espaços das organizações não


governamentais, visando à formação integral do ser humano, educando o indivíduo e
preparando-o para exercer seus direitos e deveres na sociedade, a partir de uma metodologia e
de um planejamento de acordo com as necessidades dos educandos e da comunidade é uma
das definições de educação não formal, que deu sentido a esse trabalho.

15
1.2 O PROFISSIONAL ATUANTE NA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

Na educação não formal temos o educador e o educando como os principais


participantes do processo educativo.

A formação dos educadores é um assunto também discutido entre os vários autores


que tratam da educação não formal.

Simson, Park e Fernandes (2007), apontam que “a formação dos educadores que
trabalham com o ensino não formal é um aspecto decisivo para que eles possam atuar” e
complementam com a informação de que em pesquisas já realizadas, obteve-se um perfil dos
educadores evidenciando que

prevalece a formação acadêmica – os educadores são, portanto,


sujeitos com nível educacional elevado e trabalham
preferencialmente em suas áreas formativas, podendo desenvolver
melhor as habilidades e os conteúdos que o trabalho educativo e
pedagógico toma como norteadores (SIMSON, PARK &
FERNANDES, 2007, p. 27).

Maria da Glória Gohn também discute sobre o papel do educador da educação não
formal, denominando-o “educador social”. Ela descreve as características que seriam
desejáveis para esse educador: “é fundamental que o educador tenha sensibilidade para
entender e captar a cultura local, a cultura do outro, as características exclusivas do grupo e de
cada um dos participantes” (GOHN, 2007, p. 16).

Ainda segundo Gohn (2007), o educador social ou não formal deve possuir uma
educação formal, que possibilite a ele obter conhecimentos sobre a realidade socioeconômica,
que sejam suficientes para que ele realize uma reflexão acerca da vida e do local onde vivem
os seus educandos, contribuindo então, para a construção da identidade e do sentimento de
pertencimento dessa população com que ele trabalha. Ou seja, a autora recomenda que o
educador social tenha uma formação provinda da modalidade formal de educação,
demonstrando assim, que esse profissional deve ser capacitado, e que, a educação não formal
não deve substituir a formal, pois esta ainda é a responsável pela transmissão dos

16
conhecimentos historicamente construídos pela humanidade. Para tanto, esta autora afirma
que:

(...) o educador com essa formação vê as técnicas e instrumentos de


trabalho, como anotações de campo, diários de bordo, relatórios,
registros de vivências, registros de momentos de reflexão, rodas de
discussão, fotos, vídeos etc., como muito mais que meros
requerimentos cotidianos preconizados pela instituição. Os meios e
técnicas tornam-se parte da dinâmica de formação no dia-a-dia,
sendo utilizados conforme as necessidades do projeto (GOHN, 2007,
p. 28).

Mais adiante, nessa mesma obra, a autora complementa com a reflexão de que se não é
exigida uma formação em Pedagogia para se tornar um educador social, ela faz falta para esse
profissional, pois, a educação não formal também necessita de metodologias, técnicas de
didática e de organização do trabalho educacional. Diz ela:

(...) para atuar de maneira crítica e transformadora, o educador social


deve ter ainda uma formação que o leve a uma reflexão e
compreensão maior de sua prática, que lhe possibilite fazer uma
leitura própria do mundo. Por isso, articular a prática com
conhecimentos é uma necessidade (IDEM, p. 29-30).

O autor, José Carlos Libâneo, também possui uma visão que indica e qualifica o
graduado em Pedagogia para exercer a função de educador social. Em uma de suas obras,
Libâneo (2010), revela um entendimento da educação como prática social e não a entende
somente como um processo que acontece nas escolas. Ele alarga o campo de exercício
profissional do pedagogo para muito além do escolar, como se pode comprovar através de
suas palavras:

Todo educador sabe, hoje, que as práticas educativas ocorrem em


muitos lugares, em muitas instâncias formais, não-formais,
informais. (...) Não é possível mais afirmar que o trabalho
pedagógico se reduz ao trabalho docente nas escolas. A ação
pedagógica não se resume a ações docentes, de modo que, se todo
trabalho docente é trabalho pedagógico, nem todo trabalho
pedagógico é docente (...). O pedagógico e o docente são termos
inter-relacionados, mas conceitualmente distintos. Portanto, reduzir
a ação pedagógica à docência é produzir um reducionismo
conceitual, um estreitamento do conceito de pedagogia. A não ser
que os defensores da identificação pedagogia-docência entendam o
termo pedagogia como metodologia, como procedimento de ensino,
que é um entendimento mais vulgarizado de pedagogia. Mas pensar
assim significa, desconhecer os conceitos mais elementares da teoria
educacional (LIBÂNEO, 2010, p. 14).

17
A partir deste longo trecho extraído da obra de José Carlos Libâneo, notamos que esse
autor possui uma visão ampliada dos campos de atuação do pedagogo, entendendo que esse
profissional deve estar capacitado para o exercício de muitas funções, além da docência,
fornecendo elementos que nos permitam concordar com o seu modo de entender a educação e
a área da Pedagogia, oferecendo opção para os alunos dos cursos de Pedagogia que não
almejam exercer a profissão de professor, na educação formal e em ambientes escolares.

Reforçando esta ideia, constatamos que, de acordo com LIBÂNEO (2010), “o curso de
Pedagogia deve formar o pedagogo (...), isto é, um profissional qualificado para atender
demandas sócio-educativas de tipo formal, não-formal e informal, decorrentes de novas
realidades” (p. 38).

A leitura das obras desses autores citados contribui para a compreensão da educação
não formal como campo de atuação profissional para o pedagogo, ratificando a ideia de que a
Pedagogia não forma apenas para a função da docência no ensino formal. Elas também
apontam para a crescente presença da educação não formal em nossa sociedade,
complementando a educação formal e oferecendo variados conhecimentos que a escola não
consegue ofertar, devido às suas obrigações curriculares.

Mesmo que a educação não formal não exija uma formação específica para os seus
educadores, podemos entender que um pedagogo poderia ser o mais indicado, pois, devido à
sua formação, estaria mais bem preparado para enfrentar os desafios que a educação não
formal pode apresentar, principalmente, na atualidade em que estamos diante do processo de
implantação da escola de tempo integral que está sendo posto em prática pelo governo do
Estado de São Paulo. Trata-se de um momento em que a sociedade e as organizações não
governamentais, que trabalham com educação, estão sendo conclamadas a participarem da
construção dos projetos pedagógicos das escolas de tempo integral.

18
CAPÍTULO II: A EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL E A ESCOLA DE TEMPO
INTEGRAL

2.1 DEFINIÇÃO DO TERMO EDUCAÇÃO INTEGRAL

O termo educação integral pode ser definido como um processo de desenvolvimento


da capacidade física, intelectual e moral do ser humano de forma inteira, completa, total, a
partir, por exemplo, da junção dos significados de educação e, de integral que encontramos
nos dicionários, como o Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa, no qual consta que:
“educação: processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser
humano” (p.197) e, “integral: total, inteiro, global” (p.310).

Mas, o que encontramos nas diversas obras que discutem o assunto educação integral é
que os vários termos, tais como, escola de tempo integral, ensino em tempo integral e
educação em tempo integral estão sendo utilizados como sinônimos de educação integral. Isso
porque, há estudos que apontam para a necessidade de uma escola que atenda em tempo
ampliado (integral) para que se possa oferecer um ensino integral, ou seja, se o tempo de
permanência na escola for maior, as possibilidades de os estudantes receberem uma educação
que alcance as exigências de nossa atual sociedade poderão ser maiores do que nas escolas
com pequenos turnos de permanência.

São encontradas dúvidas sobre a significação exata ou, caracterização do termo


educação integral, até mesmo nos documentos governamentais escritos para promoverem
esclarecimentos e debates, como por exemplo, o trecho a seguir:

(...) a Educação Integral se caracteriza pela ideia de uma formação


“mais completa possível” para o ser humano, embora não haja
consenso sobre o que se convenciona chamar de “formação
completa” e, muito menos, sobre quais pressupostos e metodologias
a constituiriam. Apesar da ausência de consenso, é possível afirmar
que as concepções de Educação Integral, circulantes até o momento,
fundamentam-se em princípios político-ideológicos diversos, porém,
mantêm naturezas semelhantes, em termos de atividades educativas
(MEC, 2009, p.16).

19
Porém, no documento MEC (2009), as interpretações sobre educação integral, de
maneira geral, propiciam a elaboração de uma definição para esse termo, que acompanhe as
orientações governamentais, e ao mesmo tempo, contemple as definições e interpretações dos
diversos autores do tema. Partindo dessas noções, nesse trabalho, entenderemos a educação
integral como aquela que se realiza de forma completa, pensando na construção do ser
humano e que atinja todos os espaços, sejam eles escolares e não escolares.

O documento MEC (2009) propicia um amplo debate para definir-se o entendimento


sobre educação integral, e, principalmente, esclarece como eleger metodologias e propostas
que viabilizem e contribuam com a implantação da escola de tempo integral. Nesse
documento, encontramos, também, uma abordagem que discute a educação integral,
considerando-a pelas dimensões tempo e espaço:

Falar sobre Educação Integral implica, então, considerar a questão


das variáveis, tempo, com referência à ampliação da jornada escolar,
e, espaço, com referência aos territórios em que cada escola está
situada. Tratam-se de tempos e espaços escolares reconhecidos,
graças à vivência de novas oportunidades de aprendizagem, para a
reapropriação pedagógica de espaços de sociabilidade e de diálogo
com a comunidade local, regional e global (MEC, 2009, p.18).

Através do trecho extraído das recomendações governamentais, podemos perceber que


está presente uma preocupação de ampliar o tempo de permanência dos alunos na escola,
evidenciando, na teoria, que a intenção seria também, ampliar a qualidade do ensino,
atingindo outras áreas do conhecimento não abordadas na atual organização do ensino, e
principalmente, incluindo a sociedade para debater e dialogar, contribuindo para a construção
de um novo modelo escolar.

Para Paolo Nosella (2005), a escola da atualidade, da qual se espera que proporcione
uma formação geral aos estudantes, preparando-os para o mundo globalizado, incluindo uma
formação profissional, necessita de uma jornada ampliada, para que ela seja capaz de cumprir
todas essas expectativas (NOSELLA,2005).

A ampliação do tempo de permanência dos estudantes, nas escolas, é também, um


cumprimento legal, o qual está expresso na LDB:

Artigo 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo


menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo
progressivamente ampliado o período de permanência na escola.

20
§ 2° O ensino fundamental será ministrado progressivamente em
tempo integral, a critério dos sistemas de ensino.

A partir do trecho extraído do documento é possível perceber que segundo a Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB ̸ 96, a indicação legal é o aumento do tempo
de permanência na escola, como uma importante estratégia para uma melhora da qualidade do
ensino fundamental brasileiro.

21
2.2. BREVE HISTÓRICO DO ENSINO INTEGRAL NO BRASIL

O Brasil é um país jovem, descoberto, oficialmente, em 1500, completando assim, 514


anos. Como aprendemos na escola, os portugueses que descobriram o Brasil não tinham a
intenção de povoá-lo, somente, explorar as suas riquezas naturais, e assim, o Brasil foi uma
colônia de exploração, por muitos anos.

Após o período colonial, o Brasil viveu a fase Imperial até se tornar uma República. A
fase republicana, que se iniciou com a Proclamação da República em 15 de novembro de
1889, necessitou enfrentar reformas para se adequar à sua nova condição social, política e
econômica.

Dentre as reformas, as que nos interessam são as educacionais, mais precisamente, as


que ocorreram mais próximas da nossa atualidade. Segundo Carvalho (2000), podemos
compreender que ao longo do século XX, o ensino fundamental no Brasil passou por reformas
que visavam à universalização do acesso, reorganizando as redes escolares, principalmente, as
públicas para incluir um número cada vez maior de alunos que procuravam vagas na educação
formal escolar (CARVALHO, 2000).

Para atender a crescente demanda por vagas, as escolas precisaram atender em dois ou
três turnos – manhã, tarde e noite – racionalizando os recursos financeiros, humanos e físicos.
A preocupação era atender ao maior número possível de alunos, não importando a qualidade
da educação que era oferecida. A questão da qualidade da educação veio, portanto, a
fazer parte dos debates entre os educadores, a sociedade e os profissionais da educação. A
principal questão que norteava as discussões era a necessidade de se buscar qualidade na
educação que era ofertada nas escolas e não, simplesmente, a colocação de todos nas escolas.
Algumas propostas de políticas educacionais preocupadas com a qualidade do ensino
nas escolas apontavam para a educação integral.

A educação integral, como proposta educacional para as escolas formais, em turno


integral, surge com o movimento escolanovista, influenciado por John Dewey (1859-1952).

22
No Brasil, o educador Anísio Teixeira (1900-1971) foi o principal representante do
escolanovismo e um defensor da escola de turno integral para resolver os problemas com a
qualidade do ensino nas escolas.

Em 1932 foi publicado “O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, elaborado por
um grupo de educadores preocupados em promover uma “reconstrução educacional”, a partir
do princípio de que “toda educação varia sempre em função de uma concepção da vida,
refletindo em cada época a filosofia predominante que é determinada, a seu turno, pela
estrutura da sociedade” (p.03-04), esclarecendo que a finalidade da Educação Nova era
“dirigir o desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma das etapas de seu
crescimento” (p.04).

Nessa época, os educadores reformistas recomendavam a educação integral, que


deveria ser de responsabilidade do Estado, envolvendo toda a sociedade, com uma escola
única para todos, na qual o ensino deveria ser obrigatório e gratuito, segundo consta do
“Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova”:

Mas, do direito de cada indivíduo à sua educação integral, decorre


logicamente para o Estado que o reconhece e o proclama, o dever de
considerar a educação na variedade de seus graus e manifestações,
como uma função social e eminentemente pública, que ele é
chamado a realizar, com a cooperação de todas as instituições
sociais. A educação que é uma das funções de que a família se vem
despojando em proveito da sociedade política, rompeu os quadros do
comunismo familiar e dos grupos específicos (instituições privadas),
para se incorporar definitivamente entre as funções essenciais e
primordiais do Estado (p.05).

