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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Revisão da anatomia funcional do coração...... 4
3. Doenças da valva aórtica......................................... 8
4. Doenças da valva mitral.........................................25
5. Outras valvulopatias................................................40
Referências bibliográficas .........................................43
VALVULOPATIAS 3

1. INTRODUÇÃO cardíacas, sendo as valvas aórtica e


mitral as principais afetadas. Basica-
O funcionamento adequado da bom-
mente, as valvulopatias podem ser
ba cardíaca depende de mecanismos
estenoses ou insuficiências. Nas es-
que envolvem diferenças de volume e
tenoses, há sobrecarga de pressão
pressão entre as câmaras cardíacas.
nos ventrículos direito ou esquerdo,
Essa diferença está diretamente rela-
visto que essas câmaras precisam
cionada com o funcionamento das vál-
vencer a barreira da obstrução gera-
vulas cardíacas, que permitem o fluxo
da pela dificuldade de abertura das
anterógrado não obstruído do sangue,
válvulas, a fim de mandar o sangue
quando abertas, e previnem o fluxo re-
adianta na circulação. Nas insufici-
trógrado quando fechadas, impedindo
ências, por outro lado, há uma sobre-
o regurgitamento sanguíneo. Assim,
carga de volume, visto que o coração
defeitos nas valvas cardíacas podem
precisa bombear mais sangue para
gerar patologias diversas.
compensar o volume regurgitado, o
As valvulopatias podem afetar que ocorre devido à dificuldade da
qualquer uma das quatro válvulas válvula em fechar.

MAPA MENTAL – INTRODUÇÃO A VALVULOPATIAS

SOBRECARGA
DE PRESSÃO

DÉFICIT NA
ABERTURA
SOBRECARGA
DE VOLUME
ESTENOSE
DÉFICIT NO
FECHAMENTO

VALVA TRICÚSPIDE INSUFICIÊNCIA

VALVULOPATIAS

VALVA AÓRTICA VALVA PULMONAR

VALVA MITRAL
VALVULOPATIAS 4

2. REVISÃO DA ANATOMIA cavas superior e inferior (VCS e VCI),


FUNCIONAL DO CORAÇÃO para o pulmão por meio das artérias
pulmonares – Circulação Pulmonar
O coração é composto por quatro
(pequena circulação). Do pulmão, o
câmaras: 2 átrios, que recebem o
sangue oxigenado é transportado ao
sangue, e 2 ventrículos, que ejetam
átrio esquerdo pelas veias pulmona-
o sangue. O lado direito do coração
res, e daí passa para o ventrículo es-
recebe apenas sangue rico em CO2,
querdo que, por meio da aorta, leva
enquanto o lado esquerdo recebe
o sangue oxigenado para o organis-
sangue bem oxigenado. Com isso, o
mo – Circulação Sistêmica (grande
ventrículo direito impulsiona sangue
circulação).
pobre em O2, vindo do organismo
pelo átrio direito, através das veias

Figura 1. Anatomia do coração. Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b2/Diagram_of_the_


human_heart_%28cropped%29_pt.svg/1200px-Diagram_of_the_human_heart_%28cropped%29_pt.svg.png
VALVULOPATIAS 5

Entre as câmaras cardíacas e os va- ventrículo direito e o tronco pulmonar,


sos com as quais se comunicam, há há a valva do tronco pulmonar. Por
válvulas, que regulam o fluxo sanguí- sua vez, o átrio e ventrículo esquer-
neo dentro do coração, bem como o dos se comunicam pela valva mitral,
sangue que entra e sai desta grande enquanto o sangue do ventrículo es-
bomba. Entre o átrio e ventrículo di- querdo que vai para a aorta é regula-
reito está a valva tricúspide e entre o do pela valva aórtica.

Figura 2. Válvulas cardíacas. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b9/2011_Heart_Valves.jpg

A valva aórtica também é tricúspi- formada por dois folhetos, e os locais


de, ou seja, formada por três folhetos de interseção entre seus dois folhetos
(cúspides) e se localiza entre o ventrí- são chamados de comissuras ante-
culo esquerdo e o início da aorta, re- romedial e posterolateral. Uma par-
gulando a passagem do sangue que ticularidade da valva mitral é que ela
sai oxigenado do coração em direção também é composta pela cordoalha
à circulação sistêmica. A valva mi- tendínea e músculos papilares medial
tral, por sua vez, é bicúspide, ou seja, e lateral.
VALVULOPATIAS 6

Figura 3. Válvula mitral. Fonte:https://encryptedtbn0.gstatic.com/


images?q=tbn%3AANd9GcQM9f7uACGIDzPzjmm3hS0tQjbBXO5lxL915OqhsNraammaewdl
VALVULOPATIAS 7

MAPA MENTAL - ANATOMIA DO CORAÇÃO

ANATOMIA
DO CORAÇÃO

CORPO VENTRÍCULO E.
ÁTRIO D. VENTRÍCULO D.
PULMÃO ÁTRIO E.
Veias cavas AORTA (VALVA CORPO
VALVA A. PULMONAR
superior e V. PULMONAR VALVA MITRAL AÓRTICA)
TRICÚSPIDE
inferior

CIRCULAÇÃO PULMONAR CIRCULAÇÃO SISTÊMICA


VALVULOPATIAS 8

3. DOENÇAS DA VALVA inflamatórios ativos similares aos que


AÓRTICA ocorrem na doença coronariana.
Estenose aórtica A estenose aórtica também pode ser
gerada por defeitos congênitos, quan-
Estenose corresponde à dificulda- do a valva aórtica é bicúspide, e não
de de uma válvula abrir. No caso da tricúspide. Esses casos normalmente
estenose aórtica, uma das principais estão associados a doenças aórticas
causas é o envelhecimento associado (na artéria aorta), mais comum en-
a fatores de risco cardiovasculares, tre homens e se manifestam preco-
como hipertensão e dislipidemia. Es- cemente, entre 40 e 60 anos idade,
ses quadros geram calcificações na enquanto a estenose aórtica por cal-
válvula, o que leva a perda de mobi- cificação normalmente se apresenta
lidade. Acredita-se que a calcificação entre os 60 e 80 anos de idade.
valvar esteja associada a mecanismos

Figura 4. Em A, valva aórtica estenosada pela calcificação. Em B, valva aórtica estenosada, com calcificação e fusão
comissural congênita. Fonte: KUMAR, Vinay, et. al. Robbins & Cotran. Bases patológicas das doenças. 9ª ed. Elsevier,
2013.

Outra causa dessa complicação é associada ao acometimento da válvu-


a febre reumática, que pode provo- la mitral, que é mais comumente afe-
car todas as outras doenças valva- tada pela febre reumática. Na febre
res. A estenose aórtica secundária reumática, ocorre a fusão comissural,
à febre reumática normalmente está que corresponde à fusão das bordas
VALVULOPATIAS 9

entre os folhetos da válvula, deixan- impulsionar o sangue para a aorta e


do uma abertura central em “boca de daí para a grande circulação. Assim,
peixe”. o ventrículo responde à pressão au-
Quando sadia, a valva aórtica não mentada com hipertrofia, que no iní-
gera um gradiente de pressão entre cio é concêntrica, e com o passar dos
o ventrículo esquerdo e a aorta, sen- anos pode ocorrer uma dilatação ex-
do as pressões nessas duas cavida- cêntrica. Isso é explicado pela equa-
des praticamente a mesma durante ção de Laplace – Estresse = pressão
a sístole. Entretanto, quando há este- x raio x ½ espessura, indicando que a
nose aórtica, essa valva fica espessa- força no miocárdio gerada pela pós-
da, gerando aumento de pressão no -carga varia diretamente com a pres-
ventrículo esquerdo, visto que o mes- são ventricular e com o raio da valva
mo precisa “vencer” a força gerada e inversamente com a espessura da
pela estenose aórtica para conseguir parede.

