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UC22 – PROBLEMA 6

DEFICIÊNCIA DE G6PD hexose-monofosfato tem por função regenerar


o glutation oxidado, elemento que protege a
As deficiências enzimáticas podem provocar
hemoglobina e a membrana da hemácia de
profunda intolerância a certos carboidratos,
radicais livres derivados do oxigênio.
aminoácidos e lipídios - como na
galactosemia, fenilcetonúria, intolerância à GENÉTICA E PATOGENIA
lactose e insuficiência pancreática
Existem 2 tipos de enzima consideradas
A hemácia é uma célula com metabolismo normais, que se diferenciam apenas pela sua
muito simples. Sua energia (ATP) é mobilidade eletroforética.
empregada em dois processos básicos:
 Tipo A – representada como GdA+,
1. Manter a NaK-ATPase funcionante praticamente não existe na raça branca,
2. Regenerar lipídios da membrana sendo exclusividade dos negros, pardos
e mestiços. 20% dos negros possuem
Existem duas vias metabólicas principais:
esta variante
1. Via glicolítica – responsável pelo  Tipo B – representada como GdB, é a
fornecimento energético (síntese de mais comum, sendo encontrada em
ATP); 99% dos brancos e 70% dos negros.
2. Via do NADPH que depende
A deficiência de G6PD é definida pela
diretamente da via glicolítica e tem
presença de um mutante enzimático com
como objetivo transformar o NADP
atividade reduzida e/ou meia vida curta. Os
(forma oxidada) em NADPH (forma
dois principais responsáveis pela doença são:
reduzida);
1. GdA– - encontrado em 8-10% dos
O NADPH regenera o glutation
negros (quadro mais brando)
intraciotoplasmático – fornecendo elétrons
2. GdMed ou mediterrâneo – encontrado
para ele, isto é, reduzindo o glutation oxidado).
na população de ascendência italiana
O glutation é o principal fator que protege a
bem como em gregos, árabes e judeus
célula contra o estresse oxidativo – sua forma
sefarditas – confere clínica mais grave;
reduzida sequestra e reage com radicais livres
de O2, impedindo que eles causem danos A meia vida da G6PD normal é de 60 dias,
estruturais celulares). Ambas as vias podem portanto, até o final da vida de uma hemácia
apresentar defeitos em suas enzimas, o que (120 idas) ainda existe alguma atividade
leva à destruição acelerada de hemácias enzimática presente. O mutante GdA-
(anemia hemolítica). Nesse sentido, a apresenta meia vida reduzida – em torno de 13
deficiência da G6PD é uma das enzimas que dias. Neste caso, as hemácias jovens estão
podem levar à homólise. protegidas contra a oxidação. Somente as
mais velhas sofrerão oxidação em caso de
EPIDEMIOLOGIA
estresse oxidativo. Já o GdMed tem atividade
A deficiência enzimática mais comum desta via reduzida desde o início da vida eritrocitária.
é representada pela glicose-6-fosfato Logo, tanto as hemácias jovens quanto as
desidrogenase. Essa desordem é velhas estão suscetíveis à hemólise.
extremamente comum em todo o mundo,
Hemólise na deficiência de G6PD
afetando cerca de 200 milhões de pessoas.
Tem uma herança recessiva ligada ao X, mais
frequente no sexo masculino. O shunt da
O paciente apresenta crises hemolíticas  Laboratório: alterado durante a crise
precipitadas por estresse oxidativo. O mais revelando –
comum é a infecção por ativar neutrófilos que o Hemoglobinemia
produzem radicais livres de oxigênio. Diversas o Hemoglobinúria
drogas ou substâncias com potencial oxidante o Metalbuminemia
também costumam desencadear a crise: o Achados clássicos da anemia
 Dapsona hemolítica
 Fenazopiridina o Sangue periférico apresenta
 Primaquina células mordidas e células
 Nitrofurantoína bolhosas
 Azul de metileno DIAGNÓSTICO
 Azul de toluidina
Dosar atividade da G6PD no sangue. No caso
 Rasburicase
do mutante GdA-, o diagnóstico só poderá ser
Algumas tem associação mais ou menos feito com sangue colhido após 6-8 semanas da
controversas (as acima são proibidas): crise, quando as hemácias se tornam mais
velhas.
 Sulfonamidas
 Ácido nalidíxico TRATAMENTO
 Naftaleno Não há tratamento específico, apenas a
CLÍNICA hemotransfusão e o suporte clínico nos casos
graves.
Paciente apresenta-se com hemólise
intravascular aguda, associada a febre, FENILCETONÚRIA
lombalgia, palidez e icterícia, precipitada por Consiste em um erro inato do metabolismo
uma infecção ou administração de drogas. O que leva ao acúmulo sérico do aminoácido
quadro clínico insta-se geralmente de 2-4 dias fenilalanina (FAL) pela presença de uma
após o fator precipitante. A intensa deficiência enzimática.
hemoglobinúria pode lesar os túbulos renais
levando à necrose tubular aguda com CLÍNICA
insuficiência renal aguda oligúrica, que pode O quadro clínico clássico é:
ser grave e necessitar de suporte dialítico.
1. Atraso no desenvolvimento
 Nos negros o processo é mais brando neuropsicomotor
(anemia leve a moderada) e sempre 2. Deficiência mental
autolimitado, embora haja estímulo 3. Comportamento agitado ou padrão
continuado, pois as hemácias mais autista
jovens possuem uma quantidade maior 4. Convulsões
de G6PD funcionante. Pico de 5. Alterações eletroencefalográficas
reticulócitos é observado entre 7-10 6. Odor característico na urina
dias após o início da anemia.
Hematócrito começa a subir após uma Além disso:
semana da instalação do quadro
1. Vômitos
 Nos pacientes de origem mediterrânea, 2. Eczema
