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BREVES COMENTÁRIOS AO ART.

20 DO CPC, À LUZ DA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Heitor Vitor Mendonça Sica


Professor Doutor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo. Mestre e Doutor em Direito Processual Civil pela mesma instituição. Advogado.

SUMÁRIO – 1. Nota introdutória – 2. Distribuição da responsabilidade sobre o custo do


processo – 3. Classificação das despesas processuais – 4. Honorários sucumbenciais – 5.
Responsabilidade pelo custo do recurso e do incidente (apenas despesas processuais) e da
demanda incidental (despesas processuais e honorários sucumbenciais) – 6. Fixação do valor dos
honorários advocatícios – 7. Correção monetária e juros sobre as verbas sucumbenciais – 8.
Algumas regras especiais sobre a distribuição da responsabilidade sobre o custo do processo – 9.
À guisa de conclusão.

RESUMO: O objetivo do presente texto é analisar a jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça em torno das diversas questões polêmicas suscitadas pela interpretação e aplicação do art.
20 do Código de Processo Civil, com especial destaque sobre a distinção entre “incidente
processual” e “demanda incidental” para fins de determinar a condenação do vencido de
honorários advocatícios sucumbenciais.

PALAVRAS CHAVE: despesas processuais – honorários advocatícios sucumbenciais – incidente


processual – demanda incidental.

1. Nota introdutória

Poucos artigos do Código de Processo Civil suscitam tão intensas discussões práticas quanto o
art. 20 do CPC, que se ocupa da distribuição do custo do processo, aí incluídos as despesas
processuais e os honorários advocatícios.
A matéria revela-se extremamente complexa, e é tratada por um dispositivo notavelmente
sintético, que apresenta omissões relevantes e outorga ao juiz poderes amplíssimos, sem similar
em outros pontos do Código (referimo-nos aqui, em especial, aos parágrafos 3.º e 4.º).
Acresçam-se a isso as intrincadas relações entre o dispositivo e as normas constantes da Lei
8.906/1994 sobre o tema e o fato de o art. 20 ter passado praticamente incólume pelas reformas
do CPC, ao passo que o sistema criado em 1973 foi completamente desestruturado a partir de
1994, com especial destaque para as alterações operadas em 2005.
Não é por acaso, pois, que a atividade jurisprudencial é bastante intensa sobre o tema, havendo no
STJ nada menos que treze verbetes de sua súmula apenas sobre o tema “honorários
sucumbenciais” (105, 110, 111, 141, 153, 201, 303, 306, 325, 326, 345, 421 e 453). O STF tem
igualmente treze enunciados sobre o tema (185, 234, 256, 257, 378, 389, 450, 472, 512, 519, 616,
617 e 633) dos quais onze anteriores à Constituição Federal, e todos já se acham superados ou
foram repetidos na súmula do STJ (a quem cabe, afinal, a fixação da interpretação da legislação
federal infraconstitucional).
Essas constatações nos animaram a pontuar e sistematizar alguns aspectos relevantes do tema, à
luz da extensa jurisprudência do STJ a respeito. Esse método de trabalho nos autoriza a deixar de
empreender pesquisa sobre a doutrina dedicada ao tema.

2. Distribuição da responsabilidade pelo custo do processo

O art. 20, caput, do CPC estabelece que ao vencido será carreada a responsabilidade pelo custo
do processo, e impõe ao juiz o dever-poder de, independentemente de pedido do vencedor,
condená-lo ao pagamento de tais verbas.1-2-3-4 Estão aí abrangidas as despesas que o próprio

1
Esse entendimento é decorrente da interpretação gramatical da primeira oração do dispositivo (”A sentença
condenará o vencido [...]”), o qual sinaliza a desnecessidade de pedido expresso do interessado. Esse entendimento é
absolutamente assente na jurisprudência do STJ (bastando citar um julgado a respeito: “a condenação em verba
honorária constitui imposição legal, que independe, portanto, de pedido expresso” – REsp 665128/PR, Rel. Min.
Denise Arruda, 1.ª Turma, j. 10.04.2007, DJ 03.05.2007, p. 217), e assenta-se em entendimento já consagrado pelo
STF ainda na vigência do CPC de 1939 (conforme Súmula 256 do Pretório Excelso: “É dispensável pedido expresso
para condenação do réu em honorários, com fundamento nos arts. 63 ou 64 do Código de Processo Civil”.
2
Na vigência do CPC de 1939, o quadro era um tanto diverso. O art. 63 daquele diploma condicionava a condenação
ao pagamento das verbas sucumbenciais à litigância de má-fé (alteração intencional da verdade dos fatos,
procedimento temerário ou instauração de incidentes infundados), fosse por parte do vencido como do vencedor. Já
o art. 64, em sua redação original, dispunha que o vencido na demanda decorrente de dolo ou culpa, contratual ou
extracontratual, fosse condenado ao pagamento das verbas sucumbenciais, independentemente de ter litigado de má-
fé. Por força da Lei 4.632/1965, a condenação às verbas sucumbenciais passou a ser aplicável em qualquer sentença,
não importando a causa de pedir da demanda que a gerou. O STF assentou ser dispensável o pedido do autor para a
condenação do réu aos honorários (Súmula 256), mas impunha ao réu o ônus de reconvir para obter a condenação do
autor a essa verba (Súmula 472). Eis exemplo evidente de tratamento desigual entre os litigantes.
vencido adiantou, e aquelas que seu adversário antecipou, que haverão de ser reembolsadas.
Além das despesas, a norma prevê que o vencido arcará com os honorários do advogado do
vencedor, mesmo que este tenha advogado em causa própria, ou que tenha lhe sido deferido o
benefício da “justiça gratuita”, nos termos da Lei 1060/1950.5
Sem prejuízo das considerações a serem feitas adiante sobre as despesas processuais e os
honorários advocatícios, essas duas verbas são denominadas sucumbenciais,6 pois decorrem da
sucumbência total experimentada por um dos litigantes ou da sucumbência parcial experimentada
por ambos (hipótese regulada pelo art. 21 do CPC).
A sucumbência é sofrida pelo litigante cuja pretensão não foi acolhida, no todo ou em parte, pelo
juiz.7 Assim, caso o juiz julgue a demanda inicial improcedente ou extinga o processo sem exame

3
O STJ inicialmente reconhecia que, por força dessa imposição legal, seria possível ajuizar ação autônoma para
perseguir honorários sucumbenciais que deixaram de ser arbitrados em sentença já passada em julgado: “Deveras, o
acórdão que não fixou honorários em favor do vencedor, não faz coisa julgada, o que revela a plausibilidade do
ajuizamento de ação objetivando à fixação de honorários advocatícios” (EDcl no AgRg no REsp 641276/SC, Rel.
Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j. 16.08.2005, DJ 12.09.2005, p. 215). Contudo, o seu entendimento se alterou em 2010,
quando a Corte Especial editou a Súmula 453, assim redigida: “Os honorários sucumbenciais, quando omitidos em
decisão transitada em julgado, não podem ser cobrados em execução ou em ação própria”.
4
O poder de fixar a responsabilidade sucumbencial inclui o poder de rever a sua distribuição, quando do julgamento
do recurso, ou do reexame necessário (para esse último caso, o STJ editou a Súmula 325: “A remessa oficial devolve
ao Tribunal o reexame de todas as parcelas da condenação suportadas pela Fazenda Pública, inclusive dos honorários
de advogado”).
5
Essa é a posição sedimentada há décadas, na Súmula 450 do STF: “São devidos honorários de advogado sempre
que vencedor o beneficiário de justiça gratuita”.
6
Entendemos ser equivocada a expressão “ônus da sucumbência”, pois o juiz impõe uma “obrigação” ao vencido de
suportar as despesas processuais e os honorários advocatícios. “Ônus” define-se um “imperativo de próprio
interesse”, de tal modo que o sujeito tem a opção de escolher em praticar o ato ou não; se optar pela sua realização,
gozará de uma vantagem; do contrário, poderá suportar alguma desvantagem. Imposta a condenação ao pagamento
das verbas sucumbenciais, o litigante não tem a opção em cumpri-la e, se o fizer, o sistema não lhe outorga qualquer
vantagem.
7
Nem sempre a visualização da sucumbência é imediata. Veja-se, por exemplo, que após acirrado dissídio
pretoriano, tanto o STF como o STJ houveram por bem editar Súmulas (617 e 141, respectivamente) para a hipótese
de “ação de desapropriação direta”, cujo objeto litigioso é apenas a fixação do valor da indenização devida pelo
Poder Público ao particular que sofreu a expropriação. Eis a transcrição dos enunciados: “A base de cálculo dos
honorários de advogado em desapropriação é a diferença entre a oferta e a indenização, corrigidas ambas
monetariamente”, e “Os honorários de advogado em desapropriação direta são calculados sobre a diferença entre a
indenização e a oferta, corrigidas monetariamente”. A mesma dificuldade se impõe quando se trata de demanda com
cúmulo eventual de pedidos (CPC, art. 289), em que o juiz rejeita o principal e acolhe o extraordinário. O STJ tem
pronunciamentos no sentido de reconhecer, aí, sucumbência recíproca (REsp 618.637/SP, Rel. Min. Humberto
Gomes de Barros, 3.ª Turma, j. 05.06.2007, DJ 27.08.2007, p. 221) e sucumbência total do réu (REsp 844.428/SP,
Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j. 04.03.2008, DJe 05.05.2008 e (REsp 776.648/MG, Rel. Min. José Delgado, Rel.
p/ Acórdão Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j. 1.º.03.2007, DJe 08.05.2008). Quando há pedidos alternativos, sem ordem
de preferência entre eles, o acolhimento de qualquer um deles implica sucumbência total do demandado, também
segundo o STJ: “Formulados pedidos alternativos e acolhido em sua totalidade um deles, não há falar em
sucumbência recíproca” (AgRg no Ag 572303/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5.ª Turma, j. 06.12.2005, DJ
05.06.2006, p. 309).
de mérito, em princípio, o sucumbente é o autor, competindo-lhe arcar com as verbas
sucumbenciais.
Todavia, embora aplicável na maioria dos casos, esse critério de distribuição da responsabilidade
pelo custo do processo – baseado na sucumbência – nem sempre se mostra justo e équo. Pense-se
na hipótese de o autor tornar-se, no curso do processo, carecedor de interesse processual por ato
praticado pelo réu supervenientemente ao ajuizamento da demanda. Nesse caso, a rigor, o autor é
sucumbente (pois seu pedido não foi sequer examinado pelo mérito), mas nem por isso deve lhe
ser carreada a responsabilidade pelo custo do processo, visto que não movimentou
injustificadamente o Estado-juiz. O réu foi quem deu causa ao ajuizamento da demanda.
Assim é que, mirando o exemplo de ordenamentos estrangeiros, a doutrina e, principalmente, a
jurisprudência de há muito acolhem o princípio da causalidade, o qual completa o princípio da
sucumbência,8 aplicando-se sempre que o sucumbente não foi o responsável pela instauração
injustificada do processo e pela sua posterior extinção.9 Não sem algum esforço se enxerga o

8
A complementaridade entre os dois princípios é destacada reiteradamente pelo STJ, cumprindo citar, à guisa de
exemplo, o seguinte aresto: “O princípio da sucumbência inserto no artigo 20 do Código de Processo Civil, assim
como as regras contidas nos artigos 19, § 2.º, e 33 do mesmo diploma, devem ser tomados apenas como um primeiro
parâmetro para a distribuição das despesas do processo, sendo necessária a sua articulação com o princípio da
causalidade” (REsp 684.169/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3.ª Turma, j. 24.03.2009, DJe 14.04.2009).
9
Eis alguns exemplos de aplicação do princípio da causalidade colhidos na jurisprudência do STJ: a) o primeiro é
exatamente aquele dado no corpo do texto “O art. 20 do CPC não deve ser interpretado como se fosse repositório do
princípio puro da sucumbência. Ao contrário, na fixação da verba de patrocínio e das despesas processuais, o
magistrado deve ter em conta, além do princípio da sucumbência, o cânon da causalidade, sob pena de aquele que
não deu causa à propositura da demanda e à extinção do processo sem apreciação do mérito se ver prejudicado. Sem
dúvida, tratando-se de processo que foi extinto sem julgamento do mérito, em virtude de causa superveniente que
esvaziou o objeto do feito, a aplicação do princípio da causalidade se faz necessária” (REsp 151.040/SP, Rel. Min.
Adhemar Maciel, 2.ª Turma, j. 1.º.10.1998, DJ 1.º.02.1999 p. 148); b) outro exemplo de aplicação desse princípio se
acha no Enunciado 303 da Súmula do STJ: “Em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve
arcar com os honorários advocatícios”; c) veja-se também a Súmula 153: “A desistência da execução fiscal, após o
oferecimento dos embargos, não exime o exequente dos encargos da sucumbência”. Os embargos do devedor são
considerados como processo incidente à execução fiscal, de tal maneira que a desistência manifestada pelo
exequente, nos termos permitidos pelo art. 569 do CPC, implica falta superveniente de interesse processual para que
o executado prossiga com os embargos. Nem por isso, contudo, o executado-embargante suportará as verbas
sucumbenciais, por força, novamente, do princípio da causalidade; d) A execução individual de sentença coletiva,
feita com base no art. 97 do CDC, em que o exequente deve demonstrar ter sofrido pessoalmente o dano coletivo
reconhecido pela sentença; para tal situação aplica-se a Súmula 345: “São devidos honorários advocatícios pela
Fazenda Pública nas execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas”; e)
“O fato de a dívida ter sido paga por terceiro em relação à lide não pode ser empecilho para o recebimento dos
honorários advocatícios por parte do agravado” (AgRg no Ag 335.515/MG, Rel. Min. Barros Monteiro, 4.ª Turma, j.
19.12.2002, DJ 31.03.2003 p. 227); f) “A espécie trata de execução fiscal em que houve pedido de parcelamento
somente após a inscrição efetiva do débito em dívida ativa, razão pela qual deve ser responsabilizada a ora agravante
pelo pagamento dos honorários advocatícios. Agravo regimental não provido” (AgRg no REsp 955.291/SP, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, 2.ª Turma, j. 06.11.2008, DJe 1.º.12.2008); g) “1. Ao desistir do ato expropriatório,
foi o município levado a, em consequência, pedir a extinção da ação rescisória ajuizada contra expropriação já
ordenada. 2. Conveniência e oportunidade da Administração fizeram-na desistir da desapropriação, mas deverá ela
princípio da causalidade implícito no sistema.10