Através do trecho escrito acima, pode-se perceber a preocupação dos educadores com
a necessidade de se ter a educação como uma função do Estado que, por seu turno, deve
oferecê-la a todos, gratuitamente, porém, não deixando de contar com a participação efetiva
da família na formação integral do ser humano.

Complementando as ideias dos educadores reformistas, constantes na publicação


elaborada por eles, cabe ressaltar que a educação pública como conhecemos hoje,

gratuita, obrigatória e leiga é uma conquista do Estado burguês e


surgiu na Europa com a ascensão da burguesia e o desenvolvimento
da vida urbana. Historicamente, pois, é uma conquista resultante da
decadência da antiga ordem aristocrática e, como tal, representa, no
Brasil, uma reivindicação ligada à nova ordem social e econômica,
que começa a se definir mais precisamente após 1930
(ROMANELLI, p.150).

23
Dessa forma, a educação pública, gratuita e obrigatória, ofertada pelo Estado brasileiro
vem se adequando à nossa realidade social, que tem se delineado a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1988, que preconiza nos artigos 205, 206, 208 e 214, da Seção I;
Capítulo III, que o ensino deve ser gratuito, obrigatório e com garantia de qualidade, além de
ser um dever do Estado e da família é um direito do cidadão.

No artigo 205, encontramos a interpretação de que o ensino pretendido seja o integral,


quando se explicita que a educação visa a um total desenvolvimento da pessoa, preparando-a
para exercer a cidadania e a sua inclusão no mercado de trabalho:

Artigo 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da


família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho.

Portanto, seguindo a legislação brasileira atual, a educação integral pode ser


interpretada como um processo educativo que prevê o aumento progressivo da jornada escolar
na direção do regime de tempo integral e que já se constitui como uma realidade em algumas
unidades educacionais brasileiras.

Para orientar a implantação da educação integral no Brasil, o governo federal


recomenda “O Programa Mais Educação”, que em linhas gerais, objetiva o desenvolvimento
de atividades sócio-educativas no contraturno escolar, visando à ampliação de tempos,
espaços, número de profissionais envolvidos no processo e, oportunidades educativas para
concorrerem para uma melhoria da qualidade da atual educação pública brasileira,
considerando que:

A Educação Integral constitui ação estratégica para garantir proteção


e desenvolvimento integral às crianças e aos adolescentes que vivem
na contemporaneidade marcada por intensas transformações: no
acesso e na produção de conhecimentos, nas relações sociais entre
diferentes gerações e culturas, nas formas de comunicação, na maior
exposição aos efeitos das mudanças em nível local, regional e
internacional (MEC, 2009, p.18).

Seguindo os passos das transformações do ensino brasileiro até alcançar a realidade


atual podemos perceber que elas, em sua maioria, se preocupavam com a qualidade da
educação que se ofertava nos sistemas públicos. Porém, essa qualidade, variava de acordo
com os interesses socioeconômicos e políticos de cada época vivenciada.

Na atual realidade social, econômica e política brasileira, o sistema educacional


procura realizar adequações que cumpram os preceitos legais, e assim, estamos

24
acompanhando a recente implantação do ensino integral em escolas com tempo integral, na
tentativa de ofertar um ensino de qualidade para os estudantes brasileiros.

A proposta pedagógica do Programa Mais Educação é desenvolver as potencialidades


dos alunos, proporcionando-lhes condições para que possam construir diferentes saberes que
não se limitam aos conteúdos curriculares, mas, que propiciem a relação entre os saberes
escolares e os conhecimentos sociais, ou seja, da comunidade.

A metodologia que se desenvolve no formato de oficinas, com atividades


diversificadas, representa uma proposta que busca contribuir com a formação integral do
aluno, apresentando também, oportunidades de desenvolvimento e aquisição de
conhecimentos para formação profissional.

25
2.3. IMPLANTAÇÃO DE ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO ESTADO DE SÃO
PAULO

Em 2006, em conformidade com os artigos 34 e 87 da Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional – LDB ̸ 1996, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo iniciou o
Projeto Escola de Tempo Integral,

com o objetivo maior de assegurar o desenvolvimento de


competências, habilidades, atitudes pertinentes à sociedade. A
Escola de Tempo Integral (ETI) foi um passo significativo na
consolidação dos princípios que sustentam sua prática educacional,
em direção à educação integral de seus alunos (p.10).

Segundo consta no documento “Diretrizes do Programa Ensino Integral”, elaborado


pela Secretaria da Educação do governo do Estado de São Paulo, o Programa de Ensino
Integral foi instituído pela Lei Complementar N° 1.164, de 04 de janeiro de 2012, alterada
pela Lei Complementar N° 1.191, de 28 de dezembro de 2012.

Esse Programa foi iniciado em 2012 em dezesseis escolas de ensino médio, e a partir
de 2013 expandido para vinte e duas escolas de ensino fundamental anos finais, vinte e nove
escolas de ensino médio e duas escolas de ensino fundamental e médio. Estas informações
constantes no documento permitem a conclusão de que a implantação do ensino integral está
se processando de forma gradativa no estado de São Paulo, segundo os números das escolas
que estão, anualmente, expandindo o seu atendimento para o horário integral.

Ainda de acordo com o documento, acima citado, o ensino integral representaria “uma
alternativa para adolescentes e jovens ingressarem numa escola que, ao lado da formação
necessária ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades, amplia as perspectivas de
autorrealização e exercício de uma cidadania autônoma, solidária e competente” (p.6-7).

Seguindo, ainda, o mesmo documento, somos informados que a educação pública


estadual está se organizando para o cumprimento da Constituição Federal de 1988, assim
como, o compromisso assumido na Conferência de Educação para Todos, realizada em
Jomtien, em 1990 e, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, objetivando
a promoção do acesso, da permanência e da aprendizagem bem sucedida dos alunos da rede:

Diante desse compromisso, a Secretaria da Educação de São Paulo


vem implantando uma política educacional que redefine o papel da
escola, concebendo-a como instituição democrática, inclusiva, com a

26
responsabilidade de promover a permanência e o sucesso de toda a
sua população estudantil. Para isso, propõe novas ações que
contribuem para a inclusão social de adolescentes e jovens,
possibilitando sua plena formação como cidadãos (p.09).

Após seis anos do início do processo de implantação das escolas de tempo integral, o
“Programa Ensino Integral” surge como mais uma alternativa para a Rede Pública Estadual,
com a “ideia de que as ações de educação na sociedade contemporânea devam ser
asseguradas, tanto na perspectiva quantitativa (educação para todos) quanto na referência
qualitativa (desenvolvimento de todas as dimensões de formação do educando)” (p.10).

O Programa Ensino Integral apresenta os seguintes aspectos:

1) Jornada integral de alunos, com currículo integralizado, matriz flexível e


diversificada;
2) escola alinhada com a realidade do jovem, preparando os alunos para
realizar seu Projeto de Vida e ser protagonista de sua formação;
3) infraestrutura com salas temáticas e demais educadores em Regime de
Dedicação Plena e Integral à unidade escolar (p.12).

Percebe-se, portanto, que a proposta estadual apresenta a ampliação da jornada, com


uma nova grade curricular a ser desenvolvida, a partir das próprias unidades escolares,
implicando necessariamente em um aumento do número de docentes para o desenvolvimento
de oficinas curriculares, oferecendo a oportunidade de ações integradas entre a educação não
formal e a escola de tempo integral, por exemplo.

Dessa forma, passa-se a designar como uma escola de tempo integral, aquela
que amplia a sua jornada incluindo dois turnos, manhã e tarde, contudo, espera-se que o
horário ampliado também aumente as oportunidades e crie situações que possibilitem
aprendizagens significativas e emancipadoras.

Analisando os documentos governamentais e as obras publicadas por diversos


autores, tanto os que apóiam quanto os que criticam as escolas de tempo integral, podemos
perceber que uma proposta de educação de tempo integral precisa ser bem organizada e
estruturada para que não acabe significando um aumento de jornada de trabalho para os
professores e assim, represente uma tarefa difícil de ser cumprida, em vez de significar uma
melhoria da qualidade da educação básica.

Contudo, para constatarmos se as escolas públicas que atualmente cumprem


um horário integral estariam também desenvolvendo um ensino integral, ou seja, um ensino

27
que oportunize o aprendizado e o desenvolvimento total dos estudantes seria necessário um
estudo mais complexo que verificasse a realidade dessas escolas, pesquisando e avaliando os
resultados obtidos, o que não é o objetivo desse trabalho.

28
CAPÍTULO III: O ESTUDO DE UMA INSTITUIÇÃO QUE DESENVOLVE UM
TRABALHO COM EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

3.1 HISTÓRICO E SURGIMENTO DA INSTITUIÇÃO

O PROGEN – “PROJETO GENTE NOVA” - nasceu em julho de 1984, completando,


portanto, trinta anos de existência e de trabalho ininterrupto. Atualmente existem três
unidades do PROGEN, situados nos bairros, Vila Castelo Branco, Jardim Satélite Íris e
Jardim Bassoli, sendo que a primeira, iniciada em 1984, foi a unidade da Vila Castelo Branco,
na qual foi realizado o presente trabalho de pesquisa e observação.

De acordo com os documentos da instituição, o PROGEN nasceu da iniciativa das


Irmãs Salesianas que, a partir do pedido de um menino, “por um pedaço de pão duro”
sentiram necessidade de acolher as crianças que procuravam auxílio. Porém, o número de
crianças acolhidas era permanentemente crescente e assim, o espaço do quintal da casa das
Irmãs Salesianas não era mais suficiente.

Em um salão cedido pela comunidade do Jardim Garcia e com o auxílio dos jovens da
comunidade que organizavam atividades e brincadeiras com as crianças, ajudando-as na
construção de um futuro melhor, além de oferecer-lhes “o pão”, surgiu o nome PROGEN –
“PROJETO GENTE NOVA”, com uma proposta voltada para “ações de prevenção às
crianças e adolescentes que se encontravam em situação de vulnerabilidade social” (Projeto:
Mudando a rotina para exercer a cidadania, p.03).

O PROGEN mantém trabalhos com crianças e adolescentes e também com os idosos,


constituindo um importante referencial para os moradores do bairro Vila Castelo Branco e
para os bairros vizinhos.

Atualmente são atendidos, cerca de quatrocentos e oitenta educandos, em dois


períodos, manhã e tarde.

A equipe pedagógica, da unidade da Vila Castelo Branco, é constituída por um


coordenador (pedagogo) e doze educadores, com formações variadas, tais como, pedagogia,

29
educação física, jornalismo, artes, artes circenses, etc. que atuam diretamente com as crianças
e adolescentes.

A ONG PROGEN que “teve sua origem na concepção de um sonho em que todos
tenham direito à cidadania” (CONEXÃO CIDADÃ 2014, p.03) representa um exemplo de
instituição onde ocorrem processos de educação não formal através de seus trabalhos
desenvolvidos com crianças e adolescentes, principalmente, aqueles que se encontram em
situação de vulnerabilidade social, mostrando-se assim, adequada para ser pesquisada para
esse trabalho.

30
3.2 O TRABALHO DESENVOLVIDO NA INSTITUIÇÃO

O objetivo geral do trabalho desenvolvido no PROGEN é formar para a cidadania, ou


seja, “conscientizar e vivenciar o sentido pleno da cidadania” (Projeto: mudando a rotina para
exercer a cidadania, p.04).

O trabalho realizado no PROGEN está baseado metodologicamente na educação não


formal, com propostas de práticas educativas que sejam significativas para os participantes,
através do reconhecimento das necessidades da comunidade atendida. Para tanto, as
atividades são planejadas para que sejam oferecidas diversas formas de expressão e
linguagem, tais como, rodas de reflexão e oficinas variadas, como por exemplo: circo,
capoeira, informática, artes, teatro, esporte, etc.

As crianças e os adolescentes participam das atividades em horários estabelecidos no


ato de suas matrículas, compreendido entre às 8 horas até 17horas e 30minutos, de acordo
com o horário em que estudam, pois, o atendimento acontece no contraturno escolar. A
sequência das atividades obedece a um cronograma que prevê horários destinados às
refeições, as quais são fornecidas pela própria instituição.

Os momentos das rodas de reflexão são muito importantes para o desenvolvimento do


trabalho na instituição, pois, objetivam a participação das crianças e dos adolescentes; a
discussão de regras de convivência, a escuta e o acolhimento das demandas dos educandos.

Os educandos são recebidos e acolhidos para participarem de atividades que


promovam o desenvolvimento das noções de cidadania, de convivência social, de princípios
básicos de respeito ao próximo e a si mesmo, com a intenção de elevar a auto – estima dos
participantes e incentivá-los a serem cidadãos conscientes e atuantes.

A instituição oferece almoço e lanche, fornecendo assim, uma alimentação suficiente


para garantir as condições de permanência e de aprendizagem dos seus educandos.

31
3.3 AS FUNÇÕES E O PERFIL DO EDUCADOR ATUANTE NO PROGEN

No Progen, os educadores assumem várias funções que fazem parte da rotina de


trabalho visando o cumprimento do objetivo geral da instituição que, de acordo com as
autoras Margareth B. Park e Renata S. Fernandes que participaram da elaboração do
Regimento Interno do Progen, é o seguinte:

Formar para a cidadania. Propiciar às crianças e adolescentes


condições para o desenvolvimento de uma cidadania consciente e
atuante, por meio da descoberta e da interiorização de valores éticos,
morais e cívicos, como valorização da vida, participação ativa,
diálogo, respeito mútuo, cooperação, partilha, senso crítico perante a
realidade cotidiana (PARK & FERNANDES, 2005, p.114).