a crise hemolítica é mais grave e pode 3. Microcefalia
não ser autolimitada, pois até mesmo os 4. Convulsões
reticulócitos neoformados apresentam a 5. Hipertonia muscular
enzima deficiente 6. Hiperatividade
O lactente afetado é normal ao nascer. 2. co-fator tetraidrobiopterina
Retardo mental pode desenvolver-se
causa acúmulo de fenilalanina nos líquidos do
gradualmente e pode não ser evidente nos
organismo e no sistema nervoso central. A
primeiros meses. Geralmente é grave e
gravidade da hiperfenilalaninemia depende do
necessita de tratamento institucionalizado. O
grau de deficiência enzimática, que pode variar
primeiro sintoma normalmente é o vômito, que
desde:
é confundido com estenose pilórica. As
crianças mais velhas não tratadas tornam-se  Concentrações plasmáticas acima de
hiperativas com movimentos sem finalidade, 20 mg/dL ou > 1200 micromol/L –
balanceio rítmico e atetose. Ao exame físico, fenilcetonúria clássica;
esses lactentes apresentam peso corporal  Concentrações discretamente elevadas
menor que seus irmãos. Alguns podem – 2-6 mg/dL ou 120-360 micromol/L;
apresentar erupção seborréica ou eczematóide
que usualmente é branda e desaparece com a Nos lactentes afetados com concentrações
idade. Essas crianças possuem odor plasmáticas acima de 20 mg/dL, a fenilalanina
desagradável de ácido fenilacético, descrito em excesso é metabolizada para fenilcetonas
como murino (de rato). Não há achados típicos (Fenilpiruvato e fenilacetato) que são
neurológicos, embora a maioria dos lactentes excretadas na urina, dando origem ao termo
seja hipertônica com reflexos tendinosos fenilcetonúria. Esses metabólitos não se
profundos hiperativos. Cerca de 2,5% das relacionam à patogênese da lesão do SNC.
crianças têm convulsões e mais de 50% Nesse sentido, o dano é no SNC é causado
apresentam anormalidades pela elevada concentração de fenilalanina no
eletroencefalográficas. Microcefalia, maxila tecido cerebral, a qual interfere no transporte
proeminente, dentes largamente espaçados de outros aminoácidos neutros (tirosina,
com hipoplasia do esmalte e retado do triptofano).
crescimento são outros achados em crianças FIBROSE CÍSTICA
não tratadas.
A fibrose cística é uma doença genética de
DIAGNÓSTICO caráter autossômico recessivo, crônica,
Nas formas clínicas clássica ou leve é progressiva, de caráter sistêmico e
estabelecido pela dosagem sérica dos valores potencialmente letal, consequente a um defeito
de FAL: na proteína CFTR (cystic fibrosis
transmembrane regulator), que regula o
 Valores superiores a 10 mg/dl em pelo transporte do cloro nas células epiteliais.
menos duas amostras laboratoriais Também é conhecida como mucoviscidose ou
distintas – importante que a coleta seja doença do suor salgado.
feita somente após 48 horas do
nascimento, pois para que o aumento FISIOPATOLOGIA
seja detectado é preciso que a criança Existe mutação da proteína CFTR que pode
tenha ingerido proteína suficiente. variar desde a ausência de síntese, bloqueio
TRATAMENTO na regulação ou síntese reduzida do canal, o
que gera variabilidade de manifestações
Restrição dietética. clínicas. Em indivíduos não afetados, o gene
tabelas_fenil.pdf (ufmg.br) da doença codifica uma proteína reguladora da
condutância transmembrana de cloreto, que
FISIOPATOLOGIA está localizada na membrana apical do epitélio
nas vias aéreas pulmonares, no ducto
A deficiência da enzima:
pancreático, no intestino, nos ductos biliares e
1. fenilalanina hidroxilase ou do seu nas membranas apical e basolateral do ducto
das glândulas sudoríparas. O CFTR é um Sistema respiratório geralmente é o mais
canal de cloro e funciona como um poro na afetado (ocorre em 95% dos casos). Há uma
célula que permite a passagem desse íon, produção excessiva de muco e o clearance
promovendo um equilíbrio no fluxo de água mucociliar encontra-se diminuído, aumentando
entre a célula e seu exterior. Dessa forma, a suscetibilidade a infecções pulmonares. A
permite a existência de uma camada de água lesão pulmonar começa com obstrução difusa
que reveste as células. Mutações no gene das pequenas vias aéreas por secreções
CFTR tornam os canais permeáveis do cloro mucosas espessas. Com o passar do tempo
não funcionantes. Há uma secreção diminuída acontece bronquilite de repetição, infecção do
de cloro, além de aumento da reabsorção de trato respiratório, pneumonias recorrentes,
sódio e de água, que acarreta desidratação bronquiectasias, fibrose, falência pulmonar e
das mucosas e aumento da viscosidade das morte. A tosse crônica é um dos primeiros
secreções. Isso diminui o clearence das vias sintomas respiratórios e pode ocorre desde o
respiratórias. Obstrução dos ductos por rolha início da vida ainda no lactente. Tolerância ao
de muco com reação inflamatória. A doença exercício passa a ser cada vez menor, tórax
afeta quase todas as glândulas exócrinas, assume forma de barril e a insuficiência de O2
pulmões, intestino, pâncreas, fígado, glândulas pode causar baqueteamento digital e cianose
sudoríparas e ducto deferente. na base das unhas. Sinosopatia crônica e
pólipos nasais são manifestações associadas.
QUADRO CLÍNICO
A ordem do aparecimento das bactérias
normalmente acontece da seguinte forma:
 Início – Staphylo aureus e Haemophilus
influenzae
 Com o passar do tempo – prevalece
pseudomonas aeruginosa

