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Sentença 1
Sentença 1
PROPÓSITO
O estudo da sentença, coisa julgada e ação rescisória é de suma importância para o operador do
Direito compreender como, exatamente, ocorre o encerramento do processo ou de uma de suas
fases a fim de que, uma vez compreendidos os limites e efeitos desse encerramento, seja
possível identificar e aprimorar o uso das medidas processuais cabíveis posteriores, a exemplo
da ação rescisória.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha à mão o Código de Processo Civil e a
Constituição Federal de 1988 para consulta de todos os dispositivos legais mencionados.
INTRODUÇÃO
O estudo da sentença, coisa julgada e ação rescisória é de extrema relevância prática para o dia a
dia do operador do Direito que lida com processos judiciais. Basta examinar as características
básicas de cada um desses assuntos para se compreender esse ponto.
A sentença é um dos mais relevantes pronunciamentos judiciais do Direito Processual Civil
brasileiro, tradicionalmente conceituada como aquela decisão judicial que põe fim ao processo
ou a alguma de suas fases.
A coisa julgada, por outro lado, diz respeito à imutabilidade e indiscutibilidade que certas
decisões judiciais alcançam – uma delas a sentença –, em razão do seu trânsito em julgado.
A ação rescisória, por fim, é autônoma de impugnação que busca desconstituir determinadas
decisões transitadas em julgado, em razão de vícios gravíssimos que possuem, a exemplo
daquelas proferidas por juiz que comete crime de corrupção passiva; das decisões baseadas em
prova falsa; das decisões resultantes de dolo praticado pela parte vencedora etc.
Feita essa brevíssima introdução, passemos a analisar cada um desses assuntos.
MÓDULO 1
POSIÇÃO
A decisão judicial deve encerrar a fase cognitiva do procedimento comum ou extinguir a
execução.
CONTEÚDO
A decisão judicial deve ter como fundamento uma das hipóteses previstas nos arts. 485 ou 487.
Trata-se, assim, de um conceito híbrido, considerando não apenas o conteúdo, mas também as
finalidades (os efeitos) da decisão judicial, para enquadrá-la na definição de sentença.
Destaque-se a ressalva, prevista no §1º do art. 203, do CPC, de que o conceito de sentença não
se aplicaria aos procedimentos especiais. O legislador optou por fazer tal ressalva, considerando
que, em determinados procedimentos especiais do CPC, existem dispositivos legais que
nomeiam expressamente certas decisões judiciais como sentença, embora elas não se adequem à
definição legal de sentença prevista no §1º do art. 203.
EXEMPLO
É o caso da ação de inventário (art. 564 e 565); ação de habilitação (art. 692); ação de regulação
de avaria grossa (art. 710, §1º); ação de demarcação de terras (art. 581, 582 e 587) etc.
Assista à exposição do Prof. Dr. Marco Antônio Rodrigues sobre o conceito de sentença.
EXEMPLO
Sentença que obriga o réu ao pagamento de indenização por danos materiais ou morais
(prestação de pagar quantia) ou que obriga o réu a interromper determinada construção em local
de preservação ambiental (obrigação de não fazer).
ELEMENTOS DA SENTENÇA
O art. 489 do CPC afirma que são elementos essenciais da sentença: o relatório (inciso I), os
fundamentos (inciso II) e o dispositivo (inciso III).
O relatório é a síntese da demanda, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, a
suma do pedido, da defesa e da reconvenção (se houver), bem como o registro das principais
ocorrências havidas no andamento do processo (art. 489, I, do CPC). Exige-se a elaboração de
relatório para demonstrar que o órgão julgador conhece o processo que irá julgar. A ausência de
relatório gera a nulidade absoluta da sentença para a doutrina majoritária. É preciso recordar que
há hipóteses em que se dispensa o relatório, como é o caso das sentenças proferidas nos
Juizados Especiais Cíveis (art. 38 da Lei n. 9.099/1995).
