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DESCRIÇÃO

A sentença, a ação rescisória e a coisa julgada no Código de Processo Civil de 2015.

PROPÓSITO

O estudo da sentença, coisa julgada e ação rescisória é de suma importância para o operador do
Direito compreender como, exatamente, ocorre o encerramento do processo ou de uma de suas
fases a fim de que, uma vez compreendidos os limites e efeitos desse encerramento, seja
possível identificar e aprimorar o uso das medidas processuais cabíveis posteriores, a exemplo
da ação rescisória.

PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha à mão o Código de Processo Civil e a
Constituição Federal de 1988 para consulta de todos os dispositivos legais mencionados.

INTRODUÇÃO
O estudo da sentença, coisa julgada e ação rescisória é de extrema relevância prática para o dia a
dia do operador do Direito que lida com processos judiciais. Basta examinar as características
básicas de cada um desses assuntos para se compreender esse ponto.
A sentença é um dos mais relevantes pronunciamentos judiciais do Direito Processual Civil
brasileiro, tradicionalmente conceituada como aquela decisão judicial que põe fim ao processo
ou a alguma de suas fases.
A coisa julgada, por outro lado, diz respeito à imutabilidade e indiscutibilidade que certas
decisões judiciais alcançam – uma delas a sentença –, em razão do seu trânsito em julgado.
A ação rescisória, por fim, é autônoma de impugnação que busca desconstituir determinadas
decisões transitadas em julgado, em razão de vícios gravíssimos que possuem, a exemplo
daquelas proferidas por juiz que comete crime de corrupção passiva; das decisões baseadas em
prova falsa; das decisões resultantes de dolo praticado pela parte vencedora etc.
Feita essa brevíssima introdução, passemos a analisar cada um desses assuntos.

MÓDULO 1

Identificar o conceito e as principais classificações existentes quanto à sentença


CONCEITO LEGAL
O art. 203 do Código de Processo Civil (CPC) busca sistematizar os pronunciamentos judiciais
em primeira instância, dividindo-os em sentença, decisão interlocutória e despacho. A definição
de cada um desses pronunciamentos é relevante, considerando que, a depender de qual seja, será
cabível um recurso distinto. Neste item do módulo, trataremos apenas do conceito legal de
sentença, contra a qual cabe apelação.
O art. 203, §1º, do CPC, estabelece que: ressalvadas as disposições expressas dos
procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com
fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem
como extingue a execução.
Pela leitura do dispositivo legal, nota-se que o legislador qualifica o pronunciamento judicial
como sentença, tendo por base dois critérios distintos:

POSIÇÃO
A decisão judicial deve encerrar a fase cognitiva do procedimento comum ou extinguir a
execução.

CONTEÚDO
A decisão judicial deve ter como fundamento uma das hipóteses previstas nos arts. 485 ou 487.
Trata-se, assim, de um conceito híbrido, considerando não apenas o conteúdo, mas também as
finalidades (os efeitos) da decisão judicial, para enquadrá-la na definição de sentença.
Destaque-se a ressalva, prevista no §1º do art. 203, do CPC, de que o conceito de sentença não
se aplicaria aos procedimentos especiais. O legislador optou por fazer tal ressalva, considerando
que, em determinados procedimentos especiais do CPC, existem dispositivos legais que
nomeiam expressamente certas decisões judiciais como sentença, embora elas não se adequem à
definição legal de sentença prevista no §1º do art. 203.
EXEMPLO
É o caso da ação de inventário (art. 564 e 565); ação de habilitação (art. 692); ação de regulação
de avaria grossa (art. 710, §1º); ação de demarcação de terras (art. 581, 582 e 587) etc.
Assista à exposição do Prof. Dr. Marco Antônio Rodrigues sobre o conceito de sentença.