Dentre as diversas funções atribuídas aos educadores que constam no Regimento


Interno do Progen e que foram descritas em PARK & FERNANDES (2005, p.126-127),
destacam-se:

. Programar atividades educativas ̸ recreativas de acordo com o planejamento;

. Receber a criança ̸ adolescente no portão;

. Acolher a criança ̸ adolescente nas suas necessidades, promovendo-lhe, por meio de uma
visão positiva dos fatos, opções de escolha para a resolução de problemas;

. Despertar na criança ̸ adolescente a consciência da importância de saber ouvir, falar na hora


certa e em tom adequado;

. Estimular a criança ̸ adolescente a sempre participar;

. Priorizar sempre a consciência da solidariedade e do trabalho em grupo;

. Respeitar e procurar entender a criança ̸ adolescente como sujeito de sua história e de sua
comunidade;

. Procurar conhecer a realidade da criança ̸ adolescente e a situação da comunidade em que


vive;

. Respeitar os conhecimentos, habilidades e capacidades do educando no planejamento das


ações educativas;
32
. Planejar e coordenar a roda de reflexão, incentivando a participação do educando através de
músicas, brincadeiras, momentos de reflexão, estórias etc.;

. Organizar previamente o ambiente e o material pedagógico a ser utilizado na oficina;

. Lidar com os conflitos envolvendo educando, sempre de acordo com as regras elaboradas no
início do ano;

. Avaliar bem e planejar estratégias de ação, sempre que necessário, no que se refere às
questões envolvendo a criança ̸ adolescente;

. Participar de capacitação e reciclagem programadas.

As funções dos educadores, citadas acima, colaboram para um dimensionamento do


trabalho realizado diariamente na instituição, fornecendo-nos uma ideia da rotina do trabalho
cotidiano do educador.

Analisando as funções que foram descritas, podemos perceber que o desenvolvimento


do trabalho do educador é complexo e demanda muita disposição, dedicação, flexibilidade,
amor e preparo, ou seja, exige um profissional que apresente um perfil adequado ao bom
desempenho de suas funções.

O perfil de um educador para atuar no Progen também está descrito na mesma obra de
Margareth B. Park e Renata S. Fernandes (p.140). Segundo estas autoras, o educador é aquele
que:

1. Acolhe o educando e o ajuda a descobrir e desenvolver seus valores;

2. Participa e faz o educando participar e gostar das atividades educativas;

3. Incentiva o educando a envolver-se e não o castiga;

4. Sabe escutar e ouvir a realidade do educando antes de falar (ele não é o dono do
saber);

5. Respeita o educando nos seus limites e o ajuda a superá-los;

6. Coloca-se lado a lado com o educando e, junto com ele, faz o caminho da descoberta,
dando-lhe estímulo;

7. É presença de carinho, amizade e amor (está presente);

33
8. Acredita no seu trabalho e o desenvolve com amor; é coerente, pois dele dependem a
vida e o futuro das crianças e dos adolescentes;

9. Está de bem com a vida, para poder transmitir a esperança de um mundo melhor e
possível;

10. Coloca os limites necessários, mas com afeto (ensina limites);

11. Ajuda a resgatar a cidadania das crianças e adolescentes.

As descrições das funções e do perfil dos educadores feitas pelas autoras Park &
Fernandes, aliadas aos apontamentos das características e perfil elaboradas por outras autoras
em outras obras, tais como, Maria da Glória Gohn e Olga Rodrigues de Moraes von Simson,
já citadas no início do trabalho, orientaram as observações realizadas no Progen, com a
finalidade de conhecer como se dá, na prática, o trabalho de um educador visando constatar se
o que nos informa a literatura especializada, realmente, acontece na realidade da instituição
pesquisada.

34
3.4 A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

Com a finalidade de melhor compreender o trabalho que é desenvolvido no PROGEN,


com crianças e adolescentes, foi realizada uma observação participante, durante seis meses,
no período das 11h. 30min. às 17h. 30 min., às terças-feiras.

As observações e as participações nas atividades possibilitaram o acompanhamento do


trabalho dos educadores, contribuindo para uma melhor compreensão da rotina, da
organização e do perfil de um educador.

A participação semanal nas reuniões entre a equipe de educadores e a coordenação


pedagógica foi muito importante para a percepção da organização diária, através da discussão
do desenvolvimento do trabalho ocorrido no período da manhã e a confirmação do planejado
para a tarde ou, quando necessário, os devidos ajustes e correções, ou seja, alterar o que foi
planejado e desenvolvido no período da manhã e que não tenha sido bem aceito pelos
educandos ou, alterar e ̸ ou agregar mudanças sugeridas pelos próprios educandos para as
atividades do período da tarde.

Durante o período de permanência no PROGEN participei também nas rodas de


reflexão, nas oficinas, como colaboradora e, em algumas, como educadora. As observações
durante as oficinas visavam o acompanhamento da atuação dos educadores. Durante o período
em que realizei as observações, convivi com apenas nove dos educadores que compõem a
equipe.

No período da tarde a presença dos educandos é bem maior do que no período da


manhã. Às 13 horas, os educandos do período da tarde começam a chegar e são recebidos e
acolhidos pelos educadores designados para essas funções. Os educadores que ficam na
entrada e no acolhimento, revezam-se diariamente, de forma que, todos os educadores
exerçam essa função. Outra função que é também exercida, seguindo uma escala de
revezamento, é o acompanhamento das refeições, almoço e lanche, durante os quais, os
educadores são responsáveis por servir os alimentos e limpar o refeitório, com a ajuda dos
educandos.

Às 13h. 30 min., inicia-se a roda de reflexão, normalmente, separadas por idades, com
grupos compostos por educandos de 6 e 7 anos de idade; de 8 à 10 anos e, de 11à 13 anos. A

35
duração da roda é de aproximadamente 30 minutos, mas, não é rigidamente fixada, pois,
depende da participação e da intervenção dos educandos pertencentes a cada grupo.

As oficinas que se iniciam às 14h., aproximadamente, terminam por volta das 15h. 15
min., para que os educadores possam receber a grande parte dos educandos, do período da
tarde, que chegam às 15 h. 30 min.

Essa diversidade de horários, no período da tarde, é devido ao fato de que, parte


significativa dos educandos que frequentam o PROGEN são estudantes de uma escola
municipal que implantou, em 2014, o horário integral, que se inicia às 7 h., encerrando-se às
15 h. 15 min.

A mudança de horário da escola acarretou modificações na organização do trabalho do


PROGEN, necessitando até que os educadores assumissem mais uma função que não fazia
parte de suas atribuições como educadores, ou seja, conduzirem os educandos da escola de
tempo integral para o PROGEN.

O novo horário de saída da escola, implicou, portanto, na alteração dos horários da


ONG, uma vez que esses educandos não possuem um horário maior de contraturno escolar.

Nesse contexto, torna-se evidente que os educadores precisam estar mais bem
preparados para trabalharem segundo uma nova organização, a qual sinaliza também para
uma formação adequada e condizente com as necessidades presentes. O desenvolvimento do
trabalho nas oficinas, diante dessa nova realidade, clama pela escolha de atividades que
considerem o tempo e a realidade que os educandos estão vivendo na escola de tempo
integral. Para tanto, quanto mais os educadores conhecerem e entenderem a organização dos
tempos e dos espaços escolares de tempo integral, mais preparados eles poderão estar para
atuar no campo da educação não-formal, compreendendo as necessidades dos seus educandos,
que atualmente, permanecem por mais de sete horas dentro de uma escola formal.

Durante o tempo de observação no PROGEN também foi possível comprovar que as


características dos educadores, que a literatura especializada aponta, são necessárias e
presentes no cotidiano observado.

Algumas das obras já citadas nesse trabalho sinalizaram sobre as características


desejáveis e o perfil dos educadores da educação não formal. Simson, Park & Fernandes
(2007) discutiram sobre o perfil dos educadores não formais, obtido através de pesquisas que

36
demonstraram que entre os educadores predomina a formação acadêmica, a qual possibilita
que esses educadores possam melhor desenvolver o seu “trabalho educativo e pedagógico”
(SIMSON,PARK & FERNANDES, 2007).

Em Gohn (2007), encontramos a descrição das características desejáveis de um


educador do campo não formal, evidenciando que esse educador seja sensível para captar e
compreender a cultura e as características exclusivas do grupo, do local e de cada um dos
participantes. Gohn (2007) ainda enfatiza que para uma atuação “crítica e transformadora”, a
formação de um educador não formal deve ser adequada ao seu campo de trabalho para que
ele possa articular a prática com os conhecimentos, refletindo para compreender a sua própria
prática, utilizando-se de metodologias, técnicas de didática e de organização do trabalho
educacional (GOHN, 2007).

Analisando o que foi descrito por autores especializados e comparando com as


observações do trabalho dos educadores do PROGEN, foi possível constatar que os
educadores dessa instituição, em sua maioria, possuem o perfil, as características e a formação
que os teóricos apontam como desejáveis, assim como, se adéquam às funções e aos perfis
descritos por PARK & FERNANDES (2005).

Durante as observações e participações conjuntas com os educadores ficou evidente


que aqueles que possuem formação acadêmica são capazes de uma atuação mais eficaz, com
uma visão mais crítica e compreensiva do universo sociocultural e econômico dos educandos.

Os educadores com formação acadêmica, em Pedagogia, demonstraram maior


compreensão das necessidades dos educandos ̸ estudantes da escola de tempo integral,
preocupando-se em proporcionar-lhes oportunidades de uma vivência que tenha sentido para
eles. Além disso, esses educadores têm mais disposição para enfrentar desafios e estão mais
abertos para formar parcerias de trabalho.

Dessa forma, a observação participante evidenciou que a educação não formal é um


campo de atuação importante para o pedagogo e que esse campo precisa cada vez mais ser
ocupado por profissionais com formação universitária, principalmente, nos tempos atuais em
que a implantação gradual das escolas de tempo integral já é uma realidade.

As observações realizadas no PROGEN levaram à percepção de possibilidades de


construção de propostas pedagógicas que permitam a integração entre a educação não formal
e a educação integral. Esta integração se torna possível através da articulação da escola com

37
espaços de aprendizagem, como o PROGEN, por exemplo, compartilhando projetos e
programas que visem aspectos históricos, culturais e sociais, integradores da escola com a
comunidade local.

Como se pode perceber, com a leitura dos documentos oficiais, a política atual de
ampliação da jornada escolar, incentiva o uso de espaços externos à escola com a finalidade
de cumprimento da extensão da jornada escolar. Com essas medidas, o trabalho em espaços
de educação não formal, dialoga ainda mais com os espaços escolares, evidenciando a sua
importância na formação integral do ser humano.

A aproximação da educação não formal com a educação integral pode se tornar mais
produtiva e eficiente se os professores e os educadores conhecerem, cada vez mais, e, em
maior profundidade, a organização do trabalho pedagógico, uns dos outros.

O planejamento escolar, contemplando a participação da comunidade, como preceito


da gestão democrática, descrita na LDB, poderia ser um momento em que escola e
organizações não governamentais discutissem e produzissem propostas conjuntas,
estabelecendo as reais necessidades e demandas dos educandos e como responder a elas.

Na integração da escola com espaços de educação não formal, a mediação do


pedagogo parece ser a mais indicada, uma vez que, esse profissional estaria mais preparado,
pois, a Pedagogia estuda sistematicamente a educação e isso compreende o conhecimento dos
atos e das práticas educativas, os quais, não se limitam aos espaços e atividades escolares,
mas, acontecem em todos os processos sociais.

38
3.5 AS ENTREVISTAS REALIZADAS COM EDUCADORES DO PROGEN

Para a elaboração desse trabalho foram realizadas algumas entrevistas com educadores
da instituição pesquisada, o PROGEN.

A intenção de realizar as entrevistas foi devida ao interesse de comprovar as ideias que


os educadores formaram a respeito do significado de educação não formal e de educação de
tempo integral, assim como, conhecer melhor o que os educadores pensam do seu trabalho
cotidiano na ONG e principalmente, ouvir o que pensam sobre as características apresentadas
pelos educadores para desenvolverem um trabalho mais produtivo e eficaz na educação não
formal.

Durante a observação participante foi possível perceber quais seriam as concepções


dos educadores em relação à educação não formal, à educação de tempo integral, captar o que
os educadores pensam sobre o trabalho cotidiano da ONG e, especialmente, qual seria o perfil
ideal de um educador social ou não formal. Dessa forma, as entrevistas procuraram confirmar,
ou não, as percepções absorvidas durante a observação participante.

Os educadores foram convidados para as entrevistas, mas, somente quatro dentre os


nove educadores com quem convivi, aceitaram conceder a entrevista. Dentre os quatro
entrevistados, três deles (75%) possuem nível universitário já concluído ou em fase de
conclusão, comprovando a análise feita por autores especializados em estudos sobre a
educação não formal que afirmaram que há a predominância da formação acadêmica entre os
educadores.

Outro dado importante obtido através das entrevistas foi o da importância que os
educadores atribuíram aos cursos de formação e ̸ ou especialização para um bom
desenvolvimento dos seus trabalhos na educação não formal.

Entre os quatro educadores entrevistados, dois deles (50%), estão concluindo o curso
de Pedagogia. Estes educadores apontaram que o curso de Pedagogia contribui muito para que
o trabalho deles seja mais organizado, melhor planejado e, principalmente, mais reflexivo e
atuante.

Os educadores entrevistados indicaram características as quais eles acreditam que um


educador deveria apresentar para o bom desempenho de suas funções. Entre as características

39
já descritas na literatura especializada, apareceram nas respostas dos educadores, a
sensibilidade para captar as necessidades dos educandos e para compreender a cultura local e
as peculiaridades dos participantes e dos grupos com que eles irão trabalhar. Também,
destacaram-se, nas respostas, a necessidade de dedicação e de amor para enfrentar os
problemas e contribuir para a formação dos seus educandos.

Os entrevistados demonstraram que as suas concepções de educação não formal se


dirigem para a compreensão de que esse tipo de educação é bem diferenciado do modelo
escolar e que ela respeita os desejos e as necessidades reais dos educandos. Eles apresentaram
ideias de que a educação não formal deveria acompanhar a formal e vice-versa, interligando-
se, trabalhando em parceria para a educação e a formação dos educandos, transformando-os
em cidadãos conscientes e críticos, cientes de seus deveres e de seus direitos.

