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ATIVIDADE INDIVIDUAL

Matriz de análise

Disciplina: Direito Tributário Módulo:

Turma: ONL023Z7-PODEM0505 (Pérsio


Aluno: Thompson Smith
Corrêa)

Tarefa: O Estado de Minas Gerais institui, como causa de extinção do crédito tributário
relativo ao ICMS, a dação em pagamento de quentinhas, que serão utilizadas nas escolas
públicas para preparação da merenda escolar.
Nesta atividade, você deverá analisar a possibilidade de extinção do crédito tributário por
meio da dação em pagamento de bens móveis, considerando o disposto no CTN, frente à
jurisprudência moderna do STF.

Introdução

Com a ocorrência do fato disposto em lei definido como gerador do dever de pagar
tributos ao Estado nasce a obrigação tributária e, com ela, o poder e dever para o
Estado de procedimentalizar o ato constitutivo do crédito tributário, que confere
certeza e liquidez sobre o montante a ser pago pelo contribuinte ou pelo
responsável. Deste momento em diante surge a necessidade de extinguir esse
crédito, seja satisfazendo-o ou afastando a obrigação de o pagar.
As formas de se extinguirem os créditos tributários estão definidas no Código
Tributário Nacional, em seu art. 156 e consistem em 11 hipóteses: pagamento,
compensação, transação, remissão, prescrição ou decadência, conversão de
depósito em renda, pagamento antecipado e homologação do lançamento,
consignação em pagamento, decisão administrativa ou decisão judiciária
irrecorríveis e, por fim, a dação em pagamento de bens imóveis.
Numa apressada leitura do CTN, não se admitem outras formas de extinguir
créditos tributários. Entretanto, na atividade proposta, surge o desafio de avaliar a
hipótese da dação em pagamento de bens móveis sob o prisma constitucional,
considerando que, na proposta, o Estado de Minas Gerais estatuíra a possibilidade
de receber créditos de ICMS em quentinhas, para distribuição em sua rede de
ensino público, de uma empresa da qual é credor.

Desenvolvimento

Nesse sentido, primeiro há que se considerar que o CTN nasce como Lei Ordinária
e é recepcionada pela Constituição com status de Lei Complementar e, não
obstante, é anterior à própria Carta Magna, o que lhe confere, em dados
momentos, a peculiaridade de destoar do diploma máximo brasileiro. O próprio

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CTN admite no seu art. 110 que sua interpretação não poderá superar a
Constituição, mormente, quanto a definição ou limitação das competências
tributárias e isso indica que apesar do art. 156 enumerar as formas de extinção de
créditos tributários, não se trata de um rol numerus clausus.
A Constituição, em seu art. 149, inciso III, alínea b, dispõe que é matéria de Lei
Complementar o tema do crédito, o lançamento, a prescrição e a decadência, bem
como a obrigação tributária, entretanto não menciona as formas de extinção desses
créditos tributários, portanto, não cria essa reserva legal e isto autoriza os estados
e o Distrito Federal a estabelecerem formas próprias de extinção dos seus créditos
tributários.
Antes, na verdade, no art. 24, I a Constituição estabelece a competência legislativa
dos Estados como concorrente com a dos demais entes da federação em matéria
tributária. Destarte, afastada a reserva legal de lei complementar para tratar de
extinção de créditos tributários, resta observar a viabilidade constitucional, legal e
técnica da modalidade dação em pagamento, sobremaneira, a dos bens móveis.
Nesse sentido, vale primeiramente considerar que a dação em pagamento é
instituto do direito civil onde o credor pode ou não aceitar prestação diversa
daquela devida.
Ocorre que a condição de aceitar vincula-se à ideia de que o proveito econômico
do bem é equivalente ao do valor devido em moeda corrente, isto é, não prescinde
de uma análise valorativa e a livre manifestação de vontade entre as partes em
transacionar. Entretanto, tributo é bem público, indisponível e a arrecadação
desses valores pressupõem uma finalidade pública. Essa indisponibilidade exige
que lei específica para o tributo específico disponha sobre a permissão para
realizar esse tipo de transação.
Além do mais, é necessário verificar o interesse público no bem oferecido em
substituição ao valor devido, bem como a compatibilidade de sua recepção com as
demais normas e princípios estatais. De tal sorte que, no caso da dação em
pagamento de bens imóveis, fica mais evidente o interesse público em aproveitá-
los para programas de habitação, para abrigar espaços públicos e devido a
inexigibilidade de licitação para aquisição de bens imóveis de interesse público.
Quanto aos bens móveis a Suprema Corte brasileira enfrentou as Ações Diretas
de Inconstitucionalidade 2.405/RS, e 1.917/DF que, em suma, versaram sobre a
constitucionalidade ou não da dação em pagamento através de bens móveis, bem
como, sobre a reserva legal de Lei Complementar para a criação de novas
espécies de extinção de créditos tributários.
Como já está claro, não há óbice na edição de lei pelos entes federativos para
extinção dos seus créditos tributários. Na ADI 2.405 o ministro Alexandre de
Moraes, citando o ex-Ministro Moreira Alves deixou clara a posição da corte que
adota o entendimento do Princípio dos Poderes Implícitos considerando que, se os
entes podem anistiar multas e remir créditos tributários, portanto, extinguindo-os à
critério de oportunidade e de conveniência, podem também criar meios alternativos
de satisfazer seus haveres tributários.
Sem dúvidas, quem pode o mais, pode o menos. Entretanto, nem tudo é possível.