SENTENÇAS TERMINATIVAS E DEFINITIVAS


Tradicionalmente, as sentenças são classificadas como terminativas e definitivas. As
sentenças terminativas são aquelas que não resolvem o mérito da causa, possuindo apenas
conteúdo processual, ao passo que as sentenças definitivas são aquelas que resolvem o mérito
da causa. Por mérito, entende-se o conflito de interesse levado ao Judiciário para solução,
sendo aquilo sobre o que o autor e o réu querem que recaia a tutela jurisdicional (BUENO,
2016).
Essa classificação é relevante, tendo em vista o disposto no art. 486 do CPC, caput e parágrafos,
que trata da possibilidade de repropositura da ação, a depender do tipo de sentença proferida. O
ponto será abordado à frente.
As hipóteses que acarretam a prolação de sentença terminativa e definitiva estão previstas nos
arts. 485 e 487, do CPC, respectivamente. Para melhor compreensão, passemos a analisar cada
uma delas.
O inciso I, do art. 485, estabelece o primeiro caso de sentença terminativa, qual seja, o
indeferimento da petição inicial, o qual somente ocorre nas hipóteses do art. 330 do CPC.
Os incisos II e III do art. 485 tratam dos casos em que há um desinteresse das partes ou do autor
no prosseguimento do processo. São, respectivamente, os casos de abandono bilateral e
unilateral do processo. O inciso II incide quando o processo ficar parado por mais de 1 ano por
negligência das partes. O inciso III incide quando o autor abandonar a causa por mais de 30
dias, não promovendo os atos e as diligências que lhe incumbir.
Nas hipóteses dos incisos II e III, antes de prolatar sentença terminativa, a parte negligente deve
ser intimada pessoalmente – não por intermédio de seu procurador – para suprir a falta no prazo
de cinco dias (§1º, do art. 485). Não suprida a falta, a sentença terminativa será proferida. No
caso do inciso II, as partes pagarão proporcionalmente as despesas e não haverá condenação à
verba de honorários de advogado, ao passo que, no inciso III, o autor será condenado às
despesas do processo e dos honorários de advogado (§2º do art. 485).
Além disso, destaca-se que a extinção do processo, com base no inciso II, depende do
consentimento do réu, caso já tenha apresentado contestação (§6º do art. 485). A intenção da
regra foi prestigiar o interesse do réu de buscar a sentença definitiva no caso. O réu pode
preferir por aguardar eventual sentença definitiva a seu favor, considerando que a sentença
terminativa por abandono do autor não o impediria de propor de novo ação em face do réu (art.
486).
O inciso IV permite a prolação de sentença terminativa quando ausentes os pressupostos de
constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo. Ressalta-se, no entanto, que
nem sempre a ausência desses pressupostos acarreta a extinção do processo sem resolução do
processo.
EXEMPLO
As hipóteses de incompetência absoluta e de impedimento e suspeição do magistrado, ocasiões
em que os autos não serão extintos, mas remetidos ao juízo competente e juízo substituto (art.
146, §5º, do CPC).
Antes de extinguir o processo sem resolução do mérito, é preciso verificar a possibilidade de
correção do vício processual pela parte, em atenção ao princípio da primazia da decisão de
mérito (art. 4º do CPC).
O inciso V trata das hipóteses em que o juiz julga extinto o processo sem resolução do mérito ao
verificar:
PEREMPÇÃO
Ocorre quando o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo por abandono, hipótese
em que não poderá propor uma quarta ação contra o réu com o mesmo objeto. Fica, no entanto,
ressalvado ao autor apenas a possibilidade de alegar em defesa seu direito (§3º, do art. 486 do
CPC).
LITISPENDÊNCIA
Quando se repete ação que já esteja em curso (§3º, do art. 337 do CPC). Assim, em regra,
havendo dois ou mais processos idênticos em trâmite (mesmas partes, causa de pedir e pedidos),
o primeiro será causa de extinção dos demais ajuizados posteriormente.
COISA JULGADA
Quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado (§4º do art. 337 do
CPC).
O inciso VI diz respeito à hipótese em que o juiz, verificando a ausência de legitimidade de
qualquer uma das partes ou a falta de interesse processual do autor, profere sentença
terminativa. Ou seja, ausente a legitimidade ou o interesse de agir, que representam as
condições da ação (art. 17 do CPC), deve o juiz extinguir o feito sem resolução do mérito.
O inciso VII permite a prolação de sentença terminativa quando se acolher a alegação de
existência de convenção de arbitragem (cujas espécies são cláusula compromissória e
compromisso arbitral), ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência, consagrando a
regra do Kompetenz-Kompetenz, segundo à qual incumbe ao árbitro apreciar sua própria
competência. A existência de convenção de arbitragem não pode ser conhecida de ofício pelo
juiz (§5º, do art. 337 do CPC). Cabe ao réu alegar a existência de tal convenção em sede de
contestação, caso contrário, seu silêncio implicará em aceitação da jurisdição estatal e renúncia
ao juízo arbitral (§6º, do art. 337 do CPC).
O inciso VIII traz mais uma hipótese que acarreta a prolação de sentença terminativa, qual seja,
quando ocorrer a homologação de desistência da ação. Nessa hipótese, o autor desiste de
continuar a exercer o seu direito de ação, requerendo ao órgão jurisdicional que homologue tal
ato. Uma vez homologado o ato unilateral de desistência, o processo é encerrado sem extinção
do mérito.
Ainda sobre o inciso VIII, é preciso pontuar:
Se já oferecida a contestação, a homologação da desistência depende do consentimento do réu
(§4º do art. 485). Por outro lado, no caso de revelia, não é necessária a anuência do réu para a
desistência.
A desistência da ação pode ser apresentada até a sentença (§5º, do art. 485)
Desistência e renúncia não se confundem. Na desistência, desiste-se apenas de continuar a
exercer o direito de ação daquele processo em curso, o que acarreta a extinção do processo sem
resolução do mérito e a possibilidade de a parte, posteriormente, ajuizar a ação novamente. Na
renúncia, renuncia-se ao direito material alegado, o que gera a prolação de sentença definitiva,
coisa julgada material e, por consequência, não permite ajuizamento de outra ação.
O inciso IX estabelece que o processo será extinto sem resolução do mérito no caso de haver
morte da parte e a ação for considerada intransmissível por disposição legal, ou seja, na
hipótese do direito litigioso ser intransmissível.
EXEMPLO
O caso de o de cujus falecer durante uma ação de divórcio, não havendo como os herdeiros
assumirem seu polo naquela demanda.
O inciso IX também deve ser aplicado, analogicamente, às pessoas jurídicas que deixarem de
existir durante a demanda e tiverem direitos intransmissíveis.
O inciso X prevê que haverá prolação de sentença terminativa nos demais casos prescritos no
CPC.
EXEMPLO
Quando o autor não requer a citação dos litisconsortes passivos necessários no prazo fixado
(parágrafo único, do art. 115 do CPC) e na hipótese de incapacidade processual ou
irregularidade na representação da parte (art. 76, §1º, I, do CPC).
O §3º do art. 485 estabelece que o juiz pode conhecer de ofício, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, os incisos IV, V, VI e IX do art. 485, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado.
Feita a análise das hipóteses que acarretam a prolação de sentença terminativa, cabe, a seguir,
examinar as situações que dão ensejo à prolação de sentença definitiva (art. 487 do CPC).
INCISO I, ART. 487 DO CPC.
Estabelece que haverá resolução de mérito quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido formulado
na ação ou na reconvenção. Trata-se do caso mais comum de sentenças proferidas. Há quem as
chame de verdadeiras sentenças de mérito, pois são as hipóteses em que há um efetivo
julgamento do objeto litigioso do processo, com o acolhimento ou a rejeição, no todo ou em
parte, dos pedidos formulados pelas partes – no caso do autor, os pedidos constantes na petição
inicial e, no caso do réu, na reconvenção, se apresentada.
Por outro lado, as sentenças, previstas nos incisos II e III do art. 487, são
consideradas sentenças falsas de mérito ou sentenças de mérito impuras. Isso porque,
embora sejam consideradas de mérito, em razão de encerrarem a lide definitivamente, a
sentença não chega, nessas hipóteses, a fazer a análise do direito material alegado como no
inciso I.
INCISO II, ART. 487 DO CPC.
Determina que haverá resolução de mérito quando o juiz decidir, de ofício ou a requerimento,
sobre a ocorrência de decadência ou prescrição. Em nosso ordenamento jurídico, prescrição e
decadência são consideradas matérias de mérito. Embora não se analise a existência do direito
material alegado na demanda, a sentença – identificadora da prescrição ou decadência –
reconhece, no caso concreto, que houve o transcurso do tempo fixado em lei para o ajuizamento
da ação ou reconvenção, o que acarreta a rejeição dos pedidos (julgamento de improcedência).
O §1º, do art. 487, do CPC, prevê que, ressalvada a hipótese do §1º do art. 332 (improcedência
liminar do pedido), a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada,
às partes, oportunidade de se manifestarem a respeito. Aqui, o legislador busca prestigiar o art.
10 do CPC, que prevê o respeito ao princípio do contraditório, ainda quando se trate de matéria
que o juiz possa conhecer de ofício, como é o caso da prescrição e decadência.
INCISO III, ART. 487 DO CPC.
Prevê as hipóteses de sentença homologatória de autocomposição. Nessas hipóteses, o
magistrado homologa a vontade das partes, após verificar o preenchimento dos requisitos de
validade do ato celebrado.
Além disso, as situações previstas no referido inciso III representam ato de disposição do direito
material praticado pelas partes em conjunto, pelo réu ou pelo autor, motivo pelo qual é preciso
que tal direito, deduzido na demanda, seja disponível, admitindo-se a autocomposição.
ART. 488 DO CPC.
Define que, se possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a
quem aproveitaria eventual pronunciamento nos termos do art. 485. Em outras palavras, se a
decisão de mérito for favorável à parte que se beneficiaria com a decisão sem resolução de
mérito, deve o magistrado dar preferência ao julgamento de mérito.
EXEMPLO
Se estiver ausente um pressuposto processual na demanda, como um requisito essencial à
petição inicial, o qual não foi corrigido posteriormente pelo autor, e tendo o réu razão naquela
ação, poderá o juiz optar por julgar improcedente o pedido do autor. O art. 488 é um dos
dispositivos legais do CPC que consagra o princípio da primazia da resolução do mérito.