Nas entrevistas, os educadores revelaram suas opiniões sobre a educação de tempo


integral. Eles acreditam que o projeto idealizado pelo governo aparenta uma boa intenção,
mas, na prática não está acontecendo de forma eficiente e nem cumprindo o que foi projetado.
A visão desses educadores baseia-se na experiência que eles estão vivenciando com uma
escola de tempo integral onde estudam grande parte dos educandos que frequentam o
PROGEN.

Os educadores expuseram suas expectativas em relação ao desenvolvimento de um


trabalho integrado entre a ONG, a escola de tempo integral e a comunidade local, e que
poderia ser muito produtivo e interativo se contasse com a participação e o envolvimento
efetivo das partes. Para os educadores, aproveitar o espaço físico da escola e as experiências
da ONG, com educação não formal, para desenvolverem trabalhos conjuntos, incluindo a
comunidade local, poderia ser exemplos de propostas integradas capazes de promoverem
oportunidades de aprendizado integral para os educandos.

Enfim, os educadores expuseram, nas entrevistas, o que eles acreditam e esperam da


educação não formal, confirmando que a atuação de um profissional capacitado para entender
e refletir sobre os contextos educacionais e também, ser capaz de compreender as realidades
socioeconômicas e culturais do grupo com que ele vai trabalhar seria o mais indicado para o
trabalho na educação não formal.

Além dos quatro educadores, foi possível entrevistar uma pesquisadora que está
desenvolvendo o seu trabalho no PROGEN. Esta pesquisadora participa semanalmente de

40
atividades com as crianças e os adolescentes e também, com o grupo de idosos que
frequentam a instituição. A intenção da pesquisadora é desenvolver trabalhos na área da arte
educação entre as gerações.

Em relação ao trabalho da pesquisadora, com as crianças e adolescentes, a proposta é


desenvolver trabalhos que não são possíveis nos ambientes escolares, devido à organização
escolar ser muito fechada e não permitir uma abertura à participação de profissionais da
educação não formal e muitas vezes, não cedendo espaço para os seus próprios professores
desenvolverem atividades que não fazem parte do currículo proposto na educação escolar
formal.

Na opinião da pesquisadora, os educadores não formais necessitam de cursos de


formação e de capacitação para exercerem a função de educadores. Ela também acredita que
os educadores com formações acadêmicas são mais abertos e receptivos para o exercício
profissional, aceitando parcerias que beneficiem um trabalho mais produtivo e reflexivo. A
pesquisadora, que também está acompanhando a nova realidade da educação de tempo
integral, acredita que a forma com que ela vem sendo implantada não está beneficiando
nenhum dos atores desse processo. Na opinião da pesquisadora ainda seriam necessárias
muitas discussões e adaptações para que esse tipo de escola funcione em benefício de uma
educação de qualidade para os estudantes.

A participação da pesquisadora foi muito importante para esse trabalho, pois,


contribuiu para a conclusão de que a elaboração de propostas pedagógicas que integrem a
escola, a ONG e a comunidade ainda não são possíveis com esses moldes escolares presentes
ainda em nossa realidade.

41
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve a intenção de observar um espaço de educação não formal


com a finalidade de acompanhar o trabalho dos educadores para comparar o trabalho exercido
com o descrito na literatura especializada.

Durante a realização da observação participante, das entrevistas e do acompanhamento


do trabalho dos educadores, obtivemos um melhor entendimento da importância da educação
não formal para a formação de um futuro cidadão que se espera que seja crítico e atuante na
sociedade, capaz de compreender seus direitos e seus deveres.

Com a finalidade, principal, de analisar a educação não formal como campo de


atuação para o pedagogo, a observação participante visou acompanhar o trabalho dos
educadores, observando as atuações nas oficinas e nas rodas. Nessas ocasiões a observação
concentrou-se na identificação das características desejáveis nos educadores, de acordo com a
literatura especializada em educação não formal.

Considerando as características e o perfil descrito por autores, como Simson, Park &
Fernandes (2007) e Gohn (2007), os educadores da instituição pesquisada, em sua maioria,
possuem nível superior completo ou em fase de conclusão. Os educadores demonstraram
conhecer muito da realidade de vida dos seus educandos, inclusive, conhecendo os problemas
familiares e as situações socioeconômicas e culturais de cada um deles, respeitando seus
limites, ouvindo e cooperando no desenvolvimento de valores, sempre com muito carinho e
atenção. Essas características são apontadas pelas autoras citadas acima, como recomendadas
e desejáveis para os educadores, o que permite a conclusão que a teoria descrita na literatura
pode ser encontrada na realidade cotidiana de um espaço de educação não formal.

As observações realizadas no PROGEN demandaram a leitura de documentos e


autores que discutem a educação integral, uma vez que, na atualidade existe uma política
pública para a implantação gradativa da escola de tempo integral, realidade vivida por grande
parte dos educandos da instituição. E, entendendo melhor a intencionalidade dessa política
pública, foi possível perceber a importância do trabalho da educação não formal integrado
com a escola de tempo integral. Nessa integração destaca-se o pedagogo como o profissional
capacitado para dialogar e mediar, justamente, por ser o profissional que melhor
compreenderia os processos educativos que ocorrem dentro e fora da escola.

42
O pedagogo, portanto, parece ser o mais indicado para elaborar propostas educacionais
que articulem as aprendizagens e os saberes, contextualizando-os e dando-lhes sentidos, tanto
para os educandos quanto para os educadores. Esse profissional que, por estar preparado para
compreender a natureza e a validade dos contextos sociais, em todos os seus aspectos e as
suas relações com as práticas educativas, escolares e não escolares e que, por entender a
importância de sua atuação para operar transformações na vida de seus educandos, estaria,
portanto, capacitado para valorizar e evidenciar as competências e as habilidades através da
articulação dos diversos saberes, propiciando uma aprendizagem dialógica, que impulsione e
incentive os educandos a participarem ativamente do processo de aprendizagem.

Ao analisar um espaço de educação não formal, relacionando-o à literatura


especializada e, buscando compreender a política pública atual de implantação da escola de
tempo integral, foi possível concluir que a presença do pedagogo nos espaços não formais
deveria ser mais numerosa, uma vez que a sua atuação profissional nesse campo educacional é
muito profícua, pois ele é capaz de elaborar propostas pedagógicas que promovam a
aprendizagem como prática dirigida às necessidades educacionais dos estudantes, diminuindo
a distância existente entre o concreto e o abstrato, ainda tão presentes nos conteúdos
curriculares.

43
BIBLIOGRAFIA

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58.

46
ANEXOS

Anexo 01:

Entrevistas realizadas na ONG, PROGEN.

Entrevista 01:

P: Hoje dia 21, entrevista com a S...

P: Eu gostaria de saber qual é a sua formação?

R: A minha formação é Licenciatura em Artes Plásticas, Mestrado em Artes Visuais e


Doutorado em Educação. Eu tenho uma especialização em Expressões Criativas e uma
especialização em Arte e Tecnologia.

P: Como que você escolheu a Educação não formal?

R; Através da profa. Olga. Eu precisada desenvolver um trabalho diferente do qual eu já fiz,


até hoje. E as instituições formais, as quais eu sempre trabalhei, tanto no Ensino Superior,
quanto no Ensino Médio, quanto no Fundamental e Básico, eu sentia um certo tolhimento por
causa da sistematização curricular, espaços internos. Então, eu precisava desenvolver um
trabalho com as crianças no qual eu pudesse testar possibilidades que eu não estava
encontrando espaços no ensino formal. E aí a profa. Olga, que na época era coordenadora do
CMU me apresentou uma possibilidade de desenvolver um projeto piloto no Distrito de Barão
Geraldo e aí, nesse Distrito, eu conheci a instituição “Vivendo e Aprendendo”. Fiquei dois
meses e testei as possibilidades de desenvolver o trabalho, no Doutorado. E foi isso que eu
fiz.

P: O que você entende... a sua concepção de educação não formal?

R: A educação não formal é um espaço educativo e assistencial, que possibilita o


desenvolvimento de ações tanto no âmbito local, quanto no global. No sentido de

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enriquecimento do repertório cultural da comunidade, no sentido de desenvolvimento desse
próprio repertório de disseminação também. Então, ela combina a sua atuação com a
educação formal. A melhor opção dessa modalidade não formal é quando existe essa
integração das duas modalidades, que possam conversar e se aprimorar dentro do campo.

P: E no que consiste o seu trabalho aqui no PROGEN?

O trabalho no PROGEN é uma experiência única, porque através da arte educação eu tenho
testado possibilidades de gerar encontros intergeracionais pela arte. Com as crianças, com as
pessoas adultas, jovens e idosos, (eles) têm se conhecido melhor através de trabalhos artísticos
em produção de coautoria. Então, isso para mim é uma coisa muito nova e, que está dando
(sic) muito certo e que eu pretendo desenvolver e publicar, também.

P: E qual é a sua relação com os educadores do PROGEN?

R: É a mesma que eu tinha quando trabalhava na instituição não formal. Relação profissional,
amigável, mas com problemas. Como qualquer outra instituição oferece limitações, que nós
temos que conviver com a diversidade. Não é? Tanto de culturas, quanto de opiniões,
formações. Então, nós estamos aqui justamente para aprender a realizar essa convivência.

P: E durante o tempo que você tem convivido com educadores, você poderia elencar algumas
características ou descrever um perfil do que você considera que um educador deveria
apresentar?

R: Um perfil ideal para um educador em qualquer seguimento, tanto formal como não formal
é um perfil de aberto, de possibilidade e a valorização do inacabado. Porque, como educador,
você aprende o tempo todo e quando você se fecha a esse tipo de postura, você deixa de
crescer profissionalmente. Então, eu acho que tanto quanto crianças, como idosos, eles têm a
ensinar muito. Mesmo porque são culturas diferentes que você está adentrando, e isso te traz
muita experiência para lidar com todo o tipo de público e, assim, resultados cada vez mais
ricos.

P: E, em relação à formação dos educadores? Você tem alguma opinião formada sobre qual
seria uma formação, que favoreceria o trabalho de um educador?

48
R: O PROGEN realiza reuniões mensais de formação de educadores. Isso eu acho
fundamental. Esses espaços têm que ter, tem que acontecer em qualquer seguimento, tanto
para a troca de experiências, quanto para ampliar esses conhecimentos, né?(sic) Tanto no
campo da Pedagogia, como nas outras áreas. Então, é fundamental que se aumente esse tipo
de interferência, trazendo palestrantes, trazendo cursos, minicursos, workshops, oficinas e,
possibilidades de aberturas para estágios. Porque, o estágio traduz, para o campo teórico,
todos os problemas, dificuldades e complexidades que acontecem na prática. Então, o
PROGEN possibilita isso também, eu acho importante, no aspecto formativo, porque essas
produções intelectuais que vão ser (sic) realizadas, a partir do estágio vão elucidar muitas
dificuldades que os educadores encontram, atualmente.

P: E, em relação a uma formação acadêmica, você acha que seria recomendável que os
educadores possuíssem?

R: Sim, acho que isso aí é um ponto de partida para todo educador, em qualquer instituição.
Tem que se preocupar e tem que fazer essa troca de conhecimento erudito, com o
conhecimento do saber prático. Então, nem um nem outro são completos e autônomos,
sozinhos. Eles precisam estar combinados. Então, é fundamental que cada um busque dentro
de sua área a formação teórica que possa levar a sua experiência o seu saber prático para as
suas instituições.

P: E, acompanhando o trabalho do PROGEN, em relação ao trabalho com crianças e


adolescentes, principalmente os que oriundo da escola, agora de tempo integral. Você tem
alguma opinião sobre o trabalho que está sendo desenvolvido ou que deveria ser
desenvolvido?

R: Bom, a experiência é muito recente. Na verdade é uma coisa que está acontecendo sem
ainda ter tempo ainda para análise, sem ainda ter tempo para sugerir, para sugestão de ações,
mas tinha que acontecer, porque é assim que se configurou a realidade. Então, no momento, a
experiência está sendo não muito produtiva, nem para criança, nem para o educador, nem para
o espaço, porque todos ainda estão buscando soluções para a sua prática, organização de
tempos e espaços e, além de tudo, conciliar tudo isso com a família. Porque nós estamos,
ainda, numa situação emergencial.

P: Então, você não indicaria uma ação, uma proposta de trabalho conjunto entre a escola e a
organização não formal e a comunidade?

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R: Ainda não. Nesse aspecto do integral, nós precisamos estudar fórmulas de atuação, porque
nós temos outros entraves, que é (sic) os horários dos educadores de entrada e saída, os
horários das mães virem buscar as crianças, que são variados, as necessidades da criança, as
rodas de conversa, a alimentação, o horário de alimentação tem que ser preservado. Então,
tudo isso precisa ser melhor observado, analisado para que a gente possa inferir sugestões.
Porque, lógico, que nós nos propomos a um trabalho pedagógico de primeira, que possa
atender às necessidades da criança, só que nós temos que contar com a realidade, com as
nossas condições reais, e não ideais, somente. Então, para isso a gente precisa de um pouco
mais de tempo, de ter reuniões, para que todos possam expor seu ponto de vista.

P: Perfeito, então. Muito obrigada!

R: De nada!

Entrevista 02:

P: Hoje dia 27 de outubro de 2014. Estamos aqui com o educador C..., que vai nos dar uma
entrevista. Bom dia! Eu gostaria de saber há quanto tempo você trabalha com educação não
formal?

R: Total de tempo aqui da ONG. Da ONG, vai fazer três anos, agora fora da ONG como
professor de capoeira dando aula na periferia, com educação formal, já vão fazer em torno de
dez anos.

P: Durante esses dez anos, no início, como é que você se decidiu pela educação não formal?

