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Prof. Doutor Arcénio Luabo (texto adaptado) do original de Carlos Mutondo


Docente da Universidade Púnguè - Curso de Português e ISUTE -Tete
arceny05@yahoo.com
O TEXTO EXPOSITIVO-EXPLICATIVO
O Texto Expositivo-Explicativo ou Didáctico-Científico é um tipo de texto que
tem por objectivo principal a transmissão de conhecimentos a cerca de uma dada
realidade, isto é, fazer-saber ou fazer-conhecer (fazer-perceber). Daí que podemos
concluir à priori que o texto visa a transformação do estado cognitivo dos sujeitos aos
quais se destina, informando-os de forma clara, objectiva, coesa e coerente sobre um
assunto ou problema de que se supõe eles serem detentores de um saber insatisfatório.
Como se pode notar, o Texto Expositivo-Explicativo apenas apresenta uma
informação que se considera nova e verdadeira, partindo de um saber que se pressupõe
que o leitor o detenha. Por isso é que a linguagem usada neste tipo de texto tem muito a
ver com o tipo de público-alvo ao qual ele se destina.
Neste tipo de texto, há o predomínio de duas funções de linguagem,
nomeadamente a função referencial (aquela que se usa para transmitir informações
novas) e a função metalinguística (usada em segmentos que visam explicar ou
esclarecer o sentido de uma noção ou expressão anterior)
Em termos de estrutura, neste tipo de textos podemos identificar três momentos
ou fases (correspondentes às partes do texto), a saber: a fase do questionário (que
contém, de forma explícita ou implícita, uma questão que se vai responder ao longo do
texto ou, simplesmente, pela anunciação do tema/assunto/problema da exposição)
correspondente à introdução; a fase da resolução, correspondente ao corpo do texto,
onde se faz o desenvolvimento do tema ou problema anunciado na fase anterior,
explicando os seus contornos científicos e lógicos e, finalmente, encontra-se a fase da
conclusão, onde se faz a concatenação das ilações que advém da análise do problema,
tema ou assunto abordado ao longo do texto.

No que diz respeito à organização discursiva deste tipo de texto, podemos identificar
três tipos de enunciados:
 Enunciados Expositivos: contendo as informações com as quais o autor do texto
pretende fazer saber, ou seja, transmitir os novos saberes; No texto, estes enunciados
podem ser caracterizados por recurso a formas verbais no presente, pretérito perfeito,
para anunciar actos acabados (a chuva é resultado, o viros atacou o humano;
 Enunciados Explicativos: com os segmentos explicativos, pretende-se fazer
compreender o que se transmite ou foi exposto; No texto, estes enunciados podem ser
caracterizados por recurso a formas verbais no pretérito imperfeito (era, falava-se,
orações explicativas - O senhor, que violou a filha, foi preso, etc.), conectores
explicativos como (isto é, queria dizer, ou por outra),etc.). Uso de termos como
primeiro, segundo, assim como a negação de uma hipótese, uso de formas do imperativo
(observemos que…) ;
 Enunciados Baliza ou meta discursivos: são usados com a finalidade de marcar as
articulações, ao longo do discurso, isto é, anunciar o que vai ser dito (Iremos mostrar,
como se vê a seguir, como se pode ver no quadro abaixo, etc); resumir o que se disse
(Como antes dissemos, como avançámos acima ou anteriormente); sublinhar o que está
sendo dito, com base no sublinhado de palavras, uso de itálico, negrito e outras formas,
ou seja, mas também para estabelecer os nexos de ligação entre as diversas partes do
texto.
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Relativamente às características linguísticas, o Texto Expositivo – Explicativo recorre a


elementos linguísticos para o processo de textura do texto, entre os quais:
 O uso do presente do indicativo, com o valor gnómico (atemporal), uma vez que
se refere a factos que são tidos como verdadeiros por parte de quem os anuncia,
portanto, usa-se este presente para mostrar que se trata de uma verdade que perdura
independentemente do tempo em que ela é dita (A terra gira em torno do sol). Presente
com o valor histórico ou o chamado presente Histórico (Em 1498,Vasco Da Gama
Chega a Moçambique). Uso do Presente para anunciar factos futuros, assim como
formas como Tem de colocar 5 litros de água na mistura, para mostrar a obrigatoriedade
da ocorrência do evento ou acção.
 Emprego da construção passiva como uma estratégia de impessoalizar o discurso
científico. Sendo o texto científico objectivo, o sujeito deve estar afastado do seu
discurso e, isso consegue-se com o recurso à passiva de SE (ex. Define-se, pode se
considerar) e do uso do NÓS do autor (Podemos considerar, a seguir vamos
apresentar – Um autor que fala em nome de uma comunidade científica). O texto
científico é monológico. 849545180
 As nominalizações são usadas para condensar o que foi dito e assegurar a
progressão do texto (Deve-se seguir para o processo de engarrafamento- Esse
processamento (Nominalização)); Entretanto, não se usam os adjectivos valorativos, a
não ser que eles sejam necessariamente exigidos pelo discurso (Isto é bonito, gostamos
deste, etc.).
 As expressões explicativas permitem, ao emissor, tornar mais clara a sua
comunicação e orientam à compreensão do leitor;
 Os conectores discursivos são os elementos que vão assegurar as relações entre as
diversas partes do texto e, neste tipo de textos, os conectores são usados com frequência
e são de natureza lógica. Eles marcam laços de adição, oposições, laços de consecução
ou de causalidade;
 No que diz respeito ao vocabulário, recorre-se a um vocabulário especializado. Isto
quer dizer que se um texto é do ramo de biologia, por exemplo, irá recorrer a expressões
da linguagem técnica que um biólogo deve dominar. Um gestor ou administrador de
uma determinada empresa ou instituição, também deve possuir e dominar um
vocabulário próprio da área que ele administra. O mesmo poder-se-ia dizer
relativamente às outras áreas do saber.
Observe-se que quando se fala de linguagem técnica especializada não se pretende de forma
nenhuma dizer que se deva usar uma linguagem rebuscada e incompreensível, pois
quanto mais compreensível for o texto, mais facilmente ele alcança os objectivos para
os quais foi produzido.