Na fundamentação, o juiz analisará as questões de fato e de direito (art. 489, inciso II, do
CPC). É na fundamentação que se indicam os motivos que justificam, juridicamente, a
conclusão a que se tenha chegado (CÂMARA, 2016). Trata-se de elemento que não pode ser
dispensado, cuja falta acarreta a nulidade da decisão (art. 93, IX, da CF/1988 e art. 11 do CPC).
A fim de concretizar a exigência constitucional de fundamentação das decisões judiciais, o art.
489, §1º, do CPC enumerou, em rol exemplificativo, as situações em que não se considera
fundamentada uma decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão.
No dispositivo, o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem (art. 489,
inciso III, do CPC). Trata-se da parte conclusiva da sentença, representando o comando da
decisão. Uma sentença sem sua parte dispositivo não é uma decisão judicial, pois nada foi
decidido, concluído. Assim, ausente o dispositivo, a sentença é inexistente.
Por fim, o art. 489, §3º, do CPC fixa o dever de o juiz interpretar a decisão judicial a partir de
todos os seus elementos em conjunto – e não vistos de forma isolada –, além de ter que analisá-
los sempre em conformidade com o princípio da boa-fé.
MÓDULO 2
Reconhecer o conceito da coisa julgada, seus efeitos e limites subjetivos, objetivos e
temporais
Exemplo 2:
Em ação de alimentos lastreada em coisa julgada de filiação, o juiz não pode negar os alimentos
sob fundamento de que não existe o vínculo de família – pode negar os alimentos, mas não por
esse fundamento, pois sobre a existência de filiação já há coisa julgada (DIDIER, 2016).
LIMITES TEMPORAIS
Além dos limites objetivos e subjetivos, é interessante analisar os limites temporais da coisa
julgada, isto é, como se comporta a imutabilidade e indiscutibilidade da coisa julgada com o
passar do tempo, até quando tais características duram.
Para tratar do tema, é preciso analisar o art. 505 do CPC, o qual dispõe ser vedado ao
magistrado decidir novamente as questões relativas à mesma lide, salvo as duas hipóteses
previstas nos seus incisos I e II.
O inciso I do art. 505 prevê que, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, caso
sobrevenha modificação no estado de fato ou de direito, poderá a parte pedir a revisão do que
foi estatuído na sentença. Nos casos de relação jurídica continuada, como ocorre nas ações de
alimento ou revisionais de aluguel, havendo fato superveniente que justifique a revisão da
sentença, poderá a parte solicitar tal revisão.
EXEMPLO
Em uma ação de alimentos, em que a sentença determinou o dever do pai de prestar alimentos
mensalmente, havendo a posteriori uma piora comprovada na condição financeira do pai, pode
haver uma revisão do valor mensal inicialmente fixado na sentença.
O inciso II do art. 505 proíbe que o órgão julgador decida novamente as mesmas questões já
decidas, relativas à mesma lide, nos demais casos prescritos em lei. Essa proibição pode ser
evidenciada por alguns remédios processuais disponibilizados em lei para controlar a coisa
julgada, tais como: ação rescisória, querela nullitatis, revisão de sentenças inconstitucionais etc.
MÓDULO 3
CONCEITO
A ação rescisória é autônoma de impugnação que objetiva desconstituir a decisão judicial
transitada em julgado e, eventualmente, o rejulgamento da causa originária. Na referida ação,
portanto, busca-se, em um primeiro momento, desconstituir a decisão judicial já coberta pela
coisa julgada, com fundamento nas hipóteses previstas em lei. Ato contínuo, se acolhido o
pedido de desconstituição da referida decisão, é possível que haja – ainda no âmbito do processo
da ação rescisória – o rejulgamento da causa de origem.
A ação rescisória tem natureza jurídica de ação e não se confunde com recurso. Isso porque o
recurso é meio de impugnação cabível, no âmbito do mesmo processo, contra decisão judicial
não transitada em julgado; ao passo que a ação rescisória é cabível para impugnar decisões
transitadas em julgado, o que fará a partir de um novo processo.