3. Classificação das despesas processuais

Denominam-se despesas processuais todos os gastos a serem realizados para que o processo seja
instaurado e desenvolva-se até o final, permitindo a prática dos atos necessários pelo juiz e,
sobretudo, por seus variados auxiliares.
O § 2.º do art. 20 do CPC definiu “despesas processuais” como “custas dos atos do processo”, e
enunciou rol meramente exemplificativo que, por coincidência, considera hipóteses bastante
raras: “indenização de viagem”, “diária de testemunha” e “remuneração do assistente técnico”.
O dispositivo deixou de incluir os honorários pagos ao perito judicial, ao intérprete, ao tradutor,

arcar com os prejuízos que o autor suportou para defender-se do ato administrativo” (REsp 291.624/SP, Rel. Min.
Eliana Calmon, 2.ª Turma, j. 13.03.2001, DJ 04.06.2001, p. 129); h) analisando situação bastante peculiar, o STJ
acabou isentando ambos os litigantes da responsabilidade pelos honorários devidos ao adversário, já que a falta
superveniente de interesse processual decorreu de fato de terceiro: “Pelo princípio da causalidade, não haverá
condenação de honorários quando extinta a ação por perda de objeto por fato superveniente causado por terceiro”
(REsp 626.325/AL, Rel. Min. Castro Meira, 2.ª Turma, j. 1.º.06.2004, DJ 09.08.2004, p. 246); i) a mesma Corte
isentou da responsabilidade por honorários sucumbenciais as partes de embargos à execução opostos em razão da
indevida penhora de bem de família realizada por Oficial de Justiça, sem concurso dos litigantes: (“Não tendo o
embargado concorrido para que a penhora recaísse sobre bem de família – o que aconteceu, na realidade, por ato
praticado pelo Oficial de Justiça –, tampouco resistido à pretensão de desconstituição da constrição judicial, inviável
a condenação em honorários de advogado. Aplicação do princípio da causalidade” – REsp 828.519/MG, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, 2.ª Turma, j. 07.08.2008, DJe 22.08.2008).
10
Sem o princípio da causalidade seria difícil explicar o cabimento de honorários sucumbenciais no âmbito da
execução forçada, em que não se vislumbram vencedor e vencido. Há, de um lado, o portador do título executivo
que, presumivelmente, é o titular do direito material não cumprido espontaneamente pelo seu adversário, o que basta
para que esse último já comece a sofrer medidas de agressão patrimonial desde o princípio do procedimento. Os bens
a serem penhorados devem ser proporcionais ao valor espelhado no título, acrescido das despesas suportadas pelo
exequente até então e dos honorários advocatícios. Se o crédito for satisfeito nesse momento, não haverá imposição
de condenação a verbas sucumbenciais em face do executado, em que pese ele ter saído vencido. Seria descabido
aguardar a satisfação da execução para, daí, apurar o custo suportado pelo exequente e impor ao executado a
condenação nas verbas sucumbenciais seguindo-se os mesmos moldes do processo de conhecimento, pois isso
renderia ensejo a nova execução, que geraria novo custo, a ser recomposto em novo procedimento executivo e assim
subsequentemente, ad infinitum, sempre que se verificasse falta de pagamento espontâneo dos valores devidos em
cada etapa. Em suma, a responsabilidade pelas verbas sucumbenciais decorre do fato de o executado ter dado causa à
instauração da execução, e não por ter dela saído “vencido”; tanto que é fixada no início do processo. Do mesmo
modo, na restauração de autos (CPC, arts. 1.063 a 1.069) não há como reconhecer vencedor e vencido. Todavia, o
art. 1.069 impõe a responsabilidade pelos custos incorridos àquele que deu causa ao desaparecimento dos autos.
Entendemos que o princípio da causalidade também inspira o art. 1.º-D da Lei 9.494/1997, que dispõe: “Não serão
devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não embargadas”. De fato, considerando-se o
mandamento do art. 100 da Constituição Federal – que só autoriza que o Poder Público pague condenações judiciais
por meio dos procedimentos de precatório ou requisição de pequeno valor – a execução da sentença proferida contra
a Fazenda Pública é procedimento obrigatório, que não poderia ser evitado pelo cumprimento espontâneo da
condenação. Ou seja, é a lei que dá causa à execução, não o executado, de tal maneira que o advogado do exequente
é remunerado apenas pela verba concedida pela sentença exequenda.
ao depositário,11 ao administrador, ao inventariante e ao testamenteiro dativos. Devem
igualmente ser incluídas nesse conceito as despesas havidas com a publicação de editais, com a
averbação ou anotação, em registro público, da penhora ou outro ato judicial, os gastos com a
remoção de bens penhorados ou dos bens que guarnecem o imóvel objeto de ordem de
reintegração, manutenção, imissão de posse ou despejo.12
Também se inserem nessa definição as “custas judiciais”, as quais são, segundo entendimento do
STJ, espécie do gênero “despesas processuais”.13 Na categoria das “custas judiciais” devemos
separar a “taxa judiciária” – contraprestação paga ao Estado-juiz pelo serviço jurisdicional,14 que
tem natureza de taxa (CF, art. 145, II, e CTN, arts. 77 e ss.), a qual, como qualquer tributo, deve
ser majorada por lei15 – dos “emolumentos” para prática de atos específicos realizados pela
Serventia Judicial – como a extração de cópias, remessa e retorno de autos, expedição de
certidões, cartas, mandados ou cartas de citação ou intimação e cumprimento de diligências por
Oficial de Justiça –, os quais podem ser instituídos ou majorados por atos infralegais.

11
Nos casos em que há depositário público, a sua remuneração será fixada pela autoridade judiciária. Quando se
tratar de depositário particular, o interessado deverá provar documentalmente o valor da despesa, para eventual
reembolso caso saia vencedor. O STJ já decidiu que, nesse segundo caso, o valor a ser reembolsado não deveria ser
aquele indicado pelo interessado, mas sim aquele previsto no Regimento de Custas do Estado: “Processual civil.
Armazenamento de mercadorias. Inexistência de deposito público. Despesas com depositário particular. Ausência de
prova objetiva que justifique a quantia paga ao depositário dos bens. Fixação do valor das despesas com base no
Regimento de Custas do Estado (RS): Possibilidade. Aferição, na estreita via do especial, do valor a ser reembolsado
pelas despesas expendidas com o depositário particular: Impossibilidade. Recurso especial não conhecido” (REsp
63.962/RS, Rel. Min. Adhemar Maciel, 6.ª Turma, j. 30.10.1995, DJ 04.03.1996, p. 5423).
12
RT 621/168, citado por Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery (Código de Processo Civil comentado e
legislação processual em vigor. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: RT, 2003. p. 381).
13
EDcl no REsp 259.589/RJ, Rel. Min. Sálvio De Figueiredo Teixeira, 4.ª Turma, j. 17.10.2000, DJ 11.12.2000, p.
210. Há acórdão do STJ que propõe classificação ainda mais detalhada: “1. Custas são o preço decorrente da
prestação da atividade jurisdicional, desenvolvida pelo Estado-juiz através de suas serventias e cartórios. 2.
Emolumentos são o preço dos serviços praticados pelos serventuários de cartório ou serventias não oficializados,
remunerados pelo valor dos serviços desenvolvidos e não pelos cofres públicos. 3. Despesas, em sentido restrito, são
a remuneração de terceiras pessoas acionadas pelo aparelho jurisprudencial, no desenvolvimento da atividade do
Estado-juiz” (REsp 366.005/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª Turma, j. 17.12.2002, DJ 10.03.2003, p.152).
14
Essa taxa é normalmente cobrada quando do ajuizamento da demanda e no ato da interposição do recurso (é o
chamado “preparo”, que não se confunde com o “porte de remessa e retorno”, considerado emolumento, que
remunera as despesas postais para que os autos saiam do órgão a quo e sejam mandados ao órgão ad quem, e vice-
versa). É o que dispõe a lei de custas no âmbito da Justiça Federal (Lei 9.289/1996, art.14) e, em linhas gerais, as leis
de diversos Estados (v.g., em São Paulo, que ainda prevê uma terceira parcela da taxa judiciária, a ser paga quando
da satisfação da execução, conforme art. 4.º da Lei Estadual 11.608/2003).
15
Esse é o entendimento consagrado pelo STF há décadas: Rp 1094, Rel. Min. Soares Muñoz, Rel. p/ Acórdão: Min.
Moreira Alves, Tribunal Pleno, j. 08.08.1984, DJ 04.09.1992, p. 14090, RTJ 141/430.
4. Honorários sucumbenciais

Considerando-se que, como regra, os litigantes só têm capacidade postulatória quando


representados por advogado (CPC, art. 36), e que esse profissional faz jus à remuneração (salvo
se excepcionalmente abrir mão de contraprestação pelos seus serviços, o que não se presume), o
natural é que qualquer indivíduo sofra redução patrimonial sempre que precisar litigar em juízo,
seja como autor, seja como réu, em razão dos honorários devidos ao seu patrono.
Visando permitir a recomposição (ao menos parcial) desse prejuízo é que o art. 20, caput, do
CPC estabeleceu que o vencido pagará honorários ao advogado do vencedor.
Todavia, a norma não pode ser lida isoladamente, sem consideração às normas constantes do
“Estatuto da Advocacia” (Lei 8.906/1994), pois o art. 22 desse diploma prevê que o advogado faz
jus aos “honorários convencionados” (ou contratuais) e também “aos de sucumbência”, e que
qualquer disposição contratual que frustre o direito à segunda verba é nula (art. 24, § 3.º).
Nesse passo, os honorários sucumbenciais não cumprem o papel de recompor a redução
patrimonial sofrida pela parte em razão dos honorários contratuais, até porque o art. 22, § 5.º, da
Lei 8.906/1994 garante ao advogado o direito de receber diretamente do adversário de seu
constituinte os honorários contratuais, desde que junte “aos autos o seu contrato de honorários
antes de expedir-se o mandado de levantamento ou precatório”.16
A propósito de beneficiar os advogados, as normas dos arts. 22 a 24 da Lei 8.906/1994 acabam
trazendo impedimento a que o processo assegure ao litigante vencedor a mesma posição a que
teria direito se tivesse ocorrido o respeito espontâneo ao seu direito pelo seu adversário no plano
material.
A forma de recompor essa perda patrimonial seria autorizar o litigante a deduzir pretensão

16
O STJ já decidiu reiteradamente que, havendo controvérsia entre advogado e cliente a respeito do valor da verba
honorária contratual devida, impede a “reserva” de parte da condenação, e exige do advogado que ajuíze demanda
autônoma: “A discordância entre a parte exequente e o advogado em relação ao quantum que pretende ver destacado
a título de honorários contratuais, como, no caso de sucessão de procuradores, revela a instauração de novo litígio,
por isso que a satisfação do direito consagrado no vínculo contratual deve ser perquirida por meio de ação autônoma;
vale dizer, em sede de execução de título extrajudicial, nos termos do art. 585, VIII, do CPC c/c art. 24, da Lei n.º
8.906/94. (Precedentes: REsp 766.279/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1.ª Turma, j. 20/10/2005, DJ
18/09/2006 p. 278; REsp 556570/SP, Rel. Min. Paulo Medina, 6.ª Turma, j. 06/04/2004, DJ 17/05/2004 p. 301; RMS
1012/RJ, Rel. Min. Garcia Vieira, 1.ª Turma, j. 21.06.1993, DJ 23.08.1993 p. 16559; AgRg no REsp 1048229/PR,
Rel. Min. Francisco Falcão, 1.ª Turma, j. 07.08.2008, DJe 27.08.2008; REsp 641146/SC, Rel. Min. Teori Albino
Zavascki, 1.ª Turma, j. 21.09.2006, DJ 05.10.2006 p. 240)” (REsp 1087135/PR, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j.
03.11.2009, DJe 17.11.2009).
indenizatória, e, embora conte com inequívoca base legal (CC, arts. 389, 395 e 404),17 trata-se de
solução ainda controvertida.18-19
De toda sorte, o art. 23 da Lei 8.906/1994 dá ao advogado o “direito autônomo” aos honorários
sucumbenciais, podendo, em seu nome, “executar a sentença nesta parte”,20-21 bem como

17
“Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”; “Art. 395. Responde o devedor
pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”; e “Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de
pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos,
abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional”.
18
No STJ, logramos encontrar um único julgado sobre o tema, o qual reconhece possível a cobrança dos honorários
contratuais: “Civil e processual civil. Valores despendidos a título de honorários advocatícios contratuais. Perdas e
danos. Princípio da restituição integral. 1. Aquele que deu causa ao processo deve restituir os valores despendidos
pela outra parte com os honorários contratuais, que integram o valor devido a título de perdas e danos, nos termos
dos arts. 389, 395 e 404 do CC/02” (REsp 1134725/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 14.06.2011, DJe
24.06.2011). Nas instâncias ordinárias, a matéria é altamente controvertida. À guisa de exemplo, vejam-se dois
julgados recentes do TJSP, um favorável, outro contrário à tese acolhida no STJ: “Cobrança de honorários
advocatícios contratados. Aquele que deu causa ao processo deve restituir os valores despendidos pela outra parte
com os honorários contratuais, que integram o valor devido a título de perdas e danos, nos termos dos arts. 389, 395
e 404 do Código Civil” (Apelação 0009983-15.2010.8.26.0344, Câmara Reservada de Direito Empresarial, Rel. Des.
Romeu Ricupero, j. 08.11.2011), e “Por outro lado, inviável o ressarcimento dos honorários contratuais. O negócio
jurídico foi estabelecido entre o autor e seu patrono, não podendo atingir a esfera jurídica da parte contrária, que não
teve qualquer participação. Ademais, a própria lei estabelece que a parte sucumbente será condenada nas despesas
processuais e honorários de advogado, que serão fixados pelo juiz (art. 20, CPC), não incluídos os honorários
contratuais pactuados entre terceiros” (Apelação 0175545-32.2010.8.26.0100, 11.ª Câmara de Direito Privado, Rel.
Des. Gilberto dos Santos, j. 28.07.2011).
19
De toda sorte, parece plenamente possível que o vencido que litigou de má-fé seja condenado a reembolsar os
honorários contratuais despendidos pelo vencedor com base no art. 18 do CPC, que não autoriza apenas a imposição
de multa, mas também de “todas as despesas” que a vítima da litigância de má-fé efetuou. Nesse sentido, há julgado
do extinto 1.º TAC: “Honorários de advogado. Litigância de má-fé. Propositura de demanda destituída de mínima
verossimilhança e rigor técnico. Ocorrência de prejuízo ao demandado. Dever de ressarcimento da quantia
despendida a título de honorários contratados pelo consumidor. Pedido contraposto procedente. Recurso adesivo
provido para esse fim” (Apelação 1.285.018-1, Rel. Des. Ricardo Negrão, 10.ª Câmara, j. 28.09.2004).
20
O STJ reconhece que a parte pode executar em seu nome essa verba, com o restante da condenação, sem cogitar de
prejuízo ao “direito autônomo” do advogado: “Embora tenha o advogado o direito autônomo de executar a decisão
judicial, na parte referente à condenação nos ônus sucumbenciais, possui a própria parte legitimidade concorrente
para a execução da verba honorária. Precedentes” (AgRg no REsp 1002817/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, 5.ª Turma, j.
16.12.2008, DJe 09.02.2009). “A Colenda Segunda Seção desta Corte pacificou orientação no sentido de que a parte
tem legitimidade para recorrer da decisão no concernente aos honorários e, até mesmo, executar a verba honorária de
seu patrono” (AgRg no Ag 523.809/RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini, 4.ª Turma, j. 02.09.2004, DJ 08.11.2004, p.
238). “É cediço nesta Corte que a execução da sentença, na parte alusiva aos honorários resultantes da sucumbência,
pode ser promovida tanto pela parte como pelo advogado. Precedentes: REsp 533419/RJ, Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, DJ 15.03.2004; REsp 457753/PR, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ 24.03.2003; REsp 456955/MG,
Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ 19.12.2003; AGA 505690/DF, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ
17.11.2003; REsp 191.378/MG, 4.ª Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, unânime, DJ 20.11.2000; REsp 252.141/DF,
6.ª Turma, Rel. Min.Vicente Leal, unânime, DJ 15.10.2001; REsp 304.564/MS, 5.ª Turma, Rel. Min. Felix Fischer,
unânime, DJ 04.06.2001” (REsp 828.300/SC, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j. 03.04.2008, DJe 24.04.2008). Nesse
passo, acaba-se por reconhecer legitimação extraordinária à míngua de expressa disposição legal.
21
Segundo o STJ, o mesmo direito estende-se à sociedade de advogados: desde que seja mencionada no instrumento
procuratório, como manda o art. 15, § 3.º, da Lei 8.906/1994: “o art. 15, § 3.º, da Lei 8.906/94 autoriza o
levantamento em nome da sociedade caso haja indicação desta na procuração. Há, ainda, outra hipótese em que a
“requerer que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor”. A nosso ver, esse
dispositivo traz consigo, implicitamente, o direito de o advogado recorrer da decisão que fixa a
verba honorária a seu favor,22 mesmo que seja como terceiro interessado (CPC, art. 499).23
Importa também registrar que os honorários sucumbenciais cabem pessoalmente ao advogado
dativo (indicado para defender o necessitado nos termos do art. 22, § 1.º, da Lei 8.906/1994 ou
para funcionar como curador especial).24
Do mesmo modo, o juiz deve fixar honorários sucumbenciais em favor de advogados públicos