Figura 5. Hipertrofia concêntrica (à esquerda) e hipertrofia excêntrica (à direita). Fonte: KUMAR, Vinay, et. al. Robbins
& Cotran. Bases patológicas das doenças. 9ª ed. Elsevier, 2013.
VALVULOPATIAS 10

SAIBA MAIS!
Hipertrofia concêntrica ocorre quando há sobrecarga cardíaca, demandando maior eficiência
do órgão que, como resposta, aumenta o tamanho de suas células, tornando a parede do
miocárdio mais grossa, porém não há aumento do volume da câmara, normalmente provo-
cando defeitos diastólicos (dificuldade de enchimento da câmara). Na hipertrofia excêntrica, o
coração aparece dilatado, devido à sobrecarga de volume, e por isso há aumento da cavidade,
o que provoca defeitos na sístole (dificuldade de ejetar o sangue).

Além disso, esse aumento de pres-


são também é transmitido para o RELEMBRE! Pré-carga corresponde à
átrio esquerdo, que sofre uma dilata- pressão de sangue no ventrículo após
seu enchimento passivo e contração
ção, e para o pulmão. A longo prazo,
do átrio (diástole). Pós-carga se refe-
esse aumento da pressão pulmonar re à pressão enfrentada pelo ventrículo
provoca aumento das pressões do durante o processo de ejeção de san-
lado direito do coração e para o siste- gue (sístole). O fator que mais interfere
na pós-carga é a resistência vascular
ma venoso, assim, a hipertrofia, que periférica.
busca compensar o desequilíbrio do
sistema, acaba por se tornar um fator
patológico. Manifestações clínicas
Observa-se assim, que o espessa- O principal sintoma da estenose aór-
mento da valva aórtica provoca uma tica é a dispneia aos esforços, porém
disfunção contrátil (insuficiência sis- esse quadro normalmente é compos-
tólica) e ainda um déficit no relaxa- to por uma tríade clássica, formada
mento normal (insuficiência diastóli- por angina, síncope e insuficiência
ca), visto que a pós-carga excessiva cardíaca. A angina na estenose aór-
gerada inibe a ejeção, reduz o débi- tica não é semelhante ao infarto do
to cardíaco e leva à insuficiência, que miocárdio (provocado normalmente
piora à medida que aumenta a hiper- pela obstrução por placas de atero-
trofia, pois as paredes ventriculares ma) pois está associada à hipertrofia
ficam mais rígidas, ou seja, têm maior ventricular, que aumenta a demanda
dificuldade tanto de contração quan- de oxigênio e a oferta não é capaz de
to de relaxamento. atender essa demanda, provocando
dor torácica devido à incapacidade
de aumento do fluxo coronariano pela
obstrução gerada pela estenose.
VALVULOPATIAS 11

A síncope que ocorre na estenose Pacientes com angina costumam ter


aórtica normalmente está relaciona- um prognóstico de 5 anos, pacien-
da ao esforço, devido ao baixo débito tes com episódios de síncope apre-
cardíaco provocado pela dificuldade sentam um prognóstico de 3 anos,
de passagem do sangue, que pode enquanto os pacientes que evoluem
ser compensado pela queda na re- para insuficiência cardíaca têm prog-
sistência vascular periférica, levando nóstico de apenas 2 anos após apa-
a uma diminuição da pressão arterial recimento de sintomas.
e diminuição no fornecimento de san- Outro sintoma da estenose aórtica,
gue oxigenado para o cérebro. As ar- ainda que menos comum, é o sangra-
ritmias cardíacas que podem aparecer mento gastrointestinal, normalmente
nos quadros de insuficiência cardíaca sangramento baixo, relacionado ao
provocada pela estenose também cólon direito. Isso ocorre devido ao
podem gerar hipotensão e síncope. cisalhamento do fator de von Wil-
A insuficiência cardíaca, por sua vez, lebrand, provocado pelo turbilhona-
é o quadro mais grave provocado mento do fluxo sanguíneo gerado
pela estenose aórtica, caracterizada pela estenose aórtica, que favorece a
por dispneia e ortopneia, no caso da ação da enzima ADAMTS13, a qual
insuficiência cardíaca esquerda, e es- causa a clivagem do fator de von Wil-
tase de jugular e edema de membros lebrand, levando à angiodisplasia e
inferiores no caso da insuficiência sangramento.
cardíaca direita.

SAIBA MAIS!
Fator de von Willebrand é uma grande proteína sintetizada pelas células endoteliais, que se
comporta como uma “cola” molecular que liga fortemente as plaquetas às paredes do vaso,
mantendo o endotélio íntegro e prevenindo hemorragias.
VALVULOPATIAS 12

MAPA MENTAL - ESTENOSE AÓRTICA

SANGRAMENTO
GRASTROINTESTINAL
(menos comum)

CALCIFICAÇÃO ANGINA

CONGÊNITA SÍNCOPE

INSUFICIÊNCIA
FEBRE REUMÁTICA
CARDÍACA

ESTENOSE
ETIOLOGIAS QUADRO CLÍNICO
AÓRTICA

FISIOPATOLOGIA

SOBRECARGA DE
PRESSÃO NO VE

HIPERTROFIA
CONCÊNTRICA

PÓS-CARGA
ELEVADA
VALVULOPATIAS 13

Diagnóstico Outro achado que pode ser feito no


exame físico do paciente com esteno-
O diagnóstico de estenose aórtica
se aórtica é o ictus não desviado nas
pode ser feito através do exame físico
fases iniciais da doença, visto que o
cardiovascular, quando há presença
desvio do ictus está relacionado com
de sopro sistólico do tipo ejetivo (em
uma hipertrofia excêntrica (lembran-
diamante), mesossistólico, o que sig-
do, na estenose aórtica a hipertrofia
nifica que ele é crescente (B1 – sopro
inicial é concêntrica), mas aparece
crescente – B2), com pico na metade
mais propulsivo.
da sístole, melhor auscultado em foco
aórtico. O diagnóstico dessa doença pode
contar com o auxílio do eletrocardio-
Quando o pico do sopro é tardio, nor-
grama (ECG), que permite identificar
malmente a doença está mais avan-
sobrecarga do ventrículo esquerdo,
çada e é sinal de gravidade, pois re-
mas não ajuda a diferenciar se a hi-
flete que o gradiente de pressão entre
pertrofia é excêntrica ou concêntrica.
a aorta e o ventrículo está mais alto.
A sobrecarga do ventrículo esquerdo
Os outros sinais de gravidade são B2
pode ser atestada a partir do índice
hipofonética, visto que B2 é o som do
de Sokolov, quando há aumento da
fechamento da válvula, e na estenose,
amplitude do QRS, nos casos em que
a dificuldade da valva em abrir tam-
a onda S de V1 somado com a onda
bém gera um mal fechamento. Pode
R de V5 é maior de 35 mm, que sig-
ocorrer ainda um desdobramento pa-
nifica que há sobrecarga ventricular
radoxal de B2 e um galope de B4.
esquerda. Além disso, também pode
Outro sinal de gravidade dessa com- estrar presente o sinal de Strain, com
plicação é o fenômeno de Gallavar- infra do segmento ST, cuja parte ini-
din, quando ocorre irradiação do so- cial é lenta e a parte final é rápida,
pro da base do coração para o ápice, correspondendo a um padrão de re-
gerando um sopro sistólico agudo polarização em V5 e V6 distinto.
(“piante”) mais marcante no ápice do
Além do ECG, outro exame comple-
coração (foco mitral) do que na base
mentar para estenose aórtica é o raio-
(foco aórtico).
-X de tórax, no qual pode-se identifi-
O paciente com estenose aórtica pode car calcificação aórtica, que também
apresentar pulso periférico chamado pode ser vista em tomografia e no
parvus et tardus, que é um pulso re- ecocardiograma (calcificação aparece
tardado e lento, e isso ocorre porque hiperecoica).
menos fluxo é ejetado pelo ventrículo.
VALVULOPATIAS 14