Nos termos do art. 966, do CPC, é cabível a ação rescisória contra as decisões de mérito, as
quais foram proferidas sob as circunstâncias descritas nos incisos do art. 966. Ao se referir
genericamente à decisão de mérito, optou o legislador por estabelecer que pode ser objeto de
rescisão não apenas sentenças, mas decisões interlocutórias, decisões monocráticas de relator e
acórdãos. Os dois únicos requisitos são que sejam tais decisões de mérito e que tenham
transitado em julgado.
Contudo, a regra de que apenas as decisões de mérito, previstas nos incisos do art. 966, são
rescindíveis comporta exceção. Nas situações previstas no §2º, do art. 966, será possível o
ajuizamento de ação rescisória contra decisões que não examinam o mérito.
Assista a seguir à exposição do Prof. Dr. Marco Antônio Rodrigues sobre decisões passíveis da
ação rescisória.
HIPÓTESES DE CABIMENTO
Examinem-se, a seguir, os casos de rescindibilidade previstos no rol taxativo do art. 966 do
CPC.
O INCISO I, ART. 966 DO CPC
Prevê a hipótese de ser proferida decisão por força de prevaricação, concussão ou corrupção
passiva praticadas pelo juiz. Trata-se de crimes contra a Administração Pública previstos nos
arts. 319, 316 e 317 do Código Penal, respectivamente.
O cabimento da rescisória com fundamento nesse inciso pode ocorrer com base em prévia
condenação do magistrado ocorrida no âmbito da ação penal, que responde pela prática do
crime, ou pode o próprio tribunal, que julga a ação rescisória, apurá-lo de forma incidental.
Se for o caso de decisão proferida por órgão colegiado, a rescisória só será cabível se o voto do
magistrado praticante do crime tiver sido vencedor, contribuindo para a formação da maioria ou
unanimidade. Afinal, se o voto vencido do julgador, ainda que viciado por ato ilícito, não altera
o resultado do julgamento, não há razões para buscar a rescindibilidade do acórdão.
INCISO II, ART. 966 DO CPC
Prevê outro caso de rescindibilidade da decisão quando proferida por juiz impedido ou por
juízo absolutamente incompetente. As hipóteses de impedimento, previstas nos arts. 144 e
147 do CPC, foram criadas exatamente para preservar o julgamento imparcial do magistrado —
considerado pressuposto de validade do processo.
Tamanha é a gravidade do vício, que se restou positivada a rescindibilidade de decisões
proferidas por juiz impedido. Igualmente, na hipótese de decisão colegiado, apenas o julgador
impedido com voto vencedor poderá contaminar o acórdão e permitir o ajuizamento da ação
rescisória. Por opção do legislador, as causas de suspeição não foram incluídas (art. 145 do
CPC).
Em relação à segunda parte do inciso II, o juiz absolutamente incompetente ocasiona o direito à
rescisão da decisão proferida, o juiz relativamente incompetente não.
O INCISO III, ART. 966 DO CPC
Prevê o terceiro caso de decisão de mérito rescindível, qual seja, aquela que resultar de dolo ou
coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou
colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei.
O dolo e a coação da parte vencedora – ou também de seu representante legal ou advogado –
decorrem da ofensa ao princípio da boa-fé processual, previsto no art. 5º do CPC. Tais condutas,
praticadas exclusivamente pela parte e não pelo juiz, ocorrem quando se tenta prejudicar o
adversário ou até mesmo induzir o magistrado a erro de forma desleal e contrária à boa-fé. É
preciso que tais condutas efetivamente alterem o resultado da demanda para se rescindir a
decisão.
EXEMPLO
Uma parte coage a outra para confissão de um fato que servirá como fundamento principal para
a prolação da sentença a seu favor.
A colusão, por sua vez, está prevista no art. 142 do CPC. Segundo o dispositivo, há colusão
quando autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim
vedado por lei. Ao que parece, atualmente, o conceito de simulação está incluída no conceito
de colusão, motivo pelo qual sua inserção no inciso, a rigor, sequer seria necessária. O objetivo
do legislador foi encerrar divergência doutrinária a respeito da colusão, já que havia quem
considerasse no passado que simulação não estaria incluída no conceito de colusão (CÂMARA,
2016).