R: É, bom, porque eu senti na pele a carência, de ter pessoas que desenvolvessem atividades,
tanto no bairro ou fora do bairro para as crianças, mesmo, dali, em torno, ou da periferia. Por
sentir isso eu resolvi por me envolver dessa forma, dessa ajuda, não digo ajuda, digo trabalhar
com educação não formal. Então, para mim, foi um fator que me motivou muito.

P: E qual que é o seu nível de escolarização?

R: Então, hoje eu tenho nível médio, né, eu tenho nível médio.

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P: E você tem alguma formação específica para atuar na educação não formal?

R: Eu tenho os cursos que o PROGEN me forneceu, né. São cursos que eu fiz aqui dentro do
PROGEN, né.

P: Cursos de formação?

R: Cursos de formação dentro do PROGEN.

P: Promovido pela própria instituição, para preparar melhor e dar as diretrizes da instituição?

R: Sim, para trabalhar com educação não formal.

P: E qual que (sic) é a sua concepção de educação não formal?

R: Então, tudo aquilo que foge de dentro de uma sala de aula, de uma é... daquele quadrado
que nós imaginamos né, tem que sentar, tem que ouvir o professor, tem que prestar atenção,
tem que seguir o que está escrito dentro do livro, né. A educação não formal é bem maleável,
você consegue ensinar e ao mesmo tempo aprender. Você consegue passar sua vivência, que
nem (sic) na minha área, eu sou professor de capoeira, eu tive vivências com mestres mais
velhos, com mestres que são doutores, que são é... que já viajaram o mundo inteiro,
conheceram outros países, outras culturas, né. Então, eu consegui absorver esse
conhecimento. E o que eu faço? Eu reproduzo o que eles me ensinaram, eu começo a passar
isso para os meus alunos, dentro da ONG, esse conhecimento que me foi dado, né. Então, eu
procuro fazer dessa forma.

P: E como que você poderia descrever sua rotina de trabalho aqui no PROGEN, como
educador?

R: Tá. É uma rotina... ela é bastante instável, né. Todo o dia chegamos aqui e tem a roda de
conversa, tem café da manhã que é servido para os educandos. Mas, eu digo, é que ela é
instável no seguinte contexto: ao chegar, nos deparamos, muitas vezes, com os educandos,
com seus problemas cotidianos. Então, nunca é o mesmo educando. Sempre é um educando
diferente e você... dentro da educação não formal, você tem que criar métodos para ajudar
esse educando. Então, não tem uma regra, olha, você fazendo dessa forma, você vai ajudar
aquela pessoa. Não, porque sempre são pessoas diferentes, com cabeças diferentes, de
famílias diferentes e, que pensam diferente. Então, você tem que se adequar àquela pessoa
para poder ajudá-la.

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P: E, com a sua experiência em educação não formal, e dessa pequena experiência com a
educação integral, você arriscaria dizer uma proposta de trabalho conjunto, com a escola, a
organização não formal, aqui o PROGEN, e a sociedade, a comunidade aqui?

R: Então, por participar de educação não formal, é, esse período integral, no primeiro lugar
deveria pensar nessa estrutura, de costurar esses acordos com a sociedade, com a ONG, que
está próxima, até como parceiros mesmo. Por exemplo, aqui tem a Rosa de Prata, a escola
poderia, né, fazer uma parceria com a Rosa de Prata. Tirar o aluno de dentro da escola, com
os professores, levar para a Rosa de Prata, conhecer como é feita a alegoria, conhecer a parte
musical da Rosa de Prata, conhecer a estrutura da Rosa de Prata. Também, uma parceria com
a ONG, os alunos poderiam vir fazer (sic) oficinas aqui na ONG. Fazer um acordo de parceira
com a ONG, mas um acordo direto, dentro do período de estudo, eles poderiam vir frequentar
a ONG. Esse seria um acordo muito interessante. Então...

P: Estaria ligando a proposta do governo de que outras instituições estivessem atuando e


colaborando com a organização do ensino formal. Então, seria um bom espaço, né, aqui, para
ser preenchido tanto para eles, quanto para os alunos.

E: É, porque como foi feito: sem estrutura nenhuma, sem nenhum diálogo com a sociedade do
entorno da escola, né, hoje é bem precária. Então, se fosse feito, essa seria uma educação que
nós desejamos e sonhamos, seria meio utópica, mas com certeza vai acontecer.

P: É, a busca pela qualidade né, do ensino.

R: (Aceno, com a cabeça, concordando).

Entrevista 03:

P: Eu queria saber qual é a sua formação?

R: A minha formação é em Pedagogia.

P: E há quanto tempo você trabalha com Educação Não Formal?

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R: Não Formal? Há oito meses.

P: E você começou primeiro na Educação não Formal ou primeiro na faculdade?

R: Primeiro na faculdade.

P: E lá na faculdade você já tinha noção de Educação não Formal, quando você veio?

R: Sim

P: E você veio interessada em trabalhar e conhecendo esse campo?

R: Sim.

P: Qual a sua rotina de trabalho?

R: Corrida. Não paro para nada. Não dá tempo para pensar, tem que ser assim oh! Pensar
rapidinho.

P: E as atividades que você desenvolve?

R: Eu acho, bem, assim bem recreativa, bem elaborada. Porque eu já trago um trabalho pronto
de casa. Que nem, eles falam que não pode fazer isso, fazer trabalho em casa, mas eu acabo
levando porque não dá tempo de fazer tudo aqui: planejar tudo, não tem tempo para isso, não
tenho tempo para isso. Então, eu já trago tudo pronto. Aí, assim, eu trago o planejamento
pronto e faço, aplico com eles. Que nem, eu dou bijuteria, artesanato, agora estou ajudando a
S... em arte em camiseta. Mas, eu tenho uma oficina de arte em camiseta, que é de quarta-
feira. Dou “Quem quer brinquedo?”, também faço brinquedos com as crianças.

P: E você participa de cursos de formação?

R: Sim.

P: Você acha que eles são importantes?

R: Sim, são. Porque dependendo do curso de formação tem coisas que você não traz para a
educação não formal, porque não tem nem cabimento. Umas coisas são assim, mais... são
importantes, sim.

P: E, qual a sua ideia, qual a sua concepção de educação não formal?

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R: De educação não formal? Eu acho que é mais, mesmo a forma de tratar as crianças, sem ter
muito aquela regra, sem ‘ter que fazer’. É assim, como nas escolas, eles já estão ali no dia a
dia. Então a educação não formal ajuda mais as crianças, ainda mais as carentes, a ter um
conceito de liberdade, de brincar, de carinho, então acho que é isso.

P: E, agora, nesse momento que está vivendo, aqui a organização, PROGEN, com a escola de
tempo integral? Você, assim, tem uma ideia do que seria a educação em tempo integral?

R: Para mim, isso daí é uma porcaria. Para mim é uma porcaria. Porque educação, período
integral... Você chega lá na escola, tem pessoas acham que eles ficam 24 horas, ali sentados
dentro da sala de aula, mas eles não ficam. Mas, eu acho que é perda de tempo, porque em vez
de eles estarem participando de ONGS, tendo os horários certinho nas ONGS, ter o horário
deles, livre, com outros amigos seria mais importante do que ficar preso num ambiente o dia
inteiro, ficar num local, que ali eles não terão um aprendizado, não vai ter aprendizado,
porque é uma maioria dos professores largam eles ali, brincando, e eles ficam lá, batendo
papo e não interage junto com as crianças. Então acho, para mim, não leva a nada. Só traz
mais violência, porque eles ficam muito tempo juntos, ali, aquela coisa... Eles vão brigar, vão
querer destruir. Para mim é isso. Eu vejo aqui na escola, quando a gente vai buscar eles, eles
estão lá tudo mundo querendo agredir o outro, desperdiçando água, chutando, jogando lixo. É
o que eles fazem. Porque eles criam uma certa revolta de ter que ficar das 7 às 3:15 na escola.
Cria uma certa revolta na criança. Eu acho que, para mim, não adiantou nada. Porque que
nem, quando eles vem para cá, nossa, querendo extravasar, brincar pular e a gente faz isso
junto com eles. Então, para eles, é mais importante estar aqui do que ficar o dia inteiro na
escola.

P: E, pensando nisso, que eles poderiam estar aqui ou num tempo livre, você teria alguma
proposta, que você acha que poderia integrar a escola de tempo integral com a ONG, aqui, o
PROGEN, e a comunidade?

R: Você fala, assim, integrar todo mundo junto?

P: Isso, um trabalho conjunto.

R: Sim poderia.

P: Assim, você teria umas ideias de como poderia ser um trabalho. Uma proposta de trabalho?

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R: Ah que nem, eu acho que a escola tem um espaço maior do que aqui, poderia estar abrindo
(sic) para nós irmos até lá, sabe, ficar brincando lá com eles, sabe, manter, aproveitar o espaço
que eles têm. Porque aqui a gente só esse corredor, tem a horta lá atrás que nem pode ficar
muito tempo lá, as crianças não podem ir lá sozinhas, Então, aqui o espaço é pequeno. Então
eu acho que lá a gente conseguiria expandir mais, porque o espaço é maior, vai ter (sic) mais
atividades que pode estar elaborando (sic).

P: E, você, sabe... descreveria para mim umas características do perfil que você acha que seria
desejável para um educador, social, para a educação não formal?

R: É porque na educação não formal tem educador e educador social. Tem uma certa
diferença, é, assim de salário, não de trabalho. A gente faz a mesma coisa. Mas, eu acho que
para ser educador você tem que aprender primeiro a se amar, para você amar o próximo. Você
tem que aprender a gostar daquilo que você faz. Não fazer só por dinheiro: ‘ aí eu tenho que
fazer, porque eu preciso do trabalho’. Eu acho que tem que ser uma coisa de coração, sabe?
Você tem que demonstrar carinho, amor, afetividade, sabe? Ter compaixão. Eu acho que é
isso. Sabe? Aprender a respeitar, se você não sabe respeitar a si mesmo, quanto mais, quanto
menos o outro. Então, eu acho que tem que ter isso: amor, respeito, carinho para ser um
educador, senão.

P: E, em relação assim aos cursos, à formação superior? Como você, que está fazendo
Pedagogia. Você acha que é importante que o educador tenha essa formação em nível
superior?

R: É... importante é. Depende da pessoa, do jeito que ela vai entender aquilo que o palestrante
está dizendo. Mas, eu acho importante, para mim, me ajudou muito, porque eu já trabalhei
numa escola particular, então, para mim, eu... hoje eu entendo muita coisa que realmente não
entendia, então, para mim...eu acho importante.

P: E você que já trabalhou em educação formal e agora na educação não formal. Você sente
as diferenças, são bem marcantes? Você acha que o trabalho que se pode desenvolver é muito
diferenciado?

R: É, porque na escola você tem um... Você já tem aquele planejamento da escola. Você tem
que assumir aquilo que a escola oferece, e a não formal, não. A não formal você interage da
maneira que as crianças querem, sabe? Da maneira que cada um demonstra, porque muitas
vezes em casa eles têm assim três tipos de mãe, eu vejo assim, três tipos de mãe. Tem aquela

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mãe que cuida, dá carinho, dá atenção. Tem aquela mãe que é mãe de ser mãe, mas quer tudo
certinho, corrige nas horas erradas, bate, xinga, fala palavrão. E, tem a mãe controladora, que
quer controlar, sabe, quer ser tudo perfeito casa limpa e fica ali controlando, o filho não pode
olhar para o lado que a mãe tá ali controlando. Então, eu acho que seria importante, eu acho
que o papel da educação não formal é importante, porque muitas vezes as crianças extravasam
aqui, entendeu? Elas, às vezes, que nem, na roda de conversa têm certos dias que você não
espera ouvir que aquela criança esta tão calada, fala com você, interage e, dentro de casa não
é assim, por causa disso. Que nem (sic) a gente tem um caso de uma criança que não
falava, não olhava para o lado. Hoje, não. Hoje você tem gritar ‘ô fia (sic) não faz isso!’. Mas,
é por aí. Eu acho que a educação não formal ajuda mais.

P: OK! Obrigada!

R: De nada!

Entrevista 04:

P: Hoje dia 30 de outubro. Estamos aqui com a educadora Y..., que vai nos dar uma
entrevista. Bom dia!

R: Bom dia!

P: Tudo bem?

R: Tudo bem.

P: Eu gostaria de saber há quanto tempo você trabalha com educação não formal?

R: Olha, eu trabalho com educação não formal, desde... desde o estágio que eu cursei
Educação Física. Então, eu acredito que desde 2010, há uns quatro anos.

P: E, aqui, no PROGEN, você está há quanto tempo?

R: Aqui no PROGEN, na verdade eu fiz estágio pelo programa da Prefeitura, há uns três anos
atrás, mais ou menos né, mas aí o programa acabou e eu tive que procurar outro lugar para

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fazer estágio. Aí no lugar que eu fiz estágio eu fui efetivada e aí depois de um tempo, depois
de 01 ano e meio eu saí desse outro lugar e aí eu vim participar de um processo seletivo no
PROGEN. E aí eu passei e voltei como educadora e estou agora como educadora social, aqui
no PROGEN há 01 ano, fez um ano agora no dia primeiro de outubro.

P: E qual a sua formação?

R: É eu sou licenciada e bacharelada em Educação Física e agora estou cursando Pedagogia


também.

P: E, essa... O curso de Pedagogia foi motivado pelo seu trabalho?

R: Sim porque, assim, a Educação Física, eu acredito muito assim na proposta de uma
atividade, de atividades corporais mais para o lado terapêutico, de descontração, de lazer e
querendo ou não a Educação Física, ela é um pouco mais focada para o lado do rendimento,
né. Por exemplo, em academia, na Educação Física escolar, que o professor joga a bola lá e
deixa o pessoalzinho brincar ou é o professor que exige que o salto saia perfeito e, essa não é
muito a minha área, né. Como eu atuo na área social e pedagógica, para potencializar as
minhas atividades corporais. Porque às vezes chegava uma criança, sei lá, que tinha sofrido
maus tratos ou alguma coisa e eu não sabia como exigir dela, como lidar, sabe? Porque às
vezes não está a fim (sic), não dá para forçar a barra e, com esse, a Pedagogia me traz as
ferramentas para eu entender os processos das crianças e vê como, como eu posso é... agilizar
as atividades, sem machucar ninguém, sem prejudicar ninguém, né, de uma maneira, assim,
bem lúdica e descontraída. É como é que eu posso ter um retorno, também, tem que fazer as
apresentações, porque eu não posso deixar, “hoje eu quero fazer”, “hoje eu não quero fazer”,
sabe, assim, saber colocar o limite para esse público que eu trabalho.