O ecocardiograma, no entanto, é es- da aorta e velocidade do jato. Quanto


sencial quando se suspeita de es- mais rápido sai o jato, significa menor
tenose aórtica, pois permite avaliar a abertura da valva, ou seja, maior o
a gravidade da doença, a partir do grau de estenose. Abaixo, uma tabela
gradiente médio de pressão entre o demonstrando esses parâmetros:
ventrículo esquerdo e a aorta, área

GRAVIDADE LEVE MODERADO GRAVE

Gradiente médio (mmHg) < 25 – 40 >40


Área (cm2) >1,5 1-1,5 <1
Velocidade do jato (m/s) <3 3-4 >4

Além dessas medições, o ecocardio-


grama também permite avaliar o grau
de hipertrofia do ventrículo esquerdo,
sendo maior que 15 mm sinal de gra-
vidade, e uma fração de ejeção redu-
zida, sendo menor que 50% também
um sinal de gravidade.
VALVULOPATIAS 15

MAPA MENTAL - DIAGNÓSTICO DA ESTENOSE AÓRTICA

DIAGÓSTICO
DA ESTENOSE
AÓRTICA

EXAME FÍSICO ECG RAIO-X ECO

GRADIENTE DE
SOPRO SISTÓLICO EJETIVO ÍNDICE DE SOKOLOV
PRESSÃO ELEVADO

ÁREA DE ABERTURA
B2 HIPOFONÉTICA SINAL DE STRAIN
VALVAR DIMINUÍDA

VELOCIDADE DO
GALOPE DE B4 CALCIFICAÇÃO AÓRTICA
JATO AUMENTADA

FENÔMENO DE GALLAVARDIN FRAÇÃO DE EJEÇÃO


REDUZIDA ( <50%)

PULSO PARVUS ET TARDUS GRAU DE HIPERTROFIA

ICTUS TRÓFICO
VALVULOPATIAS 16

Tratamento O tratamento definitivo para estenose


aórtica é a cirurgia, que deve ser feita
Não há tratamento farmacológico
nos pacientes que apresentam sinto-
para cura de estenose aórtica, sendo
mas e/ou apresentam sinais de gra-
os fármacos utilizados apenas sinto-
vidade mencionados acima. As inter-
máticos, que não alteram a evolução
venções cirúrgicas podem ser a troca
da doença. São utilizados diuréticos
valvar, valvoplastia por cateter-balão
para os pacientes que apresentam
ou a TAVI (transcatheter aortic valve
congestão pulmonar, especialmente
implantation), que é um implante de
a furosemida, que é um diurético de
valva feito por cateterismo.
alça muito potente e, por isso, deve
ser administrado com cautela pois seu A troca valvar pode ser feito com pró-
uso crônico pode levar à desidratação. tese biológica ou mecânica. A prótese
biológica apresenta como vantagem
São usados ainda vasodilatadores,
não necessitar de anticoagulantes,
que também precisam ser admi-
por outro lado, essa prótese degene-
nistrados com cuidado, pois podem
ra, precisando ser trocada entre 10
causar choque devido à queda da re-
a 15 anos. A prótese mecânica, por
sistência vascular periférica (RVP) e,
sua vez, não degenera, porém, exige
consequente queda na pressão arte-
que seja feita a anticoagulação com
rial (PA). Isso ocorre porque a PA de-
varfarina (cumarínicos), não poden-
pende do débito cardíaco (DC) e da
do ser empregados aqui os novos
RVP. O DC, por sua vez, depende do
anticoagulantes.
volume sistólico (VS) e da frequência
cardíaca. Como na estenose aórtica O TAVI é feito em pacientes com alto
não é possível aumentar o VS, pois a a intermediário risco cirúrgico, visto
valva não consegue abrir, a redução que é feito através de cateter, ou seja,
da RVP provoca a queda da PA, visto é menos invasivo que uma cirurgia
que o VS não irá aumentar e a frequ- aberta. O TAVI pode ser feito por via
ência cardíaca só aumenta até certo transfemoral (mais comum) ou tran-
limite, impedindo que o DC aumente o sapical, próximo ao ápice do coração.
suficiente para evitar uma hipotensão
grave. Este é o mesmo mecanismo da
síncope em pacientes com estenose
aórtica, pois o esforço também gera
queda da RVP.
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Figura 6. TAVI. Fonte: https://www.drhenriquegrinberg.


com.br/wp-content/uploads/2019/08/TAVI.jpg

A valvoplastia por cateter-balão é fei-


ta com a inserção de um balão para
dilatar a valva, e apesar de ser um
procedimento mais simples do que
a TAVI, apresenta maior índice de
recorrência. Essa técnica é paliati-
va, utilizada como ponte terapêutica
para pacientes graves poderem reali-
zar uma TAVI ou uma troca valvar. Na
estenose mitral, essa intervenção é a
primeira opção terapêutica.
VALVULOPATIAS 18

MAPA MENTAL - TRATAMENTO DA ESTENOSE AÓRTICA

TRATAMENTO
DA ESTENOSE
AÓRTICA

SINTOMÁTICOS DEFINITIVOS

VASODILA- TROCA VALVAR CATETER-BALÃO


DIURÉTICOS TAVI
TADORES

PRÓTESE PRÓTESE PONTE MAIOR ÍNDICE DE


FUROSEMIDA
MECÂNICA BIOLÓGICA TERAPÊUTICA RECORRÊNCIA

ANTICOA- DEGENERAÇÃO
GULAÇÃO (10 – 15 ANOS)

VARFARINA

Insuficiência aórtica bicúspide), além da febre reumática


e endocardite infecciosa. Lembran-
A insuficiência valvar corresponde a
do que, quando há acometimento da
um fechamento incompleto da vál-
valva aórtica, quase sempre a valva
vula, levando a uma regurgitação do
mitral também apresentará proble-
sangue. Essa condição pode ter cau-
mas. Porém, a principal causa dessa
sa primária ou ser provocada por uma
complicação é a dilatação da aorta,
doença da aorta, visto que a valva
que pode ser resultado de hiperten-
aórtica é o início desta artéria.
são arterial sistêmica, dissecção de
A insuficiência aórtica pode ser cau- aorta e aneurisma, doença do tecido
sada por defeitos congênitos (valva conjuntivo (Marfan – deficiência de
VALVULOPATIAS 19

colágeno), sífilis terciária e doenças hipertrofia excêntrica, pois a câmara


reumáticas, sendo a espondilite an- esquerda é obrigada a aumentar para
quilosante a principal delas. comportar essa quantidade de san-
Quando a valva não fecha correta- gue. Com a evolução da doença, esse
mente, o sangue retorna na diástole. volume excessivo é transmitido para
Em condições normais, o sangue na o átrio e, consequentemente, para os
diástole vem do átrio esquerdo, no pulmões através das veias pulmona-
caso da insuficiência aórtica, parte res. O aumento da pressão pulmo-
do sangue da diástole virá da aorta, nar transmite essa sobrecarga para o
o que gera sobrecarga de volume no lado direito do coração, e daí para o
ventrículo esquerdo, gerando uma sistema venoso.