SENTENÇAS DECLARATÓRIAS, CONSTITUTIVAS E CONDENATÓRIAS


As sentenças também podem ser classificadas de acordo com seu conteúdo, segundo três
espécies: sentenças declaratórias, sentenças constitutivas e sentenças condenatórias. Essa
classificação, adotada pela teoria ternária, é a que considera a natureza do bem jurídico visado
pelo julgamento, ou seja, a espécie de tutela jurisdicional concedida à parte (THEODORO
JÚNIOR, 2018).
As sentenças declaratórias (ou meramente declaratórias) são aquelas que se limitam a declarar:
A existência, inexistência ou o modo de ser de uma relação jurídica
A autenticidade ou falsidade de um documento (incisos I e II, respectivamente, do art. 19 do
CPC)
No inciso I, declara-se uma relação jurídica e no inciso II, excepcionalmente, fatos. Nessas
sentenças, portanto, obtém-se uma certificação, uma certeza jurídica sobre qualquer situação em
que se existia dúvida e incerteza.
EXEMPLO
Sentença que julga procedente pedido de reconhecimento de paternidade ou sentença de
procedência na ação de usucapião.
As sentenças constitutivas são aquelas que criam, modificam ou extinguem uma relação
jurídica. Pode-se dizer que tais sentenças certificam e efetivam um direito potestativo, sendo
exemplos de direito potestativo:
Rever cláusulas de um contrato ou rever valor de prestação alimentícia (alteração da relação
jurídica)
Instituir servidão ou adotar alguém (criação da relação jurídica) e
Rescindir um contrato ou anulá-lo, ou ainda direito de pedir divórcio (extinção da relação
jurídica) (DIDIER et al, 2016)
As sentenças executivas, por fim, são aquelas que declaram a existência do direito material da
parte vencedora e autorizam a realização da atividade executiva a fim de efetivar aquele direito.
Trata-se de sentença, portanto, que tem como efeito a criação de um título executivo, que
permite o desenvolvimento da atividade jurisdicional de natureza executiva com fim de efetivar
a prestação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia certa devida pelo réu.

EXEMPLO
Sentença que obriga o réu ao pagamento de indenização por danos materiais ou morais
(prestação de pagar quantia) ou que obriga o réu a interromper determinada construção em local
de preservação ambiental (obrigação de não fazer).
ELEMENTOS DA SENTENÇA
O art. 489 do CPC afirma que são elementos essenciais da sentença: o relatório (inciso I), os
fundamentos (inciso II) e o dispositivo (inciso III).
O relatório é a síntese da demanda, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, a
suma do pedido, da defesa e da reconvenção (se houver), bem como o registro das principais
ocorrências havidas no andamento do processo (art. 489, I, do CPC). Exige-se a elaboração de
relatório para demonstrar que o órgão julgador conhece o processo que irá julgar. A ausência de
relatório gera a nulidade absoluta da sentença para a doutrina majoritária. É preciso recordar que
há hipóteses em que se dispensa o relatório, como é o caso das sentenças proferidas nos
Juizados Especiais Cíveis (art. 38 da Lei n. 9.099/1995).
Na fundamentação, o juiz analisará as questões de fato e de direito (art. 489, inciso II, do
CPC). É na fundamentação que se indicam os motivos que justificam, juridicamente, a
conclusão a que se tenha chegado (CÂMARA, 2016). Trata-se de elemento que não pode ser
dispensado, cuja falta acarreta a nulidade da decisão (art. 93, IX, da CF/1988 e art. 11 do CPC).
A fim de concretizar a exigência constitucional de fundamentação das decisões judiciais, o art.
489, §1º, do CPC enumerou, em rol exemplificativo, as situações em que não se considera
fundamentada uma decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão.
No dispositivo, o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem (art. 489,
inciso III, do CPC). Trata-se da parte conclusiva da sentença, representando o comando da
decisão. Uma sentença sem sua parte dispositivo não é uma decisão judicial, pois nada foi
decidido, concluído. Assim, ausente o dispositivo, a sentença é inexistente.
Por fim, o art. 489, §3º, do CPC fixa o dever de o juiz interpretar a decisão judicial a partir de
todos os seus elementos em conjunto – e não vistos de forma isolada –, além de ter que analisá-
los sempre em conformidade com o princípio da boa-fé.

VÍNCULO ENTRE A SENTENÇA E OS PEDIDOS


Na sentença de mérito, incumbe ao juiz acolher ou rejeitar, no todo ou em parte, os pedidos
formulados pelas partes – no caso do autor, os pedidos constantes na demanda principal e do
réu, os pedidos constantes na reconvenção (art. 490 do CPC). Trata-se de artigo que procura
estabelecer o conteúdo da sentença de mérito, embora o art. 487 já cumpra com tal função,
definindo, nos seus incisos, essa hipótese de conceito e outras duas.
É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em
quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado (art. 492 do CPC). Ou seja,
o juiz deve se ater aos pedidos das partes, não podendo conceder a mais do que foi pedido,
diferente do que foi pedido, bem como deixar de analisar algo que foi pedido. Ao lado do art.
141 do CPC, esses dois dispositivos legais dão origem ao princípio da congruência.
ATENÇÃO
É preciso fazer uma correção a respeito do art. 492. A sentença deve-se limitar não apenas aos
pedidos, mas também às causas de pedir e aos sujeitos processuais. Caso a sentença conceda
mais, menos ou diferente do que foi pedido, ela é nula. Contudo, caso também se fundamente
em causa de pedir não narrada pelo demandante ou atinja terceiros que não participem do
processo, é igualmente nula.
Foi considerando esses limites objetivos e subjetivos, existentes na sentença, que a doutrina as
classificou em (DIDIER et al., 2016):
SENTENÇA ULTRA PETITA
É aquela que concede à parte mais do que ela pediu; analisa outros fatos essenciais além dos
postos pelas partes; ou resolve a demanda em relação a sujeitos que não participaram do
processo, indo além dos que participaram.
SENTENÇA EXTRA PETITA
É aquela que tem natureza diversa ou concede à parte coisa distinta da que foi pedida; considera
fundamento de fato não suscitado no lugar dos efetivamente suscitados; ou atinge sujeito que
não faz parte do processo.
SENTENÇA CITRA PETITA (OU INFRA PETITA)
É aquela que deixa de analisar pedido formulado; fundamento de fato ou de direito trazido pela
parte; ou pedido formulado por ou em face de determinado sujeito do processo.
A sentença deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional (parágrafo único, art.
492 do CPC). Veda-se, portanto, a prolação de sentenças condicionais.
Exemplo de sentença incerta: A sentença que condena o réu ao cumprimento de uma obrigação
se o autor, por sua vez, cumprir obrigação que lhe incumbe.