sociedade torna-se credora dos honorários: quando cessionária do respectivo crédito” (REsp 437.853/DF, Rel. Min.
Teori Albino Zavascki, 1.ª Turma, j. 25.05.2004, DJ 07.06.2004, p. 160). Todavia, há acórdãos em sentido contrário,
que reconhecem a legitimidade da sociedade mesmo que a procuração tenha sido outorgada apenas a um ou vários de
seus sócios, sem menção a ela: “A sociedade de advogados possui legitimidade para a execução da verba honorária,
mesmo que do instrumento de mandato outorgado individualmente aos seus integrantes dela não haja menção”
(AgRg no REsp 1002817/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, 5.ª Turma, j. 16.12.2008, DJe 09.02.2009. “Sociedade de
advogados tem legitimidade para levantar ou executar honorários quando a procuração é outorgada a advogado que
dela faz parte” (REsp 529.340/SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 2.ª Turma, j. 06.02.2007, DJ 07.03.2007, p.
211).
22
A jurisprudência do STJ coerentemente reconhece a legitimidade concorrente do advogado e do seu constituinte
para recorrer quanto aos honorários sucumbenciais: “Tanto a parte quanto seu advogado, em nome próprio, têm
legitimidade para recorrer de decisão que cuida de honorários advocatícios. Precedentes” (REsp 614.218/PR, Rel.
Min. João Otávio de Noronha, 2.ª Turma, j. 19.10.2006, DJ 07.12.2006, p. 289). “Embora o advogado tenha o direito
autônomo de executar os honorários de sucumbência, não se exclui a possibilidade de a parte, representada pelo
mesmo advogado, opor-se ao montante fixado a título de verba honorária” (REsp 821.247/PR, Rel. Min. Denise
Arruda, 1.ª Turma, j. 23.10.2007, DJ 19.11.2007, p. 191). “2 – É firme o entendimento deste Tribunal Superior no
sentido de que tanto a parte como o advogado têm legitimidade para recorrer da decisão judicial relativa a honorários
advocatícios. Precedentes (REsp 361.713/RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ 10.05.2004; EDcl no REsp
225.576/RS, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 10.03.2003; REsp 724.867/MA, Rel. Min. Fernando
Gonçalves, DJ 11.04.2005; REsp 763.030/PR, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJ 19.12.2005; AgRg no REsp
432.222/ES, Rel. Min. Castro Filho, DJ 25.04.2005, entre outros)” (REsp 739.832/DF, Rel. Min. Jorge Scartezzini,
4.ª Turma, j. 06.06.2006, DJ 14.08.2006 p. 288). Registre-se que mesmo no caso de advogado dativo, reconhece-se
essa legitimidade recursal concorrente: “A parte assistida tem o direito de recorrer da decisão que indeferiu o
arbitramento dos honorários do defensor dativo” (REsp 131.728/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, 4.ª Turma, j.
17.12.1998, DJ 15.03.1999, p. 229).
23
Assim já reconheceu o STJ em diversas oportunidades: “O advogado, na condição de terceiro interessado, tem
legitimidade para recorrer de parte da sentença onde fixados os honorários” (REsp 724.867/MA, Rel. Min. Fernando
Gonçalves, 4.ª Turma, j. 17.03.2005, DJ 11.04.2005 p. 330). “A Segunda Seção assentou que o advogado, como
terceiro interessado, tem legitimidade para recorrer da parte da sentença que fixou os honorários” (REsp 586.337/RS,
Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3.ª Turma, j. 26.08.2004, DJ 11.10.2004, p. 321).
24
Trata-se de entendimento consolidado no STJ: “Nos termos da jurisprudência do STJ, “restando vencedora em
demanda contra o Estado parte representada por advogado legalmente habilitado na condição de curador especial a
condenação em honorários advocatícios se perfaz lícita, devendo ser mantida” (AgRg no REsp 816.383/MG, Rel.
Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, DJU 23.08.2007)” (AgRg no REsp 952.095/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2.ª
Turma, j. 18.12.2008, DJe 13.02.2009). “Em execução fiscal, são devidos honorários em favor do advogado, que não
é defensor público, nomeado curador especial do réu revel citado por edital quando, após sua manifestação nos autos,
houver a extinção da execução (REsp 812.193/MG, 1.ª T., Min. Luiz Fux, DJ 28.08.2006; REsp 833362/MG, 2.ª T.,
Min. Castro Meira, DJ 28.06.2006; AgRg no REsp 783.024/MG, 1.ª T., Min. Luiz Fux, DJ 19.06.2006; AgRg no
AgRg no REsp 736.179/MG, 1.ª T., Min. Luiz Fux, DJ 04.06.2007; e REsp 782.826/MG, 1.ª T., Min. José Delgado,
DJ 22.05.2006)” (REsp 627.292/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1.ª Turma, j. 07.08.2007, DJ 20.08.2007, p.
238).
(da União, Estados ou Municípios), mas a verba destinar-se-á à pessoa jurídica de direito público
que os constituiu,25 ainda que a repasse para gestão pelo órgão de patrocínio.
A mesma lógica se aplica ao Ministério Público26-27 e à Defensoria Pública,28 com a diferença de
que, se em qualquer dos casos houver patrocínio de causa contra ente da federação que os
remunera, ocorrerá confusão, a excluir a condenação em honorários sucumbenciais.29

5. Responsabilidade pelo custo do recurso e do incidente (apenas despesas processuais) e


da demanda incidental (despesas processuais e honorários sucumbenciais)

O art. 20, § 1.º, do CPC determina que, ao julgar o recurso e o “incidente”, o órgão judicial deve
ater-se a condenar o vencido ao pagamento das despesas processuais. A contrario sensu, o
dispositivo exclui a condenação do vencido no recurso e no incidente processual ao pagamento
de honorários ao advogado do vencedor.
A definição do que é recurso não oferece nenhuma dificuldade, uma vez que, em face do
“princípio da taxatividade”, suas modalidades se acham catalogadas em lei, sobretudo pelo art.
496 do CPC. Assim, pela letra do art. 20, § 1.º, do CPC, não se impõe condenação a honorários
sucumbenciais apenas pela derrota no recurso. Esse dispositivo, contudo, não impede que se
imponha a condenação ao pagamento de honorários quando a apelação for provida, com a
reforma da sentença apelada.30 Do contrário, mantida a sentença, o Tribunal não atribuirá ao

25
“A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que os honorários advocatícios de
sucumbência, quando vencedor o ente público, não constituem direito autônomo do procurador judicial, porque
integram o patrimônio público da entidade” (AgRg no Ag 824.399/GO, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5.ª Turma,
j. 24.04.2007, DJ 21.05.2007, p. 611).
26
Por força do art. 128, § 5.º, II, “a”, e art. 44 da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei 8.625/1993), aos
membros do Ministério Público é vedado receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários.
27
“É cabível a condenação na verba advocatícia em ação acidentária, mesmo que esta tenha sido patrocinada pelo
Ministério Público. Nesse caso, porém, deve ser recolhida aos cofres públicos” (REsp 10.668/SP, Rel. Min. Antônio
de Pádua Ribeiro, 2.ª Turma, j. 23.08.1993, DJ 13.09.1993, p. 18552).
28
Por força da Lei Complementar n. 12/1994, o defensor público está proibido de “receber, a qualquer título e sob
qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais, em razão de suas atribuições” (Lei
Complementar, arts. 46, III, 91, III e 130, III), de tal modo que a verba sucumbencial percebida nos processos em
que atuou a Defensoria Pública será destinada “a fundos geridos pela Defensoria Pública e destinados,
exclusivamente, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus membros e servidores”
(art. 4.º, XXI, com redação dada pela Lei Complementar 132/2009).
29
Esse entendimento restou cristalizado na Súmula 421 do STJ: “Os honorários advocatícios não são devidos à
Defensoria Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença”.
30
O mesmo pode ocorrer em sede de agravo de instrumento que desafia o indeferimento de questão preliminar e é
provido, determinando-se a extinção do processo sem exame de mérito. O mesmo raciocínio pode ser replicado para
advogado do vencedor uma nova e diversa honorária em razão da nova sucumbência
experimentada por seu adversário (agora, em grau recursal).31
A definição do que seja “incidente processual”, por sua vez, oferece algumas dificuldades.
Parece-nos suficiente afirmar que o “incidente” é palco para solução de questão de cunho
processual, que não toca os direitos controvertidos no plano material (o meritum causae), e que
notadamente se encerra por decisão interlocutória.
O incidente processual não se confunde com a “demanda incidente”, a qual é portadora de pedido
de tutela jurisdicional quanto ao direito material controvertido. A demanda incidente é
apresentada em processo já instaurado (o qual contém a demanda original) e pode ou não
implicar instauração de um novo processo incidente. O que importa é que a demanda incidente é
destinada a ser resolvida por sentença (com ou sem exame de mérito, nos termos dos arts. 162, §
1.º, 267 e 269 do CPC). A solução da demanda incidente exige a condenação do vencido em
pagar honorários ao advogado do vencedor, nos termos do caput do art. 20, bem como do art. 34
do mesmo diploma.
Na primeira categoria (incidente processual), encaixa-se, por exemplo, a exceção de
incompetência, a impugnação ao valor da causa,32 a expedição de precatório complementar em
execução contra a Fazenda Pública,33 a suscitação de impenhorabilidade de bem por simples
petição34 etc.
Na segunda categoria (demanda incidental), incluem-se a reconvenção, a demanda declaratória
incidental, a oposição,35 os embargos à execução e, ainda, o processo cautelar36 (todos resolvidos

o recurso especial ou extraordinário que tenha o mesmo objetivo.


31
Essa situação se altera no projeto de novo CPC, tal como aprovado pelo Senado Federal em 15.12.2010, cujo § 7.º
do art. 87 dispõe que “A instância recursal, de ofício ou a requerimento da parte, fixará nova verba honorária
advocatícia, observando-se o disposto nos §§ 2.º e 3.º e o limite total de vinte e cinco por cento para a fase de
conhecimento”.
32
“A decisão do incidente de impugnação do valor da causa não comporta condenação em honorários de advogado”
(REsp 5.811/CE, Rel. Min. Fontes de Alencar, 4.ª Turma, j. 04.12.1990, DJ 25.03.1991, p. 3227).
33
“1. A execução é una e, portanto, a expedição de precatório complementar é mero incidente de atualização de
valores em que não há citação da parte contrária e oposição de embargos. 2. Na impugnação aos cálculos
apresentados para precatório complementar não cabe condenação em honorários advocatícios” (REsp 782.231/RJ,
Rel. Min. Carlos Fernando Mathias (juiz convocado do TRF 1.ª Região), 6.ª Turma, j. 06.12.2007, DJ 19.12.2007, p.
1245)
34
Assim já entendeu o STJ: “Se a impenhorabilidade de bem de família pode ser alegada em simples petição nos
autos, a desnecessária oposição de embargos não acarreta a condenação do embargado ao pagamento da verba
sucumbencial, se este de pronto concorda com o levantamento da constrição” (AgRg no REsp 844.766/DF, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros, 3.ª Turma, j. 12.02.2008, DJe 23.06.2008).
35
No caso da oposição, essa afirmação se aplica apenas àquela “oferecida antes da audiência” (CPC, art. 59), a qual é
denominada “interventiva”.
por sentença, conforme rezam os arts. 5.º, 34, 59, 318, 325 e 520, IV e V, do CPC).
A distinção, embora funcione para grande parte dos casos, apresenta diversos pontos de dúvida,
que se descortinam relevantes quando da fixação ou não de honorários sucumbenciais.
Em alguns casos o Código optou em classificar como demanda incidente determinados pedidos
de providência jurisdicional que não tocam diretamente ao direito material controvertido. Isso
ocorre quanto a procedimentos cautelares em espécie (como, e.g., a produção antecipada de
provas), ou a alguns procedimentos especiais (como, e.g., a habilitação – CPC, arts. 1.055 e
seguintes).
Confrontada com essa incongruência em diversas hipóteses, a jurisprudência houve por bem
reconhecer o cabimento da verba honorária apenas se houver, em tais casos, “litigiosidade” entre
as partes,37 critério que não encontra fundamento no Código de Processo Civil (pelo contrário, o
art. 26 do CPC determina o pagamento de honorários mesmo na hipótese de reconhecimento
jurídico do pedido, que implica extinção do processo sem “contenciosidade”).
Da mesma forma, os embargos à execução sempre foram considerados demanda incidente
mesmo quando destinados exclusivamente à alegação de questões processuais (como nulidades
processuais ocorridas até a penhora – CPC, art. 741, V, em sua redação original). A
jurisprudência, aqui, nunca titubeou em fixar honorários sucumbenciais apegando-se cegamente à
classificação dos embargos à execução como demanda incidente.
A situação inversa também é comum, isto é, verdadeiras demandas incidentais receberem