Figura 7. Regurgitamento sanguíneo da aorta para VE por insuficiência aórtica. Fonte: https://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/7/74/Blausen_0039_AorticRegurgitation.png
VALVULOPATIAS 20

SAIBA MAIS!
Endocardite infecciosa é uma infecção, normalmente bacteriana, que ocorre na superfície do
endocárdio. Essa infecção acomete principalmente as válvulas cardíacas e, as vezes, os sep-
tos entre as câmaras, o miocárdio e até mesmo marcapassos. Essa doença pode ser agu-
da, cuja principal agente etiológico é o S. aureus, ou subaguda, comumente provocada por
Streptococos viridians.

Manifestações clínicas
SE LIGA! Congestão corresponde ao
O quadro clínico da insuficiência aór-
acúmulo excessivo de sangue no siste-
tica se associa à insuficiência cardía- ma venoso, favorecendo o acúmulo da
ca, cursando com dispneia, ortopneia linfa nesses vasos. Isso ocorre porque,
e dispneia paroxística noturna (DPN), o aumento da pressão venocapilar (hi-
drostática) “força” a saída de líquido para
congestão sistêmica (edema de MMII os vasos linfáticos. Assim, a congestão
e estase de jugular), e sensação de é clinicamente caracterizada por edema,
batimento mais intenso, devido à principalmente ascite e edema de mem-
grande diferença entre as pressões bros inferiores (sinal de cacifo +), hepa-
tomegalia (devido ao acúmulo de líquido
sistólica e diastólica. nos vasos hepáticos), estase de jugular
e dispneia, devido à perda de área para
troca gasosa nos alvéolos, que estão
carregados de líquido.
VALVULOPATIAS 21

MAPA MENTAL - INSUFICIÊNCIA AÓRTICA

ANEURISMA/
DISSECÇÃO

ESPONDILITE
ANQUILOSANTE

MARFAN

HAS

DOENÇAS DA AORTA DISPNEIA

CONGESTÃO

FEBRE REUMÁTICA
DPN

INSUFICIÊNCIA
CONGÊNITA
CARDÍACA

ENDOCARDITE SENSAÇÃO DE
INFECCIOSA BATIMENTO INTENSO

INSUFICIÊNCIA
ETIOLOGIAS QUADRO CLÍNICO
AÓRTICA

FISIOPATOLOGIA

SOBRECARGA DE
VOLUME NO VE

HIPERTROFIA
EXCÊNTRICA
VALVULOPATIAS 22

Diagnóstico ventrículo esquerdo, através do índi-


ce de Sokolov e do sinal de Strain, já
O diagnóstico de insuficiência aórtica
descritos anteriormente. Importante
pode ser feito com ausculta de sopro
lembrar que o ECG não permite dife-
aspirativo, que é um sopro diastólico
renciar se a sobrecarga é excêntrica
que começa mais intenso e vai di-
ou concêntrica, necessitando dos ou-
minuindo até a próxima bulha. Além
tros achados para diferenciar a insufi-
disso, é possível identificar ictus des-
ciência da estenose aórtica (hipertró-
viado, devido à dilatação excêntrica.
fica concêntrica).
Em condições normais, o ictus fica no
5º espaço intercostal (EI) da linha he- O raio-X de tórax permite identificar
miclavicular esquerda, quando o co- a dilatação cardíaca, quando o índice
ração está aumentado, ele se desloca cardiotorácico é maior que 0,5 – este
e passa a ser sentido na palpação do índice é calculado através da razão
7º EI na direção da linha axilar. entre o diâmetro máximo do coração
e o diâmetro da caixa torácica em ins-
Também há aumento da pressão de
piração profunda.
pulso, visto que a pressão sistólica
fica mais elevada, enquanto a pres- O ecocardiograma permite visualizar
são diastólica fica mais reduzida, de- a regurgitação aórtica através de do-
vido ao regurgitamento. Lembrando, ppler colorido (jato amarelado). Este
pressão de pulso é resultado da con- exame avalia a gravidade da doença,
tração cardíaca. Esse pulso é chama- a partir de parâmetros que incluem
do de pulso de Corringan ou em mar- o volume regurgitante, a fração re-
telo d’água, e pode estar associado gurgitante, a vena contracta (região
ao sinal de Musset, no qual há movi- mais estreita do sangue regurgitante
mentação sútil da cabeça. Outros si- - quanto maior a largura do jato, mais
nais que podem estar presentes são: grave o caso) e a área do orifício. Os
pulso de Quincke, que corresponde principais sinais de gravidade são o
a pulsação do leito ungueal; sinal de diâmetro do ventrículo esquerdo aci-
Muller, na qual há pulsação da úvula; ma de 70x50 mm e fração de ejeção
e sinal de Traube, no qual há um som reduzida (menor que 50%).
similar ao tiro de uma pistola na re-
gião da artéria femoral.
No eletrocardiograma, deve-se pro-
curar evidências de sobrecarga do
VALVULOPATIAS 23

MAPA MENTAL - DIAGNÓSTICO DE INSUFICIÊNCIA AÓRTICA

DIAGÓSTICO DE
INSUFICIÊNCIA
AÓRTICA

EXAME FÍSICO ECG RAIO-X ECO

SOPRO DIASTÓLICO DILATAÇÃO CARDÍACA


ÍNDICE DE SOKOLOV (ÍNDICE CARDIOTO- REGURGITAÇÃO AÓRTICA
ASPIRATIVO
RÁCICO > 0,5)

SINAL DE MULLER SINAL DE STRAIN VENA CONTRACTA

ÁREA DA ABERTURA
PULSO DE QUINCKE
DA VALVA AUMENTADA

FRAÇÃO DE EJEÇÃO
PULSO DE CORRINGAN
REDUZIDA

SINAL DE MUSSET TAMANHO DO VENTRÍCULO

SINAL DE TRAUBE

ICTUS DESVIADO
VALVULOPATIAS 24

Tratamento A cirurgia é o tratamento definitivo,


sendo indicada para os pacientes que
Assim como na estenose, não há tra-
apresentam sintomas e/ou sinais de
tamento farmacológico curativo, ape-
gravidade. As intervenções cirúrgi-
nas sintomático. Aqui são utilizados
cas para insuficiência aórtica incluem
vasodilatadores, como os IECA e os
a troca valvar, por prótese biológica
BRA, que causam diminuição da RVP
ou mecânica. Se o paciente apresen-
e, então diminuição da regurgitação
tar aorta ascendente muito dilatada
sanguínea, visto que a periferia terá
(>50/55 mm), deve-se trocar a aor-
menor pressão – o sangue “prefere”
ta na mesma cirurgia de troca valvar,
ir para periferia. Também podem ser
visto que a dilatação aórtica pode
utilizados diuréticos, especialmente a
causar uma dissecção, que é causa
furosemida, pois diminuem o volume
de insuficiência aórtica.
de sangue circulante e, com isso, re-
duz o regurgitamento.

