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AO EXMO. SR.

JUIZ DE DIREITO DA 4ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE RECIFE/PE -


SEÇÃO B

Processo n. 0154631-59.2023.8.17.2001

ROBERT LUCIANO CALDINO, pessoa natural já devidamente qualificada nos autos do


processo em epígrafe movido pelo BANCO BRADESCO S/A, vem à presença de V. Exa., por suas
advogadas ao final assinadas (doc. 01), apresentar CONTESTAÇÃO, a qual requer que seja
apreciado com máxima urgência, uma vez que ao final, existe pedido de tutela de urgência, pelas
razões de fato e direito a seguir expostas.

DA TEMPESTIVIDADE
Em ... foi juntado aos autos o aviso de recebimento referente ao mandado de citação.
Aplicando-se ao presente caso o art. 219 c/c 1.003, §5°, ambos do CPC/2015, tem-se que o prazo
para apresentação de contestação se iniciaria em ... e teria por termo o dia ...., sendo a
tempestividade da presente peça, portanto, inconteste.

DA TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

Cumpre ressaltar que o requerido possui grande parcela de seu prolabore comprometida com
empréstimos e créditos firmados com a instituição requerida, o que tem comprometido o mínimo
existencial, motivo pelo qual está exercendo, por meio da presente, seu direito constitucional de
acesso ao Judiciário para promover a repactuação de dívidas.

Pelo exposto, e por atender os requisitos do art. 54-A conjuntamente com o art. 104-A do
CDC, que delimitam que o consumidor e suas dívidas podem receber o tratamento do
superendividamento (pessoa natural, de boa-fé que tenha contraído dívidas de consumo e que esteja
impossibilitado de pagar suas dívidas sem prejuízo de sua própria subsistência), vale-se das
prerrogativas conferidas pela Lei 14.181 que lhes autoriza requerer a realização de audiência,
visando inicialmente pactuar um acordo com os credores de maneira amigável.
A conciliação pré-processual, segundo o art. 104-A do CDC, poderá ser feita no Judiciário,
especificamente nos núcleos especializados no tratamento do superendividamento, que é o pleito
almejado pelo requerido. Ademais, o requerido já buscou os credores para renegociar suas dívidas,
porém a negociação não restou frutífera, motivo pelo qual busca a repactuação de tais dívidas com o
apoio dos núcleos especializados no tratamento ao superendividamento.

DA REPACTUAÇÃO DE DÍVIDAS
(PROCEDIMENTO DA LEI NÚMERO 14.181/2021-LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO)

De início esclarece que em sua defesa vem formular a utilização da ferramenta a Lei do
Superendividamento, tendo em vista que se trata de pessoa superendividada, nos termos da própria
Lei. Assim sendo, ressalta que o requerido não pretende esquivar-se do pagamento de suas dívidas,
muito pelo contrário, utiliza-se da nova legislação justamente para criar um plano de pagamento e
permanecer adimplente com seus credores.

A situação financeira do requerido enquadra-se na definição legal do superendividamento,


conforme previsão da recente Lei nº 14.181/2021, que acrescentou diversos dispositivos ao Código
de Defesa do Consumidor. O parágrafo § 1º do artigo 54-A do CDC.

Verifica-se o intuito do legislador, ao consagrar tal comando legal, de proteção aos direitos
fundamentais de máxima importância, especialmente ligados à dignidade da pessoa humana. E este é
exatamente o caso o requerido, que se vê na contingência de propor a presente demanda, com o
objetivo de ver repactuadas as suas obrigações com as instituições qualificadas preambularmente e,
assim, readquirir a sua dignidade e reabilitar-se nos mercados de consumo e de crédito.

DA BREVE SÍNTESE DOS FATOS

O requerido, conforme dito anteriormente, é autônomo e recebe cerca de R$9.000,00 (nove


mil reais), em média, e possui com a requerente as seguintes dívidas, em sendo:

(a) Com o credor Banco Bradesco, a dívida cartão de crédito com saldo devedor total de R$
95.996,31, e valor da parcela pagamento à vista R$ 95.996,31.

Ao longo dos anos o requerido foi vendo sua situação financeira cada vez mais
comprometida, tendo que adquirir empréstimos e efetuar pagamento rotativo de cartão de crédito, de
forma indiscriminada, pelas instituições financeiras, o que lhe causou uma verdadeira “bola de
neve”.
Ocorre, Meritíssimo, que com o tempo as parcelas/faturas que antes lhe pareciam
plenamente possíveis de serem pagas mensalmente, passaram a onerar demasiadamente sua vida
financeira, de modo que estão prejudicando o sustento próprio e da família, em razão da grande
incidência de juros e demais encargos abusivos.

Tal situação resultou na condição de superendividamento pela requerente, que, nos termos
do artigo 54-A do CDC, compreende na impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural,
de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer
seu mínimo existencial.

O requerido está tendo dificuldade para prover alimento a sua família. Requer com esta
demanda a limitação de que a(s) dívida(s) possam ser pagas até o percentual máximo de 35% da
renda do requerido, independentemente de tais descontos serem feitos na folha de pagamento ou na
conta corrente, vez que os ganhos do autor possuem natureza alimentar.

Somadas, as dívidas hoje consomem mais de 1066.63% dos rendimentos líquidos mensais
do consumidor, conforme planilha em anexo (DOC.O2), de modo que a quantia que lhe sobra é de é
insuficiente para arcar com suas despesas mensais. Estando este claramente em situação de
superendividamento.

A situação do reqeurido está completamente insustentável, pois todo valor que entra em sua
conta é destinado a cobrir parcialmente o “rombo” em seu limite, além de custear precariamente os
gastos para a sua subsistência, de modo que sempre segue para o mês seguinte com mais dívidas que
o anterior, configurando a famosa “bola de neve” da qual os consumidores endividados não
conseguem escapar.

Tendo por demaisadas vezes procurado o requente para renegociar tais dívidas
administrativamente, porém o banco não lhe ofereceu uma solução eficiente, apenas uma
renegociação das dívidas que já possuíam, com juros abusivos, pelo que não foi aceita pelo
requerido. Portanto, é necessária a presente demanda.

DA LIMITAÇÃO OBRIGATORIA DE 100% DA COBRANÇA DOS JUROS AO VALOR DA


DÍVIDA.
APLICABILIDADE DA LEI 14.690/23

Como é cediço por este ínclito julgador e por esta administradora de cartão de crédito, a
partir de janeiro de 2024 a dívida total (com juros) de quem atrasa a fatura do cartão não poderá
ultrapassar o dobro do valor original.

Para esta operação verifica-se que os extratos bancários trazem em seu contrato os
percentuais de 461% a.a, conforme pode se verificar no extrato abaixo, contando, ainda, em caso de
inadimplência com os juros cumulativos, o que se verifica ser muito além do informado pelo índice
Bacen.

Percebesse que o contrato realizado e firmado, atribuiu uma taxa de juros remuneratórios
impostos ao consumidor, atingindo o patamar 14,99 % a.m. e 434,47 % a.a, ultrapassando a taxa
média de juros remuneratórios do mercado financeiro, para determinada operação, à época da
assinatura do contrato entre as partes, conforme o Bacen. Sendo, portanto, contrato abusivo segundo
entendimento do Resp. 1.061.530/RS.
Além dos juros absurdos que ocasionaram o endividamento, novos encargos, sob as mais
variadas nomenclaturas, eram lançados, que acabavam por comprovar o atuar abusivo contrário à
boa-fé objetiva assumido pela Requerente.

Em pouco tempo, os valores se tornaram impossíveis de serem pagos, e, sem nem mesmo
executar, pois era o que deveria ter feito assim eu houve o inadimplemento, pelo menos o débito
teria se estancado em valores possíveis de serem pagos, mas não. Isto não interessa à Requerente, a
qual tem por finalidade o máximo de tempo, pois os valores se multiplicam geometricamente, se não
bastasse isso, colocou o nome do Requerido no cadastro de inadimplentes.

Ocorre que o contrato não observou os princípios de prevenção e tratamento do


superendividamento previsto na lei n. 14.181/2021.