36
À guisa de exemplo, seguem dois acórdãos do STJ particularmente bem fundamentados: “possuindo o processo
cautelar autonomia jurídica em relação ao principal, as partes, uma vez instaurada litigiosidade em torno da
providência assecuratória requerida, ficam sujeitas às regras gerais de sucumbência (arts. 20 e 21, CPC), incumbindo
ao juiz, ao decidir demanda preparatória ou incidente, dispor, relativamente a essa demanda, acerca da
responsabilidade pelo pagamento das despesas processuais respectivas e dos honorários advocatícios” (REsp
11.956/MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4.ª Turma, j. 22.02.1994, DJ 28.03.1994, p. 6324) e
“Processual civil. Ação cautelar. Honorários advocatícios. A jurisprudência do STJ consolidou o entendimento de ser
devida a condenação em honorários advocatícios da parte sucumbente em processo cautelar, cuidando-se em tais
casos de ‘ação’ e não de mero incidente” (REsp 178.455/RJ, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, 5.ª Turma, j.
22.09.1998, DJ 13.10.1998, p. 178). Registre-se que o STJ acaba por contradizer-se quando autoriza uma única
fixação de honorários para demanda principal e cautelar, quando sentenciadas em conjunto como, v.g., no seguinte
aresto: “Não afronta o art. 20, do CPC, a sentença que, ao julgar concomitantemente as ações principal e cautelar,
fixa uma única condenação em honorários para ambos os feitos, estabelecida com base no valor da causa da ação
principal” (AgRg no REsp 685.171/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 2.ª Turma, j. 16.08.2007, DJ 08.02.2008, p.
640).
37
Esse critério norteia a análise de diversos casos, como nos exemplos dados no corpo do texto: a) produção
antecipada de provas (“Deve ser condenado a pagar honorários o réu que resiste à pretensão cautelar de produção
antecipada de provas e, ao final, fica vencido” – AgRg no REsp 826.805/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros,
Terceira Turma, j. 06.12.2007, DJ 18.12.2007, p. 269); b) habilitação de crédito em falência (“Havendo a
contenciosidade em face da impugnação apresentada, são devidos honorários advocatícios pela parte que restar
vencida” – REsp 188759/MG, Rel. Min. Barros Monteiro, 4.ª Turma, j. 23.02.1999, DJ 14.02.2000, p. 37).
indevidamente o tratamento de simples incidente no tocante aos honorários advocatícios.
O impropriamente denominado “incidente” de falsidade documental é, em realidade, catalogado
como modalidade de demanda declaratória incidental,38 mas ainda assim o STJ, levado pela
terminologia equivocada empregada pelo art. 390 do CPC, nega ao seu vencedor o direito a
honorários.39 Há aí, data venia, erro manifesto.
No caso da denunciação da lide – considerada indubitavelmente demanda incidental40 –
reconhece-se que o denunciante, vencido quanto à sua pretensão de regresso,41 deve pagar
honorários sucumbenciais ao advogado do denunciado, vencedor. Todavia, no caso de
procedência da demanda de regresso, a jurisprudência deixa de atribuir verba honorária ao
advogado do denunciante se o denunciado “aceitou” a denunciação.42 O entendimento colide, a

38
“O incidente de falsidade documental tem a mesma natureza da ação declaratória incidental” (REsp 30321/RS,
Rel. Min. Claudio Santos, 3.ª Turma, j. 24.05.1994, DJ 27.06.1994, p. 16973).
39
“Não cabe condenação em honorários advocatícios no incidente de falsidade” (REsp 757.846/GO, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros, 3.ª Turma, j. 06.04.2006, DJ 15.05.2006, p. 211) e “Não há falar em condenação ao
pagamento de honorários advocatícios em sede de incidente de falsidade documental, à luz do art. 20, § 1.º, do CPC”
(AgRg no REsp 1024640/DF, Rel. Min. Massami Uyeda, 3.ª Turma, j. 16.12.2008, DJe 10.02.2009).
40
A denunciação da lide assume essa condição quando manejada pelo réu (o que acontece na esmagadora maioria
das vezes); quando requerida pelo autor (o que acontece em hipóteses raríssimas), implica cúmulo eventual de
demandas contra réus distintos (CPC, art. 289).
41
Eis alguns acórdãos do STJ nesse sentido: “Em atenção ao princípio da causalidade, o litisdenunciante que não se
desincumbir de seu ônus probatório também arca com as despesas processuais e honorários advocatícios decorrentes
da improcedência da denunciação da lide” (REsp 879.567/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 12.05.2009,
DJe 29.05.2009). Essa responsabilidade do litisdenunciante existe mesmo que a demanda principal tenha sido
improcedente, tornando prejudicada a demanda de regresso, exceto quando a denunciação da lide era obrigatória
(CPC, art. 70, I, e CC, art. 456), conforme já decidiu o STJ em diversas oportunidades: “Nos casos como o presente,
em que não é obrigatória a denunciação, o denunciante à lide, mesmo tendo sido vencedor na ação principal, deve
arcar com os honorários advocatícios devidos ao denunciado e com as custas processuais relativas à lide secundária”
(AgRg nos EDcl no Ag 550.764/RJ, Rel. Min. Castro Filho, 3.ª Turma, j. 28.06.2006, DJ 11.09.2006, p. 248). “Nas
hipóteses de denunciação facultativa em que o réu se antecipa e instaura a lide secundária sem a solução da principal
ele deverá arcar com os encargos sucumbenciais, porquanto ajuizou a ação incidental, por ato voluntário, visto que
não teria nenhum prejuízo em aguardar o trânsito em julgado da lide proposta contra ele para se fosse o caso
promover a ação regressiva contra o terceiro” (REsp 258.335/SE, Rel. Min. Castro Meira, 2.ª Turma, j. 14.12.2004,
DJ 21.03.2005, p. 305). “Processual civil. Agravo regimental. Indenização. Improcedente. Denunciação da lide
considerada não obrigatória. Art. 70, III, do CPC. Honorários do litisdenunciado devidos” (AgRg no Ag 569.044/RS,
Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, 4.ª Turma, j. 22.06.2004, DJ 16.11.2004, p. 291). “Julgada improcedente a ação, o
réu que denunciou terceiro à lide, em função de garantia imprópria, responde pelos honorários de advogado do
denunciado. Recurso especial conhecido e provido” (REsp 292.852/RJ, Rel. Min. Ari Pargendler, 3.ª Turma, j.
06.12.2001, DJ 27.05.2002 p. 168).
42
O STJ, aqui, considera que o denunciado à lide estaria eximido do pagamento dessa verba se “não resistir” à
pretensão regressiva do denunciante: “Processual civil. Agravo regimental. Indenização. Denunciação da lide.
Honorários advocatícios. Inexistência de resistência por parte do denunciado. Descabimento de condenação ao
pagamento da verba honorária. Súmula n. 83/STJ. Improvimento” (AgRg no Ag 733.386/RS, Rel. Min. Aldir
Passarinho Junior, 4.ª Turma, j. 16.03.2006, DJ 15.05.2006, p. 229); “Inexistindo resistência do denunciado, que
aceitou a sua condição e se colocou como litisconsorte da denunciante, é descabida a sua condenação em honorários
de advogado pela denunciação da lide” (REsp 579.386/RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, 4.ª Turma, j. 17.11.2005, DJ
19.12.2005, p. 416). “Denunciada que aceita denunciação e comparece ao processo, unicamente, para proteger o
nosso ver, com o art. 26 do CPC, a ser oportunamente comentado.
A liquidação de sentença também sempre ofereceu dificuldades, mesmo anteriormente à Lei
11.232/2005. Segundo jurisprudência firmada no STJ, apenas a liquidação por artigos
comportaria condenação em honorários,43 mas por arbitramento, não.44-45 A nosso ver, a distinção
não se justificava, considerando que a liquidação (por artigos ou por arbitramento) ostentava a

capital segurado, não responde pela verba de sucumbência correspondente à denunciação da lide” (REsp 264.119/RJ,
Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, 3.ª Turma, j. 1.º.09.2005, DJ 03.10.2005, p. 239). “Não havendo resistência
da denunciada, ou seja, vindo ela a aceitar a sua condição e se colocando como litisconsorte do réu denunciante,
descabe a sua condenação em honorários pela denunciação da lide, em relação à ré-denunciante” (REsp 530.744/RO,
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4.ª Turma, j. 19.08.2003, DJ 29.09.2003, p. 273). “À vista da natureza
condicional da denunciação da lide, a respectiva procedência só induz a condenação em honorários de advogado,
quando for objeto de resistência; se aderiu, simplesmente, à defesa que o denunciante opôs ao autor da demanda, sem
negar sua responsabilidade acaso procedente a ação, o denunciado não está sujeito ao pagamento de honorários de
advogado” (REsp 285.723/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Ari Pargendler, 3.ª Turma, j.
12.11.2001, DJ 08.04.2002, p. 210).
43
“No processo de liquidação por artigos, de procedimento ordinário, há lugar para a condenação em honorários de
advogado, devendo suportá-los por inteiro a parte que decai, de forma substancial (art. 21, parágrafo único, CPC)”
(REsp 7489/SP, Rel. Min. Dias Trindade, 3.ª Turma, j. 20.03.1991, DJ 22.04.1991, p. 4787). “Sendo a forma de
liquidação por artigos determinada por sentença por trânsito em julgado, e sendo esta forma a correta, dada a
necessidade de se provar fato novo, cabível a condenação em honorários de advogado também na liquidação” (REsp
179355/SP, Rel. Min. Garcia Vieira, 1.ª Turma, j. 17.09.1998, DJ 26.10.1998, p. 74). “Assumindo a liquidação por
artigos cunho de contenciosidade, evidenciada pela clara resistência oposta pelo réu, são devidos os honorários de
advogado” (EREsp 179355/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, Corte Especial, j. 17.10.2001, DJ 11.03.2002, p. 153).
44
Essa posição do STJ assentava-se sobre a afirmação (desprovida de base legal) de que a liquidação por
arbitramento seria mero incidente mesmo antes da Lei 11.232/2005: “Processo civil. Liquidação por arbitramento.
Honorários de advogado. Descabimento. Art. 20, § 1.º, CPC. Precedentes. Agravo contra inadmissão de recurso
especial. Provimento parcial. Preclusão dos temas desacolhidos no agravo. Recurso provido. I – A liquidação é
procedimento preparatório, de natureza cognitiva, que visa a tornar líquida a sentença, sendo, portanto, incidente
final do processo de conhecimento e não incidente da execução. II – Embora a liquidação seja um incidente
processual, no que tange à sua modalidade por artigos, por suas características e peculiaridades, como procedimento
complementar da sentença de mérito, não se enquadra ela rigorosamente na previsão do § 1.º do art. 20, CPC,
podendo, excepcionalmente, ensejar a alteração dos honorários advocatícios. Tal possibilidade, no entanto, não se dá
na modalidade de liquidação por arbitramento. III – Na liquidação por arbitramento, as partes podem impugnar os
laudos periciais, discordar dos valores apurados ou do método empregado, porém não revertem a condenação já
imposta na sentença de mérito. A controvérsia que se pode instaurar diz respeito apenas à quantidade da condenação,
mas não à sua qualidade, não cabendo honorários advocatícios ou a alteração dos arbitrados na sentença de mérito”
(REsp 276010/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4.ª Turma, j. 24.10.2000, DJ 18.12.2000, p. 209). No
mesmo sentido: “Liquidação de sentença por arbitramento. Honorários advocatícios. Descabimento. Na liquidação
de sentença, onde já fixados honorários advocatícios, não têm cabimento novos honorários. ‘Non bis in idem’”
(REsp 39371/RS, Rel. Min. Nilson Naves, 3.ª Turma, j. 08.08.1994, DJ 24.10.1994, p. 28753)
45
De toda sorte, a partir da Lei 8.898/1994 (a qual extinguiu a liquidação por cálculos do contador), a discussão
sobre as operações aritméticas empregadas para apuração do quantum debeatur foi relegada para os embargos à
execução (CPC, art. 741, V, em sua redação anterior à Lei n. 11.232/2005), reputados processo incidente.
Atualmente, o contraditório a esse respeito acabou reservado à impugnação ao cumprimento de sentença (CPC, art.
475-L, V), e os problemas daí decorrentes serão examinados oportunamente. De qualquer modo, qualquer decisão
posterior que dirima controvérsia entre exequente e executado no tocante à atualização do valor da execução não
impõe condenação em verba honorária por se tratar, aí, de mero incidente, conforme também decidiu o STJ: “Não é
devida a verba honorária quando solucionado mero incidente processual originado de discordância sobre os cálculos
de liquidação de sentença” (EDcl no AgRg no REsp 122.920/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 2.ª Turma, j.
21.10.2003, DJ 24.11.2003, p. 235).
natureza de processo incidente, pois nela havia citação e proferimento de sentença (CPC, arts.
603, parágrafo único, e 520, III, ambos revogados pela Lei 11.232/2005).
É digna de nota, nesse particular, a exceção de pré-executividade, instituto de criação doutrinária
e pretoriana, que normalmente é reputada simples incidente processual. A jurisprudência acabou
firmando-se no sentido de que a improcedência da exceção de pré-executividade não enseja a
condenação do executado, vencido, em honorários sucumbenciais, justamente por se tratar de
mero incidente processual,46 aplicando-se, pois, o art. 20, § 1.º, do CPC. Por outro lado, no caso
de seu acolhimento integral, com a consequente extinção da execução, o exequente deve ser
condenado a pagar a verba honorária em favor do executado.47 A nosso ver, esse entendimento
jurisprudencial não contraria a lógica do art. 20, § 1.º, do CPC, pois a verba honorária decorre da
extinção da execução (que é processo), e não do acolhimento da exceção de pré-executividade
(que é incidente).48
A crítica que se pode fazer a esse entendimento é o de que a exceção de pré-executividade pode,
muitas vezes, revelar-se verdadeira demanda incidente, sempre que traz alegação de mérito, como
a prescrição ou o pagamento. Sobretudo quando essa alegação é rejeitada pelo mérito, não há por
que negar que o executado-excipiente seja condenado em verba honorária. É preciso, pois,
analisar o conteúdo da exceção de pré-executividade para catalogá-lo como incidente processual

