Você está na página 1de 6

Boa noite amigos!

Um amigo foi demitido e nã o conseguia receber o seguro desemprego, pois encontrava-se


bloqueado.
Acontece que o Ministério do Trabalho vem supondo que quem possui um CNPJ ativo nã o
preenche os requisitos legais para habilitaçã o no programa de benefício Seguro
Desemprego. Tal suposição é complemente equivocada!
No caso, o solicitante possuía uma empresa em seu nome com a situaçã o cadastral
regularmente SUSPENSA registrada na Receita Federal. Acontece que, mesmo apresentado
os comprovantes emitidos pela Receita Federal, ele nã o conseguiu receber os valores
referentes ao seguro desemprego.
Solicitei que ele fosse até o Juizado Especial Federal, que se encontraria na Vara Federal
mais pró xima da residência dele e solicitasse a este ó rgã o o ingresso de um AÇÃ O DE
RESTABELECIMENTO DE PAGAMENTO DE SEGURO DESEMPREGO, sem a necessidade de
um advogado.
Os funcioná rios que trabalham neste ó rgã o, em regra, sã o extremamente educados e,
quando o demandante já chega com a petiçã o pronta, o que ocorre é que você estará
poupando o trabalho e o tempo deles.
Em todo o caso, eles poderã o redigir uma petiçã o para você na hora, mas você já pode
utilizar esta como padrã o para saber o que precisa levar.
Lembre-se de levar seus documentos e o comprovante de residência.
Apó s menos de um mês, o pedido foi julgado procedente.
Esta foi a petição que redigi para ele. Espero que ajude outras pessoas que se encontram
na mesma situaçã o.
Forte abraço!
EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA
DE (_______)
(OMITIDO), vem, com o devido respeito, perante Vossa Excelência, propor
AÇÃO DE RESTABELECIMENTO DE PAGAMENTO DE SEGURO DESEMPREGO
Em face da UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito pú blico, pelos seguintes
fundamentos fá ticos e jurídicos que passa a expor:
1 - DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA
Nos termos do art. 4º da Lei 1.060/50, DECLARA a parte autora que nã o possui condiçõ es
de prover as despesas do processo, sem prejuízo pró prio ou de sua família, razã o pela qual
requer a concessã o dos benefícios da assistência judiciá ria, independentemente da
designaçã o de representante advogado para a causa (art. 10 da Lei 10.259/01).
2 - DA COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS FEDERAIS
Preambularmente, vale tecer algumas consideraçõ es acerca da competência desse Juízo
para analisar a questã o.
Os Juizados Especiais Federais foram instituídos pela Lei 10.259/01 para “processar,
conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salá rios
mínimos, bem como executar as suas sentenças.”
Conforme V. Exa. Poderá constatar nas entrelinhas seguintes, a demanda cuida da
pretensã o de trabalhador, contribuinte obrigató rio, que foi demitido de seu emprego sem
justa causa.
O seguro-desemprego, por outro lado, tem natureza de benefício previdenciá rio, nos
termos do art. 201, inciso III, da CF/88, sendo custeado pelo Fundo de Amparo ao
Trabalhador - FAT, fundo contá bil de natureza financeira e vinculado ao Ministério do
Trabalho.
Diferentemente dos demais benefícios previdenciá rios que sã o requeridos e pagos pelo
INSS, o seguro-desemprego é requerido nas Delegacias Regionais do Trabalho – DRT,
ó rgã os da Uniã o sem personalidade jurídica pró pria, sendo pagos pela Caixa Econô mica
Federal – CEF, à conta do FAT.
Assim, por se tratar de causa de natureza previdenciá ria e figurando a Uniã o como sujeito
passivo da demanda que versa sobre pagamento de seguro desemprego, competente é esse
Juizado Especial Cível Federal para processar e julgar a açã o.
3 – DOS FATOS
O Demandante foi contratado pela empresa (OMITIDO), localizada na (OMITIDO) em 24 de
outubro de 2012, até ser demitido por iniciativa do empregador, sem justa causa, em 25
de maio de 2016. Conforme Termo de Rescisã o de Contrato de Trabalho e Carteira de
Trabalho (Docs. 03 e 04)
Exercia suas funçõ es no setor de Convergência Digital, percebendo o salá rio mensal de R$
4.707,55.
Diante dessa situaçã o, a Parte Autora requereu o benefício junto ao SINE, o que lhe foi
indeferido, conforme Relatório Situação do Requerimento Formal - (Doc. 05),
extraído no sítio eletrônico do MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO.
Conforme este relató rio, o benefício Seguro-Desemprego seria pago ao trabalhador em 5
(cinco) cotas, de R$ 1.542,24
Sucede que, mesmo atendendo a todos os requisitos exigidos pela legislaçã o específica, o
MTE indeferiu o pagamento do benefício ao Autor, sob o argumento de que o Autor nã o
teria direito ao benefício, por ser só cio majoritá rio da empresa (OMITIDO), com a situaçã o
cadastral ATIVA junto a Receita Federal, conforme Comprovante de Inscrição e de
Situação Cadastral – Doc 11.
