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CURSO DE PSICOLOGIA

Ana Karen B. Rodrigues


Arnoldo Sousa
Jefferson Mattos
Vinicius P. Almeida

PSICOLOGIA E INCLUSÃO: O PAPEL DO CEFORP NO PROCESSO DE


INCLUSÃO ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE IPU

IPU-2023
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo discutir o processo de inclusão escolar de
crianças e adolescentes com deficiência no âmbito educacional do município de Ipu. A
pesquisa foi realizada no serviço CEFORP (Centro de formação de professores), e foi
realizado uma entrevista semiestruturada com a coordenadora do serviço, a
Psicopedagoga Clédina Farias.
A discussão dos resultados foi realizada por meio da análise do estudo descritivo,
relacionando o diálogo da profissional com aportes teóricos estudados sobre o tema
durante a disciplina de Psicologia e Inclusão do semestre 2023.1. É perceptível através
dos dados analisados que o trabalho da psicologia junto à comunidade escolar em prol da
inclusão de pessoas com deficiência é fundamental, no entanto, o município de Ipu não
conta com nenhum profissional de psicologia atuando na rede pública de educação.
Quando se trata de inclusão educacional de pessoas com deficiência, o psicólogo tem um
papel crucial na preparação dos profissionais envolvidos, apoio familiar e suporte a
comunidade discente, porém percebemos que a inclusão educacional ainda está longe de
seguir os paramentos exigidos pela constituição federal. Pois essa inclusão vai além dos
aspectos físicos, mas sim, nas barreiras atitudinais e metodológicas essas nas quais estão
longe de serem seguidas com coerência.
Apesar dos obstáculos, a secretaria de educação do município de Ipu conta com
um Centro de Formação de Professores (CEFORP), que se configura como um serviço
de referência da rede de educação municipal, no que se refere inclusão escolar. É a partir
da visita e observações feitas junto ao serviço que iremos estruturar a presente reflexão
acerca da realidade vivenciada por profissionais e pessoas com deficiência no campo
educacional do município de Ipu-Ce.
Metodologia:
Esta pesquisa configurou-se como qualitativa exploratória-descritiva. O
instrumento de coleta de dados foi um roteiro de entrevista semiestruturada aplicado em
campo com a profissional coordenadora do CEFORP. A discussão dos resultados foi
realizada por meio da análise do estudo descritivo, relacionando o diálogo da profissional
com aportes teóricos estudados sobre o tema durante a disciplina de Psicologia e Inclusão
do semestre 2023.1.
Discussões e Resultados:
De acordo com o art. 205 da Constituição Federal (1988), a educação é direito de
todos e dever do Estado e da família, e será promovida e incentivada com a colaboração
da sociedade. Nesse sentido, a educação é uma responsabilidade social.
A escola inclusiva deve ser um lugar de todos e para todos. Dessa forma, a escola
regular deve acolher todos os alunos, produz e disponibiliza meios e estratégias adequadas
e, ainda, ofertar apoio àqueles que encontram obstáculos para a aprendizagem.
O Ministério da Educação e da Cultura (MEC, 2008) estabeleceu a PNEEPEI,
fundamentada na concepção de direitos humanos que concebe igualdade e diferença
como valores indissociáveis e caminha numa perspectiva de equidade ao respeitar os
determinantes sociais que podem colocar esses sujeitos em situações de vulnerabilidade.
As diretrizes da PNEEPEI (2008) garantem o apoio aos alunos público-alvo da
Educação Especial através do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que
complementa ou suplementa a educação dos alunos numa perspectiva de autonomia,
independência e liberdade do sujeito, tanto no contexto escolar como em todo e qualquer
equipamento da sociedade. Essas diretrizes também orientam a utilização deste serviço
de apoio por professores e alunos das turmas comuns do ensino regular.
A inclusão social visa à modificação da sociedade para possibilitar o
desenvolvimento pessoal e social da pessoa com deficiência, garantindo possibilidades
de exercício da cidadania (BRASIL, 2008).
A Lei Brasileira de Inclusão, Nº 13.146/2015, destaca que a deficiência deixa de
ser um problema exclusivamente da pessoa e passa a ser uma questão de acessibilidade e
de quebra de barreiras sociais preexistentes a esse sujeito e que precisam ser removidas.