MÓDULO 2
Reconhecer o conceito da coisa julgada, seus efeitos e limites subjetivos, objetivos e
temporais

COISA JULGADA MATERIAL E FORMAL


EM DETERMINADO MOMENTO DO PROCESSO, A SENTENÇA TORNA-SE
IMUTÁVEL E INDISCUTÍVEL. ISSO OCORRE POR DUAS FORMAS: TODOS OS
RECURSOS POSSÍVEIS JÁ FORAM INTERPOSTOS OU ESGOTOU-SE O PRAZO
PARA A INTERPOSIÇÃO DO RECURSO CABÍVEL. AO PASSAR DE RECORRÍVEL
PARA IRRECORRÍVEL, A SENTENÇA TRANSITA EM JULGADO. ASSIM, EM
REGRA, O TRÂNSITO EM JULGADO É EFEITO DA PRECLUSÃO DOS
RECURSOS.
(CÂMARA, 2016)
A coisa julgada formal corresponde à imutabilidade e indiscutibilidade da sentença dentro do
processo em que é proferida. Tradicionalmente, a doutrina afirma que a coisa julgada formal é
uma espécie de preclusão (preclusão máxima), à qual qualquer sentença está sujeita, seja ela
terminativa ou definitiva, proferida em processo de conhecimento, cautelar ou executivo. Basta
ter transitado em julgado (NEVES, 2017). Todas as sentenças produzem coisa julgada formal,
inclusive as atingidas pela coisa julgada material.
Transitada em julgado e produzida a coisa julgada formal, algumas sentenças chegam a ser
atingidas, ainda, pela coisa julgada material.
A coisa julgada material corresponde à imutabilidade e indiscutibilidade de decisões de mérito
(sentença de mérito, decisão interlocutória de mérito, acórdãos de mérito) produzidas para fora
do processo, para além do processo em que foi proferida. O artigo 502 do CPC a define como a
autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a
recurso.
A coisa julgada formal tem atuação dentro do processo em que seja proferida a sentença, não
impedindo que o objeto do julgamento volte a ser discutido em outro processo, ao passo que a
coisa julgada material produz seus efeitos no mesmo processo e em qualquer outro.

CONCEITO LEGAL E PRESSUPOSTOS DE FORMAÇÃO


Nota-se que a coisa julgada formal, apesar de muito citada pela doutrina, nunca foi
expressamente prevista pelo legislador, sendo mera construção doutrinária. Trata-se de instituto
que, muitas vezes, é identificado como espécie de preclusão, tornando sua conceituação mais
difícil e menos interessante para nós. Feita essa consideração, vale lembrar: quando a doutrina
se referir ao instituto ora estudado somente como coisa julgada, sem especificar seu tipo,
subentende-se tratar de coisa julgada material.
Em relação aos pressupostos para a formação da coisa julgada, adota-se o posicionamento do
professor Fredie Didier (2016). Segundo ele, a coisa julgada é resultado da combinação de dois
fatos: decisão jurisdicional fundada em cognição exauriente e trânsito em julgado.
O primeiro pressuposto da coisa julgada é a existência de uma decisão jurisdicional em
cognição exauriente. Se dependesse do conceito de coisa julgada material, previsto no art. 502,
o primeiro pressuposto da coisa julgada seria tão somente a existência de decisões de mérito.
Como existem também as coisas julgadas formais, que podem ser vislumbradas nas decisões
terminativas, é preferível que o primeiro pressuposto seja mais amplo, apenas decisões
jurisdicionais.
Ainda quanto ao primeiro pressuposto, deve essa decisão jurisdicional fundar-se em cognição
exauriente. As decisões prolatadas, em sede de cognição sumária, como no caso das decisões
provisórias, não estão aptas à coisa julgada. Segundo o professor Didier, coisa julgada é
estabilidade que pressupõe ter havido encerramento da cognição sobre a questão.
O segundo pressuposto é o trânsito em julgado. Não é possível haver coisa julgada se, contra
decisão, ainda houver possibilidade de interposição de recurso. O próprio art. 502 menciona que
a decisão não pode mais estar sujeita a recurso.

EFEITO NEGATIVO E EFEITO POSITIVO DA COISA JULGADA


A coisa julgada torna a decisão de mérito imutável e indiscutível, impedindo que a mesma ação
seja novamente decidida em novo processo judicial. O conceito de ação idêntica pode ser
retirado do art. 337, §2º, do CPC, segundo o qual uma ação é idêntica a outra quando possui
as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. O que se tem, em suma, é a
vedação à reapreciação da mesma demanda que já foi resolvida por decisão de mérito
acobertada pela coisa julgada. É disso que se trata o efeito negativo da coisa julgada.
Se a demanda for ajuizada novamente, caberá ao magistrado extinguir o processo sem resolução
de mérito (art. 485, V, do CPC). Embora o juiz possa conhecer de ofício a coisa julgada, no caso
concreto, pode o réu alegá-la em preliminar de contestação (art. 337, VII, do CPC).
Existe também o efeito positivo da coisa julgada. Tal efeito não veda ao magistrado que julgue
o mérito de uma segunda ação ajuizada, apenas determina que uma questão indiscutível pela
coisa julgada material, caso retorne em outro processo como fundamento de uma pretensão –
portanto, na condição de questão incidental –, seja devidamente observada e não resolvida de
forma distinta (DIDIER et al., 2016).
O que se busca, no efeito positivo da coisa julgada, é preservar, no segundo processo, uma
relação jurídica que já foi decidida em um primeiro processo, exatamente nas hipóteses em que
os processos distintos. Trata-se de situação distinta do efeito negativo da coisa julgada, em que
há uma preocupação do juiz, não em respeitar uma relação jurídica decidida em processo
distinto, mas em evitar que uma mesma demanda seja reproposta e julgada pela segunda vez.
Confira abaixo dois exemplos práticos a respeito do efeito positivo da coisa julgada.
EXEMPLOS
Exemplo 1:
Na fase de liquidação de sentença, o juiz deve levar em consideração a coisa julgada formada na
fase de conhecimento – não pode decidir contra o que já fora decidido, dizendo, por exemplo,
que não existe a dívida.

Exemplo 2:
Em ação de alimentos lastreada em coisa julgada de filiação, o juiz não pode negar os alimentos
sob fundamento de que não existe o vínculo de família – pode negar os alimentos, mas não por
esse fundamento, pois sobre a existência de filiação já há coisa julgada (DIDIER, 2016).

LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA


Por limites objetivos da coisa julgada deve-se compreender o que exatamente se torna imutável
e indiscutível com a coisa julgada. É preciso analisar o art. 503, do CPC, segundo o qual a
decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão
principal expressamente decidida.
Ao fixar que as decisões de mérito têm ―força de lei‖, nos limites da questão principal,
pretendeu o dispositivo legal estabelecer que tais decisões de mérito produzem normas jurídicas
concretas impositivas e indiscutíveis (em decorrência da coisa julgada material).
Além disso, ao afirmar que as decisões de mérito têm força de lei nos limites da questão
principal expressamente decidida, o objetivo foi estabelecer que, em regra, a coisa julgada
material atinge apenas as questões principais, entendidas como os pedidos formulados pelo
autor na inicial e pelo réu na reconvenção, se houver.
A leitura do trecho final, do art. 503 e do art. 504, do CPC, afirmando que os motivos e a
verdade dos fatos estabelecidas como fundamento da sentença não fazem coisa julgada material,
é o suficiente para se concluir que apenas a parte dispositiva da sentença é que faz coisa julgada,
nunca a fundamentação.
Há, contudo, no §1º do art. 503, uma exceção à regra de seu caput. Admite-se que a autoridade
da coisa julgada alcance, também, a resolução de questão prejudicial, decidida expressa e
incidentemente no processo. Questão prejudicial, vale lembrar, é aquela questão prévia cuja
solução influi na resolução da questão posterior (questão prejudicada) (CÂMARA, 2016).
No entanto, somente será alcançada a coisa julgada da questão prejudicial incidental, caso
atendidos os requisitos cumulativos previstos nos incisos do §1º do art. 503, quais sejam:
Dessa resolução depender o julgamento do mérito
A seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia
O juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão
principal
Por fim, ainda quanto aos limites objetivos, o art. 508 do CPC fixa que transitada em julgado
a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas
que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido.
O referido dispositivo legal cuida da chamada eficácia preclusiva da coisa julgada, segundo a
qual, a partir da formação da coisa julgada, torna-se preclusa a possibilidade de rediscussão de
todos os argumentos, ou seja, todas as alegações e as defesas que a parte poderia suscitar para o
acolhimento ou a rejeição do pedido. A ideia é evitar que tais alegações, eventualmente
suscitadas em novos processos, ocasionem a prolação de decisões que contrariem o dispositivo
da decisão protegido pela coisa julgada material.

LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA


Os limites subjetivos da coisa julgada referem-se ao exame de quais pessoas se sujeitam à coisa
julgada e que, portanto, não podem tomar a iniciativa de discutir novamente o que foi decidido.
O art. 506 do CPC cuida dos limites subjetivos da coisa julgada ao dispor que a sentença faz
coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.
Em regra, pelo dispositivo legal, nota-se que a coisa julgada é inter partes, alcança somente as
partes da demanda (autor e réu) que foram os sujeitos do processo em que prolatada decisão
atingida pela coisa julgada. Além das partes, vincula-se à coisa julgada os sucessores das partes
e o Ministério Público, quando atua como fiscal da ordem jurídica.
O art. 506 do CPC/15 estabelece que a coisa julgada não pode somente ―prejudicar‖ terceiros.
Há, contudo, exceções a tal regra. Basta analisar, por exemplo, certos casos em que há a coisa
julgada ultra partes, isto é, aquela coisa julgada que vincula não apenas as partes, mas também
terceiros que não participaram do processo.
EXEMPLO
Um exemplo corriqueiro, para a hipótese de prejuízo a terceiros nas coisas julgadas ultra partes,
é a substituição processual (art. 18 do CPC), ocasião em que alguém (substituto) é autorizado a
demandar direito alheio em nome próprio mediante previsão legal. Nessa hipótese, não apenas o
substituto, mas também o substituído, titular do direito material que não figurou como parte
processual, estará vinculado aos efeitos da coisa julgada, seja para beneficiar ou prejudicar.
Existe, ainda, quem trate da coisa julgada erga omnes como outro tipo de coisa julgada capaz de
atingir terceiros e não apenas as partes. Trata-se, em síntese, de coisa julgada cujos efeitos
atingem todos os jurisdicionados, tanto os que participaram da demanda, como os que não
participaram.
EXEMPLO
Coisa julgada existente nas ações de controle de constitucionalidade e nas ações coletivas que
tratam de direito difuso ou individual homogêneo.
Assista à exposição do Prof. Dr. Marco Antônio Rodrigues sobre os limites subjetivos da coisa
julgada.

LIMITES TEMPORAIS
Além dos limites objetivos e subjetivos, é interessante analisar os limites temporais da coisa
julgada, isto é, como se comporta a imutabilidade e indiscutibilidade da coisa julgada com o
passar do tempo, até quando tais características duram.
Para tratar do tema, é preciso analisar o art. 505 do CPC, o qual dispõe ser vedado ao
magistrado decidir novamente as questões relativas à mesma lide, salvo as duas hipóteses
previstas nos seus incisos I e II.
O inciso I do art. 505 prevê que, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, caso
sobrevenha modificação no estado de fato ou de direito, poderá a parte pedir a revisão do que
foi estatuído na sentença. Nos casos de relação jurídica continuada, como ocorre nas ações de
alimento ou revisionais de aluguel, havendo fato superveniente que justifique a revisão da
sentença, poderá a parte solicitar tal revisão.
EXEMPLO
Em uma ação de alimentos, em que a sentença determinou o dever do pai de prestar alimentos
mensalmente, havendo a posteriori uma piora comprovada na condição financeira do pai, pode
haver uma revisão do valor mensal inicialmente fixado na sentença.
O inciso II do art. 505 proíbe que o órgão julgador decida novamente as mesmas questões já
decidas, relativas à mesma lide, nos demais casos prescritos em lei. Essa proibição pode ser
evidenciada por alguns remédios processuais disponibilizados em lei para controlar a coisa
julgada, tais como: ação rescisória, querela nullitatis, revisão de sentenças inconstitucionais etc.

MÓDULO 3

Diferenciar as hipóteses de cabimento da ação rescisória, seu procedimento e julgamento