MAPA MENTAL - TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA AÓRTICA

TRATAMENTO
DE INSUFICIÊNCIA
AÓRTICA

SINTOMÁTICOS DEFINITIVOS

VASODILA-
DIURÉTICOS TROCA VALVAR
TADORES

PRÓTESE PROTÉSE
↓ RVP BRA IECA FUROSEMIDA
MECÂNICA BIOLÓGICA

ANTICOA- DEGENERAÇÃO
GULAÇÃO (10 – 15 ANOS)

VARFARINA
VALVULOPATIAS 25

4. DOENÇAS DA VALVA
MITRAL
Estenose mitral
Como já mencionado, a estenose cor-
responde à uma dificuldade na aber-
tura da válvula. A valva mitral faz o
controle da passagem do sangue do
átrio esquerdo para o ventrículo es-
querdo e sua dificuldade em abrir é
gerada pelo seu espessamento, nor-
malmente provocando defeitos nas
comissuras que conectam os dois fo-
lhetos dessa válvula.
A principal causa de estenose mitral Figura 8. Válvula mitral estenosada por febre reumá-
é a febre reumática, sendo mais co- tica. Fonte: KUMAR, Vinay, et. al. Robbins & Cotran.
Bases patológicas das doenças. 9ª ed. Elsevier, 2013.
mum em mulheres, manifestando-se
normalmente por volta dos 40 a 50
anos. Há outras causas, no entanto, A febre reumática ocorre devido à in-
como a calcificação do anel mitral no fecção por S. pyogenes, estreptoco-
envelhecimento, doença infiltrativa cos do grupo A e um dos principais
(mucopolissacaridose), endocardite causadores das faringoamidalites.
infecciosa e síndrome carcinoide, re- Nestas situações, o organismo pro-
lacionada com tumores neuroendó- duz anticorpos, que quais podem ter
crinos que produzem substâncias se- reação cruzada com proteínas cardía-
melhantes à serotonina, que pode se cas, principalmente da válvula mitral.
acumular na valva e causar estenose, O acúmulo de anticorpos na válvula
porém essas causas são raras. provoca alterações como espessa-
mento, fusão comissural, fibrose e
calcificação, que levam à estenose
devido à redução da mobilidade.
Quando há estenose mitral, é gerado
um gradiente de pressão persistente
VALVULOPATIAS 26

entre o ventrículo e o átrio esquerdos


(normalmente o gradiente é transi- SE LIGA! Cor pulmonale é uma insufici-
tório, ocorrendo no momento do en- ência cardíaca caracterizada por disfun-
ção das câmaras direitas provocada por
chimento ventricular), levando a uma
doença pulmonar, normalmente DPOC
dilatação do átrio esquerdo. Essa (doença pulmonar obstrutiva crônica).
pressão, a longo prazo, também é A DPOC provoca aumento da pressão
transmitida pela veia pulmonar para pulmonar, devido a alterações dos vasos
pulmonares, com isso essa pressão é
o pulmão, causando aumento passi- transmitida para o coração. Normalmen-
vo da pressão pulmonar. Com a evo- te, a cor pulmonale se desenvolve em
lução da doença, essa sobrecarga se fases mais tardias da doença pulmonar.
reflete nas câmaras direitas do cora-
ção, levando à congestão sistêmica.
Manifestações clínicas
Com a cronicidade desse aumento de
pressão, ocorre o remodelamento dos Pacientes com estenose mitral nor-
vasos, com fibrose - que gera vaso- malmente cursam com dispneia aos
constrição - e o aumento de pressão esforços, fadiga, ortopneia, DPN e
que antes era passivo, passa a ser ati- edema agudo de pulmão (EAP) por
vo. Vale ressaltar que na estenose mi- taquicardia, pois quando a frequên-
tral, o ventrículo esquerdo é poupado, cia cardíaca é muito elevada, o átrio
só ocorrendo alterações no VE em fa- tem menos tempo para bombear o
ses muito tardias da doença ou quan- sangue para o ventrículo, levando
do há outras doenças associadas. No ao acúmulo de sangue nessa câma-
entanto, a fração de ejeção é reduzida, ra e posterior transferência para os
devido à uma pré-carga reduzida, ge- pulmões. Além disso, podem ocorrer
rada pela obstrução do fluxo pela este- palpitações, devido à dilatação atrial,
nose, e pós-carga aumentada, graças principalmente fibrilação atrial; rou-
à vasoconstrição reflexa gerada pelo quidão (síndrome de Ortner), quando
débito cardíaco reduzido (sistema o átrio se torna grande suficiente para
renina-angiotensina-aldosterona). comprimir o nervo laríngeo recorrente
(responsável pela movimentação das
cordas vocais); e hemoptise, devido
ao edema pulmonar e consequente
ruptura das anastomoses das peque-
nas veias brônquicas.
VALVULOPATIAS 27

MAPA MENTAL - ESTENOSE MITRAL

DISPNEIA

FEBRE REUMÁTICA FADIGA

EDEMA AGUDO
CONGÊNITA
DE PULMÃO

SÍNDROME
FIBRILAÇÃO ATRIAL
CARCINOIDE

DOENÇA INFILTRATIVA HEMOPTISE

ENDOCARDITE SÍNDROME DE
INFECCIOSA ORTNER

ESTENOSE
ETIOLOGIAS QUADRO CLÍNICO
MITRAL

FISIOPATOLOGIA

SOBRECARGA DE
PRESSÃO NO AE

PRÉ-CARGA
REDUZIDA

PÓS-CARGA ELEVADA

REMODELAMENTO
DOS VASOS
VALVULOPATIAS 28

Diagnóstico rápido, o qual é prejudicado pela obs-


trução mitral. Ainda, B2 pode estar
O achado do exame clínico na esteno-
aumentada no foco pulmonar quando
se mitral é o sopro em ruflar, que é um
há hipertensão pulmonar, podendo
sopro diastólico (entre B2 e B1), que
ser mais intenso, inclusive, do que no
começa depois do som de abertura
foco aórtico.
da valva mitral e que pode aumen-
tar novamente no final da diástole. O Também podem estar presentes cre-
estalido de abertura é semelhante à pitações pulmonares, turgência de
B2 desdobrada. Esse sopro é um dos jugular, refluxo hepatojugular, edema
mais difíceis de ser auscultado, visto de membros inferiores e pulso arrít-
que tem baixas frequência e inten- mico, normalmente com fibrilação
sidade. B1 pode estar hiperfonética atrial (FA). Na FA, desaparece o re-
e esse pode ser o achado mais pro- forço pré-sistólico do sopro, tornan-
eminente dessa condição, que ocor- do-se mais difícil a ausculta do sopro
re o gradiente entre o AE e VE que em ruflar.
mantém a valva aberta durante toda O eletrocardiograma pode eviden-
a diástole, até que a sístole ventricular ciar sobrecarga dos átrios, a partir de
feche a válvula, provocando um inten- alterações da onda P. A sobrecarga
so som de fechamento. Em estágios do átrio esquerdo é evidenciada pela
mais avançados da doença, entretan- onda P do tipo plus-minus, ou seja,
to, B1 se torna suave, pois a valva já aumenta e diminui. Se a fase negativa
está muito danificada, não abrindo e da onda abranger mais de um qua-
nem fechando adequadamente. drado do ECG, identifica-se o índice
A B2 normalmente é seguida por um de Morris, que representa sobrecar-
estalido de abertura e a distância en- ga do átrio esquerdo. Também pode
tre B2 e o estalido de abertura forne- ter aumento da amplitude da onda,
ce uma estimativa da pressão no AE abrangendo mais de 2,5 quadrados
e da gravidade da estenose mitral. do ECG e indicando que há sobrecar-
Quando a pressão em AE é alta, a ga do átrio direito. Além disso, pode
distância entre B2 e o estalido é mui- ocorrer desvio do eixo para frente
to curta; quando a pressão em AE é e para direita. O desvio para fren-
normal, essa distância é maior, po- te ocorre porque V1 é positivo, e o
dendo simular um ritmo de galope de desvio para direita é resultado de D1
B3. É importante pontuar, no entanto, mais negativo, representando sobre-
que os ritmos de galope com B3 e B4 carga do ventrículo direito.
são muito raros na estenose mitral, No raio-X, pode-se identificar o au-
visto que representam os componen- mento do átrio esquerdo, a partir do
tes atrial e ventricular no enchimento
VALVULOPATIAS 29