Deste modo, não podemos desconsiderar que avanços nas leis e políticas públicas
vêm possibilitando gradativamente a inclusão de alunos com deficiência no ensino
regular. Entretanto, se por um lado os avanços parecem animadores, por outro não
podemos deixar de considerar que a realização da matrícula do aluno não garante o
acesso, a permanência, inclusão e desenvolvimento destes estudantes.
Diferentes estudos internacionais já enfocaram os aspectos mais explícitos que
dificultam o processo de inclusão de alunos com necessidades especiais nas escolas.
Dentre os vários aspectos abordados, ainda é unânime a falta de capacitação profissional
adequada como um dos principais obstáculos no enfrentamento a esta problemática. Foi
justamente com o objetivo de reduzir o impacto deste obstáculo que o serviço CEFORP
foi criado pela secretaria municipal de Educação do município de Ipu. Atuando
diretamente com toda a comunidade escolar (Professores, alunos, família e gestão), o
serviço do CEFORP busca atender as demandas do município em relação a questões
inerentes à inclusão de crianças com diferentes deficiências no contexto educacional,
assim como orientar pais e professores com ações, formações, atendimentos e
planejamentos educacionais junto às escolas da rede municipal de educação.
COMO FUNCIONA O SERVIÇO DO CEFORP – RELATO DE VISITA
A visita ocorreu no dia 31/05 com os discentes do 7º período, da disciplina de
Psicologia e Inclusão, do curso de Psicologia. Fomos recebidos pela psicopedagoga e
coordenadora do serviço: Clédina Farias.
Inicialmente, ela nos direcionou para a sua sala de atendimentos, que contém uma
mesa, uma cadeira, uma estante com diversos recursos/brinquedos lúdicos que são
utilizados no atendimento, possui um espelho (que é usado como recurso interventivo
principalmente com crianças), possui um quadro de recados/folder de campanhas e tinha
um desenho colado na parede que, segundo a profissional, uma criança pediu pra ela colar
assim como ela faz com os recados, etc.
Enquanto equipe, tínhamos algumas perguntas que gostaríamos de fazer, porém a
própria profissional já foi descrevendo as principais informações. No que tange à história
do CEFORP, iniciou-se em 2018, na Secretaria de Educação, com o objetivo dos
atendimentos psicopedagógicos, porém não havia um espaço favorável para esses
atendimentos e as profissionais gostariam de ter um ambiente mais “neutro” (sic).
Então, o serviço saiu da Secretária de Educação e foi para uma casa alugada no
bairro Alto da Boa Vista, onde tinham as formações para os professores e os atendimentos
psicopedagógicos. Posteriormente, o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras
drogas foi implementado no município, mas ainda não tinham espaço físico e eles foram
para a casa do CEFORP e CEFORP foi para um outro espaço alugados, que fica no bairro
Caixa D’agua, onde funciona atualmente.
Devido à formação para professores e atendimentos psicopedagógicos, as
profissionais veem a necessidade de mudança no nome e separação dos serviços
oferecidos já que possuem caráter completamente distintos, havendo até mesmo uma
sobrecarga das profissionais, já que são somente três.
Neste serviço, as formações são voltadas apenas para os professores responsáveis
pelas turmas do AEE e para os cuidadores/estagiários. Atualmente são 17 turmas de AEE,
destas 3 funcionam em uma única escola, o que nos fez refletir o porquê desse fato e, o
município possui 160 estagiários, que atuam como acompanhantes terapêuticos.
O serviço contempla 31 escolas municipais, 6 estaduais e 8 privadas. O serviço
sempre funcionou através de demandas encaminhadas pela escola. Porém, segundo a
profissional, em 2023, a maioria das demandas chegam de forma espontânea,
principalmente no contexto pós-pandemia.
Esse contexto pós-pandemia trouxe inúmeras demandas novas, em sua maioria,
crianças com diagnóstico de autismo. A tabela abaixo indica o último levantamento de
diagnósticos feitos no CEFORP em fevereiro de 2023:
F.84 – AUTISMO 53 ALUNOS
F.90 – TRANSTORNO DE DÉFICIT DE 38 ALUNOS
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
(TDAH)
F.91.3- TRANSTORNO OPOSITOR 07 ALUNOS
DESAFIADOR (TOD)
Q.90 – SÍNDROME DE DOWN 10 ALUNOS
H.90 – SURDEZ 02 ALUNOS
H.54 – CEGUEIRA 03 ALUNOS
G.80 – PARALISIA CEREBRAL 07 ALUNOS
F70-F79 – RETARDO MENTAL + 100 ALUNOS