CONCEITO
A ação rescisória é autônoma de impugnação que objetiva desconstituir a decisão judicial
transitada em julgado e, eventualmente, o rejulgamento da causa originária. Na referida ação,
portanto, busca-se, em um primeiro momento, desconstituir a decisão judicial já coberta pela
coisa julgada, com fundamento nas hipóteses previstas em lei. Ato contínuo, se acolhido o
pedido de desconstituição da referida decisão, é possível que haja – ainda no âmbito do processo
da ação rescisória – o rejulgamento da causa de origem.
A ação rescisória tem natureza jurídica de ação e não se confunde com recurso. Isso porque o
recurso é meio de impugnação cabível, no âmbito do mesmo processo, contra decisão judicial
não transitada em julgado; ao passo que a ação rescisória é cabível para impugnar decisões
transitadas em julgado, o que fará a partir de um novo processo.
Nos termos do art. 966, do CPC, é cabível a ação rescisória contra as decisões de mérito, as
quais foram proferidas sob as circunstâncias descritas nos incisos do art. 966. Ao se referir
genericamente à decisão de mérito, optou o legislador por estabelecer que pode ser objeto de
rescisão não apenas sentenças, mas decisões interlocutórias, decisões monocráticas de relator e
acórdãos. Os dois únicos requisitos são que sejam tais decisões de mérito e que tenham
transitado em julgado.
Contudo, a regra de que apenas as decisões de mérito, previstas nos incisos do art. 966, são
rescindíveis comporta exceção. Nas situações previstas no §2º, do art. 966, será possível o
ajuizamento de ação rescisória contra decisões que não examinam o mérito.
Assista a seguir à exposição do Prof. Dr. Marco Antônio Rodrigues sobre decisões passíveis da
ação rescisória.
HIPÓTESES DE CABIMENTO
Examinem-se, a seguir, os casos de rescindibilidade previstos no rol taxativo do art. 966 do
CPC.
O INCISO I, ART. 966 DO CPC
Prevê a hipótese de ser proferida decisão por força de prevaricação, concussão ou corrupção
passiva praticadas pelo juiz. Trata-se de crimes contra a Administração Pública previstos nos
arts. 319, 316 e 317 do Código Penal, respectivamente.
O cabimento da rescisória com fundamento nesse inciso pode ocorrer com base em prévia
condenação do magistrado ocorrida no âmbito da ação penal, que responde pela prática do
crime, ou pode o próprio tribunal, que julga a ação rescisória, apurá-lo de forma incidental.
Se for o caso de decisão proferida por órgão colegiado, a rescisória só será cabível se o voto do
magistrado praticante do crime tiver sido vencedor, contribuindo para a formação da maioria ou
unanimidade. Afinal, se o voto vencido do julgador, ainda que viciado por ato ilícito, não altera
o resultado do julgamento, não há razões para buscar a rescindibilidade do acórdão.
INCISO II, ART. 966 DO CPC
Prevê outro caso de rescindibilidade da decisão quando proferida por juiz impedido ou por
juízo absolutamente incompetente. As hipóteses de impedimento, previstas nos arts. 144 e
147 do CPC, foram criadas exatamente para preservar o julgamento imparcial do magistrado —
considerado pressuposto de validade do processo.
Tamanha é a gravidade do vício, que se restou positivada a rescindibilidade de decisões
proferidas por juiz impedido. Igualmente, na hipótese de decisão colegiado, apenas o julgador
impedido com voto vencedor poderá contaminar o acórdão e permitir o ajuizamento da ação
rescisória. Por opção do legislador, as causas de suspeição não foram incluídas (art. 145 do
CPC).
Em relação à segunda parte do inciso II, o juiz absolutamente incompetente ocasiona o direito à
rescisão da decisão proferida, o juiz relativamente incompetente não.
O INCISO III, ART. 966 DO CPC
Prevê o terceiro caso de decisão de mérito rescindível, qual seja, aquela que resultar de dolo ou
coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou
colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei.
O dolo e a coação da parte vencedora – ou também de seu representante legal ou advogado –
decorrem da ofensa ao princípio da boa-fé processual, previsto no art. 5º do CPC. Tais condutas,
praticadas exclusivamente pela parte e não pelo juiz, ocorrem quando se tenta prejudicar o
adversário ou até mesmo induzir o magistrado a erro de forma desleal e contrária à boa-fé. É
preciso que tais condutas efetivamente alterem o resultado da demanda para se rescindir a
decisão.
EXEMPLO
Uma parte coage a outra para confissão de um fato que servirá como fundamento principal para
a prolação da sentença a seu favor.
A colusão, por sua vez, está prevista no art. 142 do CPC. Segundo o dispositivo, há colusão
quando autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim
vedado por lei. Ao que parece, atualmente, o conceito de simulação está incluída no conceito
de colusão, motivo pelo qual sua inserção no inciso, a rigor, sequer seria necessária. O objetivo
do legislador foi encerrar divergência doutrinária a respeito da colusão, já que havia quem
considerasse no passado que simulação não estaria incluída no conceito de colusão (CÂMARA,
2016).
O INCISO IV, ART. 966 DO CPC
Prevê que é rescindível a decisão que ofender a coisa julgada. Portanto, caso uma decisão de
mérito de determinado processo transitada em julgado tenha ofendido a coisa julgada de um
processo anterior, será rescindível a referida decisão ofensora.
O INCISO V, ART. 966 DO CPC
Prevê a hipótese mais comum de rescindibilidade: quando a decisão violar manifestamente a
norma jurídica. O dispositivo legal correspondente no Código anterior era o art. 485, V, do
CPC/1973, que previa violação a literal dispositivo de lei.
A mudança do termo ―lei‖ por ―norma‖ é explicada por Cássio Scarpinella Bueno:
DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA NÃO DIVERGEM QUANTO À AMPLA
ABRANGÊNCIA QUE DEVE SER DADA AO TERMO “LEI” REFERIDO NO INCISO
V DO ART. 485. “LEI”, TAL QUAL EMPREGADA NO DISPOSITIVO, É SINÔNIMO
DE “NORMA JURÍDICA, INDEPENDENTEMENTE DE SEU ESCALÃO”. ISTO É,
TANTO PODE CONCEBER A RESCISÓRIA PARA IMPUGNAR DECISÃO QUE
VIOLOU A CONSTITUIÇÃO FEDERAL, LEIS PROPRIAMENTE DITAS
(INCLUINDO MEDIDAS PROVISÓRIAS QUE TÊM FORÇA DE LEI), BEM ASSIM
ATOS INFRALEGAIS COMO DECRETOS, REGULAMENTOS. O STJ JÁ ADMITIU
A RESCISÓRIA CALCADA NO INCISO V DO ART. 485, POR OFENSA A
DISPOSITIVO DE SEU PRÓPRIO REGIMENTO INTERNO.
(BUENO, 2004)
A norma jurídica, assim, é termo que melhor se encaixa no dispositivo legal, pois contém
conceito mais abrangente. Norma jurídica significa o sentido atribuído a todo tipo de texto
normativo (enunciado normativo). Em outras palavras, ela é extraída a partir da interpretação
dada a todas as fontes do Direito, o que não se limita à lei.
A norma jurídica pode ser de qualquer natureza: legal, constitucional, regimental, administrativa
etc. Inclusive, pode a norma ser de direito material ou processual. Por fim, acrescente-se que
decisão que viola os precedentes vinculantes previstos no art. 927 é rescindível, afinal a tese
firmada em precedente vinculante é igualmente norma jurídica fruto da interpretação de textos
normativos.
O §5º do art. 966 prevê ação rescisória com base no inciso V contra decisão baseada em
enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não
tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o
padrão decisório que lhe deu fundamento. Apesar de se referir apenas à súmula ou ao
acórdão de caso repetitivo, o §5º deve se aplicar a todos os precedentes vinculantes, uma vez
que tais precedentes criam norma jurídica, as quais são vinculantes perante casos futuros
idênticos e, por isso, não podem ser desrespeitados. Na hipótese do §5º, ajuizada a ação
rescisória, deverá o seu autor, sob pena de inépcia, demonstrar, de forma analítica, que o caso
concreto é distinto da hipótese do precedente (art. 966, §6º do CPC).
O INCISO VI, ART. 966 DO CPC
Prevê a hipótese da rescindibilidade de decisão fundada em prova cuja falsidade tenha sido
apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória. Não é,
contudo, qualquer prova falsa que permite a rescindibilidade da decisão, é preciso que tal prova
tenha sido o principal fundamento para se alcançar a conclusão adotada. A prova, vale dizer,
pode ser de qualquer espécie, prevista ou não no CPC. Por fim, é preciso dizer que a constatação
de falsidade da prova, apurada no âmbito da ação penal, deve ser definitiva, ou seja, não mais
sujeita à modificação naqueles autos.
O INCISO VII, ART. 966 DO CPC
Estabelece o cabimento de ação rescisória quando obtiver o autor, posteriormente ao trânsito
em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por
si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável. Na realidade, não trata o dispositivo legal
de prova efetivamente nova, considerando que ela já existia, mas não podia o autor produzi-la à
época, por não a conhecer ou por ser impossível acessá-la. Melhor termo seria ―prova inédita‖.
Ademais, a rescisão de decisão judicial com fundamento no inciso VII só será possível caso a
prova nova, por si só, seja apta a reformar a referida decisão rescindenda e garantir o resultado
favorável à parte vencida.
O INCISO VIII, ÚLTIMO DO ART. 966, DO CPC
Prevê que será rescindível a decisão fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. O
erro de fato verifica-se quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando
considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos,
que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se
pronunciado (art. 966, §1º do CPC).
Para ocorrer essa hipótese de rescindibilidade, a doutrina, geralmente, aponta três requisitos a
serem preenchidos:
A decisão rescindenda precisa ser baseada no erro de fato, a ponto de que, se inexistente fosse
tal erro, o resultado da demanda seria outro
Erro de fato deve ser notado pelo mero exame dos autos do processo originário, sendo proibida
a produção de prova no processo da ação rescisória
O fato não pode ser controvertido no processo originário
Há, ainda, a possibilidade de ação rescisória contra decisão transitada em julgado que, embora
não seja de mérito, impeça nova propositura da demanda (art. 966, §2º, I, do CPC) ou
admissibilidade do recurso correspondente (art. 966, §2º, II, do CPC). No caso do inciso I, trata-
se da hipótese de se ajuizar ação rescisória contra as decisões terminativas transitadas em
julgado que, não corrigidos os seus vícios, impedem a propositura da mesma demanda (§1º do
art. 486), bem como as sentenças terminativas que se baseiam em perempção ou coisa julgada
(CRAMER, 2016).
O inciso II permite a ação rescisória contra decisão terminativa transitada em julgado que
inadmite recurso. Ressalta-se, também, que as decisões previstas nos incisos I e II do §2º do art.
966, para serem rescindíveis, precisam se enquadrar em algum dos vícios previstos nos incisos
do art. 966 (primeira parte do art. 966, §2º, do CPC).
No âmbito das hipóteses de cabimento da ação rescisória, ressalta-se a possibilidade de se
ajuizar a referida ação para impugnar apenas um capítulo da decisão rescindenda (§3º do art.
966 do CPC). É a chamada ação rescisória parcial.
Por fim, vale dizer que estão sujeitos à ação anulatória – e não à ação rescisória – os atos de
disposição de direitos homologados pelo juízo e os atos homologatórios praticados no curso da
execução (§4º do art. 966). Busca-se, nessa ação impugnativa autônoma, a invalidação dos
referidos atos e não o desfazimento da coisa julgada. O trâmite processual é completamente
diferente da ação rescisória.
ATENÇÃO
A ação anulatória é ajuizada em primeira instância, segue o rito do procedimento comum e o
prazo para a sua propositura depende do vício alegado pela parte.