O INCISO IV, ART. 966 DO CPC
Prevê que é rescindível a decisão que ofender a coisa julgada. Portanto, caso uma decisão de
mérito de determinado processo transitada em julgado tenha ofendido a coisa julgada de um
processo anterior, será rescindível a referida decisão ofensora.
O INCISO V, ART. 966 DO CPC
Prevê a hipótese mais comum de rescindibilidade: quando a decisão violar manifestamente a
norma jurídica. O dispositivo legal correspondente no Código anterior era o art. 485, V, do
CPC/1973, que previa violação a literal dispositivo de lei.
A mudança do termo ―lei‖ por ―norma‖ é explicada por Cássio Scarpinella Bueno:
DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA NÃO DIVERGEM QUANTO À AMPLA
ABRANGÊNCIA QUE DEVE SER DADA AO TERMO “LEI” REFERIDO NO INCISO
V DO ART. 485. “LEI”, TAL QUAL EMPREGADA NO DISPOSITIVO, É SINÔNIMO
DE “NORMA JURÍDICA, INDEPENDENTEMENTE DE SEU ESCALÃO”. ISTO É,
TANTO PODE CONCEBER A RESCISÓRIA PARA IMPUGNAR DECISÃO QUE
VIOLOU A CONSTITUIÇÃO FEDERAL, LEIS PROPRIAMENTE DITAS
(INCLUINDO MEDIDAS PROVISÓRIAS QUE TÊM FORÇA DE LEI), BEM ASSIM
ATOS INFRALEGAIS COMO DECRETOS, REGULAMENTOS. O STJ JÁ ADMITIU
A RESCISÓRIA CALCADA NO INCISO V DO ART. 485, POR OFENSA A
DISPOSITIVO DE SEU PRÓPRIO REGIMENTO INTERNO.
(BUENO, 2004)
A norma jurídica, assim, é termo que melhor se encaixa no dispositivo legal, pois contém
conceito mais abrangente. Norma jurídica significa o sentido atribuído a todo tipo de texto
normativo (enunciado normativo). Em outras palavras, ela é extraída a partir da interpretação
dada a todas as fontes do Direito, o que não se limita à lei.
A norma jurídica pode ser de qualquer natureza: legal, constitucional, regimental, administrativa
etc. Inclusive, pode a norma ser de direito material ou processual. Por fim, acrescente-se que
decisão que viola os precedentes vinculantes previstos no art. 927 é rescindível, afinal a tese
firmada em precedente vinculante é igualmente norma jurídica fruto da interpretação de textos
normativos.
O §5º do art. 966 prevê ação rescisória com base no inciso V contra decisão baseada em
enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não
tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o
padrão decisório que lhe deu fundamento. Apesar de se referir apenas à súmula ou ao
acórdão de caso repetitivo, o §5º deve se aplicar a todos os precedentes vinculantes, uma vez
que tais precedentes criam norma jurídica, as quais são vinculantes perante casos futuros
idênticos e, por isso, não podem ser desrespeitados. Na hipótese do §5º, ajuizada a ação
rescisória, deverá o seu autor, sob pena de inépcia, demonstrar, de forma analítica, que o caso
concreto é distinto da hipótese do precedente (art. 966, §6º do CPC).
O INCISO VI, ART. 966 DO CPC
Prevê a hipótese da rescindibilidade de decisão fundada em prova cuja falsidade tenha sido
apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória. Não é,
contudo, qualquer prova falsa que permite a rescindibilidade da decisão, é preciso que tal prova
tenha sido o principal fundamento para se alcançar a conclusão adotada. A prova, vale dizer,
pode ser de qualquer espécie, prevista ou não no CPC. Por fim, é preciso dizer que a constatação
de falsidade da prova, apurada no âmbito da ação penal, deve ser definitiva, ou seja, não mais
sujeita à modificação naqueles autos.
O INCISO VII, ART. 966 DO CPC
Estabelece o cabimento de ação rescisória quando obtiver o autor, posteriormente ao trânsito
em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por
si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável. Na realidade, não trata o dispositivo legal
de prova efetivamente nova, considerando que ela já existia, mas não podia o autor produzi-la à
época, por não a conhecer ou por ser impossível acessá-la. Melhor termo seria ―prova inédita‖.