46
“Improcedente o incidente de exceção de pré-executividade, devido o pagamento das despesas respectivas pelo
peticionário à parte contrária, mas não de honorários, haja vista o prosseguimento da execução (art. 20, § 1.º, do
CPC), sem que tenha termo o processo” (REsp 694794/RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, 4.ª Turma, j.
04.05.2006, DJ 19.06.2006, p. 143). “Não cabe a condenação em honorários advocatícios quando, em sede de
execução fiscal, o incidente de exceção de pré-executividade, eventualmente suscitado, for rejeitado e a ação
executiva tiver prosseguimento” (AgRg no REsp 1108931/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2.ª Turma, j.
07.05.2009, DJe 27.05.2009). “Julgada improcedente a objeção de não executividade, e prosseguindo-se na
execução, descabe a condenação em honorários advocatícios” (AgRg no Ag 489.915/SP, Rel. Min. Barros Monteiro,
4.ª Turma, j. 02.03.2004, DJ 10.05.2004, p. 288). “São incabíveis honorários de advogado na exceção de pré-
executividade julgada improcedente, embora o resultado do incidente deva ser considerado na fixação da
sucumbência no processo principal” (EDcl no REsp 1048430/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª Turma, j. 10.02.2009,
DJe 05.03.2009).
47
“A jurisprudência desta Corte vem consolidando-se no sentido de admitir a condenação em honorários
advocatícios nos incidentes de pré-executividade tão somente quando o acolhimento da exceção gerar a extinção do
processo executório” (REsp 751.906/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1.ª Turma, j. 21.02.2006, DJ 06.03.2006,
p. 217). “É cabível a condenação em honorários advocatícios em exceção de pré-executividade apresentada no
executivo fiscal, nos casos de acolhimento do incidente” (REsp 1091166/RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª Turma, j.
21.10.2008, DJe 21.11.2008).
48
Justamente por isso mostra-se criticável a seguinte decisão do STJ que reputou acertada a fixação de verba
sucumbencial decorrente da parcial procedência da exceção de pré-executividade: “Em razão dos princípios da
causalidade e da sucumbência e do caráter contencioso da exceção de pré-executividade, provida esta, ainda que
parcialmente, é devido o pagamento da verba honorária pela parte vencida” (AgRg no REsp 670.038/RS, Rel. Min.
José Delgado, 1.ª Turma, j. 08.03.2005, DJ 18.04.2005, p. 228).
ou demanda incidente, porquanto insuficiente o simples aspecto formal.
Ou seja, desde a promulgação do Código de Processo Civil, a aplicação do art. 20, § 1.º, esbarrou
na dificuldade de divisar de maneira clara os “incidentes” das “demandas incidentais”. E a
quantidade de dúvidas se avolumou consideravelmente ao longo das quase quatro décadas de
vigência do Código, seja em razão da evolução da jurisprudência, seja principalmente pelas
sucessivas reformas legislativas que baralharam ainda mais os conceitos de “incidente” e de
“demanda incidental”.
A Lei 8.952/1994 generalizou a “antecipação de tutela”, permitindo a concessão de medida de
urgência no bojo do processo de conhecimento e execução, independentemente do ajuizamento
de processo cautelar. Posteriormente, a Lei 10.444/2002 estabeleceu a “fungibilidade” entre essas
duas formas de tutela (CPC, art. 273, § 7.º). A novidade legislativa criou situação anacrônica sob
o ponto de vista dos honorários sucumbenciais, pois, se o litigante optar pela segunda forma de
tutela (processo cautelar), haverá ensejo para a fixação de uma diversa verba honorária; do
contrário, escolhendo pedir antecipação de tutela, não haverá uma diversa verba honorária apenas
para esse pleito.
Outra novidade legislativa – o “pedido contraposto”, modalidade de contra-ataque do réu inserida
no procedimento sumário pelo art. 278, § 1.º, do CPC, com redação dada pela Lei 9.245/1995 –
também acabou desprovida de regime legal específico. O entendimento correto é o de que se trata
de modalidade simplificada de reconvenção (porquanto baseada “nos mesmos fatos referidos na
inicial”), de modo a ensejar nova e diversa condenação em honorários.
Veja-se também que a Lei 9.756/1998 previu que o recurso especial contra “acórdão
interlocutório”49 proferido no âmbito do processo de conhecimento ou cautelar deveria ficar
retido, e o STJ passou a admitir que o recorrente pedisse o “destrancamento” ao STJ. Considerou-
se que tal pedido seria mero incidente processual,50 mesmo que o litigante o tivesse denominado
“medida cautelar”. Por sua vez, a medida cautelar destinada a atribuir efeito suspensivo a recurso
especial implicaria condenação em honorários, quando muito, se houvesse “litigiosidade” entre as

49
Rectius, aquele que não “implica” situação do art. 267 ou 269 do CPC.
50
“1. Pouco importa o instrumento de que se vale o interessado para pleitear o destrancamento de recurso especial. 2.
Tal pleito não se sujeita a prazo, porque se ampara exclusivamente na demonstração de urgência pela parte
interessada. 3. Trata-se, na verdade, de mero incidente, que dispensa citação e condenação em honorários” (AgRg na
Pet 4.518/RJ, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, 3.ª Turma, j. 06.06.2006, DJ 19.06.2006, p. 131).
partes.51
Entretanto, as dúvidas proliferaram de maneira verdadeiramente intensa a partir da Lei
11.232/2005, em que a execução de título judicial teve sua autonomia (praticamente) excluída
(restando preservada apenas quando o executado é a Fazenda Pública,52 bem como nos casos de
sentença estrangeira, penal condenatória e arbitral).
O STJ, contudo, tem reiterado o entendimento de que continua prevalecendo o comando do art.
20, § 4.º, do CPC, o qual dá ao juiz o poder de fixar verba honorária na execução embargada ou
não.53 Os principais argumentos para tanto são dados pelo seguinte acórdão da Corte Especial,

51
“Os honorários de advogado são devidos no processo cautelar em havendo litígio, hipótese em que há fato gerador
da sucumbência” (REsp 869.857/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j. 11.03.2008, DJe 10.04.2008). Há diversos
acórdãos do STJ que simplesmente negam que haja fixação de verba honorária nessa situação: “O pedido de efeito
suspensivo a recurso especial não possui natureza jurídica própria de ação cautelar autônoma, tratando-se, tão só, de
mero incidente do recurso. Não há, pois, litígio, e, por consequência, não há vencedor e vencido, o que só ocorre no
feito principal, do qual decorre sucumbência. Não há falar, portanto, em condenação em honorários advocatícios na
cautelar aqui requerida com o objetivo de se obter alteração de efeitos a recurso especial” (AgRg nos EDcl na MC
9.192/SP, Rel. Min. Castro Filho, 3.ª Turma, j. 14.06.2007, DJ 29.06.2007, p. 576), e “O pedido cautelar de
atribuição de efeito suspensivo ao recurso especial, embora processada em autos apartados, possui a natureza
jurídico-processual de um mero incidente, que se esgota no seu deferimento ou rejeição” (MC 13.662/RJ, Rel. Min.
Massami Uyeda, 3.ª Turma, j. 02.12.2008, DJe 17.12.2008).
52
Leia-se: entes da Administração Direta em nível federal, estadual e municipal, bem como as respectivas fundações
e autarquias (“A autarquia estadual está incluída no conceito de Fazenda Pública, devendo os honorários, quando
vencida, ser fixados com base no artigo 20, § 4.º, do CPC” – REsp 222463/PR, Rel. Min. Garcia Vieira, 1.ª Turma, j.
07.10.1999, DJ 29.11.1999, p. 135). Excluem-se as empresas públicas (“Empresa pública não se considera ‘Fazenda
Pública’, para os efeitos do art. 20, § 4.º, do CPC. No cálculo da verba honorária devida por sucumbência destas
empresas, aplica-se o § 3.º do art. 20” – REsp 23213/DF, Rel. Min. Garcia Vieira, Rel. p/ Acórdão Min. Humberto
Gomes de Barros, 1.ª Turma, j. 23.09.1992, DJ 23.11.1992, p. 21847, e “Sendo a Caixa Econômica Federal empresa
pública com personalidade jurídica de direito privado, logo deve-se obedecer o dispositivo do § 3.º do artigo 20 do
Código de Processo Civil” – AgRg no REsp 394078/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, 1.ª Turma, j. 02.05.2002, DJ
09.09.2002, p. 169) e as sociedades de economia mista (Honorários de advogado. Não se aplica às sociedades de
economia mista o § 4.º, mas o § 3.º do art. 20 do Código de Processo Civil” – STF, RE 82215, Rel. Min. Cunha
Peixoto, 1.ª Turma, j. 31.10.1975, DJ 05.12.1975). Nesses dois casos, o regime jurídico é de direito privado, pois há
exploração de atividade econômica (CF, art. 173, § 1.º).
53
“A jurisprudência do STJ entende necessária a fixação de honorários advocatícios na fase de cumprimento da
sentença, inclusive após a nova sistemática da Lei 11.232/2005. Precedente da Corte Especial REsp 1.028.855/SC”
(REsp 1084484/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª Turma, j. 06.08.2009, DJe 21.08.2009). “Cumprimento de
sentença. Honorários advocatícios. Cabimento. São devidos honorários advocatícios no pedido de cumprimento de
sentença” (REsp 987.388/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, 3.ª Turma, j. 24.03.2008, DJe 26.06.2008)
“Processual civil. Fixação de honorários na fase de cumprimento da sentença. Cabimento. Recurso especial provido.
Muito embora o capítulo do cumprimento de sentença seja omisso quanto à fixação da verba honorária, a
interpretação sistemática e teleológica da norma conduz ao entendimento de que é cabível arbitramento de
honorários. Recurso especial provido” (REsp 1050435/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3.ª Turma, j. 10.06.2008, DJe
20.06.2008). “Na nova sistemática processual civil instituída pela Lei n. 11.232/2005, é cabível a condenação a
honorários advocatícios no estágio da execução denominado ‘cumprimento de sentença’” (AgRg no Ag 1080092/RS,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, 4.ª Turma, j. 06.08.2009, DJe 17.08.2009). “Quanto à possibilidade de se fixar
honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença, é cabível a verba sucumbencial em face do não
cumprimento voluntário por parte do devedor da obrigação imposta. In casu, não são devidos honorários
advocatícios, pois houve o depósito do valor da condenação pela ré, sem que fosse apresentada impugnação” (AgRg
no REsp 1060935/RS, Rel. Min. Massami Uyeda, 3.ª Turma, j. 18.11.2008, DJe 03.12.2008). Destoando desse
cuja ementa importa transcrever:
O fato de se ter alterado a natureza da execução de sentença, que deixou de ser tratada
como processo autônomo e passou a ser mera fase complementar do mesmo processo
em que o provimento é assegurado, não traz nenhuma modificação no que tange aos
honorários advocatícios. A própria interpretação literal do art. 20, § 4.º, do CPC não
deixa margem para dúvidas. Consoante expressa dicção do referido dispositivo legal, os
honorários são devidos “nas execuções, embargadas ou não”. O art. 475-I, do CPC, é
expresso em afirmar que o cumprimento da sentença, nos casos de obrigação
pecuniária, se faz por execução. Ora, se haverá arbitramento de honorários na execução
(art. 20, § 4.º, do CPC) e se o cumprimento da sentença se faz por execução (art. 475, I,
do CPC), outra conclusão não é possível, senão a de que haverá a fixação de verba
honorária na fase de cumprimento da sentença. Ademais, a verba honorária fixada na
fase de cognição leva em consideração apenas o trabalho realizado pelo advogado até
então. Por derradeiro, também na fase de cumprimento de sentença, há de se considerar
o próprio espírito condutor das alterações pretendidas com a Lei n. 11.232/05, em
especial a multa de 10% prevista no art.475-J do CPC. De nada adiantaria a criação de
uma multa de 10% sobre o valor da condenação para o devedor que não cumpre
voluntariamente a sentença se, de outro lado, fosse eliminada a fixação de verba
honorária, arbitrada no percentual de 10% a 20%, também sobre o valor da
condenação” (REsp 978.545/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 11.03.2008,
DJe 1.º.04.2008).

A verdade é que o cabimento dos honorários na fase de cumprimento da sentença civil atende à
ideia de causalidade, pois essa etapa processual só se instaura se o devedor não cumpriu
espontaneamente a condenação que lhe foi imposta.54 Alguns acórdãos têm traduzido essa ideia
de maneira pouco técnica afirmando que o cabimento de nova verba honorária justifica-se em
razão de o advogado do exequente ter “mais trabalho” na fase de cumprimento de sentença.

entendimento, veja-se o seguinte julgado: Processual civil. Recurso especial. Cumprimento de sentença. Honorários
advocatícios. Inexigibilidade. 1. Não é cabível, por ausência de disposição legal, novos honorários advocatícios pelo
fato de o exequente ser obrigado a requerer o cumprimento de sentença. 2. Com a vigência da Lei n. 11.232, de 2005,
a execução da sentença passou a ser uma fase do processo de conhecimento. 3. ‘As despesas processuais do
cumprimento de sentença, naturalmente, correm por conta do executado, como consectário do inadimplemento. Não
há, porém, como imputar-lhe nova verba advocatícia, uma vez que não há mais uma ação distinta para executar a
sentença. Tudo se passa sumariamente como simples fase do procedimento condenatório’ [...] (Humberto Theodoro
Júnior, As novas reformas do Código de Processo Civil, Editora Forense, 1.ª edição, p. 139)” (REsp 1025449/RS,
Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Rel. p/ Acórdão Min. José Delgado, 1.ª Turma, j. 03.06.2008, DJe 22.06.2009).
54
De qualquer modo, não há como negar o cabimento dos honorários sucumbenciais nas hipóteses em que a
execução de título judicial é autônoma e não houve prévia condenação nessa verba (caso da sentença penal
condenatória e, eventualmente, das sentenças estrangeira e arbitral).
Todavia, acolhido esse entendimento, haveremos que reconhecer a necessidade da fixação de
nova e diferente verba sucumbencial para a etapa concernente ao julgamento da apelação, que
alonga o processo, dando causa a mais serviço advocatício. Tal tese esbarra no comando expresso
do art. 20, § 1.º, do CPC.
Aliás, é o princípio da causalidade que explica a razão para o STJ ter excluído os honorários no
cumprimento provisório de sentença,55 dado que não se impõe ao vencido na fase de
conhecimento o dever de espontaneamente cumprir a obrigação imposta pela sentença desafiada
por recurso desprovido de efeito suspensivo. O executado não deu causa ao cumprimento
provisório da sentença, iniciado por iniciativa e risco do exequente.
As reformas também trouxeram ainda mais controvérsia no tocante à liquidação de sentença e à
impugnação ao seu cumprimento, as quais, por força dos arts. 475-H e 475-M, § 3.º,56 do CPC,
são resolvidas por decisão agravável. Esses dispositivos dariam margem ao entendimento de que
foram rebaixados à condição de simples incidentes, de modo que o § 1.º do art. 20 do CPC
vedaria a imposição de nova verba honorária sucumbencial ao litigante que tenha sucumbido em
qualquer das duas hipóteses.
Contudo, quanto à liquidação, o STJ tem continuado a aplicar o mesmo entendimento construído
antes da Lei 11.232/2005 (cabimento de nova verba sucumbencial na liquidação por artigos,
descabimento na por arbitramento).57