É exatamente por isso que a dívida se tornou cada vez mais impossível de ser honrada, onde,
além disso, é imprescindível ressaltar as questões abusivas elencadas no contrato, gerando números
nada condizem com a realidade.

Portanto, devendo, neste caso haver uma perícia contábil para trazer os valores reais, com a
devida limitação DE 100% da cobrança dos juros ao valor da dívida. Trazendo aplicabilidade da lei
14.690/23 para o presente caso.

DA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA.


DO CONSUMIDOR E DA INVERSÃO DO ÔNUS DE PROVA

Inicialmente, necessário ressaltar que há, na espécie, inequívoca relação consumerista entre
as partes litigantes, estas se amoldam com perfeição aos conceitos legais de consumidor e
fornecedor, nos termos dos arts. 2º e 3º, do CDC. Ademais, a relação estabelecida se enquadra na
conceituação de relação de consumo e justamente o CDC, com as alterações advindas da Lei nº.
14.181/2021, a coibir excessos.

A Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça, dispõe:

Súmula 297 STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.


Trata-se da materialização exata do Princípio da Isonomia, segundo o qual, todos devem ser
tratados de forma igual perante a lei, observados os limites de sua desigualdade, sendo
devido a inversão do ônus da prova.
Dito isso, imprescindível é a inversão do ônus probatório, conforme dispõe o art. 6º, VIII,
do CDC, in verbis:

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor: (...)


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

A inversão do ônus da prova em favor do consumidor, está alicerçada na aplicação do


princípio constitucional da isonomia, “pois o consumidor, como parte reconhecidamente mais fraca e
vulnerável na relação de consumo (CDC, art. 4º, I), tem de ser tratado de forma diferente, a fim de
que seja alcançada a igualdade real entre os partícipes da relação de consumo. O inciso comentado
amolda-se perfeitamente ao princípio constitucional da isonomia, na medida em que trata
desigualmente os desiguais, desigualdade essa reconhecida pela própria lei.”

Desta feita, requer-se, desde já, o deferimento da inversão do ônus da prova, com fulcro no
art. 6º, VIII do CDC.

DA NECESSÁRIA APLICAÇÃO DA LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO – LIMITAÇÃO A


30% DOS RENDIMENTOS LÍQUIDOS DO REQUERIDO, PARA GARANTIA DA DIGNIDADE
DA PESSOA HUMANA

Conforme claramente denota-se dos documentos anexos, comprovante dos débitos e crédito,
em especial o cálculo apresentado, ainda que o requerido tenha assinado o(s) contrato(s) em total
autonomia, é de se presumir que o percentual de comprometimento da sua renda conduz a uma
lógica de que a sua até então autonomia é cessada, tendo em vista o superendividamento.

Essa situação conduz o consumidor a contratos e repactuações com objetivo de honrar suas
obrigações, mas ao mesmo tempo o afundando cada vez mais num mar de dívidas sem fim. A
situação que ora se apresenta não pode ser analisada apenas sob o prisma da legalidade dos
empréstimos tomados e corretamente descontados.

É necessário que seja considerado o fato de que a dignidade da pessoa humana, um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil insculpidos no art. 1º da Constituição Federal, deve
ser observado e, respeitado, acima de tudo. A soma de todos os valores do financiamento
compromete mais de 1066.63% dos rendimentos líquidos do requerido:

RENDA MENSAL MÍNIMO EXISTENCIAL ORÇAMENTO DISPONÍVEL


R$ 9.000,00 R$ 5.850,00 (65%) R$ 3.150,00 (35%)

Portanto, é claro que com o valor de seus vencimentos líquidos, o requerido não consegue
pagar os valores das dívidas mensais e sobreviver, pagando as despesas necessárias ao seu mínimo
existencial, estando claramente agredida sua dignidade.

Essa realidade do chamado "superendividamento", que é a de milhões de pessoas, motivou a


Lei 14.181 que modificou o Código de Defesa do Consumidor, para aperfeiçoar a disciplina do
crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento.

Essa lei acrescentou ao Código de Defesa do Consumidor, entre outros, o art. 54-A que, em
seu § 1º, conceitua o "superendividamento":

Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa


natural, sobre o crédito responsável e sobre a educação financeira do consumidor.
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor
pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e
vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação.
(...)

Como se depreende do parágrafo primeiro acima transcrito, o ponto central do conceito é a garantia
da preservação do mínimo existencial da pessoa natural, que também foi introduzido pela Lei
14.181/21 como "novo direito básico do consumidor" no art. 6º, XII do CDC.

Sobre o "mínimo existencial", o artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos


(ONU, 1948) dispõe:

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família
saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os
serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em
circunstâncias fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as
crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Nesse passo, sem o mínimo de qualidade de vida a permitir o consumidor viver com
dignidade, tendo a oportunidade de exercer a sua liberdade no meio social, não há como assegurar
dignidade à pessoa humana.
A Lei nº. 14.181/21 garante ao consumidor superendividado, na forma do § único do art. 54-
D, “a dilação do prazo de pagamento previsto no contrato original”, o que refere uma interpretação
integrativa da norma do inciso V do art. 6 do CDC.

O § único do art. 54-D do CDC:


“O descumprimento de qualquer dos deveres previstos no caput deste artigo e nos arts. 52 e
54-C deste Código poderá acarretar judicialmente a redução dos juros, dos encargos ou de
qualquer acréscimo ao principal e a dilação do prazo de pagamento previsto no contrato
original, conforme a gravidade da conduta do fornecedor e as possibilidades financeiras do
consumidor, sem prejuízo de outras sanções e de indenização por perdas e danos,
patrimoniais e morais, ao consumidor.”

O art. 6º do CDC:
CDC, art. 6º: “São direitos básicos do consumidor: (...)
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou
sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;”

Por analogia necessário fazer um diálogo entre a Lei nº. 10.820/2003, que dispõe sobre a
autorização para desconto de prestações em folha de pagamento e dá outras providências, com a Lei
do Superendividamento, estabelecendo um limite máximo de 30% aos descontos nos vencimentos de
consumidores.

Lei 10820/03: “Art. 6º Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do Regime


Geral de Previdência Social poderão autorizar o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS a
proceder aos descontos referidos no art. 1º desta Lei, bem como autorizar, de forma irrevogável e
irretratável, que a instituição financeira na qual recebam seus benefícios retenha, para fins de
amortização, valores referentes ao pagamento mensal de empréstimos, financiamentos e operações
de arrendamento mercantil por ela concedidos, quando previstos em contrato, nas condições
estabelecidas em regulamento, observadas as normas editadas pelo INSS. (...)

§ 5º Os descontos e as retenções mencionados no caput deste artigo não poderão ultrapassar


o limite de 30% (trinta por cento) do valor dos benefícios.”

Corroborando com o pedido de limitação financeira, em razão do superendividamento,


temos os seguintes precedentes dos Tribunais Estaduais:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – "AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER – LIMITAÇÃO


DE DESCONTOS EM CONTRATOS" – Decisão que concede antecipação dos efeitos da
tutela de urgência, para determinar que o réu limite às cobranças dos empréstimos,
contratados pelo autor, a valores que não ultrapassem o limite de 30% dos seus
vencimentos, sob pena de fixação de multa diária – Superendividamento caracterizado (art.
54-A, § 1º, da Lei 14.181/2021)- Necessidade de preservação da dignidade da pessoa
humana ( CF, art. 1º, III) e da proteção à natureza alimentar e ao salário ( CF, art. 7º, IV e
X)- Preenchidos os requisitos autorizadores da concessão da tutela de urgência (art. 300, do
CPC)- Decisão mantida - RECURSO DESPROVIDO;