P: Então, na sua opinião (sic), você colocaria que o curso de Pedagogia, ele prepara a pessoa
para o campo não formal?

R: Não necessariamente. Assim, porque boa parte do curso de Pedagogia, a gente que já está
atuando na área, eu já faço, muitas coisas. A gente já planeja, a gente já escreve projetos, né,
então chega uma parte, assim que chega a ser bem marcante, bem cansativa. Mas, assim, eu
aproveito boa parte do curso, mas, assim, muita coisa que eu já faço, né. E, mas, fica mais
assim, o que eu sinto é que é muito focado nesse âmbito escolar, sabe? Alfabetização,
folhinhas de atividade, é leituras, e continhas de matemática. E, aí como que eu procuro casar,
para ficar mais, mais próximo. Eu penso em jogos educativos que utilizem o corpo, né. Por

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exemplo, de soma que tem que correr, sabe? Atividades que também não deixa de ter enfoque
pedagógico, mas que seja mais dinâmica, porque toda criança, ela vem com uma energia
acumulada que ela precisa gastar, seja correndo, porque ela não vai querer ficar sentada, é...
escutando alguma coisa que não chama a atenção dela. Então, eu penso que assim, um pouco
mais nessa proposta. O curso de Pedagogia não traz muito, muito, mas assim eu procuro pegar
um pouquinho da Educação Física e um pouquinho da Pedagogia e misturar, casar.

P: Qual que (sic) seria a sua definição de educação não formal?

R: Olha, para mim, educação não formal é, primeira coisa, que não seja na escola, que não
foque rendimento, que não tenha, assim, as exigências, que não seja padrão, sabe? E uma
coisa que possa ser construída, que a gente olha, na educação não formal, a gente consegue
olhar com mais cuidado, acolher. É aquele, aquilo... o nosso público alvo, mesmo, sabe, de
uma maneira diferenciada. Por exemplo, aqui na ONG a gente tem é... Assistente social, a
gente tem psicóloga, coisa que a escola pode até ter, mas que assim, não tem um cuidado. Por
exemplo, “hoje ele está diferente”, a gente não trata o grupo como um todo, a gente foca, às
vezes, no que está acontecendo. Alguma coisa em casa, a gente tem como trabalhar assim, é
uma atividade educativa que a gente faz aqui, né. Um trabalho educativo, mas não é aquela
coisa maçante, não é assim. Eles aprendem muita coisa sem perceber. Não é que todo mundo
venha aqui e aprende tudo. Mas, é assim que eles não têm a noção de que é tão lúdica a coisa
que eles não têm a noção de que o que a gente faz aqui, tudo é uma ação educativa. A gente
enquanto um planejamento, um educador, uma equipe, a gente sabe disso, mas eles não
percebem isso, entendeu? Eles veem aqui como um lugar de lazer, como um lugar para os
adolescentes procurar (sic) emprego e, às vezes a gente faz, por exemplo, uma dinâmica com
eles. Ele vai entender como ele vai se portar numa entrevista de emprego. Então, assim, são
coisas que, que nem passa (sic) pela cabeça deles.

P: E como que é a sua rotina de trabalho?

R: Ah, é muito paulera (sic). Assim, eu fico 40 horas aqui no PROGEN. Eu entro às 8 e meia
e quando dá assim, a gente sai às 5 e meia, às vezes 15, 20, 10 para as 6, né. Porque assim eu
sou muito comprometida com o meu trabalho, né. Eu me envolvo muito com as crianças e os
adolescentes. Por exemplo, assim, às vezes acontece alguma coisa e aquele pai, aquela mãe,
que não pode (sic) vir buscar no horário sabe. Se pede para ficar eu me disponibilizo, assim,
para estar ficando (sic), mas, assim, porque eu gosto muito do que eu estou fazendo, não é um
trabalho fácil. É muito cansativo, mas, assim,como eu amo o que eu faço, assim não é que eu

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não sinto as dores, mas, assim, ameniza bastante porque eu me sinto muito realizada. Porque,
quando a gente faz uma coisa que a gente gosta, assim é bem mais produtivo, sente vontade, é
automático assim, você faz as coisas pensando no como o pessoal ali que você... nós, a gente
não está aqui só pelo...pelo menos eu não estou aqui para passar só o que eu sei. Eu uso muito
nas minhas oficinas, a gente faz uma troca, porque eu também não sei tudo, né? E, aí, eles
acabam, assim eles acabam se envolvendo, eu acabo me envolvendo e eu também acabo me
envolvendo e a coisa vai indo, né? E aí eu acho que isso que, que ameniza um pouco. Até
porque se eu chegar aqui e ficar assim, sempre trazendo o que eu sei, o que eu sei, o que eu
sei, uma hora eles, eu vou cansar...uma hora eu também vou cansar, e eu hora eu também não
vou mais ter o que passar. Assim, a gente constrói junto, né. Eu acho que isso que faz não cair
na rotina, né. Porque se caí na rotina fica chato, cansativo, chega uma hora que a gente não
aguenta mais.

P: Mais ou menos o lema do Paulo Freire, né?

R: Isso! Exatamente! E porque a gente passa transformações a todo momento (sic). Porque eu
venho de uma realidade na minha casa e aqui são muitas famílias, né. A meta é 430
educandos, então pensa a quantidade de família que tem aqui. Cada família tem um jeitinho,
então, às vezes o que para mim seria fácil, para o outro não é. Às vezes para o outro é fácil,
para mim não é. Então, a gente vai fazendo sempre uma troca para poder assim, estar em
constante renovação. Eu acho que isso também facilita, porque os educandos se sentem
protagonistas do próprio processo. Então, eu acho que isso para eles é importante. Porque eu
falo assim, que eu não sabia, foi você que me ensinou e isso motiva cada vez mais a gente
estar buscando, e eles estar trazendo (sic) mais coisas para a gente estar construindo (sic), a
nossa rotina diferenciada aqui, né.

P: E você descreveria um profissional, assim, vamos dizer, com características, um perfil


bem, de acordo ou mais ou menos adequado para trabalhar na educação não formal?

R: Sim, olha, para trabalhar com educação não formal, como eu vejo na educação não formal,
pelas ONGS que eu já passei, tudo, geralmente, fica muito... ou é aquele cuidador de criança,
ou é aquele, aquela pessoa que gosta muito de criança e de brincar e tem energia e pode
trabalhar com crianças. Assim é necessário, mas a gente precisa de um respaldo acadêmico,
sabe. Por conta de que a gente tem que ter fundamentação nas nossas práticas, sabe. E, eu
sinto muita falta disso. Assim, aqui no PROGEN a gente estuda textos, eu vejo a gente precisa
além das questões de ter iniciativa, porque o profissional tem que ser muito dinâmico, ter

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disposição, ele tem que estar preparado para “engolir sapo” toda hora. Ele tem que estar
preparado para escutar histórias, né. Então, por exemplo, a gente precisa de uma terapia
porque se não a gente não aguenta, porque as histórias que chegam, para a gente, porque a
gente esta lá na ponta, com o educando, a gente tem que estar ali, porque às vezes ele vem
buscar uma ajuda em você. Você não pode chorar junto com ele, sabe, não assim que a gente
seja perfeito, mas assim é complicado, porque às vezes ele vai buscar uma ajuda em você e
você desaba, aí ele vai falar assim, “nossa se até ela está achando que meu caso não tem jeito
mesmo”. A gente tem que se fortalecer, que ter uma noção, assim que a gente tem que estar
disposto, a gente tem que tomar a iniciativa, não esperar assim que o outro vai fazer, assim,
não aí, por exemplo, fulano de tal faz isso bem, pode ser que um dia ele tenha uma dor de
barriga e não está aqui, então, não vai acontecer? Sabe, então, tem que ter iniciativa, tem que
buscar a... é a formação sempre. Eu acredito na formação continuada do profissional e não
aqueles cursinhos obrigatórios, sabe? Vê aquilo que o profissional gosta de fazer a vai buscar,
sabe. Por exemplo, incentivo, por exemplo, incentivo, aqui no PROGEN, eu tirei fazer dois
cursos (sic), precisei me ausentar dois dias, quatro dias para poder fazer esses dois cursos que
eu quis fazer que na minha área, na área que eu atuo com o público aqui. E assim, eu consegui
essas horas. Eu solicitei q consegui e isso possibilita um interesse maior do profissional de
estar buscando (sic) alguma coisa na sua área e assim, educador, você tem que estar preparado
para tudo, né. Porque eu falo assim, que o professor de Educação Física, ele, a gente, tem que
é, a gente tem que ficar agindo de dois lados. Ao mesmo tempo que, a gente tem que ser o
amigão, a gente tem que ser o cão de guarda, porque eles vem trazer situações, agente tem que
acolher e a gente tem que orientar. Sabe, esclarecer dúvidas, de um jeito que fica assim, de um
lado, eu sou o educador, eu preciso orientar, eu preciso ficar bravo, de outro lado, eu sou o
amigo que precisa estar sempre de braço aberto para acolher aquilo que aquele educando vai
me trazer, sabe. Tem que estar preparado para isso, não vim aqui achar que, por exemplo, eu
dou aula de dança e só sei dar aula de dança e quem quiser dançar e quem quiser danças vai
ter que fazer isso, sabe, e ter noção do público que a gente trabalha, das pessoas que precisam
ser acolhidas. Estar sempre sorrindo, não que a nossa vida é maravilhosa, mas a gente não
pode deixar isso influenciar, sabe, nas nossas ações. Às vezes é difícil mas, assim, tem que
segurar o “B. O.”. Às vezes, as crianças aqui têm problemas, bem maiores do que os nossos,
né. E a gente tem que não pensar assim, só no nosso individual (sic), nesses momentos.

P: E quais são as suas oficinas que você (sic) desenvolve?

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R: Que eu desenvolvo? Olha, aqui eu falo assim, que o educador tem que fazer de tudo, né.
Quando eu entrei aqui, né, na minha primeira semana a educadora que dava oficina de grafite,
ela precisou se ausentar porque ela foi acho que numa conferencia, de assistência, alguma
coisa assim, um evento muito importante, e os grupos dela iam ficar sem oficina. E, aí,
quando eu entrei, logo de cara, foi proposto pra mim que assumisse as oficinas. Ela deixou o
material preparado, então eu nunca fui educadora de grafite, mas dei oficina de grafite.
Depois, uma outra educadora se ausentou aqui da oficina de circo. Eu sou professora de
Educação Física, mas não tenho especialização em circo, sabe. Sei alguns elementos básicos
de ginástica, mas nada focado com o circo. Ela ficou um mês sem vir às quartas-feiras, porque
ela teve um problema de saúde e eu assumi as oficinas de circo, né. Então, eu acho que nós,
educadores, tem que ser muito versátil. Eu esqueci de falar, que o educador tem que ser muito
versátil, mas é, eu faço aquilo que eu acho que vai virar, porque às vezes eu preparo uma
coisa e ... as minhas, elas são mais voltadas para fitness, para os adolescentes, expressão
corporal que a gente trabalha teatro, contação de histórias, um pouco de corpo, de dança,
também beleza e cuidados de si. Educaesporte, também, é às vezes, por exemplo, eu venho
com uma proposta, mas às vezes minhas oficinas têm nomes X, mas assim, eu não fujo muito
do objetivo, mas eu procuro sempre tirar muitas ferramentas de vários lugares para poder
acontecer, para o negócio acontecer. Porque, se eu ficar sempre oferecendo as mesmas coisas,
eles eu já estou cansada de fazer isso.

P: E, agora, assim, nessa realidade, da reforma educacional que a gente está começando
assistir a implantação bem gradativa do ensino em tempo integral. Você já formou uma ideia,
tem uma concepção, seu entendimento sobre educação em tempo integral?

R: Olha, aqui, nós atendemos, né uma escola que a maioria do nosso público é dessa escola
que está nessa fase de experimentação. A proposta é linda e maravilhosa. Eu acredito que se
ela tivesse sido implantada desde há muito tempo atrás, eu acredito que estaria perfeito, mas
assim, estaria muito, muito melhor, né. Porque precisaria de um tempo e tudo mais. Eu
acredito que se houvesse essas escolas de tempo integral com qualidade há um tempo atrás,
não seriam tantas ONGS necessárias né, porque assim, se a criança ficasse vulnerável, não
teria necessidade das ONGS, de tantas ONGS assim. Eu cheguei a trabalhar em um bairro que
tinha assim oito ONGS no bairro. É muita, muita, coisa. Eu acho que assim as crianças,
quando elas saem parece que você acabou de soltar o passarinho da gaiola, parece que está
libertando da prisão, sabe, eles querem arrancar a roupa, eles querem sair correndo, sabe, eu
não estou lá dentro para saber. Eu sei que tem algumas atividades, a escola tem um espaço

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enorme que não tem construção. Eu acredito que assim, sei lá, constrói uma piscina enorme lá
e põe essas crianças para fazer uma semana aula de natação, sabe. Eu acho que tem que se
investir no profissional, também, que não está preparado para ficar um tempo X com os
alunos, sabe, uma coisa é você ficar com 200 de manhã e com 200 à tarde, e outra coisa é
ficar com 400 o período todo, um período maior, sabe, é exaustivo para a estrutura física da
escola, para a estrutura dos profissionais, das famílias, dos alunos. Até porque eles saem no
horário em que os pais não saíram do trabalho, então, assim, está muito confuso, está uma
bagunça. Eu acho que tem muito que se evoluir, né. E é assim, está bem complicado esta
questão. Eu acho que no momento não está preparado ainda, mas tem que ser aos poucos, foi
do dia para a noite. Precisa de uma reforma nas escolas para poder estar comportando (sic)
essa quantidade de crianças e dando (sic) o devido atendimento a eles, porque eles não são
bem atendidos. Chegam várias queixas, assim, para nós dos alunos, que eles contam que
acontecem nas escolas.