55
“Processual civil. Execução provisória. Arbitramento de honorários advocatícios em favor do exequente.
Descabimento. 1. A execução provisória, por expressa dicção legal, ‘corre por iniciativa, conta e responsabilidade do
exequente’ (art. 475-O, inciso I, do CPC). Portanto, pendente recurso ‘ao qual não foi atribuído efeito suspensivo’
(art. 475-I, § 1.º, do CPC), a lide ainda é evitável e a ‘causalidade’ da instauração do procedimento provisório deve
recair sobre o exequente. 2. Com efeito, por ser a iniciativa da execução provisória mera opção do credor, descabe,
nesse momento processual, o arbitramento de honorários em favor do exequente. 3. Posteriormente, convertendo-se a
execução provisória em definitiva, nada impede que o magistrado proceda ao arbitramento dos honorários
advocatícios, sempre franqueando ao devedor, com precedência, a possibilidade de cumprir, voluntária e
tempestivamente, a condenação imposta e também elidir a multa prevista no art. 475-J, CPC. 4. Recurso especial
provido” (REsp 1252470/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4.ª Turma, j. 06.10.2011, DJe 30.11.2011)
56
Nesse último caso, caberá apelação se a impugnação for acolhida para o fim de extinguir o cumprimento de
sentença, conforme ressalva contida no art. 475-M, § 3.º, do CPC.
57
Vejam-se, à guisa de exemplo, os seguintes julgados: “Na hipótese dos autos o pagamento de honorários
advocatícios na liquidação importaria em bis in idem, haja vista ter havido fixação de honorários na fase cognitiva da
ordem de 15% (quinze por cento) sobre a condenação, a qual por sua vez importou em cerca de duzentos milhões de
reais” (REsp 1016068/PR, Rel. Min. Francisco Falcão, 1.ª Turma, j. 17.04.2008, DJe 15.05.2008) e “Os honorários
advocatícios como parcela autônoma em processo de liquidação de sentença não é cabível, sob pena de incursão em
bis in idem, porquanto são arbitrados por ocasião da prolação da sentença nos autos da ação principal” (REsp
909.567/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j. 03.04.2008, DJe 30.04.2008). Registre-se, contudo, entendimento
diverso acolhido no seguinte acórdão, que reconheceu “caráter contencioso” à liquidação por arbitramento:
“Processual civil. Recurso especial. Honorários advocatícios. Liquidação de sentença por arbitramento. Caráter
contencioso. Cabimento. [...] Assumindo, a liquidação por arbitramento, nítido caráter contencioso, devem ser
Quanto à impugnação ao cumprimento de sentença, ainda não há posição firmada no STJ,58 mas
nos Tribunais de Justiça parece prevalecer a tese de que cabem os honorários, haja vista que, a
despeito da alteração da denominação, a impugnação continuaria a ser demanda incidental, tais
como os embargos à execução.59
A questão dos honorários sucumbenciais na liquidação e na impugnação ao cumprimento de
sentença merece reflexão mais detida.
De um lado, pode-se entender que estaria excluída a condenação em honorários sucumbenciais
nesses dois casos, dado que apenas a sentença (que, de acordo com o art. 513 o CPC, é apelável)
pode fixar tal verba, a teor do art. 20, caput, do CPC.60 Todavia, o argumento não convence
porque o sistema sempre admitiu que decisão interlocutória fosse portadora de condenação em
honorários advocatícios, por exemplo, no caso da exclusão de apenas um litisconsorte do

fixados honorários advocatícios, à semelhança do que ocorre com a liquidação por artigos” (REsp 978.253/SE, Rel.
Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 16.09.2008, DJe 03.10.2008).
58
“Sendo mero estágio do processo já existente, não se lhe aplica a sanção do art. 20, mesmo quando se verifique o
incidente da impugnação (art. 475-L). Sujeita-se este à mera decisão interlocutória (art. 475-M, § 3.º), situação a que
não se amolda a regra sucumbencial do art. 20, cuja aplicação sempre pressupõe sentença” (REsp 1025449/RS, Rel.
Min. Hamilton Carvalhido, Rel. p/ Acórdão Min. José Delgado, 1.ª Turma, j. 03.06.2008, DJe 22.06.2009).
59
Essa é a posição consolidada, por exemplo, no TJSP: “Sentença. Cumprimento. Sistema introduzido pela Lei
11232/05. Incompatibilidade com o arbitramento inicial da honorária. Devedor que, se satisfez a obrigação no prazo,
não se vincula a novos honorários, porque não sucumbiu. Hipótese de descumprimento ou impugnação.
Correspondência aos antigos embargos à execução. Circunstância em que haverá forçosa condenação do vencido a
pagar custas e honorários advocatícios de sucumbência do então incidente. Situação que terá exigido trabalho do
profissional do litigante vencedor. Recurso improvido” (Agravo de Instrumento 1.106.880-0/6, 28.ª Câmara de
Direito Privado, Rel. Des. Celso Pimentel, j. 10.04.2007). “Honorários de Advogado. Majoração. Possibilidade.
Rejeição a impugnação ao cumprimento de sentença. Incidência dos princípios da causalidade e da sucumbência.
Majoração da verba determinada. Recurso provido em parte” (Agravo de Instrumento 481.553-4/7, 6.ª Câmara de
Direito Privado, Rel. Des. Waldemar Nogueira Filho, j. 15.03.2007). “Honorários de Advogado. Impugnação.
Incidente deduzido na fase do cumprimento de sentença. Fixação de verba. Cabimento. Irrelevante o fato de tratar-se
de decisão interlocutória. Incidente substancialmente equiparado aos embargos à execução fundada em título
extrajudicial. Aplicação do princípio da isonomia” (Agravo de Instrumento 7.140.262-1, 22.ª Câmara de Direito
Privado, Rel. Des. Roberto Bedaque, j. 19.06.2007). “Honorários de Advogado. Arbitramento. Cumprimento de
sentença. Possibilidade. Caso em que o réu saiu vencido na impugnação de que trata o art. 475-M, do CPC. Recurso
parcialmente provido” (Agravo de Instrumento 1.106.575-0/3, 26.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Norival
Oliva, j.: 02.07.2007). “Sentença. Cumprimento. Título judicial. Cabimento de honorários advocatícios.
Procedimento realizado na forma de execução (artigo 475, ‘I’, do CPC). Possibilidade de se arbitrar verba honorária
apenas para o caso de não cumprimento voluntário da obrigação pela resistência injustificada. Admissibilidade,
ainda, de condenação do vencido nas verbas de sucumbência se ofertada impugnação. Recurso desprovido, com
observação” (Agravo de Instrumento 498.156-4/4-00, 1.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Paulo Alcides, j.
12.06.2007).
60
Esse era o critério distintivo prestigiado pela jurisprudência do STJ: “No sistema do Código de Processo Civil
vigente, a sentença, que põe termo ao processo, condenará o vencido a pagar ao vencedor a verba de honorários
advocatícios, não abrangendo a regra do art. 20 os incidentes e recursos, em que a condenação se limita a custas”
(REsp 2.189/RJ, Rel. Min. Bueno de Souza, 4.ª Turma, j. 31.03.1992, DJ 15.06.1992, p. 9267, destaque nosso).
processo, por ilegitimidade.61
Contudo, a solução fundada apenas em interpretação gramatical não satisfaz.
Podemos enxergar na liquidação por artigos verdadeiro pedido condenatório, fundado em fatos
novos não alegados e considerados na fase de conhecimento, e que ensejam proferimento de
verdadeira decisão de mérito, de procedência ou improcedência (ou seja, se os fatos novos
realmente foram provados e se deles decorre dano a ser quantificado e indenizado).62
Mesmo a liquidação por arbitramento abriga decisão sobre o direito material controvertido e,
embora não haja juízo de procedência ou improcedência, podem-se nela enxergar com clareza as
figuras de vencedor e de vencido. Basta pensar na hipótese o credor pretender que a condenação
seja fixada em $ 100, ao passo que o devedor pretendia a fixação do valor de apenas $ 10. Se ao
cabo da perícia o juiz fixar o quantum debeatur em $ 90, evidentemente o credor sucumbiu de
parcela mínima do pedido e faz jus aos honorários sucumbenciais. Mutatis mutandis, aplicar-se-ia
aqui o mesmo critério assentado pelas Súmulas 617 do STF e 141 do STJ,63 para a ação de
desapropriação, na qual a controvérsia cinge-se à fixação do valor da indenização a ser paga pelo
autor ao réu. Desse modo, sai vencedor o litigante que pediu o valor mais próximo àquele
efetivamente fixado na sentença.
No tocante à impugnação, não há dificuldade em reconhecer seu caráter de demanda incidental
quando alegar “qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como
pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença”
(CPC, art. 475-L, IV). No entanto, não há como negar o seu caráter de mero incidente quando se
limitar a apontar “penhora incorreta ou avaliação errônea” (CPC, art. 475-L, III).
Em suma, a menos que haja profunda reestruturação do art. 20 do CPC por força de reforma
legislativa, deve ser analisado caso a caso o cabimento ou não da verba honorária no âmbito da

61
A hipótese já foi examinada pelo STJ: “São devidos honorários de advogado pelo vencido, quando excluído
litisconsorte passivo da demanda, por ilegitimidade para a causa” (REsp 27.269/SP, Rel. Min. Dias Trindade, 4.ª
Turma, j. 14.12.1993, DJ 21.03.1994, p. 5486). O mesmo ocorre quando se trata de exclusão do denunciado à lide:
“O indeferimento da denunciação da lide, como figura de terceira, é mero incidente do processo, por isso que influi
na aplicação da sucumbência quando da exclusão do denunciado. Concluindo o juízo pela extromissão do terceiro,
que através de advogado comprovou o descabimento da intervenção, deve o juiz aferir o grau de extensão da defesa
de cunho processual para imputar as despesas processuais” (REsp 473.825/SE, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j.
20.11.2003, DJ 19.12.2003, p. 328).
62
Essa foi a opinião por nós defendida no seguinte texto: A nova liquidação de sentença e suas velhas questões. In:
Cassio Scarpinella Bueno e Teresa Arruda Alvim Wambier (Org.). Aspectos polêmicos da nova execução. São Paulo:
RT, 2008. p. 210-239.
63
Os enunciados se acham transcritos na nota 7, supra.
liquidação, cumprimento e impugnação ao cumprimento de sentença. Não há como se apegar
apenas ao aspecto meramente formal ou tampouco terminológico. O que importa é o conteúdo do
pedido do litigante: se fundado no direito material, há demanda incidente e, portanto, condenação
em honorários; se fundado apenas em questões de caráter processual, trata-se de mero incidente,
afastando-se a condenação a essa verba.
De toda sorte, saindo do campo do cumprimento de sentença e problemas a ela relativos
(liquidação e impugnação), foi mais feliz a Lei 11.382/2006 – responsável pela reforma da
execução de título extrajudicial – no tocante aos honorários sucumbenciais, pois positivou a
prática corrente de o juiz fixar liminarmente os honorários advocatícios quando determinava a
citação do réu (CPC, art. 652-A). Tal como se fazia anteriormente à reforma, mesmo sem base
legal expressa, essa fixação se presta para a hipótese de pagamento espontâneo ou expropriação
forçada sem defesa por parte do executado. Caso haja embargos, o juiz terá que fixar nova verba
honorária.64 Se os embargos forem julgados procedentes, os honorários fixados em favor do
exequente na execução ficam prejudicados, devendo ser atribuída verba que compreenda os dois
processos em favor do executado. No caso de os embargos serem improcedentes, a nova verba
deve se somar àquela já arbitrada na execução ou ser substituída por verba maior, que envolva
ambos os processos (principal e incidente).65

64
Esse era o entendimento consagrado anteriormente à última etapa da reforma processual, o qual, segundo
entendemos, não tem razão para se alterar: “No processo de execução por título extrajudicial impõe-se a condenação
em honorários por sucumbência. Em havendo oposição de embargos do devedor, faz-se oportuna outra condenação,
independente daquela relativa à execução” (REsp 119.901/SP, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, Rel. p/ Acórdão
Ministro Humberto Gomes de Barros, 1.ª Turma, j. 20.04.1999, DJ 06.09.1999, p. 51). “I – Mais do que mero
incidente processual, os embargos do devedor constituem verdadeira ação de conhecimento. Neste contexto, é viável
a cumulação dos honorários advocatícios fixados na ação de execução com aqueles arbitrados nos respectivos
embargos do devedor” (EREsp 81755/SC, Rel. Min. Waldemar Zveiter, Corte Especial, j. 21.02.2001, DJ
02.04.2001, p. 247). Nesse passo, tratando-se de condenações distintas, realizadas em processos diversos (execução e
embargos), não haveria razão para limitar a soma das duas verbas honorárias ao valor de 10% do valor em disputa,
como entendeu o STJ no seguinte aresto: “É devida, portanto, a condenação da verba honorária advocatícia tanto na
execução quanto nos embargos oferecidos, frisando-se que há de ser observado o limite máximo do percentual a 20%
(art. 20, § 3.º, do CPC), na soma das duas verbas, ou seja, na integralidade do processo” (AgRg no Ag 952.629/RJ,
Rel. Min. José Delgado, 1.ª Turma, j. 1.º.04.2008, DJe 17.04.2008).
65
O STJ, contudo, tem precedentes negando a cumulabilidade das verbas honorárias fixadas na execução e nos
embargos quando o exequente sai vencedor do segundo: “Os honorários de advogado, arbitrados na execução,
passam a depender da solução dos embargos. Procedentes estes, sucumbe o exequente, não prevalecendo o
arbitramento dos honorários na execução. Improcedentes os embargos ou ocorrendo desistência, permanece uma
única sucumbência, posto tanto na execução como nos embargos, a questão é única: procedência ou não da dívida.
Embargos rejeitados” (EREsp 97466/RJ, Rel. Min. Garcia Vieira, Corte Especial, j. 02.12.1998, DJ 21.06.1999, p.
68). No mesmo sentido: “Os embargos do devedor, como ação incidente do executado, não se confundem com o
processo de execução (Liebman). Todavia, ‘lato sensu’, configuram a conexão instrumental, a final, confortando
única sucumbência, impossibilitando a duplicidade de verbas honorárias. Rejeitados os embargos, o título executivo
continua íntegro, respondendo o devedor pelo principal e consectários legais e, consequente a sucumbência, pagando
Finalmente, pode-se considerar que nada se alterou no tocante à execução fiscal, continuando
cabíveis os honorários tanto na execução em si como nos embargos a ela opostos.66