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DO CONSUMIDOR. LEI DO


SUPERENDIVIDAMENTO. EMPRÉSTIMOS. CONSIGNADO EM FOLHA DE
PAGAMENTO E DÉBITO EM CONTA CORRENTE. LIMITAÇÃO. OBSERVÂNCIA
DO LIMITE DE 30% APENAS AOS CONSIGNADOS. ILEGALIDADE. GARANTIA
DO MÍNIMO EXISTENCIAL E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. CRÉDITO
RESPONSÁVEL. CORRESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
RECURSO PROVIDO. 1. A recente Lei nº 14.181/2021 (Lei do Superendividamento), que
atualiza o Código de Defesa do Consumidor, possui, entre outros objetivos, o propósito de
proteger consumidores que se encontram em situação de superendividamento. A sua
aplicação a contratos celebrados antes do início de sua vigência não significa
necessariamente retroatividade da lei. A maioria dos seus dispositivos apenas descreve e
detalha deveres que decorrem do princípio da boa-fé objetiva (informação, transparência,
cuidado etc.). Em outras palavras, a lei ganha caráter didático ao explicitar o que a doutrina
e jurisprudência há muito exigem na contratação de crédito, particularmente no momento
pré-contratual. 2. Com o advento da referida norma legal, houve o acréscimo dos incisos XI
e XII ao art. 6º do Código de Defesa do Consumidor, os quais preveem como direitos
básicos do consumidor, dentre outros, a garantia de práticas de crédito responsável e a
preservação do mínimo existencial. 3. O crédito responsável é a concessão de empréstimo
em contexto de informações claras, completas e adequadas sobre todas as características e
riscos do contrato. A noção de crédito responsável decorre do princípio da boa-fé objetiva e
de seus consectários relacionados à lealdade e transparência, ao dever de informar, ao dever
de cuidado e, até mesmo, ao dever de aconselhamento ao consumidor. 4. Constitui dever do
agente financeiro, na fase pré-contratual, analisar a situação econômica do consumidor, seu
perfil, suas necessidades e, dentre as inúmeras modalidades de crédito disponíveis, sugerir -
se for o caso - a contratação do empréstimo que está mais adequado ao momento, aos
propósitos, necessidades e possibilidades orçamentárias do consumidor. 5. No presente caso,
constata-se que a soma dos descontos dos empréstimos consignados em folha de pagamento
e aqueles realizados diretamente em conta corrente comprometem integralmente a renda do
agravante. A limitação de 30% (trinta por cento) do valor líquido creditado na conta
bancária é medida que se impõe para preservação do mínimo existencial. 6. Recurso
conhecido e provido. (TJ-DF 07364128220218070000 DF 0736412-82.2021.8.07.0000,
Relator: LEONARDO ROSCOE BESSA, Data de Julgamento: 02/02/2022, 6ª Turma Cível,
Data de Publicação: Publicado no DJE : 21/02/2022 . Pág.: Sem Página Cadastrada.) (grifos
nossos)

Considerando o caráter alimentar dos vencimentos (CF, art. 7º, IV e X) e os princípios da


razoabilidade e dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), mostram-se excessivos tais descontos,
na forma como vêm sendo realizados, e por isso busca o Autor a limitação de tais para 35% dos seus
rendimentos líquidos mensais, para assegurar tanto o adimplemento da dívida quanto o sustento
próprio do consumidor e sua família.

Ora, não precisa que seja realizada uma análise profunda, para que seja observado
que os contratos aqui rebatidos, ultrapassam e muito os 100% do valor da dívida. Como se
sabe, o Conselho Monetário fixou limite de até 100% da dívida para cobrança de juros, no
máximo, o dobro do valor original do débito deixado em aberto. O que no presente caso,
notoriamente não foi aplicado até os dias atuais.

Ainda, não é permitido pela legislação descontar acima de 30% do salário, mesmo em
caso de vários contratos de empréstimos pessoais.

Portanto, todo contrato firmado com o consumidor deve ser analisado sob a ótica de
proteção do vulnerável e suscetível o endividamento.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já se posicionou no mesmo sentido em


inúmeros precedentes, como podemos observar:

APELAÇÃO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. SUPERENDIVIDAMENTO. LIMITAÇÃO DE


DESCONTOS DE EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS, EM CONTA-CORRENTE E
CARTÃO DE CRÉDITO. DÉBITOS QUE COMPROMETEM MAIS DE 70% DOS
PROVENTOS DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DE PESSOA VULNERÁVEL
(IDOSA). MANUTENÇÃO DO MÍNIMO EXISTENCIAL. DESCONTOS DOS
EMPRÉSTIMOS QUE NÃO PODEM SUPERAR 30% DOS PROVENTOS LÍQUIDOS
DA AUTORA, MANTIDA A POSSIBILIDADE DE COMPROMETIMENTO DE MAIS
5%, SOMENTE EM RELAÇÃO AO CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.
OBSERVÂNCIA DE TAIS LIMITES PELO INSS, QUE PROMOVE O DESCONTO NA
FOLHA DE PAGAMENTO. REVOGAÇÃO DA AUTORIZAÇÃO DE DÉBITO EM
CONTA-CORRENTE DA AUTORA, RELATIVAMENTE AO MÚTUO FIRMADO COM
O CORRÉU BANCO MERCANTIL DO BRASIL. DISCIPLINA DO DECAIMENTO
RECÍPROCO DAS PARTES. – RECURSO PROVIDO EM PARTE. (TJSP; Apelação
Cível 1003023- 74.2019.8.26.0032; Relator (a): Edgard Rosa; Órgão Julgador: 22ª Câmara
de Direito Privado; Foro de Araçatuba – 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 21/02/2020;
Data de Registro: 21/02/2020) (grifo nosso).

O Tribunal do Rio Grande do Sul, igualmente possui sedimento entendimento da seguinte


forma:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS.


AÇÃO DE REPACTUAÇÃO DE DÍVIDAS. TUTELA DE URGÊNCIA DEFERIDA.
LIMITAÇÃO DE DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO E VEDAÇÃO DE
INSCRIÇÃO DO NOME DA AUTORA NOS CADASTROS DE INADIMPLENTES.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ARTIGO 300 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. ASTREINTES. VALOR ARBITRADO NÃO EXCESSIVO.
DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. PARA A CONCESSÃO DA TUTELA DE
URGÊNCIA DEVEM ESTAR PRESENTES OS REQUISITOS INSCULPIDOS NO ART.
300 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, QUAIS SEJAM, A PROBABILIDADE DO
DIREITO ALEGADO E O PERIGO DE DANO OU O RISCO AO RESULTADO ÚTIL
DO PROCESSO. OS DESCONTOS DE EMPRÉSTIMOS NA FOLHA DE PAGAMENTO
SÃO LIMITADOS EM RAZÃO DA NATUREZA ALIMENTAR DOS VENCIMENTOS
E DO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. EM SUMA, SÃO PERMITIDOS OS
DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO, DESDE QUE OBSERVADO O LIMITE
DE 30% DOS VENCIMENTOS BRUTOS, APÓS DEDUÇÃO DOS DESCONTOS
OBRIGATÓRIOS. HIPÓTESE DOS AUTOS EM QUE OS DESCONTOS
CONSIGNADOS NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA AUTORA SUPERAM O
LIMITE DE 30%, RAZÃO PELA QUAL VAI MANTIDA A DECISÃO QUE DEFERIU A
TUTELA DE URGÊNCIA PARA DETERMINAR A SUA LIMITAÇÃO. A MULTA
ESTABELECIDA PARA O CASO DE DESCUMPRIMENTO DO DECISUM TEM O
OBJETIVO DE IMPOR, DESDE LOGO, PENALIDADE AO INFRATOR E
COMPENSAÇÃO ÀQUELE A QUEM BENEFICIAR A ASTREINTE, MAS NÃO DEVE
EXCEDER O PRINCIPAL. HIPÓTESE DOS AUTOS EM QUE O VALOR FIXADO A
TÍTULO DE ASTREINTES RESPEITOU OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE
CONHECIDO E DESPROVIDO, COM BASE NO ARTIGO 932, IV E VIII, DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL E ARTIGO 206, XXXVI, DO REGIMENTO INTERNO DO TJRS.
(Agravo de Instrumento, Nº 52524775220228217000, Décima Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em: 14-01-2023) (grifo
nosso)

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS.