sinal do 4º arco, que é um abaula- No ecocardiograma, há dois achados


mento da silhueta cardíaca causado que evidenciam a sobrecarga do átrio
pelo aumento da aurícula esquerda – esquerdo. O primeiro é a cúspide em
normalmente o coração só comporta taco de hóquei, devido ao espessa-
3 arcos, o 1º é o arco da aorta, o 2º do mento da válvula e do sinal comis-
tronco da pulmonar e o 3º do ventrí- sural. Outro achado é que a área da
culo esquerdo. Pode aparecer ainda o válvula aparece reduzida (>0,9 cm2),
sinal da bailarina, também devido ao chamada de abertura em boca de
aumento do átrio esquerdo, que cau- peixe. Este exame também permi-
sa desvio do brônquio fonte esquer- te avaliar o escore de Wilkins, que
do, que normalmente não é tão verti- avalia a mobilidade da válvula, o es-
calizado quando o direito, mas com o pessamento, a calcificação e o apa-
aumento do átrio esquerdo ele tende rato subvalvar (cordoalha tendínea e
a horizontalizar, tornando o ângulo músculos papilares). Cada um desses
da carina maior que 90º. Outro sinal quesitos confere 1 ponto, e quanto
de sobrecarga do átrio esquerdo que mais pontos, pior o estado da válvula.
pode aparecer no raio-X é o sinal do Além do escore de Wilkins, a gra-
duplo contorno, que ocorre quando vidade da estenose mitral pode ser
o contorno do átrio direito aparece calculada através de dois parâme-
mais no fundo e o contorno do átrio tros fornecidos pelo ecocardiograma:
esquerdo aparece aumentado e mais gradiente médio de pressão e área de
à frente. Vale ressaltar que em todos abertura valvular, com isso, quanto
esses casos não há aumento da área maior o gradiente e quanto menor a
cardíaca, pois não há aumento do área de abertura, pior o prognóstico,
ventrículo e sim do átrio. como observado na tabela abaixo:

GRAVIDADE LEVE MODERADO GRAVE

Gradiente médio (mmHg) <5 5 – 10 >10


Área (cm2) >1,5 1-1,5 <1
VALVULOPATIAS 30

MAPA MENTAL – DIAGNÓSTICO DE ESTENOSE MITRAL

DIAGÓSTICO
DE ESTENOSE
MITRAL

EXAME FÍSICO ECG RAIO-X ECO

SOPRO DIASTÓLICO ONDA P DO TIPO SINAL DO DUPLO CÚSPIDE EM TACO


EM RUFLAR PLUS-MINUS CONTORNO DE HÓQUEI

↑ AMPLITUDE ABERTURA VALVAR


B1 HIPERFONÉTICA SINAL DA BAILARINA
DA ONDA P EM BOCA DE PEIXE

CREPITAÇÃO PULMONAR ÍNDICE DE MORRIS SINAL DO 4º ARCO ESCORE DEWILKINS

PARÂMETRO DE GRAVIDADE
ESTASE DE JUGULAR

REFLEXO HEPATOJUGULAR GRADIENTE DE PRESSÃO

PULSO ARRÍTMICO ÁREA DE ABERTURA


VALVULOPATIAS 31

Tratamento seguintes casos: pacientes com esco-


re de Wilkins acima de 8, pois nesses
Assim como nas outras valvulopatias,
casos a valva mitral está muito este-
o tratamento farmacológico para es-
nótica e esse procedimento não será
tenose mitral é apenas sintomático,
suficiente; pacientes com trombo no
sendo aqui utilizados betabloque-
átrio esquerdo; e pacientes com in-
adores, digitálicos e bloqueadores
suficiência mitral moderada a grave,
de canais de cálcio para controle da
pois a VMCB já causa uma leve insu-
frequência cardíaca. A diminuição da
ficiência ao dilatar as cúspides.
FC reduz as palpitações e aumenta o
tempo da diástole, auxiliando na di- Quando a VMCB é contraindicada,
minuição do gradiente de pressão so- podem ser realizados dois procedi-
bre o átrio esquerdo. além disso, pa- mentos: comissurotomia, que consis-
cientes que estão em fibrilação atrial te na abertura das fusões comissu-
precisam ser anticoagulados com rais; e troca valvar mitral, com prótese
cumarínicos (varfarina), pois esteno- biológica ou mecânica.
se mitral e FA são fato-
res de risco importante
para tromboembolismo
(AVC). Também são utili-
zados diuréticos, como a
furosemida, em pacien-
tes muito congestos.
A intervenção definitiva
é feita em todos os pa-
cientes que apresentam
sintomas e/ou sinais de
gravidade (área muito
reduzida, alto gradiente
de pressão, hipertensão
pulmonar grave, entre
outros). A primeira indi-
cação é a valvuloplastia
mitral por cateter-balão
(VMCB), a partir da ar-
téria femoral, inserindo Figura 9. VMCB. Fonte: https://www.mayocli-
um balão na válvula mitral, expan- nic.org/-/media/kcms/gbs/patientconsumer/ima-
ges/2016/12/21/15/57/mcdc7_valvuloplasty-8col.jpg
dindo-a e ampliando a área de aber-
tura. A VMCB é contraindicada nos
VALVULOPATIAS 32

MAPA MENTAL – TRATAMENTO DE ESTENOSE MITRAL

TRATAMENTO
DE ESTENOSE
MITRAL

SINTOMÁTICOS DEFINITIVOS

BLOQUEADORES
VARFARINA Β-BLOQUEA- TROCA COMISSU-
DIGITÁLICOS DE CANAIS DE DIURÉTICOS VMCB
(P/ FA) DORES VALVAR ROTOMIA
CA2+

PRÓTESE PROTÉSE BIOLÓGICA CONTRAINDICADA


CATETER-BALÃO
MECÂNICA PARA WILKINS >8

DEGENERAÇÃO
ANTICOAGULAÇÃO
(10 – 15 ANOS)

VARFARINA
VALVULOPATIAS 33

Insuficiência mitral miocárdio do ventrículo esquerdo, que


leva à dilatação do anel valvar, devido
A válvula mitral com insuficiência so-
à deslocação dos músculos papilares
fre com o fechamento incompleto,
e/ou ruptura da cordoalha tendínea,
podendo ser considerada primária
que sustentam a valva mitral. Ou seja,
ou secundária. A insuficiência mitral
nessa situação, a valva mitral em si
primária ocorre quando o defeito é
está normal, o defeito está nas estru-
na válvula e/ou no aparato subvalvar
turas que regulam seu fechamento.
(cordas tendíneas e músculos papi-
As principais causas de insuficiência
lares), ou seja, quando as comissuras
mitral secundária são doenças que
anteromedial e posterolateral deixam
causam dilatação ou hipertrofia do
de ficar bem unidas. A principal causa
ventrículo: cardiomiopatia dilatada;
desse tipo de insuficiência mitral é o
cardiomiopatia hipertrófica; e a isque-
prolapso da valva mitral (PVM), mas
mia miocárdica, que gera alteração
também pode ser causada por febre
de contratilidade, levando a uma me-
reumática (aguda), endocardite infec-
nor mobilidade da musculatura papi-
ciosa, doença vascular do colágeno,
lar, provocando tração na cúspide e,
calcificação anular e infarto.
consequentemente, impedindo que a
A insuficiência mitral secundária, por válvula se feche adequadamente.
sua vez, é causada pela disfunção do