Um pouco de exercício
1-Atenção ao texto abaixo

TEXTO
POLUIÇÃO DAS ÁGUAS
A água é um receptor de detritos: seja através de redes de esgotos, seja por lançamentos
directos, os rios e os mares recebem continuamente fezes, urina, resíduos industriais,
detergentes. Quando esses materiais atingem determinada concentração, poluem a água
e prejudicam os seres que nela vivem ou que dela fazem uso. Podem, por exemplo,
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levarem à morte todos os peixes, moluscos, crustáceos e outros animais, bem como as
plantas que se desenvolvem nesses ambientes.
Primeiro, os materiais orgânicos levados pelos esgotos a um rio ou a um lago contribuem
para a “morte” desses ambientes aquáticos, porque constituem alimento para os
microrganismos que aí vivem. Quando o lançamento de excrementos se faz em larga
escala, há muito alimento para os microrganismos e o número destes aumenta
rapidamente. Como muitos tipos de microrganismos consomem oxigénio na respiração,
a quantidade desse gás, na água, diminui e pode tornar-se insuficiente para a respiração
dos outros seres vivos do ambiente, provocando a sua morte.
Segundo, além dos produtos de excreção, chegam aos rios e mares resíduos industriais que
podem também levá-los à morte, quer a industria esteja próximo ou afastada. Peixes que
passem pelos locais de descargas das indústrias podem morrer imediatamente,
dependendo do tipo de resíduos lançados, como ácidos e substâncias cáusticas, por
exemplo. Analisemos agora numa outra perspectiva: muitas vezes o efeito de um
poluente é cumulativo. Assim, compostos de mercúrio, por exemplo, utilizados na
fabricação de plásticos, podem contaminar os peixes que vivem no local do seu
lançamento. Com a dispersão do poluente, peixes de outras regiões também se
contaminam. Peixes maiores ao ingerirem peixes menores contaminados, acumulam
ainda mais mercúrio nos seus organismos. O efeito cumulativo do mercúrio acentua-se
nas pessoas que se alimentam de peixes contaminados e, dependendo da concentração
desse poluente no organismo, elas podem sofrer distúrbios da fala e da visão, paralisia e
até morte. Como acabamos de referir, todos os materiais lançados aos rios, cedo ou
tarde acabam chegando ao mar. Como o lançamento de poluentes é contínuo, muitas
regiões litorâneas esatão sujeitas à poluição.
Observemos um outro fenómeno: um dos maiores problemas da poluição marítima é o
petróleo que é vazado no mar. Os vazamentos de petróleo em plataformas de perfuração
são frequentes, isto é, navios petroleiros lançam constantemente ao mar a água de
lavagem dos seus tanques, que leva consigo uma quantidade considerável de óleo e não
só, aviões, em certas situações, descarregam sobre o mar parte do seu combustível,
antes de aterrarem. O outro aspecto importante a salientar é o espalhamento: um
poluente lançado numa região, atinge consequentemente outras regiões.
Finalmente, é igualmente importante recordar que existe uma relação contínua entre a água,
o solo e o ar. Assim, por exemplo, poluentes lançados ao ar são levados pela chuva aos
rios e ao solo, mas também poluentes lançados nas águas podem ser levados ao ar, pela
evaporação e ao solo, pela irrigação. Mais ainda, poluentes lançados ao solo podem
chegar aos rios e destes ao mar. Por outras palavras, o processo de poluição é cíclico.
Assim sendo, não adianta controlar apenas a poluição do ar ou do solo e da água. O
controlo deve ser global e é fundamental agir antes que a dispersão dos poluentes se
torne incontrolável. É praticamente impossível retirar os poluentes das águas. Portanto,
a melhor maneira de evitar a grande contaminação é controlar a fonte de lançamento,
onde os poluentes devem ficar retidos.

Revista de Ensino de Ciências № 23, Novembro/1989 (adaptado)

AOS CURSOS DE ISUTE E DA UNIPUNGUE


TÉCNICAS DE EXPRESSAO EM LINGUA PORTUGUESA E COMUNICACAO ORAL E
ESCRITA
2022
arceny05@yahoo.com
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