Acontece que o Ministério do Trabalho vem supondo que quem possua um CNPJ ativo nã o
preenche os requisitos legais para habilitaçã o no programa de benefício Seguro
Desemprego. Tal suposiçã o é complemente equivocada!
A conduta do Ministério do Trabalho afastou o direito do Autor que contribuiu para a
Previdência como contribuinte individual obrigató rio durante todo o seu período laboral, e
acarretou sérios prejuízos ao Demandante, que possui direito ao benefício, assegurado por
lei.
4 – DO DIREITO
4.1 - DO SEGURO DESEMPREGO
O seguro-desemprego é um benefício temporá rio concedido ao trabalhador desempregado,
dispensado sem justa causa, nos termos do art. 3º da Lei nº 7.998/90, cuja antiga redaçã o,
aplicá vel ao caso concreto, estabelecia:
Art. 3º Terá direito à percepçã o do seguro-desemprego o trabalhador dispensado sem justa
causa que comprove:
I – ter recebido salá rios de pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada, relativos a
cada um dos 6 (seis) meses imediatamente anteriores à data da dispensa;
II – ter sido empregado de pessoa jurídica ou pessoa física a ela equiparada ou ter exercido
atividade legalmente reconhecida como autô noma, durante pelo menos 15 (quinze) meses
nos ú ltimos 24 (vinte e quatro) meses;
III – nã o estar em gozo de qualquer benefício previdenciá rio de prestaçã o continuada,
previsto no Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, excetuado o auxílio-acidente
e o auxílio suplementar previstos na Lei nº 6.367, de 19 de outubro de 1976, bem como o
abono de permanência em serviço previsto na Lei nº 5.890, de 8 de junho de 1973;
IV – nã o estar em gozo do auxílio-desemprego; e
V – nã o possuir renda pró pria de qualquer natureza suficiente à sua manutençã o e de sua
família.
No presente caso, a Parte Autora possui direito à percepçã o do seguro desemprego, pois
trabalhou por mais de 36 meses como empregado de pessoa jurídica e foi dispensado
involuntariamente, conforme comprova o Termo de Rescisã o de Contrato de Trabalho –
Doc. 03.
Necessá rio repisar o fato de que o Demandante encontrava-se trabalhando como
empregado em empresa privada, de forma que o Autor estava impossibilitado de exercer
sua pró pria empresa,
De fato, Excelência, o Demandante é só cio majoritá rio da empresa (OMITIDO), a qual
utilizava para prestar serviços antes de ser contratado de forma definitiva pela empresa
Fabrico. Adiciona-se que, pelo fato de se encontrar trabalhando como empregado em
empresa privada, o Autor estava impossibilitado de exercer sua pró pria empresa, ainda que
fosse só cio majoritá rio da Empresa (OMITIDO), o que acarretou que o faturamento
daquela inscriçã o do CNPJ fosse declarado como zero.
Esse faturamento inexistente pode ser comprovado através dos recibos de entrega da
Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) junto a Receita Federal. É de
se ver que o faturamento daquela inscriçã o do CNPJ foi declarado como INATIVO durante
seis anos, conforme os recibos dos anos de 2012/base 2011, 2013/ base 2012, 2014/
base 2013, 2015/base 2014 e 2016/ base 2015 – (Doc 06, 07, 08, 09, 10 e 11).
Contudo, para o sistema informatizado da Receita Federal, ainda que o Autor tenha
declarado de forma legal sua INATIVIDADE, ao se extrair uma certidã o da empresa
(OMITIDO) LTDA - ME, temos que a situaçã o é mostrada como ATIVA e regular, motivo
pelo qual o MT, em uma interpretaçã o estrita e desfavorá vel ao Autor, considera que,
independentemente da apresentaçã o das declaraçõ es de IRPJ onde se informa a
INATIVIDADE da empresa e ausência de renda nesta atividade, ter o CNPJ ativo no cadastro
da Receita Federal faz com que o Autor nã o faça jus ao benefício por nã o se enquadradar no
item V do art3ºº da Lei79988/90, como se a parte Autora possuísse atualmente fonte de
renda pró pria suficiente para a sua manutençã o e de sua família.
Nada mais equivocado!
Renda é diferente de atividade, pois uma atividade pode ou nã o gerar renda, portanto, o
trabalhador nã o poderá ser privado de receber as parcelas as quais tem direito por possuir
um CNPJ que nã o gera renda.
Ao cancelar o pagamento do referido benefício, o MT criou nova norma sobre a concessã o e
negativa de pagamento do seguro desemprego que nã o está na Lei que rege o caso, ou seja,
o simples fato de o beneficiá rio ter o CNPJ ATIVO no cadastro da Receita Federal nã o
pressupõ e que o Autor possui renda.
Os artigo 7º, 8º e 8º-A da Lei n. 7.998/90 sã o bastante claros ao preverem as situaçõ es em
que o pagamento do benefício do seguro-desemprego será suspenso ou cancelado, nã o
havendo previsã o nem na referida lei nem no nosso ordenamento jurídico de que a
Administraçã o poderá reter parcelas do seguro-desemprego em decorrência de haver
participaçã o do trabalhador como só cio em empresa declarada INATIVA.