AÇÃO REVISIONAL. PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. DETERMINAÇÃO
DE EMENDA À INICIAL. EMPRÉSTIMOS PESSOAIS CONSIGNADOS PARA
TRABALHADORES DO SETOR PÚBLICO E NÃO CONSIGNADOS. DESCONTOS DE
EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS NA FOLHA DE PAGAMENTO E NÃO
CONSIGNADOS NA CONTACORRENTE BANCÁRIA DA CONSUMIDOR
SUPERENDIVIDADA. SITUAÇÃO DE SUPERENDIVIDAMENTO
CARACTERIZADA. 1. NO CASO, AO POSTERGAR O EXAME DO PEDIDO DE
TUTELA DE URGÊNCIA PARA MOMENTO POSTERIOR À JUNTADA AOS AUTOS
DOS CONTRATOS REVISANDOS E DE EMENDA À INICIAL, FICOU
CARACTERIZADA CARGA DE LESIVIDADE AOS INTERESSES DA PARTE
AUTORA, LEGITIMANDO A INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO E
A APRECIAÇÃO DO PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA PELO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA, NO CASO CONCRETO, MANTIDAS AS DEMAIS DETERMINAÇÕES
PROCEDIMENTAIS CONTIDAS NA DECISÃO RECORRIDA. 2. MARGEM
CONSIGNÁVEL EM FOLHA DE PAGAMENTO DE SERVIDORA PÚBLICA
ESTADUAL. SITUAÇÃO DE SUPERENDIVIDAMENTO. A PESSOA NATURAL
SUPERENDIVIDADA É AQUELA CUJA RENDA MENSAL ESTÁ SEVERAMENTE
COMPROMETIDA, A PONTO DE PERDER A CAPACIDADE DE PAGAR AS SUAS
DÍVIDAS, COLOCANDO EM RISCO A SUA PRÓPRIA SUBSISTÊNCIA E A DE SUA
FAMÍLIA. 3. PROCEDIMENTALIZADOS, NA FORMA DA LEI, OS DESCONTOS
MENSAIS CONSIGNADOS NA FOLHA DE PAGAMENTO DE SERVIDORA
PÚBLICA ESTADUAL SUPERENDIVIDADA, A JURISPRUDÊNCIA DO STJ E DO
TJRS SINALIZAM A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA GARANTIA DO
MÍNIMO EXISTENCIAL DO DEVEDOR SUPERENDIVIDADO À SUA
SUBSISTÊNCIA PRÓPRIA. 4. NA ESPÉCIE, OS DESCONTOS MENSAIS DE TODOS
OS EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS E NÃO CONSIGNADOS DEVIDOS PELA
SERVIDORA PÚBLICA ESTADUAL SUPERENDIVIDADA CONSOMEM QUASE
QUE A INTEGRALIDADE DA SUA REMUNERAÇÃO MENSAL LÍQUIDA,
COMPROMETENDO A SUA DIGNIDADE E SUBSISTÊNCIA PESSOAL E
VEDANDO-LHE O ACESSO A VALORES INDISPENSÁVEIS À SUA
SOBREVIVÊNCIA. LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS CONSIGNADOS EM FOLHA DE
PAGAMENTO E LANÇAMENTOS A DÉBITO DIRETO DE EMPRÉSTIMOS NÃO
CONSIGNADOS NA CONTA-CORRENTE DA AUTORA-AGRAVANTE A 30% DA
SUA REMUNERAÇÃO MENSAL LÍQUIDA, RESPECTIVAMENTE. 5. NO CASO
CONCRETO, PORTANTO, IMPENDE DEFERIR EM PARTE O PEDIDO DE TUTELA
DE URGÊNCIA, PARA DETERMINAR A LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS EM
FOLHA DE PAGAMENTO A 30% DA REMUNERAÇÃO MENSAL LÍQUIDA DA
AUTORA, BEM ASSIM LIMITAR OS DESCONTOS CONTRATUAIS MENSAIS
LANÇADOS A DÉBITO NA CONTA-CORRENTE DA AUTORA-AGRAVANTE A 30%
DA SUA REMUNERAÇÃO LÍQUIDA. PRECEDENTES DO STJ E DO TJRS. 6.
AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO DE PLANO, COM
FUNDAMENTO NO ART. 932, INC. VIII, DO CPC, COMBINADO COM O ART. 206,
INC. XXXVI, DO RITJRS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.M/AI 5.356 - JM
16.12.2022(Agravo de Instrumento, Nº 52533436020228217000, Décima Primeira Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Aymoré Roque Pottes de Mello, Julgado em: 16-
12-2022) (grifo nosso).

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS.


AÇÃO DECLARATÓRIA. TUTELA DE URGÊNCIA DEFERIDA. LIMITAÇÃO DE
DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ARTIGO 300 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. I. PARA CONCESSÃO DA
TUTELA DE URGÊNCIA DEVEM ESTAR PRESENTES OS REQUISITOS
INSCULPIDOS NO ART. 300 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, QUAIS SEJAM, A
PROBABILIDADE DO DIREITO ALEGADO E O PERIGO DE DANO OU O RISCO AO
RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO. II. OS DESCONTOS DE EMPRÉSTIMOS NA
FOLHA DE PAGAMENTO SÃO LIMITADOS EM RAZÃO DA NATUREZA
ALIMENTAR DOS VENCIMENTOS E DO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. EM
SUMA, SÃO PERMITIDOS OS DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO, DESDE
QUE OBSERVADO O LIMITE DE 30% DOS VENCIMENTOS BRUTOS, APÓS
DEDUÇÃO DOS DESCONTOS OBRIGATÓRIOS. III. NO CASO, VERIFICADA A
IRREGULARIDADE PERPETRADA PELAS RÉS AO PROCEDEREM DESCONTOS
EM PERCENTUAL ACIMA DO LEGALMENTE PERMITIDO, VAI MANTIDA A
DECISÃO QUE DEFERIU PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA PARA LIMITAR OS
DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESPROVIDO, COM BASE NO ARTIGO 932, IV E VIII, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL E ARTIGO 206, XXXVI, DO REGIMENTO INTERNO DO TJRS.(Agravo de
Instrumento, Nº 52071152720228217000, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em: 11-11-2022) (grifo nosso).
DA EXIBIÇÃO DOS CONTRATOS E DO PLANO DE PAGAMENTO

Inicialmente, vale mencionar que a parte requerida não detém as vias de todos os contratos
celebrados com a instituição financeira demandante, tampouco o valor atualizado das dívidas para
quitação. No entanto, tais documentos são fundamentais até mesmo para que se conclua a proposta
de plano de pagamento a ser apresentada por ocasião da audiência de conciliação prevista neste
procedimento.

Dessa forma, desde já se requer sejam os demandados intimados a apresentar todos os


contratos em aberto com o cliente bem como o valor atualizado de cada débito para quitação das
dívidas, para que dessa maneira a requerente tenha conhecimento do montante total devido. Tal
pedido encontra guarida no art. 396 e seguintes do CPC, sob as consequências do art. 400 do mesmo
diploma legal, bem como já foi objeto de definição do TEMA 411, em repetitivo junto ao STJ:

TESE FIRMADA: É cabível a inversão do ônus da prova em favor do consumidor para o


fim de determinar às instituições financeiras a exibição de extratos bancários, enquanto não
estiver prescrita a eventual ação sobre eles, tratando- se de obrigação decorrente de lei e de
integração contratual compulsória, não sujeita à recusa ou condicionantes, tais como o
adiantamento dos custos da operação pelo correntista e a prévia recusa administrativa da
instituição financeira em exibir os documentos, com a ressalva de que ao correntista, autor
da ação, incumbe a demonstração da plausibilidade da relação jurídica alegada, com indícios
mínimos capazes de comprovar a existência da contratação, devendo, ainda, especificar, de
modo preciso, os períodos em que pretenda ver exibidos os extratos.

Dessa forma, postula-se que conste da intimação que a exibição se dê com prazo mínimo de
15 dias antes da audiência de conciliação. Assim, a parte requerente terá tempo hábil para concluir a
sua proposta de plano de pagamento aos documentos que vierem a ser exibidos.