LEGITIMIDADE, COMPETÊNCIA E PETIÇÃO INICIAL


Tem legitimidade para propor a ação rescisória:

Quem foi parte no processo ou seusucessor a título universal ou singular;

O terceiro juridicamente interessado;

Caso não seja ouvido no processo em que lhe eraobrigatória a interven

Quando a decisão rescindenda é o efeito desimulação ou de colusão d

O Ministério Público:

Em outros casos em que se imponha sua atuação;

Aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a in

Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal


Ainda que não haja previsão legal para legitimidade passiva, a doutrina compreende que podem
ser réus, na ação rescisória, os sujeitos que não foram partes no processo originário e não foram
autores na ação rescisória.
Nos casos de intervenção, previstos no art. 178 do CPC, o Ministério Público será intimado para
intervir como fiscal da ordem jurídica quando não for parte (parágrafo único do art. 967 do
CPC).
O CPC/2015 inclui a ação rescisória no capítulo referente aos processos de competência
originária do tribunal. Tanto o ajuizamento da ação rescisória como o seu julgamento ocorrem
em única instância no tribunal, não se submetendo a referida ação aos dois graus ordinários de
jurisdição.
Em regra, o tribunal prolator da decisão rescindenda é o órgão jurisdicional competente para
conhecer a ação rescisória (CÂMARA, 2016), conforme previsto constitucionalmente para o
STF e STJ (inciso I, j, do art. 102 e inciso I, e do art. 105, ambos da CF/1988), bem como para
os Tribunais Regionais Federais (art. 108, inciso I, b, da CF/1988). Por analogia, em regra, o
mesmo pode se dizer em relação aos Tribunais de Justiça estaduais. No caso de ações rescisórias
propostas contra decisão proferida em primeira instância, será competente para julgar o tribunal
teoricamente competente para rever, em sede recursal, tal decisão.
Ainda quanto à competência, nos termos do §5º, do art. 968, é possível que o tribunal verifique
que a decisão indicada pelo autor na inicial não é rescindível, pois:
Não aprecia o mérito da causa e não se enquadra na situação prevista no §2º do art. 966 (art.
968, §5º, I, do CPC)
Foi substituída por decisão proferida posteriormente (art. 968, §5º, II, do CPC)
Nessas hipóteses, o tribunal reconhecerá sua incompetência e determinará que o autor emende a
petição inicial para adequar o objeto da ação rescisória. Emendada a inicial, o réu deverá ser
intimado para complementar sua defesa e, após isso, os autos serão remetidos para o tribunal
competente (§6º do art. 968 do CPC).
Na petição inicial da ação rescisória, o autor deve, além de observar os requisitos essenciais do
art. 319 do CPC, cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o pedido de novo julgamento do
processo (art. 968, I, do CPC). O trecho ―se for o caso‖ fixado tem uma razão de ser: é que nem
sempre o autor irá requerer o rejulgamento do processo. Nessas hipóteses, há tão somente o
juízo rescindente (apreciação do pedido de desconstituição da coisa julgada), não se avançando
para o juízo rescisório (rejulgamento da causa).
As situações em que se deve formular apenas o pedido de desconstituição, da decisão transitada
em julgado, deverão ser analisadas caso a caso.
EXEMPLO2
Exemplo 1:
Quando a decisão rescindenda é proferida por juízo absolutamente incompetente, é possível que
o órgão responsável pelo juízo rescindente não seja competente para o juízo rescisório, motivo
pelo qual não deve rejulgar o caso sob pena do mesmo vício ocorrer novamente.
Exemplo 2:
Quando a decisão rescindenda ofende coisa julgada, não há razão para se requerer novo
julgamento, pois o pedido da rescisória objetiva apenas a preservação da coisa julgada que foi
violada, não havendo, portanto, o que se julgar.
Na petição inicial da rescisória, ainda, deve o autor também depositar a importância de 5%
sobre o valor da causa, que se converterá em multa caso a ação seja, por unanimidade de
votos, declarada inadmissível ou improcedente (art. 968, II, do CPC). Não pode, contudo, o
referido depósito ser superior a mil salários-mínimos (art. 968, §2º do CPC). Além disso, estão
isentos de realizar o depósito prévio os estados, o Distrito Federal, os municípios às suas
respectivas autarquias e fundações de direito público, o Ministério Público, a Defensoria
Pública e os que tenham obtido o benefício de gratuidade da justiça (art. 968, §1º do CPC). A
isenção no depósito prévio, no entanto, não os isenta de pagamento de multa caso a ação, por
qualquer um deles ajuizada, seja declarada, por unanimidade, inadmissível ou improcedente.
O indeferimento da petição inicial da rescisória pode ocorrer com fundamento no art. 330, do
CPC, ou caso não efetuado o depósito mencionado no art. 966, II, do CPC (art. 968, §3º, do
CPC). A referida ação, vale dizer também, está sujeita igualmente às hipóteses de
improcedência liminar do pedido previstas, no art. 332, do CPC (art. 968, §4º, do CPC).
A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada
a concessão de tutela provisória (art. 969 do CPC). Em regra, a decisão rescindenda não é
suspensa quando ajuizada a ação rescisória, contudo, é possível que o autor da rescisória
formule pedido de tutela provisória – disciplinada nos arts. 294 a 311 do CPC – para impedir o
cumprimento da referida decisão.