O Diploma Legal em referência dispõ e sobre a suspensã o do pagamento do seguro-
desemprego:
Art. 7º O pagamento do benefício do seguro-desemprego será suspenso nas seguintes
situações:
I - admissão do trabalhador em novo emprego;
II - início de percepção de benefício de prestação continuada da Previdência Social, exceto o
auxílio-acidente, o auxílio suplementar e o abono de permanência em serviço;
III - início de percepção de auxílio-desemprego.
Art. 8º O benefício do seguro-desemprego será cancelado:
I - pela recusa por parte do trabalhador desempregado de outro emprego condizente com sua
qualificação registrada ou declarada e com sua remuneração anterior;
II - por comprovaçã o de falsidade na prestaçã o das informaçõ es necessá rias à habilitaçã o;
III - por comprovação de fraude visando à percepção indevida do benefício do seguro-
desemprego; ou
IV - por morte do segurado.
Art. 8º-A. O benefício da bolsa de qualificação profissional será cancelado nas seguintes
situações:
I - fim da suspensão contratual e retorno ao trabalho;
II - por comprovaçã o de falsidade na prestaçã o das informaçõ es necessá rias à habilitaçã o;
III - por comprovação de fraude visando à percepção indevida da bolsa de qualificação
profissional;
IV - por morte do beneficiário.
Nesse sentido, de uma simples leitura dos dispositivos acima se depreende que a existência
de empresa com CNPJ ATIVO, da qual o Autor participa como só cio majoritá rio, declarada
como INATIVA e, portanto, sem apresentar qualquer tipo de renda, nã o está elencado entre
os casos de negativa nem de suspensã o do recebimento do seguro-desemprego, até porque
resta demonstrado documentalmente que o faturamento da empresa foi zero, durante mais
de seis anos.
Ora, o seguro-desemprego tem como objetivo auxiliar financeiramente o trabalhador
enquanto busca nova ocupaçã o, permitindo a manutençã o de condiçõ es mínimas de
sobrevivência.
Com efeito, a supressã o do recebimento do benefício, nã o guarda sintonia com a finalidade
que possui o Programa de Seguro-Desemprego, tampouco com as disposiçõ es normativas
que tratam da sua regulamentaçã o, pelo simples fato de que o Demandante nã o possui
renda pró pria.
O MTE afirma que a decisã o de nã o dar seguro-desemprego a quem tem CNPJ é baseada no
artigo 3º da lei que rege o benefício, que diz que é preciso comprovar "não possuir renda
própria de qualquer natureza suficiente à sua manutenção e de sua família". Segundo o
Ministério, a medida "leva em consideração a recomendação da Controladoria Geral da
União (CGU)", porque "esta condição (de ser sócio de uma empresa) representaria um
conflito com a regra definida em Lei". A imagem que se tem é de que a Uniã o está
interpretando a lei da pior forma possível de modo a economizar algum valor no momento
de grave crise que assola nosso país. Nã o é justo ceifar o trabalhador de seus benefícios
valendo-se de uma interpretaçã o autoritá ria, desigual, injusta e, certamente, ilegal. Conclui-
se entã o que nã o se pode negar o seguro com base em algo que nã o está na lei.
5 - DO PEDIDO
Pelo exposto, requer:
1. O recebimento e processamento da presente açã o, e concessã o do benefício da
assistência jurídica gratuita, nos termos da Lei 1.060/50, haja vista que a parte autora nã o
possui condiçõ es financeiras suficientes que lhe permita suportar eventuais ô nus
processuais sem que isto lhe traga prejuízo ao pró prio sustento ou da sua família;
2. A citaçã o da UNIÃ O FEDERAL na pessoa do seu Procurador Federal oficiante nesta
Capital, para os termos da presente açã o e para que a conteste, no prazo legal, sob as penas
da lei;
3. A PROCEDÊNCIA TOTAL dos pedidos, com a condenaçã o da UNIÃ O na obrigaçã o de
restabelecer o benefício do seguro desemprego ao Demandante, no toal de 05 cotas no
valor de R$ 1542,24, cada uma delas, cujo pagamento deverá ser feito no prazo de até
trinta dias do trâ nsito em julgado da decisã o e contados da entrega da requisiçã o por
ordem do Juiz à autoridade citada para a causa, na agência mais pró xima da Caixa
Econô mica Federal ou do Banco do Brasil, independentemente de precató rio, sob pena de
seqü estro do numerá rio suficiente ao cumprimento da decisã o (art. 17 e § 2º da LJEF),
acrescido de juros e correçã o monetá ria;
4. A produçã o de todos os meios de provas admitidos em direito, documental, testemunhal
e pericial, protestando por outras que se fizerem necessá rias, especialmente a juntada pela
UNIÃ O de toda a documentaçã o de que disponha para o esclarecimento da causa (art. 11,
da LJEF).
Termos em que, pede deferimento.
Florianó polis, 01 de julho de 2016

Você também pode gostar