DA POSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS

A possibilidade de limitação dos juros remuneratórios, quando há abusividade comprovada


já é assentada na jurisprudência nacional, a partir do posicionamento do Superior Tribunal de Justiça
no julgamento do Resp. 1.061.530/RS, sob o rito dos recursos repetitivos, conforme disposto na
“alínea d”, da orientação do referido julgado sobre juros remuneratórios.

A partir da respectiva perspectiva de admissão da revisão da taxa de juros remuneratórios,


em situações de abusividade, têm-se tanto o Superior Tribunal de Justiça, como os demais Tribunais
em território nacional passaram a valer-se da taxa média divulgada pelo Banco Central (Bacen) para
averiguar possíveis abusos das Instituições Financeiras.

Ou seja, a celebração de taxas de juros remuneratórios em discrepância com a taxa média do


mercado financeiro, segundo dados do Banco Central do Brasil, configura prática abusiva e enseja a
possibilidade de readequação dos respectivos índices. Conforme manifestação do STJ no julgamento
do Resp. 1.061.530/RS.

Ou seja, percebe-se que taxas de juros remuneratórios que estejam “uma vez e meia”
acima da taxa média, segundo o Bacen, para a mesma operação, à época da celebração do
contrato, são consideradas abusivas, ensejando a revisão contratual e, consequentemente, sua
limitação ao índice divulgado pelo Banco Central.

Logo, os demais Tribunais Pátrios vêm adotando o respectivo parâmetro, qual seja, que
taxas de juros que discrepem uma vez e meia em relação à média do mercado, segundo o Bacen,
estão em patamar de abusividade, sendo hipótese onde é cabível a revisão contratual e a consequente
limitação dos juris remuneratórios. Vejamos:.

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL DE


JUROS. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO PESSOAL. PRETENSÃO REVISIONAL.
ALEGAÇÃO DE ABUSIVIDADES NAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS. PRELIMINAR
CONTRARRECURSAL DE NÃO CONHECIMENTO DO APELO. [...] JUROS
REMUNERATÓRIOS. Mostra-se possível a limitação dos juros remuneratórios praticados
quando esses excederem a uma vez e meia a taxa média de mercado divulgada pelo Banco
Central do Brasil. No caso concreto, os percentuais estipulados ultrapassam um vez e meia
às médias de mercado estipuladas para o mesmo período e modalidade de contrato, devem
readequadas as taxas de juros remuneratórios contratadas, de acordo com as médias
divulgadas pelo Banco Central do Brasil. [...] DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. Nos
termos da Súmula n. 380 do Superior Tribunal de Justiça, o simples ajuizamento de ação
revisional não é o bastante para impedir a constituição do devedor em mora, havendo a
necessidade de avaliar-se a existência de abusividade nos encargos do período de
normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização dos juros). Na situação
concreta, em decorrência da revisão das taxas dos juros remuneratórios previstos no contrato
revisando, afasta-se a mora da devedora, não sendo possível a incidência de encargos
moratórios até a apuração dos valores realmente devidos ao Banco credor.
COMPENSAÇÃO E REPETIÇÃO DE INDÉBITO. Cabível a compensação dos valores
eventualmente pagos a maior e a repetição simples do que exceder à dívida, como forma de
evitar o enriquecimento indevido da instituição financeira ré. PRELIMINAR
CONTRARRECURSAL AFASTADA. APELO PARCIALMENTE PROVIDO.(Apelação
Cível, Nº 70083411496, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Ana Lúcia Carvalho Pinto Vieira Rebout, Julgado em: 23-07-2020)

AÇÃO REVISIONAL – CONTRATO BANCÁRIO DE FINANCIAMENTO DE


VEÍCULO – Sentença de parcial procedência – Insurgências do Autor e Réu – Aplicação do
Código de Defesa do Consumidor que não veda o princípio da 'pacta sunt servanda' –
Capitalização de juros - Possibilidade da capitalização contratada, já que a avença foi
celebrada sob o crivo de legislação que permite tal prática – Inocorrência de qualquer ofensa
à legislação consumerista – Tabela Price - Licitude na sua aplicação que prevê o pagamento
dos juros na parcela mensal, não havendo, com sua aplicação, capitalização de juros –
Comissão de permanência que não incidiu no contrato em questão - Seguro de proteção
financeira – Nos contratos bancários, o consumidor não pode ser compelido a contratar
seguro – Configuração de venda casada – Entendimento do E. STJ consolidado no
julgamento do REsp nº 1.639.259/SP, sob o rito dos recursos repetitivos - Nos termos da
orientação jurisprudencial do STJ, não será considerada abusiva a taxa dos juros
remuneratórios contratada quando ela for até uma vez e meia superior à taxa de juros média
praticada pelo mercado, divulgada pelo Banco Central do Brasil, para o tipo específico de
contrato, na época de sua celebração – Autor que comprovou que a taxa contratada no
empréstimo supera em uma vez e meia a taxa média mercado - Sentença reforma em parte –
Apelo do autor parcialmente provido e desprovido o apelo do réu.(TJSP; Apelação Cível
1005477-95.2019.8.26.0268; Relator (a): Jacob Valente; Órgão Julgador: 12ª Câmara de
Direito Privado; Foro de Itapecerica da Serra - 3ª Vara; Data do Julgamento: 12/11/2020;
Data de Registro: 12/11/2020)

Apelação cível. Ação revisional de cláusulas contratuais. Empréstimo pessoal consignado.


Apelo interposto pela instituição financeira condenada a conformar a cobrança dos juros às
taxas médias cobradas pelas instituições financeiras segundo divulgado pelo BACEN.
Cobrança de juros remuneratórios muito acima da taxa média cobrada em contratos
similares. Jurisprudência que estabeleceu ser abusiva a cobrança de juros que ultrapassem
uma vez e meia a média do mercado. Alteração da base de cálculo dos honorários
advocatícios. Prevalência do critério do proveito econômico. Inteligência do §2º do art. 85
CPC/15. Precedentes do STJ. Apelo parcialmente provido. (Apelação Cível nº: 0015833-
64.2016.8.19.0205, Quinta Câmara Cível, TJRJ, Relator: Des. Cristina Tereza Gaulia,
julgado em: 10-03-2020).

APELAÇÃO CÍVEL - REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO - CÓDIGO DE


DEFESA DO CONSUMIDOR - APLICABILIDADE - JUROS REMUNERATÓRIOS -
ABUSIVIDADE - CONSTATAÇÃO - MÉDIA DE MERCADO - COBRANÇA EM
PERCENTUAL SUPERIOR A UMA VEZ E MEIA - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE
JUROS - VIABILIDADE - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - NÃO INCIDÊNCIA -
REPETIÇÃO DO INDÉBITO - MÁ-FÉ NÃO COMPROVADA. São aplicáveis aos
contratos bancários celebrados com instituições financeiras as regras do Código de Defesa
do Consumidor para afastar as eventuais cláusulas abusivas. Constatada a cobrança de juros
remuneratórios em percentual que superam em uma vez e meia a média praticada no
mercado à época da celebração do contrato, impõe-se a sua limitação. É viável a
capitalização mensal de juros nos contratos posteriores a 31/03/2000, desde que haja
previsão expressa, comumente representada pela estipulação da taxa de juros remuneratórios
anual em percentual superior ao duodécuplo da mensal. Não havendo previsão no contrato
de comissão de permanência e não tendo o autor comprovado a incidência de tal encargo,
não há que se falar em abusividade. A repetição em dobro dos valores efetivamente
cobrados a maior depende de prova da má-fé por parte do credor (Apelação Cível n°
1.0000.20.545236-0/001, 10 Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais,
Relator: Des.(a) Jaqueline Calábria Albuquerque, Data do Julgamento: 05/11/2020 Data da
Publicação: 18/11/2020)

É importante destacar que a taxa de juros remuneratórios estabelecidos no contrato


celebrado entre as partes é 0,13% maior que a taxa média do mercado, o que indica, conforme
jurisprudência pacificada do Superior Tribunal de Justiça, bem como nos demais Tribunais
Brasileiros a presença de elemento que justifica a revisão contratual.