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A Constituição estatui no seu art. 37, XXI o princípio da licitação, objeto de análise
da ADI 1.917, ocasião em que a dação em pagamento foi considerada
inconstitucional, já que a aquisição de materiais pela administração pública não
pode afastar o processo licitatório.
In casu, a proposta de permitir ao Estado de Minas Gerais, receber insumos para
preparação de merendas trata-se de uma forma de substituição da compra desses
bens que não podem prescindir do processo licitatório. Portanto, não é que não
seja possível a dação em pagamento de bens móveis, desde que regulado pela lei,
o que não pode é, com isso, abrir mão dos processos licitatórios que devem ser
respeitados sempre que exigido por lei.
Uma coisa é receber títulos de crédito, outra é substituir a licitação para aquisição
das quentinhas que deveriam ser adquiridas por licitação pública. Ademais,
ampliando-se a questão, o ICMS é um imposto, sendo assim, o produto da sua
arrecadação é objeto de repartição obrigatória, nos termos do art. 158 da Carta
Política, portanto, a dação em pagamento precisa garantir o repasse
correspondente do crédito extinto.

Conclusão

Desta forma, a norma mineira seria inconstitucional, não por criar uma nova
modalidade de extinção de crédito do ICMS, isto seria plenamente possível, uma
vez que a jurisprudência moderna do STF entende que o rol de causas de extinção
de créditos tributários não sofre nenhuma reserva legal de edição por Lei
Complementar, sendo competência concorrente dos Municípios, da União e dos
Estados e Distrito Federal.
Não por ser na modalidade dação em pagamento, por força do Princípio os
Poderes Implícitos, não por se tratar de bens móveis, pois sua conversão em
moeda poderia resultar na satisfação do crédito sem grandes embargos, como no
caso de dação em pagamento de títulos de crédito ou ações, por exemplo, desde
que sejam repassados, incondicionalmente, os 25% do crédito extinto do ICMS aos
municípios, conforme o mandamento do art. 158 da Carta Magna.
A Inconstitucionalidade nasce quando da substituição da aquisição dos insumos
para a preparação da merenda escolar, desconsiderando o mercado concorrencial,
violando o princípio licitatório previsto na Constituição, no art. 37, XXI, quando os
bens, em questão, não se encontram no rol de inexigibilidade ou dispensa de
licitação, como é o caso das quentinhas para a preparação das merendas.

Referências bibliográficas

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2.405. Brasília, DF: STF, 2019. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751044400.
Acesso em: 21 abr. 2024.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
1.917. Brasília, DF: STF, 2007. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=481954.
Acesso em: 21 abr. 2024.

BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário


Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e
Municípios. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 out. 1966. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm. Acesso em: 21 abr. 2024.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 21
abr. 2024.

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