6. Fixação do valor dos honorários advocatícios

Os §§ 3.º e 4.º do art. 20 estabelecem regras distintas para fixação da verba honorária
sucumbencial, baseando-se em um único critério: a existência ou não de condenação (leia-se,
imposição de ordem para pagamento de quantia certa em dinheiro).67
No primeiro caso (regulado pelo § 3.º), os honorários “serão fixados entre o mínimo de dez por
cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação”,68 atendendo-se
a três critérios constantes da alínea do dispositivo: “grau de zelo do profissional”, “lugar de
prestação do serviço” e “natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o
tempo exigido para o seu serviço”.
A aplicação concreta da norma oferece inúmeras dificuldades, já devidamente solucionadas pelo

os honorários advocatícios. Acolhidos, a parte sucumbente pagará os honorários. Nesta ou naquela hipótese,
afastados os honorários provisoriamente fixados na inicial do processo de execução fiscal, somente devidos quando
não são interpostos os embargos” (REsp 82.113/SC, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, 1.ª Turma, j. 27.08.1996, DJ
30.09.1996, p. 36594). A nosso ver, esse entendimento contraria a posição já assentada de que os honorários
sucumbenciais devam ser arbitrados nos dois processos, embora tenha a virtude de mostrar que a fixação feita
liminarmente nos embargos é realmente “provisória”, pois sujeita à condição resolutiva (a eventual procedência dos
embargos). Não havendo essa condição, a verba deve persistir íntegra.
66
Assim já decidiu o STJ: “A novel legislação processual, reconhecendo as naturezas distintas da execução e dos
embargos, estes como processo de cognição introduzido no organismo do processo executivo, estabelece que são
devidos honorários em execução embargada ou não” (AgRg no REsp 1023932/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j.
16.10.2008, DJe 03.11.2008). Apenas a mesma Corte Superior, atendendo às normas especiais que rege a execução
fiscal em nível federal, determinou o seguinte: “5. Em execução fiscal promovida pela Fazenda Nacional, os
honorários advocatícios já foram incluídos no valor do encargo de 20%, mostrando-se, assim, impertinente nova
condenação em honorários. 6. O legislador não restringiu o recolhimento do encargo para custear apenas as despesas
com execução fiscal, tanto é assim que expressamente consignou que a verba se destina, entre outros, a custear
‘taxas, custas e emolumentos relacionados com a execução fiscal e a defesa judicial’, o que quer dizer que aí
estariam abrangidos os incidentes processuais relacionados com a ação executiva, incluindo-se os embargos do
devedor” (REsp 979.540/PE, Rel. Min. Castro Meira, 2.ª Turma, j. 04.10.2007, DJ 18.10.2007, p. 345).
67
Por isso, está fora dessa definição a sentença que reconhece a compensação, que é declaratória de extinção de
obrigações recíprocas, conforme já decidiu o STJ: “Na ação que tem por escopo a declaração do direito à
compensação, os honorários de advogado podem ser calculados com base no valor da causa” (AgRg no REsp
864.337/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, 1.ª Turma, j. 05.12.2006, DJ 01.02.2007, p. 439). No mesmo sentido:
EREsp 661.372/CE, Rel. Min. José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministra Eliana Calmon, Primeira Seção, j.
12.12.2005, DJ 22.05.2006, p. 142 e REsp 844.464/SP, Rel. Min. Castro Meira, 2.ª Turma, j. 24.10.2006, DJ
08.11.2006, p. 179).
68
O STJ, acertadamente, não admite, nesses casos, que se utilize como base de cálculo o valor da causa: “Os
honorários advocatícios, havendo condenação, incidem sobre o valor dela e não sobre o valor da causa” (REsp
153.355/MG, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, 4.ª Turma, j. 27.04.1999, DJ 14.06.1999, p. 200).
STJ: a) no caso de a condenação ser ilíquida, a verba devida pela fase de conhecimento pode ser
fixada sobre o percentual a ser apurado na liquidação;69 b) quando a condenação pode incluir
prestações vincendas; tratando-se de “indenização por ato ilícito contra pessoa, o valor da
condenação será a soma das prestações vencidas com o capital necessário a produzir a renda
correspondente às prestações vincendas”; c) para as “ações previdenciárias”, a Súmula 111 do
STJ assentou que “Os honorários advocatícios (...) não incidem sobre prestações vincendas”;70 d)
no caso da desapropriação, os honorários são calculados com base no valor da indenização
acrescida “das parcelas relativas aos juros compensatórios e moratórios, devidamente corrigidas”,
nos termos da Súmula 131 do STJ.
As únicas exceções de sentença condenatória que não se submetem à regra do § 3.º do art. 20 são
aquelas proferidas em “causas de pequeno valor” (casos em que o juiz pode arbitrar honorários
superiores a 20% da condenação e/ou superiores ao valor da causa)71 ou contra a Fazenda Pública
(casos em que o juiz deve evitar o máximo de 20% e pode eventualmente arbitrar valor inferior a
10%).72-73

69
REsp 1103716/PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1.ª Turma, j. 25.05.2010, DJe 14.06.2010 e REsp 145.246/SP,
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4.ª Turma, j. 18.08.1998, DJ 03.11.1998, p. 149.
70
A nosso ver, esse verbete se aplica, por analogia, a qualquer outro caso que não seja indenização por ato ilícito
contra a pessoa e haja condenação a prestações vincendas. O STJ já reconheceu que as parcelas vincendas têm valor
inestimável, a ensejar um acréscimo na verba honorária pautada pelos critérios do § 4.º do art. 20 do CPC: “Os
honorários advocatícios, relativamente às prestações vincendas, devem ser arbitrados observando-se os critérios do §
4,º do art. 20, CPC, que trata das causas de valor inestimável” (EREsp 109675/RJ, Rel. Min. Milton Luiz Pereira,
Rel. p/ Acórdão Ministro Cesar Asfor Rocha, Corte Especial, j. 25.06.2001, DJ 29.04.2002, p. 151)
71
A rigor, os honorários sucumbenciais do advogado não podem ser inferiores ao mínimo estipulado pela Tabela
editada, nos termos do art. 58, V, da Lei 8.906/1994, pelo Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do foro
onde correu o processo. O STJ já reconheceu que não se pode aviltar a verba cabível ao causídico em causa de
pequeno valor: “Processo civil. Honorários de advogado. Pequeno que seja o valor da causa, os tribunais não podem
aviltar os honorários de advogado, que devem corresponder à justa remuneração do trabalho profissional; nada
importa que o vulto da demanda não justifique a despesa, máxime se o processo foi trabalhoso, obrigando o
advogado a acompanhá-lo até no Superior Tribunal de Justiça. Agravo regimental não provido” (AgRg no Ag
325270/SP, Rel. Min. Ari Pargendler, 3.ª Turma, j. 29.03.2001, DJ 28.05.2001, p. 199).
72
É esse também o entendimento do STJ: “O percentual, o valor da condenação e os limites mínimo e máximo
fixados no parágrafo 3.º do artigo 20 do Código de Processo Civil, como bases obrigatórias da fixação da verba
honorária, não têm função no estabelecimento dos honorários advocatícios a serem pagos pela Fazenda Pública”
(AgRg no REsp 1010149/SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, 6.ª Turma, j. 06.03.2008, DJe 04.08.2008). “A
Primeira Seção desta Corte já se posicionou no sentido de que, vencida a Fazenda Pública, a fixação de honorários
não está adstrita aos percentuais constantes do art. 20, § 3.º, do CPC” (EREsp 637.905/RS, Rel. Min. Eliana Calmon,
Corte Especial, j. 21.09.2005, DJ 21.08.2006, p. 220). “A verba honorária arbitrada em desfavor da Fazenda Pública,
fixada, a teor do disposto no § 4.º do art. 20 do Código de Processo Civil, com base na apreciação equitativa do juiz,
não está adstrita aos percentuais, tampouco à base de cálculo prevista no § 3.º do aludido dispositivo” (AgRg no
REsp 980.842/SP, Rel. Min. Paulo Gallotti, 6.ª Turma, j. 26.02.2008, DJe 31.03.2008). Há, contudo, acórdãos mais
antigos que afirmam que, não seja obrigatório o respeito aos limites mínimo e máximo (10% a 20%), a base de
cálculo deve ser o valor da condenação: “Os honorários advocatícios, nas ações condenatórias em que for vencida a
Fazenda Pública, devem ser fixados com base no valor da condenação, e não no valor da causa, através da
Nessas duas situações, e em todos os numerosos casos em que não há condenação – sentença
terminativa,74 de improcedência75 (que é considerada declaratória), de procedência de pedido de
caráter declaratório ou constitutivo, na sentença que impõe obrigação de fazer, não fazer e dar
coisa diversa de dinheiro (consideradas de “valor inestimável”),76 e nas execuções embargadas77
ou não – o § 4.º do art. 20 do CPC autoriza o juiz a fixar verba honorária sem ter em conta os
parâmetros indicados pelo § 3.º, por “apreciação equitativa do juiz”, considerando-se os mesmos
critérios acima indicados (“grau de zelo do profissional”, “lugar de prestação do serviço” e

interpretação conjunta dos §§ 3.º e 4.º do art. 20 do CPC, incidindo o percentual eleito sobre o quantum
condenatório” (REsp 440.266/MG, Rel. Min. Francisco Falcão, Rel. p/ Acórdão Ministro Luiz Fux, 1.ª Turma, j.
22.06.2004, DJ 30.09.2004, p. 218).
73
A Comissão de Juristas que elaborou o Anteprojeto de novo CPC pretendeu dar nova disciplina à espécie,
propondo que, “nas causas em que for vencida a Fazenda Pública, os honorários serão fixados entre o mínimo de
cinco por cento e o máximo de dez por cento sobre o valor da condenação, do proveito, do benefício ou da vantagem
econômica obtidos” (art. 73, § 3.º). O Senado da República alterou esse dispositivo, de modo que a verba honorária
deveria variar entre 1% e 20%, a depender do proveito patrimonial em disputa (art. 87, § 3.º).
74
É esse também o entendimento do STJ: “Honorários. Extinção do processo sem julgamento do mérito. Incidência
do § 4.º, e não do § 3.º. Do artigo 20 do Código de Processo Civil” (REsp 36178/SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, 3.ª
Turma, j. 14.03.1994, DJ 02.05.1994, p. 10006).
75
Na hipótese de sentença que julga improcedente demanda condenatória, o tratamento paritário entre as partes
impõe a condenação do autor ao pagamento de honorários equivalentes a 10% a 20% do valor da causa (que reflete o
benefício patrimonial por ele pretendido). Todavia, o STJ considerou que, por força do art. 20, § 4.º, do CPC, o juiz
poderia afastar-se do valor da causa: “Embora sejam as partes tratadas com igualdade, inexistindo condenação, os
honorários só podem ter como base de cálculo o valor da causa, ou estimativa conforme estabelecido no § 4.º do art.
20 do CPC” (REsp 122.545/DF, Rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª Turma, j. 27.11.2000, DJ 19.03.2001, p. 94).
76
Esse é o entendimento do STJ: “Processual civil. Honorários advocatícios. Condenação à obrigação de fazer.
Incidência do art. 20, § 4.º, do CPC. Precedentes desta corte. Agravo regimental improvido” (AgRg no REsp
1000158/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4.ª Turma, j. 11.11.2008, DJe 01.12.2008). “Segundo a jurisprudência
desta Corte, ‘nas causas em que há condenação em obrigação de fazer, [...] a verba honorária terá como parâmetro o
§ 4.º do art. 20 do CPC’” (REsp 249.210/PE, 4.ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 19.08.2002)” (AgRg
no REsp 977.043/RS, Rel. Min. Denise Arruda, 1.ª Turma, j. 06.12.2007, DJ 17.12.2007, p. 151). “A ação em que se
busca o cumprimento de acordo de acionistas, por ensejar, via de regra, a execução específica de obrigações de fazer
e de entregar coisa certa, não se confunde com a ação com pedido de condenação ao pagamento de determinado
valor, razão pela qual os honorários advocatícios devem ser fixados de acordo com o § 4.º do art. 20 do CPC” (REsp
784.267/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 21.08.2007, DJ 17.09.2007, p. 256).
77
Os embargos à execução, procedentes ou improcedentes, estão abrigados pelo § 4.º do art. 20, pois não contêm
cunho condenatório, conforme já decidiu o STJ: “A sentença proferida em embargos do devedor improcedentes é
meramente declaratória, ensejando, por isso, a aplicação do § 4.º do art. 20, Código de Processo Civil, o qual não
está adstrito aos percentuais máximo e mínimo previstos no § 3.º do mesmo artigo” (REsp 72393/SP, Rel. Min.
Cesar Asfor Rocha, 1.ª Turma, j. 16.10.1995, DJ 20.11.1995, p. 39565), e “Para fixar os honorários advocatícios do
patrono do embargante que obtém ganho de causa, o juiz não está obrigado a atender aos limites de 10% e 20% sobre
o valor da condenação, que não existe, nem sobre o valor da causa, que não está indicado na lei como parâmetro. Art.
20, § 4.º, do CPC. Recurso não conhecido” (REsp 218511/GO, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, 4.ª Turma, j.
31.08.1999, DJ 25.10.1999, p. 92). No caso dos embargos à execução fundados apenas no excesso de execução, o
STJ já definiu que o valor do excesso serve de base de cálculo para os honorários sucumbenciais: “Nos embargos à
execução, os honorários advocatícios devem incidir sobre o excesso de execução, porquanto constitui este montante
a própria parte procedente da ação. Precedentes: REsp 756294/SC, Rel. Min. José Delgado, DJ 17.10.2005; REsp
603598/AL, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 18.04.2005; REsp 412488/RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ
02.08.2004” (REsp 886.842/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, 1.ª Turma, j. 28.11.2006, DJ 18.12.2006, p. 346).
“natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o
seu serviço”).
Na jurisprudência colhem-se alguns (poucos) critérios para nortear a fixação da verba honorária
nas hipóteses do § 4.º: a) a verba não pode ser fixada em salários mínimos (Súmula 201/STJ); b)
pode-se usar como base de cálculo o valor da causa,78 exceto se for ele irrisório, hipótese em que
pode ser superior a ele “em função dos trabalhos desenvolvidos pelo advogado vencedor e a
importância social da causa” (STJ, Pet 604/GO, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, 1.ª
Turma, j. 15.08.1994, DJ 12.09.1994 p. 23720); c) admite-se, igualmente, que a condenação em
honorários sucumbenciais seja em valor fixo.79
Não é preciso muito esforço para perceber que, diante da absoluta liberdade dada pela lei ao juiz
quanto a esse particular, não raro há fixação irrisória ou exagerada de honorários, o que tem sido
objeto de controle pelo STJ mesmo em sede de recurso especial, a despeito de incidir em reexame
fático-probatório.80

78
Esse é o entendimento que ecoa no STJ há tempos: “Nas causas em que não houver condenação, os honorários de
advogado serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz (CPC, art. 20, § 4.º), nada impedindo que ele tome
como base de cálculo o valor da causa” (AgRg no REsp 114.280/RS, Rel. Min. Ari Pargendler, 2.ª Turma, j.
24.04.1997, DJ 26.05.1997, p. 22518). “Nada obsta que nas hipóteses em que não haja condenação, os honorários
tenham como base de cálculo o valor da causa e, portanto, se expressem em percentual” (REsp 775.977/SC, Rel.
Min. Fernando Gonçalves, 4.ª Turma, j. 04.12.2008, DJe 18.12.2008). “A fixação dos honorários de advogado,
extinto o processo sem julgamento do mérito, sobre o valor da causa, revela a equitativa apreciação do juiz” (REsp
116.472/MG, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3.ª Turma, j. 15.12.1997, DJ 16.03.1998, p. 111).
79
“Honorários de sucumbência (execução contra a Fazenda Pública). Art. 20, §§ 3.º e 4.º, do Cód. de Pr. Civil
(aplicação). Ausência de limites na fixação (apreciação equitativa do juiz). Base de cálculo dos honorários (valor da
causa, valor da condenação ou valor fixo). Precedentes (Corte Especial). Agravo regimental improvido” (AgRg no
Ag 750.360/RS, Rel. Min. Nilson Naves, 6.ª Turma, j. 24.05.2007, DJ 06.08.2007, p. 709). “No juízo de equidade, o
magistrado deve levar em consideração o caso concreto em face das circunstâncias previstas no art. 20, § 3.º, alíneas
‘a’, ‘b’ e ‘c’, do CPC, podendo adotar como base de cálculo o valor da causa, o valor da condenação ou arbitrar valor
fixo” (AgRg no Ag 1032450/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª Turma, j. 24.06.2008, DJe 14.08.2008). II – Para
fixação dos honorários advocatícios, o magistrado deve levar em consideração o caso concreto em face das
circunstâncias previstas no art. 20, § 3.º, do CPC, podendo adotar como base de cálculo o valor da causa, o valor da
condenação ou arbitrar valor fixo (precedente: AgRg nos EREsp 449.217/SC, Corte Especial, Rel. Min. Hamilton
Carvalhido, DJe 20.10.2008)” (AgRg no REsp 958.606/AL, Rel. Min. Felix Fischer, 5.ª Turma, j. 10.02.2009, DJe
09.03.2009).
80
“I – ‘Em que pese a vedação inscrita na Súmula 07/STJ, o atual entendimento da Corte é no sentido da
possibilidade de revisão de honorários advocatícios fixados com amparo no art. 20, § 4.º, do CPC em sede de recurso
especial, desde que os valores indicados sejam exagerados ou irrisórios’ (AgRg nos EREsp 432201/AL, Corte
Especial, Rel. Min. José Delgado, DJU 28.03.2005). II – In casu, o valor fixado pelo e. Tribunal a quo, a título de
honorários advocatícios, corresponde ao percentual de 0,15% do valor da condenação, ou seja, bem menos que 1%.
Desse modo, não há necessidade da análise de fatos para a constatação de que o valor fixado para os honorários
restou irrisório” (AgRg no AgRg no REsp 802273/MS, Rel. Min. Felix Fischer, 5.ª Turma, j. 20.04.2006, DJ
22.05.2006, p. 246). “É possível a revisão, no STJ, do valor arbitrado pelo Tribunal de origem a título de honorários
advocatícios, com fundamento no art. 20, § 4.º, em hipóteses excepcionais, em que a quantia tenha sido fixada em
valor ínfimo ou exagerado (Corte Especial, EREsp 494.377/SP). Hipótese em que, pelo julgamento de
improcedência do pedido formulado em uma ação de depósito visando a entrega de bens de valor equivalente a R$
7. Correção monetária e juros sobre as verbas sucumbenciais