Pois bem, Vossa Excelência, o presente contrato celebrado entre as partes apresenta a taxa
nominal de juros estipulada da seguinte forma: 14,99 % ao mês e 434,47 % ao ano. Uma rápida
consulta ao site do Bacen, nos permite auferir que a taxa média do mercado financeiro, para a
mesma operação, a época da celebração do contrato, era de 14,97 % a.m. e 433,33 % a.a.

Logo, um simples cálculo matemático nos permite auferir que a taxa celebrada entre as
partes, excede a tolerância de 50% acima da taxa média, estabelecida pelo Superior Tribunal de
Justiça, como parâmetro para determinar a abusividade da taxa de juros remuneratórios.
Portanto, o banco impôs a parte autora uma taxa de juros remuneratória em patamar abusivo,
incorrendo em flagrante ilegalidade, conforme entendimento já consolidado na jurisprudência das
mais variadas Cortes Jurídicas do país.

DA DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA

A possibilidade de descaracterização da mora, quando há abusividade contratual


comprovada é assentada e pacificada na jurisprudência nacional, a partir do posicionamento do
Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Resp. 1.061.530/RS, sob o rito dos recursos
repetitivos, conforme disposto na “alínea a”, da orientação do referido julgado sobre mora.

Ademais, com o passar dos últimos anos a jurisprudência dos Tribunais reconheceu que a
descaracterização da mora implica na impossibilidade de que qualquer um dos seus efeitos incidam
sobre o devedor, sejam eles: a cobrança de multa contratual, a incidência de juros moratórios e até
mesmo a inclusão do nome do devedor em cadastro de inadimplentes.

Ou seja, caso comprovado mediante os autos a existência de clausula contratual abusiva, em


decorrência da taxa de juros remuneratórios em patamar ilegal, ou de capitalização de juros não
expressamente pactuada, têm-se que a mora e seus efeitos legais serão completamente afastados pelo
juízo.
Nesse caso, a jurisprudência dos principais Tribunais é pacífica no respectivo sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE CRÉDITO. AÇÃO REVISIONAL.


JUROS REMUNERATÓRIOS. MORA DESCARACTERIZADA. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO. Juros remuneratórios. Possível a revisão contratual na hipótese de os juros
remuneratórios exorbitarem a taxa média de mercado. Situação ocorrida nos autos, em que a
taxa aplicada é superior à taxa média publicada pelo BACEN. Afastamento da mora e
inscrição nos cadastros de devedores. Afastada a mora contratual não cabe a inscrição em
cadastro de inadimplentes, ou outros atos tendentes à cobrança do débito. Compensação.
Repetição de indébito. Devem ser devolvidos ou compensados, de forma simples, os valores
eventualmente pagos a maior pelo consumidor. APELAÇÃO PROVIDA.(Apelação Cível,
Nº 70083826081, Vigésima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Alberto Delgado Neto, Julgado em: 28-04-2020)

Ação revisional - Cédulas de crédito bancário – Indexador contratual – Certificado de


Depósitos Interbancários (CDI) – Comissão de abertura de crédito – Comissão de
permanência cumulada com outros encargos – Justiça gratuita – Diferimento das custas ao
final da demanda. [...] 4. Verificada a cobrança de encargo abusivo no período de
normalidade do contrato, resta descaracterizada a mora. 5. A alegação de abusividade na
cobrança de comissão de permanência e de indevida cumulação com outros encargos é de
ser repelida quando ausente previsão contratual ou início de prova de cobrança de tal
encargo. 6. A concessão de assistência gratuita ou de diferimento das custas ao final da
demanda à pessoa jurídica é admissível em casos excepcionalíssimos e quando demonstrada
a sua fragilidade econômica, ainda que momentânea, para suportar as despesas do processo.
Ação parcialmente procedente. Acolhido o pedido de diferimento do pagamento das custas
ao final da demanda. Recurso da autora parcialmente provido, não provido o do réu. (TJSP;
Apelação Cível 1054195-19.2017.8.26.0002; Relator (a): Itamar Gaino; Órgão Julgador: 21ª
Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 39ª Vara Cível; Data do Julgamento:
16/11/2020; Data de Registro: 18/11/2020)

DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO REVISIONAL.


FINANCIAMENTO DE AUTOMÓVEL. JUROS REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE.
CONFIGURAÇÃO. TAXA CONTRATADA DEMASIADAMENTE ACIMA DA MÉDIA
DO MERCADO. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE COBRANÇA.
AUSÊNCIA DE INTERESSE NO PONTO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO NA FORMA
SIMPLES. JURISPRUDÊNCIA SEDIMENTADA DO TJCE E STJ. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO, NO SENTIDO DE RECONHECER A
ABUSIVIDADE DA TAXA DE JUROS CONTRATADA, COM A CONSEQUENTE
DESCARACTERIZAÇÃO DE EVENTUAL MORA E REPETIÇÃO DE INDÉBITO
SIMPLES. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 4ª Câmara
Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, unanimemente, pelo
conhecimento e parcial provimento do recurso, nos termos do voto do Relator, que passa a
integrar este acórdão. Fortaleza, 17 de novembro de 2020 FRANCISCO BEZERRA
CAVALCANTE Presidente do Órgão Julgador DESEMBARGADOR DURVAL AIRES
FILHO Relator PROCURADOR(A) DE JUSTIÇA (Relator (a): DURVAL AIRES FILHO;
Comarca: Fortaleza; Órgão julgador: 8ª Vara Cível; Data do julgamento: 17/11/2020; Data
de registro: 17/11/2020).

APELAÇÕES CÍVEIS. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA DE CRÉDITO


BANCÁRIO. TOGADO A QUO QUE JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTES OS
PEDIDOS DEDUZIDOS NA PETIÇÃO INICIAL. INCONFORMISMO DE AMBOS OS
CONTENDORES. [...]DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. RESSONÂNCIA
JURÍDICA DO RECONHECIMENTO DE ABUSIVIDADE NO PERÍODO DE
NORMALIDADE CONTRATUAL. ENTENDIMENTO SUFRAGADO NO RECURSO
ESPECIAL N. 1.061.530/RS, DE RELATORIA DA MINISTRA NANCY ANDRIGHI.
AFASTAMENTO COGENTE DA MORA DEBENDI. (TJSC, Apelação n. 0306508-
33.2017.8.24.0038, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. José Carlos Carstens
Kohler, Quarta Câmara de Direito Comercial, j. 17-11-2020).

Desta maneira, toda e qualquer possível mora a qual o devedor possa ter incorrido deve ser
afastada, em virtude da flagrante prática abusiva da instituição financeira na cobrança de juros
remuneratórios.

Portanto, deve ser reconhecido o direito do autor ao afastamento da mora, bem como vedado
ao banco proceder a cobrança dos efeitos correspondentes, quais sejam: de multa moratória, de juros
de mora ou inscrição do devedor em cadastro de inadimplentes.

DO VALOR PARA QUITAÇÃO DO CONTRATO

Cumpre ressaltar, que a parte autora não pleiteia que o Poder Judiciário reconheça qualquer
tipo de inadimplência, apenas requer que os juros remuneratórios sejam adequados a média do
mercado financeiro, de forma que os valores já pagos sejam descontados e o saldo devedor
recalculado sob a nova taxa.

Determinado valor para quitação é composto do saldo devedor que se entende existente, ou
seja, com a taxa de juros redimensionada e descontado os valores pagos em excesso.

Ainda, destaca-se que os valores já pagos, eventualmente, a título de mora das parcelas já
adimplidas, deverão ser abatidos do saldo devedor, ou devolvidos via indébito simples, caso
constatada a existência de crédito em favor da parte autora.

Logo, mediante a apresentação dos cálculos elaborados em software especializado em


cálculos financeiros, que permitem a Vossa Excelência visualizar em números objetivos a
abusividade imposta a parte autora, têm-se que seu direito a revisão das cláusulas contratuais
abusivas deve ser concedido, ante a devida instrução do presente feito.