Estes dados foram levantados em fevereiro de 2023, a partir das matrículas


realizadas no início do ano, porém a profissional acredita que esse número já cresceu e
será realizado um novo levantamento após as férias e o início do segundo semestre do
ano de 2023. A profissional relata ser de extrema importância ter esses dados para
planejamento de atividades e orientação, pois defende que a orientação também é incluir.
Contudo, relata as dificuldades encontradas posterior aos diagnósticos. Segundo
a coordenadora, depois do laudo médico, alguns profissionais “deixam de lado” estes
alunos que possuem diagnóstico, “já que são especiais mesmo”. Por isso, as formações
são importantes para direcionar o olhar dos professores a estes alunos, mas relata que
alguns profissionais são resistentes à formação e não comparecem, já que costumam ser
realizadas aos sábados. Além de excluírem os alunos, alguns profissionais excluem os
acompanhantes terapêuticos que ficam dentro de sala.
Além das dificuldades encontradas com os profissionais, encontra-se dificuldades
com as famílias que, muitas vezes, não são ativas no processo escolar dos alunos. Alguns
pais que ao irem nas consultas com psiquiatra, neuropediatras relatam sintomas de um
diagnóstico X, sendo que as vezes, a criança nem apresenta aquelas características, ou
seja, induzido o diagnóstico através da descrição de características e sintomas.
Neste sentido, a profissional ressalta o papel do serviço no processo de inclusão
e educação dentro do município, numa perspectiva de equidade, visando equiparar as
oportunidades e possibilidades para estes alunos que necessitam. Finalizamos a visita com
a fala da profissional que relata a necessidade de outras categorias profissionais dentro
daquele serviço, principalmente da Psicologia, que apesar da lei já garantir um
profissional de Psicologia dentro do âmbito da educação, ainda não é uma realidade do
município de Ipu.
Conclusão:
O serviço do CEFORP, tanto as formações de professores quanto os atendimentos
psicopedagógicos prestados ao município de Ipu são muito potentes, uma vez que,
proporciona um ambiente de equidade e viabiliza oportunidades para aqueles alunos que
necessitam. Porém, identifica-se a necessidade de uma delimitação no seu papel e até
mesmo, uma separação entre os dois serviços prestados, para que a demanda seja atendida
em sua totalidade.
Além da sua potencialidade no serviço prestado, existe um potencial no CEFORP
propriamente dito, podendo vir a ser até uma referência, já que nas cidades
circunvizinhas, desconhece-se um serviço parecido com este.
No que tange à participação de psicólogos na área educacional no Brasil, embora
tenha havido um significativo crescimento nas últimas décadas quando comparada à área
clínica, ainda está muito distante da realidade vivida em outros países com tradição em
pesquisas e intervenção na área (WITTER et al., 2005).
A realidade nacional é que o psicólogo escolar/educacional ainda está buscando
legitimar seu espaço no contexto educacional, a despeito de seu lugar no campo da Saúde
já estar bem mais consolidado. Neste sentido, observa-se também a importância das
políticas públicas no campo educacional e a necessidade de que elas sejam implementadas
no munícipio.
Referências:

GOMES, Claudia; SOUZA, Vera Lucia Trevisan de. Educação, psicologia escolar e
inclusão: aproximações necessárias. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 28, n. 86, p. 185-
193, 2011 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862011000200009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 13 jun. 2023.

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