P: E você teria alguma ideia para fazer uma proposta de trabalho que integrasse a escola de
tempo integral com a ONG e a comunidade local?

R: Olha, é muito... Tem que ter muito cuidado quanto a isso. Eu acredito que por conta que é
muito fácil, por exemplo, eu venho no PROGEN e desenvolvo a atividade, venho na ONG e
desenvolvo o trabalho e eu não preciso contratar profissional porque eu vejo que assim
também, tem um projeto que chama Mais Educação, não sei se você conhece?

P: Conheço.

R: E vários, vários educadores são contratados para desenvolver atividades diferentes, né e,


assim, tem escolas que são mais para, mais focadas para reforço, tem escolas que eles estão
mais focados para, para atividades culturais, sabe, então, acho que se tem que tomar um
cuidado quanto a isso, porque acaba fugindo, muitas vezes, do que é responsabilidade da
escola, né. Se ela vai propor (sic) um ensino integral, vai colocar o Mais Educação duas vezes
para ajudar os professores em sala de aula, sabe, como no caso, eu colocaria estagiários
porque estagiários e estagiários, sabe, tem estágios de dois dias que você senta ali e observa, e
põe a mão na massa, para vivenciar, para ver mesmo se é isso que vai querer para a vida toda,
sabe, e usar o Mais Educação para atividades diferenciadas, no período integral, não sei, ou e
aí se investir esse dinheiro com os educadores, o dinheiro que seria na contratação de pessoal,
investir o dinheiro na reforma da escola, sabe, é difícil porque é muito comum você vê assim

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tomando conta, você vê tomando conta, fazendo aquilo que já era dever e aí criasse-se uma
situação de comodidade, não se faz nada, é muito complicado assim.

P: Está certo, muito obrigada!

R: De nada!

Entrevista 05:

P: Eu gostaria de saber há quanto tempo você trabalha com educação não formal?

R: Deixa eu (sic) fazer as contas. Um ano e oito meses.

P: E todo esse tempo só aqui no PROGEN?

R: Só no PROGEN porque eu sempre trabalhei antes. Meu emprego foi de atendente, de


recepcionista. Trabalhar em educação e educação não formal foi aqui no PROGEN a primeira
vez. Já entrei e estou aqui há quase dois anos.

P: E como surgiu o interesse de trabalhar na educação não formal?

R: Na verdade, eu comecei a trabalhar aqui e nem sabia do que se tratava. Eu comecei por
causa (sic) que eu faço jornalismo, eu trabalho aos sábados, eu trabalho no JOCAD que é de
jovens contra a dependência, que o projeto aqui da escola Padre Silva no Mais Educação que
tem alguns projetos e eu sou uma das treinadoras. O projeto é de dança, teatro e tudo o mais e
aí, o PROGEN como tem parceria com a escola, em um festival esportivo que teve (sic) o
PROGEN convidou a escola e o grupo que eu faço parte foi apresentar tudo e aí a B... que
estava aqui no PROGEN com o jornal foi fazer uma entrevista com a gente do JOCAD. Aí a
C... que é coordenadora do JOCAD falou assim para a I... “Olha, I..., a L... faz Jornalismo”,
querendo “vender o peixe”, e eu estava no primeiro ano de Jornalismo e, aí, a I... falou assim
“Nossa, sério?” “Sério”. “Eu estou precisando de alguém aqui para o jornal do PROGEN.
Você não quer mandar o seu currículo?”. Aí eu falei “Opá! Estou dentro”. Mas, eu não sabia
realmente o que o PROGEN fazia, porque apesar de eu morar aqui perto do bairro, porque eu
moro no J... L..., um bairro aqui perto, desde a minha infância eu ouvia os meus amigos
falando do PROGEN. Mas, eu não conhecia realmente o que ele fazia, trabalhava. Aí tudo

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bem, eu mando o currículo. Faço Jornalismo, é a minha área. Então, eu mandei o currículo e
aí quando foi em fevereiro eles me ligaram para fazer uma entrevista. Eu fiz uma entrevista
em dezembro ou novembro de 2012 e em fevereiro de 2013 eles falaram que estava tudo
certo, que eu fiz (sic) os exames e comecei a trabalhar aqui. Foi uma coisa, bem, que casou
uma coisa com a outra, sabe. Não, eu não procurei trabalhar na área de educação não formal,
foi uma coisa que “caiu” (sic). Eu estava fazendo jornalismo e estava precisando aqui e eu
vim e foi assim tudo de supetão, eu não sabia o que a ONG fazia. Eu não sabia direito o que
que iam...(sic) Eu não sabia o que era educação não formal, eu não sabia de nada. Tanto é que
na entrevista de emprego que eu fiz, eu tive que responder uns questionários e lá tinha
pergunta (sic) se eu tinha conhecimento obre SUAS, se eu tinha conhecimento sobre ECA. O
ECA eu sabia, tudo o mais, que é mais famoso. Sobre SUAS eu não sabia o que era SUAS.
Eu escrevi que, sabe, deu uma enroladinha, uma “enchida de linguiça”. Mas, sabe, eu
coloquei que tinha algo a ver com a assistência e tudo o mais, sobre criança e adolescente,
uma “encheção de linguiça” (sic). Aí eu comecei a trabalhar aqui e foi tudo pegando na raça
mesmo porque não teve nada, assim, que falasse assim, olha, educados... Aí, primeiro, eu fui
fazer exame admissional, a mulher perguntou assim, “Para que cargo é?” Eu não sabia, eu
falei “Ah, eu vou trabalhar no jornal” e ela falou “Preciso do cargo especifico”. Aí eu liguei
para o PROGEN, C...., “Viu”, que era coordenadora, “Qual é a minha função? Qual que é o
meu cargo?” aí ela “Você vai ser educadora”. Ah, eu vou ser educadora! Aí ela assinou,
assim, tudo lá, como educadora. Aí, assim eu peguei... , educadora, o que eu vou fazer,
educadora, na hora que eu comecei a trabalhar, eu comecei ver e falei assim, não era só jornal.
Era muito menos o jornal, que eu imaginava, entendeu? Tanto é que hoje em dia, quando me
perguntam na faculdade se eu trabalho na área, eu falo assim: Trabalho porque eu faço jornal
comunitário, mas é 95% educação não formal e 5% jornalismo, o que eu faço.

P: Então, na verdade, quais são as suas atividades aqui, no PROGEN?

R: Aqui no PROGEN as minhas atividades, como educadora, assim, eu faço de tudo. É desde
acolher, amparar as crianças, dar café, dar almoço, conversar, ser é ensinar, ser educadora,
mesmo professor, daquele de ensinar questões de... questões didáticas, mesmo. E, questões da
vida, a gente ensina muita coisa e o jornal, o Jornalismo, ficou assim uma coisa mais ou
menos que eu tenho, e que eu possa passar, entendeu? Porque eu não precisaria estar
estudando (sic) Jornalismo para fazer o que eu faço. Então, o Jornalismo ficou uma coisa a
mais que eu tenho para fazer para eles.

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P: E você mantém a atividade com o jornal?

R: Mantenho, mantenho.

P: E como que é (sic) esse jornal?

R: Então, quando eu entrei aqui no ano passado, em 2013, era assim, eu trabalhava três vezes
por semana aqui no Castelo Branco, duas vezes por semana no Satélite Iris, três vezes na
semana tinha o jornal. Só que aqui, o bairro, e as escolas, não têm assim essa coisa de
escrever, né. Escrever é uma coisa, que assim, tem que ser muito bem trabalhada e aí, é
começou um novo público, três vezes por semana. Eu dou, assim, às vezes ano passado eu
ficava com o pessoal que estava perdido, fazendo coisas diversas porque não tinha público
para o jornal. Então, como eu estava sem nada, com vaga, aí eu pegava e ficava com essas
crianças e ficava fazendo coisas diversas. E aí, a gente foi estudando porque assim o jornal, a
oficina do jornal, do Conexão Jovem, é, ano passado, fez dez anos o jornal. Eu acho que desde
o começo ele foi se perdendo, sabe, o enfoque mesmo dele. Então, esse ano com o L...a gente
está tentando voltar. Com a parceria, voltar com atividades na oficina, Porque ano passado
com três vezes na semana, esse ano uma vez por semana, toda quinta-feira, toda quinta-feira
tem oficina de jornal, né. E mesmo assim, de manhã... é só à tarde. Porque, assim, tem que
trabalhar muito esse tempo porque a escola, eles não gostam de escrever. Eles vão para a
escola e tem que ficar escrevendo, sabe. Eles não gostam de escrever, eles não gostam de ler,
sabe, a gente tem que criar as coisas para estimular, tem que eles... Tanto que agora na
oficina, quando a gente tem de quinta-feira (sic), eu nem fico tanto... de escrever, assim, sabe.
A gente produz devagarzinho, aos poucos. E, agora, a gente está fazendo entrega de
jornais.Tem um monte de jornal de 2012, 2013, que não foram entregues aí fica tudo no
almoxarifado, então a gente colocou um cartazinho de informes, aqui no PROGEN. A gente
está entregando nas casas, para o pessoal conhecer o PROGEN. E a gente não perde os jornais
porque até se for notícias mesmo, não é... a gente não vai jogar fora, né, essa quantidade de
jornal... então, a gente está fazendo trabalho assim.

P: E com que frequência que é impresso os jornais?

R: No começo era de dois meses, em dois meses, era bimestral, agora, ano passado foi três
vezes e esse ano só saiu um.

P: Só uma edição?

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R: A gente está vendo (sic) se vai sair a segunda edição agora. A gente está lutando. Por que
não saiu mais? Por causa da reformulação que a gente quer fazer no jornal. Porque lá em
cima, não sei se você já viu algum. Está escrito os parceiros, em baixo da Conexão Jovem, só
que os parceiros só estão ali no papel escrito, porque a maioria das reportagens a gente que
acaba fazendo, a gente que tem que ir lá. Tem atividade no Centro Toninha eles são parceiros,
mas eles, se mandarem a gente tem que ir lá fazer entrevistas com eles. Então, a gente está
tentando. Eu e o L..., a gente está tentando, é reuniões com cada representante, a maioria dos
parceiros que estão lá para a gente conversar, olha gente, o jornal é de todo mundo! É de todo
mundo, então cada um faz um pouquinho para não pesar para ninguém, entendeu? Porque isso
também que ficava chato. Quando tinha 8 páginas e ninguém colaborava, a oficina tinha que
fazer 8 páginas. É muito pesado para as crianças, vamos supor que tenha umas 35 crianças,
nossa, vão fazer, cada uma, uma, e ainda vão sobrar 3 páginas. Então, fica muito pesado. Fica
uma coisa muito cansativa, mesmo. Então, agora a gente está tentando agora reformular.
Então, não saiu outro ainda e a gente está tentando ver isso com eles. Os parceiros mandavam
coisas para a gente, né, para a gente ficar com duas páginas e, os outros parceiros com uma, o
outro com mais uma e o jornal ser. Porque a intenção do jornal é ser um jornal comunitário.
Então, não é a gente escrever do PROGEN. Tem que ter coisas dos parceiros.

P: Então isso poderia ser considerado uma proposta, né, de trabalho integrado, ONG,
comunidade e com a própria escola?

R: Sim, porque são 3 escolas parceiras, que é (sic) o Mario Natividade, o Lencaster e o Padre
Silva. Os que tão assim, sempre foram mais acessíveis é o Padre Silva e o Carlos Leneaster. O
Mario Natividade a gente não está assim... é, além deles tem o Centro Toninha, centro de
convivência. Tem o CAPS Integração, tem o Posto de Saúde, então, assim é, vai formando-se
uma rede, entendeu? De comunicação com a comunidade.

P: É uma região muito rica, né, de atividades?

R: É, com certeza. E se for para deixar para a gente fazer tudo, acaba que a gente não conhece
tudo. Tem coisas que eles podem mostrar, nossa e falar, nossa, a gente não conhece, isso que
o jornal comunitário faz, mostra as coisas que são da comunidade.

P: É, e também tem que ter uma parceria efetiva de trabalho. E agora a escola, por exemplo, a
escola Padre Silva, que é de tempo integral. Qual que é a ideia que está passando para você,
quê seria essa educação de tempo integral?

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R: O que eu acho? Então, eu acho ótimo, o princípio, a educação integral, mas eu acho que
tem que ser muito bem estruturado. Não adianta falar “ano que vem as escolas vão ser (sic) de
tempo integral. Acho que não dá, porque o Padre Silva, eu até fiz uma reportagem sobre isso,
para a minha faculdade, sobre o tempo integral da Padre Silva. Eu acho assim, a Padre Silva
foi escolhida por causa do prédio, que é prédio doado pelo governo federal , porque o prédio é
maior. Era um escola Estadual e aí a Padre Silva era lá em cima, pequenininha, agora lá é o
NAED, aqui é o Padre Silva. Então, lá foram duas escolas esse ano a Noroeste e a Vila União.
Padre Silva pela escola, foi a escola CAIC quis, foi a gestão. O Padre Vieira, a justificativa
foi: o prédio é grande, acho que vai dar. Eu acho que não teve estudo assim, para... Eu não sei
porque eu não trabalho na escola, então não sei como foi a abordagem. A professor Zeferino
Vaz, que é o CAIC- Vila União e o Padre Silva, pela escola. A professor Zeferino Vaz, foi
porque a escola, a gestão quis, já tinham preparado, eles queriam. O Padre Silva falou, o
prédio é grande acho que vai dar (sic), entedeu? O que eu acho que foi muito assim não teve
um estudo efetivo, assim, não. Eu não sei o trabalho na escola como que foi o trabalho de...
Eu trabalho de sábado (sic), não tenho... A gente não fica, não tem relação com a gestão e
tudo o mais. Mas, eu acho que não teve um estudo (sic) para ver como realmente seria.
Porque, não adianta ocupar um espaço grande. Tanto é que tem um espaço enorme e não tem
sala para todo mundo. Eles tiveram que construir quiosque, entendeu? Então, tem criança que
fica ali naquela área, o que dá para ver daqui, tipo, ao ar livre, porque não dá, se colocar
assim, em todas as salas, todas as turmas no mesmo tempo (sic) em sala de aula, não tem, não
tem sala para todo mundo.