Avaliação Pulmonar
A TC de tórax apresenta melhor acurácia no
diagnóstico e no seguimento de lesões
pulmonares. Incialmente, recomenda-se uma
radiografia de tórax anual e sugere-se TC de
tórax caso haja deterioração clínica, funcional
ou radiológica. TC de 2 a 4 anos de forma
individualizada.
Trato Gastrointestinal
A manifestação do TGI ocorre em 85% dos
casos e a mais comum é a insuficiência
exócrina do pâncreas. Ela ocorre devido à
obstrução dos ductos pancreáticos por
material mucoso viscoso, que acarreta
pancreatite exócrina, podendo instalar-se
desde o nascimento. Acredita-se que 20% dos
recém-nascidos que apresentem FC evoluam
com obstrução intestinal por íleo meconial
espesso, fazendo:
 Distensão abdominal
 Vômitos biliosos
 Não eliminação de mecônio nos 1os
dias

Repetir teste do suor de 2-6 meses


TRATAMENTO

GALACTOSEMIA (739)
A galactose advém da lactose e é utilizada
como combustível para o metabolismo celular
pela sua conversão em glicose-1-fosfato e
desempenha papel importante na síntese de
galactosídeos, os quais incluem –
DIAGNÓSTICO glicoproteínas, glicolipídeos e
glicosaminoglicanos. Galactosemia é
encontrada em 3 distúrbios distintos do
metabolismo defeituoso da galactose em uma
das seguintes enzimas:
 Galactose-1-fosfato uridil transferase
 Galactoquinase
 Uridina difosfato galactose-4-epimerase
O termo galactosemia pode ser usado para
qualquer um dos 3 acima, porém o mais
comum é o 1º.
MANIFESTAÇÃO CLÍNICA
Existem duas formas da deficiência:
 Lactentes com deficiência completa ou Restrição absoluta de aleitamento materno.
quase completa da enzima Suplementação de Ca+2 e estrógeno
(galactosemia clássica) (somente em mulheres neste último caso).
 Deficiência parcial da transferase
A doença inicia na segunda metade da
primeira semana de vida, a incidência é de
1:60.000. Os RN recebem grandes
quantidades de lactose (até 40% no leite
materno e em determinadas fórmulas infantis).
A redução da enzima faz acumular a
galactose-1-fosfato e isso gera lesão em rim,
fígado e cérebro. Essa lesão pode ter início
pré-natal no feto afetado pela galactose
transplacentária derivada da dieta da mãe ou
pela produção endógena de galactose pelo
feto. A clínica do paciente é:
1. Icterícia
2. Hepatomegalia
3. Dificuldade de alimentação
4. Ganho de peso precário ou falha em
recuperar peso ao nascimento
5. Aminoacidúria
6. Cataratas;
7. Esplenomegalia
8. Retardo mental
Em pacientes assim, o diagnóstico de
deficiência de uridil transferase deve ser
considerado. Os pacientes com galactosemia
tem risco aumentado de sepse neonatal por E.
coli, sendo que a sepse normalmente vem
antes do diagnóstico. Após alguns dias pode
ocorrer morte por insuficiência hepática, renal
ou sepse. Deficiencia parcial geralmente é
assintomática.
DIAGNÓSTICO
Colhe-se vários espécimes de urina enquanto
o paciente está recebendo leite humano, vaca
ou outras fórmulas que contenham lactose. A
substância redutora será colhida nessas
amostra e poderá ser identificada por
cromatografia ou por teste enzimático
específico para galactose.
TRATAMENTO

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