Ademais, a rescisão de decisão judicial com fundamento no inciso VII só será possível caso a
prova nova, por si só, seja apta a reformar a referida decisão rescindenda e garantir o resultado
favorável à parte vencida.
O INCISO VIII, ÚLTIMO DO ART. 966, DO CPC
Prevê que será rescindível a decisão fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. O
erro de fato verifica-se quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando
considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos,
que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se
pronunciado (art. 966, §1º do CPC).
Para ocorrer essa hipótese de rescindibilidade, a doutrina, geralmente, aponta três requisitos a
serem preenchidos:
A decisão rescindenda precisa ser baseada no erro de fato, a ponto de que, se inexistente fosse
tal erro, o resultado da demanda seria outro
Erro de fato deve ser notado pelo mero exame dos autos do processo originário, sendo proibida
a produção de prova no processo da ação rescisória
O fato não pode ser controvertido no processo originário
Há, ainda, a possibilidade de ação rescisória contra decisão transitada em julgado que, embora
não seja de mérito, impeça nova propositura da demanda (art. 966, §2º, I, do CPC) ou
admissibilidade do recurso correspondente (art. 966, §2º, II, do CPC). No caso do inciso I, trata-
se da hipótese de se ajuizar ação rescisória contra as decisões terminativas transitadas em
julgado que, não corrigidos os seus vícios, impedem a propositura da mesma demanda (§1º do
art. 486), bem como as sentenças terminativas que se baseiam em perempção ou coisa julgada
(CRAMER, 2016).
O inciso II permite a ação rescisória contra decisão terminativa transitada em julgado que
inadmite recurso. Ressalta-se, também, que as decisões previstas nos incisos I e II do §2º do art.
966, para serem rescindíveis, precisam se enquadrar em algum dos vícios previstos nos incisos
do art. 966 (primeira parte do art. 966, §2º, do CPC).
No âmbito das hipóteses de cabimento da ação rescisória, ressalta-se a possibilidade de se
ajuizar a referida ação para impugnar apenas um capítulo da decisão rescindenda (§3º do art.
966 do CPC). É a chamada ação rescisória parcial.
Por fim, vale dizer que estão sujeitos à ação anulatória – e não à ação rescisória – os atos de
disposição de direitos homologados pelo juízo e os atos homologatórios praticados no curso da
execução (§4º do art. 966). Busca-se, nessa ação impugnativa autônoma, a invalidação dos
referidos atos e não o desfazimento da coisa julgada. O trâmite processual é completamente
diferente da ação rescisória.
ATENÇÃO
A ação anulatória é ajuizada em primeira instância, segue o rito do procedimento comum e o
prazo para a sua propositura depende do vício alegado pela parte.
O Ministério Público:
Aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a in
PROCEDIMENTO
Após o juízo de admissibilidade da inicial, o relator ordenará a citação do réu, designando-lhe
prazo de 15 a 30 dias úteis para apresentar contestação (primeira parte do art. 970 do CPC). Na
contestação, caso respeitado o prazo decadencial de dois anos e feito o depósito prévio de 5%
do valor da causa, previsto no art. 968, II, do CPC, poderá o réu também propor reconvenção,
bem como, na mesma oportunidade, apresentar eventual impugnação ao valor da causa e
impugnação aos benefícios de assistência judiciária, se tiver sido concedida liminarmente como
matéria preliminar de contestação (NEVES, 2017).
Apresentada ou não a contestação – e o restante mencionado –, a ação rescisória seguirá o
procedimento comum no que couber (segunda parte do art. 970 do CPC). Utiliza-se a expressão
―no que couber‖, pois a rescisória possui certas particularidades que a impedem de seguir
rigorosamente o procedimento comum, a exemplo da inexistência de audiência de conciliação
nessas demandas, por ser a desconstituição de decisão de mérito transitada em julgado matéria
não sujeita a autocomposição.