SAIBA MAIS!
Prolapso da valva mitral (PVM) é uma condição mais comum entre mulheres, cuja evolução
costuma ser benigna. A PVM é caracterizada pelo prolapso de um ou ambos folhetos valva-
res para dentro do átrio esquerdo, superiormente ao plano anular da valva mitral durante a
sístole, gerando regurgitamento de sangue para o átrio esquerdo. Isso pode ser gerado por
várias doenças, incluindo a degeneração mixomatosa da valva. São fatores de pior prognós-
tico quando a PVM esá associada a insuficiência mitral moderada a grave, fração de ejeção
reduzida, fibrilação atrial e/ou aumento do diâmetro diastólico do ventrículo, indicando uma
deformidade valvar aumentada, o que eleva o risco de complicações como AVC e arritmias.

Como a válvula mitral não fecha, direito na sístole seguinte (soma o vo-
ocorre regurgitamente de sangue lume que regurgitou com o “novo” vo-
para o átrio esquerdo, gerando uma lume sanguíneo advindo do pulmão).
sobrecarga de volume nessa câmara. Isso gera dilatação do átrio esquerdo
Com isso também será gerada uma e hipertrofia excêntrica do ventrícu-
sobrecarga de volume no ventrículo lo esquerdo, que precisa aumentar
VALVULOPATIAS 34

a cavidade para comportar esse o lado direito do organismo, normal-


volume. mente em fases mais tardias da do-
O aumento de volume no átrio es- ença ou quando é um processo mui-
querdo gera aumento de pressão no to agudo, que não permite tempo de
pulmão, gerando congestão pulmo- acomodação do pulmão.
nar. Este quadro é transmitido para

Figura 10. Insuficiência mitral: A corresponde à comissura anteromedial e P à comissura posterolateral. Fonte:https://
www.drdiegogaia.com.br/images/tratamentos/insuficiencia-mitral/insuficiencia-mitral-coracao-aumentado.jpg

Manifestações clínicas Os pacientes com insuficiência mitral


por dilatação do átrio podem cursar
Pacientes com PVM normalmente são
com arritmia, principalmente fibrila-
assintomáticos, cursando raras vezes
ção atrial, e a longo prazo desenvol-
com palpitações. No entanto, os pa-
ver os sintomas de congestão sistê-
cientes que apresentam insuficiência
mica (insuficiência cardíaca direita).
mitral mais grave, normalmente cur-
sam com dispneia e ortopneia, devido
ao aumento da pressão pulmonar.
VALVULOPATIAS 35

MAPA MENTAL – TRATAMENTO DE ESTENOSE MITRAL

CONGESTÃO
PVM SISTÊMICA

ENDOCARDITE INSUFICIÊNCIA
INFECCIOSA CARDÍACA DIREITA

FEBRE REUMÁTICA
FA
(AGUDA)

DISPNEIA/
INFARTO
ORTOPNEIA

PVM –
CALCIFICAÇÃO
ASSINSTOMÁTICO

PRIMÁRIA QUADRO CLÍNICO

INSUFICIÊNCIA
MITRAL
SECUNDÁRIA FISIOPATOLOGIA

CARDIOMIOPATIAS SOBRECARGA DE
DILATADAS PRESSÃO NO AE

CARDIOMIOPATIAS HIPERTROFIA
HIPERTRÓFICA EXCÊNTRICA

ISQUEMIA
MIOCÁRDICA
PVM: prolapso da valva mitral
FA: fibrilação atrial

Diagnóstico intenso). Esse sopro é melhor auscul-


tado no ápice do coração (foco mitral),
O achado mais comum no exame fí-
acompanhado de B1 hipofonética, en-
sico na insuficiência mitral é o sopro
quanto B2 apresenta desdobramento
holossistólico regurgitativo, caracteri-
fisiológico, sendo seguida de B3, que
zado pelo platô (diferente do sopro na
aqui representa o enchimento rápido
estenose aórtica que tem um pico mais
VALVULOPATIAS 36

do VE graças ao grande volume de (estenose aórtica) ou excêntrica (in-


sangue retido no AE. Pacientes com suficiência mitral ou aórtica).
PVM podem apresentar um “click” No raio-X, o aumento da câmara es-
mesossistólico, que corresponde ao querda gera o sinal do 4º arco, sinal
momento em que a valva fecha e é da bailarina, e sinal do duplo contor-
empurrada para o átrio. Nos quadros no, já explicados anteriormente, além
de ruptura da cordoalha pode ocorrer do aumento ventricular (índice car-
um sopro piante, bem agudo. diotorácico acima de 0,5).
Aqui é importante a ausculta dinâ- O ecocardiograma permite identificar
mica, que auxilia na diferenciação de o prolapso da valva mitral, além de
sopros. Isso porque o sopro sistólico fornecer medidas da quantidade de
pode ser secundário à insuficiência sangue regurgitada, por meio do volu-
mitral, como mencionado, ou decor- me ou fração regurgitante, bem como
rente da estenose aórtica, que é um pela área do orifício regurgitante e pela
sopro ejetivo. Ao agachar, a muscu- vena contracta, que corresponde ao
latura dos membros inferiores contrai, diâmetro da porção mais estreita do
e com isso ocorre um maior retorno jato do volume regurgitante – quanto
venoso e, consequentemente, mais maior o diâmetro, pior o quadro, pois
sangue regurgita, ou seja, o sopro significa que regurgitou mais sangue.
ficará mais intenso. Outra manobra
que pode ser empregada é a de es- Os sinais de gravidade que podem ser
forço isométrico, como a preensão da vistos no ecocardiograma incluem o di-
mão (hand grip) gera aumento da re- âmetro sistólico do ventrículo esquer-
sistência vascular periférica por com- do (DSVE) acima de 40 mm; pressão
pressão dos vasos, há um aumento do sistólica da artéria pulmonar (PSAP)
sopro aórtico (mais força para ejetar o maior que 50 mmHg (sinal de hiper-
sangue para a aorta). Além disso, po- tensão pulmonar); e fração de ejeção
de-se solicitar ao paciente que ele se abaixo de 60% - aqui utiliza-se esse
levante, gerando uma diminuição do parâmetro e não 50% como nas ou-
retorno venoso, devido à gravidade, e tras valvulopatias, porque na insufici-
consequente diminuição do sopro. ência mitral há uma supervalorização
da fração de ejeção, visto que a con-
No eletrocardiograma, a insuficiên- tração do VE provoca regurgitamento
cia mitral pode ser evidenciada pelos do sangue para o átrio esquerdo e, por
achados que revelam a sobrecarga isso, só é possível medir o que sai do
das câmaras esquerdas: índice de ventrículo, impossibilitando afirmar o
Sokolov e o sinal de Strain. Vale lem- quanto de sangue que vai para aorta,
brar que este exame não permite dife- que é a informação necessária, justifi-
renciar se a sobrecarga é concêntrica cando o ponto de corte mais alto.
VALVULOPATIAS 37