P: Não tem uma estrutura física?

R: Não tem. O espaço é uma coisa, as a estrutura do prédio, não tem. Acho que, por exemplo,
15 salas de aula para 600 crianças. Acho que é em média (sic) 25 crianças para cada sala de
aula. Tem laboratório que é assim, sala de aula, mas que não dá para ter, porque é pequeno.
Então, assim, não comporta todo mundo. E isso sacrifica todo mundo. As crianças ficam
migrando de um lado para o outro, assim sabe? Tem criança que assim, que porque assim, a
escola tem dois blocos, não sei se você já foi lá?

P: Já!

R: Bloco A e Bloco B. Bloco A tem armários, Bloco B não tem. As crianças que têm armário
deixam a bolsa lá. Se elas não tem armário, têm que ficar andando com a bolsa de um lado
para o outro, o dia inteiro.

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P: O período todo?

R: O dia inteiro. Tem aula ali na quadra, elas levam a bolsa lá para a quadra. Tem aula lá em
cima, no quiosque, elas levam a bolsa lá para o quiosque, o dia inteiro. Tem aula em tal sala,
tem uns ganchinhos para colocar a bolsa, na hora que sair, pega a bolsa, para o outro lado,
sabe? Eu acho assim, se vai colocar armário é para todo mundo, a primeira coisa né, para não
ter essa coisa de ficar levando. E se a mochila está pesada? Ficar o dia inteiro arrastando a
mochila de um lado para o outro. Não tem lugar para ficar. Eu conversei com um professor
que ele... ela falou que “Oh, eu tive que adaptar uma aula de horta, toda a terça-feira, não tem
sala, eu estou no quiosque”. Teve que adaptar a aula dela, é ciências... não dá para ter aula no
quiosque. O caderno no quiosque? Não tem mesa no quiosque é banco. E eu acho que eles
foram muito precipitados, sabe? Vamos colocar que o espaço é grande. Precisa estudar, tem
que estudar certinho para ficar uma coisa mal feita... mas, assim, eu acho que esse ano está
sendo de aprendizagem para a escola, para eles melhorarem. Porque eles fizeram bastante
coisa, eles fizeram bastante (sic) reformas, eles aumentaram o refeitório, colocou umas
adaptações (sic), mas não foram suficientes. As adequações não têm que ser só a reforma do
espaço, tem que ser reformas de métodos, de vão ser visados e tudo o mais. Eu acho que está
difícil.

P: Então, e aí, se fosse para você arriscar, por exemplo, uma proposta de trabalho que pudesse
juntar essa educação de tempo integral, com aqui a ONG, a comunidade, uma vez que, não sei
se você conhece a proposta do governo que diz que a participação da sociedade no processo
educativo, né. Então, se fosse para fazer propostas assim, você acha que seria possível, que
seria viável, que teria alguma coisa que daria para trabalhar em conjunto, integrado?

R: Eu acho que sim, com certeza. Mas, eu acho que a escola tem que ser aberta também, à
proposta, entendeu? Não adianta a gente, que nem, a gente que faz (sic). A gente vai buscar
eles 3 e meia, e o pessoal só falta expulsar a gente. Não sei se algum dia você foi, você viu
eles expulsar (sic) as crianças: “Vai, vai, vai, a gente não pode ficar dez minutos a mais, o
tempo é precioso”. Eu acho que a escola, eles estão assim, está mal estruturados (ininteligível)
que eles tão assim, nossa, aí, sabe? Que eles não estão ocê tando as crianças. Então, eu
acho que tem que ter parcerias. Porque parceria, um complementa o outro, sabe? Ah, para
mim, eu posso oferecer isso, a escola pode oferecer aquilo, pode trabalhar em conjunto. A tal
oficina pode casar com tal matéria. Eu acho super válido, mas a escola e a ONG também tem
que estar aberta a aceitar (ininteligível) e trabalhar. Não adianta assim ser fechado e falar, “a

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gente é parceiro”, mas só em teoria, só quando tem um evento. Porque quando tem realmente,
nós somos muito parceiros, porque as mesmas crianças que vêm para cá vão para lá. Não tem
que ser só ação cidadão, que vai se apresentar. Tem que ser num momento, assim, oh, sabe,
momentos de aula, momentos de vir aqui, fazer vivências. Em vez de ficar só na sala de aula,
vem aqui, combina, faz uma oficina junto com uma turma no contraturno, a gente vai para lá,
e aí ao ar livre, joga capoeira ou violão, ou sei lá dança. Eu acho que tem que ser mesmo
parcerias efetivas.

P: E, assim, vai tendo (sic) participação da sociedade no processo, na abertura, também na


questão democrática.

R: Com certeza.

P: Agora eu gostaria de saber trabalhando agora aqui na ONG, você deve então ter formulado
uma ideia, uma concepção de educação não formal. Eu gostaria de saber qual é?

R: É o que eu tenho visto, o que eu posso dizer?

P: É, se alguém te perguntar o que é educação não formal?

R: Eu acho que educação não formal é aquela que sai dos parâmetros escolares, assim, do
quadradinho, sabe? Aí, a escola aprende 2 mais 2 igual a 4, entende? Não aqui a gente
aprende coisas que não é na sala de aula, na mesa com caderno, a gente aprende coisa prática,
coisa que assim a gente vai usar na vida, coisa que a gente não aprende lá na escola. Então, é
bem assim, a palavra não formal, coisa que a gente não está lá na formalidade dentro da
escola, a gente na vida, está no... não é coisa assim. Acontece muitas coisas (sic) toda hora
aqui. Não tem uma programação. Hoje vai ter uma oficina de jornal e não vai ter porque a
necessidade deles é outra na escola, às vezes não acontece. Na escola não. É aula de
Português? Hoje é aula de Português. A sala pode estar aterrorizando, que a professora está lá,
passando a lição na lousa e vai cumprir a aula de Português dela. O educador aqui na
educação não formal, não. Oh! A gente não está dando, gente vamos fazer uma roda, e aí? O
que que houve? Por que que (sic) hoje está assim? Por que fulano fez isso e aquilo? Tem
conflito? Gente, vamos resolver isso tudo junto (sic). Eu acho que na escola não tem isso, esse
é o diferencial da educação não formal. A gente vive muito mais o cotidiano do que escola
formal. Não sei se eu consegui responder do jeito que você gostaria.

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P: Não, é o que você pensa. Eu queria saber o que você pensa sobre o educador? Como você
acabou vindo, você é educador. Mas, como você convive com todos os educadores? Essa é a
ideia. Você, assim, acha que existe um perfil, uma característica que determinariam que,
assim, poderiam facilitar o trabalho do educador?

R: Com certeza, é porque assim, é não dá para falar que qualquer um pode ser educador,
porque não é assim. É para ser educador tem que estar disposto a muita coisa, sabe?Tem que
ser paciente, tem que ser pró-ativo, sabe? Não tem que ficar lá esperando acontecer as coisas.
Tem que ter determinação e ir lá e pá, pá, pá e fazer o negócio acontecer. Não dá para esperar
cair do céu. Não dá para qualquer um ser educador hoje em dia. Tem que ter paciência, sabe,
ser bom ouvinte, você tem que ser bom conselheiro, sabe? Você tem que ser um exemplo,
sabe. É isso que eu vejo também, é no trabalho que eu tenho aos sábados né, porque lá eu não
sou educadora. Eu sou treinadora, mas como voluntária, mas, é mais ou menos assim, o que
eu sou também como educadora lá, também. Porque eu não sou no papel. Porque é assim se a
gente é educador, a gente não é só educador aqui no PROGEN, a gente é educador na vida.
Porque se a gente encontra... Eu moro aqui no bairro, se a gente encontra esses meninos na
rua eu não vou passar uma tipo... “Eu não estou como educadora”. Eu tenho que ser
educadora, não dá para fugir disso. Se eu encontro eles fazendo alguma coisa errada, eu vou
logo passar assim, “não estou no meu lugar de trabalho”. Sabe? Você tem que ser por inteiro
educador.

P: Uma consciência... até política.

R: É! Uma consciência política. Olha, eu bati o meu cartão agora eu não sou mais educadora.
Tiro a roupa de educador, né. E aí, você vai fazer coisa errada. Porque se você vai ser
educador, mesmo, você vai estar lá, você vai fazer coisa errada. Sendo que em todo o lugar, a
gente tem paredes e as paredes têm olho e têm ouvido (sic), boca e tudo. Porque no projeto
que eu trabalho de sábado (sic) a gente trabalha contra as drogas. A gente prega: Não bebe!
Não fuma! Então, às vezes eu vou no mercado (sic). O meu namorado, ele compra cerveja, eu
não carrego nem a sacola com a cerveja. Porque eu penso muito, imagina a criança passar e
eu estou com a sacola de cerveja.

P: É um exemplo.

R: Eu sou um exemplo. A mesma coisa aqui, eu estou falando assim: “gente, por que bater no
outro?”. E aí eles me vê (sic) na rua da minha casa, e eu estou lá com a minha irmã e pá na

70
cara dela, sabe? Não dá a gente tem que pregar uma coisa e fazer aquilo. E... não é assim, aí
qualquer um vai vir (sic) e “ah, eu sou grafiteiro, vou ser educador”. Tem gente que tem o que
ensinar, mas não é educador, pode ser um “oficineiro”, vir, ensinar, mas não é educador e
tudo o mais. Educador é muito mais do que só ensinar. Por exemplo, “o que que é isso aqui?”
e não conseguir se adequar como educadora, imagina, eu ia vir (sic) aqui ensinar o que eu
aprendi na faculdade de Jornalismo e não me meter, entendeu? Como eu já fui na raça, eu já
fui vendo como era para ser... Eu fui assim, “não gente”, é diferente, eu tenho que intervir, e
aí eu fui formando essa consciência de educador. Educador não é qualquer um mesmo.

P: E você acha que existe alguma formação que seria, assim, necessária?

R: Não, eu acho que teria que ter formação, mas, é na prática que a gente vai aprendendo
mesmo. Eu acho que é igual aquilo que diz a gente... eu tenho 3 meses de experiência, não
deu? Sinto muito! Sabe! Para ir avaliando, não deixar assim despreparado, eu acho que assim,
eu apanhei muito, eu caí de paraquedas, eu fui pegando no ar, ninguém foi me falando,
entendeu? A pessoa tem que ser muito assim, de pegar coisas e já ir fazendo porque ninguém
vai te mandar fazer, nesses 3 meses, se você não tem aquele momento de (ininteligível) você
não pode ser educador.

P: E você acha que cursos de formação, de aperfeiçoamento, que acontecem nesses... que são
oferecidos. Eles fazem falta, se você não faz?

R: Sim, ele faz. Porque ele te abre mais um leque de possibilidades, né. Que às vezes tem
gente que, eu, como eu nunca trabalhei nisso eu para puxar uma roda era muito difícil, sabe,
porque eu não tinha ideia. Eu não tinha aquela perceptividade de pensar rápido, de improvisar
as coisas, eu não tinha. E aí, eu fiz uma formação, eu já comecei a pensar diferente. Aí eu fiz
duas, aí eu fiz outras, e aí você vai pegando o ritmo entendeu? E vai abrindo sua cabeça, olha
eu vou fazer isso, eu vou fazer aquilo, não sei, não sei o quê... Mas, eu acho que também o
que ajudou muito é a convivência com o educador que já estão (sic) há mais tempo. Porque
assim, eu me espelhava muito na A... Eu olhava a A..., o (ininteligível) lá de Satélite, eu
prestava muita atenção no jeito que eles faziam, para eu não copiar, mas fazer tão bem quanto
eles.

P: Quer dizer, um aprendizado, né?

R: É!

71
P: Contínuo, que acontece, né? E você achou que o ensino superior, uma graduação, também
favorece o trabalho ou você acha que isso é indiferente?

R: Não, eu acho que um curso superior é muito bom para ajudar qualquer área que a gente
estiver, mas não é determinante. Porque tem gente que não tem formação mas, pode atuar
muito melhor do que aquele que tem formação. Isso é de cada pessoa. Entendeu? A formação
que cada um está buscando para si, no dia a dia, porque eu não sou uma educadora
consolidada, eu estou sempre aprendendo. Então, a faculdade não é o meu determinante, para
saber se eu vou ser melhor ou não, porque pode ter gente que entra aqui.. e a D... não tem
faculdade, mas ela pode ir pegando aos poucos o ritmo, do, do trabalho e ser tão boa quanto
eu, ou melhor do que eu.

P: Está certo.

R: Só isso?

P: Só, obrigada!

R: Obrigada, eu!

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ANEXO 02:

FOTOS DA INSTITUIÇÃO PESQUISADA

Figura 1

Área externa dos fundos – ângulo 1

Figura 2

Grafite da entrada 1

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Figura 3

Área externa dos fundos – ângulo 2

Figura 4

Grafite da entrada 1

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Figura 5

Grafite da entrada 1

Figura 6

Grafite da entrada 1

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Figura 7

Salas novas

Figura 8

Porta da sala de artes

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Figura 9

Interior da sala de artes

Figura 10

Porta da brinquedoteca

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Figura 11

Interior da brinquedoteca

Figura 12

Sanitários

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Figura 13

Interior do salão

Figura 14

Quadra

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Figura 15

Refeitório

Figura 16

Entrada 1

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Figura 17

Entrada 2

Figura 18

Faixa comemorativa (salão)

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