Portanto, não restam dúvidas que o banco instituiu uma taxa de juros remuneratórios
abusiva em desfavor da parte autora, de modo que a revisão contratual é a medida que se impõe, com
a referida limitação dos juros a taxa média do Bacen, à época da contratação do referido crédito.

DA TUTELA DE URGÊNCIA

Conforme dito acima, as dívidas decorrentes do crédito rotativo tomado estão consumindo
uma quantia exorbitante da renda da requerente, o que coloca em risco inclusive sua dignidade, o
que requer seja considerado por esse MM juízo.

Ora, não se trata de uma retenção qualquer de valores, mas, sim, de uma retenção que
corresponde à verba alimentar da parte requerente, essencial para sua subsistência. À toda evidência,
no momento presente não está preservado o mínimo existencial da demandante, assim reconhecido
como o necessário a que se viva uma vida minimamente digna, atendendo-se ao menos às
necessidades básicas de alimentação, moradia e saúde.
Portanto, a concessão da tutela de urgência se faz extremamente necessária para que a
requerente não sofra mais danos financeiros do que já sofre com os demais descontos que
extrapolam o máximo legal.

A probabilidade do direito está patente na prova documental produzida com esta petição
inicial, que comprova o comprometimento dos rendimentos da parte requerente. No caso em tela,
observando os contracheques da requerente, resta claro que os descontos efetuados pelas instituições
são muito superiores ao limite firmado pelo STJ. E o perigo de dano é evidente, uma vez que a
requerente se encontra em situação que já atingiu a insustentabilidade, devido aos descontos
realizados em sua conta.

O CPC dispõe em seu artigo 300, §2º, a irreversibilidade é inexistente, da tutela de urgência:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver "elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.
[...]
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.

A parte requerente não está se negando a pagar o que deve, apenas pretende repactuar suas
obrigações, bem como, o faz com base em expresso permissivo legal, quais sejam, as novas
disposições do CDC.

Com base nas alegações ora expendidas, bem como na evidente lesão e legislação vigente,
imperiosa necessidade do deferimento da tutela de urgência pretendida, para a finalidade de que
sejam limitados, previamente, os descontos ao patamar de 35% dos rendimentos líquidos do
requerido.

Os fatos declinados ensejam o deferimento da medida cautelar pleiteada, eis que presentes
os requisitos autorizadores de sua concessão, ou seja:

O FUMUS BONI IURIS, que se resume na plausibilidade da existência do direito invocado


por um dos sujeitos da relação jurídico-material, ou seja, na possibilidade que a tese por ele
defendida venha a ser sufragada pelo judiciário. No caso concreto, demonstrada no
superendividamento, de modo que a probabilidade do direito do requerido de fato existe.

O PERICULUM IN MORA, que se revela pelo dano irreparável que no caso pode ser
apontado como: violação ao princípio da dignidade da pessoa humana, ao princípio da razoabilidade,
afronta a segurança jurídica da verba de caráter alimentar, e o resultado prático de dificuldade de
subsistir, a se alimentar, de garantia a vida da família e etc.

Vejamos entendimentos pátrios a respeito da mesma temática:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RELAÇÃO DE CONSUMO. EMPRÉSTIMOS


CONSIGANDOS. SUPERENDIVIDAMENTO. DECISÃO AGRAVADA QUE
CONCEDEU A TUTELA ANTECIPADA PARA DETERMINAR QUE OS RÉUS
LIMITEM OS DESCONTOS EFETUADOS NO CONTRACHEQUE DO AUTOR AO
MONTANTE DE 30% DE SEUS VENCIMENTOS LÍQUIDOS. INCONFORMISMO DE
UM DOS BANCOS RÉUS, ALEGANDO QUE OS DESCONTOS OBSERVAM OS
TERMOS DO CONTRATO FIRMADO E SÃO INFERIORES À MARGEM
CONSIGNÁVEL. VERBA SALARIAL RECEBIDA PELO DEMANDANTE QUE SE
ENCONTRA COMPROMETIDA, EM PARTE, PARA O PAGAMENTO DOS
CONTRATOS QUESTIONADOS NA LIDE. PRESENÇA DOS REQUISTOS
ELENCADOS NO ART. 300 DO CPC, A TUTELA ANTECIPADA É MEDIDA QUE SE
IMPÕE. ORIENTAÇÃO DAS SÚMULAS Nº 200 E 295 DO TJRJ. PRESERVAÇÃO DO
MÍNIMO EXISTENCIAL. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA (ART. 1º, III,
CF/88). BOA-FÉ OBJETIVA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO QUE IMPÕE A
CONDUTA DE LEALDADE E COOPERAÇÃO COM O HIPOSSUFICIENTE. SÚMULA
Nº 59 DO TJRJ. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJ-RJ - AI:
00567120520238190000 202300278891, Relator: Des(a). SANDRA SANTARÉM
CARDINALI, Data de Julgamento: 14/09/2023, DECIMA SETIMA CAMARA DE
DIREITO PRIVADO (ANTIGA 26, Data de Publicação: 15/09/2023) (grifo nosso)

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.


JULGAMENTO SIMULTÂNEO. EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS. CONSIGNAÇÃO E
CÉDULA. DESCONTO EM FOLHA E EM CONTA-CORRENTE. LIMITAÇÃO.
PERCENTUAL DE 30% (TRINTA POR CENTO). TUTELA DE URGÊNCIA. PERIGO
DE DANO. PROBABILIDADE DO DIREITO. REQUISITOS PARCIALMENTE
PREENCHIDOS. SUBSISTÊNCIA DO DEVEDOR. (...) 2. Nos termos do Art. 116 da Lei
Complementar distrital nº 840/2011, regime jurídico do servidor público do Distrito Federal,
somente os empréstimos consignados em folha de pagamento estariam sujeitos à limitação
do percentual de 30% (trinta por cento) da remuneração do servidor. Contudo, ao que se
evidencia, as instituições bancárias vêm abandonando o propósito de simplesmente conceder
crédito e, permitindo um superendividamento dos consumidores, e mais especificamente do
servidor correntista, o que, acaba por violar de maneira transversa a norma limitadora acima
transcrita. 3. Constatada em parte, por contratos de empréstimo e contracheques, a
extrapolação do limite consignável da remuneração líquida do recorrente em virtude de
descontos de mútuos bancários debitados em folha e em conta corrente e o grande
comprometimento de sua capacidade de pagamento, deve-se limitar os descontos realizados
pelo banco agravado em conta bancária ao percentual de 30% (trinta por cento) de sua
remuneração líquida ali depositada, até a superveniência de julgamento definitivo de mérito,
sob pena de ofensa ao mínimo existencial e ao princípio da dignidade da pessoa humana.
(...) (Acórdão 1355455, 07516212820208070000, Relator: CRUZ MACEDO, 7ª Turma
Cível, data de julgamento: 14/7/2021, publicado no DJE: 27/7/2021)”