MAPA MENTAL – DIAGNÓSTICO DE ESTENOSE MITRAL

DIAGÓSTICO DE
INSUFICIÊNCIA
MITRAL

EXAME FÍSICO ECG RAIO-X ECO

SOPRO SISTÓLICO
ÍNDICE DE SOKOLOV SINAL DA BAILARINA PVM
REGURGITATIVO (PLATÔ)

DILATAÇÃO ÁREA DO ORIFÍCIO


B1 HIPOFONÉTICA SINAL DE STRAIN
CARDÍACA (ÍNDICE REGURGITANTE
CARDIOTORÁCICO >0,5)
CLICK MESOSSITÓLICO (PVM)
VENA CONTRACTA
SINAL DO 4º ARCO

SOPRO PIANTE (RUPTURA


VOLUME REGURGITANTE
DA CORDOALHA) SINAL DO DUPLO
CONTORNO

SINAIS DE GRAVIDADE

PSAP > 50mmHg

FRAÇÃO DE EJEÇÃO < 60%

DSVE > 40mm


VALVULOPATIAS 38

Tratamento fazendo alguns pontos para torná-la


menos frouxa, sendo a melhor opção
O tratamento farmacológico da insu-
quando é possível realizá-la. A troca
ficiência mitral é sistemático, assim
valvar pode ser feita por prótese bio-
como nas outras valvulopatias, não
lógica ou mecânica, que apresentam
alterando a evolução da doença. São
os prós e contras já abordados nos
utilizados vasodilatadores, como BRA
tópicos anteriores.
e IECA, que têm a função de diminuir
o volume regurgitante (assim como Para pacientes com risco cirúrgico
na insuficiência aórtica), diminuindo alto, pode ser feita uma intervenção
a resistência vascular periférica, ou por cateter inserindo um clipe nas
seja, mais sangue segue pela aor- pontas das cúspides chamado de
ta e menos sangue volta para o átrio mitraclip, que reduz a grande aber-
esquerdo, melhorando os sintomas tura da valva e com isso diminuindo
de congestão e o remodelamento do o volume regurgitante. Esse proce-
átrio (dilatação). Além dos vasodilata- dimento também pode ser realizado
dores, são utilizados também diuréti- em pacientes com insuficiência mitral
cos para melhora da congestão, pre- secundária refratária ao tratamento
ferencialmente a furosemida. clássico - tratamento da causa base -
mas ainda não se tem certeza quanto
Nos casos de arritmia, que normal-
à sua eficácia.
mente é por fibrilação atrial, devem
ser utilizados anticoagulantes para
evitar tromboembolismo.
O tratamento intervencionista é o de-
finitivo, indicado para os pacientes
que apresentam sintomas e/ou si-
nais de gravidade da doença ou
até mesmo em pacientes que
ainda não apresentam sin-
tomas, de modo preven-
tivo. As opções dispo-
níveis são a plástica
mitral ou troca val-
var. A plástica mi-
tral mantém a
valva original,
VALVULOPATIAS 39

MAPA MENTAL – TRATAMENTO DE INSUFICIÊNCIA MITRAL

TRATAMENTO
DE INSUFICIÊNCIA
MITRAL

SINTOMÁTICOS DEFINITIVOS

VASODILATADORES DIURÉTICOS TROCA VALVAR PLÁSTICA MITRAL MITRACLIP

PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA


PRÓTESE PROTÉSE
↓ RVP BRA IECA FUROSEMIDA ALTO RISCO MITRAL
MECÂNICA BIOLÓGICA
CIRÚRGICO SECUNDÁRIA

ANTICOA- DEGENERAÇÃO
GULAÇÃO (10 – 15 ANOS)

VARFARINA
VALVULOPATIAS 40

5. OUTRAS a dilatação do VD; ou por disfunções


VALVULOPATIAS no VE que provocam pressões de en-
chimento elevadas nessa cavidade. A
Além das doenças valvares aqui já
causa mais comum dessa condição é
mencionadas, as válvulas tricúspide e
a endocardite infecciosa.
pulmonar também podem ser afeta-
das. A valva tricúspide, que fica entre Os sintomas da insuficiência tricús-
o átrio e ventrículo direitos, pode sofrer pide são os mesmos da insuficiência
insuficiência, geralmente secundá- cardíaca direita, e às vezes pode ocor-
ria a uma sobrecarga hemodinâmica rer dor no quadrante superior direito.
sobre o ventrículo direito. Essa sobre- No exame físico, essa condição pode
carga pode ser gerada pelas doenças ser revelada por turgência jugular sig-
que causam hipertensão pulmonar, nificativa, além de hepatomegalia (re-
como DPOC; shunts intracardíacos, gurgitação do sangue para as veias
que levam hepáticas através do sistema cava).
O sopro da insuficiência tricúspide é
holossistólico, frequentemente mais
intenso na inspiração. Porém, diag-
nóstico definitivo é feito pelo ecocar-
diograma com Doppler.
A valva pulmonar, que regula a pas-
sagem de sangue do ventrículo direito
para o tronco pulmonar, pode sofrer
estenose, cuja causa é congênita,
devendo ser detectada e tratada
ainda na infância. Os sintomas
dessa condição incluem angina
e síncope, devido à restrição da
circulação sanguínea. Na aus-
culta, a estenose pulmonar
produz um click de ejeção na
sístole precoce na abertura,
o qual diminui na inspiração,
pois ocorre maior influxo de
sangue no lado direito do
coração, abrindo parcial-
mente a valva na diástole. O
diagnóstico precoce é feito
por ecocardiograma.
VALVULOPATIAS 41

MAPA MENTAL – OUTRAS VALVULOPATIAS

OUTRAS
VALVULOPATIAS

ESTENOSE PULMONAR INSUFICIÊNCIA TRICÚSPIDE

CONGÊNITA ICC DIREITA

TURGÊNCIA DE JUGULAR
ANGINA
SIGNIFICATIVA

SÍNCOPE SOBRECARGA DO VD
VALVULOPATIAS 42

MAPA MENTAL – VALVULOPATIAS

DÉFICIT NA VALVULOPATIAS DÉFICIT NO


ABERTURA FECHAMENTO

SOBRECARGA SOBRECARGA
DE PRESSÃO DE VOLUME

ESTENOSE INSUFICIÊNCIA

PULMONAR MITRAL AÓRTICA MITRAL AÓRTICA TRICÚSPIDE

SOPRO SISTÓLICO SOPRO


CLICK DE EJEÇÃO SOPRO DIASTÓLICO SOPRO SISTÓLICO SOPRO DIASTÓLICO
REGURGITATIVO HOLOSSISTÓLICO
NA INSPIRAÇÃO EM RUFLAR EJETIVO ASPIRATIVO
(PLATÔ) NA INSPIRAÇÃO
VALVULOPATIAS 43

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
GOLDMAN, Lee, SCHAFER, Andrew L, et al. Goldman-Cecil. Medicina. 25ª ed. Rio de Ja-
neiro. Elsevier, 2018.
MOORE, L. Keith, et al. Anatomia orientada para Clínica. 7ªed. Editora Guaranabra Koogan.
Rio de Janeiro, 2014.
Diretriz Brasileira de Valvopatias – SBC 2011 / I Diretriz Interamericana de Valvopatias –
SIAC 2011. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 2011; 97 (5 supl. 1): 1-67
Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias: Abordagem das Lesões Anatomica-
mente Importantes. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 2017; 109 (6 Supl.2): 1-34
VALVULOPATIAS 44

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