Outro aspecto que gera acesa polêmica concerne à atualização monetária e juros sobre as
despesas processuais e os honorários advocatícios.
Quanto às despesas, entende-se que devam ser computados esses acréscimos desde a data em que
houve os respectivos desembolsos.
Quanto aos honorários, não haverá dificuldade se forem fixados em percentual do valor da
condenação (CPC, art. 20, § 3.º), pois naturalmente serão corrigidos monetariamente e sofrerão a
incidência de juros moratórios da mesma forma que o principal da condenação.
Na hipótese de os honorários serem fixados com base no valor da causa, a jurisprudência do STJ
há muito pacificou o entendimento de que a correção monetária incide desde o ajuizamento da
demanda (Súmula 14). No tocante aos juros, também havia posição sedimentada em reconhecer
que o termo inicial deveria ser a citação para a execução da sentença condenatória81. Como esse
ato não sobreviveu à Lei 11.232/2005 (ao menos na esmagadora maioria dos casos), parece-nos
razoável que os juros passem a fluir da intimação realizada nos termos do art. 475-J do CPC.

998.242,74, foram fixados honorários advocatícios no montante de apenas R$ 5.000,00. Recurso especial conhecido
e provido” (REsp 678642/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 09.05.2006, DJ 29.05.2006, p. 233). “1. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em hipóteses excepcionais, quando manifestamente evidenciado que
o arbitramento da verba honorária se fez de modo irrisório ou excessivo, tem entendido cuidar-se de questão de
direito e não de matéria fática, não incidindo, portanto, o óbice previsto na Súmula n. 07/STJ. Precedentes: REsp
502.152/RS, Rel. Min. Denise Arruda, 1.ª Turma, DJ 24.04.2006; AgRg no REsp 709.319/CE, desta relatoria, 1.ª
Turma, DJ 28.04.2006; EREsp 494.377/SP, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Corte Especial, DJ 1.º.07.2005). 2.
In casu, o Tribunal a quo, ao extinguir executivo fiscal por força de oposição de exceção de pré-executividade, fixou
os honorários advocatícios em 5% sobre o valor da causa, que, à época da distribuição da execução fiscal, atingia o
montante de R$ 2.681.302,28 (dois milhões, seiscentos e oitenta e um mil, trezentos e dois reais e vinte oito
centavos), totalizando a quantia de R$ 134.065,11 (cento e trinta e quatro mil, sessenta e cinco reais e onze
centavos), sem o acréscimo dos consectários legais. 3. Deveras, a fixação dos honorários advocatícios no montante
de R$ 134.065,11 (cento e trinta e quatro mil, sessenta e cinco reais e onze centavos) revela-se excessiva” (REsp
766.505/SC, Rel. Min. Luiz Fux, 1.ª Turma, j. 05.09.2006, DJ 09.10.2006, p. 263).
81
“O termo inicial dos juros moratórios em honorários advocatícios fixados com base no valor da causa é a data da
citação do executado no processo de execução, e não a data da sentença” (REsp 1060155/MS, Rel. Min. Massami
Uyeda, 3.ª Turma, j. 04.09.2008, DJe 23.09.2008). “Nas execuções de honorários advocatícios sucumbenciais
fixados com base no valor da causa, o termo inicial dos juros moratórios é a data da citação do executado no
processo de execução, e não a data de prolação da sentença que impôs a condenação ao pagamento da verba
honorária executada (Precedentes: REsp 1060155/MS, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe 23.09.2008; e AgRg no Ag
879115/SP, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ 05.11.2007) 5. Agravo regimental a que se nega provimento
(AgRg nos EDcl no Ag 845.919/PR, Rel. Min. Vasco Della Giustina (desembargador convocado do TJRS), Terceira
Turma, j. 18.08.2009, DJe 03.09.2009). “O termo inicial dos juros moratórios relativos aos honorários de advogado
impostos sobre o valor da causa é a data da citação do executado no processo de execução” (REsp 720.290/PR, Rel.
Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3.ª Turma, j. 09.03.2006, DJ 08.05.2006, p. 207).
Finalmente, quando o juiz estabelecer em valor fixo a verba honorária sucumbencial, os juros
computar-se-ão da mesma forma se a base de cálculo for o valor da causa, isto é, a partir da
citação. Já a correção monetária, tratando-se de mera reposição do poder de compra da moeda
ante a corrosão inflacionária, deve ser computada a partir da decisão que fixa a verba honorária.
O projeto de novo CPC, tal como aprovado pelo Senado Federal em 15.12.2010, inova quanto a
esse aspecto, e dispõe no § 12 do art. 87 que “[o]s juros moratórios sobre honorários advocatícios
incidem a partir da data do pedido de cumprimento da decisão que os arbitrou”.

8. Algumas regras especiais sobre a distribuição da responsabilidade sobre o custo do


processo

Importa também registrar a existência de normas especiais a respeito da distribuição da


responsabilidade pelo custo do processo.
No âmbito dos Juizados Especiais Cíveis (tanto Estaduais, a teor do art. 55 da Lei 9.099/1995,
como Federais, e quanto aos da Fazenda Pública, por força da aplicação supletiva desse
dispositivo por força do art. 1.º da Lei 10.259/2001 e art. 27 da Lei 12.153/2009), a sentença de
1.º grau não impõe ao vencido a obrigação de pagar despesas processuais (que não são adiantadas
até então) e honorários do advogado (que, quando atuar, deverá ser remunerado pelo próprio
litigante). Apenas se houver recurso é que o sucumbente, em 2.º grau, será responsabilizado por
todas as despesas processuais até então desembolsadas, bem como “honorários de advogado, que
serão fixados entre dez por cento e vinte por cento do valor de condenação ou, não havendo
condenação, do valor corrigido da causa”.
No mandado de segurança, à falta de norma expressa na Lei 1.533/1951, a jurisprudência sempre
reconheceu ser vedado ao juiz impor ao vencido a responsabilidade pelos honorários do
advogado do litigante vencedor.82 Embora criticável esse entendimento jurisprudencial, ele
acabou consagrado pelo art. 25 da Lei 12.016/2009.
O art. 5.º, LXXIII, da Constituição Federal e o art. 18 da Lei 7.437/1985 isentam o autor
sucumbente da ação popular e da ação civil pública, respectivamente, de arcar com as verbas

82
O STF editou, para tanto, a Súmula 512 (“Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado
de segurança”), consagrando entendimento que acabou também acolhido pela Súmula 105 do STJ (“Na ação de
mandado de segurança não se admite condenação em honorários advocatícios”).
sucumbenciais, salvo se agiu da má-fé.83-84

9. À guisa de conclusão

O método que propusemos para o presente estudo torna praticamente desnecessária qualquer
síntese conclusiva.
Ainda assim, a esse propósito, arriscamo-nos a ressaltar um dos aspectos tratados ao longo do
texto, que bem ilustra como a vagueza do art. 20 do CPC cria situações absolutamente iníquas.
Referimo-nos ao disposto no § 4.º do dispositivo que confere ao juiz o poder de fixar a verba
honorária segundo “apreciação equitativa” em um rol extenso de situações, das quais desponta
em particular aquelas em que a condenação é imposta à Fazenda Pública.
O exercício desse poder só se justificaria legitimamente se houvesse ampla fundamentação,
considerando especificamente os (igualmente vagos) parâmetros prescritos pelas alíneas “a” a “c”
do art. 20, § 3.º, do mesmo diploma. A prática demonstra absoluto desprezo por esse dever de
motivação, que aqui se mostra muito mais intenso do que nos casos em que o comando legal
encerra hipótese de incidência mais precisa e bem delimitada.
E, mesmo nos casos em há efetiva motivação a respeito da fixação dos honorários sucumbenciais
– o que é raríssimo –, ainda assim a ausência de parâmetros legais mais seguros produz, de
imediato, duas consequências insidiosas: a) permitir que processos praticamente idênticos
recebam soluções muito discrepantes no tocante aos honorários; e b) ensejar a proliferação de
recursos que dizem respeito apenas à fixação dos honorários sucumbenciais.

83
Esse é o entendimento do STJ a respeito: “Somente há condenação em honorários, na ação civil pública, quando o
autor for considerado litigante de má-fé” (REsp 658.958/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª Turma, j. 21.03.2006, DJ
10.05.2006, p. 174); “O Ministério Público, em ação civil pública e nas suas subsidiárias, só pode ser condenado ao
pagamento de honorários advocatícios e despesas processuais em caso de comprovada má-fé” (REsp 457.289/MG,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, 2.ª Turma, j. 03.08.2006, DJ 18.08.2006, p. 366). Quando o julgado por último
indicado refere-se a demandas “subsidiárias” à ação civil pública, isso inclui, por exemplo, a cautelar de
indisponibilidade de bens preparatória de ação de responsabilidade por ato de improbidade administrativa (Lei
8.429/1992, art. 7.º), bem como os embargos de terceiro manejados quanto a bem declarado indisponível (esse
último caso, enfrentado pelo seguinte julgado: “É descabida a condenação do Ministério Público ao pagamento de
custas judiciais na hipótese de sucumbência em embargos de terceiro propostos com o objetivo de desfazer
apreensão judicial oriunda de decreto de indisponibilidade de imóvel em ação civil pública” (REsp 637.122/RS, Rel.
Min. Castro Meira, 2.ª Turma, j. 05.09.2006, DJ 15.09.2006, p. 297).
84
A má-fé do Ministério Público só é reconhecida com “prova inconteste”, em face da “presunção de legitimidade”
dos seus atos (REsp 164.462/SP, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, 1.ª Turma, j. 05.05.1998, DJ 15.06.1998, p. 66). No
entanto, se eventualmente for reconhecida, quem deverá pagar a verba é o Estado (REsp 64.448/SP, Rel. Min.
Humberto Gomes de Barros, Primeira Turma, j. 23.11.1995, DJ 11.03.1996 p. 6572).
Conforme se viu acima, esse quadro tem levado o STJ, há tempos, a exercer controle sobre a
fixação dos honorários sucumbenciais pela via do recurso especial, em que pese sua natureza de
remédio de fundamentação vinculada, no qual não se pode proceder a amplo reexame fático-
probatório, na linha do Enunciado 7 da Súmula de jurisprudência dominante naquela Corte.
Contudo, como se viu, o STJ apenas exerce esse poder quando reconhece que o valor dos
honorários mostra-se “exorbitante” ou “irrisório” (a segunda hipótese é consideravelmente mais
frequente). Tais expressões completamente (quase) sujeitam o conhecimento do recurso especial
ao humor de quem o julga. E, mesmo que o litigante consiga a proeza de ver seu recurso especial
conhecido pelo STJ, isso não garante que os honorários reputados “irrisórios” serão majorados
para patamares justos.
Tal fenômeno é particularmente justo nos casos em que a parte vencida (e condenada ao
pagamento de honorários sucumbenciais) é a Fazenda Pública, bastando invocar um recente
julgado para ilustrar essa afirmação (mais do que conhecida por quem milita no foro): em
19.08.2011, a 2.ª Turma do STJ, capitaneada pelo voto do Ministro Cesar Asfor Rocha, conheceu
do Recurso Especial 1.245.174/SP, interposto contra acórdão que fixou em R$ 1.000,00 os
honorários devidos por ente fazendário em razão da execução que lhe foi movida (cujo valor
girava em torno de R$ 50 milhões), e em virtude da improcedência de embargos à execução.
Aquele órgão fracionário considerou o valor fixado como “irrisório”, pois representava apenas
0,002% do proveito patrimonial em jogo, e resolveu aumentá-lo para a expressiva quantia de R$
50.000,00 (o que representa 0,1% do valor em disputa). Essa quantia não foi considerada
irrisória...
A Comissão de Juristas que elaborou o Anteprojeto do novo CPC pretendeu dar nova disciplina à
espécie, propondo que, “nas causas em que for vencida a Fazenda Pública, os honorários serão
fixados entre o mínimo de cinco por cento e o máximo de dez por cento sobre o valor da
condenação, do proveito, do benefício ou da vantagem econômica obtidos” (art. 73, § 3.º).
Mesmo os mais ardorosos defensores das “prerrogativas” da Fazenda Pública em juízo haveriam
de reconhecer expressivo o benefício de pagar metade da verba honorária que seria devida pelo
particular (dez a vinte por cento – art. 73, § 2.º).
O Senado da República entendeu que a extensão da “prerrogativa” era insuficiente, e aprovou
substitutivo ampliando-a, de modo que o percentual deveria variar entre 1% e 20%, a depender
do proveito patrimonial em disputa.85 A matéria aguarda pronunciamento da Câmara dos
Deputados, mas não será surpresa se a Fazenda Pública for agraciada com disciplina legal igual
(ou até melhor) à atualmente vigente (se é que isso é possível). A advocacia ainda não conseguiu
mobilização suficiente para que o Congresso Nacional reconheça que “honorários advocatícios
não são gorjeta” (oportuno lema de campanha lançada pela Associação dos Advogados de São
Paulo). E mesmo a sociedade como um todo em algum momento se dará conta de que a
modicidade das verbas sucumbenciais representa potente incentivo à litigiosidade, especialmente
por parte da Fazenda Pública, maior cliente da Justiça. O debate longe está de representar algo
limitado a um interesse da classe dos advogados.

85
“Art. 87 [...] § 3.º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, os honorários serão fixados dentro seguintes
percentuais, observando os referenciais do § 2.º: I – mínimo de dez e máximo de vinte por cento nas ações de até
duzentos salários mínimos; II – mínimo de oito e máximo de dez por cento nas ações acima de duzentos até dois mil
salários mínimos; III – mínimo de cinco e máximo de oito por cento nas ações acima de dois mil até vinte mil
salários mínimos; IV – mínimo de três e máximo de cinco por cento nas ações acima de vinte mil até cem mil
salários mínimos; V – mínimo de um e máximo de três por cento nas ações acima de cem mil salários mínimos.”

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