“CONSUMIDOR. BANCO DE BRASÍLIA S/A E CARTÃO BRB S/A. EMPRÉSTIMOS


BANCÁRIOS E DÍVIDA DO CARTÃO DE CRÉDITO. DÉBITOS EM CONTA-
CORRENTE. LIMITAÇÃO. COGESTÃO RESPONSÁVEL DO CRÉDITO.
CONFIANÇA. DEVERES ANEXOS. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. (...)
Evidenciado que o volume de empréstimos concedidos pelo mesmo Banco supera
manifestamente a capacidade de pagamento do correntista, e que esse fato era conhecido do
credor, procede a limitação dos descontos a 30% da remuneração mensal líquida depositada
na conta corrente, pois a solvência de obrigações contratuais de ordem patrimonial não pode
comprometer a dignidade e a subsistência do devedor. (...) (Acórdão n.1166791,
07065570920188070018, Relator: VERA ANDRIGHI 6ª Turma Cível, Data de Julgamento:
25/04/2019,Publicadono DJE: 07/05/2019)” AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO
DO CONSUMIDOR. LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO. EMPRÉSTIMOS.
CONSIGNADO EM FOLHA DE PAGAMENTO E DÉBITO EM CONTA CORRENTE.
LIMITAÇÃO. OBSERVÂNCIA DO LIMITE DE 30% APENAS AOS CONSIGNADOS.
ILEGALIDADE. GARANTIA DO MÍNIMO EXISTENCIAL E DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA. CRÉDITO RESPONSÁVEL. CORRESPONSABILIDADE DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. RECURSO PROVIDO. 1. A recente Lei nº 14.181/2021
(Lei do Superendividamento), que atualiza o Código de Defesa do Consumidor, possui,
entre outros objetivos, o propósito de proteger consumidores que se encontram em situação
de superendividamento. A sua aplicação a contratos celebrados antes do início de sua
vigência não significa necessariamente retroatividade da lei. A maioria dos seus dispositivos
apenas descreve e detalha deveres que decorrem do princípio da boa-fé objetiva
(informação, transparência, cuidado etc.). Em outras palavras, a lei ganha caráter didático ao
explicitar o que a doutrina e jurisprudência há muito exigem na contratação de crédito,
particularmente no momento pré-contratual. 2. Com o advento da referida norma legal,
houve o acréscimo dos incisos XI e XII ao art. 6º do Código de Defesa do Consumidor, os
quais preveem como direitos básicos do consumidor, dentre outros, a garantia de práticas de
crédito responsável e a preservação do mínimo existencial. 3. O crédito responsável é a
concessão de empréstimo em contexto de informações claras, completas e adequadas sobre
todas as características e riscos do contrato. A noção de crédito responsável decorre do
princípio da boafé objetiva e de seus consectários relacionados à lealdade e transparência, ao
dever de informar, ao dever de cuidado e, até mesmo, ao dever de aconselhamento ao
consumidor. 4. Constitui dever do agente financeiro, na fase pré-contratual, analisar a
situação econômica do consumidor, seu perfil, suas necessidades e, dentre as inúmeras
modalidades de crédito disponíveis, sugerir - se for o caso – a contratação do empréstimo
que está mais adequado ao momento, aos propósitos, necessidades e possibilidades
orçamentárias do consumidor. 5. No presente caso, constata-se que a soma dos descontos
dos empréstimos consignados em folha de pagamento e aqueles realizados diretamente em
conta corrente comprometem integralmente a renda do agravante. A limitação de 30%
(trinta por cento) do valor líquido creditado na conta bancária é medida que se impõe para
preservação do mínimo existencial. 6. Recurso conhecido e provido. (TJ-DF
07364128220218070000 DF 0736412- 82.2021.8.07.0000, Relator: LEONARDO ROSCOE
BESSA, Data de Julgamento: 02/02/2022, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado
no DJE: 21/02/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Isso posto, requer seja concedida TUTELA DE URGÊNCIA, com fulcro nos artigos 300 e
497 do CPC, para o fim de que sejam limitados, previamente, os descontos ao patamar requerido, o
que deve ser reconhecido por este juízo, tendo em vista, principalmente, os documentos anexos que
comprovam a verossimilhança dos fatos declinados nesta peça processual, bem como os requisitos
necessários para a concessão desta, para:

A) Restringir as parcelas realizadas pelas instituições bancárias do requerido em 30% do


prolabore líquido; B) Fixar multa diária de no mínimo R$500,00 em caso de descumprimento da
medida. C) A parte requerente se abstenham de cadastrar o nome da requerido nos órgãos de
proteção ao crédito tais como SERASA, SPC e afins. D) Que seja enquadrado o valor dos juros em
no mpaximo 100% do valor originpario da divida, sendo este considerado o valor incontroverso para
quitação do contrato, de modo a descaracterizar qualquer mora da parte autora e seus respectivos
efeitos: como multa moratória, incidência de juros moratórios, possibilidade de sequestro de valores
em suas contas ou inscrição em cadastro de inadimplentes, tendo em vista as taxas de juros
remuneratórios em patamar abusivo; e) Vedar o Banco de realizar o sequestro de qualquer valor
porventura depositado em favor da parte requerida, sob pena de multa coercitiva no valor de R$
10.000,00 (dez mil) por sequestro, devendo ainda devolver os valores, eventualmente, sequestrados
indevidamente.

Diante da probabilidade do direito da parte autora, bem como do perigo de dano


irreparável em caso de demora na prestação jurisdicional, deve ser deferida os pedidos em
tutela de urgência, uma vez que baseados em entendimento pacífico do Superior Tribunal de
Justiça.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer sejam julgados totalmente improcedentes os pedidos formulados na


exordial, por completa ausência de fundamentação fática e legal que autorize o deferimento dos
pedidos formulados na inicial, condenando a Autora ao pagamento das custas, despesas processuais
e demais verbas de sucumbência, o que desde já se requer;

Ainda:
A. Requer seja concedida TUTELA DE URGÊNCIA, com fulcro nos artigos 300 e 497 do
CPC, para o fim de que A) Restringir as parcelas realizadas pelas instituições bancárias do requerido
em 30% do prolabore líquido; B) Fixar multa diária de no mínimo R$500,00 em caso de
descumprimento da medida. C) A parte requerente se abstenham de cadastrar o nome da requerido
nos órgãos de proteção ao crédito tais como SERASA, SPC e afins. D) Que seja enquadrado o valor
dos juros em no mpaximo 100% do valor originpario da divida, sendo este considerado o valor
incontroverso para quitação do contrato, de modo a descaracterizar qualquer mora da parte autora e
seus respectivos efeitos: como multa moratória, incidência de juros moratórios, possibilidade de
sequestro de valores em suas contas ou inscrição em cadastro de inadimplentes, tendo em vista as
taxas de juros remuneratórios em patamar abusivo; e) Vedar o Banco de realizar o sequestro de
qualquer valor porventura depositado em favor da parte requerida, sob pena de multa coercitiva no
valor de R$ 10.000,00 (dez mil) por sequestro, devendo ainda devolver os valores, eventualmente,
sequestrados indevidamente.
B. Requer a inversão do ônus da prova em favor do requerido, nos termos do artigo 6º, VIII
do CDC, por se tratar de relação de consumo, onde fica, por consequência, evidenciada a
vulnerabilidade deste;
C. Requer ainda, seja a autora compelida a fornecer todos os documentos referentes a
contratação dos cartões, que estão sob a sua guarda, tais como regulamentos e suas alterações, termo
de adesão ao plano, atualização de juros utilizada pelo contratos realizados, seguros vinculados,
índices de correção do plano e outros que se fizerem necessário para análise do direito na ação
principal, sob pena de astreintes no importe R$ 10.000,00 (dez mil reais);
D. A total Procedência da presente defesa, para:
1) reconhecer o superendividamento do autor, e limitar a dívida aqui discutida ao patamar de
35% dos rendimentos líquidos do autor;
2) Confirmar a antecipação de tutela;
3) procedência da repactuação de dívidas, com aplicabilidade da lei do superendividamento
14.181/2021 e da lei 14.690/23.
E. A condenação do(s) Réu(s) ao pagamento das custas e demais despesas processuais,
inclusive em honorários advocatícios sucumbenciais, que deverão ser arbitrados por este Juízo,
conforme norma do artigo 85 do CPC;

Em tempo, com base no art. 272, §5 do NCPC, sob pena de nulidade, que sejam todas as
futuras notificações e intimações referente a este feito realizadas exclusivamente em nome de
LOUISE DANTAS DE ANDRADE, advogada inscrita na OAB/PE sob o n. 30.392 e THAYS
MEIRELLY VALENÇA DE PAIVA, advogada inscrita na OAB/PE sob o n. 41.570, ambas com
endereço na Rua Padre Carapuceiro, n. 968, Torre Janete Costa, sl 1702, Boa Viagem, CEP 51020-
280.

Nestes termos,
P. deferimento.

Recife/PE, 30 de maio de 2023.

Louise Dantas de Andrade Thays Meirelly V. de Paiva


OAB/PE 30.392 OAB/PE 41.570

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