PROCEDIMENTO
Após o juízo de admissibilidade da inicial, o relator ordenará a citação do réu, designando-lhe
prazo de 15 a 30 dias úteis para apresentar contestação (primeira parte do art. 970 do CPC). Na
contestação, caso respeitado o prazo decadencial de dois anos e feito o depósito prévio de 5%
do valor da causa, previsto no art. 968, II, do CPC, poderá o réu também propor reconvenção,
bem como, na mesma oportunidade, apresentar eventual impugnação ao valor da causa e
impugnação aos benefícios de assistência judiciária, se tiver sido concedida liminarmente como
matéria preliminar de contestação (NEVES, 2017).
Apresentada ou não a contestação – e o restante mencionado –, a ação rescisória seguirá o
procedimento comum no que couber (segunda parte do art. 970 do CPC). Utiliza-se a expressão
―no que couber‖, pois a rescisória possui certas particularidades que a impedem de seguir
rigorosamente o procedimento comum, a exemplo da inexistência de audiência de conciliação
nessas demandas, por ser a desconstituição de decisão de mérito transitada em julgado matéria
não sujeita a autocomposição.
Após a fase instrutória, há o julgamento da ação rescisória. Em princípio, ele se decompõe em
três etapas:
Juízo de admissibilidade
Juízo rescindente (apreciação do pedido de desconstituição da coisa julgada)
Juízo rescisório (rejulgamento da causa)
O juízo rescindente só ocorrerá se o juízo de admissibilidade decidir pela admissão da ação,
assim como somente haverá juízo rescisório se, no juízo rescindente, a coisa julgada for
desconstituída. Em relação ao juízo rescisório, a regra do art. 968 do CPC se mantém; nem
sempre tal juízo ocorrerá, conforme já analisado.
Julgado procedente o pedido rescindente, o tribunal, se for o caso, rejulgará a causa e
determinará a restituição do depósito a que se refere o inciso II do art. 968, condenando o réu,
ademais, nos honorários de sucumbência (art. 974 do CPC). Por outro lado, se o pedido
rescindente for julgado improcedente ou inadmissível por unanimidade, o tribunal deverá
determinar a reversão, em favor do réu, da importância do depósito, sem prejuízo de condenar o
autor às verbas de sucumbência (parágrafo único do art. 974).

PRAZO
O art. 975 estabelece que a ação rescisória deverá ser proposta em dois anos contados do
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. Segundo o dispositivo legal, o
prazo decadencial tem início a partir do trânsito em julgado da última decisão proferida no
processo e não da decisão rescidenda. Em relação à contagem de prazo, determina o §1º do art.
975 que, caso o prazo decadencial de dois anos se encerre durante férias forenses, recesso,
feriados ou em dia que não houver expediente forense, ele será prorrogado para o primeiro dia
útil subsequente.
Na hipótese de a rescisória fundar-se em prova nova, o termo inicial de dois anos será o da data
de descoberta da referida prova, observado o prazo limite de cinco anos, contado do trânsito em
julgado da última decisão proferida no processo (art. 975, §2º do CPC).
Há, ainda, uma última exceção prevista pelo legislador em relação ao caput do art. 975 do CPC.
Nos termos do §3º do art. 975, na ação rescisória fundada em simulação ou colusão das partes, o
prazo de dois anos começa a contar, para o terceiro prejudicado com aquele ato e para o
Ministério Público que não interveio no processo, do momento da ciência da simulação ou da
colusão.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível tecer algumas breves conclusões, considerando o exposto. Sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento no art. 485 ou 487, põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução (art. 203, §1º do CPC). As
sentenças terminativas são aquelas que não resolvem o mérito (art. 485), ao passo que as
definitivas sim (art. 487). As sentenças podem, ainda, ser classificadas, quanto ao seu conteúdo,
em declaratórias, constitutivas e condenatórias, ou, com base em seus limites objetivos e
subjetivos, em sentenças ultra petita, extra petita ou citra petita. É formada pelos seguintes
elementos: relatório, fundamentação e dispositivo.
A coisa julgada material prevista no art. 502 do CPC corresponde à imutabilidade e
indiscutibilidade de decisões de mérito produzidas para além do processo em que foi proferida;
enquanto a coisa julgada formal tem atuação para dentro do processo em que foi proferida a
sentença. A coisa julgada tem limites objetivos e subjetivos: em regra, atinge apenas as questões
principais expressamente decididas pela decisão, em especial sua parte dispositiva (arts. 503 e
504 do CPC), e alcança as partes do processo sem poder prejudicar terceiros.
A ação rescisória é uma ação autônoma de impugnação que objetiva a desconstituição da
decisão judicial transitada em julgado e, eventualmente, o rejulgamento da causa originária.
Suas hipóteses de cabimento estão previstas no art. 966 do CPC. Os legitimados ativos são os
previstos no art. 967 do CPC. A competência para julgar a ação rescisória, em regra, é do
tribunal prolator da decisão rescindenda. O julgamento da rescisória comporta, em princípio,
três fases: juízo de admissibilidade, juízo rescindente e juízo rescisório. Por fim, o prazo para
ajuizamento da ação rescisória é decadencial e de dois anos, a contar do trânsito em julgado da
última decisão proferida no processo.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

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