Após a fase instrutória, há o julgamento da ação rescisória. Em princípio, ele se decompõe em
três etapas:
Juízo de admissibilidade
Juízo rescindente (apreciação do pedido de desconstituição da coisa julgada)
Juízo rescisório (rejulgamento da causa)
O juízo rescindente só ocorrerá se o juízo de admissibilidade decidir pela admissão da ação,
assim como somente haverá juízo rescisório se, no juízo rescindente, a coisa julgada for
desconstituída. Em relação ao juízo rescisório, a regra do art. 968 do CPC se mantém; nem
sempre tal juízo ocorrerá, conforme já analisado.
Julgado procedente o pedido rescindente, o tribunal, se for o caso, rejulgará a causa e
determinará a restituição do depósito a que se refere o inciso II do art. 968, condenando o réu,
ademais, nos honorários de sucumbência (art. 974 do CPC). Por outro lado, se o pedido
rescindente for julgado improcedente ou inadmissível por unanimidade, o tribunal deverá
determinar a reversão, em favor do réu, da importância do depósito, sem prejuízo de condenar o
autor às verbas de sucumbência (parágrafo único do art. 974).
PRAZO
O art. 975 estabelece que a ação rescisória deverá ser proposta em dois anos contados do
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. Segundo o dispositivo legal, o
prazo decadencial tem início a partir do trânsito em julgado da última decisão proferida no
processo e não da decisão rescidenda. Em relação à contagem de prazo, determina o §1º do art.
975 que, caso o prazo decadencial de dois anos se encerre durante férias forenses, recesso,
feriados ou em dia que não houver expediente forense, ele será prorrogado para o primeiro dia
útil subsequente.
Na hipótese de a rescisória fundar-se em prova nova, o termo inicial de dois anos será o da data
de descoberta da referida prova, observado o prazo limite de cinco anos, contado do trânsito em
julgado da última decisão proferida no processo (art. 975, §2º do CPC).
Há, ainda, uma última exceção prevista pelo legislador em relação ao caput do art. 975 do CPC.
Nos termos do §3º do art. 975, na ação rescisória fundada em simulação ou colusão das partes, o
prazo de dois anos começa a contar, para o terceiro prejudicado com aquele ato e para o
Ministério Público que não interveio no processo, do momento da ciência da simulação ou da
colusão.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível tecer algumas breves conclusões, considerando o exposto. Sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento no art. 485 ou 487, põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução (art. 203, §1º do CPC). As
sentenças terminativas são aquelas que não resolvem o mérito (art. 485), ao passo que as
definitivas sim (art. 487). As sentenças podem, ainda, ser classificadas, quanto ao seu conteúdo,
em declaratórias, constitutivas e condenatórias, ou, com base em seus limites objetivos e
subjetivos, em sentenças ultra petita, extra petita ou citra petita. É formada pelos seguintes
elementos: relatório, fundamentação e dispositivo.
A coisa julgada material prevista no art. 502 do CPC corresponde à imutabilidade e
indiscutibilidade de decisões de mérito produzidas para além do processo em que foi proferida;
enquanto a coisa julgada formal tem atuação para dentro do processo em que foi proferida a
sentença. A coisa julgada tem limites objetivos e subjetivos: em regra, atinge apenas as questões
principais expressamente decididas pela decisão, em especial sua parte dispositiva (arts. 503 e
504 do CPC), e alcança as partes do processo sem poder prejudicar terceiros.
A ação rescisória é uma ação autônoma de impugnação que objetiva a desconstituição da
decisão judicial transitada em julgado e, eventualmente, o rejulgamento da causa originária.
Suas hipóteses de cabimento estão previstas no art. 966 do CPC. Os legitimados ativos são os
previstos no art. 967 do CPC. A competência para julgar a ação rescisória, em regra, é do
tribunal prolator da decisão rescindenda. O julgamento da rescisória comporta, em princípio,
três fases: juízo de admissibilidade, juízo rescindente e juízo rescisório. Por fim, o prazo para
ajuizamento da ação rescisória é decadencial e de dois anos, a contar do trânsito em julgado da
última decisão proferida no processo.
AVALIAÇÃO DO TEMA: